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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DO 1º JUIZADO ESPECIAL

FEDERAL – SEÇÃO JUDICIÁRIA DO RIO DE JANEIRO

Processo: 5050394-87.2019.4.02.5101
Autor: TALITA DE PAULA SOUZA
Ré: CAIXA ECONÔMICA FEDERAL
Ré: CAIXA SEGURADORA S.A
SIJUR: 19.000.21955/2019

CAIXA ECONÔMICA FEDERAL - CAIXA, Instituição Financeira sob a


forma de Empresa Pública, dotada de personalidade jurídica de direito privado,
criada pelo Decreto-lei n. 759, de 12 de agosto de 1969, e constituída pelo Decreto
n. 66.303, de 06 de março de 1970, regendo-se atualmente pelo Estatuto
consolidado, aprovado pelo Decreto n. 6.473, de 05/06/2008, inscrita no CNPJ/MF
sob. o n. 00.360.305/0001-04, com sede matriz em Brasília - DF e Jurídico Regional
neste Estado, na Praça Floriano nº 31, 3º andar, Centro, CEP 20031-050, onde
recebe citações/intimações, vem, por seu advogado infra assinado, conforme incluso
instrumento de procuração em anexo, tempestivamente, nos autos da ação em
epígrafe, apresentar

CONTESTAÇÃO

com base nos fundamentos de fato e de direito que passa a expor.

DOS FATOS

Trata-se de ação visando indenização por danos materiais e morais, em


razão de alegada coação e constrangimento causados à Autora, que afirma ter sido
obrigada a contratar um seguro, para que tivesse facilitado financiamento imobiliário.

Na verdade, não houve qualquer tipo de constrangimento ou


obrigação imposta à Autora para a aquisição de produto da Ré, ou mesmo a
colocação de condição ilegal.

O que se conclui, e que restará demonstrado, é que a Autora celebrou


por livre e espontânea vontade o contrato de seguro, não tendo sido em momento
algum forçada a tal, e, posteriormente, talvez arrependida ou induzida por terceiros,
resolveu argumentar que fora induzida a tal.

Em vista do exposto, não merece prosperar a pretensão Autoral.

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PRELIMINARMENTE

DA ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM DA CAIXA

Embora esta Empresa coloque no mercado os seguros, a Seguradora


responsável é a CAIXA SEGURADORA S.A.

Vale destacar, V.Exa., que a CAIXA ECONÔMICA FEDERAL,


Empresa Pública Federal, não se confunde com CAIXA SEGURADORA S.A, são
pessoas jurídicas distintas.

Destarte, efetivamente, os seguros não são celebrados pela CAIXA


ECONOMICA FEDERAL, sendo esta somente mera intermediária, motivo pelo qual
requer a CAIXA o acolhimento da presente preliminar para que seja determinada a
exclusão da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL do pólo passivo desta demanda,
extinguindo-se o processo sem julgamento do mérito em face da CAIXA
ECONÔMICA FEDERAL, diante da evidente ilegitimidade passiva ad causam desta
conforme prescreve o art. 485, VI, Código de Processo Civil.

DO MÉRITO

Não há qualquer razão a socorrer a Autora, que distorce


completamente os fatos para auferir proveito financeiro.

Na realidade, a demandante apresenta meros fatos, expondo o que


seria a sua versão, sem ao menos produzir qualquer prova (como a
testemunhal, por exemplo) com um mínimo de força convincente para
corroborar suas alegações.

Resta claro que, depois de celebrar o contrato de seguro a que alude, a


Autora, possivelmente arrependida, procurou inventar uma história para tentar o
distrato. Mas nem precisaria tanto esforço criativo para tal, já que, como é de
conhecimento de qualquer homem médio, os contratos podem ser celebrados e
desfeitos por vontade das partes. Bastava que a Autora solicitasse formalmente o
cancelamento, no que seria prontamente atendido.

Repita-se, com toda força, que, durante todo o episódio, não houve
qualquer obrigação ou condição imposta à Autora, sendo todas as decisões
acerca da contratação do seguro tomadas por livre e espontânea vontade da
parte autora.

Nem se fale, de outra forma, em se aplicar a inversão do ônus da


prova, para que a Ré provasse que nada houve de irregular. Isso porque tal
prova é impossível de ser produzida pela Ré. Ademais, diante da cópia da
proposta acostada, devidamente assinada pela autora, firma-se a presunção quase
que absoluta de que tal contrato tenha sido celebrado através de mútuo
consentimento. Para que tal presunção seja ilidida, é dever da parte
pretensamente prejudicada produzir a prova, o que, no caso concreto, implicaria

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no ônus do Autor de provar que houve coação ou constrangimento tal a viciar a
vontade do demandante.

Tal prova, aliás, seria muito simples de ser produzida, através do


simples depoimento de testemunha indicada pela demandante que tenha
presenciado o momento. Diante da total ausência de provas a corroborar as
alegações autorais, não há como ser derrubada a presunção de perfeição do
ato jurídico celebrado, do qual a Autora, por sinal, já vem usufruindo há tempos.

Exatamente por isso, o pedido de danos materiais deve ser rechaçado,


uma vez que, ainda que se entendesse ter havido qualquer vício de vontade incutido
à Autora, o que se admite meramente para argumentar, já teria o mesmo, em
razão do tempo decorrido, usufruído da cobertura securitária contratada, de tal
forma que a devolução do valor pago induziria a um locupletamento ilícito de
sua parte, já que teria ele utilizado um serviço pelo qual acabaria não pagando.

A parte autora, no entanto, com a presente ação intenta irregularmente


cancelar unilateralmente CONTRATO elaborado NOS TERMOS DA LEI, e, portanto,
alteração de ATO JURÍDICO PERFEITO, hipótese inadmissível nem mesmo por Lei,
já que esta não poderá modificar o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa
julgada, conforme a Lex Legum. Há, ainda, a força do contrato que vincula as partes
consubstanciado no princípio do “pacta sunt servanda”, fazendo lei entre as partes.

Insta, ainda, observar os efeitos jurídicos decorrentes da


obrigatoriedade do contrato, dentre os quais:

1- Cada contratante fica ligado ao contrato, sob pena de execução ou de


responsabilidade por perdas e danos.
2- O contrato deve ser executado como se fosse lei para os que o
estipularam.
3- O contrato é irretratável e inalterável, ou melhor ao contraente não será
permitido libertar-se ad nutum do liame obrigacional.
4- O Juiz, ante a equiparação do contrato à lei, ficará adstrito ao ato
negocial, interpretando-o, esclarecendo seus pontos obscuros, como se
estivesse diante de uma prescrição legal.

Convém ressaltar, também, o Princípio da boa fé, fundamental no


Direito contratual: Segundo esse princípio, as partes deverão agir com
LEALDADE E CONFIANÇA RECÍPROCAS, AUXILIANDO-SE MUTUAMENTE NA
FORMAÇÃO E NA EXECUÇÃO DO CONTRATO.

A CAIXA ECONÔMICA FEDERAL no presente cumpriu inteiramente


suas obrigações dispostas nos contratos firmados, instrumentos estes que
obedeceram rigorosamente os ditames legais aplicáveis à espécie.

Por conseguinte, devem prevalecer os encargos tal como pactuados no


Contrato de Seguro, em respeito à parêmia 'pacta sunt servanda' e as normas que
regem o programa.

O contrato perfeitamente constituído faz lei entre as partes,


estabelecendo a Constituição Federal, em seu artigo 5º, inciso XXXVI, que “a lei
não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.”

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O contrato em espeque passou a ser, a partir de sua assinatura, fonte
formal de direito, devendo ser respeitado pelas partes contratantes - "Pacta sunt
servanda". Portanto, havendo previsão legal que autoriza os encargos, bem como
cláusula contratual expressa, há de prevalecer a vontade das partes, fiel ao princípio
“pacta sunt servanda”.

Reitere-se não se tratar a hipótese de contrato de adesão, mas sim de


contrato tipo, onde suas cláusulas são determinadas pela legislação que rege a
matéria.

Havendo alteração da Lei, no interregno, tem-se que os contratos


firmados na vigência da lei nova estão dentro da mais perfeita legalidade: “tempus
regit actum”.

Por outro lado, a boa-fé objetiva acha-se inserida no Código Civil


vigente enquanto um princípio estampado pela cláusula geral disposta no art. 422.
Por oportuno, registre-se que esta norma refere-se a ambos os contratantes da
relação contratual, não podendo o princípio ser preferencialmente aplicado a um
deles.

Ao estabelecer o princípio da boa-fé nas relações contratuais, como a


presente, está se implantando uma nova concepção do instituto, à qual a doutrina
passou a denominar de objetiva, porque a sua finalidade é impor aos contratantes
uma conduta de acordo com os ideais de honestidade e lealdade,
independentemente do subjetivismo do agente.

Assim, as partes contratuais devem agir conforme um modelo de


conduta social, sempre respeitando a confiança e o interesse do outro contratante.

No caso em tela, a Caixa agiu de boa-fé, obedecendo,


rigorosamente, os deveres conexos dos contratos, quais sejam: os deveres
de informação, comunicação, esclarecimento e segurança, sobre as regras do
contrato de seguro. Entretanto, assim não procedeu a autora que agora
pretende alterar o que foi pactuado.

Se os contratantes são obrigados a guardar, tanto na conclusão, como


na execução do contrato, os princípios da probidade e da boa-fé, o julgador sempre
poderá corrigir a postura quando se constatar um desvio de conduta ou de
finalidade. Ou ainda, se o contratante quiser se prevalecer de qualquer situação
onde obtenha mais vantagem que aquela inicialmente esperada. Uma conduta como
a da parte autora, que viola o pactuado livremente e a própria letra da lei, diante de
um regramento de ordem pública como o art. 422 do Código Civil. Tal procedimento
não é condizente com a boa-fé objetiva impondo-se a improcedência do pedido
autoral.

DA IMPOSSIBILIDADE DA DEVOLUÇÃO EM DOBRO DO VALOR

Contesta a CAIXA as pretensões da Autora. Inicialmente, não pode


pretender a devolução do valor, já em dobro de R$ 1.398,82, pago a título de

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mensalidade de seguro, considerando que usufruiu o direito de recebê-lo. Se
naquela oportunidade tivesse ocorrido algum sinistro, receberia o valor
correspondente ao que foi pactuado no contrato de seguro.

A parte Autora não pode se olvidar que efetuou o pacto, conforme


apólice de seguro devidamente assinada pela demandante anexada.

O contrato tem como fundamento ético a vontade dos contratantes,


que em conformidade com uma ordem legal, procura atingir um objetivo específico,
produzindo efeitos jurídicos.

O princípio da força obrigatória dos contratos consubstancia-se na


regra que é lei entre as partes. Celebrado com observância de todos os
pressupostos e requisitos necessários à sua validade, deve ser executado pelas
partes como se suas cláusulas fossem preceitos legais imperativos. A presunção de
que foram aceitas as condições contratuais livremente impede que a Autoridade
judicial suavize ou liberte o contratante inadimplente de seu cumprimento.

A parte Autora subscreveu instrumento contratual assumindo, junto à


CAIXA, a responsabilidade pelo avençado.

Assim é que, tendo o contratante capacidade para emitir a vontade,


(consentimento), sendo lícito o objeto do contrato e obedecida a forma legal,
assumem no momento da contratação toda a força jurídica social, assegurando sua
execução segundo a vontade que presidiu à sua constituição.

Se o contrato é a garantia do que as partes esperam uma da outra na


sua vigência, não pode ser modificado, a não ser pela própria vontade dessas
partes (obviamente dentro das limitações impostas pelas leis) ou pela
incidência de normas de ordem pública, que tem a função de adequar regras
ultrapassadas à situações atuais, obrigando as partes a ela se submeter,
motivo pelo qual, não vingará a pretensão da parte Autora.

Ora, a autora pretende a restituição em dobro dos valores pagos pelo


seguro contratado, como indenização pelos danos materiais.

Pelas mesmas razões, e ainda que, por inteiro absurdo, caso


vislumbrada a possibilidade de indenizar a Autora, jamais se poderia cogitar de
devolução em dobro, uma vez que, por certo, a cobrança do prêmio do seguro
não teria sido a rigor indevida, já que o demandante vinha pagando por cobertura
securitária que efetivamente lhe foi fornecida.

Por outro lado, como é cediço, o caput do artigo 42 da Lei nº. 8.078/90
trata de cobranças de dívidas e não dá margens a dúvida sobre seu campo de
aplicação primária, estabelecendo que o consumidor não pode ser constrangido ou
ameaçado na cobrança de dívidas. O parágrafo primeiro, por sua vez, ao tratar da
regra sobre a repetição do indébito, é claro e específico ao condicionar a devolução
em dobro ao pagamento.

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Em outras palavras, o consumidor somente fará jus à repetição do
indébito, em dobro, daquilo que pagou, comprovadamente, em excesso,
indevidamente e coagido a fazê-lo, o que não ocorreu no caso em tela.

Não bastasse (e mais importante), no presente caso, NÃO há


verificação de dolo ou má fé na realização da suposta cobrança indevida por
parte da CAIXA.

Assim, em consonância com o entendimento consolidado da


jurisprudência, a ausência de dolo ou má fé na cobrança indevida realizada é
causa de afastamento do pedido de restituição em dobro. Nesse sentido,
seguem os julgados abaixo:

“EMPRÉSTIMO. DEFEITO DO SERVIÇO. NEXO DE CAUSALIDADE.


DEVOLUÇÃO SIMPLES. AUSÊNCIA DE MÁ-FÉ. DANO MORAL.
EXISTÊNCIA. 1-O ordenamento jurídico estabelece a responsabilidade do
fornecedor de serviços pelos danos causados aos consumidores,
decorrentes de defeitos relativos à prestação dos serviços. 2-Nesse
contexto, os descontos efetuados no contracheque do consumidor em valor
superior ao devido macula a segurança que se espera do serviço bancário,
caracteriza seu defeito e enseja o dever de indenizar os prejuízos daí
advindos. 3-Restituição que deverá ser feita na forma simples e não em
dobro. Sanção prevista no artigo 42, parágrafo único, do CDC, que
pressupõe, além da existência de pagamento indevido, a má-fé do
credor, o que não se vislumbra no caso vertente. (...) (TJRJ. Apelação
nº: 0230855-53.2012.8.19.0001. Relator: Des. Milton Fernandes de Souza,
Julgado em: 14/04/2015)

“Condenação por danos materiais. Devolução em dobro. Inviabilidade.


Não demonstrada a incidência de má-fé por conta da parte ré.
Devolução simples. Indenização por danos morais. Termo inicial da
contagem dos juros moratórios. Entendimento do E. STJ de que a
contagem se inicia a partir da data da sentença, na qual houve a fixação do
quantum indenizatório. Recurso parcialmente provido." (TJSP, Recurso
Inominado nº 3002744- 28.2013.8.26.0238, Relator: Emerson Tadeu Pires
de Camargo, Julgado em 28/03/2014)

Frise-se que tal entendimento inclusive já foi solidificado no Superior


Tribunal de Justiça, conforme se verifica nos julgados abaixo colacionados:

“Admite-se a repetição do indébito na forma simples, e não em dobro,


salvo prova da má-fé. Precedentes” (STJ, AgRg no Ag nº 921.983/RJ,
Relatora: Min. Nancy Andrighi, julgado em: 01/04/2008) 1-4-2008).

“O pagamento indevido deve ser restituído para obviar o


enriquecimento sem causa. A repetição será na forma simples quando
não existir má-fé do credor ou o encargo tenha sido objeto de
controvérsia judicial” [...] (STJ, AgRg no Ag nº 947.169/RJ, Relator: Min.
Humberto Gomes de Barros, julgado em: 03/12/2007).

Desse modo, inexistente qualquer dos requisitos dispostos no artigo 42


do Código de Defesa do Consumidor que possibilitem a devolução em dobro, tal
como requer a parte demandante na exordial.

Portanto, em caso de eventual condenação, estaria esta, se devida,


limitada ao valor efetivamente pago.

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Como a parte autora não prova a hipótese de conduta dolosa ou de
má-fé desta empresa pública. Sendo assim, tal pedido deve ser julgado
improcedente.

DANOS MORAIS

Quanto aos danos morais, não há o que indenizar. Isto porque, ainda
que fossem verdadeiras as afirmações da Autora, o que se admite apenas em tese,
ainda assim não se vislumbraria qualquer ação da Caixa que lhe tivesse causado
dor, angústia ou mágoa, ou que tivesse, de qualquer modo, atentado contra sua
moral ou dignidade.

A propósito do tema dos danos morais, é preciso atentar para o fato de


que o número de ações buscando indenização a este título tem se multiplicado
numa impressionante velocidade. Se, por um lado, isso significa maior exercício da
cidadania, do outro revela uma busca desesperada de se ganhar dinheiro por
qualquer banalidade. O primeiro aspecto é digno de aplauso; mas o segundo deve
ser reprimido, pois vedar o enriquecimento sem causa é um princípio
fundamental de direito.

Forma segura de se estimular o lado positivo e reprimir a indústria da


indenização é separar o que é realmente dano moral do que é mero dissabor,
mágoa ou irritação, sentimentos irrelevantes para o Direito. O eminente
Desembargador SERGIO CAVALIERI FILHO, em sua magistral lição, nos fornece a
exata matiz da questão:

"Nessa linha de princípio, só deve ser reputado como dano moral a dor,
vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade, interfira
intensamente no comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe
aflições, angústia e desequilíbrio em seu bem-estar. Mero dissabor,
aborrecimento, mágoa, irritação ou sensibilidade exacerbada estão
fora da órbita do dano moral, porquanto, além de fazerem parte da
normalidade do nosso dia-a-dia, no trabalho, no trânsito, entre os amigos e
até no ambiente familiar, tais situações não são intensas e duradouras, a
ponto de romper o equilíbrio psicológico do indivíduo. Se assim não se
entender, acabaremos por banalizar o dano moral, ensejando ações
judiciais em busca de indenizações pelos mais triviais
aborrecimentos."
(Programa de Responsabilidade Civil, Malheiros, 2a edição, p. 78)

O dano moral, não é a dor, a angustia, o desgosto, a aflição espiritual,


o complexo que sofre a vítima do evento danoso. O direito não repara qualquer
padecimento, dor ou aflição, mas somente aqueles que forem decorrentes da
privação de um bem jurídico, sobre qual a possível vítima teria interesse
juridicamente reconhecido.

O Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro já teve a


oportunidade de analisar esta tormentosa questão do dano moral, tendo proferido a
decisão abaixo, que pela sobriedade é digna da mais atenta leitura:

“RESPONSABILIDADE CIVIL. Dano moral. Configuração.


Princípio da lógica do Razoável.

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Na tormentosa questão de saber o que configura dano moral,
cumpre ao juiz seguir a trilha da lógica razoável, em busca da
sensibilidade ético-social normal. Deve tomar por paradigma o
cidadão que se coloca a igual distância do homem frio, insensível e
o homem de extrema sensibilidade. Nessa linha de princípio, só
devem ser reputados como dano moral a dor, vexame,
sofrimento ou humilhação que, fugindo a normalidade, interfira
intensamente no comportamento psicológico do indivíduo,
causando-lhe aflição, angustia e desequilíbrio em seu bem
estar, não bastando mero dissabor, aborrecimento, mágoa,
irritação ou sensibilidade exacerbada.
Destarte, estão fora de órbita do dano moral aquelas situações que,
não obstante desagradáveis, são necessárias ao regular exercício
de certas atividades, como a revista de passageiros nos aeroportos,
o exame de malas e bagagens na alfândega, ou a inspeção pessoal
de empregados que trabalham em setor de valores. Desprovimento
do recurso.” (2ª câm. Civ. Do Tribunal de Justiça do RJ, apel. N.º
8.21/95, Rel. Des. Sérgio Cavalleri Filho).(grifamos).
Do voto do relator extrai-se o seguinte:
“A matéria de mérito cinge-se em se saber o que configura e o que
não configura dano moral. Na falta de critérios objetivos, essa
questão vem se tornando tormentosa na doutrina e na
jurisprudência, levando o julgador a situação de perplexidade.
Ultrapassadas as fases da irreparabilidade do dano moral e da sua
inacumulabilidade como o dano material, corremos agora o risco
de ingressarmos na fase da sua
industrialização, onde o aborrecimento banal ou mera
sensibilidade são apresentados como dano moral, em busca de
indenizações milionárias.
Tenho entendido que, na solução da questão, cumpre ao juiz seguir
a trilha da lógica do razoável, em busca da sensibilidade ético-social
normal. Deve tomar por paradigma o cidadão que se coloca a igual
distância do homem frio, insensível, e o homem de extremada
sensibilidade.
Nessa linha de princípio, só deve ser reputado como dano moral a
dor , vexame, sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade,
interfira intensamente no comportamento psicológico do indivíduo,
causando-lhe aflições, angustia e desequilíbrio em seu bem estar.
Mero dissabor, aborrecimento, mágoa, irritação ou sensibilidade
exacerbada estão fora da órbita do dano moral, porquanto, além de
fazerem parte da normalidade do nosso dia a dia, no trabalho, no
transito, entre os amigos e até no ambiente familiar, tais situações
não são intensas e duradouras, a ponto de romper o equilíbrio
psicológico do indivíduo. Se assim não se entender, acabaremos por
banalizar o dano moral, ensejando ações judiciais em busca de
indenizações pelos mais triviais aborrecimentos.”(grifamos)

No caso em apreço, não restaram comprovadas as alegações de abalo


à sua honra, dignidade e imagem. Não basta a simples alegação de ter suportado
dano moral para ter direito de receber quantias vultosas, sendo imperioso que
demonstre, de forma inquestionável e segura, em que consiste a lesão ou de que
maneira a suposta infração veio a afetar a integridade moral da autora. Ressalte-se
que o ônus da prova é, conforme o art. 373, I do CPC, inteiramente da autora.

Nessa linha de raciocínio, o Superior Tribunal de Justiça firma


posição:
"Processo Civil. Ação Ordinária visando o ressarcimento de
prejuízos. Inexistência da comprovação efetiva do dano.
Improcedência.

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Para viabilizar a procedência da ação de ressarcimento
de prejuízos, a prova da existência do dano efetivamente
configurado é pressuposto essencial e indispensável.
Ainda mesmo que se comprove a violação de um dever
jurídico, e que tenha existido culpa ou dolo por parte do
infrator, nenhuma indenização será devida, desde que,
dela, não tenha ocorrido prejuízo. A satisfação, pela via
judicial, de prejuízo inexistente, implicaria em relação
adversa, em enriquecimento sem causa. O pressuposto da
reparação civil está, não só na configuração de conduta
'contra jus', mas, também, na prova efetiva dos ônus, já que
não se repõe dano hipotético." (Recurso Especial, Acórdão
RIP 0006738, RESP 0020386, decisão de 23.05.1994).

Não deve prosperar a pretensão da Autora quanto à condenação desta


Ré a título de dano moral, pois como tantos outros, a mesma parece estar tentando
obter alguma vantagem desta empresa pública.

Diante de tais elementos, não há que se falar em qualquer indenização


a ser concedida ao demandante, seja por dano moral, seja por dano material,
devendo a pretensão autoral ser veementemente repudiada.

Mesmo que por absurdo se entendesse devida qualquer indenização a


título de danos morais, jamais poderia ser concedida nas absurdas bases pleiteadas,
eis que em evidente desproporção com o dano causado e com as circunstâncias
do caso, o que geraria um reprovável enriquecimento sem causa à Autora.

CONCLUSÃO

Por tudo quanto exposto, requer esta Ré seja determinada a exclusão


da CAIXA ECONÔMICA FEDERAL do pólo passivo desta demanda, extinguindo-
se o processo sem julgamento do mérito em face da CAIXA ECONÔMICA
FEDERAL, diante da evidente ilegitimidade passiva ad causam, nos termos do art.
485, VI, Código de Processo Civil.

Caso superada a preliminar aduzida, pugna pelo julgamento


IMPROCEDENTE dos pedidos formulados pela parte autora.

Por fim, requer a produção de todos os meios de prova em direito


admitidos, desde já requerendo em especial a prova documental.

Termos em que
Pede deferimento.

Rio de Janeiro, 5 de abril de 2024.

GUILHERME SILVA DOELL CARLOS MARTINS DE OLIVEIRA


OAB/RJ 215.445 OAB/RJ 19.608

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