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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUÍZ DE DIREITO DA VARA

CÍVEL DO FORO DA COMARCA DE SÃO LEOPOLDO

COM PEDIDO DE AJG

, Feitoria, na cidade de São Leopoldo, RS, vem respeitosamente perante


Vossa Excelência, através de seus procuradores signatários, propor a
presente:

AÇÃO REVISIONAL DE CONTRATO DE EMPRÉSTIMO C/C


PEDIDO LIMINAR E CONSIGNAÇÃO EM PAGAMENTO em
desfavor de

BV FINANCEIRA S.A., pessoa jurídica inscrita no CNPJ sob o número


01.149.953/0001-89, com sede Av. Carlos Gomes, 111, conj. 501, CEP:
90480-003, Auxiliadora, em Porto Alegre-RS, pelos motivos e
fundamentos que passa a expor:

DOS FATOS
A Autora, pessoa simples e sem instrução, firmou CONTRATO DE
EMPRÉSTIMO com a Requerida para o recebimento do valor de R$5.000,00 (cinco
mil reais). Não lhe foi fornecida qualquer cópia de contrato ou documentação que
demonstrasse a operação financeira, que foi intermediada pela MAAF Financeira,
representante autorizada da empresa Ré, com endereço a Rua dos Andradas, 1251/22,
na cidade de Porto Alegre/RS. Á autora foram prometidas taxas de juros bastante
atrativas e uma “prestação que cabe no bolso”.

Assim, no mês de dezembro de 2010 a autora recebeu em sua conta


bancária o valor de R$5.119,99 (cinco mil cento e dezenove reais e noventa e nove
centavos), conforme demonstrado pelos extratos juntados à presente ação.

Em seguida, e para sua grande surpresa, no meses subseqüentes


houveram duas tentativas de compensação em sua conta do valor de R$831,88
(oitocentos e trinta e um reais e oitenta e oito centavos), valores que felizmente foram
estornados devido à ausência de fundos na conta. No mesmo mês de março de 2011 a
autora recebeu em sua residência cartela de boletos de pagamentos da empresa Ré
com a cobrança de 58 parcelas no mesmo valor acima citado.

Diante do recebimento de tais documentos a autora passou a buscar


contato tanto com a intermediadora do empréstimo quanto com a BV Financeira, sem
contudo obter quaisquer informações concretas acerca do que ela imaginava tratar-se
de um equívoco. É certo que ela não sabia precisar detalhes da contratação, tais como
taxa de juros, número e valor das parcelas, mas ainda assim, enxergava um equívoco,
pois os valores cobrados se afastavam por demais do que lhe fora propagandeado.

Com o fim das cobranças em sua conta bancária e as inúmeras ligações


para tratativas com a empresa através do 0800-7018-600, a autora entendia que
estava havendo negociação acerca de seu caso (visto que ela seguia acreditando
tratar-se de um equívoco o valor cobrado – R$49.912,80 (quarenta e nove mil
novecentos e doze reais e oitenta centavos) pelo empréstimo de cinco mil reais).
Contudo, qual não foi sua surpresa ao perceber que, ao invés de fornecer informações
ou ainda buscar negociação, a empresa ré providenciou encaminhamento da situação
para empresa de cobrança - SERVICES COBRANÇAS, conforme correspondência ora
juntada.
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Por óbvio que nenhuma parcela foi quitada pela autora, visto que
totalmente abusivas e desproporcionadas. Atualmente somam-se seis parcelas
vencidas, sendo que o nome da autora foi injustamente incluído nos cadastros de
proteção ao crédito.

Conforme explicitado anteriormente, a autora entende que contratou um


empréstimo de R$5.000,00 (cinco mil reais), contudo, foi confundida de tal maneira,
que não sabe especificar ao certo nem a quantidade de parcelas em que deveria
efetuar a devolução dos valores. É certo que não se deseja aqui eximir a autora do
pagamento dos valores recebidos, contudo, a devolução dos valores em 60 parcelas é
um contrasenso, um absurdo e uma óbvia artimanha para ganhar dinheiro através
da ignorância dos contratantes.

Como resta mais do que bem demonstrado, faz-se necessário o


saneamento da contratação, com vistas a corrigir algumas ilegalidades que vêm sendo
perpetradas pelo Requerido, que se aproveita da diferença própria das relações de
consumo e dos poderes conferidos pelos instrumentos de adesão, para com isso se
enriquecer ilicitamente, causando prejuízo de montante considerável a Autora.

DA APLICAÇÃO DO CDC AOS CONTRATOS DE ADESAO E A ABUSIVIDADE


CONTRATUAL

A doutrina e a jurisprudência, em uníssono, atribuem aos negócios


celebrados entre a Autora e a Ré o caráter de contrato de adesão por excelência.

Disciplina o art. 54 do C.D.C., acerca do que é contrato de adesão,


verbis:

Art. 54. Contrato de adesão é aquele cujas cláusulas tenham sido


aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente
pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa
discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo.

Nos contratos de adesão, a supressão da autonomia da vontade é


inconteste. Assim o sustenta o eminente magistrado ARNALDO RIZZARDO, em sua
obra Contratos de Crédito Bancário, Ed. RT 2a ed. Pag. 18, que tão bem interpretou a

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posição desfavorável em que se encontram aqueles que, como o Autor, celebraram
contratos de adesão junto ao banco, verbis:

“Os instrumentos são impressos e uniformes para todos os clientes,


deixando apenas alguns claros para o preenchimento, destinados ao
nome, à fixação do prazo, do valor mutuado, dos juros, das comissões e
penalidades“.

Assim, tais contratos contêm inúmeras cláusulas redigidas prévia e


antecipadamente, com nenhuma percepção e entendimento delas por parte do
aderente. Efetivamente é do conhecimento geral das pessoas de qualidade média que
os contratos bancários não representam natureza sinalagmático, porquanto não há
válida manifestação ou livre consentimento por parte do aderente com relação ao
suposto conteúdo jurídico, pretensamente, convencionado com o credor.

Em verdade, não se reserva espaço ao aderente para sequer manifestar


a vontade. O banco se vê no direito de cobrar o devedor. Se não adimplir a obrigação,
dentro dos padrões impostos, será esmagado economicamente.

Não se tem, por parte da instituição financeira, nenhum tipo de


possibilidade de manifestação de vontade por parte do aderente, que verdadeiramente
só se faz presente para a assinatura do contrato, tendo, assim, que se sujeitar a todo
tipo de infortúnio e exploração econômica que se facilmente observa, pois a qualidade
de aderente só tem uma condição: “Se não assinar, nas condições estipuladas pela
instituição financeira, não há liberação do crédito”.

Nessa perspectiva, o bom intérprete não abdica de pensar e, logo, não


teme reavaliar suas opiniões; prefere os riscos da transformação à cômoda
inoperância que conserva a iniqüidade.

E assim se compreende a intenção do Autor, que nada mais é do que


pagar aquilo que é devido, com os valores corrigidos, seguindo os padrões da função
social e da boa-fé nas relações contratuais.

Ensina Edilson Pereira Nobre Júnior, em sua obra intitulada “A


proteção contratual no Código do Consumidor e o âmbito de sua aplicação”. Revista
de Direito do Consumidor, São Paulo, v. 27, p. 59, jul./set. 1998, verbis:

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“à manifestação do consentimento e à sua força vinculativa seja
agregado o objetivo do equilíbrio das partes, através da interferência da
ordem pública e da boa-fé. Ao contrato, instrumento outrora de feição
individualista, é outorgada também uma função social" 4.4_ "Timbra em
exigir que as partes se pautem pelo caminho da lealdade, fazendo com
que os contratos, antes de servirem de meio de enriquecimento pelo
contratante mais forte, prestem-se como veículo de harmonização dos
interesses de ambos os pactuantes" (p. 62).

E continua seu brilhante ensinamento:

"No campo contratual, a tutela desfechada pelo CDC se sustém


basicamente em quatro princípios cardeais, atuando na formação e no
cumprimento da avença, quais sejam a transparência, a boa-fé, a
eqüidade contratual e a confiança" (p. 76).

Cláudia Lima Marques, atenta ao surgimento de um novo modelo


contratual, propala haver "uma revalorização da palavra empregada e do risco
profissional, aliada a uma grande censura intervencionista do Estado quanto ao
conteúdo do contrato, é um acompanhar mais atento para o desenvolvimento da
prestação, um valorizar da informação e da confiança despertada. Alguns denominam
de renascimento da autonomia da vontade protegida. O esforço deve ser agora para
garantir uma proteção da vontade dos mais fracos, como os consumidores. Garantir
uma autonomia real da vontade do contratante mais fraco, uma vontade protegida
pelo direito." (Contratos bancários em tempos pós-modernos - primeiras reflexões.
Revista de Direito do Consumidor, São Paulo, v. 25, p. 26, jan./mar., 1998). (grifo
nosso).

O Estatuto do Consumidor acoima de nulidade as cláusulas que


estabeleçam obrigações iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em
desvantagem exagerada ou sejam incompatíveis com a boa-fé e reprime,
genericamente, as desconformes com o sistema protetivo do Codex, senão vejamos:

Art. 51º. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas


contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços que:

IV. Estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que


coloquem o consumidor desvantagem exagerada, ou sejam
incompatíveis com a boa fé ou a eqüidade;

XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor;

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O novo enfoque da boa-fé vista como princípio geral de direito, "permite
a concreção de normas impondo que os sujeitos de uma relação se conduzam de
forma honesta, leal e correta" (Maria Cristina Cereser Pezzella. O princípio da boa-fé
objetiva no direito privado alemão e brasileiro. Revista de Direito do Consumidor,
São Paulo, v. 23/4, p. 199, jul./set., 1997).

No aspecto objetivo, a bona fides é incompatível com as cláusulas


abusivas, opressoras ou excessivamente onerosas, e abrange um controle jurídico
corretivo da relação negocial (v. Luis Renato Ferreira da Silva. Cláusulas abusivas:
natureza do vício e decretação de ofício. Revista de Direito do Consumidor. São
Paulo, v. 23/4, p. 128, 1997).

A teor do disposto no art. 3º, § 2º, da Lei n. 8.078 de 11.09.1990,


considera-se a atividade bancária alcançada pelas normas do Código de Defesa de
Consumidor, incluída a entidade bancária ou instituição financeira no conceito de
"fornecedor" e o aderente no de "consumidor".

E para que não reste dúvida acerca da aplicação do CDC basta a


citação da Súmula 297 do Superior Tribunal de Justiça, que assim dispõe:

Súmula 297. "O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às


instituições financeiras."

Com efeito, sendo aplicado o Código de Defesa do Consumidor ao


presente contrato, também passa a ser possível a modificação ou revisão das
cláusulas contratuais onerosas, com base no art. 6º, inc. V, do mesmo codex, que
estabelece:

Art. 6º. São direitos básicos do consumidor:

V. A modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações


desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que
as tornem excessivamente onerosas.

Acerca das possibilidades de modificação dos contratos excessivamente


onerosos no âmbito das relações de consumo, NELSON NERY JUNIOR e ROSA
MARIA ANDRADE NERY, p. 1352, anotam:

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"Modificação das cláusulas contratuais. A norma garante o direito de
modificação das cláusulas contratuais ou de sua revisão, configurando
hipótese de aplicação do princípio da conservação dos contratos de
consumo. O direito de modificação das cláusulas existirá quando o
contrato estabelecer prestações desproporcionais em detrimento do
consumidor. Quando houver onerosidade excessiva por fatos
supervenientes à data da celebração do contrato, o consumidor tem o
direito de revisão do contrato, que pode ser feita por aditivo contratual,
administrativamente ou pela via judicial".

"Manutenção do contrato. O CDC garante ao consumidor a manutenção


do contrato, alterando as regras pretorianas e doutrinárias do direito
civil tradicional, que prevêem a resolução do contrato quando houver
onerosidade excessiva ou prestações desproporcionais".

"Onerosidade excessiva. Para que o consumidor tenha direito à revisão


do contrato, basta que haja onerosidade excessiva para ele, em
decorrência de fato superveniente. Não há necessidade de que esses
fatos sejam extraordinários nem que sejam imprevisíveis. A teoria da
imprevisão, com o perfil que a ela é dado pelo CC italiano 1467 e pelo
Projeto n. 634-B/75 de CC brasileiro 477, não se aplica às relações de
consumo. Pela teoria da imprevisão, somente os fatos extraordinários e
imprevisíveis pelas partes por ocasião da formação do contrato é que
autorizariam, não sua revisão, mas sua resolução. A norma sob
comentário não exige nem a extraordinariedade nem a imprevisibilidade
dos fatos supervenientes para conferir, ao consumidor, o direito de
revisão efetiva do contrato; não sua resolução".

NELSON ABRÃO em Direito bancário, 6. ed. rev. atual. ampl.. São


Paulo: Saraiva, 2000, p. 339, esclarece:

"Reputam-se abusivas ou onerosas as cláusulas que impedem uma


discussão mais detalhada do seu conteúdo, reforçando seu caráter
unilateral, apresentando desvantagem de uma parte, e total
privilegiamento d'outra, sendo certo que a reanálise é imprescindível na
revisão desta anormalidade, sedimentando uma operação bancária
pautada pela justeza de sua função e o bem social que deve, ainda que
de maneira indireta, trilhar empresário do setor."

Portanto, admite-se a revisão das cláusulas do contrato em discussão


com a conseqüente nulidade daquelas tidas como abusivas, a teor do disposto no art.
6º, inc. V, do Código de Defesa do Consumidor, não se cogitando de prevalência do
princípio do pacta sunt servanda.

DA ABUSIVIDADE DA TAXA DE JUROS

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Somente é possível descobrir a taxa de juros utilizada no contrato ora
discutido com uma calculadora financeira nas mãos e com o conhecimento prévio do
valor inicial da dívida, da quantidade de parcelas e do valor das parcelas.

INFORMAÇÕES ESTAS QUE A AUTORA NÃO POSSUI.

Entretanto, é obvio que os consumidores em geral, inclusive a Autora da


presente demanda, não tem como hábito o transporte de calculadoras financeiras
consigo, e muito menos o conhecimento prévio da operação de tal equipamento, o que
certamente prejudica o conhecimento da taxa utilizada. Além do mais, na prática se
verifica que os contratos de financiamento, como o presente, são assinados em branco
e posteriormente encaminhados para o preenchimento dos valores.

Com efeito, a Lei 8.078/90 é clara ao desobrigar o Autor ao


cumprimento de contratos confusos, e principalmente se expressa previsão das
obrigações, sempre interpretando as disposições de forma mais favorável ao
consumidor, neste sentido:

Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigam


os consumidores, se não lhe for dada à oportunidade de conhecimento
prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem
redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance.

Art. 47. As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais


favorável ao consumidor.

Desta feita, tem-se que a taxa de juros convencionadas não foi aplicada
dentro da conformidade com o que a Lei prevê;

É cediço que as Instituições financeiras podem cobrar juros acima de


1%. No entanto, devem se ater aos juros aplicados no mercado à ocasião da
assinatura do instrumento de adesão, o que no caso em voga não ocorreu, chegando a
juros incríveis, o que no final acarreta juros MAIORES DO QUE O VALOR
FINANCIADO, conforme se pode observar numa rápida análise dos boletos
(R$5.000,00 – R$50.000,00).

Isto sem falar em demais cominações que acarretam cobranças


excessivas, tomando como exemplo uma simples folha de papel A4 feita pelo autor que
comprova a cobrança exagerada de R$ 3,33 (três e reais e trinta e três centavos) por
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dia de atraso, além de taxa de R$16,64 (dezesseis reais e sessenta e quatro centavos)
a título de multa pelo pagamento dos valores após o vencimento.

DOS JUROS CAPITALIZADOS E DA COMISSÃO DE PERMANÊNCIA

A Súmula n. 121 do STF, estabelece que: "É vedada à capitalização de


juros, ainda que expressamente convencionada".

Infelizmente a Medida Provisória 1.963 trouxe algumas considerações


acerca da capitalização de juros, a saber:

Art. 5º. Nas operações realizadas pelas instituições integrantes do


Sistema Financeiro Nacional, é admissível a capitalização de juros com
periodicidade inferior a 1 ano;

Todavia, o eminente jurista PAULO BROSSARD em artigo intitulado


Juros com Arroz, dá uma verdadeira aula do que efetivamente vem ocorrendo com
esta atitude adotada pelo governo, abaixo:

"Enquanto isso, a generosidade oficial para com as instituições


financeiras continua sem limite. Ao serem divulgados os resultados dos
bancos no ano passado, quando a nação inteira sofreu duros efeitos da
recessão, viu-se que atingiram índices jamais vistos, chegando a mais de
500% em certos casos. Pois exatamente agora, o impagável governo do
reeleito, invocando ‘relevância e urgência’, editou mais uma medida
provisória oficializando o anatocismo, que o velho Código Comercial, o
código de 1850, já vedava de maneira exemplar, e que a nossa tradição
jurídica condenou ao longo de gerações. Aliás, na linha da lei de usura,
de 1933, é a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, cristalizada
na Súmula 121, segundo a qual ‘é vedada a capitalização de juros,
ainda que expressamente convencionada’. Sabe o leitor a
fundamentação da medida ‘urgente e relevante’? É que a cobrança de
juros sobre juros vinha sendo praticada pelos bancos. Em vez de
condenar o abuso, pressurosamente, o governo homologou o abuso
mediante medida provisória. É um escárnio. A medida apareceu na 17ª
edição da MP nº 1.963; na calada da noite foi gerada."

Esta "generosidade oficial para com as instituições financeiras" vem de


há muito tempo, desde a edição da Medida Provisória nº 1.367 reeditada sob o nº
1.410 (isto já em 1996) que pretendia aniquilar com as regras legais já consagradas
pela doutrina e pelo Poder Judiciário, liberando a capitalização de juros ao mês,
semestre ou ano, além de outras barbaridades.
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Ocorre que esta Medida Provisória, que só vem a “ajudar” as
instituições financeiras, afronta diretamente os ditames da Lei de Usura e a Súmula
121 do STF, agredindo moral e economicamente uma sociedade que vem durante anos
tentando se recuperar de problemas financeiros, tais como: inflação, desvalorização
de moeda, estagnação econômica, entre outras coisas;

Apesar desta atitude adotada pelo governo num primeiro momento vir a
prejudicar e muito a sociedade, deve-se levar em consideração os comentários e a
hermenêutica que deve envolver o Código de Defesa do Consumidor;

O CDC, em seu art. 46 disciplina:

Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não


obrigarão os consumidores se não lhes for dada a oportunidade de
tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos
instrumentos forem redigidos de modo a dificultar a compreensão de
seu sentido e alcance. (grifo nosso)

Conforme o que se disciplina acima, os contratos de adesão, aonde a


capitalização de juros é informada, devem explicitar O PRÉVIO CONHECIMENTO
DE SEU CONTEÚDO;

Fácil é de entender o que ocorre nos contratos firmados com as


instituições financeiras. Em uma simples olhadela em qualquer contrato de adesão
observa-se uma cláusula dizendo: capitalização de juros, MENSAL;

No entanto, as cláusulas contratuais neste tipo de obrigação devem,


facilmente, explicar ao Aderente o que significa a capitalização de juros, pois a
legislação prevê que qualquer homem médio deveria ter como entender esta situação;

Ocorre que apesar de a lei ser bastante objetiva, as instituições


financeiras não se dão ao luxo de adequar seus contratos a esta situação;

Neste momento é oportuno questionar: “Quantos sabem o que é


capitalizar juros”?

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Poucos atualmente sabem o que significa capitalizar juros mensalmente,
pois a única coisa a que lhe é dado conhecimento no momento da contratação é a
quantidade de parcelas e o valor de cada prestação;

Neste enfoque, é claro e cristalino que empresas como a Requerida não


tentam de forma alguma esclarecer aos seus clientes as reais situações de seus
contratos, o que garante um enriquecimento ainda maior por parte deste tipo de
empresa, que se aproveita da diferença na relação de consumo para a cada dia obter
mais e mais valores econômicos aos seus cofres;

Razões pelas quais, não pode o Autor ser obrigado a arcar com um
valor calculado de forma ilegal, devendo ser recalculado os valores, mediante a
aplicação da taxa de juros contratada de forma simples.

DA INCONSTITUCIONALIDADE DA MEDIDA PROVISÓRIA N. 1.963/2000 E


DA MEDIDA PROVISÓRIA N. 2.170-36/2001

A Medida Provisória n. 1.963, de 30 de março de 2000, inovou ao


autorizar a capitalização de juros em periodicidade inferior a um ano, bem como a
edição da nova Medida Provisória, de n. 2.170-36, de 23 de agosto de 2001, cujo
artigo 5º manteve a possibilidade de capitalização de juros em período inferior a um
ano, dispositivo esse que ainda estaria em vigor em razão do disposto na Emenda
Constitucional n. 32/01.

No entanto, o MINISTRO SYDNEI SANCHES proferiu voto favorável à


suspensão dos efeitos do artigo 5º da Medida Provisória nº 2.170-36/01 nos autos da
ADIN 2316-1, em trâmite perante o EGRÉGIO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.

Basta uma rápida consulta à página do SUPREMO TRIBUNAL


FEDERAL, no endereço http://www.stf.gov.br, para que se observe na íntegra a
decisão que transcrevo abaixo, grifando a parte que entendo mais importante, senão
vejamos:

ADIN 2316-1, DECISÃO DA LIMINAR:

“Após o voto do Senhor Ministro Sydney Sanches, Relator, suspendendo


a eficácia do artigo 5º, cabeça e parágrafo único da Medida Provisória

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nº 2170 – 36, de 23 de agosto de 2001, pediu vista o Senhor Ministro
Carlos Velloso. Ausente, justificadamente, neste julgamento, o Senhor
Ministro Maurício Corrêa. Presidência do Senhor Ministro Marco
Aurélio.” Plenário, 03.04.2002.

E realmente, são várias as inconstitucionalidades em torno do


dispositivo. Primeiro porque não atendem aos requisitos de urgência e relevância
descritos no artigo 62, "caput", da Constituição Federal.

Com efeito, não se pode reputar urgente uma disposição que trate de
matéria há muito discutida na jurisprudência nacional que, por sua vez, manifesta
entendimento francamente contrário a essa possibilidade.

Logo, deveria haver a análise do Poder Legislativo e a implementação


dos debates necessários em razão dos reflexos que a medida leva à sociedade como
um todo.

Ademais, a inexistência de urgência e relevância também se reflete no


fato de que a capitalização de juros mencionada no dispositivo está restrita às
instituições financeiras.

Quer dizer que a urgência só se verifica para os próprios beneficiados


da norma (Bancos), já que, para todos os demais, representa verdadeiro descompasso
entre a prestação e a contraprestação, além de onerar um contrato que por natureza
desiguala os contratantes (de adesão).

Num segundo momento também temos a inconstitucionalidade da


referida Medida Provisória, porque a matéria tratada é de competência do Congresso
Nacional, segundo o inciso XII, do artigo 48 da Constituição Federal, que se refere a
“matéria financeira, cambial e monetária, instituições financeiras e suas operações”.

Não sendo possível o Presidente da República, como se fosse um


Ditador, baixar seu Decreto, estabelecendo a sua vontade, como quer e de qualquer
matéria, ao menos num Estado Democrático de Direito como o nosso, onde o
ordenamento jurídico e a Constituição devem ser respeitados.

Neste sentido os Tribunais vem declarando a inconstitucionalidade do


artigo 5º da Medida Provisória 2.170/01, que teria autorizado à capitalização de

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juros em períodos inferiores a um ano, a exemplo do primeiro caso (líder case)
julgado pela 3ª TURMA DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 4ª REGIÃO, nos
autos da APELAÇÃO CÍVEL n.º 2001.71.00.004856-0, com Relatório do
DESEMBARGADOR FEDERAL LUIZ CARLOS DE CASTRO LUGON, publicado do
DJU 11 de fevereiro de 2004, às páginas 386/387.

No mesmo sentido líder case acompanham outros julgados:

1600127567 - EMBARGOS DE DECLARAÇÃO - AUSÊNCIA DE


OMISSÃO - MP 2170/90 - A decisão afastou a capitalização dos juros
em período inferior a um ano, autorizando a capitalização anual.
Especificamente quanto à Medida Provisória nº 1.963, houve
manifestação expressa já que "a Corte Especial do TRF da 4ª Região
acolheu, por maioria, o incidente de inconstitucionalidade da MP nº
2.170-63, de 23/08/2001 (última edição da MP nº 1.963-17, publicada
em 31/03/2000)". (TRF 4ª R. - EDcl 2002.71.04.008019-6 - 3ª T. - Relª
Juíza Fed. Vânia Hack de Almeida - DJU 03.08.2005 - p. 635)

Seguindo o mesmo entendimento: TRF 4ª R. – EDcl 2002.71.00.028168-


3 – 3ª T. – Relª Juíza Fed. Vânia Hack de Almeida – DJU 15.06.2005 – p. 725) E
inúmeros outros julgados da mesma Corte Federal.

Razão pela qual, mesmo após a publicação as fatídicas Medidas


Provisórias, ainda não é possível à aplicação da forma capitalizada de juros no
presente contrato, devendo ser declarada a inconstitucionalidade do artigo 5º do
citado Remédio Provisório, sendo mantido o entendimento clássico dos Tribunais
brasileiros, no sentido de continuar proibindo os abusos das instituições financeiras,
em capitalizar os juros cobrados.

Sob a ótica do Código de Defesa do Consumidor, os contratos com a


natureza adesiva são contratos pré-formulados, aonde a única manifestação de
vontade do agente adquirente é a assinatura, sob forma de coação, haja vista o mesmo
só tem duas possibilidades: ou assina, e sai com o bem; ou não assina, e sai sem o
bem.

Desta forma, a adesividade do contrato fica claramente demonstrada,


pois o consumidor que pretende adquirir determinada coisa ou valor tem como única
e exclusiva atribuição a fazer a assinatura do contrato.

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Neste sentido, deve-se entender que mesmo convencionada, a
aplicabilidade da capitalização de juros também faz parte das cláusulas contratuais
abusivas, e deve se operar sua nulidade de pleno direito, pois o consumidor de forma
alguma pode optar ou discutir a incidência deste encargo dentro da relação
fornecedor/consumidor.

É por demais oneroso garantir a instituição financeira o direito de


efetuar a cobrança dos valores referentes à capitalização de juros, pois o consumidor
conforme já narrado acima, somente tem a obrigação de duas coisas quando contrata
com um banco. Assinar e pagar o que lá está inserido.

Não é preciso nem analisar o contrato realizado para saber que ocorreu
a aplicação dos juros de forma capitalizada, prática esta reiterada pelas instituições
financeiras, apesar da constante proibição da legislação e dos Tribunais brasileiros.

Além da prática de juros abusivos, existe ainda a cumulação de


comissão de permanência juntamente com outros encargos, o que é sabido ser
proibido inclusive com decisões pacificadas a respeito desta matéria.

DA PRETENSÃO LIMINAR – DEPÓSITO JUDICIAL DOS VALORES DEVIDOS


E EXCLUSÃO DO NOME DA AUTORA DOS CADASTROS DE RESTRIÇÃO AO
CRÉDITO.

Com base nas ilegalidades argüidas e demonstradas, fica claro que a


Autora tem o direito de ver reduzido às parcelas que lhe são exigidas mensalmente, se
não pelas taxas aplicadas pela empresa Ré, pelo absurdo que se demonstra na
organização do pagamento do empréstimo em 60 parcelas – transformando o
montante de R$5.000,00 (cinco mil reais) tomados pela autora em quase
R$50.000,00 (cinqüenta mil reais).

Assim, a autora apresenta um cálculo preliminar para pagamento dos


valores em 24 parcelas, com a aplicação de taxa de 2% ao mês, conforme planilha
que segue:

14
R$5.119,99 X 2% a.m. R$102,39

PARC 01/24 R$315,72


PARC 02/24 R$315,72
PARC 03/24 R$315,72
PARC 04/24 R$315,72
PARC 05/24 R$315,72
PARC 06/24 R$315,72
PARC 07/24 R$315,72
PARC 08/24 R$315,72
PARC 09/24 R$315,72
PARC 10/24 R$315,72
PARC 11/24 R$315,72
PARC 12/24 R$315,72
PARC 13/24 R$315,72
PARC 14/24 R$315,72
PARC 15/24 R$315,72
PARC 16/24 R$315,72
PARC 17/24 R$315,72
PARC 18/24 R$315,72
PARC 19/24 R$315,72
PARC 20/24 R$315,72
PARC 21/24 R$315,72
PARC 22/24 R$315,72
PARC 23/24 R$315,72
PARC 24/24 R$315,72
TOTAL R$7.577,28

A Autora pretende, nestes termos, manter o depósito judicial dos valores


acima demonstrados, enquanto pende de decisão a demanda. Com tal atitude, deixa
clara sua intenção de quitar o débito mediante taxa de juros correta e quantificação
coerente de número de parcelas (diferentemente do que sugere a atual organização do
contrato).

Entretanto, existem parcelas em atraso – a autora reconhece seu débito


– mas não possui condições financeiras para arcar com o total adimplemento das
mesmas (ainda que no valor estipulado acima) de uma só vez. Somam-se atualmente
seis parcelas vencidas, o que, dentro dos valores acima estipulados, totalizaria o valor
de R$1.894,32 (mil oitocentos e noventa e quatro reais e trinta e dois centavos).

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Dos contracheques apresentados pela autora pode-se verificar seu grave
estado de endividamento, razão pela qual se requer deste Juízo a complacência
quanto à questão dos valores em atraso.

A abusividade do presente contrato é inegável. A ação para sua


discussão encontra-se em andamento e a autora deseja – SIM – efetuar os
pagamentos, mas encontra-se impossibilitada de adimplir com a totalidade dos
mesmos. Assim requer a possibilidade de fazê-lo mensalmente, sem prejuízo do pedido
de exclusão de seu nome dos cadastros de restrição ao crédito.

Portanto, requer seja a empresa Ré imediatamente intimada para que


efetue a retirada do nome da autora dos cadastros restritivos de crédito, sob pena de
multa diária. E ainda, para que se abstenha de futuras inscrições enquanto restarem
regulares os depósitos judiciais, com igual estabelecimento de pena de multa em caso
de descumprimento de ordem judicial.

DEMAIS ILEGALIDADES

No presente caso o contrato ainda está pendente de apresentação pela


empresa Ré, que se recusa a fornecer a documentação, contudo, pela experiência
geral pode-se afirmar que existe ainda a ilegalidade das taxas exigidas para emissão
dos boletos e da análise de crédito, o que continua sendo exigido pela maioria das
instituições financeiras.

Tais tarifas apresentam-se manifestamente abusivas ao consumidor, pois


tanto a análise necessária à concessão do crédito como os gastos com a emissão dos
boletos de pagamento traduzem despesas administrativas da instituição financeira
com a outorga do crédito, não se tratando de serviços prestados em prol do
consumidor. Até porque se questiona como seria se por um acaso o crédito não fosse
autorizado, seria o valor administrativo cobrado? O que objetivamente não ocorre,
sendo este valor atribuído apenas àqueles a quem o crédito é permitido,
caracterizando claramente uma conduta equivocada.

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Ademais, os juros remuneratórios já correspondem aos lucros da
operação de crédito, não podendo a instituição financeira impor ao consumidor as
despesas inerentes a sua própria atividade sem qualquer contrapartida.

Desse modo, nos termos do art. 51, inciso IV, do Diploma Consumerista,
tem-se que a cobrança de tais tarifas caracteriza vantagem exagerada da instituição
financeira e, portanto, nulas as cláusulas que as estabelecem.

Nesse diapasão:

COBRANÇA DE TARIFA E/OU TAXA NA CONCESSÃO DO


FINANCIAMENTO. ABUSIVIDADE. Encargo contratual abusivo,
porque evidencia vantagem exagerada da instituição financeira, visando
acobertar as despesas de financiamento inerentes à operação de
outorga de crédito. Inteligência do art. 51, IV do CDC. Disposição de
ofício (...) (TJRS, Apelação Cível n. 70012679429, rel. Desa. Angela
Terezinha de Oliveira Brito, julgado em 06.04.2006).

Logo, não há o que se falar em cobrança de tarifas que objetivam


concessão ou manutenção da conta, uma vez que se transformam em vantagens
excessivas ao fornecedor, consoante demonstrado acima.

ANTE O EXPOSTO, REQUER EM TUTELA ANTECIPADA:

a) Seja concedido à Autora a possibilidade de efetuar o pagamento das


parcelas que entende devidas judicialmente, no valor de 24 parcelas de R$315,72
(trezentos e quinze reais e setenta e dois centavos) a serem depositadas até o dia 10 de
cada mês;

b) Seja determinada a exclusão do nome da Autora dos cadastros


restritivos de crédito, sob pena de multa diária a ser determinada por este Juízo, bem
como de proibição de futuras inscrições nos referidos cadastros enquanto restarem
regulares os depósitos efetuados pela autora, com igual estabelecimento de pena de
multa em caso de descumprimento;

c) Seja a empresa Ré citada, na pessoa de seu representante legal, sobre


o depósito do valor judicial, restando impedida de exigir outro valor a título de
pagamento das parcelas do contrato ora em contenda, em especial para que reste
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impedida do efetuar envio de correspondências ou qualquer outro tipo de meio
coercitivo para tentar, FORÇOSAMENTE, fazer com que a autora desista de seu
direito e pague o valor ora discutido, tendo em vista a configuração, nestes atos, de
ASSÉDIO MORAL desnecessário por parte da empresa Ré;

REQUER AINDA:

a) Em caso de negativa do direito a tutela antecipada, requer-se que


tenha o Autor o direito a manter o pagamento via depósito judicial, do valor integral
das parcelas, até o trânsito em julgado da presente ação;

b) A citação da empresa Ré, na pessoa de seu representante legal para,


querendo, contestar a presente, dentro do prazo processual permitido, sob pena de
confesso quanto a matéria de fato e de direito.

c) Seja julgada totalmente procedente a presente demanda, para a


revisão integral da relação contratual, e declarar a nulidade das cláusulas abusivas,
bem como a consignação, com o conseqüente expurgo dos encargos que se
considerarem onerosos, tudo calculado na forma simples e sem capitalização mensal e
em prazo razoável de pagamento.

d) Seja aplicado a inversão do ônus da prova, consoante art. 6º, VIII do


CDC, obrigando a Requerida a apresentar o original do empréstimo, assinado pela
Autora, bem como a provar em juízo que deu ao Autor o direito de conhecer o que é
capitalização de juros, bem como explicações ao Autor referente a outras cláusulas de
caráter adesivo, como antecipação de vencimento, comissão de permanência, TAC,
TEC;

e) Protesta pela prova documental que acompanha e as demais que se


fizerem necessárias no decorrer da instrução processual; todas em direito admitidas,
sem a exclusão de nenhuma, pericial caso houver necessidade devendo ser esta
arcada pela Requerida.

f) Caso não seja deferida a TUTELA ANTECIPADA, em sendo exigidos


valores indevidos, combatidos nesta actio, a Requerida, também deve ser condenada à
devolução dos valores exigidos e pagos, em dobro, atualizados e com juros.

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f) Requer seja concedido o benefício da justiça gratuita em favor da
Autora, por se tratar de pessoa sem condições de arcar com custas processuais, sem
prejuízo de seu sustento, consoante declaração de insuficiência financeira e extratos
de pagamento que seguem;

h) seja condenada a Requerida ao pagamento das custas processuais e


honorários advocatícios;

Dá-se a causa o valor de R$49.912,80 (quarenta e nove mil oitocentos


e doze reais e oitenta centavos).

Nestes Termos,

Pede deferimento.

Porto Alegre, 5 de julho de 2023.

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