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A modalidade de empréstimo consignado via cartão de crédito com reserva de margem

consignável (RCM) concedida a servidores pú blicos, aposentados e pensionistas é muito


utilizada por instituiçõ es financeiras.
O problema é que na maioria das vezes o consumidor contrata essa modalidade, pensando
tratar-se de empréstimo consignado tradicional, quando na verdade nã o é, e a dívida nunca
terá fim, diante de clá usulas ilegais e abusivas, passíveis de indenizaçã o por dano moral,
além de restituiçã o em dobro.
Confira o modelo de açã o para nulidade de cartã o de crédito com reserva de margem
consigná vel (RCM) com pedido de tutela antecipada para suspender os descontos em folha
ou benefício:

EXCELENTÍSSIMO (A) SENHOR (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA VARA CÍVEL
DA COMARCA DE CHAPECÓ – SC TUTELA DE URGÊNCIA
AUTOR…, brasileiro…, estado civil…, aposentado, inscrito no RG n…, e CPF…, residente e
domiciliado na Rua…, nú mero…, Bairro…, Cidade…, UF…, CEP…, endereço eletrô nico….,
vem, a presença de Vossa Excelência, por seu advogado, propor
AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO
COM RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL (RCM) E INEXISTÊNCIA DE DÉBITO
COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA ANTECIPADA CUMULADA COM
RESTITUIÇÃO DE VALORES EM DOBRO E INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL
Em face de BANCO…, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o n…, com
sede na Av. Paulista, n…, Bairro…, Sã o Paulo/SP, CEP…, pelas razõ es de fato e de direito a
seguir expostas.

1. DA JUSTIÇA GRATUITA
O art. 5º, LXXIV, da Constituiçã o Federal garante que o Estado prestará assistência jurídica
integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos.
A respeito da referida norma, Alexandre de Moraes ensina:
A Constituição Federal, ao prever o dever do Estado em prestar assistência jurídica integral e gratuita aos que
comprovarem insuficiência de recursos, pretende efetivar diversos outros princípios constitucionais, tais como
igualdade, devido processo legal, ampla defesa, contraditório e, principalmente, pleno acesso à Justiça. Sem
assistência jurídica integral e gratuita aos hipossuficientes, não haveria condições de aplicação imparcial e
equânime de Justiça. Trata-se, pois, de um direito público subjetivo consagrado a todo aquele que comprovar que
sua situação econômica não lhe permite pagar os honorários advocatícios, custas processuais, sem prejuízo para
seu próprio sustento ou de sua família. [1]

Para o Emérito Des. Ricardo Roesler, a justiça gratuita não deve ser concedida apenas
àqueles em estado de miserabilidade de fato, até mesmo porque a lei de regência não exige
comprovação da penúria de quem postula o benefício. A norma determina, apenas, a
demonstração de que o requerente não possui condições de arcar com as despesas
processuais, sem que para isso tenha que comprometer, ou modificar, a manutenção regular
do seu cotidiano, representando um verdadeiro sacrifício; é a hipossuficiência técnica [2].
Acontece, que o Autor possui despesas mensais inadiá veis como financiamento de veículo,
empréstimos consignados, aluguel, alimentaçã o, vestuá rio, transporte, plano de saú de,
medicamentos, luz, á gua, telefone, gá s, e outras despesas de manutençã o, que consomem
toda a sua remuneraçã o líquida mensal, razã o pela qual afirma ser pessoa juridicamente
necessitada, nã o podendo arcar com o pagamento das custas judiciais e honorá rios
advocatícios sem prejuízo do pró prio sustento e de sua família, requerendo portanto, com
fundamento no art. 5º, inciso LXXIV da Constituiçã o Federal e no art. 98 e seguintes do
Có digo de Processo Civil, a concessã o dos benefícios da assistência judiciá ria gratuita.

2. DOS FATOS
O Autor, servidor pú blico estadual, buscou o Réu em 18.11.2014 com a finalidade de
obtençã o de empréstimo consignado tradicional, mas restou nitidamente ludibriado com a
realizaçã o de outra operaçã o, qual seja, contração de cartão de crédito com reserva de
margem consignável (RCM), porém, sem nunca receber o cartã o de crédito. Todavia, teve
creditado (via TED) em sua conta bancá ria, em razã o dessa operaçã o, o valor de R$
1.795,84.
Essa modalidade de empréstimo, funciona da seguinte maneira: o banco credita na conta
bancá ria do requerente ─ antes mesmo do desbloqueio do aludido cartã o e sem que seja
necessá ria a sua utilizaçã o ─ o valor solicitado, e o pagamento integral é enviado no mês
seguinte sob a forma de fatura. Se o requerente pagar integralmente o valor contraído,
nada mais será devido. Nã o o fazendo, porém, como é de se esperar, será descontado em
folha apenas o VALOR MÍNIMO desta fatura e, sobre a diferença, incidem encargos
rotativos, evidentemente abusivos.
Desde modo, o valor a ser pago no mês seguinte ao da obtençã o do empréstimo é o valor
TOTAL da fatura, isto é, o valor total obtido de empréstimo, acrescido dos encargos e juros.
Esse pagamento deve ocorrer por duas vias: o mínimo pela consignaçã o (desconto em
folha) e o restante por meio de fatura impressa enviada à residência do consumidor com
valor integral.
Como dificilmente aquele que busca empréstimo consignado ─ como é o caso do Autor ─
tem condiçõ es de adimplir o valor total já no mês seguinte, incidirã o em todos os meses
subsequentes juros elevados sobre o valor nã o adimplido. Além disso, o desconto via
consignaçã o leva o cliente a ilusã o de que o empréstimo está sendo adequadamente
quitado.
Em verdade o cartã o de crédito (plá stico) contratado nem chega a ser encaminhado para o
endereço do consumidor, tampouco as faturas ou informaçõ es detalhadas do débito.
Ocorre que, a ilegalidade da contrataçã o realizada normalmente só vem à tona quando o
cliente percebe, apó s anos de pagamento, que o tipo de contrataçã o realizada nã o foi a
solicitada e ainda, QUE NÃ O HÁ PREVISÃ O PARA O FIM DOS DESCONTOS.
In casu, o Autor realizou o empréstimo de R$ 1.795,84 em 18.11.2014, e até
21.02.2019 adimpliu o montante de R$ 4.215,59, e não há previsão de termino.
Atualmente, o valor descontado em folha, é na média de R$ 90,00 conforme extrai-se dos
contracheques (todos acostos).
Em outras palavras, a dívida nunca será paga, vez que os descontos mensais abatem
apenas os juros e encargos da dívida, gerando, assim, descontos por prazo indeterminado, e
portanto, como ainda irã o incidir juros e encargos, esse valor nunca será abatido.
Excelência, é certo que nenhum consumidor aceitaria realizar a contração de cartão de
crédito com reserva de margem consignável (RCM), se nã o fosse ludibriado e induzido ao
erro dolosamente. Neste ponto, resta claro, que nunca a parte autora quis contratar cartã o
de crédito algum e, ainda que essa fosse sua intençã o, o Réu jamais prestou qualquer
informaçã o a respeito da constituiçã o da reserva de margem consigná vel (RMC), tã o pouco,
enviou as faturas do referido cartã o ao endereço do Autor, possibilitando a amortizaçã o
total do débito.
Portanto, o termo de adesã o é visivelmente nulo, pois viola os direitos do Autor
consumidor, especialmente aqueles relacionados à informaçã o e à transparência das
relaçõ es de consumo, além de ser omisso quanto à s informaçõ es vitais para o mínimo de
entendimento da avença por parte do cliente, pois, nã o há indicaçã o do nú mero de
parcelas; data de início e de término das prestaçõ es; do custo efetivo com e sem a
incidência de juros; etc.
Além do mais, o termo de adesã o firmado com o Réu contêm prá ticas abusivas vedadas
pelo CDC, pois tal como formuladas, geraram parcelas infindá veis e pagamentos que irã o
ultrapassar facilmente 3 vezes o valor inicialmente obtido, constituindo vantagem
manifestamente excessiva e onerosa ao Autor, razã o pela qual faz-se necessá ria a obtençã o
de tutela jurisdicional.

3. FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA
3.1. DA APLICABILIDADE DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Preambular, é de ressaltar que tratam-se de questõ es afeitas à s relaçõ es de consumo,


justificando a escolha desse foro para apreciá -la, a teor do art. 101, I do Có digo de Defesa
do Consumidor ( CDC), prevendo a possibilidade de propositura desta demanda no
domicílio do Autor porquanto reconhecidamente hipossuficiente.
Dispõ e a Constituiçã o Federal de 1988 ( CF/88) em seu artigo 5º, inciso XXXII, que “o
Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor”. A defesa de seus direitos é,
portanto, garantia constitucional.
Dessa forma, por meio da Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990, o Estado Brasileiro
instituiu o CDC, que regulamenta as formas de proteçã o do consumidor, com normas de
ordem pú blica e interesse social, em consonâ ncia com a CF/88.
Entre os direitos bá sicos previstos no CDC está à garantia de reparaçã o dos danos
patrimoniais e morais, o acesso à justiça e a inversã o do ô nus da prova em favor do
consumidor, nos termos do artigo 6º, incisos VI, VII e VIII.
Cumpre destacar, em relaçã o ao art. 6º, VIII, do CDC, que o Autor encontra-se em nítida
desvantagem em relaçã o ao Réu, o que por si só autoriza a inversã o do ô nus probandi, uma
vez que se trata de aplicaçã o do direito bá sico do consumidor, inerente à facilitaçã o de sua
defesa em juízo.
Sobre a relaçã o de consumo, as partes enquadram-se nos conceitos de consumidor e
fornecedor conforme dispõ em os arts. 2º e 3º do CDC, vez que o Autor é consumidor final e
o Réu instituiçã o financeira, nos termos da Sú mula 297 do STJ.
Sendo assim, inexistem maiores dificuldades em se concluir pela aplicabilidade do referido
Có digo, visto que este corpo de normas pretende aplicar-se a todas as relaçõ es
desenvolvidas no mercado brasileiro que envolvam um consumidor e um fornecedor.
Portanto, re quer desde logo que o caso seja analisado e julgado sob o prisma da relaçã o de
consumo, deferindo-se em favor do Autor o benefício da inversã o do ô nus da prova
consoante artigo 6º, VIII, do CDC, ante a manifesta hipossuficiência técnica e financeira em
relaçã o ao Réu.
3.2. DA VIOLAÇÃO AO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
A modalidade de empréstimo consignado via contração de cartão de crédito com reserva de
margem consignável (RCM) é marcada por abusividade, vez que o Réu, deliberadamente,
impõ e ao Autor o pagamento mínimo da fatura mensal, o que para ele é vantajoso, já que
enseja a aplicaçã o, por muito mais tempo, de juros e demais encargos contratuais, sem data
final de pagamento.
Nesse diapasã o, o CDC considera tal situaçã o abusiva, in verbis:
Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas
I – condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço, bem
como, sem justa causa, a limites quantitativos;
V – exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva;
XII – deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua obrigação ou deixar a fixação de seu termo inicial a
seu exclusivo critério.

Ao tecer comentá rio acerca do inciso I do art. 39, a Professora Clá udia Lima Marques:
Tanto o CDC como a Lei Antitruste proíbem que o fornecedor se prevaleça de sua superioridade econômica ou
técnica para determinar condições negociais desfavoráveis ao consumidor. Assim, proíbe o art. 39, em seu inciso I,
a prática da chamada venda “casada”, que significa condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao
fornecimento de outro produto ou serviço. O inciso ainda proíbe condicionar o fornecimento, sem justa causa, a
limites quantitativos. A jurisprudência assentou que a prática de venda casada não pode ser tolerada, pois apenas
os limites quantitativos é que podem ser valorados como justificados ou com justa causa. [3]

A despeito dos incisos V e XII do art. 39, restam violados porquanto o Réu já exigiu do
Autor, quantia muito superior à contratada, sem estipular data de início e fim para
pagamento das parcelas. Evidente essa abusividade flagrante dispensa ensinamentos
doutriná rios.
O Autor, diante da necessidade, apenas buscou contrair um empréstimo consignado, mas
como dito, restou ludibriado, por prá ticas abusivas e só rdidas cometidas pelo Réu. A
jurisprudência já apreciou milhares de casos assim:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE RESTITUIÇÃO DE VALORES CUMULADA COM INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS.
TOGADO DE ORIGEM QUE JULGA IMPROCEDENTES OS PEDIDOS DEDUZIDOS NA EXORDIAL. IRRESIGNAÇÃO DA
AUTORA. […] CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO COM RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL (RMC). DESCONTOS
REALIZADOS DIRETAMENTE DO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DA REQUERENTE, PESSOA HIPOSSUFICIENTE E COM
PARCOS RECURSOS. CONTEXTO PROBATÓRIO QUE INDICA QUE A AUTORA PRETENDIA FORMALIZAR APENAS
CONTRATO DE EMPRÉSTIMO CONSIGNADO. INEXISTÊNCIA DE DECLARAÇÃO DE VONTADE QUANTO À
CELEBRAÇÃO DE AJUSTE DE CARTÃO DE CRÉDITO. AUSÊNCIA DE PROVAS QUANTO À UTILIZAÇÃO DO CARTÃO DE
CRÉDITO E TAMPOUCO DO SEU ENVIO PARA O ENDEREÇO DA CONSUMIDORA. PRÁTICA ABUSIVA
CONFIGURADA. INTELIGÊNCIA DO ART. 39, INCISOS I, III E IV DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR.
PRECEDENTES DESTE AREÓPAGO. SENTENÇA REFORMADA. […] (Apelação Cível n. 0300073-36.2018.8.24.0029, Rel.
Des. José Carlos Carstens Köhler, j. em 26/6/2018) (sem grifos no original)
Convêm pô r em relevo, que o Réu afigura à contração de cartão de crédito com reserva de
margem consignável (RCM) como sendo um empréstimo consignado normal, quando de
fato, nã o é! Registre-se que a publicidade enganosa é definida pelo CDC como:
Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.
1º É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente
falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da
natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre
produtos e serviços.
[…]
3º Para os efeitos deste código, a publicidade é enganosa por omissão quando deixar de informar sobre dado
essencial do produto ou serviço.

A despeito do r. artigo, leciona Rizzatto Nunes:


A primeira leitura nos remete ao problema do “dado essencial”. A lei diz que a publicidade é enganosa por
omissão quando deixa de informar sobre dado essencial do produto ou serviço: “Para os efeitos deste Código, a
publicidade é enganosa por omissão quando deixar de informar sobre dado essencial do produto ou serviço” (§ 3º
do art. 37). […] constrói-se um conceito de essencial naquilo que importa à publicidade. E, nessa linha, é de dizer
que essencial será aquela informação ou dado cuja ausência influencie o consumidor na sua decisão de comprar,
bem como gere um conhecimento adequado do uso e consumo do produto ou serviço, “realmente”, tal como são.
[4]

Logo, vez que nã o se tem dú vida de que a intençã o do Autor, era a de simples empréstimo
consignado, a de contrataçã o de cartão de crédito com reserva de margem consignável
(RCM) se mostra abusiva, e, portanto, nula, nos termos do art. 51, IV, e § 1º, III, do CDC:
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e
serviços que:
IV – estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem
exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;
1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que:
III – se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do contrato,
o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso.

Resta mencionar, que o Réu trata a contração de cartão de crédito com reserva de margem
consignável (RCM) como sendo um Termo de Adesão. Pois bem, o § 3º do art. 54 do CDC
dispõe:
3o Os contratos de adesão escritos serão redigidos em termos claros e com caracteres ostensivos e legíveis, cujo
tamanho da fonte não será inferior ao corpo doze, de modo a facilitar sua compreensão pelo consumidor.

Clarividente é, a violaçã o ao CDC praticada pelo Réu, porquanto o referido termo de


adesão, sequer expressa o número de parcelas; data de início e de término das
prestações.
3.3. DA VIOLAÇÃO DO DEVER DE INFORMAÇÃO NA FASE PRÉ CONTRATUAL
Outra constante na realizaçã o do contrato de cartão de crédito com reserva de margem
consignável – RMC é a ausência de informações mínimas acerca da data de início e de
término das parcelas referentes à obtençã o do empréstimo e das taxas de juros aplicadas
ao contrato, o que viola o disposto pelo Có digo de Defesa do Consumidor em seu art. 52:
Art. 52. No fornecimento de produtos ou serviços que envolva outorga de crédito ou concessão de financiamento
ao consumidor, o fornecedor deverá, entre outros requisitos, informá-lo previa e adequadamente sobre:
I – preço do produto ou serviço em moeda corrente nacional;
II – montante dos juros de mora e da taxa efetiva anual de juros;
III – acréscimos legalmente previstos;
IV – número e periodicidade das prestações;
V – soma total a pagar, com e sem financiamento.

No termo de adesã o assinado pelo Autor, nã o constam informaçõ es quanto à data de início
e de término das parcelas, percentual de juros, nem tampouco valor total de pagamento em
razã o do acréscimo de juros. E se assim o é, deve incidir a regra disposta no art. 46 do CDC:
Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores, se não lhes for dada
a oportunidade de tomar conhecimento prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem
redigidos de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance.

Nã o obstante, jamais foi enviado qualquer cartão de crédito ao endereço do Autor,


tampouco as faturas destinadas à amortização do saldo devedor que sobejasse apó s o
descontado mensal sobre o seu subsídio.
Evidente, pois, que o contrato sob aná lise afronta direitos bá sicos do Autor como
consumidor, em especial por estabelecer desvantagem manifestamente excessiva, em clara
violaçã o ao dever de informaçã o insculpido no art. 52 do CDC. Impõ e-se, entã o, reconhecer
a nulidade do negó cio jurídico em questã o, com o consequente retorno das partes ao seu
status quo ante.

3.4. DA NULIDADE DA CONTRAÇÃO DE CARTÃO DE CRÉDITO COM RESERVA DE


MARGEM CONSIGNÁVEL (RCM)
Os danos causados ao Autor sã o oriundos do vício existente no negó cio jurídico chamado
“dolo”. Trata-se de um vício em que uma das partes da relaçã o jurídica induz a outra ao
erro, causando-lhe um dano. Todo negó cio jurídico que possui como fato gerador o dolo é
anulá vel nos termos do art. 145 do Có digo Civil:
Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa.

O final do artigo supra demonstra a necessidade em que um negó cio jurídico para ser
anulado por dolo faz-se necessá rio que este elemento tenha sido sua causa. No caso em
questã o, o Autor, com certeza, nã o teria aceitado um contrato tã o adverso, se nã o fosse
levado a cometer tal erro, por isso, vale destacar também o artigo 147 do Có digo Civil:
Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade
que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria
celebrado.

O CDC, em seu art. 6º prevê ser um dos direitos bá sicos do Consumidor a prestaçã o que as
informaçõ es sobre o produto ou serviço devam ser adequadas e claras, com especificaçã o
correta de quantidade, características, composiçã o, qualidade, tributos incidentes e preço,
bem como sobre os riscos que apresentarem, além de proteçã o contra prá ticas e clá usulas
abusivas no fornecimento de produtos e serviços.
No caso em comento, restou evidenciado que o Autor nã o possuía informaçã o clara sobre o
serviço que estava adquirindo. Nã o sabia que aquele contrato de crédito consignado que
acreditava estar assinando, era na verdade um contrato de cartão de crédito com reserva de
margem consignável (RCM), IMPAGÁVEL.
Nã o sabia ele, igualmente, que a parcela debitada mensalmente em seus contracheques era
apenas uma forma de adimplemento mínimo, incapaz de amortizar a dívida original, em
flagrante violaçã o à publicidade enganosa e falta de informaçã o.
Neste sentido, o Emérito Desembargador Robson Luz Varella, durante a relatoria da
Apelaçã o Cível n. 0301292-89.2018.8.24.0092, da Capital – Bancá rio registrou que:
Sobre essas duas modalidades de mútuo bancário, o Banco Central do Brasil define como “empréstimo consignado
aquele cujo desconto da prestação é feito diretamente em folha de pagamento ou benefício previdenciário. A
consignação em folha de pagamento ou de benefício depende de autorização prévia e expressa do cliente à
instituição financeira concedente” ( http://www.bcb.gov.br/pre/bc_atende/port/consignados.Asp).
Já a jurisprudência esclarece que no empréstimo por intermédio de cartão de crédito com margem consignável,
coloca-se “à disposição do consumidor um cartão de crédito de fácil acesso ficando reservado certo percentual,
dentre os quais poderão ser realizados contratos de empréstimo. O consumidor firma o negócio jurídico
acreditando tratar-se de um contrato de empréstimo consignado, com pagamento em parcelas fixas e por tempo
determinado, no entanto, acaba por aderir a um cartão de crédito, de onde é realizado um saque imediato e
cobrado sobre o valor sacado, juros e encargos bem acima dos praticados na modalidade de empréstimo
consignado, gerando assim, descontos por prazo indeterminado[…]” (Tribunal de Justiça do Maranhão, Apelação
Cível n. 043633, de São Luis, Rel. Cleones Carvalho Cunha).
Ressalte-se que a prática abusiva e ilegal difundiu-se, atingindo escala significativa de aposentados e
pensionistas, tendo como consequência o ajuizamento de inúmeras ações, inclusive visando tutelar o direito dos
consumidores coletivamente considerados, a fim de reconhecer a nulidade dessa modalidade de desconto via
“RMC”.
O “modus operandi” utilizado pelas instituições financeiras foi assim descrito pelo Núcleo de Defesa do Consumidor
da defensoria Pública do Estado do Maranhão, na ação civil pública ajuizada pelo órgão na defesa dos interesses
dos “aposentados e pensionistas do INSS”:
O cliente busca o representante do banco com a finalidade de obtenção de empréstimo consignado e a
instituição financeira, nitidamente, ludibriando o consumidor, realiza outra operação – a contratação de cartão
de crédito com RMC.” Assim, na folha de pagamento é descontado apenas um pequeno percentual do valor obtido
por empréstimo e o restante desse valor é cobrado através de fatura de cartão de crédito, com incidência de juros
duas vezes mais caros que no empréstimo consignado normal.( http://condege.org.br/noticias/473-ma-defensoria-
promove-ação-civil-pública-contrabancos-por-ilegali...)
A jurisprudência firmada em ocasiã o do julgamento supra foi a seguinte:
[…] DEMANDA OBJETIVANDO A DECLARAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE CONTRATAÇÃO DE EMPRÉSTIMO CONSIGNADO
POR MEIO DE CARTÃO DE CRÉDITO COM RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL (RMC) – ACIONADO QUE
DEFENDEU A LEGALIDADE DOS DESCONTOS EFETUADOS NO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DA AUTORA – ATO
ILÍCITO CONFIGURADO – DEDUÇÃO A TÍTULO DE CONSIGNAÇÃO VIA CARTÃO DE CRÉDITO JAMAIS UTILIZADO
PELA CONSUMIDORA – PRÁTICA ABUSIVA – VASTO CONJUNTO PROBATÓRIO A DERRUIR A TESE DEFENSIVA –
EXTRATOS QUE EVIDENCIAM A AUSÊNCIA DE ABATIMENTO DO MONTANTE DO MÚTUO – INTERPRETAÇÃO DOS
ARTS. 6ºº, III, E 39 9, V, DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR R – POSSIBILIDADE DE READEQUAÇÃO DA
AVENÇA CONVENCIONADA PARA A MODALIDADE INICIALMENTE PRETENDIDA, QUAL SEJA, DE EMPRÉSTIMO
CONSIGNADO PURO E SIMPLES – RECLAMO PROVIDO NO CAPÍTULO. A prática abusiva e ilegal de contrair
modalidade de empréstimo avesso ao objeto inicialmente pactuado é conduta infensa ao direito, sobretudo
quando a instituição financeira, ao difundir seu serviço, adota medida anômala ao desvirtuar o contrato de
mútuo simples consignado, modulando a operação via cartão de crédito com reserva de margem. Ao regular
seus negócios sob tal ótica, subverte a conduta que dá esteio as relações jurídicas, incidindo em verdadeira
ofensa aos princípios da transparência e da boa fé contratual, situando o consumidor em clara desvantagem,
provocando, por mais das vezes, a cobrança de valores reconhecidamente descabidos e infundados, gerando
toda sorte de injusto endividamento. Na hipótese, constata-se devidamente demonstrada a consignação ilegal
da reserva de margem consignável (RMC) em cartão de crédito jamais utilizado pela demandante. Assim, em
observância à pretensão expressamente externada na exordial, determina-se a readequação da contratação
para a modalidade inicialmente pretendida, qual seja, de empréstimo consignado puro e simples. […] (TJSC,
Apelação Cível n. 0301292-89.2018.8.24.0092, da Capital, rel. Des. Robson Luz Varella, Segunda Câmara de Direito
Comercial, j. 20-11-2018).

Quando a Instituiçã o Financeira omite que o valor descontado no contracheque é


insuficiente para amortizar a dívida, incorre com propaganda enganosa, induzindo o cliente
a erro, uma atitude claramente criminosa nos termos do Có digo de Defesa do Consumidor:
Art. 67. Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria saber ser enganosa ou abusiva.
Pena: Detenção de três meses a um ano e multa.

Portanto, a desvirtuaçã o do contrato de empréstimo buscado pelo Autor para um cartão de


crédito com reserva de margem consignável (RCM), implica em ofensa aos princípios da
transparência e da boa-fé, além de caracterizar abusividade, colocando o consumidor em
franca desvantagem ao gerar um endividamento sem termo final, e portanto, é nulo!

3.5. TAXA DE JUROS MUITO SUPERIOR ÀQUELA DIVULGADA PELO BANCO


CENTRAL
Conforme restou demonstrado, o Autor, apó s ser ludibriado à contração de cartão de
crédito com reserva de margem consignável (RCM), recebeu via TED em sua conta bancá ria,
a quantia de R$ 1.795,84 em 18.11.2014, cujo desconto atual no contracheque é de
aproximadamente R$ 90,00, e sem previsã o de término.
Ocorre, que o Autor já adimpliu a quantia estarrecedora de R$ 4.215,59, pelos mesmo R$
1.795,84 que recebeu à época do empréstimo, ou seja, os juros, encargos e taxas cobradas
pelo Réu, sã o notadamente abusivas, e muito acima da média de mercado.
Ocorre que, a taxa média de juros para crédito pessoal consignado na data da contrataçã o
pelo Autor, conforme divulgado pelo Banco Central do Brasil para o Réu, era, de 2.06% a.m.,
totalizando 27,74% a.a.
Apó s longa discussã o tanto na doutrina quanto na jurisprudência, consolidou-se o
entendimento de que os juros remunerató rios somente possuem cará ter abusivo, desde
que ultrapassada a taxa média de mercado à época do contrato, tomando como base a lista
divulgada pelo Banco Central do Brasil que dispõ e sobre as taxas médias de juros cobradas
pelas instituiçõ es integrantes do Sistema Financeiro Nacional.
Nesse sentido:
APELAÇÃO CÍVEL. DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE DESCONTO EM FOLHA DE PAGAMENTO E REPARAÇÃO POR
DANOS MORAIS. SENTENÇA DE PARCIAL PROCEDÊNCIA. CONSUMIDOR QUE PRETENDIA OBTER EMPRÉSTIMO
CONSIGNADO. EFETIVAÇÃO DE CONTRATO DE CARTÃO DE CRÉDITO COM RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL –
RMC. DESCONTOS NO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DESTINADOS AO PAGAMENTO MÍNIMO INDICADO NA FATURA
DO CARTÃO. TAXA DE JUROS INCOMPATÍVEIS COM A ESPÉCIE CONSIGNADA. PRÁTICA ABUSIVA. ADEQUAÇÃO DA
MODALIDADE CONTRATUAL QUE SE IMPÕE. ATO ILÍCITO CONFIGURADO. DANO MORAL PRESUMIDO. DEVER DE
INDENIZAR. REPETIÇÃO DO INDÉBITO NA FORMA SIMPLES. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO DESPROVIDO. (TJSC,
Apelação Cível n. 0301908-34.2017.8.24.0081, de Xaxim, rel. Des. Cláudio Barreto Dutra, Quinta Câmara de Direito
Comercial, j. 22-11-2018).
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE DESCONTO EM FOLHA DE PAGAMENTO CUMULADA
COM REPETIÇÃO DE INDÉBITO E INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL. TERMO DE ADESÃO A CARTÃO DE CRÉDITO
CONSIGNADO COM AUTORIZAÇÃO PARA DESCONTO EM FOLHA DE PAGAMENTO. RESERVA DE MARGEM DE
CARTÃO DE CRÉDITO (RMC) DESCONTADO DO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DA AUTORA. TAXA DE JUROS ACIMA
DAQUELA PRATICADA NO MERCADO PARA CRÉDITO CONSIGNADO A APOSENTADOS E PENSIONISTAS DO INSS.
PRÁTICA ABUSIVA. ARTIGO 39 DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. NULIDADE RECONHECIDA. ADEQUAÇÃO
DO AJUSTE À VONTADE MANIFESTADA DO CONSUMIDOR. CONVERSÃO DO CONTRATO PARA EMPRÉSTIMO
CONSIGNADO, COM A OBSERVÂNCIA DOS ENCARGOS PREVISTOS PARA OPERAÇÕES DE CRÉDITO PESSOAL
CONSIGNADO A APOSENTADOS E PENSIONISTAS DO INSS. ABATIMENTO NO SALDO DEVEDOR DOS VALORES
DESCONTADOS. […] (Apelação Cível n. 0300459-71.2018.8.24.0092, Rel. Des. Jânio Machado, j. em 23/8/2018)

Assim, à luz do entendimento que vem sendo adotado, a revisã o dos contratos financeiros,
tem como base para aferiçã o de abusividade a média de juros praticados pelo mercado, que
difere em muito daquela imposta ao Autor.

3.6. DANO MORAL CARACTERIZADO – RESPONSABILIDADE OBJETIVA DE


INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS
De início resta evidente que o Autor nã o pretendia contratar o cartã o de crédito oferecido
pelo Réu, em que pese tenha autorizado os descontos sobre o limite da margem
consigná vel em seu contracheque, que, como se percebe, só serviram para efetuar o
pagamento mínimo das faturas mensais do cartã o de crédito, com abatimento quase
insignificante do saldo devedor.
Outrossim, a jurisprudência é pacífica no que tange à responsabilidade objetiva da
instituiçã o financeira, ou seja, esta responde, independentemente da caracterizaçã o de
culpa, pelos danos causados ao consumidor, sendo suficiente a comprovaçã o do dano (in
reipsa) e do nexo de casualidade.
Assim, estando evidente a conduta ilícita da instituiçã o financeira (venda casada de cartã o
de crédito e reserva de margem consigná vel) e o dano moral (desvirtuar contrato de
empréstimo consignado e submeter o consumidor à dívida impagá vel), resta caracterizado
o nexo de causalidade, uma vez que a falha na prestaçã o de serviço deu causa ao dano, ou
seja, é uma relaçã o ló gica jurídica, de causa e efeito.
Isso porque, nã o há adimplemento além do mínimo deduzido diretamente da fonte de
renda do Autor, tampouco utilizaçã o do cartã o de crédito para qualquer outra finalidade
que nã o os pró prios descontos, vez que é recalculado a cada novo pagamento parcial da
fatura, com acréscimo dos encargos mensais, e portanto, notadamente impagá vel.
Por conseguinte, sabe-se que, nos termos dos artigos 186, 187 e 927 do Có digo Civil, aquele
que por açã o voluntá ria violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, ficará obrigado a repará -lo. In verbis:
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites
impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito ( arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.

Sobre o assunto, leciona Maria Helena Diniz:


Para que se configure o ato ilícito, será imprescindível que haja: a) fato lesivo voluntário, causado pelo agente, por
ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência; b) ocorrência de um dano patrimonial ou moral; c) nexo
de causalidade entre o dano e o comportamento do agente. [5]

O doutrinador Carlos Alberto Bittar conclui:


Assim sendo, para que haja ato ilícito, necessária se faz a conjugação dos seguintes fatores: a existência de uma
ação; a violação da ordem jurídica; a imputabilidade; a penetração na esfera de outrem. Desse modo, deve haver
um comportamento do agente, positivo (ação) ou negativo (omissão), que, desrespeitando a ordem jurídica, cause
prejuízo a outrem, pela ofensa à bem ou a direito deste. Esse comportamento (comissivo ou omissivo) deve ser
imputável à consciência do agente, por dolo (intenção) ou por culpa (negligência, imprudência, imperícia),
contrariando, seja um dever geral do ordenamento jurídico (delito civil), seja uma obrigação em concreto
(inexecução da obrigação ou de contrato). […] Deve, pois, o agente recompor o patrimônio (moral ou econômico)
do lesado, ressarcindo-lhe os prejuízos acarretados, à causa do seu próprio, desde que represente a subjetividade
do ilícito. [6]

Constatado o ato do agente e o nexo de causalidade, resta perquirir a extensã o do prejuízo,


nã o para garantir o recebimento da indenizaçã o, mas para que o valor seja arbitrado com
fundamento no artigo 944 do Có digo Civil, in verbis:
Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.

No caso, o fato do Autor já ter adimplido mais do dobro do valor incialmente contratado, é
com certeza, um dano significativo, que causou prejuízos para além da ordem patrimonial,
motivo para fixaçã o da indenizaçã o no montante de R$ 15.000,00, consoante o abalo
psíquico experimentado.
O CDC, por seu turno, também contempla a indenizaçã o por dano moral, nos incisos VI e
VII, do artigo 6º, in verbis:
Art. 6º São direitos básicos do consumidor:
VI – a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos e difusos;
VII – o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos
patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica
aos necessitados;

Tecidas estas consideraçõ es e, verificada a presença dos requisitos necessá rios à


caracterizaçã o da responsabilidade civil, cabe ao Réu suportar o pagamento de
indenizaçã o, já que estabelece a Constituiçã o Federal, em seu art. 5º, inciso V que “É
assegurado o direito de resposta proporcional ao agravo, além da indenização por dano
material, moral ou à imagem“.
E ainda, o inciso X do referido artigo diz que “São invioláveis a intimidade, a vida privada, a
honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou
moral decorrente de sua violação“.
Ademais, a norma consumerista estatui que a responsabilidade por falha na prestaçã o dos
serviços é objetiva, in verbis:
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos
causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações
insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.

No que concerne ao quantum, deve ser levando em conta os seguintes parâ metros, aceitos
tanto pela doutrina quanto pela jurisprudência: a) a posiçã o social e econô mica das partes;
b) a intensidade do dolo ou o grau de culpa do agente; c) a repercussã o social da ofensa; e
d) o aspecto punitivo-retributivo da medida. Nesse sentido, o montante nã o pode ser
irrisó rio, a ponto de menosprezar a dor e o abuso sofridos pelo Autor.
Ainda durante o julgamento da r. Apelaçã o Cível n. 0301292-89.2018.8.24.0092, da Capital
– Bancá rio, o Des. Relator Robson Luz Varella fixou o quantum indenizató rio:
DANO MORAL – ATO ILÍCITO – RELAÇÃO DE CONSUMO – INCIDÊNCIA DO ART. 14 DA LEI N. 8.078/1990 – ABALO
ANÍMICO EVIDENCIADO – DESCONTOS INDEVIDOS EFETUADOS QUE COLOCARAM EM RISCO A SUBSISTÊNCIA
PESSOAL DA ACIONANTE, HAJA VISTA O ÍNFIMO VALOR PERCEBIDO A TÍTULO DE PENSÃO POR MORTE
PREVIDENCIÁRIA – AGASALHAMENTO DA IRRESIGNAÇÃO NO PARTICULAR. Nas relações de consumo o fornecedor
de serviços responde objetivamente na reparação de danos causados aos consumidores, nos casos de defeito ou
por informações não prestadas ou inadequadas ( CDC, art. 14). Assim, para a configuração do dever de indenizar,
necessária a prova do ato ilícito, do dano e nexo causal entre a conduta do agente e os prejuízos causados ( CC,
arts. 186 e 927) […]As normas jurídicas pátrias não definiram expressamente os critérios objetivos para
arbitramento do “quantum” indenizatório, sabendo-se, apenas, que “a indenização mede-se pela extensão do
dano” ( CC, art. 944). Dessa forma, devem ser analisadas as particularidades de cada caso concreto, levando em
consideração o mencionado dispositivo, as condições econômico-financeiras das partes envolvidas, os princípios da
proporcionalidade e razoabilidade e o caráter pedagógico do ressarcimento. Na hipótese em análise, trata-se de
pessoa cujo benefício previdenciário perfaz a cifra de pouco mais de um salário mínimo mensal, enquanto que a
responsável pela reparação é instituição financeira dotada de grande poder econômico com larga atuação no
mercado creditício. Sopesando tais circunstâncias, principalmente em atenção ao caráter punitivo pedagógico da
condenação, entende-se adequada a fixação do “quantum” indenizatório em R$ 10.000,00 (dez mil reais),
corrigidos pelo INPC, a partir do presente arbitramento, e com incidência de juros de mora de 1% (um por cento) ao
mês, desde o evento danoso (Súmulas 362 e 54 do STJ, respectivamente). (TJSC, Apelação Cível n. 0301292-
89.2018.8.24.0092, da Capital, rel. Des. Robson Luz Varella, Segunda Câmara de Direito Comercial, j. 20-11-2018).

Nesse norte, considerando-se que a contrataçã o do cartã o de crédito ocorreu por meios
ardilosos do Réu, que ignorou os deveres da boa-fé objetiva e constrangeu o consumidor
em evidente necessidade financeira a contratar serviço por ele nã o desejado, obrigando-o a
pagar valores manifestamente excessivos, motivo pelo qual deve ser fixado como valor
justo e adequado, o montante de R$ 15.000,00 (quinze mil reais) a título de indenizaçã o
por dano moral.

3.7. DEVOLUÇÃO EM DOBRO


Constatada a cobrança de valores indevidos pela instituiçã o financeira, cabível é a aplicaçã o
do art. 876 do Có digo Civil, que estabelece: “Todo aquele que recebeu o que lhe não era
devido fica obrigado a restituir; obrigação que incumbe àquele que recebe dívida condicional
antes de cumprida a condição”.
Nítida é, a percepçã o que o Réu sabia exatamente dos descontos que realizou e continua a
realizar, mesmo ultrapassando o dobro do valor incialmente contratado, e que também tem
conhecimento da ilegalidade da operaçã o, entretanto, cô modo é cobrá -las e transferir ao
consumidor o ô nus de reclamá -las.
E nesse norte, tem entendido a Corte Catarinense que o ato de se apropriar indevidamente
de valores referentes a salá rio, configura hipó tese de culpa gravíssima, equiparada,
portanto, ao dolo, razã o pela qual sujeita o Réu à restituiçã o em dobro dos valores
descontados, na forma do artigo 42, pará grafo ú nico, do CDC:
Art. 42. […]
Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao
dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano
justificável.

Ocorre que nã o há , no caso em tela, engano justificá vel para a cobrança de R$ 4.215,59
com a continuidade dos descontos sem previsão de término, quando o valor
emprestado pelo Réu foi de R$ 1.795,84. Ao realizar descontos sobre o subsídio do
Autor, sem possibilitar a real amortizaçã o do saldo devedor ─ procedimento que
certamente atende a seus interesses econô micos ─ a toda evidência o Réu assumiu o risco
de prejudicá -lo.
A este proceder desidioso, por certo nã o se pode conferir a qualidade de causa “justificável”
de engano, eis que presente está , o dolo do Réu, que jamais enviou qualquer fatura ou
documento ao endereço do Autor a fim de informá -lo do valor devido ou adimplido.
Neste mesmo sentido, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina já decidiu:
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. SENTENÇA DE
PROCEDÊNCIA. RECURSO DO BANCO RÉU. CONTRATO DE UTILIZAÇÃO DE CARTÃO DE CRÉDITO COM DESCONTO NO
BENEFÍCIO DA AUTORA. (…) DESCONTO INDEVIDO NO BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO DA AUTORA DECORRENTE DE
CONTRATO ENTABULADO MEDIANTE INDUZIMENTO EM ERRO. DEVOLUÇÃO EM DOBRO. INTELIGÊNCIA DO
ARTIGO 42, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CDC. (…) (Apelação Cível n. 2015.070554-6, rel.ª Des.ª Soraya Nunes Lins, j.
em 04.02.2016).
APELAÇÃO CÍVEL. DANOS MORAIS. REPETIÇÃO DE INDÉBITO. DESCONTO INDEVIDO. AUSÊNCIA DE ENGANO
JUSTIFICÁVEL. OBRIGAÇÃO DE DEVOLVER EM DOBRO O VALOR DESCONTADO. (…) DESCONTOS INDEVIDOS.
CONTA BANCÁRIA NA QUAL A PARTE RECEBE PENSÃO. DANO MORAL CONFIGURADO. A diminuição da capacidade
financeira decorrente de descontos mensais em benefício previdenciário relativos a empréstimo consignado
realizado de forma ilegal, carateriza abalo moral, passível de compensação pecuniária (TJSC, Ap. Cív. n. 0021112-
95.2010.8.24.0045, de Palhoça, rel. Des. Joel Figueira Júnior, j. 8-9-2016). (…) (Apelação Cível n. 0300034-
78.2016.8.24.0071, rel.ª Des.ª Janice Ubialli, j. em 02.05.2017).

Por fim, resta pleitear a devoluçã o em dobro dos valores que o Réu dolosamente cobrou a
mais do Autor, que deverá ser apurado em eventual liquidaçã o de sentença.

4. DO JULGAMENTO ANTECIPADO DA LIDE


Isto posto, torna-se necessá rio pleitear ainda, o julgamento antecipado da lide nos moldes
do art. 355, inciso I do NCPC, ante a desnecessidade de produçã o de provas em audiência.
Tem-se que, o julgamento antecipado da lide, decorrida a contestaçã o do Réu, nã o causa o
cerceamento de defesa, posto que todos os documentos necessá rios para compreensã o dos
fatos e julgamentos do processo acompanham a presente petiçã o inicial.
Isso porque, o art. 355, inciso I do NCPC autoriza o juiz a julgar o mérito de forma
antecipada, quando não houver necessidade de fazer-se prova em audiência. Mesmo quando a
matéria objeto da causa for de fato, o julgamento antecipado é permitido se o fato for
daqueles que não precisam ser provados em audiência, como, por exemplo, os notórios, os
incontroversos, etc. [7]
Dessa forma, presente todo o conjunto probató rio necessá rio ao desfecho da demanda, e
deferida a inversã o do ô nus da prova para que o Réu junte (i) o saldo devedor do Autor; (ii)
prova de desbloqueio, de uso e as pró prias faturas do suposto cartã o de crédito; e, (iii) a
prova de envio das faturas e do pró prio cartã o ao Autor, requer-se o julgamento antecipado
da lide nos moldes do art. 3555, inciso I doNCPCC.

5. NECESSIDADE DE CONCESSÃO DE TUTELA DE URGÊNCIA


A concessã o da tutela de urgência depende do preenchimento de três requisitos: a)
existência de elementos que evidenciem a probabilidade do direito; b) perigo de dano ou o
risco ao resultado ú til do processo; e c) ausência de perigo de irreversibilidade do
provimento antecipado (CPC, art. 300, caput, e § 3º).
In casu, a probabilidade do direito resta evidenciada porquanto o Autor já adimpliu o valor
inicialmente contratado. Já o perigo de dano, exsurge no risco a subsistência do Autor com
a continuidade dos descontos em seu contracheque do Autor, vez que nã o há , no termo de
adesã o, data de início e fim para o pagamento, muito menos, o nú mero de parcelas que
ainda restam.
O Tribunal de Justiça de Santa Catarina já decidiu que os descontos relativos à reserva de
margem consigná vel sã o incompatíveis com o empréstimo consignado e merecem ser
suspensos de início:
AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO CUMULADA COM PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS. RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL. TUTELA DE URGÊNCIA ANTECIPADA DEFERIDA NA
ORIGEM. INSURGÊNCIA DO BANCO. MÉRITO. TUTELA DE URGÊNCIA ANTECIPADA. PROBABILIDADE DO DIREITO E
PERIGO DE DEMORA DEMONSTRADOS NA ORIGEM VERIFICADOS. PRETENSÃO DE CONTRATA EMPRÉSTIMO
BANCÁRIO QUE RESULTOU EM CARTÃO DE CRÉDITO COM RESERVA DE MARGEM CONSIGNÁVEL.
DESVIRTUAMENTO DA PRETENSÃO OBRIGACIONAL. PRESSUPOSTOS DO ARTIGO 300 DO CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL SATISFEITOS. MULTA DIÁRIA FIXADA PARA OBRIGAÇÃO DE FAZER. LEGALIDADE ESTAMPADA NOS ARTIGOS
497 E 537 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL E NO ARTIGO 84 DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. AUSÊNCIA
DE ILEGALIDADE. Recurso conhecido e desprovido. (TJSC, Agravo de Instrumento n. 4013678-60.2018.8.24.0900,
de Laguna, rel. Des. Guilherme Nunes Born, Primeira Câmara de Direito Comercial, j. 23-08-2018).

Por fim, cumpre destacar que a medida pleiteada nã o é irreversível, porquanto, em caso de
improcedência do pedido requerido ao final da demanda, é viá vel, faticamente, ao retorno
da situaçã o anterior. Portanto, cabível a medida liminar a fim de suspender os descontos no
contracheque do Autor, é o que se requer.
6. DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS
Ante o exposto, REQUER:
i. A concessã o de tutela de urgência antecipada, para que o Réu se abstenha de
descontar do contracheque do Autor, o valor referente à contração de cartão de crédito
com reserva de margem consignável (RCM), sob pena de multa por desconto realizado a
ser arbitrado por Vossa Excelência, nã o inferior a R$ 2.000,00;
ii. A citaçã o do Réu por carta, para apresentar contestaçã o, caso queira, bem como, que
seja intimado a trazer aos autos, (i) o saldo devedor do Autor; (ii) prova de
desbloqueio, de uso e as pró prias faturas do suposto cartã o de crédito; e, (iii) a prova
de envio das faturas e do pró prio cartã o de crédito ao Autor;
iii. No mérito, seja declarada nula a contração de cartão de crédito com reserva de margem
consignável (RCM) com a consequente inexistência de débito.
iv. Requer a devoluçã o em dobro dos valores que o Réu cobrou a mais do Autor, bem
como, de valores eventualmente cobrados durante o processo, que deverá ser apurado
em liquidaçã o de sentença, acrescidos de juros e correçã o monetá ria.
v. A condenaçã o do Réu em R$ 15.000,00 a título de danos morais, consoante todo o
narrado.
vi. A concessã o de inversã o do ô nus da prova em favor da Autor;
vii. A concessã o do benefício da Justiça Gratuita ao Autor;
viii. A dispensa da designaçã o de audiência de conciliaçã o;
ix. Condenar o Réu ao pagamento de custas e despesas processuais, bem como, de
honorá rios advocatícios, estes em 20% sobre o valor da condenaçã o, consoante o art.
855 doCPCC;
x. O julgamento antecipado da lide;
xi. Por fim, REQUER A PROCEDÊ NCIA TOTAL DOS PEDIDOS, declarando nula a
contrataçã o do termo de adesã o de cartão de crédito com reserva de margem
consignável (RCM) com a consequente inexistência de débito, confirmando eventual
tutela provisó ria concedida, e ainda, condenar o Réu à restituiçã o em dobro e ao
pagamento de danos morais.
xii. Na remota hipó tese de ser considerado vá lido o contrato objeto da presente demanda,
requer, subsidiariamente, ao pedido acima, seja realizada a conversã o do termo de
adesã o de cartão de crédito com reserva de margem consignável (RCM) para
empréstimo consignado tradicional, com aplicaçã o de percentual de juros à taxa média
de mercado da época da contrataçã o, afastando-se todas as clá usulas abusivas, e
utilizando os valores já pagos a título de RMC para amortizar eventual saldo devedor, o
qual deverá ser feito com base no valor liberado à época, desprezando-se o saldo
devedor atual, e mantendo-se os demais pedidos, inclusive referente ao dano moral e
devoluçã o em dobro;
xiii. Protesta provar o alegado, através de todos os meios de provas em direitos admitidos;
xiv. Que as futuras intimaçõ es e notificaçõ es sejam todas feitas em nome do advogado
subscritor.
Dá -se à causa o valor de R$ 15.000,00.
Pede deferimento.
Florianó polis/SC, 22 de fevereiro de 2021.
Advogado
OAB/SC
Petiçã o assinada digitalmente
(Lei 11.419/2006, art. 1º, § 2º, III, a)
[1] MORAES, Alexandre de. Constituiçã o do Brasil interpretada e legislaçã o constitucional.
Sã o Paulo: Atlas, 2002. p. 440;
[2] AI n. 2010.072524-4, de Araranguá , rel. Des. Ricardo Roesler, DJ 25-5-2011;
[3] MARQUES, Clá udia Lima. Comentá rios ao Có digo de Defesa do Consumidor. 3. Ed. RT,
2010, p. 763.
[4] NUNES, Rizzato. Comentá rios ao Có digo de Defesa do Consumidor. 7. ed. rev., atual. e
ampl. — Sã o Paulo: Saraiva, 2013.
[5] DINIZ, Maria Helena. Có digo Civil Anotado, Saraiva, 5ª ed., 1999. p.169.
[6] BITTAR, Carlos Alberto. Responsabilidade civil na atividades perigosas, in
Responsabilidade Civil Doutrina e Jurisprudência, 1988, p. 93-5
[7] NERY JUNIOR, Nelson; Rosa Maria de Andrade. Có digo Civil Comentado. 11ª Ed. Sã o
Paulo: Revista dos Tribunais, 2010. p. 626.

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