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JUÍZO DE DIREITO DA 6ª VARA JUDICIAL CIVIL DA COMARCA DE BAURU -

SP

Processo nº 1012488-48.2023.8.26.0071

APARECIDA DAS GRAÇAS ABREU, já qualificada nos autos do


processo supra, devidamente representada por seu advogado que esta subscreve, endereço
eletrônico giraldiadvogados@hotmail.com, vem respeitosamente na presença de Vossa
Excelência, interpor tempestivamente o presente RECURSO DE APELAÇÃO conforme
razões anexas, requerendo ainda, sejam as mesmas remetidas ao Egrégio Tribunal de Justiça
do Estado de São Paulo, observando para tanto, o pedido de concessão do benefício da Justiça
Gratuita.

Nesses Termos,
Pede e Espera Deferimento.
Bauru, 22 de novembro de 2023.

DIEGO CARNEIRO GIRALDI


OAB/SP 258.105
RAZÕES DO RECURSO DE APELAÇÃO
APELANTE: APARECIDA DAS GRAÇAS ABREU
APELADO: BANCO BMG S/A
PROCESSO N.: 1012488-48.2023.8.26.0071
VARA DE ORIGEM: 6ª VARA JUDICIAL CIVIL DA COMARCA DE BAURU - SP

EGRÉGIO TRIBUNAL
COLENDA CÂMARA
DOUTOS JULGADORES

II – NO MÉRITO

Trata-se, o presente, de Recurso de Apelação interposto contra a r. sentença


de que julgou IMPROCEDENTE ação proposta pelo apelante. Como restará claro ao final
da minuciosa análise dos autos pelos D. Magistrados integrantes desta C. Turma, a reforma da
r. decisão é imperativa, senão vejamos:

Conforme extrai-se da sentença recorrida, o Juízo entendeu que foi


comprovado que a parte autora realizou operação bancária que acarretou na reserva de
margem consignável no benefício previdenciário que aufere e que ficou demonstrado que a
autora obteve ciência acerca sobre esse fato, excluído qualquer vício de consentimento.

Razão não lhe assiste.


É cediço que nos contratos de adesão, que ostentam cláusulas limitativas,
devem as partes observar o direito à informação adequada e clara acerca dos produtos e
serviços disponibilizados (artigo 6º, III, do CDC), com vistas a evitar incidentes.

Na hipótese dos autos, o apelante no intuito de contratar empréstimo


consignado, viera a ser induzido a erro, tendo aderido ao cartão com reserva de margem
consignável, fato que não restou impugnado, à medida que o apelado limitou a arguir a
regularidade do contrato.

Nessa esteira, as alegações do apelante são extremamente verossímeis, pois


jamais contrataria cartão de crédito com reserva de margem consignado, uma vez que,
porquanto no ano de contratação do negócio jurídico esta ostentava margem consignável
completamente livre.

Evidente o descumprimento do dever de informação, diante da cristalina


onerosidade do “empréstimo” contratado em detrimento do consignado, que não restou
esclarecido ao apelante, fato que remete à conclusão de ter sido ele induzido a erro.

Assim, uma vez que o consumidor não obteve as informações


imprescindíveis para a regular celebração do contrato, faz-se imprescindível seja o contrato de
cartão de crédito convertido em contrato de empréstimo consignado.

AFRONTA DIRETA AOS TERMOS DA LEI 10.820/2003:

Observe-se, ainda, que a despeito do quanto alegado pela instituição


financeira, é possível verificar que a contratação, não obstante a nomenclatura dada ao
instrumento, não se efetivara com a utilização de cartão de crédito, mas por meio de
transferência bancária, em operação com roupagem claramente desnaturada e hábil a causar
nítido prejuízo ao consumidor, impondo-lhe o pagamento de parcela mínima, acrescida de
onerosos encargos.
Não se olvida que a reserva de margem consignável é autorizada pela Lei nº
10.820/2003 nos seguintes termos:

“Art. 1º (...)
§ 1º O desconto mencionado neste artigo também poderá incidir sobre
verbas rescisórias devidas pelo empregador, se assim previsto no respectivo
contrato de empréstimo, financiamento, cartão de crédito ou arrendamento
mercantil, até o limite de 35% (trinta e cinco por cento), sendo 5% (cinco
por cento) destinados exclusivamente para:
I - a amortização de despesas contraídas por meio de cartão de crédito; ou
II - a utilização com a finalidade de saque por meio do cartão de crédito.”

Nos termos estatuídos na norma acima referida, a operação destina-se,


exclusivamente, a amortizar os saques ou gastos realizados com o cartão.

In casu, a transferência direta do montante solicitado (Transferência


Eletrônica de Valores – TED) foi empregada para impor ao apelante empréstimo mais
oneroso que o consignado pretendido. Vale dizer que, neste tipo de contrato, o consumidor
encontra-se em mora a partir do primeiro dia de vigência do pacto, porquanto o banco
transfere determinado montante a título de “saque” e, em seguida, lança o valor como
despesa do cartão, acrescido de encargos moratórios, situação que se protrai no tempo,
dada, em regra, à impossibilidade de quitação da fatura à vista.

Neste sentido, precedente do Tribunal de Justiça:

“APELAÇÃO – Ação declaratória cumulada com pedido indenizatório – Sentença


de improcedência - Pleito de reforma – Possibilidade, em parte – Cartão de
crédito com reserva de margem consignável – Alegação de erro – Verossimilhança
– Consumidor que regularmente contratava empréstimos consignados –Imposição
de contrato manifestamente mais oneroso – Ausência de comprometimento quanto
à margem consignável e possibilidade de adesão ao empréstimo na forma
pretendida – Desrespeito ao dever de informação –Lei 10.820/03 que autoriza a
reserva de margem consignável para gastos e saques realizados, diretamente, por
meio de cartão de crédito – Transferência direta em conta corrente não
contemplada na hipótese – "Empréstimo pessoal" mais oneroso, celebrado sob a
forma de cartão de crédito (que não restou utilizado)com margem consignável –
Inobservância da boa-fé e descumprimento da função social – Consumidor não
obrigado aos termos contratuais – Inteligência do art. 46, do Código de Defesa do
Consumidor – Contrato desconstituído – Restituição em dobro – Ausência de boa-
fé do banco requerido – Ônus de provar a hipótese de engano justificável que
incumbe ao fornecedor – Inteligência do art. 42, parágrafo único, do CDC – Dano
moral – Inexistência de abalo a crédito, mácula à imagem do autor ou
desequilíbrio em suas finanças – Montante que fora disponibilizado e
regularmente utilizado – Maior onerosidade do contrato que, por si só, não
implica dano moral indenizável – Sentença reformada, em parte –Recurso
parcialmente provido. Dispositivo: Deram parcial provimento ao recurso. (TJ-SP -
AC: 10015536920208260453 SP 1001553-69.2020.8.26.0453, Relator: Claudia
Grieco Tabosa Pessoa, Data de Julgamento: 24/05/2022, 19ª Câmara de Direito
Privado, Data de Publicação: 24/05/2022)”

Nesse passo, a conduta da instituição financeira não veio pautada pelo


cumprimento da função social do contrato, em consonância como princípio da boa-fé
objetiva.

DA CONVOLAÇÃO DO CONTRATO EM EMPRÉSTIMO CONSIGNADO –


DESEQUILÍBRIO CONTRATUAL – SUPERENDIVIDAMENTO – MÁ-FÉ DA
INSTITUIÇÃO FINANCEIRA
A consumidora nunca recebeu nenhuma fatura em sua residência, não há a
comprovação de que a autora realizou saques ou utilizou o cartão de crédito consignado
objeto desta lide. Além disso, está sendo descontado o valor das parcelas há mais de 6 (seis)
anos de seu benefício previdenciário, não havendo previsão para finalização dos
descontos. Simplesmente um abuso.

A instituição financeira tem pleno conhecimento dos rendimentos do apelante,


uma vez que, trata direto com aposentados, não podendo alegar desconhecimento com relação
a esse ponto. Além do mais, da maneira como formalizado o contrato, fica plenamente
caracterizada a onerosidade excessiva, o desequilíbrio contratual, o superendividamento
do apelante, bem como a má-fé declarada do apelado.

Como se não bastasse, a forma de cobrança é nitidamente abusiva, seja


por escravizar o consumidor a uma dívida que o acompanha ao túmulo; seja por descumprir a
previsão de emissão de cédula de crédito para formalização de saques com o cartão de
crédito; seja por veicular um "empréstimo" sem termo final e sem desconto de parcelas
(prevista apenas a amortização dos encargos, mediante RMC).

Da análise do extrato de pagamento da apelante, é evidente sua fragilidade


econômica, o que torna impossível o pagamento da dívida conforme cobrada pelo apelado,
uma vez que, a liberação de crédito desproporcional à sua capacidade econômica, com
imposição do saque mediante cartão de crédito e com exigência do pagamento da totalidade
do valor emprestado, de uma única vez na fatura seguinte, torna a dívida impagável, daí
incorrendo em total abuso por parte do réu.

Neste sentido, em recente Acórdão proferido pela 14ª Câmara de Direito


Privado do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (01/06/2020) restou decidido, in
verbis:

“APELAÇÃO - AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE CLÁUSULA


CONTRATUAL COM PEDIDO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO E DE
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA -
RECURSO - RELAÇÃO DE CONSUMO - HIPOSSUFICIÊNCIA -
LESIVIDADE - RMC - FALTA DE CLAREZA - OPERAÇÃO DISFARÇADA
VISANDO BURLAR O LIMITE DE 30% PARA CONSIGNAÇÃO DE
EMPRÉSTIMO - AUSENTE BOA-FÉ OBJETIVA DA CASA BANCÁRIA -
EQUILÍBRIO CONTRATUAL VIOLADO - SUPERENDIVIDAMENTO -
AÇÃO CIVIL PÚBLICA Nº 0010064-91.2015.8.10.0001 DO TJMA - DE RIGOR,
O RECÁLCULO DA OBRIGAÇÃO COM A TAXA DE JUROS DO CONTRATO
FIRMADO, DESPREZANDO-SE MORA E DEMAIS ENCARGOS RELATIVOS AO
CARTÃO E DESCONTANDO-SE O MONTANTE JÁ PAGO A TÍTULO DE
AMORTIZAÇÃO - SENTENÇA REFORMADA - RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO. (TJ-SP - AC: 10025464220198260326 SP 1002546-42.2019.8.26.0326,
Relator: Carlos Abrão, Data de Julgamento: 01/06/2020, 14ª Câmara de Direito
Privado, Data de Publicação: 01/06/2020).”

Destarte, resta nítida a irregularidade da avença, porquanto, induzida a erro,


a consumidora veio a celebrar contrato que não coteja informações essenciais e afigura- se
injustificadamente mais oneroso do que aquele efetivamente pretendido.

Vê-se que o apelante provou os fatos constitutivos do direito alegado,


desincumbindo-se, assim, do ônus que lhe incumbia, conforme prevê o artigo 373, inciso I, do
Código de Processo Civil, razão pela qual a desconstituição do contrato é medida que se
impõe, com o retorno das partes ao estado anterior.

Dessa forma, requer seja a sentença reformada para que seja realizada a
convolação do contrato de cartão de crédito consignado (RMC) em empréstimo consignado
segundo as taxas médias praticadas na época da disponibilização do crédito para essa
modalidade de operação, com abatimento dos valores cobrados pelo pagamento mínimo do
cartão de crédito em relação ao valor emprestado, bem como a devolução de eventual crédito
em favor do autor com aplicação da correção monetária e juros de mora de 1% a partir da
citação.

III - DO PEDIDO ALTERNATIVO REALIZADO NA INICIAL

Ainda, nos termos da inicial (fls. 01-09) o apelante claramente faz pedido
ALTERNATIVO, conforme prevê o artigo 326 do Código de Processo Civil, in verbis:

“Art. 326. É lícito formular mais de um pedido em ordem subsidiária, a fim de que
o juiz conheça do posterior, quando não acolher o anterior.
Parágrafo único. É lícito formular mais de um pedido, alternativamente, para que
o juiz acolha um deles.”

Da inicial extrai-se o pedido contido na inicial, vejamos:

“e) Ainda de forma ALTERNATIVA, caso assim não entenda, requer seja
determinado o cancelamento do cartão de crédito nos termos do art. 17-A, §§1º
e 2º da Instrução Normativa INSS/PRES nº 28/2008 (com redação dada pela
Instrução Normativa INSS/PRES nº 39/2009).”

Percebe-se Excelência, que a apelante requer o CANCELAMENTO DO


CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO.

Independentemente da discussão acerca da validade ou não do contrato de


empréstimo vinculado a cartão de crédito, é fato que o apelante tem direito de cancelar o
plástico (que se quer foi entregue ou enviado) quando quiser, mesmo se estiver inadimplente.

Nesse sentido:
“CONTRATO. CARTÃO DE CRÉDITO CONSIGNADO. RMC. RESERVA DE
MARGEM CONSIGNÁVEL. CANCELAMENTO DO CARTÃO. INSTRUÇÃO
NORMATIVA INSS/PRES Nº 28/2008. DANO MORAL. 1. Consoante dispõe o art.
17-A da Instrução Normativa INSS/PRES nº 28/2008 (com redação dada pela
Instrução Normativa INSS/PRES nº 39/2009), o beneficiário poderá, a qualquer
tempo, independentemente de seu adimplemento contratual, solicitar o
cancelamento do cartão de crédito junto à instituição financeira. 2. Assim,
independentemente da discussão acerca da legalidade ou não do contrato
firmado entre as partes, o consumidor tem direito ao cancelamento do cartão de
crédito. 3. Pode o autor optar pelo pagamento imediato do saldo devedor,
liberando, com isso, a margem consignável, ou escolher o pagamento por meio do
RMC, respeitados os encargos contratados e o limite de 5% de seus proventos. 4.
Não vinga, entretanto, a pretensão de reparação por danos morais ou devolução
em dobro de valores. Afinal, a parte autora sacou as mencionadas importâncias,
cabendo arcar com o pagamento do crédito usufruído. 5. Recurso parcialmente
provido. (TJ-SP - AC: 10006992020188260397 SP 1000699-20.2018.8.26.0397,
Relator: Melo Colombi, Data de Julgamento: 08/05/2019, 14ª Câmara de Direito
Privado, Data de Publicação: 04/06/2019).” Grifo nosso.

Ainda que assim não fosse, a Instrução Normativa INSS/PRES nº 28/2008


(com redação dada pela Instrução Normativa INSS/PRES nº 39/2009) estabelece os critérios e
procedimentos operacionais relativos à consignação de descontos para pagamento de
empréstimos e cartão de crédito contraídos nos benefícios da Previdência Social”, e
especialmente em seu artigo 17-A traz a possibilidade do consumidor efetuar o
cancelamento do cartão de crédito junto à instituição financeira, vejamos:

“Art. 17-A. O beneficiário poderá, a qualquer tempo, independentemente de seu


adimplemento contratual, solicitar o cancelamento do cartão de crédito junto à
instituição financeira. (grifamos)

Sendo assim, independentemente da convolação ou não do contrato


supostamente entabulado entre as partes, a sentença do juízo a quo, deixou de analisar todos
os pedidos realizados em sede inaugural, em especial o pedido ALTERNATIVO realizado na
petição inicial, que expressamente requer o cancelamento do cartão emitido em nome do
autor, ficando desde já requerida a reforma da sentença também neste aspecto.

IV – CONCLUSÃO E PEDIDOS:

Isto posto, requer seja recebido e processado o presente recurso de apelação


e no mérito, seja provido, para que a sentença seja reformada e TOTALMENTE
PROCEDENTE para que seja realizada a convolação do contrato de cartão de crédito
consignado (RMC) em empréstimo consignado segundo as taxas médias praticadas na época
da disponibilização do crédito para essa modalidade de operação, com abatimento dos valores
cobrados pelo pagamento mínimo do cartão de crédito em relação ao valor emprestado, bem
como a devolução de eventual crédito em favor do autor com aplicação da correção monetária
e juros de mora de 1% a partir da citação ou;

De forma ALTERNATIVA, com fulcro no artigo 325 CPC, requer seja


determinado o cancelamento do cartão de crédito nos termos do art. 17-A, §§1º e 2ºda
Instrução Normativa INSS/PRES nº 28/2008 (com redação dada pela Instrução Normativa
INSS/PRES nº 39/2009).

Nesses Termos,
Pede e Espera Deferimento.
De Bauru para São Paulo, 22 de novembro de 2023.

DIEGO CARNEIRO GIRALDI


OAB/SP 258.105

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