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PROCESSO Nº 5062181-74.2022.8.13.0702
DO RESUMO
DA IMPUGNAÇÃO
III - a autorização seja dada de forma expressa, por escrito ou por meio eletrônico e
em caráter irrevogável e irretratável, não sendo aceita autorização dada por telefone e
nem a gravação de voz reconhecida como meio de prova de ocorrência."
Ora, nos termos do inciso III, do art. 3º, Instrução Normativa nº 28/2008, acima
transcrito, não se admite a autorização dada por telefone, não sendo, portanto, a gravação de
voz suficiente para provar a pactuação, ainda mais razão, não há como se considerar válido
um ajuste realizado fora do estabelecimento bancário, cuja autenticação decorreria de
"biometria facial" e da captura da "geolocalização", sem que, anteriormente, o consumidor
tenha fornecido os parâmetros para que as confirmações pudessem ser feitas.
No entanto há inobservância das regras relativas à consignação,
regulamentada pela instrução normativa citada, muito mais que inobservância, total
desrespeito ao Requerente que fora vitima.
Embora, em sua Contestação a Requerida insista na regularidade da
contratação efetivada por meio do envio de uma "selfie" e da captura da
"geolocalização", é bem de se ver que a Instituição Financeira se descurou de
algumas das cautelas necessárias para a pactuarão de empréstimo consignado,
previstas na Instrução Normativa nº 28/2008, do Instituto Nacional do Seguro Social-
INSS, supracitado.
Apesar da instrução supracitada, a Requerida alegou que a suposta
contratação foi legitima pois fora feito por assinatura digital por reconhecimento fácil.
Totalmente infundada. Ademais, sabe-se que tal procedimento é incondizente com
os procedimento para tratativa com idosos. E mais, a tecnologia esta muito avançada
e montagem com documentos, fotos, assinaturas, é muito fácil para os expectes.
No caso em tela, sabe que a responsabilidade é objetiva, ainda mais para
idosos que são hipervulneraveis. Querem atribuir culpa ao Requerente com tentativa
de se safar.
Inicialmente, a suspensão dos descontos fora devidamente acertada por
este juízo, por medida de justiça bem como ser entendimento dos Tribunais, conforme
julgado abaixo a titulo de exemplo.
TJMG
Em que pese a Requerida alegar que o valor é devido visto o modelo de contratação
do banco, tal argumento é infundado. Primeiro que existe procedimento especifico
para contratação por idosos, segundo que a tecnologia hoje é bastante avançada,
não podendo o consumidor vulnerável e hipossuficiente ser prejudicado visto
inúmeras fraudes em desfavor dos idosos.
Alega também que fora vitima de fraude e que não pode ser prejudicada tendo em
vista que no site constam todos os procedimentos para que os clientes, ora
consumidores, não caiam na fraude, ou seja, querem que os clientes validem boletos
enviados por eles mesmo??? Como dito, a responsabilidade é objetiva e se houve
fraude, a Requerida vai ter que analisar, investigar e não querer demandar culpa ao
Requerente que só teve prejuízo pela atitude ilegal a Requerida.
Sobre o tema, in "Responsabilidade Civil", 8ª ed., São Paulo: Saraiva, 2003, pp. 21/22,
Carlos Roberto Gonçalves leciona:
Alega também a Requerida que não há nada a ser indenizado pois não houve
comprovação de culpa da Requerida. Mais uma vez não assiste razão.
Aliás, não se pode olvidar que o CDC elenca como direito básico a prevenção ou
reparação de danos morais sofridos pelo Consumidor, nos termos do Art. 6, VI e VII.
“ Com a ação declaratória negativa, verificou-se que nem sempre a autora afirma ter
um direito, porque nela, pelo contrário, a autora não afirma direito algum, e apenas
pretende que se declare a inexistência de um direito do réu. Assim, a distribuição do
ônus da prova não pode ter como referência a posição processual de autor ou de réu,
mas sim a natureza do fato jurídico colocado pela parte como base de sua alegação.
Desse modo, na ação declaratória negativa da existência de um débito, a autora não
tem o ônus de provar a inexistência do fato constitutivo do aludido débito. O réu,
pretenso credor, é que deverá provar esse fato. À autora, nesse caso, incumbirá provar
o fato impeditivo, modificativo ou extintivo do mesmo débito, que porventura tenha
alegado na inicial, ‘in "Comentários ao Código de Processo Civil", 1ª ed., v. I, Tomo
I, Forense, Rio de Janeiro: 1975, p. 90).
- Nas ações em que o autor nega a existência de negócio jurídico firmado entre
as partes, o ônus de provar a existência do contrato é da parte ré, diante da
dificuldade de se produzir prova negativa."
Ademais, em que pese seja incontroverso que a imagem captada pelo aplicativo do Réu e
apresentada é do Requerente, com certeza fora imagem gravada, mas não da suposta
contratação, pois no caso específico, o Requerente nega tanto que devolveu o valor, pois
nunca fora de seu interesse pegar valor algum. E em razão disso, teve prejuízo em descontos
indevidos em sua aposentadoria, gerando danos morais, pois não teve o mínimo de
subsistência.
Mas, ainda que assim não fosse, ou seja, mesmo que a contratação tivesse ocorrido dentro
dos ditames legais, o que se admite apenas por argumentar, não se pode olvidar que o art.
49, do CDC, é expresso ao dispor que: "O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de
7 dias a contar de sua assinatura (...), sempre que a contratação de fornecimento de produtos
e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial", isso por amor ao debate, pois repete-
se, o Requerente não contratou nenhum serviço.
"[...] por qualquer ângulo que se analise a questão, tratando-se de consumidor direto
ou por equiparação, a responsabilidade da instituição financeira por fraudes praticadas
por terceiros, das quais resultam danos aos consumidores, é objetiva e somente pode
ser afastada pelas excludentes previstas no CDC, como, por exemplo, "culpa exclusiva
do consumidor ou de terceiros".
As instituições bancárias, em situações como a abertura de conta-corrente por
falsários, clonagem de cartão de crédito, roubo de cofre de segurança ou violação de
sistema de computador por crackers , no mais das vezes, aduzem a excludente da
culpa exclusiva de terceiros, sobretudo quando as fraudes praticadas são
reconhecidamente sofisticadas.
É o fato que, por ser inevitável e irresistível, gera uma impossibilidade absoluta de não
ocorrência do dano, ou o que, segundo Caio Mário da Silva Pereira, 'aconteceu de tal
modo que as suas consequências danosas não puderam ser evitadas pelo agente, e
destarte ocorreram necessariamente. Por tal razão, excluem-se como excludentes de
responsabilidade os fatos que foram iniciados ou agravados pelo agente'
(Responsabilidade civil. Rio de Janeiro: Forense, 2000, p. 305).
[...]
Cremos que a distinção entre fortuito interno e externo é totalmente pertinente no que
respeita aos acidentes de consumo. O fortuito interno, assim entendido o fato
imprevisível e, por isso, inevitável ocorrido no momento da fabricação do produto ou
da realização do serviço, não exclui a responsabilidade do fornecedor porque faz parte
de sua atividade, liga-se aos riscos do empreendimento, submetendo-se a noção geral
de defeito de concepção do produto ou de formulação do serviço. Vale dizer, se o
defeito ocorreu antes da introdução do produto no mercado de consumo ou durante a
prestação do serviço, não importa saber o motivo que determinou o defeito; o
fornecedor é sempre responsável pela suas conseqüências, ainda que decorrente de
fato imprevisível e inevitável.
O mesmo já não ocorre com o fortuito externo, assim entendido aquele fato que não
guarda nenhuma relação com a atividade do fornecedor, absolutamente estranho ao
produto ou serviço, via de regra ocorrido em momento posterior ao da sua fabricação
ou formulação. Em caso tal, nem se pode falar em defeito do produto ou do serviço, o
que, a rigor, já estaria abrangido pela primeira excludente examinada - inexistência de
defeito (art. 14, § 3º, I)." (Destaquei).
O Eminente Ministro consignou que, para a configuração de fortuito externo - capaz
de excluir a responsabilidade do fornecedor de "produtos" - a fraude praticada por
terceiro, além de inevitável, deve ser também imprevisível:
"Na mesma linha vem entendendo a jurisprudência desta Corte, dando conta de que
a ocorrência de fraudes ou delitos contra o sistema bancário, dos quais resultam danos
a terceiros ou a correntistas, insere-se na categoria doutrinária de fortuito interno,
porquanto fazem parte do próprio risco do empreendimento e, por isso mesmo,
previsíveis e, no mais das vezes, evitáveis.
Por exemplo, em um caso envolvendo roubo de talões de cheque, a Ministra Nancy
Andrighi, apoiada na doutrina do Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, assim se
manifestou:
Não basta, portanto, que o fato de terceiro seja inevitável para excluir a
responsabilidade do fornecedor, é indispensável que seja também imprevisível. Nesse
sentido, é notório o fato de que furtos e roubos de talões de cheques passaram a ser
prática corriqueira nos dias atuais. Assim, a instituição financeira, ao desempenhar
suas atividades, tem ciência dos riscos da guarda e do transporte dos talões de
cheques de clientes, havendo previsibilidade quanto à possibilidade de ocorrência de
furtos e roubos de malotes do banco; em que pese haver imprevisibilidade em relação
a qual (ou quais) malote será roubado.
[...]
“As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito
interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações
bancárias."(publicado no DJe de 01/08/2012
E sobre a restituição deve ser paga em dobro, pois se o consumidor pagou por uma
dívida indevida tem direito a receber em dobro o que pagou em excesso, acrescido
de correção monetária e juros legais, em dobro.
E sobre denunciação a lide, também não merece respaldo.
DOS PEDIDOS:
Termos em que,
Pedem deferimento.
Uberlândia-MG, 17 de março de 2023.
Francismeire P. Santos
OAB/ MG 132.641