Você está na página 1de 11

-EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 6º VARA CIVEL

DA COMARCA DE UBERLANDIA-MINAS GERAIS-

PROCESSO Nº 5062181-74.2022.8.13.0702

ROMEU CRISPIM DE MIRANDA, devidamente qualificado nos autos


da ação declaratória de inexistência de débito cumulado com pedido de indenização
por danos morais e tutela antecipada, que move em face da BANCO PAN S/A,
também já qualificado nos autos, vem, respeitosamente, a presença de vossa
excelência, por intermédio de sua advogada, apresentar IMPUGNAÇÃO.

DO RESUMO

Em que pese o Requerente ter recebido inúmeras ligações indesejada lhes


oferecendo supostos serviços de redução de empréstimos, e ter negado, depositaram
o valor na conta do Requerente. Este, prontamente retornou ligação com intenção
exclusiva de devolver o valor, pois não tinha interesse. Ademais, nem margem para
empréstimo podia fazer, é idoso e tem regulamentação especifica.
Desta forma, somente por salientar, devolveu o valor e mesmo assim,
iniciaram os descontos na aposentadoria do Requerente.

Considerando inúmeras ligações para tentar devolver o valor, resolver que


não contratou os serviços oferecidos, todas frustradas não restando alternativa do que
entrar com a presente. Assim, os descontos so cessaram visto a liminar deferida por
este juízo.

Eis o açodado resumo.

DA IMPUGNAÇÃO

Alega a Requerida que o Requerente não tem razão em suas alegações,


que a contração da suposta redução dos descontos foi legitima; que fora feito
reconhecimento facial; que o valor fora creditado em pessoa distinta da Requerida;
que deve o terceiro integrar a lide bem como fez pedido contraposto.
As alegações infundadas da Requerida não insiste razão, primeiro que o
Requerente não contratou nenhum serviço da Requerida, motivo este que houve a
devolução do valor pelo boleto enviado pela Requerida.
O Requerente agiu de boa-fé, nunca teve intenção de contratar nada. Fora
instruído a realizar procedimento conforme determinação da Requerida, recebeu
documento de cancelamento da contratação de redução dos empréstimo, bem como
boleto e pagou.
O Requerente jamais assinou qualquer documento de contratação de
empréstimo apresentado por funcionário da ré, especialmente na sede ou filial da
empresa ora referida, exigência legal para a validade do contrato em discussão,
conforme preceitua o artigo 4º, I, da IN/INSS/PRES nº 28/2008.
Diante do desrespeito do dispositivo especifico ao contrato de empréstimo
consignado, a situação das fraudes e crimes perpetrados contra idosos e rurícolas
mostrou–se tão preocupante que, em 16/05/08, o INSS, editou a Instrução Normativa
INSS/PRES nº 28, que estabelece critérios e procedimentos operacionais relativos à
consignação de descontos para pagamento de empréstimos e cartão de crédito
contraído no benefício da Previdência Social.
A referida Instrução Normativa não permite mais que os contratos sejam
firmados fora das agências bancárias e que as contas favorecidas não sejam aquelas
de titularidade do contratante, o que diminui, sem qualquer sombra de dúvidas, o
número de golpes até então facilitados. Esta atitude do Poder Público mostra a
gravidade do problema enfrentado.
Como foi narrado anteriormente, o Autor jamais assinou qualquer
documento de contratação de empréstimo apresentado por funcionário da ré,
especialmente na sede ou filial da empresa ora referida, exigência legal para a
validade do contrato em discussão, conforme preceitua o artigo 4º, I, da
IN/INSS/PRES nº 28/2008.
A manifestação expressa do beneficiário é requisito essencial para a
validade da consignação, onde sua inobservância produz a nulidade do contrato
em questão.
Ressalta-se ainda a impossibilidade de autorização por telefone, onde a
gravação de voz funcione como prova do ato, conforme estabelece o artigo 3º, III, da
IN/INSS/PRES nº 28/2008.

FATO TAMBEM QUE NÃO FORA OBSERVADO O PROCEDIMENTO para


contratação com idosos:

"Art. 3º Os titulares de benefícios de aposentadoria e pensão por morte, pagos pela


Previdência Social, poderão autorizar o desconto no respectivo benefício dos valores
referentes ao pagamento de empréstimo pessoal e cartão de crédito, concedidos por
instituições financeiras, desde que:

I - o empréstimo seja realizado com instituição financeira que tenha celebrado


Convênio e/ou Acordo com o INSS/Empresa de Tecnologia e Informações da
Previdência - Dataprev, para esse fim; (Redação do inciso dada pela Instrução
Normativa INSS Nº 100 DE 28/12/2018).

II - mediante contrato firmado e assinado com apresentação do documento de


identidade e/ou Carteira Nacional de Habilitação - CNH, e Cadastro de Pessoa Física
- CPF, junto com a autorização de consignação assinada, prevista no convênio; e

III - a autorização seja dada de forma expressa, por escrito ou por meio eletrônico e
em caráter irrevogável e irretratável, não sendo aceita autorização dada por telefone e
nem a gravação de voz reconhecida como meio de prova de ocorrência."

Ora, nos termos do inciso III, do art. 3º, Instrução Normativa nº 28/2008, acima
transcrito, não se admite a autorização dada por telefone, não sendo, portanto, a gravação de
voz suficiente para provar a pactuação, ainda mais razão, não há como se considerar válido
um ajuste realizado fora do estabelecimento bancário, cuja autenticação decorreria de
"biometria facial" e da captura da "geolocalização", sem que, anteriormente, o consumidor
tenha fornecido os parâmetros para que as confirmações pudessem ser feitas.
No entanto há inobservância das regras relativas à consignação,
regulamentada pela instrução normativa citada, muito mais que inobservância, total
desrespeito ao Requerente que fora vitima.
Embora, em sua Contestação a Requerida insista na regularidade da
contratação efetivada por meio do envio de uma "selfie" e da captura da
"geolocalização", é bem de se ver que a Instituição Financeira se descurou de
algumas das cautelas necessárias para a pactuarão de empréstimo consignado,
previstas na Instrução Normativa nº 28/2008, do Instituto Nacional do Seguro Social-
INSS, supracitado.
Apesar da instrução supracitada, a Requerida alegou que a suposta
contratação foi legitima pois fora feito por assinatura digital por reconhecimento fácil.
Totalmente infundada. Ademais, sabe-se que tal procedimento é incondizente com
os procedimento para tratativa com idosos. E mais, a tecnologia esta muito avançada
e montagem com documentos, fotos, assinaturas, é muito fácil para os expectes.
No caso em tela, sabe que a responsabilidade é objetiva, ainda mais para
idosos que são hipervulneraveis. Querem atribuir culpa ao Requerente com tentativa
de se safar.
Inicialmente, a suspensão dos descontos fora devidamente acertada por
este juízo, por medida de justiça bem como ser entendimento dos Tribunais, conforme
julgado abaixo a titulo de exemplo.

TJMG

EMENTA: GRAVO DE INSTRUMENTO - SUSPENSÃO DESCONTOS SOBRE


BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO - EMPRÉSTIMO BANCÁRIO - NEGATIVA DE
CONTRATAÇÃO - FORMAÇÃO DO CONTRATO EM AMBIENTE VIRTUAL E POR
MEIO DE BIOMETRIA FACIAL - CONSUMIDORA IDOSA -
HIPERVULNERABILIDADE - NECESSIDADE DE PRESTAÇÃO DE INFORMAÇÕES
CLARAS, VERDADEIRAS E OSTENSIVAS - INDÍCIOS DE QUE O FORNECEDOR
NÃO FORNECEU À CONSUMIDORA ELEMENTOS DE INFORMAÇÃO
SUFICIENTES SOBRE O TEOR E MODO DA CONTRATAÇÃO - DEVOLUÇÃO PELA
CONSUMIDORA DO VALOR DEPOSITADO - ELEMENTOS QUE DENOTAM A
IRREGULARIDADE DA CONTRATAÇÃO - MANUTENÇÃO DA SUSPENSÃO DOS
DESCONTOS - MULTA DIÁRIA - PROPORCIONALIDADE - AUSÊNCIA DE FIXAÇÃO
DE LIMITE MÁXIMO PARA A INCIDÊNCIA DAS ATREINTES E DE PRAZO PARA
CUMPRIMENTO DA ORDEM LIMINAR - OMISSÃO QUE DEVE SER SUPRIDA -
RECURSO AO QUAL SE DÁ PARCIAL PROVIMENTO.
- Ao fornecedor de serviços e/ou produtos incumbe um zelo ainda maior no momento
da contratação com consumidor idoso, sobretudo no que diz respeito à prestação de
informações claras, ostensivas e verdadeiras, pois que, conforme reconhecido pela
doutrina consumerista, em tais casos estar-se-á diante de consumidor hipervulnerável,
devendo a causa reger-se pelo diálogo entre o Estatuto do Idoso e o CDC.
- In casu, a plataforma em que se deu a operação financeira contestada, dada a
singularidade e complexidade do ambiente virtual (manifestação de vontade por meio
de biometria facial), mormente para consumidores que têm uma vulnerabilidade
informacional agravada (e.g. idosos), leva a crer, em princípio, que não houve por parte
da autora um consentimento informado, isto é, uma vontade qualificada e devidamente
instruída sobre o teor da contratação, máxime diante da ausência do instrumento
essencial sobre a vontade manifestada no negócio jurídico (termo de política de
biometria facial).
- Diante disso, impõe-se a manutenção da suspensão dos descontos sobre os
proventos de pensão previdenciária da agravada até o julgamento da demanda de
origem.
- Ante a omissão da decisão agravada em não estabelecer um limite máximo para
incidência da multa em caso de descumprimento da ordem liminar, impõe-se
estabelecer o limite máximo de R$20.000,00 (vinte mil reais), para a aplicação das
astreintes e a fixação de prazo para o cumprimento.
- Recurso ao qual se dá parcial provimento.
AGRAVO DE INSTRUMENTO-CV Nº 1.0000.22.020595-9/001 - COMARCA DE
MURIAÉ - AGRAVANTE(S): BANCO PAN S/A - AGRAVADO(A)(S): NEIZA
MAGALHAES DIAS. RELATORA DESEMBARGADORA LÍLIAN MACIEL. PARCIAL
PROVIMENTO AO RECURSO. :

Em que pese a Requerida alegar que o valor é devido visto o modelo de contratação
do banco, tal argumento é infundado. Primeiro que existe procedimento especifico
para contratação por idosos, segundo que a tecnologia hoje é bastante avançada,
não podendo o consumidor vulnerável e hipossuficiente ser prejudicado visto
inúmeras fraudes em desfavor dos idosos.
Alega também que fora vitima de fraude e que não pode ser prejudicada tendo em
vista que no site constam todos os procedimentos para que os clientes, ora
consumidores, não caiam na fraude, ou seja, querem que os clientes validem boletos
enviados por eles mesmo??? Como dito, a responsabilidade é objetiva e se houve
fraude, a Requerida vai ter que analisar, investigar e não querer demandar culpa ao
Requerente que só teve prejuízo pela atitude ilegal a Requerida.

Neste sentido, veja outro julgado sobre o tema:

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE


DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO - EMPRÉSTIMO CONSIGNADO - NEGATIVA DE
CONTRATAÇÃO - AUSÊNCIA DE PROVA ADEQUADA - DEVOLUÇÃO DO
IMPORTE CREDITADO - UTILIZAÇÃO DOS DADOS CONTRATUAIS
ARMAZENADOS NOS SISTEMAS DO RÉU - FRAUDE PRATICADA POR TERCEIRO
- PAGAMENTO DOS BOLETOS EMITIDOS - VALIDADE - SÚMULA Nº 479, DO C.
STJ - RESTITUIÇÃO DAS QUANTIAS AMORTIZADAS IRREGULARMENTE, EM
DOBRO - CABIMENTO - CONSUMIDOR HIPERVULNERÁVEL - REPARAÇÃO POR
DANO MORAL - PREJUÍZO CONFIGURADO - INDENIZAÇÃO - CRITÉRIOS DE
ARBITRAMENTO - AGRAVAMENTO.

- Não havendo o Réu se desincumbido do seu ônus probatório de demonstrar a


observância dos ditames legais que regem a modalidade de contratação, o ajuste que
embasa as subtrações na aposentadoria do Autor se revela irregular.
- Demonstrada a ocorrência de fraude em transações, para restituição das cifras
emprestadas, mediante a utilização dos dados contratuais armazenados nos sistemas
do Banco/Credor, a esse incumbe a reparação dos prejuízos gerados pelo fortuito
relativo ao delito praticado por terceiro (STJ - Súmula nº 479).
- As cobranças de parcelas, mediante consignações mensais em benefício
previdenciário, com base em contratação inválida e anulada, evidenciam a má-fé no
lançamento da operação financeira pelo Banco, autorizando a repetição nos termos
do art. 42, parágrafo único, do CDC.
- Não podem ser desconsideradas as singularidades da pessoa em litígio, com
destaque para as restrições inerentes às condições de hipervulnerável do
Demandante, por ser idoso, assim como para a limitação de sua renda, fatos que
contribuem para o agravamento da lesão extrapatrimonial sofrida pelo Postulante.
- Segundo os critérios de proporcionalidade e razoabilidade, o valor reparatório não
pode servir como fonte de enriquecimento do ofendido, nem consubstanciar incentivo
à reincidência do responsável pela prática do ilícito. A indenização por danos morais
também deve ser arbitrada de acordo com os parâmetros consolidados pela
Jurisprudência e com observância aos conteúdos dos arts. 141 e 492, ambos do CPC.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0000.22.126827-9/001 - COMARCA DE VARGINHA -


APELANTE(S): PAULO RUBENS DE SOUZA PINTO - APELADO(A)(S): BANCO C6
S/A Vistos etc., acorda, em Turma, a 17ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de Justiça do
Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos, em DAR
PROVIMENTO AO APELO. RELATOR DES. ROBERTO SOARES DE
VASCONCELLOS PAES.

A aplicação do Código de Defesa do Consumidor é inconteste por tratar de relação de


consumo, cuja responsabilidade da Requerida, fornecedora de serviço é objetiva, não
sendo necessária a analise da culpa. Tal matéria devidamente tratada:
Segundo o art. 14, do CDC:

"Art. 14 - O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência


de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos
relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou
inadequadas sobre sua fruição e riscos.".

Sobre o tema, in "Responsabilidade Civil", 8ª ed., São Paulo: Saraiva, 2003, pp. 21/22,
Carlos Roberto Gonçalves leciona:

“ Nos casos de responsabilidade objetiva, não se exige prova de culpa do


agente para que seja obrigado a reparar o dano. Em alguns, ela é presumida
pela lei. Em outros, é de todo prescindível, porque a responsabilidade se funda
no risco (objetiva propriamente dita ou pura) .
Quando a culpa é presumida, inverte-se o ônus da prova. O autor da ação só
precisa provar a ação ou omissão e o dano resultante da conduta do réu,
porque sua culpa já é presumida. Trata-se, portanto, de classificação baseada
no ônus da prova. É objetiva porque dispensa a vítima do referido ônus. Mas,
como se baseia em culpa presumida, denomina-se objetiva imprópria ou
impura. É o caso, por exemplo, previsto no art. 936 do CC, que presume a culpa
do dono do animal que venha a causar dano a outrem. Mas faculta-lhe a prova
das excludentes ali mencionadas, com inversão do ônus probandi. Se o réu
não provar a existência de alguma excludente, será considerado culpados, pois
sua culpa é presumida. Há casos em que se prescinde totalmente da prova da
culpa. São as hipóteses de responsabilidade independentemente de culpa.
Basta que haja relação de causalidade entre a ação e o dano.".

Alega também a Requerida que não há nada a ser indenizado pois não houve
comprovação de culpa da Requerida. Mais uma vez não assiste razão.

Aliás, não se pode olvidar que o CDC elenca como direito básico a prevenção ou
reparação de danos morais sofridos pelo Consumidor, nos termos do Art. 6, VI e VII.

Sobre o tema, confirura-se a liçaõ de Celso Agricola Barbi:

“ Com a ação declaratória negativa, verificou-se que nem sempre a autora afirma ter
um direito, porque nela, pelo contrário, a autora não afirma direito algum, e apenas
pretende que se declare a inexistência de um direito do réu. Assim, a distribuição do
ônus da prova não pode ter como referência a posição processual de autor ou de réu,
mas sim a natureza do fato jurídico colocado pela parte como base de sua alegação.
Desse modo, na ação declaratória negativa da existência de um débito, a autora não
tem o ônus de provar a inexistência do fato constitutivo do aludido débito. O réu,
pretenso credor, é que deverá provar esse fato. À autora, nesse caso, incumbirá provar
o fato impeditivo, modificativo ou extintivo do mesmo débito, que porventura tenha
alegado na inicial, ‘in "Comentários ao Código de Processo Civil", 1ª ed., v. I, Tomo
I, Forense, Rio de Janeiro: 1975, p. 90).

Nesse mesmo entendimento:

"APELAÇÃO CÍVEL. DECLARAÇÃO DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO. AUTOR


NEGA QUE FIRMOU CONTRATO COM A PARTE RÉ. PROVA NEGATIVA.
PROVA DIABÓLICA. DANO MORAL.

- Nas ações em que o autor nega a existência de negócio jurídico firmado entre
as partes, o ônus de provar a existência do contrato é da parte ré, diante da
dificuldade de se produzir prova negativa."

(TJMG - Apelação Cível 1.0000.16.045472-4/002, Relator Des. Luiz Artur


Hilário, 9ª Câmara Cível, julgamento em 19/05/2020, publicação da súmula em
22/05/2020- Destacamos).

Ademais, em que pese seja incontroverso que a imagem captada pelo aplicativo do Réu e
apresentada é do Requerente, com certeza fora imagem gravada, mas não da suposta
contratação, pois no caso específico, o Requerente nega tanto que devolveu o valor, pois
nunca fora de seu interesse pegar valor algum. E em razão disso, teve prejuízo em descontos
indevidos em sua aposentadoria, gerando danos morais, pois não teve o mínimo de
subsistência.

Aliás, na linha do entendimento do COL. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, a natureza


"hipervulnerável" da parte Autora deve ser considerada em demandas que versem sobre a
limitação de direitos:

“ O Código de Defesa do Consumidor, é desnecessário explicar, protege todos os


consumidores, mas não é insensível à realidade da vida e do mercado, vale dizer, não
desconhece que há consumidores e consumidores, que existem aqueles que, no
vocabulário da disciplina, são denominados 'hipervulneráveis', como as crianças, os
idosos, os portadores de deficiência, os analfabetos e, como não poderia deixar de
ser, aqueles que, por razão genética ou não, apresentam enfermidades que possam
ser manifestadas ou agravadas pelo consumo de produtos ou serviços livremente
comercializados e inofensivos à maioria das pessoas." (REsp 586.316/MG, Rel.
Ministro Herman Benjamin, T2 - Segunda Turma, Data de Publicação: 19/03/2009 –

Aliás, mesmo que se pudesse desconsiderar a hipervulnerabilidade do Recorrente de modo


a identificar algum traço de negligência no seu comportamento, essa situação, por si só, não
afastaria a configuração do erro substancial, tendo em vista que, além de não ter se utilizado
de nenhum valor concedido pelo Requerido, o Demandado não adotou os procedimentos
usuais mínimos para garantir a idoneidade e validade da operação financeira.

Mas, ainda que assim não fosse, ou seja, mesmo que a contratação tivesse ocorrido dentro
dos ditames legais, o que se admite apenas por argumentar, não se pode olvidar que o art.
49, do CDC, é expresso ao dispor que: "O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de
7 dias a contar de sua assinatura (...), sempre que a contratação de fornecimento de produtos
e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial", isso por amor ao debate, pois repete-
se, o Requerente não contratou nenhum serviço.

Então, somente por argumentar, independentemente de algum vício no ajuste, a desistência


é uma prerrogativa do Requerente, que remanesceu exercida quando ele pediu para realizar
a devolução da cifra dentro do prazo de sete dias, conforme se extrai do boleto anexado.
Se houve falsidade no envio dos boletos, visto que a Requerida alega que não recebeu valor
algum, mesmo o boleto tendo sido enviado pela Requerida junto com o documento de
cancelamento da suposta contratação, não haveria como exigir do Requerente a expertise
para a aferição da suposta falsidade dos boletos eletrônicos.
Em causas da espécie, a observância desse conceito firma-se na preservação da confiança
e da boa-fé nas relações jurídicas.
As atividades bancárias de concessão de créditos e de processamento de pagamentos
remotos, por sua natureza, são geradoras de riscos, possibilitando a efetivação de operações
fraudulentas, cujos resultados devem ser assumidos pelas Instituições Financeiras, inclusive
à luz do art. 927, parágrafo único, do Código Civil.
Outrossim, por se tratar de responsabilidade objetiva (CDC - art. 14), dela não se isenta o
Requerido pelo fato de a operação bancária ter decorrido da atuação de pessoa estranha aos
seus quadros. Ademais, não se pode desconsiderar a fragilidade na segurança oferecida
pelas Instituições Financeiras e a vulnerabilidade de seus Consumidores, relativamente à
expansão dos mecanismos criminosos utilizados por estelionatários.
Desta forma, a Jurisprudência do Col. Superior Tribunal de Justiça pacificou o entendimento
no sentido de que as fraudes, em casos como o dos autos, guardam estrita relação com a
própria atividade dos Bancos, não podendo ser consideradas atos equiparados a fortuitos
externos.
Neste sentido, veja voto proferido pelo Eminente Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, no julgamento
do Recurso Especial nº 1.197.929/PR:

"[...] por qualquer ângulo que se analise a questão, tratando-se de consumidor direto
ou por equiparação, a responsabilidade da instituição financeira por fraudes praticadas
por terceiros, das quais resultam danos aos consumidores, é objetiva e somente pode
ser afastada pelas excludentes previstas no CDC, como, por exemplo, "culpa exclusiva
do consumidor ou de terceiros".
As instituições bancárias, em situações como a abertura de conta-corrente por
falsários, clonagem de cartão de crédito, roubo de cofre de segurança ou violação de
sistema de computador por crackers , no mais das vezes, aduzem a excludente da
culpa exclusiva de terceiros, sobretudo quando as fraudes praticadas são
reconhecidamente sofisticadas.

Ocorre que a culpa exclusiva de terceiros apta a elidir a responsabilidade objetiva do


fornecedor é espécie do gênero fortuito externo, assim entendido aquele fato que não
guarda relação de causalidade com a atividade do fornecedor, absolutamente estranho
ao produto ou serviço (CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil.
9 ed. São Paulo: Atlas, 2010, p. 185).
É a 'causa estranha' a que faz alusão o art. 1.382 do Código Civil Francês (Apud. DIAS,
José de Aguiar. Da responsabilidade civil. 11 ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2006, p.
926).

É o fato que, por ser inevitável e irresistível, gera uma impossibilidade absoluta de não
ocorrência do dano, ou o que, segundo Caio Mário da Silva Pereira, 'aconteceu de tal
modo que as suas consequências danosas não puderam ser evitadas pelo agente, e
destarte ocorreram necessariamente. Por tal razão, excluem-se como excludentes de
responsabilidade os fatos que foram iniciados ou agravados pelo agente'
(Responsabilidade civil. Rio de Janeiro: Forense, 2000, p. 305).
[...]

Cremos que a distinção entre fortuito interno e externo é totalmente pertinente no que
respeita aos acidentes de consumo. O fortuito interno, assim entendido o fato
imprevisível e, por isso, inevitável ocorrido no momento da fabricação do produto ou
da realização do serviço, não exclui a responsabilidade do fornecedor porque faz parte
de sua atividade, liga-se aos riscos do empreendimento, submetendo-se a noção geral
de defeito de concepção do produto ou de formulação do serviço. Vale dizer, se o
defeito ocorreu antes da introdução do produto no mercado de consumo ou durante a
prestação do serviço, não importa saber o motivo que determinou o defeito; o
fornecedor é sempre responsável pela suas conseqüências, ainda que decorrente de
fato imprevisível e inevitável.
O mesmo já não ocorre com o fortuito externo, assim entendido aquele fato que não
guarda nenhuma relação com a atividade do fornecedor, absolutamente estranho ao
produto ou serviço, via de regra ocorrido em momento posterior ao da sua fabricação
ou formulação. Em caso tal, nem se pode falar em defeito do produto ou do serviço, o
que, a rigor, já estaria abrangido pela primeira excludente examinada - inexistência de
defeito (art. 14, § 3º, I)." (Destaquei).
O Eminente Ministro consignou que, para a configuração de fortuito externo - capaz
de excluir a responsabilidade do fornecedor de "produtos" - a fraude praticada por
terceiro, além de inevitável, deve ser também imprevisível:
"Na mesma linha vem entendendo a jurisprudência desta Corte, dando conta de que
a ocorrência de fraudes ou delitos contra o sistema bancário, dos quais resultam danos
a terceiros ou a correntistas, insere-se na categoria doutrinária de fortuito interno,
porquanto fazem parte do próprio risco do empreendimento e, por isso mesmo,
previsíveis e, no mais das vezes, evitáveis.
Por exemplo, em um caso envolvendo roubo de talões de cheque, a Ministra Nancy
Andrighi, apoiada na doutrina do Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, assim se
manifestou:

Não basta, portanto, que o fato de terceiro seja inevitável para excluir a
responsabilidade do fornecedor, é indispensável que seja também imprevisível. Nesse
sentido, é notório o fato de que furtos e roubos de talões de cheques passaram a ser
prática corriqueira nos dias atuais. Assim, a instituição financeira, ao desempenhar
suas atividades, tem ciência dos riscos da guarda e do transporte dos talões de
cheques de clientes, havendo previsibilidade quanto à possibilidade de ocorrência de
furtos e roubos de malotes do banco; em que pese haver imprevisibilidade em relação
a qual (ou quais) malote será roubado.

[...]

Em casos como o dos autos, o serviço bancário é evidentemente defeituoso,


porquanto é aberta conta-corrente em nome de quem verdadeiramente não requereu
o serviço (art. 39, inciso III, do CDC) e, em razão disso, teve o nome negativado. Tal
fato do serviço não se altera a depender da sofisticação da fraude, se utilizados
documentos falsificados ou verdadeiros, uma vez que o vício e o dano se fazem
presentes em qualquer hipótese.
Portanto, para efeitos do que prevê o art. 543-C do CPC, a tese:

As instituições bancárias respondem objetivamente pelos danos causados por fraudes


ou delitos praticados por terceiros - como, por exemplo, abertura de conta-corrente ou
recebimento de empréstimos mediante fraude ou utilização de documentos falsos -,
porquanto tal responsabilidade decorre do risco do empreendimento, caracterizando-
se como fortuito interno.".

Essa compreensão se consolidou no Enunciado de Súmula nº 479, daquela Corte


Superior:

“As instituições financeiras respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito
interno relativo a fraudes e delitos praticados por terceiros no âmbito de operações
bancárias."(publicado no DJe de 01/08/2012

APELAÇÃO. INDENIZAÇÃO. EXCLUDENTES DO ART. 14, §3º, II, DO CÓDIGO DE


DEFESA DO CONSUMIDOR. INAPLICÁVEIS. BOLETO FALSO. DEVOLUÇÃO
VALORES PAGOS. DEVER DE PRESTAR SEGURANÇA DA INSTITUIÇÃO
BANCÁRIA.

- Versando o presente caso sobre relação de consumo, incide plenamente a legislação


consumerista (arts. 2º e 3º, parág. 2º, do CDC), aplicando-se, "in casu", a
responsabilidade objetiva do fornecedor dos serviços, diante da deficiência da
prestação do serviço, cabendo ao Banco disponibilizar meios para que o consumidor
tenha segurança na utilização dos serviços (art. 14 do CDC).

- As Instituições Bancárias, na qualidade de prestadoras de serviços, não estão


liberadas do dever de proteção.

- Conforme orientação da Súmula 479 do Superior Tribunal de Justiça, não há que se


falar em excludente de responsabilidade civil por fato de terceiro, pois a emissão de
boleto falso, não isenta o banco de responsabilidade civil, por se tratar de caso fortuito
interno."

(TJMG - Apelação Cível 1.0000.18.013045-2/001, Relator: Des. Luiz Carlos Gomes da


Mata, 13ª Câmara Cível, julgamento em 21/06/0018, publicação da súmula em
21/06/2018 – Destacamos.

Todavia, a gestão dos riscos cibernéticos deve constituir estratégia permanente e


eficaz das empresas prestadoras de serviços.
APELAÇÃO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO. QUITAÇAO
DE FINANCIAMENTO POR MEIO DE BOLETO FALSO. FRAUDE. DEVER DE
INDENIZAR. ARBITRAMENTO DO QUANTUM. CRITÉRIO. - Verifica-se a má
prestação do serviço pelo estabelecimento financeiro que permite o acesso de dados
de cliente por terceiros de má-fé. - Considera-se que o fato de terceiro só atua como
excludente da responsabilidade civil quando for inevitável e imprevisível, o que não
ocorre na hipótese dos autos, já que incumbia à instituição bancária assegurar a
segurança dos dados informados pelo consumidor no ato da contratação. - O
arbitramento do dano moral deve ser realizado com moderação, em atenção à
realidade da vida e às peculiaridades de cada caso, proporcionalmente ao grau de
culpa e ao porte econômico das partes, sem se descurar do sentido punitivo da
condenação." (TJMG - Apelação Cível nº 1.0000.20.508051-8/002, Relatora Desª.
Cláudia Maia, 14ª Câmara Cível, julgamento em 04/11/2021, publicação da súmula em
05/11/2021 - Destaquei).

"APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE DÉBITO C/C


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - BOLETO BANCÁRIO -FRAUDE PRATICADA
POR TERCEIRO - RISCO PROFISSIONAL - PAGAMENTO REALIZADO PELO
CONSUMIDOR - VALIDADE. Considerando que a financeira credora exerce atividade
que envolve risco profissional, tem o dever de tomar todas as medidas necessárias
para evitar fraudes. Comprovada a fraude praticada por terceiro, que em nome da
credora enviou boleto falso, bem como a quitação de boa-fé pelo devedor, o
reconhecimento da validade do pagamento é medida que se impõe."

(TJMG - Apelação Cível 1.0000.21.039941-6/001, Relator Des. Arnaldo Maciel, 18ª


Câmara Cível, julgamento em 04/05/2021, publicação da súmula em 04/05/2021 –
Destaquei

Ademais, não havendo prova da existência da contratação, nem de autorização válida


do Postulante para a consignação de parcelas sobre a sua aposentadoria, fica claro
que o procedimento do Postulado se notabilizou ardiloso e imbuído de má-fé, sem
observância das cautelas ordinárias.
Em virtude do ato ilícito cometido pelo Banco Réu, o Autor experimenta situação de
dor e angústia por não conseguir prover o próprio sustento e que não pode ser
caracterizada como mero aborrecimento do dia a dia. O banco está agindo com
negligência e evidente descaso com o Autor, fazendo-o sofrer a diminuição do seu
orçamento em razão dos descontos indevidos.

E sobre a restituição deve ser paga em dobro, pois se o consumidor pagou por uma
dívida indevida tem direito a receber em dobro o que pagou em excesso, acrescido
de correção monetária e juros legais, em dobro.
E sobre denunciação a lide, também não merece respaldo.
DOS PEDIDOS:

Por tudo exposto, requer:

Sejam julgados totalmente improcedentes os pedidos da contestação, e ao final


julgue, procedente os pedidos formulários na exordial em todos os seus termos.

Termos em que,
Pedem deferimento.
Uberlândia-MG, 17 de março de 2023.
Francismeire P. Santos
OAB/ MG 132.641

Você também pode gostar