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ESTADO DO CEARÁ

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DESEMBARGADOR FRANCISCO MAURO FERREIRA LIBERATO

Processo: 0200095-82.2023.8.06.0071 - Apelação Cível


Apelante: Erinaldo Justino de Sousa. Apelado: Hoepers Recuperadora de Crédito S/A

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA C/C


OBRIGAÇÃO DE FAZER. DÍVIDA PRESCRITA. OBRIGAÇÃO
NATURAL. INCLUSÃO NA SERASA LIMPA NOME. APLICAÇÃO DO
CDC. MEIO COERCITIVO DE COBRANÇA. VÍCIO DE
CONSENTIMENTO. CADASTRO INDEVIDO. DANO MORAL NÃO
CONFIGURADO. RECURSO E PARCIALMENTE PROVIDO.
SENTENÇA REFORMADA EM PARTE.
1. O apelante postula seja confirmada a prescrição da dívida, determinando a
remoção do banco de dados dos órgãos de proteção ao crédito (SERASA
LIMPA NOME), interrompendo qualquer tipo de cobrança contra o
Apelante, bem como a indenização pelos danos morais sofridos, além de
condenar a Apelada ao pagamento de custas e honorários advocatícios.
2. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela
prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206 (art. 189, Código
Civil). Prescreve em cinco anos a pretensão de cobrança de dívidas líquidas
constantes de instrumento público ou particular (art. 206, Código Civil).
3. Prescrita a dívida, remanesce uma obrigação natural que não pode ser
exigida, cujo único efeito jurídico é a possibilidade de o credor reter o
pagamento, nos termos do art. 882 do Código Civil, caso a obrigação seja
cumprida, voluntariamente, pelo devedor.
4. A relação jurídica em exame é nitidamente de consumo, posto que a
cessão de crédito não desvirtua a natureza consumerista da relação existente
entre o Cedente e o Apelante, impondo-se a análise meritória dentro do
microssistema protetivo da Lei nº 8.078/90.
5. Da análise das informações colhidas do sítio da Serasa na Internet,
evidenciam-se esclarecimentos que a ferramenta “Serasa Limpa Nome” é
literalmente um meio para o devedor/consumidor limpar seu nome, como
também obter aumento do seu Score, ressaltando seu convênio com diversas
instituições para acesso aos dados.
6. Com tais constatações, a inclusão de dívidas prescritas no “Serasa Limpa
Nome” importa ofensa ao art. 43 do CDC, por manter informações que
podem significar ou fazer o consumidor crer que seu nome está “sujo”, o
conduzindo, com veemência, ao pagamento da dívida, em evidente vício de
consentimento, sem falar nas assertivas de que interferem na obtenção de
crédito por parte do consumidor, funcionando como meio coercitivo,
abusivo e ilícito de cobrança, de forma indireta e, por vezes, direta.
Precedentes.
7. No caso concreto, a despeito do entendimento adotado no sentido de que
manter o registro de inadimplência do consumidor por tempo
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indeterminado, na plataforma denominada 'LIMPA NOME", interfere


negativamente no score de crédito, diminuindo a pontuação do devedor, tem-
se que tal fato por si só, não gera dever de reparação por danos morais,
quando inexiste prova de publicização de seu nome em cadastros de
restrição ao crédito, ou seja, não se trata dano moral in re ipsa. Precedentes.
8. Recurso conhecido e parcialmente provido para determinar a exclusão
da dívida prescrita, da plataforma “Serasa Limpa Nome”.

A C O R D A a Primeira Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça do


Estado do Ceará, por unanimidade, conhecer do presente recurso e dar-lhe parcial provimento
para reformar em parte a sentença, nos termos do voto do eminente Relator.

Fortaleza, data e hora do sistema.

DESEMBARGADOR FRANCISCO MAURO FERREIRA LIBERATO


Presidente do Órgão Julgador/Relator

RELATÓRIO

Trata-se de Apelação Cível interposta por Erinaldo Justino de Sousa,


impugnando sentença (fls. 72/76) prolatada pela Juíza de Direito da 2ª Vara Cível da Comarca
de Crato, que, nos autos da Ação de Obrigação de Fazer c/c Declaração da Prescrição e
Exclusão do Serasa ajuizada pelo ora recorrente em desfavor de Hoepers Recuperadora de
Crédito S/A, com fundamento no art. 485, VI, do CPC julgou parcialmente procedente o
pedido inicial, tão somente para declarar a inexigibilidade do débito pela via judicial,
permitida, contudo, a cobrança extrajudicial, desde que de maneira não vexatória ou abusiva,
tendo por improcedente o pleito reparatório por danos morais, condenando a parte autora em
custas processuais e em honorários advocatícios, que arbitro em 10% do valor dado à causa,
cuja cobrança suspendo em razão da gratuidade deferida.
Em suas razões (fls. 84/92), o recorrente alega, em suma, que “ajuizou a presente
ação demonstrando que constatou em aplicativo de órgãos de proteção ao crédito, SERASA,
o qual se tratava de suposta dívida vencida em 1987, ou seja, há praticamente 36 anos.”.
Aduz que “apesar de o nome do Apelante não estar negativado, a Apelada utiliza
o SERASA para causar diminuição do score no mercado, como MEIO COERCITIVO de
pagar a dívida prescrita, o que, na prática, seria equivalente a uma negativação de seu
nome.”
E mais, que ‘houve o apontamento do débito nos órgãos de proteção ao crédito
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depois de 05 (cinco) anos e a diminuição do score do Apelante no mercado. Tais situações


são equiparadas à negativação efetiva”, portanto, o dano moral fica evidente.
Pede seja o presente recurso conhecido e provido, reformando-se a sentença para
confirmar a prescrição da dívida, determinando a remoção do banco de dados dos órgãos de
proteção ao crédito (SERASA LIMPA NOME), interrompendo qualquer tipo de cobrança
contra o Apelante, bem como a indenização pelos danos morais sofridos, além de condenar a
Apelada ao pagamento de custas e honorários advocatícios.
Sem contrarrazões.
É o relatório.
Voto

Presentes os pressupostos de admissibilidade, conheço do recurso.

Como relatado, defende o apelante, em suma, a reforma da sentença, para


confirmar a prescrição da dívida, determinando a remoção do banco de dados dos órgãos de
proteção ao crédito (SERASA LIMPA NOME), interrompendo qualquer tipo de cobrança
contra o Apelante, bem como a indenização pelos danos morais sofridos, além de condenar a
Apelada ao pagamento de custas e honorários advocatícios.

Da pretensa declaração de dívida prescrita.

Neste tocante, o judicante singular decidiu: “a pretensão de cobrança do débito


está prescrita, vez que aplicável à espécie o prazo prescricional de 5 (cinco) anos, nos termos
do art. 206, § 5º, I, do Código Civil”, afirmando “que se é vedado ao credor do crédito
prescrito ajuizar a ação de cobrança, não lhe é vedado fazer valer o seu direito por outros
meios, tal e qual a sua cobrança administrativa ou extrajudicial, sem que tal conduta se
afigura como ato ilícito”.

E ao final: “Ante o exposto, JULGO a parte autora carecedora do pedido de


obrigação de não fazer consistente na abstenção de negativação de dados, o que faço com
fundamento no art. 485, VI, do CPC, posto que não comprovada a prática, e JULGO
PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido inicial, tão somente para declarar a
inexigibilidade do débito pela via judicial, permitida, contudo, a cobrança extrajudicial,
desde que de maneira não vexatória ou abusiva, tendo por improcedente o pleito
reparatório por danos morais.”

Neste rumo, é bem verdade que esta Colenda 1ª Câmara de Direito Privado já
decidiu em outras oportunidades, inclusive em processos de minha relatoria, que seria lícito o
aludido cadastro por não configurar negativação do nome do devedor e não influenciar
negativamente no Score de crédito.
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Ocorre que a crescente divulgação, utilização e acompanhamento do Score de


crédito pela população em geral, através do aplicativo e do sítio da Serasa na Internet, aliado
ao grande número de julgados nos Tribunais Pátrios que consideram abusivo o cadastro, nos
leva a reanálise das premissas balizadoras do convencimento, a fim de, conforme o caso,
ratificar ou readequar o posicionamento anteriormente adotado.

E começo tal exercício citando o posicionamento adotado pela C. 2ª Câmara de


Direito Privado deste Egrégio Tribunal, a qual vem decidindo:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL E CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO


DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO C/C OBRIGAÇÃO DE
FAZER. DÍVIDA PRESCRITA. EXCLUSÃO DO CADASTRO NA
PLATAFORMA SERASA LIMPA NOME. AFETAÇÃO DO SCORE DO
CONSUMIDOR. COBRANÇA INDIRETA. INDEVIDA. RECURSO CONHECIDO
E PROVIDO. 1. Cinge-se a controvérsia recursal em saber se inscrição das dívidas
prescritas na plataforma denominada Serasa Limpa Nome é uma forma indevida de
cobrança extrajudicial ou não. 2. A demanda promovida limita-se a debater a
impossibilidade de se incluir a dívida inexigível, no caso prescrita, na plataforma
"Serasa Limpa Nome", pois é uma cobrança indireta e resulta na diminuição de
escore de crédito da apelante. 3. Como é cediço, a dívida prescrita não pode ser
cobrada seja de forma administrativa, seja judicial, porquanto impõe a perda da
pretensão de direito material, em virtude da inércia do titular no prazo legal. Desta
forma, resta indubitável que a obrigação se converte em natural, o que impossibilita
exigir o seu cumprimento, consoante dispõe o art. 189 do CC. 4. A ocorrência da
prescrição fulmina a pretensão de cobrança da dívida, de forma direta ou indireta,
seja ela judicial ou extrajudicial, impedindo, assim, a inclusão ou manutenção do
nome do devedor em órgão de proteção ao crédito, consoante estabelece o art. 43,
§5º, do CDC. Precedentes. 5. Recurso conhecido e provido, para determinar que a
apelada exclua o nome da apelante do banco de dados do SERASA LIMPA NOME.
ACÓRDÃO: Vistos, relatados e discutidos estes autos, acorda a 2ª Câmara Direito
Privado do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, por unanimidade, conhecer do
recurso, para dar-lhe provimento, nos termos do voto do relator. Fortaleza, 30 de
novembro de 2022 CARLOS ALBERTO MENDES FORTE Presidente do Órgão
Julgador DESEMBARGADOR CARLOS ALBERTO MENDES FORTE
Relator(Apelação Cível - 0050304-29.2021.8.06.0097, Rel. Desembargador(a)
CARLOS ALBERTO MENDES FORTE, 2ª Câmara Direito Privado, data do
julgamento: 30/11/2022, data da publicação: 01/12/2022) (g.n.)

APELAÇÃO CÍVEL. DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE NEGÓCIO


JURÍDICO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. SENTENÇA DE PARCIAL
PROCEDÊNCIA. PRETENSÃO DE REFORMA PARA ACOLHER O PEDIDO
INDENIZATÓRIO. CARTÃO DE CRÉDITO NÃO CONTRATADO. INCLUSÃO
DE SUPOSTA DÍVIDA EM NOME DO AUTOR NO SISTEMA "SERASA
LIMPA NOME", REDUZINDO O SCORE DO CONSUMIDOR. FRUSTRADA
TENTATIVA DE OBTENÇÃO DE CRÉDITO. DANO MORAL CONFIGURADO.
DEVER DE INDENIZAR. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. SENTENÇA
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REFORMADA. 1. Cuida-se Recurso Apelatório interposto contra sentença de parcial


procedência do pedido autoral nos autos da Ação Declaratória de Inexistência de
Negócio Jurídico c/c Indenização por Danos Morais, em razão da anotação de dívida de
cartão de crédito não reconhecida. 2. O cerne da controvérsia tem por objeto uma
relação de consumo, ainda que por equiparação, haja vista a alegação de inexistência da
relação jurídica, tal como definida nos artigos 2º e 3º do Código de Defesa do
Consumidor. 3. Nos termos dos preceitos da legislação consumerista, a
responsabilidade da empresa promovida, como prestadora de serviço, é objetiva,
respondendo independentemente de culpa, pelos danos causados aos consumidores, nos
termos do art. 14 do CDC. Sobre o tema, sumulou o STJ: "As instituições financeiras
respondem objetivamente pelos danos gerados por fortuito interno relativo a fraudes e
delitos praticados por terceiros no âmbito de operações bancárias. (Súmula 479, STJ) 4.
Na espécie, a ré mantém, de forma ilícita, um débito em aberto em nome da parte autora
no sistema SERASA SCORE, no valor de R$713,49 (setecentos e treze reais e quarenta
e nove centavos), oriundo de contratação não comprovada, prejudicando o autor na
obtenção de crédito, em razão do seu score reduzido (fl. 14). 5. Muito embora não
haja cadastro negativado em nome do autor, a dívida pendente serviu como "dado
de mercado" para medir o grau de confiabilidade de contratação com o devedor,
sendo que o score reduzido, decorrente do débito não reconhecido, influenciou na
negativa de fornecimento de cartão de crédito pretendido pelo consumidor, tendo
efeito similar à inscrição negativa. 6. Nesse contexto, conclui-se pela falha na
prestação de serviço da promovida e reconhecido o dever de indenizar o autor a título
de danos morais, em razão do mesmo ter seu nome e honra manchados na qualidade de
mal pagador, restando impedido de obter crédito em razão da referida anotação. (...)
ACÓRDÃO: Vistos, relatados e discutidos estes autos, acorda a 2ª Câmara Direito
Privado do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, em conhecer do Apelo interposto,
para dar-lhe provimento, nos termos do voto da Relatora. (TJCE - Apelação Cível -
0240068-31.2021.8.06.0001, Rel. Desembargador(a) MARIA DE FÁTIMA DE MELO
LOUREIRO, 2ª Câmara Direito Privado, data do julgamento: 07/12/2022, data da
publicação: 07/12/2022) (g.n.)

DIREITO DO CONSUMIDOR E CIVIL. RECURSO DE APELAÇÃO.AÇÃO


DECLARATÓRIA DE INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO. DÍVIDA PRESCRITA.
EXCLUSÃO DO NOME DA CONSUMIDORA DO CADASTRO SERASA LIMPA
NOME.AFETAÇÃO DO SCORE DA CONSUMIDORA APELANTE. COBRANÇA
INDIRETA INDEVIDA. RECURSO DE APELAÇÃO CONHECIDO E PROVIDO.
SENTENÇA REFORMADA. 1- Tratam-se os autos de Recurso de apelação interposto
por MARILDA REBLA MENDONÇA SARAIVA em face de sentença proferida pelo
Juízo da 2ª Vara da Comarca de São Gonçalo do Amarante que julgou improcedente
uma Ação Declaratória de Inexistência de Débito, manejada pela Apelante em desfavor
da SKY Serviços de Banda Larga Ltda. 2- Irresignada com a decisão, a parte Apelante
interpôs recurso de apelação (fls.209/224), sob argumento de que: a mera inscrição de
dívida prescrita no sítio do SERASA LIMPA NOME já configura forma de cobrança
coercitiva e ilícita, dado que o próprio nome da plataforma induz o consumidor a pensar
que seu nome está sujo no mercado; a plataforma faz propaganda e divulga material
incentivando o pagamento de tais dívidas em troca de vantagens de score e
credibilidade do CPF do consumidor. 3- Cinge-se a controvérsia sobre o
reconhecimento da prescrição dos débitos e a impossibilidade de sua cobrança, bem
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como se a inscrição das dívidas prescritas na plataforma do Serasa Limpa Nome é uma
forma indevida de cobrança extrajudicial ou não, visto que repercute no cálculo do
score de crédito da recorrente. 4- Ressalte-se que não se discute nestes autos a
regularidade da constituição da dívida, uma vez que a autora/apelante não negou o
débito. Igualmente, não se pleiteia por indenização a título de dano moral. 5- Restou
incontroverso no processo que a dívida discutida, embora exista, visto que sua
constituição foi regular, resta prescrita, conforme reconhecido na sentença
atacada. Contudo, merece reparo o decisum quanto à possibilidade de cobrança
extrajudicial de dívida alcançada pela prescrição, uma vez que, embora persista o
direito creditório, a perda da exigibilidade impede qualquer tipo de cobrança. 6-
Assim, se a pretensão expirou, o credor não pode mais tomar as medidas com vistas a
exigir o débito, seja judicial, seja extrajudicialmente. Nada obstante subsista o direito
creditório, não se pode permitir que este seja cobrado extrajudicialmente, sob pena de
se esvaziar o efeito da prescrição do débito que recai justamente sobre a pretensão. 7-
Desta forma, a plataforma "Serasa Limpa Nome" por ser canal para pagamento e
associa, ainda que reservadamente, o nome da autora à pendência, tal registro tem
finalidade indireta de cobrança, devendo ser cancelado, sob pena de excepcionar
parte dos efeitos da prescrição. 8- Ainda que o referido cadastro não seja acessível a
terceiros, se a obrigação que o ensejara é inexigível, pois alcançada pela prescrição, não
podendo ser objeto de qualquer espécie de cobrança, não pode perdurar, à medida
que não deixa de ser um instrumento de indução ou cobrança administrativa
quando exaurida a possibilidade de exigir o pagamento. 9- Por fim, tendo em vista
que o serviço "Serasa Limpa Nome" está sendo utilizado pela apelada como forma
de cobrança extrajudicial do crédito prescrito, não é possível admitir a
manutenção do nome da apelante em tal cadastro, ou em qualquer outro que vise o
adimplemento da obrigação natural, há muito inexigível. 10- Recurso de apelação
conhecido e provido. Sentença reformada. ACÓRDÃO: Vistos, relatados e discutidos
estes autos, acorda a 2ª Câmara Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado do
Ceará, por unanimidade, conhecer e dar provimento ao recurso de apelação, nos termos
do voto do Relator. Fortaleza, 07 de dezembro de 2022 CARLOS ALBERTO
MENDES FORTE Presidente do Órgão Julgador Exmo. Sr. INACIO DE ALENCAR
CORTEZ NETO Relator(TJCE - Apelação Cível - 0050731-19.2021.8.06.0164, Rel.
Desembargador(a) INACIO DE ALENCAR CORTEZ NETO, 2ª Câmara Direito
Privado, data do julgamento: 07/12/2022, data da publicação: 07/12/2022) (g.n.)

DIREITO DO CONSUMIDOR E CIVIL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE


INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO. DÍVIDA PRESCRITA. OBRIGAÇÃO NATURAL.
EXCLUSÃO DO CADASTRO SERASA LIMPA NOME. COBRANÇA INDIRETA
INDEVIDA. HONORÁRIOS. SENTENÇA REFORMADA. RECURSO CONHECIDO
E PROVIDO. 1.Cinge-se a controvérsia sobre o reconhecimento da prescrição dos
débitos e a impossibilidade de sua cobrança, bem como se a inscrição das dívidas
prescritas na plataforma do Serasa Limpa Nome é uma forma indevida de cobrança
extrajudicial ou não, visto que repercute no cálculo do score de crédito da recorrente. 2.
Ressalte-se que não se discute nestes autos a regularidade da constituição da dívida,
uma vez que a autora/apelante não negou o débito. Igualmente, não se pleiteia por
indenização a título de dano moral. 3. Restou incontroverso no processo que a dívida
discutida, embora exista, visto que sua constituição foi regular, resta prescrita,
conforme reconhecido na sentença atacada. Contudo, merece reparo o decisum quanto à
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possibilidade de cobrança extrajudicial de dívida alcançada pela prescrição, uma vez


que, embora persista o direito creditório, a perda da exigibilidade impede qualquer tipo
de cobrança. 4. Assim, se a pretensão expirou, o credor não pode mais tomar as
medidas com vistas a exigir o débito, seja judicial, seja extrajudicialmente. Nada
obstante subsista o direito creditório, não se pode permitir que este seja cobrado
extrajudicialmente, sob pena de se esvaziar o efeito da prescrição do débito que
recai justamente sobre a pretensão. 5. Desta forma, a plataforma "Serasa Limpa
Nome" por ser canal para pagamento e associa, ainda que reservadamente, o nome
da autora à pendência, tal registro tem finalidade indireta de cobrança, devendo
ser cancelado, sob pena de excepcionar parte dos efeitos da prescrição. 6. Ainda
que o referido cadastro não seja acessível a terceiros, se a obrigação que o ensejara é
inexigível, pois alcançada pela prescrição, não podendo ser objeto de qualquer espécie
de cobrança, não pode perdurar, à medida que não deixa de ser um instrumento de
indução ou cobrança administrativa quando exaurida a possibilidade de exigir o
pagamento. 7. Em arremate, tendo em vista que o serviço "Serasa Limpa Nome" está
sendo utilizado pela apelada como forma de cobrança extrajudicial do crédito prescrito,
não é possível admitir a manutenção do nome da apelante em tal cadastro, ou em
qualquer outro que vise o adimplemento da obrigação natural, há muito inexigível. 8.
Recurso conhecido e provido. ACÓRDÃO: Vistos, relatados e discutidos estes autos,
acorda a 2ª Câmara Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, em
conhecer do recurso, para dar-lhe provimento, nos termos do voto da Relatora.
Fortaleza, 10 de Agosto de 2022. DESEMBARGADORA MARIA DAS GRAÇAS
ALMEIDA DE QUENTAL Presidente do Órgão Julgador em Exercício/Relatora(TJCE
- Apelação Cível - 0207454-70.2021.8.06.0001, Rel. Desembargador(a) MARIA DAS
GRAÇAS ALMEIDA DE QUENTAL, 2ª Câmara Direito Privado, data do julgamento:
10/08/2022, data da publicação: 10/08/2022) (g.n.)

Pois bem. Para o deslinde da questão, trago a baila os seguintes dispositivos do


Código Civil, verbis:
Art. 189. Violado o direito, nasce para o titular a pretensão, a qual se extingue, pela
prescrição, nos prazos a que aludem os arts. 205 e 206.

Art. 206. Prescreve:


(...)
§ 5º Em cinco anos:
I - a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou
particular;

Assim, pela dicção dos dispositivos acima transcritos, é certo que a prescrição
extingue a pretensão do titular quanto à cobrança de dívidas.

De acordo com a doutrina, prescrita a dívida, remanesce apenas uma obrigação


natural, como ensinam Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho:

“Em essência e na estrutura, a obrigação natural não difere da obrigação civil: trata-se de
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uma relação de débito e crédito que vincula objeto e sujeitos determinados. Todavia,
distingue-se da obrigação civil por não ser dotada de exigibilidade” (In GAGLIANO,
Pablo Stolze e PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil, Obrigações, ,
volume II. 22ª ed, São Paulo: Ed. Saraiva, 2021, p. 131) (g.n.)

Segundo Flávio Tartuce, a obrigação natural “é aquela em que o credor não pode
exigir a prestação do devedor, já que não há pretensão para tanto” (In TARTUCE, Flávio.
Direito Civil – Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil, volume 2. 12ªed. São Paulo:
Gen Forense, 2017, p. 114).

Portanto, se a obrigação natural que remanesce da dívida prescrita não pode ser
exigida, entende a doutrina que seu único efeito jurídico é a possibilidade de o credor reter o
pagamento, nos termos do art. 882 do Código Civil, caso a obrigação seja cumprida,
voluntariamente, pelo devedor.

Neste caso, Luciano e Roberto Figueiredo acrescentam que o pagamento só será


válido se for voluntário e se não houver vício de consentimento (In FIGUEIREDO, Luciano e
FIGUEIREDO, Roberto. Manual de Direito Civil – Volume Único. Salvador: Ed. JusPodivm,
2020, p. 433).

Extrai-se, deste modo, que, uma vez paga a dívida prescrita, não está o credor
obrigado a restituir o valor pago, porém não pode haver vício de consentimento do devedor,
ou seja, não pode ser induzido a erro, assim como não pode ser submetido a meios abusivos
ou coercitivos de cobrança direta ou indireta.

Ressalte-se, que a relação jurídica em exame é nitidamente de consumo, posto que


a cessão de crédito pela SPM – LOSANGO FOMENTO ao Apelado não desvirtua a natureza
consumerista da relação existente entre o Cedente e o Apelante, impondo-se a análise
meritória dentro do microssistema protetivo da Lei nº 8.078/90, em especial quanto à
vulnerabilidade técnica e à hipossuficiência processual que apresenta, a exemplo dos
seguintes dispositivos:

Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento
das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a
proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a
transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:
I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:


VIII - a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da
prova, a seu favor, no processo civil, quando, a critério do juiz, for verossímil a alegação
ou quando for ele hipossuficiente, segundo as regras ordinárias de experiências;

Art. 43. O consumidor, sem prejuízo do disposto no art. 86, terá acesso às informações
existentes em cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de consumo arquivados sobre
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ele, bem como sobre as suas respectivas fontes.


§ 1° Os cadastros e dados de consumidores devem ser objetivos, claros,
verdadeiros e em linguagem de fácil compreensão, não podendo conter informações
negativas referentes a período superior a cinco anos.
§ 2° A abertura de cadastro, ficha, registro e dados pessoais e de consumo deverá
ser comunicada por escrito ao consumidor, quando não solicitada por ele.
§ 3° O consumidor, sempre que encontrar inexatidão nos seus dados e cadastros,
poderá exigir sua imediata correção, devendo o arquivista, no prazo de cinco dias úteis,
comunicar a alteração aos eventuais destinatários das informações incorretas.
§ 4° Os bancos de dados e cadastros relativos a consumidores, os serviços de
proteção ao crédito e congêneres são considerados entidades de caráter público.
§ 5° Consumada a prescrição relativa à cobrança de débitos do consumidor, não
serão fornecidas, pelos respectivos Sistemas de Proteção ao Crédito, quaisquer
informações que possam impedir ou dificultar novo acesso ao crédito junto aos
fornecedores.

A respeito do prazo de inserção e permanência de dados em cadastros de proteção


ao crédito, no tocante à prescrição, os §§ 1º e 5º, do artigo 43 do CDC impedem a manutenção
de informações por prazo superior ao lapso prescricional, máxime quando tal informação
puder impedir ou dificultar novo acesso ao crédito.

Dispõe ainda, o §4º, do art. 43 do CDC, que tais bancos de dados e cadastros
congêneres são considerados entidades de caráter público. Como cediço, as instituições de
crédito e o comércio em geral possuem convênios que acessam os registros relativos aos
consumidores, aliás, esta é a razão da criação de tais serviços. Proteção ao crédito, não
podendo se olvidar da proteção ao consumidor.

A situação em questão ainda se reveste de maior gravidade, pois, como visto, uma
vez paga a dívida prescrita pelo consumidor induzido, nos termos acima, a fazê-lo, o credor
poderá reter o pagamento na forma do art. 882 do Código Civil.

Portanto, com as presentes constatações, me convenço de que a inclusão de


dívidas prescritas no “Serasa Limpa Nome” importa ofensa ao art. 43 do CDC, por
manter informações que podem significar ou fazer o consumidor crer que seu nome está
sujo, o conduzindo, conforme extraído acima, com veemência, ao pagamento da dívida,
em evidente vício de consentimento, sem falar nas assertivas de que interferem na
obtenção de crédito por parte do consumidor, funcionando como meio coercitivo,
abusivo e ilícito de cobrança, de forma indireta e, por vezes, direta, conforme narrado
na exordial, de que o devedor recebeu ligações lhe cobrando a dívida prescrita.

Neste rumo, acrescento outros excertos jurisprudenciais dos Tribunais Pátrios, a


exemplo:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR. DÍVIDA PRESCRITA.


COBRANÇA JUDICIAL E EXTRAJUDICIAL. VEDADA. REGISTRO EM BANCO
DE DADOS SERASA LIMPA NOME. LIMITES TEMPORAIS. EXCLUSÃO.
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RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. 1. O ordenamento jurídico veda a cobrança


- judicial e extrajudicial - de dívidas prescritas. É ilegal qualquer conduta do
credor consistente em tentar obter liquidação de dívida prescrita. Não se discute
que, se houver pagamento - voluntário - por parte do devedor, afasta-se a possibilidade
de repetição do que foi pago. Todavia, a impossibilidade de repetição do indébito não
legitima a cobrança extrajudicial da dívida. 2. O Código de Defesa do Consumidor
estabelece dois limites cronológicos para a atuação dos arquivos de consumo: os dados
e cadastros dos consumidores não podem "conter informações negativas referentes a
período superior a cinco anos" (art. 43, § 1º) e, "consumada a prescrição relativa à
cobrança de débitos do consumidor, não serão fornecidas, pelos respectivos Sistemas de
Proteção ao Crédito, quaisquer informações que possam impedir ou dificultar novo
acesso ao crédito junto aos fornecedores" (art. 43, § 5º). 3. No caso de dívida
prescrita, o Código de Defesa do Consumidor proíbe expressamente que os
sistemas de proteção ao crédito contenham qualquer informação que prejudique o
consumidor a obter novos créditos. Toda a evolução do tema, representado pela Lei
do Cadastro Positivo (com a recente alteração pela Lei Complementar 166/2019) e pela
Súmula 550 do STJ, não altera o quadro fático e jurídico concernente à impossibilidade
de cobrança de dívida prescrita, nem o respectivo limite temporal. 4. As dívidas
prescritas não podem ser consideradas, pelas entidades de proteção ao crédito,
para diminuir nota ou pontuação de crédito (credit scoring), já que a redução de
nota pode significar recusa de crédito ou aumento indevido da taxa de juros
remuneratório. 5. Na hipótese, a prescrição da dívida é fato incontroverso, o que
impõe o reconhecimento da impossibilidade de o credor exigir o seu pagamento,
judicial e extrajudicialmente, bem como a sua exclusão do banco de dados "Serasa
Limpa Nome". 6. Recurso conhecido e provido.(TJDF - Acórdão 1387123,
07191849120218070001, Relator: LEONARDO ROSCOE BESSA, 6ª Turma Cível,
data de julgamento: 17/11/2021, publicado no DJE: 1/12/2021. Pág.: Sem Página
Cadastrada.) (g.n.)JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS. RELAÇÃO DE CONSUMO.
DÍVIDA PRESCRITA. INEXIGIBILIDADE. INSCRIÇÃO EM CADASTRO DO
SERASA LIMPA NOME. INFORMAÇÃO NEGATIVA DO CONSUMIDOR.
DÍVIDA EM ABERTO. INTERFERÊNCIA NO SCORE DE CRÉDITO. VIOLAÇÃO
AO ART. 43, § 1º, DO CDC. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. 1.
Recurso próprio, regular e tempestivo, com apresentação de contrarrazões. 2. Pretensão
inicial declaratória de inexistência de débito do autor junto à ré Claro, de exclusão da
informação de débito perante os cadastros da ré SERASA e de condenação das rés ao
pagamento de indenização por danos morais. Recurso interposto pela ré Claro em face
da sentença que julgou parcialmente procedentes os pedidos, reconhecendo-se a
prescrição e a inexigibilidade do débito e determinando-se a cessação das cobranças,
bem como a retirada do nome do autor da plataforma LIMPA NOME, mantida pela ré
SERASA. Pretende o recorrente que seja afastada a inexigibilidade do débito, pois
entende que pode cobrar administrativamente a dívida prescrita. 3. A relação jurídica
estabelecida entre as partes é de natureza consumerista, devendo a controvérsia
ser solucionada sob o prisma do sistema jurídico autônomo instituído pelo Código
de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/1990). 4. A prova documental, aliada às
declarações das partes, comprova que o débito do autor, objeto das cobranças efetuada
pelos réus, venceu em 24/09/2009, por isso, foi reconhecida a prescrição e declarada a
inexigibilidade da dívida. 5. A recorrente sustenta que a prescrição não impede a
cobrança administrativa, pois inexiste vedação legal. Ocorre que a utilização de
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mecanismos extrajudiciais que afetem negativamente o consumidor, após a


prescrição do débito, é vedada pela legislação consumerista. A plataforma SERASA
LIMPA NOME, apesar de não configurar negativação do nome do devedor, mantém o
registro de inadimplência do consumidor por tempo indeterminado, e tal registro
interfere negativamente no score de crédito, diminuindo a pontuação do devedor
(FONTE: https://www.serasa.com.br/ensina/aumentar-score/o-queescore-de-
credito/). Como tal mecanismo é utilizado principalmente pelas instituições financeiras
para concederem ou negarem crédito ao postulante, é evidente que a informação da
inadimplência causa prejuízos ao consumidor, devendo respeitar o prazo prescricional
de 5 anos (art. 206, § 5º, I, do CC). 6. O art. 43, § 1º, do CDC dispõe que os cadastros e
dados de consumidores não podem conter informações negativas referentes a período
superior a 5 anos. No presente caso, embora não conste dívida negativa em desfavor do
autor, há informação desabonadora contra o consumidor, consistente na
manutenção de dados de débitos prescritos, que diminuem sua pontuação no score
de crédito, situação que afronta a legislação consumerista, pois a dívida venceu em
24/09/2009, estando prescrita desde 24/09/2014. 7. Embora a prescrição não extinga
a dívida, impede a pretensão de exigir o respectivo pagamento, seja judicial, seja
extrajudicialmente. O credor não pode molestar o consumidor para receber o
crédito. O credor pode realizar o convencimento do devedor para pagar a dívida,
mas não utilizar de artifícios que, na prática, configuram uma exigência. No
presente caso, a manutenção de informações desabonadoras do consumidor em
bancos de dados de órgãos de proteção ao crédito (como o SERASA LIMPA
NOME) configura tentativa de burla ao instituto da prescrição, pois, por meio de
tal prática, o credor tenta forçar o consumidor a pagar o débito, sob pena de
prejuízos ao score de crédito e de penalização perpétua do devedor. 8. RECURSO
CONHECIDO E NÃO PROVIDO. Sentença mantida pelos próprios fundamentos. 9.
Condenado o recorrente nas custas processuais e nos honorários advocatícios, estes
arbitrados em 10% do valor da causa (art. 55 da Lei 9099/95). 10. A súmula de
julgamento servirá de acórdão (art. 46 Lei 9099/95). (TJ-DF 07156356220208070016
DF 0715635-62.2020.8.07.0016, Relator: EDILSON ENEDINO DAS CHAGAS, Data
de Julgamento: 05/03/2021, Primeira Turma Recursal, Data de Publicação: Publicado
no DJE : 26/03/2021 . Pág.: Sem Página Cadastrada.) (g.n.)

SERASA LIMPA NOME. Ação declaratória de inexistência de débito cumulada com


indenização por dano moral julgada parcialmente procedente para declarar a
inexistência do débito. Apelo do autor. Dano moral. Dívida cuja existência não foi
demonstrada nos autos, conforme constou da r. sentença, não impugnada pela parte ré.
Anotação, pela parte apelada, do nome do apelante em plataforma da qual se
extrai inaceitável objetivo de constranger o consumidor ao pagamento de dívida
prescrita, inexigível. Mecanismo de massa para constranger devedores ao
pagamento de dívida inexigível. Boa-fé violada ante aplicação de "score" na dita
plataforma, na medida em que pagar dívida inexistente ou inexigível na "Serasa
Limpa Nome" se torna o preço para comprar um bom nome na praça; e não pagar
significa não ter a bonificação da Serasa, cuja marca, por si, já indica demérito à
pessoa lá inscrita, e sinônimo de inadimplência. O ato abusivo não pressupõe
publicidade, pois é danoso por natureza. O dano moral não advém da negativação ou da
publicidade, mas da agressão à esfera jurídica da pessoa, que sofre para superar ou
anular o abuso. Dano moral configurado. "Quantum" arbitrado em R$ 5.000,00 (cinco
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mil reais). Recurso parcialmente provido para condenar a parte apelada a pagar
indenização por dano moral no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), com os
acréscimos mencionados acima, bem como ao pagamento das custas, despesas
processuais e honorários advocatícios fixados em 20% do valor da condenação.(TJ-SP -
AC: 10099347720218260438 SP 1009934-77.2021.8.26.0438, Relator: JAIRO
BRAZIL FONTES OLIVEIRA, Data de Julgamento: 05/04/2022, 15ª Câmara de
Direito Privado, Data de Publicação: 11/04/2022) (g.n.)Declaratória de inexigibilidade
de débitos c.c. indenização por danos morais. Alegada inscrição indevida do nome do
autor junto ao SERASA (Plataforma Limpa Nome), em decorrência de dívidas
prescritas. R. sentença de parcial procedência. Apelos da empresa ré, Recovery do
Brasil Consultoria S/A. e do autor. Plena aplicação do Código de Defesa do
Consumidor. Preliminar de ilegitimidade passiva bem afastada. Dívida
irremediavelmente prescrita há longa data. Inteligência dos artigos 14 e 43, ambos
do Código Consumerista. Reconhecimento da inexigibilidade, judicial e
extrajudicial, que era de rigor. No caso, logrou o autor comprovar os fatos
constitutivos de seu direito, ante a apresentação do "print" da página do "Serasa
Limpa Nome", onde consta que o lançamento das dívidas prescritas interferiu na
pontuação do "score", tendo sido tal fato minudentemente examinado, de maneira
objetiva, no texto do voto. Inaplicabilidade da Súmula 385, do C. Superior Tribunal de
Justiça. Danos morais vislumbrados. Observância aos princípios da razoabilidade e
proporcionalidade. Recurso de apelação da empresa ré desprovido, restando
parcialmente provido o interposto pelo consumidor.(TJ-SP - AC:
10072996920208260047 SP 1007299-69.2020.8.26.0047, Relator: Roberto Mac
Cracken, Data de Julgamento: 16/12/2021, 22ª Câmara de Direito Privado, Data de
Publicação: 17/12/2021) (g.n.)

SERASA LIMPA NOME – DÍVIDA PRESCRITA – DANOS MORAIS. 1 – Dívida


prescrita, inclusão em plataforma denominada 'LIMPA NOME", que pressupõe,
exatamente, que o nome está sujo, que há algo pendente no que tange a
pagamento, a dívidas e a eventual concessão de crédito, atual ou futuro, àquele
consumidor, já que tal plataforma tem como função, inclusive, a consulta de
financeiras, bancos e outros concedentes de crédito no mercado, para analisarem o
perfil do consumidor. 2 – Danos morais fixados em R$ 4.000,00. RECURSO DA
AUTORA PROVIDO.(TJ-SP - AC: 10070846320228260002 SP
1007084-63.2022.8.26.0002, Relator: Maria Lúcia Pizzotti, Data de Julgamento:
07/07/2022, 30ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 08/07/2022) (g.n.)

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE


DÉBITO C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS - INSERÇÃO DO NOME NO
SISTEMA SERASA LIMPA NOME - DANOS MORAIS - OCORRÊNCIA - DÍVIDA
INEXISTENTE - NECESSIDADE DE ACIONAMENTO DO JUDICIÁRIO - PERDA
DE TEMPO ÚTIL. - Não pode o credor inscrever o nome do consumidor em
cadastro de proteção ao crédito com base em dívida inexistente, tampouco pode
lançar mão da plataforma "SERASA LIMPA NOME", com a proposta de
negociação do débito, pois esse comportamento cria a falsa impressão no devedor
de que a dívida pode ser cobrada, tratando-se tal procedimento de conduta que
configura um repudiável constrangimento ao consumidor, que lhe causa abalo
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emocional, constrangimento, aflição, angústia e sofrimento, a configurar o dano moral,


o que mais se reforça em razão de ter a parte de ter contratado advogado para acionar o
Judiciário, a fim de se ver livre de despropositada cobrança, o que importa em perda de
tempo útil.(TJ-MG - AC: 10000220862486001 MG, Relator: Evandro Lopes da Costa
Teixeira, Data de Julgamento: 25/05/2022, Câmaras Cíveis / 17ª CÂMARA CÍVEL,
Data de Publicação: 26/05/2022) (g.n.)

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DECLARATÓRIA C/C INDENIZATÓRIA -


SERASA LIMPA NOME - INSERÇÃO INDEVIDA EM ROL DE CONTAS
ATRASADAS - INEXISTÊNCIA DAS DÍVIDAS - DEVER DE INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS - NÃO CONFIGURAÇÃO. Ausente demonstração de que a parte
autora contraiu os débitos inseridos em rol de "contas atrasadas" na plataforma Serasa
Limpa Nome deve ser declarada a sua inexistência e determinada a exclusão dos
mencionados apontamentos. Não há falar-se na repetição em dobro do indébito, tal
como prevista no artigo 42, parágrafo único, do CDC, quando inexistente pagamento
pelo consumidor. Em se tratando de informação constante no Serasa Limpa Nome, que
não é de livre acesso a terceiros, inexiste dano a direito de personalidade, o que afasta o
dever de reparação a título de danos morais. v.v. APELAÇÃO - DECLARATÓRIA DE
INEXIGIBILIDADE DE DÉBITO -PRESCRIÇÃO DA DÍVIDA - MANUTENÇÃO
DE INFORMAÇÃO EM PLATAFORMA DE RENEGOCIAÇÃO DE DÉBITO -
"SERASA LIMPA NOME" - INADMISSIBILIDADE - REMOÇÃO -
POSSIBILIDADE - INDNEIZAÇÃO - DANO MORAL - DEVER DE RESSARCIR. É
indevida a manutenção do nome do consumidor em plataforma do "SERASA
LIMPA NOME" relativamente a débitos prescritos, trazendo prejuízos à parte. A
inscrição indevida do nome do consumidor em plataforma de negociação de débito
implica dano moral passível de reparação, nos termos do artigo 944 do Código Civil.(TJ-
MG - AC: 10000212550560001 MG, Relator: Octávio de Almeida Neves, Data de
Julgamento: 26/05/2022, Câmaras Cíveis / 15ª CÂMARA CÍVEL, Data de Publicação:
01/06/2022)

Sabido, outrossim, que a própria entidade Serasa esclarece que a ferramenta do


“Serasa Limpa Nome” é literalmente um meio para o devedor/consumidor limpar seu nome,
como também obter aumento do seu Score, ressaltando seu convênio com diversas
instituições, de modo a se entender que as informações são acessíveis a terceiros.
Lembre-se que a legalidade do Score e a necessidade de proteção ao consumidor
foram objeto de julgamento pelo STJ no Tema Repetitivo 710, no qual se firmou a seguinte
tese:
I - O sistema "credit scoring" é um método desenvolvido para avaliação do risco
de concessão de crédito, a partir de modelos estatísticos, considerando diversas
variáveis, com atribuição de uma pontuação ao consumidor avaliado (nota do risco de
crédito).
II - Essa prática comercial é lícita, estando autorizada pelo art. 5º, IV, e pelo art. 7º, I,
da Lei n. 12.414/2011 (lei do cadastro positivo).
III - Na avaliação do risco de crédito, devem ser respeitados os limites estabelecidos
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pelo sistema de proteção do consumidor no sentido da tutela da privacidade e da


máxima transparência nas relações negociais, conforme previsão do CDC e da Lei n.
12.414/2011.
IV - Apesar de desnecessário o consentimento do consumidor consultado, devem ser a
ele fornecidos esclarecimentos, caso solicitados, acerca das fontes dos dados considerados
(histórico de crédito), bem como as informações pessoais valoradas.
V - O desrespeito aos limites legais na utilização do sistema "credit scoring",
configurando abuso no exercício desse direito (art. 187 do CC), pode ensejar a
responsabilidade objetiva e solidária do fornecedor do serviço, do responsável pelo banco
de dados, da fonte e do consulente (art. 16 da Lei n. 12.414/2011) pela ocorrência de danos
morais nas hipóteses de utilização de informações excessivas ou sensíveis (art. 3º, § 3º, I e
II, da Lei n. 12.414/2011), bem como nos casos de comprovada recusa indevida de crédito
pelo uso de dados incorretos ou desatualizados.
(REsp n. 1.419.697/RS, relator Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, Segunda Seção,
julgado em 12/11/2014, DJe de 17/11/2014)

Nestes termos, tenho que a inclusão de dívidas, prescritas ou não, no “Serasa


Limpa Nome” importa ofensa ao art. 43 do CDC, por manter informações que podem
significar ou fazer o consumidor crer que seu nome está sujo, o conduzindo, conforme
extraído acima, com veemência, ao pagamento da dívida, em evidente vício de consentimento,
sem falar nas assertivas de que interferem na obtenção de crédito por parte do consumidor,
funcionando como meio coercitivo, abusivo e ilícito de cobrança, de forma indireta e, por
vezes, direta, conforme narrado na exordial, de que , o Autor realizou cadastro no site
eletrônico do SERASA LIMPA NOME e tomou conhecimento acerca de duas dívidas em seu
nome cobrada pela instituição, ora requerida.
Neste rumo, acrescento outros excertos jurisprudenciais dos Tribunais Pátrios, a
exemplo:
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR. DÍVIDA PRESCRITA.
COBRANÇA JUDICIAL E EXTRAJUDICIAL. VEDADA. REGISTRO EM
BANCO DE DADOS SERASA LIMPA NOME. LIMITES TEMPORAIS.
EXCLUSÃO. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. 1. O ordenamento jurídico
veda a cobrança - judicial e extrajudicial - de dívidas prescritas. É ilegal
qualquer conduta do credor consistente em tentar obter liquidação de dívida
prescrita. Não se discute que, se houver pagamento - voluntário - por parte do
devedor, afasta-se a possibilidade de repetição do que foi pago. Todavia, a
impossibilidade de repetição do indébito não legitima a cobrança extrajudicial da
dívida. 2. O Código de Defesa do Consumidor estabelece dois limites cronológicos
para a atuação dos arquivos de consumo: os dados e cadastros dos consumidores
não podem "conter informações negativas referentes a período superior a cinco
anos" (art. 43, § 1º) e, "consumada a prescrição relativa à cobrança de débitos do
consumidor, não serão fornecidas, pelos respectivos Sistemas de Proteção ao
Crédito, quaisquer informações que possam impedir ou dificultar novo acesso ao
crédito junto aos fornecedores" (art. 43, § 5º). 3. No caso de dívida prescrita, o
Código de Defesa do Consumidor proíbe expressamente que os sistemas de
proteção ao crédito contenham qualquer informação que prejudique o
consumidor a obter novos créditos. Toda a evolução do tema, representado pela
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Lei do Cadastro Positivo (com a recente alteração pela Lei Complementar


166/2019) e pela Súmula 550 do STJ, não altera o quadro fático e jurídico
concernente à impossibilidade de cobrança de dívida prescrita, nem o respectivo
limite temporal. 4. As dívidas prescritas não podem ser consideradas, pelas
entidades de proteção ao crédito, para diminuir nota ou pontuação de crédito
(credit scoring), já que a redução de nota pode significar recusa de crédito ou
aumento indevido da taxa de juros remuneratório. 5. Na hipótese, a prescrição
da dívida é fato incontroverso, o que impõe o reconhecimento da impossibilidade de
o credor exigir o seu pagamento, judicial e extrajudicialmente, bem como a sua
exclusão do banco de dados "Serasa Limpa Nome". 6. Recurso conhecido e
provido.(TJDF - Acórdão 1387123, 07191849120218070001, Relator:
LEONARDO ROSCOE BESSA, 6ª Turma Cível, data de julgamento: 17/11/2021,
publicado no DJE: 1/12/2021. Pág.: Sem Página Cadastrada.) (g.n.)
JUIZADOS ESPECIAIS CÍVEIS. RELAÇÃO DE CONSUMO. DÍVIDA
PRESCRITA. INEXIGIBILIDADE. INSCRIÇÃO EM CADASTRO DO SERASA
LIMPA NOME. INFORMAÇÃO NEGATIVA DO CONSUMIDOR. DÍVIDA EM
ABERTO. INTERFERÊNCIA NO SCORE DE CRÉDITO. VIOLAÇÃO AO ART.
43, § 1º, DO CDC. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. 1. Recurso
próprio, regular e tempestivo, com apresentação de contrarrazões. 2. Pretensão
inicial declaratória de inexistência de débito do autor junto à ré Claro, de exclusão
da informação de débito perante os cadastros da ré SERASA e de condenação das
rés ao pagamento de indenização por danos morais. Recurso interposto pela ré Claro
em face da sentença que julgou parcialmente procedentes os pedidos, reconhecendo-
se a prescrição e a inexigibilidade do débito e determinando-se a cessação das
cobranças, bem como a retirada do nome do autor da plataforma LIMPA NOME,
mantida pela ré SERASA. Pretende o recorrente que seja afastada a inexigibilidade
do débito, pois entende que pode cobrar administrativamente a dívida prescrita. 3. A
relação jurídica estabelecida entre as partes é de natureza consumerista,
devendo a controvérsia ser solucionada sob o prisma do sistema jurídico
autônomo instituído pelo Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/1990).
4. A prova documental, aliada às declarações das partes, comprova que o débito do
autor, objeto das cobranças efetuada pelos réus, venceu em 24/09/2009, por isso, foi
reconhecida a prescrição e declarada a inexigibilidade da dívida. 5. A recorrente
sustenta que a prescrição não impede a cobrança administrativa, pois inexiste
vedação legal. Ocorre que a utilização de mecanismos extrajudiciais que afetem
negativamente o consumidor, após a prescrição do débito, é vedada pela
legislação consumerista. A plataforma SERASA LIMPA NOME, apesar de não
configurar negativação do nome do devedor, mantém o registro de inadimplência
do consumidor por tempo indeterminado, e tal registro interfere negativamente
no score de crédito, diminuindo a pontuação do devedor (FONTE:
https://www.serasa.com.br/ensina/aumentar-score/o-queescore-de-credito/).
Como tal mecanismo é utilizado principalmente pelas instituições financeiras para
concederem ou negarem crédito ao postulante, é evidente que a informação da
inadimplência causa prejuízos ao consumidor, devendo respeitar o prazo
prescricional de 5 anos (art. 206, § 5º, I, do CC). 6. O art. 43, § 1º, do CDC dispõe
que os cadastros e dados de consumidores não podem conter informações negativas
referentes a período superior a 5 anos. No presente caso, embora não conste dívida
negativa em desfavor do autor, há informação desabonadora contra o
consumidor, consistente na manutenção de dados de débitos prescritos, que
diminuem sua pontuação no score de crédito, situação que afronta a legislação
consumerista, pois a dívida venceu em 24/09/2009, estando prescrita desde
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24/09/2014. 7. Embora a prescrição não extinga a dívida, impede a pretensão de


exigir o respectivo pagamento, seja judicial, seja extrajudicialmente. O credor
não pode molestar o consumidor para receber o crédito. O credor pode realizar
o convencimento do devedor para pagar a dívida, mas não utilizar de artifícios
que, na prática, configuram uma exigência. No presente caso, a manutenção de
informações desabonadoras do consumidor em bancos de dados de órgãos de
proteção ao crédito (como o SERASA LIMPA NOME) configura tentativa de
burla ao instituto da prescrição, pois, por meio de tal prática, o credor tenta
forçar o consumidor a pagar o débito, sob pena de prejuízos ao score de crédito
e de penalização perpétua do devedor. 8. RECURSO CONHECIDO E NÃO
PROVIDO. Sentença mantida pelos próprios fundamentos. 9. Condenado o
recorrente nas custas processuais e nos honorários advocatícios, estes arbitrados em
10% do valor da causa (art. 55 da Lei 9099/95). 10. A súmula de julgamento servirá
de acórdão (art. 46 Lei 9099/95). (TJ-DF 07156356220208070016 DF
0715635-62.2020.8.07.0016, Relator: EDILSON ENEDINO DAS CHAGAS, Data
de Julgamento: 05/03/2021, Primeira Turma Recursal, Data de Publicação:
Publicado no DJE : 26/03/2021 . Pág.: Sem Página Cadastrada.) (g.n.)
SERASA LIMPA NOME. Ação declaratória de inexistência de débito cumulada
com indenização por dano moral julgada parcialmente procedente para declarar a
inexistência do débito. Apelo do autor. Dano moral. Dívida cuja existência não foi
demonstrada nos autos, conforme constou da r. sentença, não impugnada pela parte
ré. Anotação, pela parte apelada, do nome do apelante em plataforma da qual
se extrai inaceitável objetivo de constranger o consumidor ao pagamento de
dívida prescrita, inexigível. Mecanismo de massa para constranger devedores
ao pagamento de dívida inexigível. Boa-fé violada ante aplicação de "score" na
dita plataforma, na medida em que pagar dívida inexistente ou inexigível na
"Serasa Limpa Nome" se torna o preço para comprar um bom nome na praça;
e não pagar significa não ter a bonificação da Serasa, cuja marca, por si, já
indica demérito à pessoa lá inscrita, e sinônimo de inadimplência. O ato abusivo
não pressupõe publicidade, pois é danoso por natureza. O dano moral não advém da
negativação ou da publicidade, mas da agressão à esfera jurídica da pessoa, que
sofre para superar ou anular o abuso. Dano moral configurado. "Quantum" arbitrado
em R$ 5.000,00 (cinco mil reais). Recurso parcialmente provido para condenar a
parte apelada a pagar indenização por dano moral no valor de R$ 5.000,00 (cinco
mil reais), com os acréscimos mencionados acima, bem como ao pagamento das
custas, despesas processuais e honorários advocatícios fixados em 20% do valor da
condenação.(TJ-SP - AC: 10099347720218260438 SP 1009934-77.2021.8.26.0438,
Relator: JAIRO BRAZIL FONTES OLIVEIRA, Data de Julgamento: 05/04/2022,
15ª Câmara de Direito Privado, Data de Publicação: 11/04/2022) (g.n.)Declaratória
de inexigibilidade de débitos c.c. indenização por danos morais. Alegada inscrição
indevida do nome do autor junto ao SERASA (Plataforma Limpa Nome), em
decorrência de dívidas prescritas. R. sentença de parcial procedência. Apelos da
empresa ré, Recovery do Brasil Consultoria S/A. e do autor. Plena aplicação do
Código de Defesa do Consumidor. Preliminar de ilegitimidade passiva bem
afastada. Dívida irremediavelmente prescrita há longa data. Inteligência dos
artigos 14 e 43, ambos do Código Consumerista. Reconhecimento da
inexigibilidade, judicial e extrajudicial, que era de rigor. No caso, logrou o
autor comprovar os fatos constitutivos de seu direito, ante a apresentação do
"print" da página do "Serasa Limpa Nome", onde consta que o lançamento
das dívidas prescritas interferiu na pontuação do "score", tendo sido tal fato
minudentemente examinado, de maneira objetiva, no texto do voto. Inaplicabilidade
ESTADO DO CEARÁ
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DESEMBARGADOR FRANCISCO MAURO FERREIRA LIBERATO

da Súmula 385, do C. Superior Tribunal de Justiça. Danos morais vislumbrados.


Observância aos princípios da razoabilidade e proporcionalidade. Recurso de
apelação da empresa ré desprovido, restando parcialmente provido o interposto pelo
consumidor.(TJ-SP - AC: 10072996920208260047 SP 1007299-69.2020.8.26.0047,
Relator: Roberto Mac Cracken, Data de Julgamento: 16/12/2021, 22ª Câmara de
Direito Privado, Data de Publicação: 17/12/2021) (g.n.)
SERASA LIMPA NOME – DÍVIDA PRESCRITA – DANOS MORAIS. 1 – Dívida
prescrita, inclusão em plataforma denominada 'LIMPA NOME", que
pressupõe, exatamente, que o nome está sujo, que há algo pendente no que
tange a pagamento, a dívidas e a eventual concessão de crédito, atual ou futuro,
àquele consumidor, já que tal plataforma tem como função, inclusive, a
consulta de financeiras, bancos e outros concedentes de crédito no mercado,
para analisarem o perfil do consumidor. 2 – Danos morais fixados em R$
4.000,00. RECURSO DA AUTORA PROVIDO.(TJ-SP - AC:
10070846320228260002 SP 1007084-63.2022.8.26.0002, Relator: Maria Lúcia
Pizzotti, Data de Julgamento: 07/07/2022, 30ª Câmara de Direito Privado, Data de
Publicação: 08/07/2022) (g.n.)

Dos danos morais

Como sabido, o dano moral é caracterizado pela lesão a algum dos direitos da
personalidade, capaz de incutir sentimentos como dor profunda, vergonha, vexame, ansiedade,
inquietude, constrangimento, humilhação, dentre outros.

No caso concreto, conquanto este Relator corrobore do entendimento no sentido


de que manter o registro de inadimplência do consumidor por tempo indeterminado, na
plataforma denominada 'LIMPA NOME", interfere negativamente no score de crédito,
diminuindo a pontuação do devedor, tenho que tal fato por si só, não gera dever de reparação
por danos morais, quando inexiste prova de publicização de seu nome em cadastros de
restrição ao crédito, ou seja, não se trata dano moral in re ipsa.

A propósito:

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR. PRESCRIÇÃO DE


DÍVIDA. INCLUSÃO DO DÉBITO EM PORTAL DE NEGOCIAÇÃO DE
ACESSO RESTRITO. AUSÊNCIA DE PUBLICIDADE DOS DADOS DO
CONSUMIDOR. ATO ILÍCITO NÃO CONFIGURADO. INEXISTÊNCIA DE
DANOS MORAIS. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. 1. A plataforma
¿Serasa Limpa Nome¿ não se configura como cadastro de proteção ao crédito. Trata-se
de portal de negociação de débitos, cujos dados não são dotados de publicidade. Apenas
o credor e o devedor possuem acesso a tal plataforma, sendo vedado o acesso de
terceiros às informações referentes às dívidas do consumidor. Dessa forma, não há
similitude entre a inclusão de informação relativa à dívida em plataforma de acesso
restrito e a disponibilização de informação desabonadora em cadastro de acesso por
terceiros, para fins de análise da concessão de crédito. 2. Inexistindo publicidade dos
dados desabonadores referentes ao inadimplemento de dívida, não se verifica o
descumprimento dos termos do art. 43, §§ 1º e 5º do CDC. 3. A mera tentativa de
negociar a dívida por via extrajudicial, por si só, é incapaz de configurar ato ilícito. In
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GABINETE DESEMBARGADOR FRANCISCO MAURO FERREIRA LIBERATO

casu, não restou comprovada a existência de cobranças abusivas, vexatórias ou


desproporcionais, que, em tese, seriam capazes de configurar dano moral. 4. A apelante
não se desincumbiu, na forma do art. 373, I do CPC, do ônus probatório de
demonstrar a prática de conduta ilícita pela recorrida que teria provocado os
alegados danos morais. 5. Recurso conhecido e desprovido. (TJCE – Apelação
0288708-65.2021.8.06.0001, Rel. Des. CARLOS AUGUSTO GOMES CORREIA, 1ª
Câmara Direito Privado, publicação 21.09.2023)

Ementa: APELAÇÃO. DIREITO PRIVADO NÃO ESPECIFICADO. PLATAFORMA


SERASA LIMPA NOME. ORIGEM DA DÍVIDA COMPROVADA. PRESCRIÇÃO
INCONTROVERSA. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO. AUSÊNCIA DE
REGISTRO EM ÓRGÃOS DE RESTRIÇÃO AO CRÉDITO. SENTENÇA
MANTIDA. 1. Ao contrário do que alega a recorrente, a origem da dívida está
suficientemente comprovada nos autos. Os registros eletrônicos (telas sistêmicas)
constituem-se de prova prevista na legislação que rege a matéria, que conta com
presunção de veracidade, por terem sido emitidos pela administração pública, incidindo
na espécie a regra do art. 15, § 4º, do Decreto nº 6.523/2008, que trata do Serviço de
Atendimento ao Consumidor - SAC. 3. Pacificou-se o entendimento, no âmbito deste
Tribunal, e especial neste Colegiado, que as plataformas eletrônicas de recuperação de
dívidas foram criadas com a finalidade de facilitar aos consumidores a renegociação de
dívidas independente de sua exigibilidade, não se constituindo de cadastro de
inadimplentes, não implicando "restrição ao crédito" já que o acesso é restrito ao
consumidor, e nem em diminuição de score. 4. Inexiste controvérsia a respeito da
prescrição, que decorre da lei e não da vontade das partes; e ausente cobrança do débito
por parte da demandada. Sequer houve inscrição do nome da autora nos órgãos de
restrição ao crédito, consoante demonstrado nos autos. 5. A cobrança indevida, por si
só, não gera dever de reparação por danos morais, quando inexiste prova de
restrição ao crédito ou de inscrição em cadastros de inadimplentes como ocorre no
caso. APELAÇÃO DESPROVIDA. (Apelação Cível, Nº 50035738520218213001,
Décima Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Jucelana Lurdes
Pereira dos Santos, Julgado em: 28-09-2023)

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE


DÉBITO C/C REPARAÇÃO CIVIL POR DANO MORAL. INCLUSÃO DE DÍVIDA
NA PLATAFORMA SERASA LIMPA NOME. DANO MORAL NÃO
DEMONSTRADO. MEROS ABORRECIMENTOS. ÔNUS DE SUCUMBÊNCIA.
REDISTRIBUIÇÃO. - A responsabilidade civil, consolidada no dever de indenizar o
dano sofrido por outrem, provém do ato ilícito, caracterizada pela violação da ordem
jurídica com ofensa ao direito alheio e lesão ao respectivo titular, nos termos dos artigos
927, 186 e 187 e do Código Civil. - Para configuração do dano moral é indispensável
exsurgir dos autos a violação aos direitos da personalidade da vítima, como sua honra,
imagem, privacidade ou bom nome. - A "Serasa Limpa Nome" é uma plataforma
digital de negociação de dívidas que não se confunde com o banco de dados
administrado pelo Serasa Experian para o cadastro de inadimplentes. - Não há
danos morais a serem indenizados, haja vista que não houve de fato inscrição no
cadastro de inadimplentes. (TJMG- Apelação Cível 1.0000.23.060836-6/001,
Relator(a): Des.(a) Cláudia Maia , 14ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 11/05/2023,
publicação da súmula em 11/05/2023)
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Diante do exposto, conheço do recurso para dar-lhe parcial provimento


reformando parcialmente a sentença para determinar ao Apelado que a dívida disposta às
fls. 20/22 seja excluída da plataforma “Serasa Limpa Nome”, no prazo de 10 dias a contar da
intimação deste julgado, sob pena de multa diária de R$ 100,00 (cem reais), limitada ao valor
total de R$ 3.000,00 (três mil reais).
Com esse resultado, tendo em vista a procedência parcial da ação, redimensiono
os ônus sucumbenciais, devendo cada parte arcar com 50% (cinquenta por cento) das custas e
honorários advocatícios, estes fixados 15% (quinze por cento) sobre o valor atualizado da
causa, mantendo-se a exigibilidade suspensa em relação ao autor (art. 98, § 3.º, CPC)
É como voto.
Fortaleza, data e hora indicadas no sistema.
DESEMBARGADOR FRANCISCO MAURO FERREIRA LIBERATO
Relator

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