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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
GABINETE DESEMBARGADOR FRANCISCO MAURO FERREIRA LIBERATO
RELATÓRIO
Neste rumo, é bem verdade que esta Colenda 1ª Câmara de Direito Privado já
decidiu em outras oportunidades, inclusive em processos de minha relatoria, que seria lícito o
aludido cadastro por não configurar negativação do nome do devedor e não influenciar
negativamente no Score de crédito.
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como se a inscrição das dívidas prescritas na plataforma do Serasa Limpa Nome é uma
forma indevida de cobrança extrajudicial ou não, visto que repercute no cálculo do
score de crédito da recorrente. 4- Ressalte-se que não se discute nestes autos a
regularidade da constituição da dívida, uma vez que a autora/apelante não negou o
débito. Igualmente, não se pleiteia por indenização a título de dano moral. 5- Restou
incontroverso no processo que a dívida discutida, embora exista, visto que sua
constituição foi regular, resta prescrita, conforme reconhecido na sentença
atacada. Contudo, merece reparo o decisum quanto à possibilidade de cobrança
extrajudicial de dívida alcançada pela prescrição, uma vez que, embora persista o
direito creditório, a perda da exigibilidade impede qualquer tipo de cobrança. 6-
Assim, se a pretensão expirou, o credor não pode mais tomar as medidas com vistas a
exigir o débito, seja judicial, seja extrajudicialmente. Nada obstante subsista o direito
creditório, não se pode permitir que este seja cobrado extrajudicialmente, sob pena de
se esvaziar o efeito da prescrição do débito que recai justamente sobre a pretensão. 7-
Desta forma, a plataforma "Serasa Limpa Nome" por ser canal para pagamento e
associa, ainda que reservadamente, o nome da autora à pendência, tal registro tem
finalidade indireta de cobrança, devendo ser cancelado, sob pena de excepcionar
parte dos efeitos da prescrição. 8- Ainda que o referido cadastro não seja acessível a
terceiros, se a obrigação que o ensejara é inexigível, pois alcançada pela prescrição, não
podendo ser objeto de qualquer espécie de cobrança, não pode perdurar, à medida
que não deixa de ser um instrumento de indução ou cobrança administrativa
quando exaurida a possibilidade de exigir o pagamento. 9- Por fim, tendo em vista
que o serviço "Serasa Limpa Nome" está sendo utilizado pela apelada como forma
de cobrança extrajudicial do crédito prescrito, não é possível admitir a
manutenção do nome da apelante em tal cadastro, ou em qualquer outro que vise o
adimplemento da obrigação natural, há muito inexigível. 10- Recurso de apelação
conhecido e provido. Sentença reformada. ACÓRDÃO: Vistos, relatados e discutidos
estes autos, acorda a 2ª Câmara Direito Privado do Tribunal de Justiça do Estado do
Ceará, por unanimidade, conhecer e dar provimento ao recurso de apelação, nos termos
do voto do Relator. Fortaleza, 07 de dezembro de 2022 CARLOS ALBERTO
MENDES FORTE Presidente do Órgão Julgador Exmo. Sr. INACIO DE ALENCAR
CORTEZ NETO Relator(TJCE - Apelação Cível - 0050731-19.2021.8.06.0164, Rel.
Desembargador(a) INACIO DE ALENCAR CORTEZ NETO, 2ª Câmara Direito
Privado, data do julgamento: 07/12/2022, data da publicação: 07/12/2022) (g.n.)
Assim, pela dicção dos dispositivos acima transcritos, é certo que a prescrição
extingue a pretensão do titular quanto à cobrança de dívidas.
“Em essência e na estrutura, a obrigação natural não difere da obrigação civil: trata-se de
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uma relação de débito e crédito que vincula objeto e sujeitos determinados. Todavia,
distingue-se da obrigação civil por não ser dotada de exigibilidade” (In GAGLIANO,
Pablo Stolze e PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito Civil, Obrigações, ,
volume II. 22ª ed, São Paulo: Ed. Saraiva, 2021, p. 131) (g.n.)
Segundo Flávio Tartuce, a obrigação natural “é aquela em que o credor não pode
exigir a prestação do devedor, já que não há pretensão para tanto” (In TARTUCE, Flávio.
Direito Civil – Direito das Obrigações e Responsabilidade Civil, volume 2. 12ªed. São Paulo:
Gen Forense, 2017, p. 114).
Portanto, se a obrigação natural que remanesce da dívida prescrita não pode ser
exigida, entende a doutrina que seu único efeito jurídico é a possibilidade de o credor reter o
pagamento, nos termos do art. 882 do Código Civil, caso a obrigação seja cumprida,
voluntariamente, pelo devedor.
Extrai-se, deste modo, que, uma vez paga a dívida prescrita, não está o credor
obrigado a restituir o valor pago, porém não pode haver vício de consentimento do devedor,
ou seja, não pode ser induzido a erro, assim como não pode ser submetido a meios abusivos
ou coercitivos de cobrança direta ou indireta.
Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo o atendimento
das necessidades dos consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a
proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a
transparência e harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:
I - reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado de consumo;
Art. 43. O consumidor, sem prejuízo do disposto no art. 86, terá acesso às informações
existentes em cadastros, fichas, registros e dados pessoais e de consumo arquivados sobre
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Dispõe ainda, o §4º, do art. 43 do CDC, que tais bancos de dados e cadastros
congêneres são considerados entidades de caráter público. Como cediço, as instituições de
crédito e o comércio em geral possuem convênios que acessam os registros relativos aos
consumidores, aliás, esta é a razão da criação de tais serviços. Proteção ao crédito, não
podendo se olvidar da proteção ao consumidor.
A situação em questão ainda se reveste de maior gravidade, pois, como visto, uma
vez paga a dívida prescrita pelo consumidor induzido, nos termos acima, a fazê-lo, o credor
poderá reter o pagamento na forma do art. 882 do Código Civil.
mil reais). Recurso parcialmente provido para condenar a parte apelada a pagar
indenização por dano moral no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), com os
acréscimos mencionados acima, bem como ao pagamento das custas, despesas
processuais e honorários advocatícios fixados em 20% do valor da condenação.(TJ-SP -
AC: 10099347720218260438 SP 1009934-77.2021.8.26.0438, Relator: JAIRO
BRAZIL FONTES OLIVEIRA, Data de Julgamento: 05/04/2022, 15ª Câmara de
Direito Privado, Data de Publicação: 11/04/2022) (g.n.)Declaratória de inexigibilidade
de débitos c.c. indenização por danos morais. Alegada inscrição indevida do nome do
autor junto ao SERASA (Plataforma Limpa Nome), em decorrência de dívidas
prescritas. R. sentença de parcial procedência. Apelos da empresa ré, Recovery do
Brasil Consultoria S/A. e do autor. Plena aplicação do Código de Defesa do
Consumidor. Preliminar de ilegitimidade passiva bem afastada. Dívida
irremediavelmente prescrita há longa data. Inteligência dos artigos 14 e 43, ambos
do Código Consumerista. Reconhecimento da inexigibilidade, judicial e
extrajudicial, que era de rigor. No caso, logrou o autor comprovar os fatos
constitutivos de seu direito, ante a apresentação do "print" da página do "Serasa
Limpa Nome", onde consta que o lançamento das dívidas prescritas interferiu na
pontuação do "score", tendo sido tal fato minudentemente examinado, de maneira
objetiva, no texto do voto. Inaplicabilidade da Súmula 385, do C. Superior Tribunal de
Justiça. Danos morais vislumbrados. Observância aos princípios da razoabilidade e
proporcionalidade. Recurso de apelação da empresa ré desprovido, restando
parcialmente provido o interposto pelo consumidor.(TJ-SP - AC:
10072996920208260047 SP 1007299-69.2020.8.26.0047, Relator: Roberto Mac
Cracken, Data de Julgamento: 16/12/2021, 22ª Câmara de Direito Privado, Data de
Publicação: 17/12/2021) (g.n.)
Como sabido, o dano moral é caracterizado pela lesão a algum dos direitos da
personalidade, capaz de incutir sentimentos como dor profunda, vergonha, vexame, ansiedade,
inquietude, constrangimento, humilhação, dentre outros.
A propósito: