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Professora: Fernanda Santos Sampaio Santoro

Direito Civil II

CLASSIFICAÇÃO DAS OBRIGAÇÕES. Obrigação de dar


coisa certa e incerta.

As obrigações de dar assumem as formas de entrega ou


restituição de determinada coisa pelo devedor ao credor. Atos de entregar
ou restituir podem ser resumidos no direito das obrigações pela palavra:
tradição.

Obrigação de dar: é aquela em virtude da qual o devedor fica


compelido a promover, em benefício do credor, a tradição da coisa (móvel
ou imóvel).

Tanto nas obrigações de dar coisa certa com nas obrigações de


dar coisa incerta consistirá a prestação na entrega de um ou mais bens ao
credor.

A obrigação de dar é obrigação de prestação de coisa, que pode


ser determinada ou indeterminada. O código civil a disciplina sob títulos de
“obrigações de dar coisa certa” (arts. 233 a 242) e “obrigações de dar coisa
incerta” (arts. 243 a 246).

OBRIGAÇÃO DE DAR COISA CERTA


Nessa modalidade, o devedor se compromete a entregar ou a restituir ao
credor um objeto perfeitamente determinado, que consiste na sua
individualidade, como por exemplo, o imóvel localizado em determinada
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rua e número.

Na obrigação de dar coisa certa o credor não é obrigado a receber


prestação diversa, ainda que mais valiosa.

O credor também não pode exigir coisa diferente, ainda que


menos valiosa. Na obrigação de dar coisa certa não se aplica a regra da
obrigação facultativa.

Perda ou perecimento = prejuízo total


Deteriorização = prejuízo parcial
Restituir = devolução.

Previsão no Código Civil

Art. 233 C.C. aplica-se o princípio que o acessório segue o


principal (frutos, produtos e benfeitorias) exceto às pertenças.

Art. 234 C.C. O devedor é obrigado a conservar a coisa certa. Se


a coisa for destruída sem culpa do devedor, como por exemplo por um raio,
resolve-se (extingue a obrigação para ambas as partes. Se já recebeu o valor
da coisa, deverá devolver. (sofrerá o prejuízo, mas não será obrigado a
pagar por perdas e danos. Se for por culpa, deverá devolver o valor e mais
perdas e danos.
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Art. 235 C.C. Em caso de deterioração ou perda parcial por culpa


ou não do devedor, pode o credor optar por resolver a obrigação (exigindo
o equivalente em dinheiro) ou aceitá-la no estado em que se encontra, com
o abatimento do preço, proporcional a perda.
Art. 236 C.C. Havendo culpa, as perdas e danos são devidas,
respondendo o culpado pelo equivalente em dinheiro da coisa.

Melhoramento é a mudança para melhor, em valor, em


utilidade, em comodidade, na condição e no estado físico da coisa. Até a
tradição, na obrigação de entregar, a coisa continuará pertencendo ao
devedor “com os seus melhoramentos e acrescidos, pelos quais poderá
exigir aumento no preço; se o credor não anuir, poderá o devedor resolver a
obrigação. (art. 237 C. C.)
Art. 238 C.C. Perecimento da coisa sem culpa do devedor, o
prejudicado será o credor. Se a obrigação for restituir um animal
emprestado, o devedor deverá pagar o equivalente. Os frutos até o dia da
perda serão do credor.
Art. 239 C.C. Se o perecimento for por culpa do devedor,
responderá este pelo equivalente, mais perdas e danos.

Art. 240 CC “se a coisa restituível deteriorar sem culpa do


devedor, recebê-la-á o credor, tal qual se ache, sem direito a indenização;
se por culpa do devedor, responderá este pelo equivalente, mais perdas e
danos.

Ex. O inquilino alugou um apartamento de canto e a parede


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externa do prédio deu infiltração, atingindo a parede dos armários


estragando-os, nesse caso o devedor não teve culpa.

Mas se os armários estragaram porque o inquilino deixou as


janelas no período de chuvas, possibilitando a infiltração da parede
próxima aos armários estragando-os, o devedor responde.

Art. 241 CC “Se no caso do art. 238, sobrevier melhoramento ou


acréscimo à coisa, sem despesa ou trabalho do devedor lucrará o credor,
desobrigado de indenização.

Ex. o proprietário aluga uma chácara e no período que o


inquilino permanece a Caesb vai fazer a ligação de água na região.

Art. 242 CC “Se para o melhoramento ou aumento, empregou o


devedor trabalho ou dispêndio, o caso se regulará pelas normas do CC
atinentes às benfeitorias realizadas pelo possuidor de boa-fé ou de má-fé.

Vantagens de dar coisa certa: os melhoramentos e acréscimos


quantitativos e qualitativos do objeto ocorridos até a entrega da coisa
pertencem ao devedor. O devedor fará jus a um aumento no preço.

Ex. o objeto a ser entregue é uma cadela boxe Xita, que depois de
algum tempo venha a ter cria, se o devedor se obrigou a entregar a cadela
Xita, não pode ser compelido a dar os filhotes. Se a entrega da cadela
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atrasar, e em período de atraso nasce os filhotes, esses serão devidos ao


credor.

OBRIGAÇÃO DE DAR COISA INCERTA

o objeto não é considerado em sua individualidade, mas no


gênero a que pertence. Em vez de se considerar a coisa em si, ela
é considerada genericamente. Por exemplo: dez sacas de café,
sem especificação da qualidade.

Critério da qualidade intermediária: A escolha será do devedor,


mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a melhor. (art.
244 CC).

Os efeitos da obrigação de dar coisa incerta devem ser apreciados


em dois momentos distintos: a situação jurídica anterior e a posterior à
escolha. Art. 246 do CC “antes da escolha, não poderá o devedor alegar
perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito”.
Só a partir do momento da escolha é que ocorrerá a individualização e a
coisa passará a aparecer como objeto determinado da obrigação. Antes, o
devedor não poderá alegar perda ou deterioração, ainda que por força maior
ou caso fortuito, pois o gênero nunca perece.
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OBRIGAÇÃO DE FAZER
Abrange o serviço humano em gera, seja imaterial ou
material, a realização de obras e artefatos ou a prestação de fatos
que tenham utilidade para o credor. (Carlos Roberto Gonçalves).

As prestações de fato podem ser:


a) de trabalho físico ou intelectual;
b) trabalho determinado pelo produto, ou pelo resultado;
c) num fato determinado simplesmente pela vantagem que traz ao
credor.
Principal diferença entre obrigações de dar e fazer: nas
obrigações de entregar, concentra-se o interesse do credor no objeto da
prestação, sendo irrelevantes as características pessoais ou qualidades do
devedor. Nas de fazer, ao contrário, principalmente naquelas em que o
serviço é medido pelo tempo, gênero ou qualidade, esses predicados são
relevantes e decisivos.
Espécies: obrigação de fazer infungível, imaterial ou
personalíssima: o devedor é o único que pode cumprir a obrigação, pois foi
contratado pelos seus atributos pessoais. Quando não se tratar de ato ou
serviço cuja execução dependa de qualidades pessoais do devedor, podendo
ser realizada por terceiro, diz-se que a obrigação de fazer é fungível,
material ou pessoal. Para a fungibilidade da obrigação é necessário a
aceitação do credor.
Nos casos de inadimplemento: Se a obrigação de fazer for
inadimplida porque a prestação tornou-se impossível sem culpa do
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devedor, fica afastada a responsabilidade do obrigado.

Seja a obrigação fungível ou infungível, será sempre possível ao


credor optar pela conversão da obrigação em perdas e danos, caso a
inadimplência decorra de culpa do devedor.

Se a obrigação é fungível pode o credor exigir o cumprimento


por terceiro à custa do devedor. Se infungível não há forma direita de
cumprimento, mas meios indiretos que podem ser acionados
cumulativamente com o pedido de perdas e danos, como a multa diária,
conhecida com astreintes no direito Francês, que incide enquanto durar o
inadimplemento da obrigação.

OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER

A obrigação de não fazer está prevista nos arts. 250/251 do CC. É


a única obrigação negativa admitida no Direito Privado.

Configura-se pelo compromisso de abstenção de uma conduta, de


modo que o devedor fica proibido de praticar um determinado ato, sob pena
de inadimplemento. É uma abstenção juridicamente relevante. Exemplo:
não despejar lixo em determinado local; não divulgar segredo industrial;
não construir acima do terceiro andar; não abrir um estabelecimento
comercial nesta vizinhança; não poluir o meio ambiente; não concorrer
num determinado ramo do comércio etc.
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Mas, quais as consequências do descumprimento da obrigação de


não fazer?
Mais uma vez, em sendo um descumprimento desprovido de
culpa do devedor, a obrigação se resolve. Exemplifica-se com o sujeito que
se obriga perante o vizinho a não erguer o muro acima de determinada
altura, mas é obrigado a fazê-lo por ordem do Poder Estatal. Aqui se
resolve a obrigação, com o retorno ao status quo ante e devolução de
eventuais valores.
Caso, porém, o descumprimento seja culposo, teremos que
verificar se está diante de uma obrigação transeunte (instantânea) ou
permanente. Trata-se de classificação que leva em consideração o fato de a
obrigação de não fazer ser reversível ou não.

A obrigação de não fazer transeunte (ou instantânea) é aquela


onde só cabe ao credor, para o caso de inadimplemento, pedir perdas e
danos. É irreversível. Já na obrigação de não fazer permanente, o credor
poderá exigir, caso tenha interesse, o desfazimento do ato (que pode ser
feito por terceiro ou pelo próprio credor), mais as perdas e danos.

OBRIGAÇÕES DIVISÍVEIS E INDIVISÍVEIS

 Obrigações Divisíveis
As obrigações divisíveis são aquelas que admitem o
cumprimento fracionado ou parcial da prestação.
ART 257 CC “havendo mais de um devedor ou mais de um
credor em obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas
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obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores”


Assim, se a obrigação é de dar 100 sacas de café e tiver quatro
devedores, todos terão que dar 25 sacas.

 Obrigações Indivisíveis
As obrigações indivisíveis, por sua vez, só podem ser cumpridas
por inteiro.
ART. 258 CC “A obrigação é indivisível quando a prestação tem
por objeto uma coisa ou um fato não suscetível de divisão, por sua
natureza, por motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do
negócio jurídico”
A indivisibilidade poderá ser:
Natural ou material: quando decorre da própria natureza da
prestação, ex: entrega de um touro reprodutor;
Legal ou jurídica: quando decorre de norma legal ex: terreno de
uma casa em determinado bairro.
Convencional: quando decorre da vontade das partes, ex:
contrato.

Fontes bibliográficas utilizadas:

GAGLIANO, Pablo Stolze. Novo curso de direito civil: obrigações. 11. ed. São Paulo:
Saraiva, 2010. v 2.
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VENOSA, Silvio de Salvo. Direito civil: teoria geral das obrigações e teoria geral dos
contratos. 10 ed. São Paulo: Atlas, 2010. v. 2.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2010, v.
2.

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