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DIREITO

CIVIL
Professor Cristiano Sobral



PARTE ESPECIAL Cuidado: a obrigação propter rem não se consubstancia
apenas no pagamento de valor pecuniário. Deve ser uma
DIREITOS DAS OBRIGAÇÕES obrigação devedor/credor, mas esta pode ser
consubstanciada em um dar (dinheiro ou qualquer bem),
1. INTRODUÇÃO um fazer ou um não fazer. Assim sendo, o respeito às
limitações dos direitos de vizinhança são obrigações
O direito das obrigações é o ramo do Direito Civil propter rem, pois consistem em obrigações de não fazer
que se ocupa em estudar a relação jurídica que existe entre do proprietário para respeito a direito de vizinhos.
devedor e credor, onde este pode exigir daquele o
cumprimento de uma prestação, que pode consistir em um 2. MODALIDADE DAS OBRIGAÇÕES
dar, um fazer ou um não fazer.
As modalidades de obrigações decorrem de dois
A obrigação tem, portanto, três elementos: tipos de classificações: básica e especial. Em uma
devedor, credor e vínculo jurídico. O vínculo jurídico é a classificação básica, a depender da natureza da prestação,
ligação que existe entre o devedor e o credor, que é a obrigação pode ser de três tipos: obrigação de dar,
composta por dois elementos: débito e responsabilidade. obrigação de fazer e obrigação de não fazer. Em uma
Significa que há duas questões ligando devedor e credor: classificação especial, o CC trata de mais três tipos de
a existência de uma dívida (débito) e a possibilidade de modalidades: obrigação alternativa, obrigação divisível ou
cobrança judicial em caso de inadimplemento indivisível e obrigação solidária.
(responsabilidade).
2.1. Obrigação de dar
Tema importante diz respeito à obrigação
natural. É a obrigação em que o vínculo jurídico é A obrigação de dar é aquela em que a prestação do
formado apenas pelo débito, não existindo devedor consiste na entrega de um bem. A obrigação de
responsabilidade. Existe uma dívida, mas, se não for dar pode ser de dois tipos: dar coisa certa ou dar coisa
cumprida a prestação, o credor não tem o poder de exigi- incerta. Na obrigação de dar coisa certa, o devedor tem a
la judicialmente. No entanto, se adimplida prestação de entregar um bem específico. Por exemplo,
espontaneamente ou até mesmo por engano, não se pode quando alguém vende o cavalo campeão de sua fazenda.
exigir devolução, pois o débito existe (art. 882 do CC). É Já a obrigação de dar coisa incerta é aquela em que o
o que chamamos de soluti retentio (retenção de devedor assume a obrigação de dar um gênero em certa
pagamento). Exemplo de obrigação natural: dívida de jogo quantidade - por exemplo, quando alguém vende três
ou aposta. cavalos de sua fazenda.

A obrigação propter rem (em razão da coisa), 2.1.1. Obrigação de dar coisa certa
como o nome sinaliza, é direito obrigacional
(confrontando devedor e credor) e não direito real. É a obrigação de dar um bem específico, não
Todavia, tem uma especificidade: é a obrigação que surge servindo outro de mesma espécie, como quando uma
em razão da aquisição de um direito real. Ao se adquirir pessoa vende o cavalo campeão de sua fazenda. Na
um direito real, seu titular adquire algumas obrigações de verdade, há dois tipos de obrigação de dar coisa certa: dar
devedor perante credor. Exemplos: obrigação de pagar e restituir. A razão é que quando tenho a obrigação de
condomínio quando se adquire o direito de propriedade de devolver um bem que recebi, não posso impor a entrega de
um apartamento ou o dever que o proprietário tem de outro de mesma espécie. Portanto, tenho obrigação de dar
indenizar o possuidor que realiza benfeitorias em seu coisa certa tanto quando tenho que entregar um cavalo que
imóvel, nos termos destacados em direitos reais. vendi quanto quando tenho que devolver um cavalo que
me foi emprestado.
Como a obrigação propter rem surge por força da
titularidade de um direito real, acompanha o bem se O tema vem previsto entre os arts. 233 e 242 do
houver transferência dele, ou seja, o novo titular do direito CC, onde um único tema é tratado: perda ou deterioração
real a assume. Exemplo: quem compra um apartamento do bem depois que assumo a obrigação de dar, mas antes
assume as obrigações de pagar condomínio, até mesmo da efetiva entrega. Como é obrigação de dar coisa certa,
aquelas que estejam em atraso. não sendo possível a entrega de outro bem equivalente,
qual é a consequência? Quem suporta o prejuízo? É isso
que a prova exigirá de você saber e as possibilidades são
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muitas, pois pode ser com culpa ou sem culpa do devedor, c) Prestação de dar, deterioração do bem, com culpa do
pode ser um dar ou um restituir, pode ser perda ou devedor (art. 236): Devedor de um carro por tê-lo
deterioração ou até mesmo uma melhora no bem. vendido ao credor, mas antes da entrega o amassa ao bater
por dirigir embriagado. O credor poderá escolher entre
Questão recorrente em certames, apresento um receber o equivalente mais perdas e danos ou aceitar o bem
macete para que você, caro leitor, conheça todos os casos no estado em que se acha acrescido de perdas e danos,
previstos nos citados artigos. Basta conhecer uma regra incluindo o abatimento do valor em razão da deterioração.
básica, à qual somamos duas regras acessórias lógicas:
d) Prestação de dar, deterioração do bem, sem culpa do
REGRA BÁSICA: Se o devedor teve culpa na perda do devedor (art. 235): Devedor de um carro por tê-lo
bem, a regra sempre será a mesma: deverá pagar ao credor vendido ao credor, mas antes da entrega o carro é
o equivalente acrescido de perdas e danos. Se o devedor amassado por bater em um poste ao ser levado pela
não teve culpa na perda do bem, a regra será sempre a correnteza da inundação provocada por violenta
mesma: res perit domino (a coisa perece para o dono), será tempestade. Consequência: credor poderá optar em
dele o prejuízo. E quem é o dono? Depende se a obrigação resolver a obrigação (desfazer o negócio) ou aceitar o carro
é de dar ou de restituir. Na obrigação de dar, antes da amassado, abatendo do seu preço o valor perdido pela
entrega o dono é o devedor, pois a aquisição da deterioração. Note que é o dono (devedor do carro) que
propriedade só se dá com a entrega do bem. Na obrigação sofre a perda, pois ficou sem dinheiro e com o carro
de restituir, o dono é o credor, pois ele sempre foi o dono, amassado ou sem o carro pagando pela deterioração.
uma vez só ter emprestado para o devedor.
e) Prestação de dar, melhora do bem (art. 237):
REGRA ACESSÓRIA 1: Se ao invés de perda, houver Devedor de uma fazenda por tê-la vendido ao credor, mas
apenas deterioração do bem, a solução é a mesma, mas antes da entrega o bem se valoriza em razão do acréscimo
com uma diferença: ele poderá optar entre a solução da de terra trazido pela correnteza das águas (fenômeno
perda supramencionada ou receber o bem deteriorado, chamado de avulsão). O vendedor poderá pedir aumento
abatendo-se o valor da deterioração. de preço, pois é o dono e ele se beneficia com a vantagem.
Se o comprador não aceitar pagar o acréscimo, poderá o
REGRA ACESSÓRIA 2: Se a coisa perece para o dono, vendedor resolver a obrigação, ou seja, desfazer a venda.
a coisa também melhora para o dono, ou seja, se, ao invés E se, ao invés de melhoramento ou acrescido, o bem deu
da perda ou deterioração, houver uma melhora no bem frutos? Os frutos percebidos ou colhidos antes da tradição
antes da entrega, quem dela se beneficiará será o dono. são do devedor, pois ele ainda é dono do bem, mas se
pendente quando da tradição, será do credor, pois o bem
Vamos analisar, com base no macete apresentado, acessório segue a sorte do bem principal. Assim, se o
as regras dos arts. 234 a 242 do CC. Qual a consequência devedor vende uma cadela para entregar tempo depois e
da perda, deterioração ou melhora do bem antes da antes da entrega fica prenha, se na época da entrega o
tradição, no caso da prestação de dar e no caso da prestação filhote já nasceu será do vendedor, mas se estiver na
de restituir? barriga da cadela na época da entrega, será do comprador.

a) Prestação de dar, perda do bem, com culpa do f) Prestação de restituir, perda do bem, com culpa do
devedor (art. 234): Devedor de um carro por tê-lo devedor (art. 239): Devedor de um carro por tê-lo
vendido ao credor, mas antes da entrega o destrói porque recebido emprestado do credor, mas antes da entrega o
provoca um acidente com perda total do carro por dirigir destrói porque provoca um acidente de perda total do carro
embriagado. Será devedor no equivalente (devolve o valor por dirigir embriagado. Será devedor no equivalente
recebido ou não o recebe) acrescido de perdas e danos. (indeniza o valor do carro) acrescido de perdas e danos.

b) Prestação de dar, perda do bem, sem culpa do g) Prestação de restituir, perda do bem, sem culpa do
devedor (art. 234): Devedor de um carro por tê-lo devedor (art. 238): Devedor de um carro por tê-lo em
vendido ao credor, mas antes da entrega o carro cai em empréstimo do credor, mas antes da entrega o carro cai em
uma ribanceira por ser levado pela correnteza da ribanceira levado pela correnteza da inundação provocada
inundação provocada por violenta tempestade. por tempestade. O dono é o credor e ele sofre a perda, ou
Consequência: resolve-se a obrigação, o que significa seja, o devedor não terá que indenizá-lo da perda do carro.
desfazer o negócio. Veja que o dono (devedor do carro)
sofreu a perda, pois ficou sem o carro e sem o dinheiro.
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h) Prestação de restituir, deterioração do bem, com 2.2. Obrigação de fazer
culpa do devedor (art. 240): Devedor de um carro por tê-
lo recebido emprestado do credor, mas antes da entrega o A obrigação de fazer é aquela em que a prestação
amassa ao bater por dirigir embriagado. O credor poderá do devedor consiste na realização de uma atividade, como
escolher entre receber o equivalente mais perdas e danos na contratação da prestação de um serviço. A obrigação de
ou aceitar o bem no estado em que se acha acrescido de fazer pode ser de dois tipos: personalíssima (infungível)
perdas e danos, incluindo o abatimento do valor em razão ou não personalíssima (fungível). Será personalíssima
da deterioração. quando só o devedor puder cumprir a prestação, como na
contratação de um pintor famoso para pintura do retrato do
i) Prestação de restituir, deterioração do bem, sem credor em um quadro. Será não personalíssima quando não
culpa do devedor (art. 240): Devedor de um carro por tê- só o devedor, mas outra pessoa também puder cumprir a
lo recebido emprestado do credor, mas antes da entrega o prestação, como a contratação de um pintor para pintura
carro é amassado por bater em um poste ao ser levado pela das paredes de uma casa.
correnteza da inundação provocada por violenta
tempestade. O dono é o credor, que sofrerá a perda, pois a Por que diferenciar? Se for obrigação
lei diz que ele receberá o bem deteriorado sem direito de personalíssima e o devedor se recusa a cumpri-la ou por
indenização. sua culpa se tornou impossível, responde por perdas e
danos. Se for obrigação não personalíssima, poderá o
j) Prestação de restituir, melhora do bem (art. 241 e credor optar em reclamar indenização por perdas e danos
242): Devedor de uma fazenda por tê-la recebida ou mandar executar às custas do devedor. Como isso é
emprestada do credor, mas antes da entrega o bem se feito? Ajuizamento de ação com orçamento do serviço,
valoriza em razão do acréscimo de terra trazido pela pedindo condenação do devedor do fazer a pagar. Todavia,
correnteza das águas (fenômeno chamado de avulsão). Por se for urgente, poderá o credor mandar executar o fato
evidente, será do credor o ganho, pois ele é o dono do bem, independente de prévia autorização judicial, buscando em
recebendo-o de volta valorizado, desobrigado de juízo depois o ressarcimento do que foi gasto.
indenizar. Se para o melhoramento ou acréscimo houve
trabalho do devedor, é benfeitoria, razão pela qual o art. As obrigações de fazer podem ser classificadas em
242 do CC determina aplicar as regras do direito de obrigação de meio e de resultado ou de fim. Nas
indenização que o possuidor de boa-fé e de má-fé tem em obrigações de resultado, o devedor se vincula a atingir
razão das benfeitorias que faz no bem. determinado resultado, sob pena de inadimplemento e,
consequentemente, dever de indenizar perdas e danos. Já
2.1.2. Obrigação de dar coisa incerta na obrigação de meio, o devedor não se vincula a atingir
determinado resultado, mas sim a corresponder no meio
É a obrigação de dar um gênero em certa para atingi-lo, ou seja, a empregar a diligência na busca do
quantidade, como na venda de três cavalos de uma resultado. Não responde se o resultado não for atingido,
fazenda. Em dado momento, os bens a serem entregues apenas se não empregou a diligência necessária. Um
deverão ser escolhidos, o que chamamos de concentração advogado ou um médico tem obrigação de meio, enquanto
da prestação. A quem cabe a escolha? A quem definido no que, segundo a jurisprudência do STJ, o cirurgião plástico,
contrato. Se nada for dito, a escolha caberá ao devedor, que embora seja um médico, tem obrigação de resultado,
não poderá escolher o pior nem ser obrigado a escolher o quando se tratar de intervenção meramente estética ou
melhor. embelezadora.

Feita a escolha, a obrigação de dar coisa incerta se 2.3. Obrigação de não fazer
transforma em obrigação de dar coisa certa, aplicando-se
as regras que lhe são próprias. No entanto, se antes da A obrigação de não fazer é uma obrigação a uma
escolha o bem se perder ou se deteriorar, mesmo que por abstenção, por exemplo, não levantar um muro divisório.
caso fortuito ou motivo de força maior, o devedor não se Se o devedor descumprir a obrigação, fazendo o que se
exime de cumprir a prestação, pois o gênero não perece, obrigou a não fazer, deverá indenizar o credor em perdas
podendo o bem ser substituído por outro da mesma espécie e danos? Nem sempre, pois às vezes se tornou impossível,
para ser entregue ao credor. sem culpa do devedor, abster-se do ato. Nesse caso, apenas
se resolve a obrigação (volta ao estado anterior do
negócio), não tendo que indenizar perdas e danos.
Exemplo: a pessoa se viu obrigada a levantar o muro para
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impedir que a água invadisse sua casa. Se, porém, 2.5. Obrigações divisíveis e indivisíveis
simplesmente decidiu fazer o que se obrigara a não fazer,
será condenado a indenizar perdas e danos e, se o fizer, Obrigação divisível é aquela em que pode ser
consistir em uma obra, poderá o credor pedir judicialmente fracionado o objeto da prestação, o que não é possível na
para desfazê-la. Se for urgente, poderá mandar desfazer obrigação indivisível. Como exemplo, a obrigação de dar
independente de autorização judicial, buscando em juízo o dinheiro é obrigação divisível e a obrigação de dar um
ressarcimento. cavalo é obrigação indivisível.

2.4. Obrigações alternativas Só há importância em determinar o tipo de


obrigação quando houver pluralidade de devedores e/ou
A obrigação alternativa é aquela que compreende credores. Sendo obrigação divisível, não há problema, pois
duas ou mais prestações, mas se extingue com a realização cada um cobra ou é cobrado em sua parte (se não for
de apenas uma delas. Exemplo: obrigação de dar um carro determinada a parte que cabe a cada um, presume-se
ou uma moto. A quem cabe a escolha de que prestação dividida em partes iguais). Entretanto, sendo obrigação
cumprir? Em regra ao devedor, pois a obrigação se indivisível, como cada um cobrará ou será cobrado em sua
extingue com ele cumprindo uma ou outra prestação. parte, já que o objeto não pode ser dividido?
Todavia, o contrato pode prever que a escolha cabe ao
credor. É o que diz o art. 252 do CC, que completa: não Havendo mais de um devedor em obrigação
pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma indivisível, cada um responde por toda a dívida, pois não
prestação e parte em outra. há como fracionar a cobrança. Agora, aquele que pagar a
dívida, sub-roga-se nos direitos do credor perante os
Importante: o que ocorre quando uma ou todas as demais coobrigados (art. 259 do CC). Exemplo: se duas
prestações não puderem ser cumpridas? A resposta irá pessoas devem um cavalo, qualquer um deles pode ser
variar se a escolha cabia ao devedor ou ao credor. cobrado, mas quem pagar poderá cobrar do outro, em
dinheiro, metade do valor do animal.
a) Impossibilidade de uma das prestações: Se a escolha
couber ao devedor, subsiste a obrigação com a outra Havendo mais de um credor em obrigação
prestação (art. 253 do CC). Mesma solução, se a escolha indivisível, qualquer um deles poderá cobrar a dívida por
couber ao credor e a impossibilidade se deu sem culpa do inteiro, tornando-se devedor perante os demais credores
devedor. Todavia, se por culpa dele, o credor poderá exigir nas suas respectivas partes em dinheiro (art. 261 do CC).
a prestação subsistente ou o valor em dinheiro da prestação
impossibilitada, acrescido de perdas e danos (art. 255 do 2.6. Obrigações solidárias
CC). Exemplo: devedor de um carro ou uma moto destrói
a moto ao dirigir embriagado. Consequência: se a escolha Na pluralidade de credores ou devedores em
cabe ao devedor, obrigação simples de dar o carro; se cabe obrigação indivisível, todos são obrigados ou têm direito a
ao credor, pode cobrar o carro ou o valor em dinheiro da toda dívida por ser fisicamente impossível dividir o objeto
moto mais perdas e danos. Se a moto foi destruída da prestação. Todavia, é possível haver obrigação divisível
acidentalmente, mesmo cabendo a escolha ao credor, em que todos são obrigados ou têm direito a toda a dívida
obrigação simples de dar o carro. por determinação da lei ou da vontade das partes: é a
obrigação solidária.
b) Impossibilidade de ambas as prestações: Se a escolha
couber ao devedor e este tiver culpa, ficará obrigado a Imagine dois amigos devendo vinte mil reais a um
pagar o valor da prestação que se impossibilitou por credor. Em tese, cada um deve dez mil reais, mas, se for
último, acrescido de perdas e danos (art. 254 do CC). Se a obrigação solidária, o credor pode cobrar toda a dívida de
escolha couber ao credor e o devedor culpado, poderá qualquer deles (quem paga se sub-roga nos direitos do
reclamar o valor de qualquer uma delas acrescido de credor perante os demais devedores). Por outro lado, se um
perdas e danos (art. 255 do CC, in fine). No entanto, se devedor deve vinte mil reais a dois amigos, em tese, deve
ambas as prestações tornaram-se impossível sem culpa do dez mil reais para cada um deles, mas, se for obrigação
devedor, independe de quem cabe a escolha: extinta estará solidária, qualquer dos credores pode cobrar toda a dívida
a obrigação, ou seja, desfeito o negócio jurídico (art. 256 (quem recebe se torna devedor perante os demais
do CC). credores).

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Portanto, haverá solidariedade quando houver Trata-se de obrigação de dar coisa certa com perda do bem
mais de um devedor ou mais de um credor obrigados ou por culpa do devedor. Conforme visto, torna-se devedor
com direito à totalidade da dívida. A solidariedade não se no equivalente acrescido em perdas e danos, no que
presume, resultando apenas da lei ou da vontade das permanecerá havendo a solidariedade.
partes. A solidariedade pode ser ativa ou passiva, a
depender se a pluralidade está no pólo ativo ou passivo da Atenção: O art. 274, CC sofreu alteração de acordo com
obrigação. disposto no art. 1.068, do CPC/15 com a seguinte redação:
“Art. 274. O julgamento contrario a um dos credores
2.6.1. Solidariedade ativa solidários não atinge os demais, mas o julgamento
favorável aproveita-lhes, sem prejuízo de exceção pessoal
É a obrigação em que há mais de um credor, cada que o devedor tenha direito de invocar em relação a
um deles com direito a toda a dívida. No vencimento, qualquer deles.”
qualquer credor pode se antecipar e cobrar toda a dívida
ou, enquanto nenhum deles a cobrar, o devedor se libera
pagando a qualquer deles. Quem receber, responde perante 2.6.2. Solidariedade passiva
os demais credores, tornando-se devedor nas partes que
lhes cabe. É a obrigação em que há mais de um devedor, cada
um deles obrigados a toda a dívida. Significa que o credor
O mesmo ocorre se um dos credores remitir tem direito de exigir de qualquer deles o valor total da
(perdoar) a dívida. Devedor deve trinta mil reais a três dívida, mas quem pagar se tornará credor dos demais
credores solidários e um deles perdoa toda a dívida. Este devedores nas suas respectivas partes (internamente não há
se tornará devedor de dez mil reais a cada um dos demais solidariedade). Se o credor optar cobrar apenas
credores, como se ele tivesse se antecipado e cobrado o parcialmente de um dos devedores solidários, os demais
devedor (art. 272 do CC). Cuidado: é diferente quando continuam obrigados solidariamente pelo resto.
credor solidário perdoa sua parte. Nesse caso, subsiste a
solidariedade para os demais credores depois de sua parte Se um dos devedores solidários falecer, a
ser descontada. No exemplo citado, o devedor continua a solidariedade é transferida aos seus herdeiros? Não, pois,
dever vinte mil reais a dois credores solidários. como visto, a solidariedade é personalíssima. Significa que
os herdeiros só podem ser cobrados na quota que
A solidariedade é personalíssima, ou seja, se um corresponde ao seu quinhão hereditário. Todavia, há duas
dos credores falecer e deixar herdeiros, estes não se exceções: se a obrigação for indivisível (ex: devedores
tornarão credores solidários. Significa que cada um de seus solidários devem um cavalo) ou se os herdeiros forem
herdeiros só poderá exigir e receber a quota que cobrados juntos através do espólio, pois o direito das
corresponder ao seu quinhão hereditário. Imagine um sucessões preceitua que o espólio se sub-roga nos deveres
devedor devendo trinta mil reais a três credores solidários, do de cujos.
sendo que um deles morre deixando dois filhos. Os filhos
não poderão cobrar os trinta mil, pois não se tornam Atenção: a lei dá tratamento diferente quanto à
credores solidários. Cada um só poderá cobrar a parte que manutenção da solidariedade no que se refere ao
lhe cabe na herança, ou seja, cada um só pode cobrar cinco pagamento de perdas e danos e de juros que podem ser
mil reais. irradiados da obrigação, pois nas perdas e danos não
subsiste a solidariedade. Mas nos juros, sim.
Todavia, em dois casos, os herdeiros poderão
cobrar a dívida toda: se a obrigação for indivisível Se devedores solidários têm obrigação de dar um
(exemplo: o devedor deve um cavalo aos três credores carro e, por culpa de um deles, este é destruído, a
solidários) ou, segundo jurisprudência do STJ, se os obrigação se converte no pagamento do valor equivalente
herdeiros cobrarem juntos através do espólio, pois no acrescido de perdas e danos. No valor equivalente, todos
direito das sucessões aprendemos que o espólio se sub- continuam devedores solidários, mas pelas perdas e danos
roga nos direitos do de cujos. só responde o culpado (art. 279 do CC). Todavia, se um
dos devedores solidários dá causa a acréscimo de juros ao
Nos termos do art. 271 do CC, convertendo-se a valor devido, todos respondem solidariamente pelo valor
prestação em perdas e danos, nelas subsistem a dos juros, pois o pagamento de juros é uma obrigação
solidariedade. Imagine um devedor de um carro a três acessória e o acessório segue a sorte do principal (art. 280
credores solidários, mas o destrói ao dirigir embriagado. do CC).
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Importante (art. 285 do CC): Conforme vimos, o responderá se vier expresso no contrato. Quando o cedente
devedor solidário que paga a dívida pode cobrar dos não responde pela solvência do devedor, a cessão é
demais devedores a parte que lhes cabe (se nada for dito, chamada de cessão de crédito pro soluto; quando o cedente
presume-se dividida em partes iguais). Todavia, se a responde pela solvência do devedor, é chamada de cessão
dívida solidária interessar exclusivamente a um dos de crédito pro solvendo.
devedores solidários, responderá este por toda a dívida
quando da ação regressiva aos demais credores. O Embora o cedente, em regra, não responda pela
exemplo típico é o contrato de fiança. Quando há renúncia solvência do devedor, ele responde pela existência do
ao benefício de ordem, devedor principal e fiador são crédito, ou seja, se ceder um crédito que não existe, aí sim
devedores solidários. Se o fiador for cobrado, poderá poderá ser cobrado pelo cessionário. O cedente responderá
cobrar em regresso do devedor principal não só a metade pela existência do crédito tendo o cedido gratuita ou
da dívida, mas sim sua totalidade, pois é uma dívida onerosamente. Se ceder de forma onerosa, responderá
contraída no seu exclusivo interesse. Da mesma forma, tendo agido de má-fé ou até mesmo de boa-fé, pois recebeu
sendo caso de mais de um fiador e um deles sendo cobrado pela cessão, devolvendo o valor auferido. No entanto, na
pela dívida, só terá ação regressiva contra o devedor cessão gratuita, como nada recebeu em troca, só
principal na totalidade da dívida, não tendo ação contra os responderá se tiver procedido de má-fé, ou seja, se sabia
demais cofiadores. da inexistência do credito que cedeu.

3. TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES Por fim, na cessão de crédito vigora o princípio da


oponibilidade das exceções pessoais contra terceiros. O
Haverá transmissão da obrigação quando houver que significa isso? Quando o cessionário cobrar a dívida
uma substituição subjetiva em seus polos, ou seja, uma do devedor, este poderá se defender alegando as defesas
troca de devedor ou de credor. São dois os tipos de pessoais que cabiam contra o cedente (art. 294 do CC).
transmissão das obrigações: cessão de crédito e assunção Exemplo: o devedor comprou um carro usado do credor,
de dívida. Na cessão de crédito há uma substituição no mas não vai pagar porque apresentou vício redibitório. Só
polo ativo, ou seja, há uma troca de credores, pois o credor que o credor cedeu o crédito a um terceiro, que é quem
cede a um terceiro o seu crédito. Na assunção de dívida há cobra a dívida. O devedor poderá se defender contra o
uma substituição no polo passivo, ou seja, uma troca de cessionário alegando o vício redibitório, mesmo sendo
devedores, pois um terceiro assume a obrigação do uma defesa pessoal contra o cedente.
devedor.
3.2. Assunção de dívida
3.1. Cessão de crédito
A assunção de dívida se caracteriza pela
A cessão de crédito se caracteriza pela substituição no polo passivo da obrigação, havendo uma
substituição no polo ativo da obrigação, havendo uma troca de devedores. A lei permite que terceiro assuma a
troca de credores em razão da alienação, gratuita ou dívida do devedor, mas exige a concordância expressa do
onerosa, de um crédito a um terceiro, que se tornará o novo credor. No entanto, independe de consentimento do
credor da obrigação. A lei permite a cessão do crédito devedor, podendo a assunção de dívida ser por delegação
quando a isso não se opuser a natureza da obrigação, a lei (com consentimento do devedor) ou por expromissão (sem
ou o acordo das partes. Quem cede o crédito é chamado de consentimento do devedor).
cedente e quem o recebe é chamado de cessionário.
O terceiro que assume a obrigação é chamado de
A cessão do crédito independe da concordância do assuntor. Quando ele assume a obrigação, o devedor
devedor. A lei exige apenas a notificação da cessão, para primitivo está exonerado, pois deixou de ser o devedor.
que ele não pague à pessoa errada. Caso o devedor não seja Todavia, há um caso em que o devedor primitivo não
notificado e pague de boa-fé ao antigo credor, ele estará estará exonerado, podendo ser cobrado pelo credor: se a
desobrigado, só restando ao verdadeiro credor cobrar do cessão foi feita a quem insolvente e o credor a aceitou por
cedente, que indevidamente recebeu o pagamento. não saber do fato.

Em regra, o cedente não responde pela solvência Com a assunção de dívida, salvo consentimento
do devedor, ou seja, caso o cessionário não consiga expresso do devedor primitivo, estarão extintas as
receber o crédito em razão da insolvência do devedor, não garantias dadas por ele, afinal ele não é mais o devedor. Se
poderá cobrar a dívida do cedente. No entanto, ele a substituição vier a ser anulada, restaura-se o débito do
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devedor primitivo, com todas as garantias que existiam. fala-se em interesse jurídico, pois, se o terceiro paga,
Exceção: não retornarão as garantias dadas por terceiros, algum tipo de interesse ele tem. O terceiro será interessado
por exemplo, hipoteca de um bem de terceiro. Exceção da quando puder ser cobrado pela dívida. Assim, um fiador
exceção: a garantia dada por terceiro poderá retornar, caso que paga a dívida do afiançado é um terceiro interessado,
ele soubesse da causa que gerou anulação da substituição. mas o pai que paga a dívida de um filho maior de idade,
embora tenha um interesse sentimental, é considerado um
O assuntor, como novo devedor, poderá alegar que terceiro não interessado.
tipo de defesa ao ser cobrado pelo credor? Com efeito, a
defesa pode ser de dois tipos: comum ou pessoal. Será Se o devedor efetuar o pagamento, extinta estará a
comum quando for defesa de qualquer pessoa que venha a obrigação e ele estará exonerado. Se um terceiro pagar,
ser cobrado pelo credor (ex. prescrição da dívida). Por também estará extinta, mas ele poderá reaver o valor pago,
outro lado, será defesa pessoal quando for exclusiva de embora de forma diferente a depender de quem pagou: se
uma pessoa (ex. compensação de dívida). O assuntor, ao terceiro interessado, sub-roga-se nos direitos do credor; se
ser cobrado, poderá se valer das defesas comuns ou das terceiro não interessado, apenas tem direito de reembolso,
suas pessoais, não podendo se valer das defesas pessoais não se sub-rogando nos direitos do credor. Em ambos os
que cabiam ao devedor primitivo (art. 302 do CC). casos, o terceiro cobra do devedor o que pagou por ele,
mas diferem porque, ao se sub-rogar nos direitos do
4. ADIMPLEMENTO E EXTINÇÃO DAS credor, terá as garantias especiais dadas a ele, o que não
OBRIGAÇÕES ocorre no mero direito de reembolso. Detalhe: isso
ocorrerá se o terceiro pagar em seu nome, pois se pagar em
O meio normal de extinção da obrigação é o nome do devedor, é considerado uma mera ajuda, não
devedor cumprir a prestação, o que chamamos de tendo direito de reaver o que pagou.
pagamento. Note que o sentido técnico de pagamento
difere do seu sentido leigo, pois pagamento é A quem se deve pagar? O pagamento deve ser
coloquialmente usado no sentido de dar dinheiro. feito ao credor ou a quem de direito o represente. Se o
Pagamento em sentido técnico é cumprir a prestação, seja pagamento foi feito à pessoa errada, pagou-se mal e quem
um dar (dinheiro ou qualquer outro bem), um fazer ou até paga mal, paga duas vezes, pois o verdadeiro credor
um não fazer. poderá cobrá-lo. No entanto, em dois casos, o pagamento
feito a um terceiro libera o devedor: se o credor confirmar
No entanto, a obrigação pode ser extinta por meios o pagamento ou tanto quanto provar ter se revertido ao
anormais, havendo extinção da obrigação de uma forma credor.
alternativa, de uma forma diferente do que o cumprimento
da prestação. São as formas anormais de extinção da Há um caso em que o pagamento é feito a um
obrigação: pagamento em consignação, pagamento com terceiro e o devedor está liberado, mesmo que o credor
sub-rogação, imputação de pagamento, dação em não confirme nem se prove a reversão em seu benefício. É
pagamento, novação, compensação, confusão e remissão. o caso do pagamento feito ao chamado credor putativo.
Putativo vem de putare, que significa crer, acreditar.
4.1. Pagamento Haverá credor putativo quando se paga de boa-fé a quem
não é o credor, ou seja, se pagou à pessoa errada, mas havia
Pagamento é o meio normal de extinção da motivos para acreditar ser ele o credor. Um exemplo já foi
obrigação, ou seja, o cumprimento da prestação (dar, fazer visto quando da abordagem do tema cessão de crédito.
ou não fazer). O CC inicia o tema abordando quem deve Vimos que o devedor não precisa concordar, mas deve ser
pagar (chamado de solvens) e a quem se deve pagar notificado da cessão de crédito para saber que o credor
(chamado de accipiens). mudou. Vimos que se não for notificado e de boa-fé pagar
ao cedente, ele está exonerado e a razão é simples: pagou
O CC trata de quem deve pagar, mas, na verdade, a credor putativo.
o que se estabelece são regras sobre quem pode pagar. A
obrigação pode ser paga por qualquer pessoa que tenha No que se refere ao objeto do pagamento, este será
algum tipo de interesse, ou seja, pelo devedor ou por um o cumprimento da prestação. O credor não é obrigado a
terceiro. A lei, no entanto, estabelece consequências aceitar prestação diversa da que lhe é devida, ainda que
diferentes para o pagamento sendo feito pelo devedor, por mais valiosa, afirma o art. 313 do CC. Ainda que a
terceiro interessado ou por terceiro não interessado. obrigação seja divisível, como dever dinheiro, não pode o
Quando se fala em terceiro interessado ou não interessado,
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credor ser obrigado a receber nem o devedor ser obrigado obrigação ou das circunstâncias. Como exemplo, o art. 328
a pagar por partes, se assim não se ajustou. do CC determina que se o pagamento consistir na entrega
de um imóvel ou de prestações relativas a ele deverá ser
Quem paga tem direito de receber uma prova de cumprido onde situado o bem.
que pagou. É o que chamamos de quitação. O instrumento
da quitação é o recibo, que sempre pode ser por 4.2. Pagamento em consignação
instrumento particular. Se o credor se recusar a dar
quitação, o devedor pode legitimamente reter o pagamento Consignação de pagamento significa o depósito
enquanto não lhe for dada. judicial ou em estabelecimento bancário da coisa devida,
o que a lei equipara a pagamento, extinguindo a obrigação.
Assim sendo, em regra, quem prova o pagamento O devedor tem não só o dever de pagar, mas também o
é o devedor, apresentando o recibo recebido como direito de fazê-lo para evitar as consequências de sua
instrumento da quitação. No entanto, em três casos haverá mora. A consignação em pagamento é, portanto, um
presunção de pagamento, dispensando o devedor de provar valioso instrumento para o devedor não suportar os
que pagou. Ocorre que é uma presunção relativa, ou seja, encargos moratórios.
aquela que admite prova em contrário. Desta forma, sendo
um dos casos de presunção de pagamento, não se fixa uma Poderá o devedor consignar pagamento
verdade absoluta de que existiu pagamento, mas sim uma basicamente quando houver mora do credor ou algum
inversão do ônus da prova, pois o devedor não precisa risco para o devedor na realização do pagamento direto.
provar que pagou, mas o credor pode provar que o devedor Nesse sentido, o art. 335 do CC arrola casos de cabimento
não pagou. da consignação em pagamento: se o credor se recusar sem
justa causa a receber o pagamento ou não puder recebê-lo,
São os três casos de presunção de pagamento: se o devedor tiver dúvida sobre quem é o verdadeiro credor
ou se o credor for desconhecido, entre outros.
a) Art. 322 do CC: quando o pagamento for em quotas
periódicas, a quitação da última estabelece, até em prova Feito o depósito, a princípio, suspende a
em contrário, a presunção de estarem solvidas as incidência dos encargos moratórios, mas o devedor deverá
anteriores; propor ação judicial para discussão da matéria, podendo o
credor impugnar o pagamento, pois só exonera o devedor
b) Art. 323 do CC: sendo a quitação do capital sem fazer se observados os mesmos requisitos exigidos para
reserva que os juros não foram pagos, estes se presumem validade do pagamento. Se julgado improcedente, o
pagos; e depósito não terá efeito. O processo tem procedimento
especial previsto no CPC.
c) Art. 324 do CC: a entrega do título firma presunção do
pagamento, presunção que pode ser elidida no prazo de 4.3. Pagamento com sub-rogação
sessenta dias.
Pagamento com sub-rogação é a operação pela
Para se efetuar o pagamento, importa saber o lugar qual o crédito se transfere com todos os seus acessórios a
do cumprimento da obrigação. É nesse lugar que se devem um terceiro que paga dívida alheia. Sub-rogar é substituir,
reunir credor e devedor na data marcada, não podendo o o que significa que haverá aqui uma substituição de credor,
devedor oferecer nem o credor exigir o cumprimento em extinguindo a obrigação com relação ao credor originário.
lugar diverso. A ideia é: A deve a B e um terceiro C paga essa dívida e
agora A deve a C, pois este se sub-rogou nos direitos de B.
No direito comparado, há dois tipos de obrigação:
quérable ou portable. A obrigação quérable (chamada no Como é uma simples substituição no polo ativo, o
Brasil de quesível) é aquela que deve ser cumprida no vínculo se mantém e o novo credor tem todos os
domicílio do devedor e obrigação portable (chamada no privilégios e garantias que tinha o credor originário (art.
Brasil de portável) é aquela que deve ser cumprida no 349 do CC). No entanto, é possível que um terceiro pague
domicílio do credor. No Brasil, conforme previsão do art. dívida alheia e não se sub-rogue nos direitos do credor,
327 do CC, em regra as obrigações devem ser cumpridas caso em que terá mero direito de reembolso contra o
no domicílio do devedor, ou seja, são quesíveis ou devedor, por não ser um dos casos de pagamento com sub-
quérable. Poderá ser portável ou até em outro local a rogação. A diferença é que poderá cobrar dele o que
depender da vontade das partes, da lei, da natureza da pagou, mas sem ter os privilégios e garantias do credor
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originário, pois surge um novo vínculo, uma nova os privilégios e garantias do credor primitivo, não as tendo
obrigação (de reembolso), extinguindo a obrigação o novo credor.
primitiva.
Do exposto acerca da sub-rogação e novação,
A sub-rogação pode ser de dois tipos: legal ou podemos chegar a uma conclusão: quando o pagamento é
convencional, a depender se decorre de lei ou da vontade efetuado por um terceiro, seja interessado ou não
das partes. O CC prevê, em art. 346, os casos em que a interessado, ele poderá reaver do devedor primitivo o que
sub-rogação se opera de pleno direito, ou seja, se um por ele pagou. A diferença é que quando o pagamento é
terceiro paga a dívida, ele se sub-roga automaticamente feito por terceiro interessado, há pagamento com sub-
nos direitos do credor primitivo, independente da vontade rogação, enquanto que no pagamento feito por terceiro não
das partes. Se a lei não prevê como caso de sub-rogação, interessado, há novação, pois se extingue o vínculo
teria o terceiro mero direito de reembolso, mas as partes anterior, surgindo uma nova obrigação com um novo
poderão prever a sub-rogação, passando o terceiro a ter os vínculo (a obrigação de reembolso). Por isso, o terceiro
privilégios e garantias do credor primitivo, o que não interessado terá os privilégios e garantias do credor
existiria no mero direito de reembolso. primitivo, mas o terceiro não interessado não, a não ser que
se valha do pagamento com sub-rogação convencional, ou
Como exemplo, trago um caso visto no estudo do seja, condicionando o pagamento a sub-rogar-se nos
pagamento. Se terceiro interessado paga a dívida do direitos do credor.
devedor, sub-roga-se automaticamente nos direitos do
credor, mantendo-se os privilégios e as garantias (art. 346, 4.5. Imputação ao pagamento
III, do CC). Se terceiro não interessado paga a dívida do
devedor, apenas terá direito de reembolso, não se sub- Se um devedor tem várias dívidas diferentes com
rogando nos direitos do credor (sem os privilégios e um credor, mas não lhe entrega valor suficiente para
garantias do credor originário). No entanto, se o terceiro pagamento de todas, é preciso identificar quais as dívidas
não interessado pagar a dívida do devedor condicionado a foram extintas.
sub-rogar-se nos direitos do credor, haverá pagamento
com sub-rogação convencional e terá o novo credor os Imputação ao pagamento é a indicação da dívida a
privilégios e garantias do credor primitivo (art.347, II, do ser paga quando uma pessoa se encontra obrigada por dois
CC). ou mais débitos com o mesmo credor, sem poder pagar
todos eles. Note que imputação ao pagamento não é bem
4.4. Novação um meio de extinção da obrigação, mas sim a
determinação de que obrigação está extinta quando nem
Novação é o meio de extinção da obrigação pelo todas forem pagas.
surgimento de uma nova obrigação. A novação pode ser
de dois tipos: objetiva ou subjetiva. A novação é objetiva Antes de a lei definir quais obrigações estão
quando a nova obrigação difere da obrigação anterior pela extintas (imputação legal), as partes têm o direto de definir
substituição da prestação (ex. obrigação de dar dinheiro (imputação convencional). Assim, em primeiro lugar,
transformada em obrigação de fazer ou obrigação quem define é o devedor. No seu silêncio, o credor define
veiculada em cheque substituída por obrigação veiculada em quais dá quitação. Se nenhum deles definir, a lei
em nota promissória). A novação será subjetiva quando a definirá, estabelecendo a seguinte ordem: (i) primeiro se
nova obrigação difere da obrigação anterior pela pagam os juros vencidos e só depois o capital; (ii)
substituição do credor (novação subjetiva ativa) ou do pagamento imputado às dívidas vencidas há mais tempo;
devedor (novação subjetiva passiva). (iii) se todas vencidas no mesmo tempo, a imputação será
na mais onerosa (maiores juros ou multas); (iv) se todas no
Importante: qual a diferença entre pagamento com sub- mesmo tempo e mesmos ônus, a lei não dá solução, mas
rogação e novação subjetiva ativa? Em ambos os casos, jurisprudência diz ser de forma proporcional em cada uma
há troca do credor, mas diferem porque no pagamento com das obrigações.
sub-rogação o vínculo se mantém, havendo apenas a troca
de credor, enquanto que na novação, extingue-se o vínculo 4.6. Dação em pagamento
anterior, surgindo uma nova obrigação com um novo
vínculo. Consequência: no pagamento com sub-rogação se Dação em pagamento é a forma de extinção da
mantém para o novo credor os privilégios e garantias do obrigação através da qual o credor aceita receber
credor primitivo, enquanto que na novação, extinguem-se prestação diversa da que lhe é devida. Conforme visto, nos
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termos do art. 313 do CC, o credor não é obrigado a aceitar ou seja, não com ele, pois o fiador não é devedor em causa
prestação diversa da contratada, ainda que mais valiosa. própria, mas mero garantidor de uma dívida do afiançado
Porém, nada impede que o credor aceite prestação diversa, (art. 371 do CC).
caso em que haverá extinção da obrigação de uma forma
anormal, que não pelo pagamento, chamada de dação em 4.8. Confusão e Remissão
pagamento.
Confusão é a forma de extinção das obrigações
A evicção é a perda judicial ou até administrativa por reunirem na mesma pessoa a qualidade de credor e
de um bem em razão de vício jurídico anterior à alienação. devedor. Imagine um pai que deve uma quantia em
Quem vende não poderia ter vendido e quem compra perde dinheiro a seu filho, que é seu único herdeiro. Com a morte
para um terceiro, buscando do alienante uma indenização. do pai, o filho assume o débito, mas ele próprio é o credor,
Se o devedor dá coisa diversa em pagamento e o credor a gerando extinção da obrigação pela confusão. A confusão
perde pela evicção, restabelece-se a obrigação primitiva, pode se verificar a respeito de toda a dívida (total) ou só
ficando sem efeito a quitação dada, ressalvados os direitos de parte dela (parcial). No exemplo citado, se são dois
de terceiro (art. 359 do CC). filhos, tendo o credor um irmão, só haverá extinção da
obrigação relativa à metade da dívida (espólio é devedor
4.7. Compensação de metade do valor para o filho credor).

Compensação é a forma de extinção das Remissão é a forma de extinção da obrigação com


obrigações entre duas pessoas que são, ao mesmo tempo, o perdão da dívida pelo credor. Cuidado: não confunda
credora e devedora uma da outra. O meio normal de remissão com remição. A causa de extinção da obrigação
extinção da obrigação é o pagamento, ou seja, o é a remissão, é o ato de remitir, que significa perdão,
cumprimento da prestação. Todavia, quando duas pessoas perdoar. Remição ou ato de remir não é causa de extinção
são devedoras e credoras uma da outra, não há sentido que da obrigação, pois significa resgate, resgatar.
os pagamentos sejam feitos para extinção das obrigações.
Compensam-se as dívidas e extintas estão as obrigações Tanto na confusão quanto na remissão há um
até onde se compensarem. aspecto importante para você saber sobre obrigações
solidárias. Confusão ou remissão entre credor e um dos
A compensação pode ser de dois tipos: legal ou devedores solidários ou entre o devedor e um dos credores
convencional, a depender se decorre da lei ou da vontade solidários: mantém-se a solidariedade entre os demais,
das partes. A compensação legal se dará automaticamente, descontada a parte remitida ou da confusão parcial.
bastando presentes os requisitos legais, quais sejam:
reciprocidade das obrigações (um deve ao outro e vice Exemplo: Imagine três devedores solidários em
versa), liquidez e vencimento das prestações e envolverem trinta mil reais ao pai de um deles (solidariedade passiva).
bens fungíveis entre si (não basta serem bens fungíveis, Com a morte do pai ou do filho ou se o pai perdoar só a
devem ser substituíveis entre si, ou seja, homogêneos, por dívida do filho, os outros dois devedores serão solidários
exemplo, dinheiro por dinheiro ou saca de café por saca de em vinte mil reais. Da mesma forma, imagine que um
café, não podendo ser dinheiro por saca de café). Mesmo devedor deve trinta mil reais a três credores solidários,
ausentes tais requisitos, ainda sim poderá haver sendo um deles o pai do devedor (solidariedade ativa).
compensação, mas será convencional, por depender da Com a morte do pai ou do filho ou se o pai perdoar só a
vontade das partes. Nada impede, portanto, haver dívida do filho, os outros dois credores serão solidários em
compensação de uma dívida vencida com outra a termo, vinte mil reais.
com bens infungíveis ou de natureza diferente (dinheiro
por saca de café), mas será compensação convencional, 5. INADIMPLEMENTO DAS OBRIGAÇÕES
onde o que importa é a vontade das partes.
5.1. Diferença entre inadimplemento e mora
A reciprocidade é um requisito para a
compensação legal, ou seja, devedor deve ao credor e Quando o devedor não cumpre a prestação,
vice-versa, mas há uma exceção: quando envolver o estamos diante do inadimplemento, que pode ser de dois
fiador. O devedor somente compensa sua dívida para o os tipos: absoluto ou relativo. O inadimplemento é
credor com a dívida do credor contra ele, mas o fiador pode absoluto quando a prestação não é cumprida e não é mais
compensar sua dívida para o credor (é dele devedor porque útil ao credor que o devedor a cumpra - por exemplo,
é fiador) com a dívida que o credor tem com o afiançado, contratação de cantor para cantar em um casamento que
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não comparece à cerimônia. O inadimplemento é relativo credor poderá rejeitar a coisa e pedir perdas e danos, pois
quando a prestação não é cumprida, mas ainda é útil ao ao se tornar inútil a ela, a mora se transformou em
credor que o devedor a cumpra, por exemplo, não inadimplemento absoluto.
pagamento de uma dívida em dinheiro no dia do
vencimento. O inadimplemento absoluto é chamado Completa a ideia de mora o art. 396 do CC, que
simplesmente de inadimplemento e o inadimplemento preceitua não incorrer em mora o devedor quando não
relativo é chamado de mora. haja fato ou omissão imposta a ele. Significa que a mora é
o não cumprimento culposo da obrigação. Se não há culpa,
Note que a diferença entre inadimplemento e mora não há mora. Se uma conta do devedor só pode ser paga
reside no critério de utilidade para o credor. Em ambos os no banco e o vencimento cai em um domingo, ao se pagar
casos, a prestação não é cumprida, sendo inadimplemento no dia seguinte, não há de se falar em mora, tanto que se
se a prestação não é mais útil ao credor e mora se a paga sem encargos moratórios.
prestação ainda é útil ao credor.
O art. 397 do CC nos faz perceber haver dois tipos
Por que diferenciar mora e inadimplemento? Se o de mora: ex re e ex persona. A mora ex re é automática,
caso é de inadimplemento, como a prestação não é mais ou seja, é aquela que independe de ato do credor para o
útil ao credor, a única solução é o pagamento de devedor ser constituído em mora (interpelação judicial ou
indenização por perdas e danos (ar. 389 do CC). Por outro extrajudicial, notificação, protesto ou citação do devedor).
lado, se o caso é de mora, cabe o que chamamos de Por sua vez, a mora ex persona é aquela que precisa de um
purgação ou emenda da mora. O que é isso? É cumprir a dos citados atos do credor para o devedor ser constituído
obrigação, porque ainda útil para o credor, acrescido dos em mora. Quando a mora é ex re e quando é ex persona?
encargos moratórios. Purga-se a mora pagando-se com
retardo, acrescido de: correção monetária, juros de mora, Há dois tipos de obrigações: com dia certo de
perdas e danos decorrentes da mora e eventual honorários vencimento e sem dia certo de vencimento. Quando a
de advogado (art. 395 do CC). obrigação tem um dia certo de vencimento, o devedor não
precisa ser constituído em mora por ato do credor, pois o
5.2. Mora simples não pagamento no vencimento o constitui em
mora (dies interpellat pro homine, ou seja, o próprio dia
O art. 394 do CC diz que se considera em mora o interpela o devedor). Por outro lado, quando a obrigação
devedor que não efetuar o pagamento e o credor que não não tem dia certo de vencimento, o devedor só estará em
quiser recebê-lo no tempo, lugar e forma que a lei ou a mora se for constituído por ato do credor. Assim, quando
convenção estabelecer. Note haver mora não apenas a obrigação é com dia certo de vencimento, a mora é ex re
quando não se paga no tempo devido, mas também se não e quando a obrigação é sem dia certo de vencimento, a
se paga no lugar e na forma devida. Note ainda não haver mora é ex persona.
mora só do devedor, mas também do credor, que ocorre
quando este não quiser injustificadamente receber o O art. 398 do CC demonstra que a mora é ex re
pagamento, sendo o pagamento em consignação a solução quando a obrigação não cumprida decorre de ato ilícito.
para o devedor se livrar dos encargos da mora. Com efeito, ato ilícito civil é causar dano a alguém,
gerando ao causador o dever de indenizá-lo. Poderíamos
Segundo art. 395 do CC, configurada a mora, o pensar ser caso de mora ex persona, pois o devedor deve
devedor pode purgá-la, cumprindo a prestação acrescida ser constituído em mora por um ato do credor, propondo
dos encargos moratórios. Todavia, se a prestação tornar-se ação judicial (citação válida constitui o devedor em mora).
inútil ao credor, este poderá enjeitá-la e pedir perdas e No entanto, tal entendimento é equivocado, pois a lei diz
danos. A razão é simples: se inútil ao credor, deixou de ser que essa mora é automática, independendo de qualquer ato
mora e se transformou em inadimplemento absoluto. do credor. O art. neste momento em análise diz que nas
obrigações provenientes de ato ilícito, considera-se o
Como exemplo, imagine uma costureira que deixa devedor em mora desde que o praticou (a responsabilidade
de entregar o vestido de noiva no prazo estipulado. É caso de reparar o dano fixada na sentença judicial retroage à
de mora ou inadimplemento? Depende. Se ainda não data do ato para aplicar os efeitos da mora).
houve a cerimônia, em razão de a data marcada lhe ser
bastante anterior, o caso é de mora; se já houve a Os arts. 399 e 400 do CC trazem dois efeitos da
cerimônia, em razão da data marcada ter sido na véspera mora, um para mora do devedor e outro para a mora do
do casamento, o caso é de inadimplemento, caso em que o credor:
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a) Efeito da mora do devedor (art. 399 do CC): O emergente, mas também os lucros cessantes, que são os
devedor em mora responde pela impossibilidade da dois tipos de dano material. Dano emergente: prejuízo
prestação, ainda que esta se dê por caso fortuito ou força efetivamente experimentado; lucro cessante: o que se
maior. Se a prestação do devedor se torna impossível sem legitimamente se deixou de ganhar. A eles se acrescenta
culpa do devedor, simplesmente se resolve a obrigação dano moral.
sem qualquer ônus a lhe ser imposto. Todavia, se a
impossibilidade ocorrer durante seu atraso, o devedor Diante de inadimplemento, seja absoluto ou
ficará obrigado a indenizar o credor pela impossibilidade relativo, quem não cumpre o contrato causando dano ao
da prestação, mesmo que esta tenha se dado por caso outro contratante deverá indenizá-lo. A questão é: a
fortuito ou por força maior. Apenas em dois casos, estará responsabilidade civil contratual é subjetiva (depende de
desobrigado de indenização: quando provar isenção de culpa) ou objetiva (independe de culpa)?
culpa no seu atraso (evidente, pois nesse caso não há mora,
pois a mora é o não cumprimento culposo da obrigação) e A responsabilidade civil contratual é subjetiva,
se provar que o dano ocorreria mesmo se a prestação pois só há mora se o não cumprimento da prestação for
tivesse sido cumprida no tempo, lugar ou forma devida, ou culposo. Significa que não há mora e, portanto, não há
seja, mesmo se não houvesse mora. responsabilidade civil contratual, se não houver culpa do
contratante em não cumprir a prestação. O mesmo ocorre
b) Efeito da mora do credor (art. 400 do CC): A mora com o inadimplemento absoluto, que pode ser culposo
do credor, ou seja, se o credor se recusar (com culpa do devedor) ou fortuito (sem culpa do
injustificadamente a receber o pagamento, gera três devedor), mas, em regra, só haverá obrigação de indenizar
efeitos: (i) retira do devedor isento de dolo a se o devedor teve culpa no inadimplemento. Se um cantor
responsabilidade pela conservação da coisa (só indeniza é contratado para cantar no casamento e propositalmente
perda ou deterioração do bem se teve dolo, não não aparece na cerimônia, será responsabilizado em perdas
respondendo se teve culpa stricto sensu, ou seja, e danos, mas se não cumpriu o contrato porque foi
imprudência, negligência ou imperícia); (ii) obriga o sequestrado na véspera, não há de se falar em dever
credor a ressarcir o devedor das despesas que teve para indenizatório.
conservar o bem; e (iii) sujeita o credor a receber o bem
pela estimação mais favorável ao devedor se o seu valor Importante: O art. 393 do CC dispõe que “o devedor não
oscilar entre o dia estabelecido para o pagamento e o da responde pelos prejuízos resultantes do caso fortuito ou de
sua efetivação. força maior, se expressamente não se houver por eles
responsabilizado” Note que, conforme visto, a
5.3. Responsabilidade Civil Contratual responsabilidade civil contratual é subjetiva, mas as partes
podem expressamente prever no contrato que o
Responsabilidade civil é o dever de indenizar um inadimplente responderá mesmo que não tenha cumprido
prejuízo causado. Há dois tipos de responsabilidade civil: o contrato por caso fortuito ou motivo de força maior, ou
contratual e extracontratual. A responsabilidade civil seja, sem ter tido culpa, pois caso fortuito ou motivo de
contratual é aquela em que há um contrato entre as partes, força maior são situações inevitáveis, que o inadimplente
ou seja, um contratante não cumpre o contrato, causando não podia impedir, como no caso do cantor contratado para
prejuízo ao outro contratante, gerando dever de cantar em um casamento que não cumpre a obrigação por
indenização. A responsabilidade civil extracontratual, ter sido sequestrado na véspera.
também chamada de aquiliana, é aquela em que não existe
um contrato entre quem causa e quem sofre o dano, como Qual a diferença, então, entre responsabilidade
no caso de alguém bater no carro de outrem, tendo que civil contratual e responsabilidade civil extracontratual
indenizá-lo. Responsabilidade civil extracontratual é tema subjetiva? Em ambos os casos só há responsabilidade civil
do capítulo responsabilidade civil. Responsabilidade civil diante da existência de culpa do devedor, mas na
contratual é estudada aqui em obrigações, pois ocorre responsabilidade civil contratual, a culpa é presumida.
diante de mora e inadimplemento. Todavia, é uma presunção relativa, ou seja, aquela que
admite prova em contrário, representando, assim, a
O contratante que não cumpre o contrato será inversão do ônus da prova. Na responsabilidade civil
civilmente responsabilizado, mas apenas se isso gerar um contratual, basta ao contratante provar que o outro não
dano ao outro contratante, pois responsabilidade civil é o cumpriu o contrato. Se este não teve culpa no
dever de indenizar um dano causado. Conforme o art. 402 inadimplemento, ele que prove. Por outro lado, se é
do CC, o inadimplente deverá indenizar não só o dano responsabilidade civil extracontratual subjetiva, a vítima
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do dano, ao cobrar perdas e danos, deverá provar que o contrato. Para resolver esse problema, a lei traz como
agressor teve culpa ao causar o dano, pois esta não é solução a cláusula penal, que é uma multa prefixando o
presumida. valor das perdas e danos em razão da mora ou do
inadimplemento.
Quando se diz que a responsabilidade subjetiva
exige a culpa, usa-se o termo culpa em sentido amplo, ou Cláusula penal, portanto, é um pacto inserido no
seja, é o dolo ou a culpa em sentido restrito (imprudência, contrato, impondo multa ao devedor que não cumpre ou
negligência ou imperícia). A princípio, não há diferença na que retarda o cumprimento da prestação.
responsabilidade civil contratual se o inadimplemento foi
por dolo ou por culpa. O art. 404 do CC diz que não Note que há multa tanto para o caso de mora
interfere no valor da indenização se por dolo ou culpa, pois quanto de inadimplemento. Assim, há dois tipos de
o valor da indenização será o valor do dano sofrido. No cláusula penal: moratória e compensatória. A cláusula
entanto, a lei consagrou uma diferença entre penal moratória é para prefixar perdas e danos em razão da
inadimplemento doloso ou culposo no negócio jurídico mora, ou seja, pelo retardamento no cumprimento da
benéfico, ou seja, no contrato gratuito. obrigação, e a cláusula penal compensatória é para prefixar
perdas e danos em caso de inadimplemento absoluto, ou
Nos termos do art. 392 do CC, se o contrato é seja, pelo não cumprimento da prestação.
oneroso, o contratante inadimplente responde por não ter
cumprido o contrato por dolo ou por culpa, mas, se for um Como exemplo, imaginemos um contrato de
contrato benéfico ou gratuito, a parte que não é favorecida locação, cuja prestação do locatário é pagar, durante três
(aquela que não recebe nada em troca) só responde pelo anos, mil reais por mês ao locador. Se no contrato houver
inadimplemento se agiu com dolo, ou seja, não será uma multa no valor de três meses de aluguel para o caso
responsabilizado civilmente pelo não cumprimento do do locatário devolver as chaves antes do fim do contrato,
contrato por culpa em sentido estrito. será uma cláusula penal compensatória, pois o locatário
pagará uma multa por não ter cumprido sua prestação, pelo
Assim sendo, ao doar um bem, o doador só menos em parte. Por outro lado, se houver no contrato uma
responde pela impossibilidade de entregar a coisa doada, multa em razão do locatário atrasar o pagamento do
caso tenha agido dolosamente, por exemplo, se destruiu aluguel por não pagar no dia do vencimento, será uma
intencionalmente esse bem. Não responderá o doador, se o cláusula penal moratória, pois o pagamento da multa é
bem se quebrou porque foi negligente ao usá-lo, caso em para o retardamento no cumprimento da prestação.
que simplesmente se resolverá a obrigação, desfazendo a
doação sem qualquer dever indenizatório ao doador. Se o Note que há dois tipos de cláusula penal, cada uma
contrato for de compra e venda e a coisa se perde com com uma finalidade específica. A cláusula penal
culpa do devedor, vimos que a solução é dar o equivalente compensatória tem a função de compensar o contratante
acrescido de perdas e danos, que será devido tanto no caso por não ter o outro contratante cumprido sua prestação. Já
de dolo quanto de culpa, ou seja, se quebrou a cláusula penal moratória tem a função de intimidar, pois
propositalmente ou se por negligência, pois compra e o contratante pagará uma multa se retardar o cumprimento
venda é contrato oneroso. da prestação.

5.4. Cláusula Penal O art. 408 do CC demonstra que a cláusula penal


é uma prefixação de perdas e danos e que a
Conforme vimos, tanto o inadimplemento quanto responsabilidade civil contratual é subjetiva, pois diz que
a mora podem gerar responsabilidade civil contratual. Em incorre de pleno direito na cláusula penal o devedor que
caso de inadimplemento, o contratante deverá indenizar o culposamente deixe de cumprir a obrigação ou que se
outro em perdas e danos causados pelo não cumprimento constitua em mora. Significa que, em caso de
do contrato e, em caso de mora, o devedor poderá purgá- inadimplemento, o outro contratante pode executar a
la, cumprindo a prestação com retardado, acrescida de multa, independente de provar a extensão do dano em ação
perdas e danos causados pela mora, correção monetária, de conhecimento. E a lei vai mais longe ainda com o art.
juros de mora e honorários advocatícios. 416 do CC, prevendo que sequer é necessário provar que
houve dano, se este foi prefixado no contrato.
O grande problema na responsabilidade civil
contratual é provar o valor da indenização, ou seja, a Uma questão pode ser levantada: se o prejuízo do
extensão do prejuízo causado pelo não cumprimento do contratante for maior do que o valor da multa, poderá ele
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cobrar a diferença? A princípio não, pois o parágrafo único 5.5. Arras
do art. 416 do CC diz que só poderá cobrar eventual valor
a mais, se esta possibilidade estiver expressa no contrato. Arras significam sinal, ou seja, é aquilo que é
Se assim for, o valor da multa já é objeto de execução e o entregue por um dos contratantes ao outro como princípio
valor a mais deverá ser provado em ação de conhecimento de pagamento quando da celebração do contrato para
para seguir a execução por título executivo judicial. Se não confirmação do acordo. A vantagem do adiantamento de
houver permissivo contratual, limita-se a executar a multa. um sinal é confirmar o negócio, pois se houver desistência,
aquele que desistiu perderá o valor das arras para
Há importante diferença na cobrança da cláusula compensar os prejuízos. Se quem deu o sinal desistir, não
penal a depender se compensatória ou se moratória (arts. poderá cobrá-lo de volta; se quem o recebeu desistir,
410 e 411 do CC): no inadimplemento o credor cobra devolverá o valor em dobro (como recebeu arras, a perda
cláusula penal compensatória ou o cumprimento da efetiva será no valor das arras)
prestação enquanto que na mora o credor cobra
cumprimento da prestação e cláusula penal moratória. São dois os tipos de arras: confirmatória e
penitenciais. A diferença decorre se no contrato existe ou
No caso da cláusula penal compensatória, não cláusula de arrependimento.
havendo inadimplemento, esta se converterá em
alternativa a benefício do credor, ou seja, este poderá a) Arras confirmatórias: As arras serão confirmatórias
escolher entre cobrar do contratante inadimplente a multa quando não houver previsão no contrato de direito de
ou o cumprimento da prestação. No exemplo do cantor arrependimento. É o normal, pois as partes celebram um
contratado para cantar no casamento, diante do não contrato não esperando que a outra parte desista. Assim,
comparecimento à cerimônia, o contratante poderá cobrar estipulam um valor de sinal a ser pago imediatamente para
a multa ou pedir para cantar depois, por exemplo, no confirmar o negócio. Se quem deu arras desistir, perderá o
aniversário dele que será na semana seguinte. Sendo sinal dado, mas se quem desistir foi quem recebeu o sinal,
cláusula penal moratória, sobrevindo mora, o credor pode devolverá o dobro do valor.
exigir o cumprimento da prestação acrescido da multa,
pois, se não pagou a dívida no dia, o credor a cobrará b) Arras penitenciais: As arras serão penitenciais quando
acrescido da multa com os demais encargos moratórios. houver previsão no contrato de direito de arrependimento.
Qualquer das partes terá direito de se arrepender, mas tem
Para fechar o tema, é preciso saber que o juiz pode um preço para isso, ou seja, o valor das arras. Se quem
reduzir o valor da cláusula penal compensatória em dois desiste deu arras, perderá o sinal dado, mas se quem
casos previsto no art. 413 do CC: desistir foi quem recebeu o sinal, devolverá o dobro do
valor.
a) Se o valor é manifestamente excessivo: O art. 412 do
CC estipula um valor máximo da cláusula penal Ora, tanto nas arras confirmatórias como
compensatória ao afirmar que ela não pode exceder o valor penitenciais, a consequência é a mesma: se quem desiste
da obrigação principal. No entanto, mesmo dentro desse deu arras, perderá o sinal dado, mas se quem desiste foi
limite, o juiz poderá reduzi-la a pedido da parte se quem recebeu o sinal, devolverá o dobro do valor. Então,
manifestamente excessivo segundo as circunstâncias do pergunto: para que diferenciar uma da outra?
caso.
Para o caso do prejuízo com a desistência ser
b) Se a prestação tiver sido cumprida em parte: a maior que o valor fixado a título de arras. Se forem arras
função da cláusula penal compensatória é compensar o confirmatórias, não há previsão de direito de
contratante pelo fato do outro não ter cumprido a arrependimento e posso cobrar o prejuízo que a desistência
prestação. Assim, se este cumpre parte da prestação, a me acarretar. Como já me beneficiei do valor das arras,
compensação deve ser apenas da parte não cumprida. cobro apenas o prejuízo que tive a mais. No entanto, se
Exemplo: se o contrato de locação diz que o locatário deve forem arras penitenciais, há no contrato previsão de direito
pagar multa de três meses de aluguel se devolver as chaves de arrependimento, sendo fixado um preço para isso, ou
antes do fim do contrato, caso ele devolva tendo cumprido seja, o valor de arras, não podendo o prejudicado cobrar
metade do contrato, não deverá arcar com toda a multa, eventual valor a mais que tenha tido de prejuízo com a
mas apenas metade dela. desistência do outro contratante.

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Diferença: nas arras confirmatórias (quando não há direito *a) Se Ricardo resolver ajuizar demanda em face somente
de arrependimento), o contratante pode cobrar indenização de Joana, as outras irmãs, ainda assim, permanecerão
suplementar, enquanto que não poderá fazê-lo nas arras responsáveis pelo débito.
penitenciais (quando há direito de arrependimento), pois b)Se Joana pagar o preço total do serviço sozinha, poderá
se fixou um preço para isso. cobrar das outras, ficando sem receber se uma delas se
tornar insolvente.
Questões Comentadas: c)Se uma das irmãs de Joana falecer deixando dois filhos,
qualquer um deles deverá arcar com o total da parte de sua
(FGV - Exame de Ordem 2016.3) Felipe e Ana, casal de mãe.
namorados, celebraram contrato de compra e venda d)Ricardo deve cobrar de cada irmã a sua quota-parte para
com Armando, vendedor, cujo objeto era um carro no receber o total do serviço, uma vez que se trata de
valor de R$ 30.000,00, a ser pago em 10 parcelas de R$ obrigação divisível.
3.000,00, a partir de 1° de agosto de 2016. Em outubro Comentários
de 2016, Felipe terminou o namoro com Ana. Em Se Ricardo resolver ajuizar demanda em face somente de
novembro, nem Felipe nem Ana realizaram o Joana, as outras irmãs, ainda assim, permanecerão
pagamento da parcela do carro adquirido de responsáveis pelo débito, conforme dispõe o art. 275, CC:
Armando. Felipe achava que a responsabilidade era de “O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns
Ana, pois o carro tinha sido presente pelo seu dos devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum; se
aniversário. Ana, por sua vez, acreditava que, como o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores
Felipe ficou com o carro, não estava mais obrigada a continuam obrigados solidariamente pelo resto.
pagar nada, já que ele terminara o relacionamento. Parágrafo único. Não importará renúncia da solidariedade
Armando procura seu(sua) advogado(a), que o orienta a propositura de ação pelo credor contra um ou alguns dos
a cobrar devedores. Caso Ricardo ajuize demanda em face somente
a) a totalidade da dívida de Ana. de Joana, as outras irmãs, em razão da solidariedade
b) a integralidade do débito de Felipe. passiva, permanecerão responsáveis pelo débito. Correta a
*c)metade de cada comprador. letra A.
d) a dívida de Felipe ou de Ana, pois há solidariedade
passiva. (FGV – 2015 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XVIII
Comentários: - Primeira Fase) Vitor e Paula celebram entre si, por
De acordo com disposição da lei civil, a solidariedade não escritura particular levada a registro em cartório de
se presume, ela decorre da lei ou da vontade das partes, de títulos e documentos, contrato de mútuo por meio do
acordo com o art. 265. Dispõe o art. 257, do referido qual Vitor toma emprestada de Paula a quantia de R$
diploma legal que havendo mais de um devedor ou mais 10.000,00, obrigando-se a restituir o montante no prazo
de um credor em obrigação divisível, esta presume-se de três meses. Em garantia da dívida, Vitor constitui
dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos em favor de Paula, por meio de instrumento particular,
os credores ou devedores. È a hipótese trazida pela direito real de penhor sobre uma joia de que é
questão. Correta a assertiva de letra C. proprietário. Vencido o prazo estabelecido para o
pagamento da dívida, Vitor procura Paula e explica
(FGV – 2015 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XVIII que não dispõe de dinheiro para quitar o débito.
- Primeira Fase) Joana e suas quatro irmãs, para Propõe então que, em vez da quantia devida, Paula
comemorar as bodas de ouro de seus pais, contrataram receba, em pagamento da dívida, a propriedade da
Ricardo para organizar a festa. No contrato ficou coisa empenhada. Assinale a opção que indica a
acordado que as cinco irmãs arcariam solidariamente orientação correta a ser transmitida a Paula.
com todos os gastos. Ricardo, ao requerer o sinal de a)Para ter validade, o acordo sugerido por Vitor deve ser
pagamento, previamente estipulado no contrato, não celebrado mediante escritura pública.
obteve sucesso, pois cada uma das irmãs informava que b)O acordo sugerido por Vitor não tem validade, uma vez
a outra tinha ficado responsável pelo pagamento.Ainda que constitui espécie de pacto proibido pela lei.
assim, Ricardo cumpriu sua parte do acordado. Ao c)Para ter validade, o acordo sugerido deve ser
final da festa, Ricardo foi até Joana para cobrar pelo homologado em juízo.
serviço, sem sucesso. Sobre a situação apresentada, *d)O acordo sugerido por Vitor é válido, uma vez que
assinale a afirmativa correta. constitui espécie de pacto cuja licitude é expressamente
reconhecida pela lei.
Comentários
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A questão trata da dação em pagamento, perfeitamente deu causa, se o seu valor superar o do sinal dado, sendo
aceito pelo ordenamento jurídico, desde que tenha a devida a comissão do corretor, não obstante o
anuência do credor. A dação em pagamento ocorre quando desfazimento do negócio antes de aperfeiçoar-se.
o credor aceita que o devedor para cumprir a obrigação Comentários
existente entre eles substitua do objeto da prestação, Correta a letra D, conforme os seguintes dispositivos da lei
realizando o pagamento na forma de algo que não estava civil:
originalmente na obrigação estabelecida, em “Art. 418. Se a parte que deu as arras não executar o
conformidade com o art. 356, CC: “O credor pode contrato, poderá a outra tê-lo por desfeito, retendo-as; se a
consentir em receber prestação diversa da que lhe é inexecução for de quem recebeu as arras, poderá quem as
devida.” Correta a letra D. deu haver o contrato por desfeito, e exigir sua devolução
mais o equivalente, com atualização monetária segundo
índices oficiais regularmente estabelecidos, juros e
(FGV – 2015 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XVIII honorários de advogado.
- Primeira Fase) Renato é proprietário de um imóvel e o Art. 419. A parte inocente pode pedir indenização
coloca à venda, atraindo o interesse de Mário. Depois suplementar, se provar maior prejuízo, valendo as arras
de algumas visitas ao imóvel e conversas sobre o seu como taxa mínima. Pode, também, a parte inocente exigir
valor, Renato e Mário, acompanhados de corretor, a execução do contrato, com as perdas e danos, valendo as
realizam negócio por preço certo, que deveria ser pago arras como o mínimo da indenização.”
em três parcelas: a primeira, paga naquele ato a título
de sinal e princípio de pagamento, mediante recibo que (FGV – 2015 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XVII
dava o negócio por concluído de forma irretratável; a - Primeira Fase) Gilvan (devedor) contrai empréstimo
segunda deveria ser paga em até trinta dias, contra a com Haroldo (credor) para o pagamento com juros
exibição das certidões negativas do vendedor; a do valor do mútuo no montante de R$ 10.000,00.
terceira seria paga na data da lavratura da escritura Para facilitar a percepção do crédito, a parte do polo
definitiva, em até noventa dias a contar do fechamento ativo obrigacional ainda facultou, no instrumento
do negócio. contratual firmado, o pagamento do montante no
Antes do pagamento da segunda parcela, Mário termo avençado ou a entrega do único cavalo da raça
celebra, com terceiros, contratos de promessa de manga larga marchador da fazenda, conforme
locação do imóvel por temporada, recebendo a metade escolha a ser feita pelo devedor. Ante os fatos
de cada aluguel antecipadamente. Renato, ao tomar narrados, assinale a afirmativa correta.
conhecimento de que Mário havia celebrado as *a)Trata-se de obrigação alternativa.b)Cuida-se de
promessas de locação por temporada, percebeu que o obrigação de solidariedade em que ambas as prestações
imóvel possuía esse potencial de exploração. Em são infungíveis.
virtude disso, Renato arrependeu-se do negócio e, antes c)Acaso o animal morra antes da concentração, extingue-
do vencimento da segunda parcela do preço, notificou se a obrigação.
o comprador e o corretor, dando o negócio por d)O contrato é eivado de nulidade, eis que a escolha da
desfeito. Com base na hipótese formulada, assinale a prestação cabe ao credor.
afirmativa correta. Comentários
a)O vendedor perde o sinal pago para o comprador, porém
nada mais lhe pode ser exigido, não sendo devida a A questão tem por gabarito a letra A. Trata-se de
comissão do corretor, já que o negócio foi desfeito antes uma obrigação alternativa (ou disjuntiva), prevista nos
de aperfeiçoar-se. arts. 252 a 256, CC. Há uma pluralidade de
b)O vendedor perde o sinal pago para o comprador, porém prestações heterogêneas, porém estas estão ligadas pela
nada mais lhe pode ser exigido pelo comprador. Contudo, disjuntiva “ou”. Obrigação alternativa é a que compreende
é devida a comissão do corretor, não obstante o dois ou mais objetos e extingue-se com a prestação de
desfazimento do negócio antes de aperfeiçoar-se. apenas um, ou seja, existe obrigação alternativa quando se
c)O vendedor perde o sinal pago e o comprador pode devem várias prestações, mas, por convenção das
exigir uma indenização pelos prejuízos a que a desistência partes, somente uma delas será cumprida, sendo que no
deu causa, se o seu valor superar o do sinal dado, não sendo caso à escolha do devedor.
devida a comissão do corretor, já que o negócio foi
desfeito antes de aperfeiçoar-se.
*d)O vendedor perde o sinal pago e o comprador pode
exigir uma indenização pelos prejuízos a que a desistência
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(FGV – 2015 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XVII DIREITO DOS CONTRATOS
- Primeira Fase) Carlos Pacheco e Marco Araújo,
advogados recém-formados, constituem a sociedade
P e A Advogados. Para fornecer e instalar todo o I. TEORIA GERAL DOS CONTRATOS
equipamento de informática, a sociedade contrata
José Antônio, que, apesar de não realizar essa
atividade de forma habitual e profissional, 1. CONCEITO
comprometeu-se a adimplir sua obrigação até o dia
20/02/2015, mediante o pagamento do valor de R$ Contrato é o negócio jurídico bilateral formado
50.000,00 (cinquenta mil reais) no ato da celebração pela convergência de duas ou mais vontades, que cria,
do contrato. O contrato celebrado é de natureza modifica ou extingue relações jurídicas de natureza
paritária, não sendo formado por adesão. A cláusula patrimonial.
oitava do referido contrato estava assim redigida:
“O total inadimplemento deste contrato por qualquer É um negócio jurídico, pois é uma atuação humana
das partes ensejará o pagamento, pelo infrator, do em que as partes escolhem os efeitos que serão produzidos
valor de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais)". Não ao praticarem o ato. É bilateral, pois é formado pelo acordo
havia, no contrato, qualquer outra cláusula que se de vontades, ou seja, são necessárias pelo menos duas
referisse ao inadimplemento ou suas consequências. vontades. O testamento é um negócio jurídico, pois é
No dia 20/02/2015, José Antônio telefona para atuação humana em que se escolhem os efeitos que dele
Carlos Pacheco e lhe comunica que não vai cumprir serão produzidos, mas não é um contrato, pois é um
o avençado, pois celebrou com outro escritório de negócio jurídico unilateral.
advocacia contrato por valor superior, a lhe render
maiores lucros. Sobre os fatos narrados, assinale a 2. CLASSIFICAÇÕES DOS CONTRATOS
afirmativa correta.
*a)Diante da recusa de José Antônio a cumprir o contrato, 2.1. Contrato unilateral, bilateral e plurilateral
a sociedade poderá persistir na exigência do cumprimento
obrigacional ou, alternativamente, satisfazer-se com a Não se fala aqui no número de vontades
pena convencional.b)A sociedade pode pleitear o envolvidas, pois vimos que não existe contrato com uma
pagamento de indenização superior ao montante fixado na vontade apenas. Fala-se aqui em número de prestações.
cláusula oitava, desde que prove, em juízo, que as perdas
e os danos efetivamente sofridos foram superiores àquele a) Contrato unilateral: é aquele em que há prestação
valor. apenas para uma das partes. Doação é contrato, pois há
c)A sociedade pode exigir o cumprimento da cláusula duas vontades, em razão da necessidade do donatário
oitava, classificada como cláusula penal moratória, aceitá-la. Todavia, é contrato unilateral, pois só tem
juntamente com o desempenho da obrigação principal. prestação para o doador (entregar o bem).
d)Para exigir o pagamento do valor fixado na cláusula
oitava, a sociedade deverá provar o prejuízo sofrido. b) Contrato bilateral: é aquele que, além de duas
vontades, tem prestação para ambas as partes, por
Comentários exemplo, contrato de compra e venda, pois o vendedor tem
a prestação de entregar o bem e o comprador tem a
Diante da recusa de José Antônio a cumprir o contrato, a prestação de dar o preço.
sociedade poderá persistir na exigência do cumprimento
obrigacional ou, alternativamente, satisfazer-se com a c) Contrato plurilateral: é aquele em que há pelo menos
pena convencional, veja o art. 410, do CC: “Quando se três vontades envolvidas. Exemplo: contrato de sociedade,
estipular a cláusula penal para o caso de total em que são partes os sócios e a própria sociedade, como
inadimplemento da obrigação, esta converter-se-á em parte credora das prestações dos sócios (contribuição para
alternativa a benefício do credor.” Assim, correta a o capital social).
assertiva de letra A.
2.2. Contrato oneroso e gratuito

a) Contrato oneroso: é aquele em que as partes ganham


algo equivalente à sua prestação, ou seja, há equilíbrio
econômico entre as partes porque ambos perdem e ganham
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na mesma proporção econômica, por exemplo, contrato de exemplo, pense na compra de peixes que ainda serão
compra e venda. pescados, em que se paga o preço mesmo que nenhum
peixe seja pescado (emptio spei) ou se vier em qualquer
b) Contrato gratuito: é aquele em que a parte não ganha quantidade, só não pagando se nenhum vier (emptio rei
algo equivalente à sua prestação, ou seja, há desequilíbrio speratae). Em nenhum dos dois casos pagará, se o
econômico, pois uma das partes só ganha e uma das partes insucesso total ou parcial decorreu de dolo ou culpa do
só perde, por exemplo, contrato de doação. pescador.

2.3. Contrato comutativo e aleatório b) Compra e venda de coisa exposta a risco: O contrato
de compra e venda de coisa exposta a risco é de coisa que
a) Contrato comutativo: é aquele em que as partes podem já existe, mas é atipicamente aleatório, pois o comprador
antever os seus efeitos, ou seja, ao celebrar o contrato, já assume o risco exposto. Exemplo: compra de cerâmica a
sabem os efeitos que serão produzidos. Exemplo: contrato ser transportada em navio, cujo risco de vir a se quebrar o
de compra e venda, pois já se sabe que um entrega o bem comprador assuma. Deverá pagar todo o preço, mesmo
e que outro entrega o preço. que alguns venham quebrados, a menos que dolosamente
o vendedor se aproveite, colocando alguns já quebrados.
b) Contrato aleatório: é aquele em que as partes não
podem antever os seus efeitos, ou seja, ao celebrar o 2.4. Contrato consensual e real
contrato não há como saber os efeitos que serão
produzidos. A razão é simples: contrato aleatório é o O contrato se forma, em regra, quando a uma
contrato de risco (álea significa risco). Exemplo: contrato proposta se seguir uma aceitação, ou seja, com o acordo
de seguro, pois o segurado pode ou não receber a de vontade das partes. Essa regra é quebrada em alguns
indenização, a depender se ocorre ou não o sinistro, o que casos, quando o acordo de vontades não é suficiente para
não se sabe quando o contrato é celebrado. a formação do contrato, o que só ocorre com a prática de
um ato posterior: a entrega do bem objeto da prestação.
O contrato aleatório pode ser naturalmente
aleatório (aleatório típico) ou acidentalmente aleatório a) Contrato consensual: é aquele que se forma com o
(aleatório atípico). O contrato é naturalmente aleatório acordo de vontades das partes. É a regra em matéria de
quando for da sua essência ser aleatório, por exemplo, contratos, por exemplo, o contrato de compra e venda.
contrato de seguro. O contrato é acidentalmente aleatório
quando for da sua essência ser comutativo, mas é aleatório b) Contrato real: é aquele que se forma com a tradição,
em razão de uma circunstância que lhe é específica. ou seja, com a entrega do bem, que se segue ao acordo de
Exemplo: contrato de compra e venda é comutativo, mas vontade das partes. São três os contratos reais: mútuo,
o contrato de compra e venda de uma safra que está sendo comodato e depósito.
plantada é aleatório, pois não se sabe qual será a
quantidade da produção. 2.5. Contrato de execução instantânea, continuada e
diferida
Os arts. 458 a 461 do CC trazem dois tipos de
contratos de compra e venda atipicamente aleatórios: a) Contrato de execução instantânea: é aquele que é
compra e venda de coisa futura e de coisa exposta a risco. cumprido em uma só vez, no momento da celebração do
contrato (exemplo: compra e venda com pagamento à
a) Compra e venda de coisa futura: O contrato de vista).
compra e venda de coisa futura é aleatório, pois não se sabe
se a coisa virá a existir e em que quantidade. Pode o b) Contrato de execução continuada: é aquele em que a
contratante assumir o risco da coisa não vir a existir, prestação é cumprida em cotas periódicas (exemplo:
pagando mesmo assim o preço (chamado de contrato de compra e venda com pagamento parcelado).
compra e venda emptio spei) ou assumir o risco de vir a
existir em qualquer quantidade, pagando o preço se vier a c) Contrato de execução diferida: é aquele em que a
existir em quantidade inferior à esperada, mas não prestação é cumprida em uma só vez, mas no futuro
pagando se nada do avençado vier a existir (chamado (exemplo: compra e venda com pagamento a prazo).
contrato de compra e venda emptio rei speratae). Em
ambos os casos, não pagará o preço se menos do esperado 2.6. Contrato entre presentes e entre ausentes
vier a existir por culpa ou dolo do contratante. Como
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É uma classificação que se refere à formação do prolongava no tempo uma cláusula liberando o contratante
contrato. Pelos nomes, parece que depende se as partes em caso de ocorrer uma guerra ou conflito feudal,
estão ou não na presença física um do outro. Não é bem permitindo-lhe pedir o fim do contrato. Rebus sic stantibus
assim, pois há tecnologias que fazem com que uma significa “coisa assim ficar”, ou seja, o contratante é
conversa entre pessoas distantes seja como se estivessem obrigado a cumprir o contrato, mas apenas se a coisa assim
fisicamente presentes, pois proposta e aceitação se dão em ficar.
tempo real.
A inovação do atual CC foi tornar a cláusula rebus
a) Contrato entre presentes: é aquele em que proposta e sic stantibus implícita aos contratos, quando passou a
aceitação se dão em tempo real, sendo firmado não só entre prever a teoria da imprevisão ou da onerosidade excessiva.
pessoas fisicamente presentes, mas também por telefone Se um contrato for assinado e sobrevier fato imprevisível
ou meio de comunicação semelhante (vídeo conferência, que o desequilibre, tornando-o excessivamente oneroso
chats, entre outros). para uma das partes e com extrema vantagem para a outra,
poderá aquela pedir a resolução do contrato (art. 478 do
b) Contrato entre ausentes: é aquele em que proposta e CC). O exemplo típico é o contrato de leasing de um carro,
aceitação não se dão em tempo real, cujos principais com valor atrelado ao dólar (locação com opção de compra
exemplos são aqueles formados por carta ou por e-mail. ao fim do contrato mediante pagamento de valor residual).
O dólar vale um real e passa do dia para noite para dois
3. PRINCÍPIOS CONTRATUAIS reais, dobrando o valor a ser pago. Poderá ser pedida a
resolução do contrato com base na teoria da imprevisão ou
3.1. Princípio da autonomia da vontade da onerosidade excessiva.

As partes são livres para contratar, ou seja, São os elementos necessários para incidência da
contratam se quiserem, com quem quiserem e sobre o que teoria da imprevisão ou da onerosidade excessiva:
quiserem. Isso decorre de simples razão: contrato é um
acordo de vontades. O limite para suas atuações é a lei e, a) Contrato de execução continuada ou diferida: A
como veremos mais à frente, o interesse social e a boa-fé. teoria da imprevisão se aplica a contratos cuja execução se
prolongue no tempo, ou seja, quando a execução é
3.2. Princípio da obrigatoriedade e a teoria da continuada ou diferida no tempo. Como o contrato de
imprevisão (pacta sunt servanda x cláusula rebus sic execução instantânea tem prestações cumpridas quando da
stantibus) celebração do contrato, estas não serão atingidas pelo fato
imprevisível superveniente.
As partes contratam se quiserem, mas, se
contratarem, são obrigadas a cumprir o contrato. O b) Prestação excessivamente onerosa para uma das
contrato faz lei entre as partes, o que traduz o conhecido partes: É a ideia da teoria, a excessiva onerosidade para
pacta sunt servanda, ou seja, os pactos devem ser uma das partes, desequilibrando o contrato.
cumpridos.
c) Extrema vantagem para a outra parte: Para a
Essa é a noção básica do princípio, mas o seu resolução dos contratos, não basta este ter ficado muito
estudo pode e deve ser aprofundado. O atual CC adotou o oneroso para uma das partes. É preciso que,
princípio do pacta sunt servanda, mas não de forma concomitantemente, tenha havido extrema vantagem para
absoluta, pois foi mitigado pela previsão da chamada a outra parte. Assim sendo, se o contratante perde seu
cláusula rebus sic stantibus. emprego e consegue outro recebendo metade do salário
anterior, o contrato fica excessivamente oneroso para ele,
Para entender essa cláusula, é necessária uma mas não poderá pedir a resolução pela onerosidade
breve análise histórica. Desde a origem dos contratos, excessiva porque não houve extrema vantagem para a
vigora o princípio do pacta sunt servanda, ou seja, o outra parte.
contrato sempre fez lei entre as partes. No entanto, a Idade
Média foi uma época que ameaçou a sobrevivência desse c) Fato superveniente e imprevisível: A resolução do
princípio, pois foi um período marcado por constantes contrato só terá lugar se o desequilíbrio das prestações
guerras e conflitos feudais, o que inviabilizava o decorrerem de um fato superveniente que as partes não
cumprimento de um contrato. Por isso, naquela época, podiam prever quando da celebração do contrato.
tornou-se comum vir nos contratos com prestação que se
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Atenção: não confunda teoria da onerosidade que o Estado não se desenvolva. O juiz, sob o fundamento
excessiva com lesão e estado de perigo. Nesses defeitos da função social do contrato, poderá intervir nessa relação
do negócio jurídico, o ato já nasce viciado, enquanto que entre particulares, trazendo os juros para valor de mercado.
na aplicação da teoria ora em estudo, o contrato nasce
conforme a lei, mas se vicia por fato superveniente. A O CC, em várias oportunidades, tem regras que
consequência disso é que na lesão e no estado de perigo o refletem essa tendência da sociabilidade do direito. É o
contrato é anulado, enquanto que na teoria da imprevisão caso, por exemplo, da teoria da imprevisão, podendo o juiz
ele é objeto de resolução. Nos citados vícios da vontade, pôr fim ao contrato em razão do seu desequilíbrio
como o ato é invalidado, a sentença anulatória retroage à econômico pela superveniência de um fato imprevisível. O
data da prática do ato, desfazendo todos os efeitos mesmo ocorre no caso de lesão e estado de perigo,
produzidos, inclusive os anteriores à anulação. Na podendo o juiz invalidar o contrato, por uma das partes ter
resolução do contrato pela onerosidade excessiva, a assumido obrigação excessivamente onerosa em razão de
sentença não deveria retroagir, só aniquilando os efeitos a determinadas circunstâncias que forçam a contratação.
partir da resolução. Todavia, por expressa previsão legal, Isso demonstra a preocupação socializante do atual CC,
efeitos anteriores à resolução serão desfeitos, pois a lei pois, mesmo preenchidos os requisitos formais de validade
determina que a sentença retroaja à data da citação, ou seja, do negócio jurídico, a lei pretende amparar um dos
só são preservados os efeitos anteriores à citação. contratantes da esperteza ou ganância do outro ou do
prejuízo econômico imprevisível com extrema vantagem
Importante lembrar que o contrato atingido pela para o outro contratante. Qual a razão disso? O Poder
teoria da imprevisão ou onerosidade excessiva pode se Judiciário só pode chancelar contratos que respeitem não
manter, sem ser objeto de resolução, o que ocorrerá se o só regras formais de validade jurídica, mas, sobretudo,
contratante beneficiado concordar com a redução do seu normas superiores de cunho moral e social.
ganho, reequilibrando as prestações.
Essa concepção social do contrato chega ao seu
3.3. Princípio da relatividade dos efeitos dos contratos ápice quando o CC, já em seu primeiro artigo sobre
contratos, diz que a função social do contrato representa
O contrato só produz efeitos em relação às partes. uma limitação na liberdade de contratar (art. 421 do CC).
É por isso que dizemos que o direito contratual é inter As partes são livres para, dentro dos limites legais,
parte (entre as partes), diferente dos direitos reais, que são colocarem no contrato as cláusulas que quiserem, mas a
direitos oponíveis erga omnes (contra todos). Significa limitação à autonomia da vontade não se dá apenas pela
que o contratante só pode opor seu direito contratual ao lei, mas também pelo interesse social.
outro contratante e não a pessoas estranhas à relação
contratual, pois só as partes podem ter direitos e deveres Imagine um contrato para a construção de uma
frutos do contrato que celebraram. obra de vulto ou de uma indústria. Não obstante estejam
observados os requisitos legais de validade (agente capaz,
3.4. Princípio da função social do contrato objeto possível, determinado ou determinado e forma
prescrita ou não defesa em lei), alguns questionamentos
O contrato não interessa apenas às partes podem ser feitos: e os reflexos ambientais? E os reflexos
contratantes, mas sim a toda sociedade, porque ele trabalhistas? E os reflexos sociais? E os reflexos morais,
repercute no meio social. Essa é a ideia do princípio da ou seja, no âmbito dos direitos da personalidade? Por
função social do contrato, que reflete a atual tendência de melhor que seja o contrato do ponto de vista econômico
sociabilidade do direito, ou seja, de subordinação da para os contratantes, não se pode chancelar como válido
liberdade individual em função do interesse social. Assim um negócio negativo para a sociedade em razão do
sendo, se o contrato repercute negativamente para a desrespeito de leis ambientais, que pretenda fraudar leis
sociedade, o juiz pode nele intervir para preservação do trabalhistas ou que viole a livre concorrência, as leis do
interesse coletivo. mercado ou postulados de defesa do consumidor, mesmo
sob o pretexto da livre iniciativa.
Como exemplo, podemos pensar em um contrato
com juros excessivamente elevados. Não é ruim apenas Analisando os exemplos supramencionados,
para a parte devedora, mas para toda a sociedade, pois podemos verificar que um contrato que não cumpre a sua
aumenta o risco de inadimplemento, o que aumenta ainda função social pode ser bom apenas para uma das partes,
mais os juros, o que dificulta a circulação do crédito, como ocorre com o contrato com juros excessivos. Neste
diminuindo os investimentos produtivos e fazendo com caso, caberá ao contratante prejudicado pedir a tutela
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jurisdicional com base na função social do contrato. No mas que interessa a toda a sociedade, pois a lei diz que o
entanto, até mesmo quando o contrato for bom do ponto contrato tem uma função social.
de vista econômico para ambas as partes, poderá ser alvo
de intervenção do juiz, caso contrarie o interesse social, 3.5. Princípio da boa-fé objetiva
como é o caso de um contrato muito lucrativo, mas que
gera danos ambientais ou que fraude leis trabalhistas. A Este princípio vem consagrado no art. 422 do CC,
questão é: nesse caso de mútuo benefício, a quem caberá que obriga as partes contratantes a agirem de boa-fé
pedir a intervenção judicial? quando da celebração de um contrato. A palavra chave do
princípio é confiança, que significa parceria contratual. A
O papel de guardião do princípio da função social ideia é que os contratantes não são lutadores, um querendo
do contrato deve recair sobre os ombros do Ministério prejudicar o seu adversário, mas sim parceiros, porque um
Público. A princípio, o parquet não teria legitimidade ativa confia no outro, uma vez que são obrigados a agir
para pedir a intervenção do juiz no contrato, por tratar-se conforme os ditames da boa-fé.
de interesse privado. Todavia, como o contrato tem uma
função social, não podendo prejudicar a sociedade como Imagine um casal de noivos que compra suas
um todo, o interesse passa a ser coletivo, legitimando a alianças em uma joalheria, optando por um modelo que é
atuação ministerial. feito com ouro amarelo e ouro branco. Satisfeitos com a
bela aliança, no dia da festa do noivado, um casal de
Com efeito, o princípio da função social do amigos informa que toda aliança com ouro branco fica
contrato possibilita uma nova tendência de controle dos amarelada com o decorrer do tempo. Revoltados,
contratos inaugurada pelo atual CC: o dirigismo judicial reclamam junto à joalheria, que diz nada poder fazer. Os
dos contratos. O que significa isso? O contrato sempre noivos poderão pedir a resolução do contrato de compra e
sofreu controle externo, limitando a atuação dos venda, devolvendo as alianças e recebendo seu dinheiro de
contratantes. Até então, prevalecia o controle feito pela lei, volta, em função da quebra da boa-fé do vendedor, que não
razão pela qual esse controle é chamado de dirigismo legal informou um relevante aspecto do contrato, que
dos contratos. Pense, como exemplo, no contrato de interferiria na escolha do modelo da aliança ou na própria
locação, onde a lei do inquilinato limita a atuação do realização do negócio.
locador. Hoje, com o CC vigente, prevalece o dirigismo
judicial dos contratos, ou seja, não é a lei que controla o O princípio que rege os contratos é o princípio da
contrato, mas sim o juiz, na análise do caso concreto. boa-fé objetiva, mas, em realidade, existem dois tipos: a
objetiva ou a subjetiva. A subjetiva, como o nome sinaliza,
O que torna isso possível é a utilização das é a boa-fé interior, psicológica, ou seja, o que o contratante
chamadas cláusulas gerais ou conceitos jurídicos acredita ser correto. Já a objetiva lhe é exterior, ou seja, é
indeterminados, que tem como exemplo a função social agir de forma correta, segundo um padrão normal de
dos contratos. São expressões vagas em seu conteúdo, conduta. A boa-fé que rege os contratos é a objetiva, pois
exigindo do aplicador do direito uma análise do caso é mais segura, uma vez que não depende do que pensa o
concreto para suprir a vacância. A lei diz que o contrato outro contratante, mas sim em verificar se o contratante
deve atender a função social, ou seja, não pode ir contra o agiu seguindo um comportamento normal das pessoas.
interesse social. O que é atender ou ir contra o interesse
social? A lei não enumera casos, preferindo usar uma O que é um comportamento normal? Como saber
expressão vaga, permitindo ao juiz dizer, analisando o se o contratante agiu seguindo um padrão normal de
contrato, se ele atende ou não o interesse social. conduta? É o juiz que dirá na análise do caso concreto.
Com efeito, vimos que a tendência atual em matéria de
Em conclusão, não se pretende aniquilar o controle contratual é o chamado dirigismo judicial dos
princípio da autonomia da vontade ou o pacta sunt contratos, em substituição da antiga prevalência do
servanda, mas temperá-lo, tornando-os mais vocacionados dirigismo legal. Cabe ao juiz controlar os contratos, o que
ao bem-estar comum, sem prejuízo do interesse lhe é permitido a partir do uso de cláusulas gerais ou de
econômico pretendido pelas partes contratantes. A lei conceitos jurídicos indeterminados, que são expressões
relativiza o princípio do pacta sunt servanda com regras vagas, reclamando suprimento da vacância pelo aplicador
específicas, como a cláusula rebus sic stantibus ou com a do direito na análise do caso concreto. É o caso não só da
previsão da lesão ou do estado de perigo, mas também função social dos contratos, mas também da boa-fé
relativiza permitindo intervenção judicial em uma relação objetiva. A lei obriga as partes a agirem de boa-fé, sem, no
que deveria interessar unicamente às partes do contrato, entanto, enumerar as condutas permitidas e proibidas sob
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esse aspecto. Esse papel caberá ao juiz, que poderá intervir O aderente é parte mais fraca nessa relação
em um contrato, podendo até resolvê-lo, mesmo tendo sido contratual. Para garantir a isonomia material ou real, o CC
observados os requisitos formais de validade em uma livre lhe confere duas proteções:
negociação entre particulares.
a) Art. 423: quando houver no contrato de adesão
Atenção: Conforme o art. 422 do CC, a boa-fé cláusulas ambíguas ou contraditórias, deve ser adotada
deve nortear o comportamento dos contratantes não só no uma interpretação mais favorável ao aderente.
momento da conclusão do contrato, mas também durante
a sua execução. É o fundamento da chamada b) Art. 424: são nulas as cláusulas em um contrato de
responsabilidade civil pós-contratual. Às vezes, um adesão que estipulem a renúncia do aderente de um direito
contrato produz efeitos após a sua celebração, devendo a seu resultante da própria natureza do negócio. Exemplo:
boa-fé perdurar enquanto durarem esses efeitos. Imagine contrato de depósito é aquele em que o depositante entrega
que uma pessoa compre um carro junto a uma temporariamente ao depositário a guarda e conservação de
concessionária. O carro quebra, mas não existe peça para um bem, que tem o dever de devolver o bem tal como
reposição e o comprador não poderá mais utilizá-lo. Ele recebido. Note que é um direito do depositário receber o
poderá pedir a resolução do contrato alegando quebra da bem tal como entregou ao depositário. Sendo o
boa-fé objetiva em razão de não ter informado fato que estacionamento em estabelecimentos comerciais um
poderia ocorrer após a execução do contrato. contrato de depósito e de adesão, é nula a cláusula que diz
não haver responsabilidade pelos objetos deixados no
Importante: embora não mencionado interior do veículo.
expressamente no art. 422 do CC, a boa- fé deve nortear o
comportamento dos contratantes até mesmo antes da 4.2. Contratos atípicos
proposta. É o fundamento da chamada responsabilidade
civil pré-contratual, que será analisada a seguir nas O CC, nos arts. 481/853, trata da regulamentação
considerações sobre a formação dos contratos. Exemplo das várias espécies de contrato. Não há como a lei prever
típico é a proibição da propaganda enganosa. O contrato todo tipo de contrato, pois este resulta do acordo de
celebrado a partir de uma propaganda enganosa poderá ser vontade das partes, que são livres para negociar de acordo
resolvido a requerimento da parte prejudicada, pois a boa- com suas necessidades. Ademais, as alterações da lei não
fé já deve fazer-se presente mesmo durante as negociações conseguem acompanhar o surgimento de novos contratos
preliminares para uma futura contratação. em razão da dinâmica social.

4. PRELIMINARES Contratos típicos são aqueles previstos e


regulamentados em lei, enquanto que os contratos atípicos
O CC trata da teoria geral dos contratos a partir do não os são. São lícitos os contratos atípicos em razão do
seu art. 421, iniciando com questões preliminares. De princípio da autonomia da vontade. Que normas são
todos os princípios vistos, trata do princípio da função aplicadas a eles, já que não há regulamentação específica
social dos contratos e da boa-fé objetiva. A seguir, trata de em lei? Nos termos do seu art. 425, as normas gerais do
três temas: contrato de adesão, contratos atípicos e pacto CC, tanto da sua parte geral quanto da teoria geral dos
sucessório, o que passamos a abordar. contratos, ora em estudo.

4.1. Contratos de adesão 4.3. Pacto Sucessório

Contrato de adesão é o contrato elaborado Pacto sucessório é o contrato que tem por objeto
unilateralmente por uma das partes contratantes, opondo- herança de pessoa viva, sendo também chamado de pacta
se ao contrato paritário, em que elas elaboram corvina ou pacto de abutres. Nos termos do art. 426 do CC,
conjuntamente as cláusulas do contrato. Não é um negócio é um contrato proibido por lei, sendo inválido se praticado.
jurídico unilateral, pois o aderente, embora não tenha o A questão é: será nulo ou anulável? A lei proíbe a prática
poder de negociar as cláusulas do contrato, tem que aceitar sem dizer, no entanto, se nulo ou anulável, razão pela qual
a proposta, não perdendo, portanto, sua natureza contratual é considerado nulo pela lei, conforme prevê o art. 166, VII,
de bilateralidade. do CC.

Note não poder ser objeto de contrato herança de


pessoa viva, ou seja, após morte do de cujos, após a
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abertura da sucessão, os herdeiros podem negociar seus a escrito (difere da proposta, pois esta é completa, uma vez
quinhões hereditários, mesmo antes da individualização bastar um sim para o contrato se formar).
obtida ao fim do inventário com o formal de partilha,
sendo considerado por lei um contrato de bem imóvel (art. Sobrevindo uma proposta à fase de puntuação,
80, II, do CC). esta vincula o proponente, pois, se a outra parte a aceitar,
o contrato estará formado e ambos estarão obrigados em
5. FORMAÇÃO DOS CONTRATOS seus termos. A questão é: podemos falar em
responsabilidade civil nesta fase de negociações
O contrato se forma, em regra, quando a uma preliminares pela não conclusão do contrato? Em regra
proposta se seguir uma aceitação, seja com o acordo de não, pois não há qualquer problema em se iniciarem
vontades das partes. Como exceção, temos os contratos negociações e se perceber a inviabilidade ou
reais, em que este acordo não é suficiente para a formação inconveniência da contratação. Todavia, em alguns casos,
do contrato, o que só ocorre com um ato posterior: a pode haver responsabilidade civil extracontratual ou
tradição, ou seja, a entrega do bem. É o caso de três tipos aquiliana, pois não há ainda um contrato, sendo chamada
contratuais: mútuo, comodato e depósito. de responsabilidade civil pré-contratual.

Não confunda a formação do contrato com a sua Quando isso ocorre? Quando, nas negociações
validade. O contrato se formar significa passar a existir no preliminares, uma das partes cria na outra a justa
mundo jurídico, obrigando as partes ao seu cumprimento, expectativa de contratação e, sem qualquer justificativa,
enquanto que ser válido é estar de acordo com a lei e, por mero capricho, não formaliza a proposta. O
portanto, apto a produzir seus regulares efeitos. O art. 107 fundamento é a quebra da boa-fé objetiva na fase das
do CC prevê que a validade dos contratos não exige forma negociações preliminares. Há um abuso de direito, que é
especial, senão quando a lei exigir, ou seja, o contrato se considerado pela lei ato ilícito a ensejar responsabilidade
forma com o simples acordo de vontades, mas, em alguns civil (art. 187 c/c art. 927, ambos do CC). Ora, ao criar a
casos, sua validade reclama uma forma especial para justa expectativa de contratação, legitima a outra parte a
produzir efeitos. Assim, destacando que em alguns casos contrair gastos e até a recusar outras propostas, e não
deve haver uma forma especial do contrato, o que tratamos concluir o contrato sem qualquer justificativa é causar o
aqui é do momento da sua formação, pois passando a que chamamos de “dano de confiança”, em razão da
existir no mundo jurídico, obriga as partes ao seu quebra da boa fé objetiva, que deve nortear o
cumprimento, sob pena de responsabilidade civil comportamento dos contratantes até mesmo antes da
contratual, ou seja, indenização de perdas e danos em proposta.
razão da mora ou do inadimplemento (tema tratado em
obrigações, para onde remetemos sua leitura). Como exemplo, cito um caso cobrado em prova.
Imagine que durante anos um fabricante de extrato de
O CC trata do tema formação dos contratos nos tomate distribui gratuitamente sementes de tomate entre
arts. 427/435, mencionando a proposta e a aceitação. agricultores de uma região, procurando-os na época da
Todavia, a formação do contrato não é composta apenas colheita para celebrar com eles contrato de compra e venda
por esses dois atos. Normalmente existe uma fase prévia, de toda a produção de tomate. No décimo ano distribuiu as
de negociações preliminares, chamada de fase de sementes, mas não apareceu para compra da safra.
puntuação, que poderá culminar na formulação de uma Procurada pelos agricultores, recusou-se, sem qualquer
proposta, que, se aceita, formará o contrato. São as fases justificativa, a celebrar o contrato. Nesse caso, há
que passamos a estudar. responsabilidade civil pré-contratual aquiliana do
fabricante de extrato de tomate, tendo que indenizar os
5.1. Fase de puntuação e a responsabilidade pré- agricultores em razão dos prejuízos que resultaram da não
contratual contratação, como os custos da produção e eventual recusa
de venda para outros compradores. O fundamento da
Fase de puntuação é a fase de negociações responsabilidade pré-contratual é a violação do princípio
preliminares que antecedem a proposta, marcada por da boa-fé objetiva nessa fase de negociações preliminares
conversações prévias, ponderações, reflexões, sondagens, anterior à proposta, pois o fabricante criou nos agricultores
cálculos e estudos de viabilidade de negociação futura. a justa expectativa de contratação e, sem qualquer
Pode resultar, inclusive, em uma minuta contratual se justificativa, por mero capricho, não formalizou a proposta
alguns pontos acordados forem reduzidos a termo, ou seja, de compra e venda.

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5.2. Pré-contrato ou contrato preliminar Além disso, como há um contrato, podemos pré-fixar as
perdas e danos em uma cláusula penal, dispensando a parte
O pré-contrato, também chamado de contrato prejudicada de provar não só o dano, mas, sobretudo, a sua
preliminar ou pacto de contrahendo, é um contrato em que extensão.
as partes assumem a obrigação de celebrar um contrato
definitivo no futuro, por não ser possível a contratação No supramencionado exemplo da compra dos
agora ou por não ser o melhor momento. tomates, o fabricante, por ser fase anterior à proposta, tem
responsabilidade civil extracontratual, somente sendo
Exemplo: Um time de futebol quer contratar um responsabilizado civilmente se os agricultores provarem a
jogador. Não pode celebrar um contrato definitivo agora, justa expectativa de contratação e a recusa sem qualquer
pois ele tem contrato em vigor com outro clube. No justificativa, mas também a sua culpa na não celebração
entanto, poderão celebrar um pré-contrato, em que se do contrato. No entanto, se na fase de negociações
obrigam a contratar ao término do contrato em vigor. Caso preliminares, as partes reduzirem as bases do contrato a
o jogador negocie seu passe com outro clube ou este não escrito em um pré-contrato, bastarão provar que o
queira mais contratá-lo, haverá descumprimento do fabricante assinou um pré-contrato e que houve
contrato, devendo arcar com perdas e danos, que inadimplemento, além de sequer precisar provar o dano e
provavelmente virá pré-fixada em uma cláusula penal. a sua extensão, pois poderão executar direto a cláusula
penal.
Importante: O pré-contrato deve ter os mesmos
elementos do contrato definitivo, à exceção de um deles: O mesmo ocorre no exemplo da contratação do
a forma. As partes e o objeto são os mesmos, mas a forma jogador de futebol. Se o clube apenas conversa em
não precisa ser a mesma. Se o contrato definitivo tem que negociações preliminares, acertando as bases de um futuro
ser por escritura pública, nada impede que o pré-contrato contrato, pode ser que, ao final do contrato em vigor, o
seja por instrumento particular. atleta quebre a confiança e resolva permanecer no clube
que está ou contratar com outro. Para responsabilizá-lo
Qual a importância do pré-contrato? Em civilmente, deverá provar que o atleta não contratou
princípio, a responsabilidade civil na fase de negociações culposamente, mas, se assinar um pré-contrato, bastará
preliminares é extracontratual, pois ainda não há um comprovar o inadimplemento, sem sequer precisar provar
contrato. No entanto, se celebrarem um pré-contrato, as o dano e a sua extensão.
partes transformarão essa responsabilidade pré-contratual
em contratual antes mesmo da celebração do contrato 5.3. A proposta
definitivo, pois o pré-contrato é um contrato. Qual a
vantagem? A parte prejudicada não precisará provar a O contrato se forma quando a uma proposta se
culpa do inadimplente no descumprimento do contrato seguir uma aceitação. É raro uma pessoa fazer uma
nem tampouco o dano, seja sua própria existência, seja a proposta e a outra simplesmente a aceitar, pois é normal se
sua extensão. Você lembra o que vimos a respeito do sucederem sucessivas contrapropostas até culminar em
tema? uma aceitação final. Essa fase de sucessivas
contrapropostas a partir de uma proposta é chamada de
Lembrando: tanto a responsabilidade civil fase de policitação ou fase de oblação. Isso dá nome aos
extracontratual (em regra) como a contratual são atores envolvidos: quem faz a proposta é chamado de
subjetivas, mas esta tem culpa presumida. Assim, se o caso proponente ou de policitante e quem a aceita é chamado de
é de responsabilidade contratual, basta ao contratante aceitante ou de oblato.
prejudicado provar o inadimplemento, sem precisar provar
que o outro teve culpa no descumprimento do contrato Na fase de policitação, não deixa de haver uma
(este poderá elidir sua responsabilidade provando não ter negociação entre as partes, o que já acontece na fase de
tido culpa, pois a presunção de culpa é relativa, admitindo puntuação. Ora, qual a diferença entre a fase de puntuação
prova em contrário, o que representa inversão do ônus da e a fase de policitação na formação dos contratos? É a
prova). Por outro lado, se é caso de responsabilidade civil existência de uma proposta. A fase de puntuação é a fase
extracontratual subjetiva, a vítima do dano, ao cobrar de negociações preliminares, ou seja, anterior à proposta.
perdas e danos, deverá provar que o agressor teve culpa Já a fase de policitação se dá após a proposta, sucedendo-
em causá-lo. Assim sendo, a responsabilidade civil se sucessivas contrapropostas. A pergunta se mantém:
contratual é mais vantajosa para quem sofre o dano, pois como saber se uma conversa entre as partes já configura
não precisará provar o difícil elemento subjetivo da culpa. uma proposta ou apenas negociações preliminares, que até
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pode resultar em uma minuta, se reduzido a termo? É a (iv) se feita uma proposta entre ausentes e antes dela ou
seriedade da proposta. Significa que a proposta é pronta e simultaneamente chegar ao conhecimento da outra parte a
acabada, abordando todos os elementos do contrato, pois sua retratação.
basta um sim para a formação do contrato. Se isso já existe,
é fase de policitação; se ainda não existe, sendo A proposta fixa o local de formação do contrato
conversados apenas alguns pontos do contrato, a fase é de (art. 435 do CC). A importância em saber o local de sua
puntuação. formação é determinar qual lei será aplicada ao contrato.

O aspecto mais importante da proposta é o seu 5.4. A aceitação


aspecto vinculatório, ou seja, a proposta obriga o
proponente. Se eu faço uma proposta, crio na outra parte a Se a proposta obriga apenas o proponente, a
justa expectativa de contratação, que pode levá-la a aceitação vincula também o aceitante, pois ela faz o
contrair gastos e até a recusar outras propostas. Feita a contrato se formar, passando a existir no mundo jurídico,
proposta, o proponente a ela se obriga, ou seja, se houver estando ambas as partes obrigadas ao seu cumprimento
aceitação, não poderá alegar desistência ou nos termos da responsabilidade civil contratual.
arrependimento, podendo o aceitante pedir em juízo a
execução forçada do contrato ou indenização por perdas e A aceitação pode ser expressa ou tácita. Expressa
danos. Já é responsabilidade civil contratual, pois com a é a aceitação inequívoca, podendo ser escrita, verbal ou
aceitação o contrato se formou, passando a existir no até gestual (ex. leilão). Tácita é a aceitação presumida pela
mundo jurídico. A proposta só obriga o proponente e a prática de um ato incompatível com a não aceitação.
aceitação passa a obrigar ambas as partes. Exemplo: doação de vaso não aceita de forma expressa,
mas o donatário manda buscá-lo na casa do doador e o
A questão é: a proposta sempre obriga o coloca exposto em sua sala. É por isso que o art. 111 do
proponente? Não, pois nos termos do art. 427 do CC a CC prevê que o silêncio, embora não seja a regra, até pode
proposta não obriga o proponente em três casos: valer como aceitação, mas apenas quando as
circunstâncias indicarem que a pessoa aceitou tacitamente
a) Se isso resultar dos termos da proposta: se no próprio e, evidente, a lei não exija aceitação expressa.
corpo da proposta vier expressa a não obrigatoriedade, não
cria justa expectativa de contratação na outra parte. Conforme visto, a proposta obriga o proponente.
No entanto, essa obrigatoriedade não é eterna, mas sim
b) A depender da natureza do negócio: há certos pelo prazo dado. Se houver aceitação fora do prazo ou até
negócios jurídicos que, por sua natureza, não obrigam o mesmo com modificações, o proponente não é obrigado a
proponente, como proposta de venda de produto com concordar, mas se quiser poderá aceitá-la. Por isso,
quantidade limitada em estoque, a partir do fim do estoque. dizemos que a aceitação fora do prazo ou com
modificações tem natureza de nova proposta.
c) A depender de determinadas circunstâncias: existem
certas circunstâncias que fazem com que a proposta deixe O contrato se forma quando a uma proposta se
de ser obrigatória, estando elas elencadas no art. 428 do seguir uma aceitação. Se o contrato é entre presentes, fácil
CC - a primeira delas para contrato entre presentes e as três será determinar o momento, pois proposta e aceitação se
restantes para contrato entre ausentes, a saber: dão em tempo real. E se o contrato for entre ausentes,
quando se dá sua formação? Em regra, quando a aceitação
(i) se feita proposta sem prazo à pessoa presente e esta não é expedida, pois é quando o aceitante perde o controle de
foi imediatamente aceita; sua vontade. Como exceção, o contrato entre ausentes se
forma quando a resposta chegar ao proponente, se assim
(ii) se feita proposta sem prazo a pessoa ausente e tiver convencionado entre as partes.
decorrido tempo suficiente para chegar a resposta ao
conhecimento do proponente; 6. CONTRATOS QUE PRODUZEM EFEITOS A
TERCEIROS
(iii) se feita proposta com prazo à pessoa ausente e esta não
expedir a resposta no prazo; Em razão do princípio da relatividade de seus
efeitos, o contrato só atinge as partes, ou seja, só quem é
parte pode ter direito e deveres que dele decorrem.
Todavia, há três contratos em que um terceiro é por ele
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atingido, pois terão direitos e deveres decorrentes de um 7. GARANTIAS IMPLÍCITAS IMPOSTAS AO
contrato em que não celebraram originariamente: ALIENANTE

6.1. Estipulação em favor de terceiro: É o contrato em Quando uma pessoa aliena um bem, deve garantir
que um dos contratantes estipula um terceiro para quem o ao adquirente, em nome da boa-fé objetiva, o seu normal
outro contratante deverá cumprir a prestação. É um uso e fruição, bem como a garantia de que não o perderá
terceiro ao contrato tendo um direito dele decorrente. para terceiros por razões de direito. Assim sendo, o
Exemplo: contrato de compra e venda em que o estipulante alienante responde perante o adquirente do bem tanto por
determina a entrega do bem para um beneficiário. Se a defeitos materiais como por defeitos jurídicos.
prestação não for cumprida, o estipulante poderá exigi-la
em juízo. O beneficiário também tem esse poder, desde O alienante, responder por defeito material é
que não haja essa restrição no contrato. Caso tenha sido responder por vício redibitório, ou seja, o bem apresenta
retirado do beneficiário esse poder, poderá o estipulante um defeito físico que o torna inútil ao seu uso ou que lhe
exonerar o devedor de cumprir a prestação. E a diminui o valor. Por sua vez, responder por defeito jurídico
substituição do beneficiário é possível? Sim, independente é responder pela evicção, ou seja, quem alienou o bem não
da anuência dele e do outro contratante, se reservar esta poderia tê-lo feito e o adquirente o perdeu para um
faculdade no contrato. terceiro, podendo buscar uma indenização do alienante.

6.2. Promessa de fato de terceiro: É o contrato em que Procederemos aqui ao estudo em separado do
um dos contratantes promete que um terceiro cumprirá a vício redibitório e da evicção. No entanto, de plano,
prestação para o outro contratante. É terceiro ao contrato merecem destaque três observações comuns a ambos os
com um dever dele decorrente. Exemplo: contrato por institutos, pois são questões muito recorrentes em prova e
meio do qual uma das partes promete que seu irmão, um que merecem sua especial atenção:
cantor famoso, concederá uma entrevista exclusiva a um
programa de rádio. Se o terceiro não cumprir a prestação, a) O alienante responde por eles mesmo que não haja
o promitente responde por perdas e danos, mesmo que previsão expressa em contrato, pois são garantias
tenha feito todos os esforços para o cumprimento da implícitas, que decorrem de lei e não da vontade das
prestação. O promitente não responderá, mas sim o partes.
terceiro, se este aceitar a prestação e depois não cumpri-la.
Ademais, o promitente não responde pelo b) O alienante responde por eles apenas diante de
descumprimento da prestação do terceiro se, pendendo sua alienações onerosas. Atenção: a doação é uma alienação
aceitação, forem casados e, a depender do regime de bens gratuita, mas o alienante responderá por eles quando a
do casamento, a cobrança sobre o promitente recair de doação for com encargo, o que a lei chama de doação
alguma forma sobre o terceiro. onerosa.

6.3. Contrato com pessoa a declarar: É o contrato em c) O alienante responde por eles mesmo que a aquisição
que um dos contratantes pode indicar uma pessoa que irá do bem tenha se dado em hasta pública, ou seja, através da
assumir a sua posição no contrato. É um terceiro ao venda pública de bem penhorado em processo de
contrato tendo direitos e deveres que dele decorrem. execução.
Exemplo: uma pessoa quer comprar uma casa, cujo dono
jamais lhe venderá por problemas pessoais, podendo se 7.1. Vícios Redibitórios
valer de uma pessoa para contratar com o proprietário,
inserindo no contrato cláusula que lhe permite indicá-lo a Aqui a responsabilidade é diante da existência de
assumir sua posição no contrato. Essa indicação deve ser defeitos materiais, ou seja, o bem está quebrado.
feita em quinze dias, se outro prazo não for estipulado, mas Importante você não confundir a disciplina civil dos vícios
tem efeito retroativo à data da celebração do contrato, pois redibitórios com a disciplina consumerista. Sendo o CDC
o indicado assume os direitos e deveres do contrato desde uma lei especial em relação ao CC, só aplicamos suas
a sua celebração e não apenas a partir da sua nomeação. regras quando inaplicáveis as regras do CDC. Quando,
Esse contrato exige muita confiança entre quem indicará e então, aplicamos as regras dos vícios redibitórios previstas
quem será indicado, pois se não houver nomeação ou se no CC? Quando não houver relação de consumo, o que
esta não for aceita pelo indicado, o contrato produz efeitos ocorre em dois casos: (i) quando o alienante não é
entre os contratantes originários. fornecedor, como ocorre na venda ocasional de um bem
usado, pois ser fornecedor exige habitualidade da
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negociação; e (ii) quando o adquirente não for consumidor, o adquirente de todas as perdas e danos decorrentes do
como ocorre no caso de alguém adquirir um bem para vício redibitório.
renegociação, pois o CDC afirma que só é consumidor
quem adquire um bem como destinatário final. Aqui nos Qual o prazo que tem o adquirente para reclamar
concentraremos na disciplina civil do tema, deixando as vício redibitório em juízo? Depende do bem adquirido:
regras da relação de consumo para um estudo específico trinta dias para bem móvel e um ano para bem imóvel. A
do tema. princípio, o prazo se inicia quando da entrega efetiva do
bem e não quando da alienação, pois só com o seu uso é
Por definição, vícios redibitórios são defeitos que ele consegue perceber o defeito oculto. No entanto, se
ocultos que tornam o bem impróprio para o uso a que se o adquirente já tinha a posse do bem, o prazo se iniciará
destina ou que lhe diminuem o valor. Note que na quando da prática do ato, pois é quando adquire
disciplina civil, diferente da relação de consumo, o legitimidade para reclamação em juízo, mas os prazos
alienante só responde por defeitos ocultos, ou seja, que não serão reduzidos à metade, por já ter tido contato com o
poderia ter sido facilmente detectado pelos órgãos dos bem. Além disso, se for um defeito oculto que por sua
sentidos, pois se o vício era aparente, presume-se que o natureza seja de difícil percepção, o prazo só se inicia
adquirente o admitiu, pois dele ciente. quando o adquirente dele tiver ciência. Todavia, a lei
confere um prazo máximo para ciência do defeito a se
Note que o vício redibitório é um defeito material somar ao prazo de reclamação: cento e oitenta dias para
que pode tornar o bem impróprio para o seu uso ou que bem móvel e um ano para bem imóvel. Por fim, não se
pode apenas lhe diminuir o valor. Portanto, haverá vício esqueça que eventual prazo de garantia convencional
redibitório tanto no defeito oculto em um motor de um oferecida pelo alienante não substitui o prazo de garantia
carro que o faz não mais funcionar, como também no legal, mas sim a ele se soma, pois, se houver garantia
defeito oculto de uma máquina que produz determinado convencional, o prazo de garantia legal só se inicia quando
produto, diminuindo a sua produção, embora ela ainda este for encerrado.
funcione. Assim sendo, o adquirente pode reclamar do
vício redibitório em juízo optando por uma de duas ações 7.2. Evicção
judiciais:
Evicção é a perda ou desapossamento judicial, ou
a) Ação Redibitória: ação judicial em que se pede para excepcionalmente administrativo, de um bem, em razão
redibir o contrato, ou seja, desfazer o negócio jurídico. de um defeito jurídico anterior à alienação. Quem alienou
Trata-se de anulação e não de declaração de nulidade, pois o bem não poderia tê-lo feito, e o adquirente o perdeu,
a lei impõe prazo para reclamá-lo, sob pena de tendo ação de indenização contra o alienante. O adquirente
convalescimento. que perde o bem é o evicto, e o terceiro que dele o toma é
o evictor.
b) Ação Quanti Minoris ou Ação Estimatória: ação
judicial em que se pede abatimento do preço, ou seja, o Exemplo: estelionatário invade terreno e,
adquirente quer permanecer com o bem, mas quer falsificando a escritura pública, vende-o. O verdadeiro
devolução do valor da desvalorização em razão do defeito dono ajuíza ação reivindicatória reclamando seu terreno.
oculto ou, se ainda não pagou, descontá-lo quando do Ao se constatar a falsidade da escritura pública, o
pagamento. Nessa ação se apura o valor a ser abatido do comprador perderá judicialmente o imóvel, o que
preço, o que justifica o seu nomem iuris: “estimar” “quanto chamamos de evicção, tendo apenas direito indenizatório
menos” vale o bem. contra o alienante.

Detalhe importante: o alienante responde por Note que a evicção pode se dar excepcionalmente
vícios redibitórios estando ele de má-fé ou até mesmo de através de uma perda administrativa do bem, pois, em
boa-fé, ou seja, sabendo ou não do defeito oculto. A alguns casos, a jurisprudência do STJ tem admitido a
diferença é que apenas diante da má-fé será obrigado a evicção independente de decisão judicial. Destaque para o
indenizar perdas e danos. Nos termos do art. 443 do CC, caso em que há apreensão policial da coisa em razão de
se o alienante agiu de boa-fé, apenas ressarcirá o furto ou roubo anterior à alienação, podendo o caso ser
adquirente dos gastos que teve com o negócio em si, ou resolvido no próprio âmbito da delegacia. Exemplo: ladrão
seja, devolução do valor recebido e ressarcimento das que vende carro roubado, sendo o evicto parado em uma
despesas do contrato. Se o alienante procedeu de má-fé, blitz e o carro levado à delegacia e devolvido ao seu real
não só devolverá o valor recebido, mas também indenizará dono.
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Informação importante: Nos termos do art. 448 O art. 456, do CC que tratava do exercício do
do CC, as partes podem por cláusula expressa reforçar, direito de evicção consta como revogado pelo CPC/15. No
diminuir ou até excluir a responsabilidade do alienante entanto, sobre o tema, convém mencionar que, de acordo
pela evicção. Cuidado, pois a exclusão só valerá se o com disposto no art. 125, I do CPC/15, a denunciação da
evicto foi informado do risco da evicção e o tenha lide mantém-se como meio processual cabível, sendo
assumido (art. 449 do CC). admissível a qualquer das partes ser promovida, ao
alienante imediato, no processo relativo a coisa cujo
Ao perder o bem, o evicto poderá cobrar domínio foi transferido ao denunciante, a fim de que possa
indenização do alienante. A regra é o ressarcimento da exercer os direitos que da evicção lhe resultam. Apesar de
integralidade do dano do evicto, o que lhe permite cobrar encerrada a possibilidade da denunciação da lide per
do alienante não só a devolução do que pagou pelo bem, saltum, o § 2º do art. 125, do CPC/15, prevê a denunciação
como também as perdas e danos em razão da evicção, os da lide sucessiva.
frutos que eventualmente tenha sido obrigado a restituir ao
evictor e o que gastou com custas judiciais e honorários O art. 128, II do CPC/15, traz o teor do revogado
advocatícios (art. 450 do CC). parágrafo único do art. 456, do CC, dispondo que: “Feita
a denunciação pelo réu: II – se o denunciado for revel, o
Ainda dentro da regra da indenização da denunciante pode deixar de prosseguir com sua defesa,
integralidade do dano, o alienante responderá perante o eventualmente oferecida, e abster-se de recorrer,
evicto por eventual valorização do bem entre a época da restringindo sua atuação a ação regressiva”
alienação e da evicção. Se o bem se desvalorizou, o evicto
cobrará do alienante o preço que lhe pagou, mas se houver Por fim, fechando o tema evicção, precisamos
valorização, cobrará o valor do bem da época em que se entender o que é evicção parcial, tema que é tratado no
evenceu, ou seja, da época em que perdeu o bem pela art. 455 do CC. Haverá evicção parcial quando o evicto
evicção. perder apenas parte do que adquiriu na alienação, por
exemplo, quando compra cem cabeças de gado e perde
Mais uma vez, ainda dentro da regra da vinte ou trinta delas pela evicção. Qual a consequência?
indenização da integralidade do dano, ainda que o bem Depende se a evicção é considerável ou irrisória, pois uma
esteja deteriorado, o evicto poderá cobrar do alienante o coisa é perder uma ou duas cabeças de gado, outra é perder
valor total do bem, a menos que tenha sido causado noventa delas. Se a perda for considerável, o evicto pode
dolosamente por ele, quando só poderá cobrar do alienante pedir a rescisão do contrato ou restituição da parte do
o valor que passou a valer o bem. Note que, se a título de preço correspondente ao desfalque sofrido, ou seja,
culpa em sentido estrito a deterioração, ainda assim o devolver o que sobrou e cobrar devolução do que pagou
evicto cobrará do alienante o valor integral do bem. ou ficar com o que sobrou e cobrar apenas o equivalente à
sua perda. Se, no entanto, a perda for irrisória, só poderá o
Conforme será visto no estudo da posse no evicto cobrar a indenização pela perda sofrida,
capítulo de direitos reais deste livro, para onde remetemos permanecendo com o que sobrou.
a sua leitura, o possuidor que realiza benfeitorias no bem
e vem a perdê-lo, tem direito de ser indenizado quando as
benfeitorias forem necessárias e úteis. É o caso que ocorre 8. EXTINÇÃO DO CONTRATO
aqui, pois o evicto tem a posse do bem e a perde para o
evictor. Extinção do contrato é o fim de sua existência, é a
sua morte, é o seu desaparecimento do mundo jurídico.
Assim, se ele realizou benfeitorias necessárias ou Extinção é o gênero, que contempla várias espécies, pois é
úteis no bem antes da perda, poderá reclamar indenização a expressão mais ampla para o fim do contrato, seja pela
do evictor. O art. 453 do CC diz que o evicto pode cobrar causa que for.
do alienante o que gastou com benfeitorias necessárias e
úteis, se não foram abonadas, ou seja, se não foram pagas Quando falamos em extinção do contrato, esta
pelo evictor. No entanto, completa o art. 454 do CC, se as pode se dar, em princípio, por duas formas diferentes: por
benfeitorias foram feitas pelo alienante e abonadas, ou causa anterior ou superveniente à formação do contrato.
seja, pagas ao evicto pelo evictor, o valor será deduzido
quando o evicto cobrar a indenização do alienante. Se a causa de extinção do contrato é anterior ou
até concomitante à sua formação, temos um caso de
imperfeição do contrato, pois ele já nasceu viciado. Nesse
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caso, o contrato é inválido, podendo ele ser nulo ou contrato quando este chega ao fim. Autores clássicos,
anulável, a depender do vício. Não é tema para aqui ser como Orlando Gomes e Caio Mário, no entanto, com base
visto, pois é assunto da parte geral do direito civil, para na doutrina italiana, ensinam que rescisão em sentido
onde remetemos sua leitura. técnico só ocorre quando um contrato é extinto em caso de
lesão ou de estado de perigo. Modernamente, esse não é o
Se a causa de extinção do contrato é superveniente entendimento, até porque são defeitos do negócio jurídico,
à sua formação, estamos tratando de um contrato perfeito, portanto, causas antecedentes ou concomitantes à
ou seja, que se formou de forma válida, não sendo caso de formação do contrato, caso de invalidade e não de
nulidade nem de anulabilidade. O contrato perfeito pode inexecução, quando pressupomos um contrato perfeito.
ser extinto de duas formas diferentes: por execução ou por Outros autores mencionam rescisão como uma espécie de
inexecução do contrato. resolução do contrato, significando a resolução culposa ou
voluntária, ou seja, quando o contrato é extinto por
Execução do contrato é quando ele é cumprido, o inadimplemento culposo do outro contratante. O conselho
que pode ocorrer pelo pagamento ou até pelas formas é evitar o uso do termo rescisão, pois, como não há
anormais de extinção das obrigações, quais sejam: consenso, é um risco desnecessário em prova.
pagamento em consignação, pagamento com sub-rogação,
novação, imputação ao pagamento, dação em pagamento, 8.1. Resilição do contrato
compensação, confusão ou remissão. Também não é tema
para aqui ser tratado, pois é assunto de obrigações, para Conforme visto, resilição do contrato ocorre
onde remetemos a sua leitura. quando há extinção do contrato unicamente em razão da
vontade das partes. A resilição pode ser unilateral ou
O caso é de inexecução quando não há bilateral, a depender se a vontade é de apenas um dos
cumprimento de um contrato perfeito, que é o tema que contratantes ou de ambos. Não se discute aqui culpa da
aqui estudamos. Perceba a impropriedade do CC ao tratar parte fazendo surgir uma causa de extinção do contrato,
do tema sob o título “da extinção dos contratos”, quando, pois não há causa jurídica que motive o seu fim,
na verdade, deveria tê-lo intitulado de “inexecução dos simplesmente não quero ou não queremos mais.
contratos” ou até mesmo “da extinção dos contratos pela
inexecução”. a) Resilição unilateral: ocorre quando apenas uma das
partes não quer mais manter o contrato, sem precisar
A inexecução pode causar três tipos de extinção externar qualquer razão para isso. O art. 473 do CC diz que
do contrato: resilição, resolução e rescisão. Vamos definir se opera mediante denúncia notificada à outra parte, ou
cada um dos institutos, para em seguida aprofundar o seja, o contratante deve notificá-la formalmente. A
estudo. resilição unilateral do contrato pode se dar quando a lei
permitir ou quando houver expressa previsão no contrato.
a) Resilição: extinção do contrato por vontade de um ou Há casos em que a lei permite a resilição unilateral do
de ambos os contratantes, ou seja, é quando eu termino o contrato, razão pela qual não será devedor em perdas e
contrato porque quero ou quando terminamos porque danos à outra parte. Por exemplo: o direito de revogação
queremos, sem ter qualquer razão jurídica para isso. de contrato de mandato. Pode a lei não permiti-la, mas a
Exemplo: celebrei contrato de aluguel pelo prazo de três vontade das partes sim, quando inserem no contrato
anos e decido resili-lo com dois anos por questão pessoal. cláusula permissiva, podendo ou não ser fixada uma multa
a ser paga ao outro contratante se esta ocorrer. Se não
b) Resolução: extinção do contrato em razão do houver previsão legal nem contratual, a parte não poderá
inadimplemento da outra parte, ou seja, um dos unilateralmente resilir o contrato, podendo ser o caso de
contratantes não cumpre o contrato, legitimando a outra reclamação judicial para sua execução forçada. Exemplo:
parte pedir sua resolução. Exemplo: mesmo contrato de contrato de locação em que há previsão apenas para o
aluguel de três anos, resolvido pelo locador em razão do locatário o resilir, tendo o locador que esperar o fim do
inquilino não pagar o aluguel. contrato pela total execução.

c) Rescisão: não há consenso na doutrina sobre o b) Resilição bilateral: ocorre quando a extinção do
significado de rescisão do contrato. Muitos usam o termo contrato se dá unicamente por vontade, mas de ambas as
rescisão como sinônimo de extinção do contrato, até partes, sendo chamado de distrato. É um acordo das partes,
mesmo por causa antecedente, sendo, inclusive, o sentido pondo vim à avença contratual, sem se externar qualquer
que caiu no gosto popular, que só fala em rescisão do causa para isso, razão pela qual, em princípio, nenhuma
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das partes deve qualquer indenização ao outro contratante. interpelação judicial (art. 474 do CC). Além disso, vindo
Importante sobre o tema é o art. 472 do CC, que diz que o expressa no contrato, já se insere cláusula penal prefixando
distrato deverá ser feito na mesma forma exigida para ser o valor da indenização por perdas e danos.
feito o contrato. Como exemplo, se o contrato de compra
e venda de um imóvel de valor superior a trinta salários 8.2.1. Exceção de contrato não cumprido (exceptio non
mínimos deve ser por escritura pública, o distrato assim adimplenti contractus)
também deve ser.
Se uma das partes é inadimplente, legitima a outra
8.2. Resolução do contrato a pedir a resolução do contrato. Agora, imagine que antes
disso o inadimplente ajuíze uma ação cobrando o
Resolução do contrato é a sua extinção em razão cumprimento da prestação da outra parte. O que ela poderá
do inadimplemento ou da mora da outra parte. Aqui o fazer? Sendo um contrato bilateral, poderá alegar a
contrato não termina apenas em razão da vontade das exceção de contrato não cumprido, ou seja, que não
partes, pois há uma causa que autoriza uma delas a pedir cumprirá sua prestação em razão do autor da ação não ter
sua extinção: o não cumprimento do contrato. cumprido a sua. A razão já foi exposta: como o contrato
bilateral é sinalagmático, a prestação de uma das partes é
Esse descumprimento pode ser com culpa ou sem causa da prestação da outra parte, razão pela qual quem
culpa do contratante inadimplente, o que faz com que não cumpre a sua prestação não pode exigir o
existam dois tipos de resolução do contrato: com culpa cumprimento da prestação da outra parte (art. 476 do CC).
(voluntária) ou sem culpa (involuntária). A grande
diferença é que no caso de resolução culposa, o 8.2.2. Resolução sem culpa ou involuntária
inadimplente será devedor de perdas e danos junto com a
resolução, o que não será devido quando a resolução não A extinção do contrato se dá pelo inadimplemento
for culposa. Perceba que aqui falamos de mora e de da outra parte, sem ela ter tido culpa no descumprimento
inadimplemento, tema que abordamos no estudo das contratual. Aqui não há indenização por perdas e danos,
obrigações neste livro, valendo lembrar que só há mora e mas apenas resolução do contrato, pois o contratante quer
inadimplemento indenizáveis em perdas e danos quando cumprir o contrato, mas não consegue. Isso ocorre em dois
com culpa do devedor, pois, se sem culpa, apenas haverá casos: caso fortuito ou motivo de força maior e no caso de
resolução do contrato. aplicação da teoria da imprevisão ou da onerosidade
excessiva.
Cláusula resolutória é a cláusula que permite ao
contratante resolver o contrato diante do inadimplemento a) Caso fortuito ou motivo de força maior: são situações
da outra parte. O contrato pode trazer uma cláusula inevitáveis, insuperáveis, que impedem o contratante de
resolutória expressa, mas esta também pode ser implícita cumprir sua prestação. Imagine contrato de compra e
aos contratos. Quando isso ocorre? venda de produto agrícola, que não pôde ser entregue em
razão de violenta tempestade que destruiu toda a
Todo contrato bilateral tem implícita a cláusula plantação. Não há culpa no inadimplemento, havendo
resolutória. A razão é que todo contrato bilateral é simples resolução do contrato, retornando as partes ao
sinalagmático, o que significa que a prestação de uma das estado em que se encontravam antes de sua celebração,
partes é causa da prestação da outra parte. Como uma das sem direito de indenização da parte prejudicada.
partes só cumpre a sua prestação porque a outra cumpre a
sua, o descumprimento autoriza a outra parte pedir a Cuidado: há dois casos em que haverá resolução
resolução do contrato, mesmo que não tenha nele cláusula sem culpa do contratante inadimplente, por decorrer de
permissiva expressa. Sendo contrato unilateral ou caso fortuito ou motivo de força maior, mas que haverá
plurilateral, necessária a cláusula resolutiva expressa no dever indenizar o outro contratante em perdas e danos, o
contrato, para que uma das partes possa pedir a resolução que já foi visto neste livro, em obrigações, para onde
em razão do inadimplemento ou mora da outra parte. remetemos sua leitura:

Há vantagem da cláusula resolutória expressa em (i) quando houver previsão expressa no contrato
relação à implícita, o que justifica sua inserção inclusive impondo o dever de indenizar perdas e danos pelo seu
no contrato bilateral. Vindo expressa no contrato, haverá descumprimento, mesmo em razão de caso fortuito ou
extinção automática do contrato em caso de motivo de força maior (art. 393 do CC); e
inadimplemento, enquanto que, se implícita, depende de
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(ii) quando a impossibilidade da prestação se dá bem ou até em razão de algum melhoramento por que
por caso fortuito ou motivo de força maior que ocorre passou.
durante a mora do contratante (art. 399 do CC).
Se, no entanto, o contrato for de execução
b) Teoria da imprevisão ou da onerosidade excessiva: prolongada no tempo, ou seja, de execução continuada, os
o tema já foi visto neste livro, neste capítulo dos contratos, efeitos serão não retroativos ou ex nunc, mantendo-se os
quando do estudo do princípio da obrigatoriedade efeitos até então produzidos. A razão disso é evitar um
mitigado pela cláusula rebus sic stantibus, para onde enriquecimento sem causa de um dos contratantes.
remetemos a sua leitura. É resolução do contrato sem Imagine um contrato de locação: se a resolução tivesse
culpa, pois acontece fato superveniente e imprevisível que efeito retroativo, faria com que o locador devolvesse o
desequilibra economicamente o contrato, legitimando o valor recebido durante o contrato, não tendo como o
pedido de resolução do contrato pelo fato da lei não exigir inquilino devolver o tempo que usou o bem, o que lhe
mais o seu cumprimento. geraria um enriquecimento sem causa por ter alugado o
imóvel por um tempo sem por isso pagar.
8.2.3. Resolução com culpa ou voluntária (que, para
alguns autores, é a rescisão) O efeito retroativo (ex tunc) da resolução dos
contratos de execução instantânea ou diferida e o efeito
A extinção do contrato se dá pelo inadimplemento não retroativo (ex nunc) da resolução dos contratos de
da outra parte, tendo ela culpa no descumprimento do execução continuada valem tanto para a resolução com
contrato. Exemplo: contrato de aluguel resolvido em razão culpa quanto para a resolução sem culpa. A única
do inquilino não ter pago o aluguel porque não quis ou diferença entre eles é que na resolução culposa o
porque foi negligente. A diferença para a resolução não inadimplente será devedor de indenização por perdas e
culposa é que aqui o inadimplente, além de suportar a danos, o que não ocorre, em regra, na resolução sem culpa.
resolução do contrato, deve pagar indenização por perdas
e danos ao outro contratante (embora isso possa ocorrer na Cuidado com um detalhe: no caso da resolução
resolução sem culpa, mas por exceção nos casos sem culpa decorrente da aplicação da teoria da imprevisão
supramencionados). ou da onerosidade excessiva, para cuja abordagem
remetemos sua leitura, seja contrato de execução
A resolução com culpa não pode ser bilateral, continuada ou diferida, o efeito será, por expressa previsão
apenas podendo ser unilateral. Se ambas as partes tiverem legal, retroativa, mas até à data da citação do processo em
culpa no inadimplemento, a culpa será daquele que que o contratante pede a sua resolução (a teoria não se
primeiro tinha a obrigação de cumprir sua prestação. A aplica aos contratos de execução instantânea).
razão disso é o princípio da exceção de contrato não
cumprido, pois, se houver prestações simultâneas e um dos E se o caso for de resilição do contrato, a decisão
contratantes não cumpre sua prestação, o outro está tem efeito retroativo ou não retroativo? Quando falamos
legitimado a não cumprir a sua prestação. em resilição, estamos falando de contrato de execução
continuada, pois na resilição o contratante quer
8.3. Efeitos no tempo da resolução e da resilição dos
contratos interromper o cumprimento da sua prestação prolongada
no tempo. Por isso, a resilição do contrato tem efeito não
Havendo resolução do contrato, essa decisão tem retroativo ou ex nunc, não se desfazendo os efeitos
efeito retroativo ou não retroativo? Depende se o contrato produzidos até então, mas apenas afastando a produção de
for de execução instantânea, diferida ou continuada. efeitos daí para frente, até porque não há qualquer causa
jurídica a gerar o seu término, apenas o acordo de vontades
Se o contrato é de execução única, ou seja, de
em acabar com um contrato que produziu efeitos
execução instantânea ou até diferida, a decisão produz
efeitos retroativos ou ex tunc, desfazendo-se o que foi feito normalmente até então.
até então, pois resolver o contrato é fazer retornar ao
estado em que as partes se encontravam antes da sua
celebração. Assim, se estamos diante da resolução de um
contrato de compra e venda, o comprador devolve o bem
e o vendedor devolve o dinheiro recebido, buscando-se
eventual indenização diante da perda ou deterioração do
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Questões Comentadas *a) José deve entregar a biblioteca no prazo designado pela
Universidade, se quiser evitar a resolução do contrato em
(FGV – 2015 - OAB - Exame de Ordem Unificado - perdas e danos.
XVIII - Primeira Fase) Por meio de contrato verbal, b) Não tendo sido ajustada solidariedade, José não está
João alugou sua bicicleta a José, que se obrigado a entregar todos os livros, respondendo, apenas,
comprometeu a pagar o aluguel mensal de R$ 100,00 pela sua cota parte.
(cem reais), bem como a restituir a coisa alugada ao c) Como Luiz foi incumbido da entrega, a Universidade
final do sexto mês de locação. Antes de esgotado o não poderia ter notificado José, mas deveria ter interpelado
prazo do contrato de locação, João deseja celebrar Luiz.
contrato de compra e venda com Otávio, de modo a d) Tratando-se de três devedores, a Universidade não
transmitir imediatamente a propriedade da poderia exigir de um só o pagamento; logo, deveria ter
bicicleta. Não obstante a coisa permanecer na posse notificado simultaneamente os três irmãos.
direta de José, entende-se que Comentários:
a)o adquirente Otávio, caso venda a bicicleta antes de A questão tem por correta a afirmativa constante da letra
encerrado o prazo da locação, deve obrigatoriamente A e tem por fundamento legal o art. 475 do Código Civil
depositar o preço em favor do locatário José. dispondo que “A parte lesada pelo inadimplemento pode
b)João não pode celebrar contrato de compra e venda da pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o
bicicleta antes de encerrado o prazo da locação celebrada cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos,
com José. indenização por perdas e danos.”
*c)é possível transmitir imediatamente a propriedade para
Otávio, por meio da estipulação, no contrato de compra e
venda, da cessão do direito à restituição da coisa em favor CONTRATOS EM ESPÉCIE
de Otávio.
d) é possível transmitir imediatamente a propriedade para Por Cristiano Sobral
Otávio, por meio da estipulação, no contrato de compra e
venda, do constituto possessório em favor de Otávio. 1. COMPRA E VENDA (arts. 481 a 532 do CC)
A cessão de contrato ou a cessão de posição contratual não
tem previsão legal, todavia encontra respaldo nos 1.1. Conceito
postulados da autonomia da vontade (autonomia privada),
A definição do contrato de compra e venda está
liberdade contratual, bem como na possibilidade de
conceituada de maneira clara e objetiva no artigo 481 do
celebração de contratos atípicos. Na lei civil, insta Código Civil:
mencionar o disposto no art. 425: "É lícito às partes
estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, um dos
fixadas neste Código.” Correta alternativa de letra C. contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa,
e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro.
(FGV - 2014 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XV
- Primeira Fase) Questão 41 Donato, psiquiatra de 1.2. Natureza jurídica
renome, era dono de uma extensa e variada biblioteca,
com obras de sua área profissional, importadas e raras. a) Contrato bilateral ou sinalagmático – proporciona,
Com sua morte, seus três filhos, Hugo, José e Luiz reciprocamente, obrigações para ambas as partes.
resolvem alienar a biblioteca à Universidade do
Estado, localizada na mesma cidade em que o falecido b) Contrato oneroso – gera repercussão econômica com a
residia. Como Hugo vivia no exterior e José em outro sua elaboração para ambas as partes.
estado, ambos incumbiram Luiz de fazer a entrega no
prazo avençado. Luiz, porém, mais preocupado com c) Contratos aleatórios ou comutativos – regra geral, os
seus próprios negócios, esqueceu-se de entregar a contratos são comutativos em razão das prestações serem
biblioteca à Universidade, que, diante da mora, certas. No entanto, a possibilidade de risco não está
notificou José para exigir-lhe o cumprimento integral completamente excluída.
em 48 horas, sob pena de resolução do contrato em
perdas e danos. Nesse contexto, assinale a afirmativa d) Contrato consensual – nasce do consenso entre as
correta. partes, uma delas será responsável em aceitar o preço e a
outra a contraprestação.
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das referidas coisas, se estiver em mora de as receber, logo
e) Contrato formal ou informal – a compra e venda de bens que ordenadas no tempo, lugar e pelo modo ajustados.
imóveis com valor superior a trinta salários mínimos Essa é a previsão legal.
federais deverá ser sempre por escritura pública. Todavia,
se inferior, a mesma poderá ser feita por instrumento 1.5. Restrições à compra e venda
particular.
a) Venda de ascendente para descendente – prevê o
f) Contrato instantâneo ou de longa duração – o diploma civil: art. 496.
instantâneo se consumará com a prática do ato, o de longa
duração, necessita de tempo para se exaurir. Art. 496. É anulável a venda de ascendente a descendente,
salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante
g) Contrato paritário ou de adesão – será paritário quando expressamente houverem consentido. Parágrafo único. Em
as partes estiverem em pé de igualdade; já o contrato de ambos os casos, dispensa-se o consentimento do cônjuge
adesão ocorre assim que uma das partes estipula as se o regime de bens for o da separação obrigatória.
cláusulas e a outra terá somente como escolha a aceitação
das mesmas. Conforme previsto, a lei destaca a anulabilidade,
mas em quanto tem tempo? Deve ser ressaltado o prazo
1.3. Elementos constitutivos estipulado no artigo 179 da lei civil, afastando a Súmula n.
494 do STF.
a) Partes: capazes (aptidão genérica) e a legitimação
(aptidão específica). b) Venda de bens sob administração – é proibida pelo
b) Coisa: deve ser disponível para sua comercialização artigo 497 do Código Civil. Nesse caso, destaca-se a
dentro do mercado. O objeto tem de ser lícito e nulidade!
determinado ou determinável. Segundo previsão do artigo
483 do Código Civil, o objeto do contrato para ser c) Venda entre cônjuges – reza o artigo 499:
negociado no mercado poderá também ser futuro. “Art. 499. É lícita a compra e venda entre cônjuges, com
c) Preço: justo, certo, determinado e em moeda corrente, relação a bens excluídos da comunhão.”
de acordo com o artigo 315 do Código Civil. Tal elemento
possui ainda algumas regras especiais: d) Venda de parte indivisa em condomínio – não pode um
condômino de coisa indivisível vender a sua parte a
c.1) preço por avaliação – art. 485 do Código Civil; terceiros sem notificar o outro proprietário da res. O artigo
504 da lei civil salienta a observância do direito de
c.2) preço à taxa de mercado ou de bolsa – art. 486 do preferência.
Código Civil;
1.6. Regras especiais da compra e venda
c.3) preço por cotação – art. 487 do Código Civil;
a) Venda por amostra, por protótipos ou por modelos – se
c.4) preço tabelado e médio – art. 488 do Código Civil; a venda ocorrer dessa forma, o vendedor assegurará ter a
coisa as qualidades que a elas correspondem. Essa é a regra
c.5) preço unilateral – art. 489 do Código Civil. do artigo 484 da lei civil.

1.4. As despesas e riscos do contrato b) Venda a contento e sujeita à prova – entende-se que é
aquela realizada sob condição suspensiva, ainda que tenha
Salvo cláusula em contrário, as despesas de recebido a coisa. Aquele que recebe a coisa será
escritura e o registro ficarão sob a responsabilidade do considerado como comodatário. Assim, em caso de
comprador, e as da tradição, a cargo do vendedor. E quanto descumprimento da mesma, poderá o alienante propor
aos riscos? Até o momento da tradição, os riscos da coisa ação para recuperar a posse. Observe os artigos 509 a 512
cabem por obrigação ao vendedor, e os do preço, ao do CC/2002.
comprador. Todavia, os casos fortuitos, ocorrentes no ato
de contar, marcar ou assinalar coisas, que comumente se c) Venda ad mensuram e ad corpus – a ad mensuram (art.
recebem, contando, pesando, medindo ou assinalando, e 500, caput) é aquela em que o preço do bem é medido pela
que já foram postas à disposição do comprador, correrão área. Em caso de descumprimento da mesma, prevê a lei a
por conta deste. Compete também ao comprador os riscos possibilidade de algumas ações. Quais são elas? Ação ex
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empto (complementação da área), Ação Redibitória mesma e constituído o comprador em mora, poderá o
(extinguir o negócio), Ação Estimatória ou Quanti Minoris vendedor propor ação de cobrança ou busca e apreensão
(abatimento). Essas ações têm o prazo de um ano para recuperar a posse do bem.
decadencial, consoante previsão do artigo 501. Na venda
ad corpus (art. 500, § 3º), as metragens e a área são apenas d) Venda sobre documentos ou trust receipt – por
para localizar o bem, mas não influenciam no preço. Nessa intermédio dos arts. 529 ao 532, verifica-se a venda em
venda não são cabíveis as Ações retromencionadas. que a tradição da coisa é substituída pela entrega de um
título que a representa.
1.7. Cláusulas especiais ou pactos adjetos
2. TROCA OU PERMUTA (art. 533 do CC)
a) Retrovenda ou cláusula de resgate – por meio dos arts.
505 a 508 da lei civil, podem ser observados esse pacto 2.1. Conceito
acessório. A mesma recai sobre bens imóveis e o prazo
máximo para o retrato será de três anos. Não se trata de Nessa modalidade contratual prevista no artigo
cláusula personalíssima, pois a mesma é cessível e 533 da lei civil, as partes pactuam suas obrigações,
transmissível a herdeiros e legatários. remunerando-se, através da compensação dos ofícios
estabelecidos por cada uma delas. Difere do contrato de
b) Cláusula de preempção, preferência ou prelação – Os compra e venda, pois na permuta a contraprestação é feita
artigos 513 a 520 do CC estabelecem esse pacto adjeto que pelo pagamento de um preço em dinheiro.
poderá recair sobre bens móveis e imóveis. O prazo para o
exercício do pacto não poderá exceder a cento e oitenta 2.2. Natureza jurídica
dias para os bens móveis e dois anos para os imóveis. Uma
vez pactuado a cláusula e inexistindo prazo estipulado, o a) Contrato bilateral ou sinalagmático – apresenta,
direito de preempção caducará, se a coisa for móvel, não reciprocamente, deveres para ambas as partes, que se
se exercendo nos três dias, e, se for imóvel, não se obrigam a dar uma coisa recebendo outra diferente de
exercendo nos sessenta dias subsequentes à data em que o dinheiro.
comprador tiver notificado o vendedor. Tal direito é
personalíssimo, pois não se pode ceder nem passa aos b) Contrato comutativo – as partes se cientificam de suas
herdeiros. obrigações no ato da elaboração, por serem certas e
Atenção: O instituto da retrocessão causado pela determinadas no ato da celebração.
tredestinação ilícita (por não ter sido observado o interesse
público e o desvio), regra do Direito Administrativo, foi c) Contrato consensual – ocorre com a manifestação das
citado na lei civil no art. 519, dispondo que: “Se a coisa partes.
expropriada para fins de necessidade ou utilidade pública,
ou por interesse social, não tiver o destino para que se d) Contrato formal ou informal, solene ou não solene – a
desapropriou, ou não for utilizada em obras ou serviços lei não impõe maiores formalidades para a sua celebração;
públicos, caberá ao expropriado direito de preferência,
pelo preço atual da coisa. Sobre a matéria, veja Enunciado e) Contrato translativo – a transmissão da coisa ocorrerá
da VII Jornada de Direito Civil: “Art. 519 – O art. 519 do com a tradição, trazendo consigo no contrato.
Código Civil derroga o art. 35 do Decreto-Lei n.
3.365/1941 naquilo que ele diz respeito a cenários de f) Contrato oneroso – apresenta repercussão econômica.
tredestinação ilícita. Assim, ações de retrocessão baseadas
em alegações de tredestinação ilícita não precisam, quando 3. CONTRATO ESTIMATÓRIO (arts. 534 a 537 do
julgadas depois da incorporação do bem desapropriado ao CC)
patrimônio da entidade expropriante, resolver-se em
perdas e danos”. (Enunciado n. 592) 3.1. Conceito

c) Cláusula de venda com reserva de domínio – a previsão Esse contrato pode ser chamado também de venda
encontra-se nos artigos 521 a 528 do CC. Recai sobre bens em consignação, tem por finalidade vender, em nome
móveis e será estipulada por escrito, dependendo de próprio, bens móveis de propriedade de terceiros. O
registro no domicílio do comprador para valer contra proprietário/consignante dará somente a posse do bem ao
terceiros. O comprador do bem só alcançará a propriedade vendedor/consignatário, não sendo entregue o domínio da
depois de pagas todas as parcelas. Uma vez descumprida a
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coisa. Sua previsão está nos artigos 534 a 537 do Código 4.2. Natureza jurídica
Civil.
a) Contrato unilateral/bilateral – apresenta obrigação
3.2. Natureza jurídica somente para uma das partes; porém, no caso de doação
modal, ocorre uma imposição para aquele que recebe bens
a) Contrato bilateral ou sinalagmático – caracterizado pela ou vantagens de um ônus.
reciprocidade nas obrigações entre os contratantes.
b) Contrato gratuito – a doação será, em regra, gratuita
b) Contrato oneroso – proporciona repercussão (excepcionalmente haverá a doação modal, conferindo
econômica. vantagens a ambas as partes).

c) Contrato real – concretizado com a efetiva entrega do c) Contrato consensual – é formado pela manifestação de
bem. vontade das partes.

d) Contrato comutativo – as partes são cientificadas de d) Contrato real – ocorre sempre que a doação envolver
suas obrigações no ato da elaboração. bem de pequeno valor seguido de sua tradição (doação
oral/manual);
e) Contrato informal ou não solene – a lei não impõe
maiores formalidades para a sua celebração. e) Contrato comutativo – acontece quando as partes são
cientificadas de suas obrigações no ato da elaboração;
f) Contrato instantâneo e temporário – o primeiro se
consuma com a prática do ato, já o segundo se efetua por f) Formal e solene – desde que a doação de bem imóvel
meio do termo final para a venda da coisa consignada. seja superior a 30 salários mínimos.

3.3. Efeitos e regras g) Formal e não solene – todas as vezes que o bem imóvel
for inferior ou igual a 30 salários mínimos ou bens móveis,
– É análogo a uma obrigação alternativa, pois o não há necessidade de escritura pública.
vendedor/consignatário poderá devolver o valor
inicialmente estimado ou a própria coisa. 4.3. Espécies de doação

– A coisa deve ser móvel e livre para alienação, não a) pura e simples (art. 543 do CC) – o ato possui liberdade
podendo estar gravada com cláusula de inalienabilidade. plena, não se submetendo a condição, termo ou encargo;

Atenção! Nesta relação contratual, o consignante possui o b) contemplativa (art. 540, 1ª parte, do CC) – o doador
domínio, transferindo ao consignatário somente a posse do efetua a mesma por mera liberalidade, expressando o
bem móvel. motivo;

4. DOAÇÃO (arts. 538 a 554 do CC) c) remuneratória (art. 540, 2ª parte, do CC) – se origina da
realização de serviços prestados, cujo pagamento o
4.1. Conceito donatário não pode ou não deseja cobrar;

A sua definição encontra-se melhor conceituada d) ao nascituro (art. 542 do CC) – é válida desde que aceita
no artigo 538 do Código Civil: pelo seu representante legal. Trata-se de modalidade que
depende, necessariamente, de condição suspensiva para
“Considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por vigorar, pois condiciona a validade do contrato de doação
liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou ao nascimento do feto com vida;
vantagens para o de outra.”
e) ao absolutamente incapaz (art. 543 do CC) – trata-se de
Atenção: Sobre a promessa de doação vejamos o teor do doação pura, não há necessidade da aceitação do
Enunciado n. 549 da VI Jornada de Direito Civil: “A donatário, pois se presume que o incapaz aceitou,
promessa de doação no âmbito da transação constitui inexistindo prova em contrário (iure et iure);
obrigação positiva e perde o caráter de liberalidade
previsto no art. 538 do Código Civil.”
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f) de ascendente a descendente ou de um cônjuge ao outro o) modal ou onerosa (art. 553 do CC) – é aquela em que o
(art. 544 do CC) – está relacionado ao adiantamento da doador atribui ao donatário um encargo, o qual se torna
legítima, visto que confere às doações o valor, que dele em elemento modal do negócio jurídico;
vida receberam, sob pena de sonegação. Não confundir
esse tipo de doação com a inoficiosa prevista no artigo 549 p) à entidade futura (art. 554 do CC) – a entidade deverá
da lei civil; se constituir regularmente com a inscrição dos atos
constitutivos no respectivo registro no prazo máximo de
g) em forma de subvenção periódica (art. 545 do CC) – dois anos; no entanto, se ela não estiver devidamente
trata-se de pagamentos mensais (trato sucessivo) composta dentro desse prazo o contrato poderá caducar.
realizados pelo doador ao donatário, extinguindo-se com o
falecimento de uma das partes, exceto no caso de 4.4. Revogação da doação
falecimento do doador, que poderá estabelecer aos seus
herdeiros a continuação dos pagamentos ao favorecido; São os casos definidos nos artigos 555 ao 564 do
Código Civil e merecem ser conferidos!
h) propter nuptias (art. 546 do CC) – é aquele direcionado
para as núpcias, ou seja, aplicado para casamento futuro, 4.5. Hipóteses de irrevogabilidade por ingratidão
não vigendo o contrato em caso de não consumação do
mesmo; Conforme o artigo 564 da lei civil, as doações que
não serão revogadas por ingratidão serão:
i) com cláusula de reversão ou retorno (art. 547 do CC) –
trata-se de contrato de doação intuitu personae, desde que a) as puramente remuneratórias;
a mesma esteja direcionada somente ao donatário, pois b) as oneradas com encargo já cumprido;
caso ele venha a falecer antes do doador, o bem retornará c) as que se fizerem em cumprimento de obrigação natural;
ao patrimônio deste, ainda que tenha alienado o imóvel d) as feitas para determinado casamento.
antes da morte;
5. LOCAÇÃO DE COISAS (art. 565 e segs., do CC)
j) universal (art. 548 do CC) – é nula tal modalidade, pois
a lei veda a doação pelo doador se ele não possuir bens 5.1. Conceito
suficientes para a sua subsistência. Tal medida visa tutelar
a qualidade de vida do doador (regra em sintonia com o É o contrato em que o locador cede ao locatário
princípio da dignidade da pessoa humana); determinado bem, objetivando que o mesmo use e goze da
coisa de forma contínua e temporária, mediante o
l) inoficiosa (art. 549 do CC) – significa que a doação pagamento de aluguel.
efetuada ultrapassou o quinhão disponível para testar.
Note: O doador tem R$ 200 mil reais e faz uma doação de 5.2. Natureza jurídica
R$ 120 mil reais, o ato será válido até os R$ 100 mil reais
e nulo com relação aos R$ 20 mil. a) Bilateral ou sinalagmático – as partes possuem
Atenção! A Ação de redução é a que tem como objetivo a vantagens e desvantagens recíprocas.
declaração de nulidade da parte inoficiosa.
b) Oneroso – é essencialmente econômico, isto é, por meio
m) do cônjuge adúltero ao seu cúmplice (art. 550 do CC) da cobrança de alugueres.
– é a doação feita entre amantes, geralmente por pessoas
casadas com impedimento de contrair união estável, sendo c) Comutativo – as partes são cientificadas de suas
anulável no prazo decadencial de dois anos. A obrigações no ato da celebração do contrato de locação.
anulabilidade do contrato poderá ser proposta pelo cônjuge
traído ou também pelos herdeiros necessários. Todavia, a d) Consensual – a vontade das partes é a essência do
mesma poderá ser convalidada no caso dos cônjuges contrato,
estarem separados de fato;
e) Informal e não solene – inexiste obrigatoriedade de
n) conjuntiva (art. 551 do CC) – trata-se da doação de um escritura pública como também de contrato escrito.
determinado bem a dois ou mais donatários, os quais se
tornarão cotitulares do bem; f) Execução continuada – as prestações perduram com o
passar do tempo.
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g) Típico – caracterizado por possuir regulamentação legal 5.7. Locação por prazo determinado
no Código Civil.
De acordo com a regra prevista no artigo 573 do
h) Paritário ou de adesão – será paritário quando as partes Código Civil, esta modalidade cessa de pleno direito com
estiverem em pé de igualdade no ato de estabelecer as o fim do prazo estipulado, independentemente de
cláusulas contratuais e de adesão assim que uma das partes notificação ou aviso.
estipular as cláusulas e a outra somente puder aderi-las
para que se possa obter o objeto do contrato. 5.8. Aluguel pena

5.3. Pressupostos Reza a norma civilista:

a) coisa; Art. 575. Se, notificado o locatário, não restituir a coisa,


b) temporariedade; pagará, enquanto a tiver em seu poder, o aluguel que o
c) aluguel. locador arbitrar, e responderá pelo dano que ela venha a
sofrer, embora proveniente de caso fortuito.
5.4. Dos deveres do locador Parágrafo único. Se o aluguel arbitrado for
manifestamente excessivo, poderá o juiz reduzi-lo, mas
O locador é obrigado a entregar ao locatário a tendo sempre em conta o seu caráter de penalidade.
coisa alugada, com suas pertenças, em estado de servir ao
uso a que se destina, assegurando a utilização pacífica da 5.9. A aquisição do bem por terceiro e a cláusula de
coisa. Devendo o locatário, durante o período contratual, vigência
manter a coisa no estado em que se encontra, salvo se
previsto diversamente em cláusula. Se o bem – objeto do contrato – for alienado
durante a vigência do contrato de locação, o adquirente
5.5. O direito potestativo da redução proporcional do não ficará obrigado a respeitá-lo, se nele não for
aluguel ou a resolução do contrato consignada a cláusula da sua vigência, no caso de
alienação, e não constar de registro.
Conforme preceitua o artigo 567 da lei civil, se
durante a locação a coisa alugada for deteriorada, sem 5.10. A sucessão na locação
culpa do locatário, a este caberá pedir redução
proporcional do aluguel, ou resolver o contrato, caso já não Destaca o artigo 577 da lei civil:
sirva a coisa para o fim a que se destinava.
Art. 577. Morrendo o locador ou o locatário, transfere-se
5.6. Dos deveres do locatário aos seus herdeiros a locação por tempo determinado.

Os deveres legais estão elencados no rol do artigo


569 do Código Civil: 5.11. Indenização por benfeitorias

a) servir-se da coisa alugada para os usos convencionados Exceto disposição em contrário, o locatário goza
ou presumidos, consoante a natureza dela e as do direito de retenção, no caso de benfeitorias necessárias,
circunstâncias, bem como tratá-la com o mesmo cuidado ou no de benfeitorias úteis, se estas houverem sido feitas
como se sua fosse; com expresso consentimento do locador, conforme prevê
o artigo 578 da lei civil.
b) pagar pontualmente o aluguel nos prazos ajustados, e,
em falta de ajuste, segundo o costume do lugar; Atenção: Sobre o tema veja V Jornada de Direito Civil,
vejamos: “Art. 424. A cláusula de renúncia antecipada ao
c) levar ao conhecimento do locador as turbações de direito de indenização e retenção por benfeitorias
terceiros, que se pretendam fundadas em direito; necessárias é nula em contrato de locação de imóvel
urbano feito nos moldes do contrato de adesão”
d) restituir a coisa, finda a locação, no estado em que a (Enunciado n. 433).
recebeu, salvas as deteriorações naturais ao uso regular.

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trazer maior facilidade ao juízo a proximidade com o bem
objeto do desalijo.

Como previsto pelo artigo 58 da Lei n. 8.245/91,


o valor da causa para a propositura da ação de despejo
corresponderá a 12 meses de aluguel, ou, na hipótese do
inciso II do artigo 47, a três salários vigentes por ocasião
do ajuizamento.

Segundo recente entendimento do STJ, o despejo


para uso próprio poderá ser proposto nos Juizados
Especiais Cíveis, posto que os incisos do artigo 3º da Lei
n. 9.099/95 não são cumulativos e o inciso III do mesmo
artigo não possui limite de valor tanto para bens imóveis
como para os alugueres vencidos ou vincendos, se os
mesmos existirem.
Por último, deve ser esclarecido que o recurso
contra sentença proferida, nesses casos, será o de apelação
e deverá ser recebido somente no efeito devolutivo,
permitindo assim o diploma legal, a execução provisória
do julgado.

5.12. A locação na Lei n. 8.245/91 5.12.1.3. Espécies

Esta lei se aplica somente nas relações locatícias 5.12.1.3.1. Ação de despejo (arts. 59 a 66 da Lei n.
de imóvel urbano, consoante previsto em seu artigo 1º. 8.245/91)

5.12.1. Ações inquilinárias ou locatícias a) É a única ação que o locador pode sugerir para recuperar
o imóvel objeto da locação.
5.12.1.1. Conceito
b) Tem natureza de ação de rescisão de dissolução
São quatro as ações previstas na lei de locações: a contratual, com natureza eminentemente pessoal e não
de despejo, a consignatória de alugueres e encargos possessória ou real.
locatícios, a revisional de aluguel e a renovatória de
imóveis não residenciais. c) Segue o rito ordinário, consoante artigo 59 da Lei n.
Além dessas, poderão ser propostas também: a 8.245/91.
ação de execução dos encargos locatícios, conforme
disposto no artigo. 585, inciso V, do CPC/73 (corresponde d) No polo passivo figurará o locatário, sublocatário e/ou
ao art. 784, VIII, do CPC/15), e a indenizatória, pelo quem o tenha legitimamente substituído.
locatário em face do locador, alegando que o imóvel
locado apresentava defeitos causadores tanto de danos e) É permitido o deferimento de medidas liminares
morais quanto de materiais. inaudita altera pars, conforme § 1º do artigo 59 da Lei n.
Portanto, a Lei n. 8.245/91 é uma norma híbrida, 8.245/91.
pois cuida de aspectos materiais, procedimentais, como
também processuais. f) O despejo também poderá ocorrer por denúncia cheia ou
vazia. A primeira ação está baseada no artigo 47 da lei do
5.12.1.2. Lei do inquilinato: aspectos gerais inquilinato; já a segunda está disposta no artigo 6º desta
lei;
Algumas questões relevantes devem ser
analisadas no estudo da Lei 8.245/91. O primeiro ponto a g) Pode ser proposta ação de despejo por falta de
ser analisado é o juízo competente para propor as ações de pagamento ou por infração contratual; pedido para uso
despejo. Aqui se aplica a regra de competência do foro da próprio; ausência de conservação ou deterioração do
situação da coisa, disposta no artigo 47, do CPC/15, por
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imóvel locado ou, ainda, realizar obras sem o monetária exigível a partir do trânsito em julgado da
consentimento do locador. decisão que fixar o novo aluguel; como também serão
descontados os alugueres provisórios já satisfeitos.
h) A sentença tem caráter mandamental por dispensar a sua
fase final de liquidação. g) No final da ação locatícia serão cobradas as diferenças
locatícias entre o aluguel provisório e o definitivo.
5.12.1.3.2. Ação consignatória de aluguéis e acessórios
na locação (art. 67 da Lei n. 8.245/91) h) A ação de despejo poderá ser fundamentada pelo
inadimplemento dos alugueres provisórios.
a) Esta ação tem por característica evitar a inadimplência
do locatário através do depósito efetuado em juízo quando 5.12.1.3.4. Ação renovatória de contrato (arts. 71 a 75
proposta a exordial. da Lei n. 8.245/91)

b) Transcorre pelo rito especial. a) Esta ação visa à renovação compulsória do contrato de
locação escrito, e não residencial, por prazo determinado,
c) Caracteriza-se como uma ação que visa ao pagamento vigendo no mínimo de forma ininterrupta pelo prazo de 5
indireto da obrigação e tem como parte autora o locatário. anos, com exploração da mesma atividade pelo prazo
mínimo de três anos, devendo esta demanda correr no rito
d) Diversamente da ação consignatória prevista no ordinário.
CPC/15, esta modalidade não tem caráter dúplice, pois a
lei preceitua o cabimento de reconvenção nos termos do b) Ela deverá ser proposta no prazo máximo de 1 ano e 6
inciso VI do artigo 67 da lei do inquilinato. meses após o término do contrato.

5.12.1.3.3. Ação revisional de aluguel (arts. 68 a 70 da c) A legitimidade ativa é do locatário.


Lei n. 8.245/91)
d) Nesta demanda será fixado o aluguel provisório a ser
a) Pode ser ofertada tanto pelo locador, buscando o devido após o término da vigência do contrato de locação.
aumento do valor dos alugueres, como poderá ser proposta
pelo locatário com o objetivo de reduzi-los. e) O aluguel fixado na sentença poderá ser cobrado
imediatamente, independentemente da propositura do
b) Este benefício poderá ser utilizado somente pelo prazo recurso.
de três anos, ainda que a ação tenha sido proposta pela
parte contrária. f) Não sendo renovada a locação, o juiz determinará a
expedição de mandado de despejo, dentro do prazo de 30
c) Segue o rito sumário, conforme artigo 68 da lei do (trinta) dias para a desocupação voluntária, se houver
inquilinato. pedido na contestação.

d) O juiz fixará o aluguel provisório por meio dos


elementos fornecidos pelo autor da ação, que será devido
desde a citação.

e) Na audiência de conciliação, consoante recente


alteração pela Lei n. 12.112/09, deverá ser apresentada a
contestação, contendo a contraproposta; caso exista
discordância quanto ao valor pretendido, tentará o juiz a
conciliação; em caso de impossibilidade, determinará a
realização de perícia, se necessária, designando, desde
logo, audiência de instrução e julgamento.

f) O aluguel fixado em sentença retroage à citação e as


diferenças devidas durante a ação de revisão abrangerá os
alugueres vincendos, bem como os vencidos e não pagos;
as mensalidades locatícias serão pagas com correção
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c) Informal e não solene – não possui formalidade prevista


em lei.

d) Unilateral – confere obrigações somente ao


comodatário.

e) Personalíssimo – extingue-se com a morte do


comodatário.

f) Fiduciário – como o próprio nome diz, é baseado na


confiança entre o comodante e comodatário.

6.2.3. Legitimação para celebrar o contrato

Em regra, todos os bens imóveis/móveis são


passíveis de ser objeto de contrato de comodato, no
entanto, excepcionalmente a lei dispõe que não poderão
dar em comodato, sem autorização especial, os bens
confiados à guarda dos tutores, curadores e todos os
administradores de bens alheios, em geral.

6.2.4. Prazo determinado e indeterminado


6. EMPRÉSTIMO
Nos casos pactuados por prazo determinado, não
6.1. Aspectos gerais
poderá o comodante suspender o uso e gozo da coisa
emprestada antes de findo o prazo convencional, salvo se
Esse tipo de contrato abrange tanto o comodato
houver uma urgente necessidade reconhecida pelo juiz.
como o mútuo. Ambos os institutos se assemelham por
terem como objeto a entrega da coisa para ser usada e
O comodato poderá não ter prazo convencionado, e nesse
restituída ao dono originário ao final do negócio
caso se presumirá o prazo através da necessidade da
estabelecido. Diferenciam-se em razão da natureza da
utilização da coisa.
coisa emprestada, pois se o bem for fungível o contrato
será de mútuo e, se o mesmo for infungível, comodato.
6.2.5. Obrigações do comodatário e o chamado aluguel-
pena
6.2. DO COMODATO (EMPRÉSTIMO DE USO)
(arts. 579 a 585 do CC)
O comodatário tem como obrigação conservar o
imóvel como se seu fosse, não podendo usá-lo em
6.2.1. Conceito
desacordo com o contrato ou a sua natureza, sob pena de
responder por perdas e danos.
A melhor definição está expressa no artigo 579 do
Este será notificado para que dessa forma seja
CC:
constituído em mora, respondendo tanto pelo atraso
Art. 579. O comodato é o empréstimo gratuito de coisas
quanto também pelos alugueres da coisa que forem
não fungíveis. Perfaz-se com a tradição do objeto.
arbitrados pelo comodante até a efetiva entrega das chaves,
caracterizando, nesse caso, uma espécie de cláusula penal
6.2.2. Natureza jurídica
típica do contrato de comodato.
a) Real – se perfaz com a tradição do bem infungível.
6.2.6. Responsabilidade do comodatário
b) Gratuito – como disposto acima, ainda que o
Em situação de eminente risco da perda dos bens
comodatário efetue o pagamento dos encargos de
do comodante e do comodatário, e, este último, tendo
comodato (p. ex., condomínio, IPTU, dentre outros), este
somente como salvaguardar os seus pertences
contrato é considerado gratuito.
abandonando os do comodante, deverá ser
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responsabilizado pelo dano ocorrido, ainda que se trate de Este contrato se caracteriza pela transferência do
caso fortuito ou força maior. Vale enfatizar, que mesmo domínio da coisa emprestada ao mutuário, que assume
nestes casos, não será suprimida a culpa do comodatário todos os riscos do bem fungível desde a tradição.
que pretere a coisa alheia emprestada em prol de seus
pertences. 6.3.4. Mútuo feito à pessoa menor

6.2.7. Despesas do contrato O mútuo realizado por menor de idade, quando


não autorizado por seus responsáveis legais, isto é, aqueles
Não é possível o comodatário recobrar do que possuem a sua guarda, não poderá ser reivindicado,
comodante as despesas feitas com o uso e gozo da coisa nem pelo menor nem tampouco por quem possui a sua
emprestada. guarda. Todavia, essa regra possui 5 exceções:

6.2.8. A solidariedade no contrato a) se o representante legal do menor posteriormente


ratificar a necessidade do mútuo;
Só é possível a existência da solidariedade no
contrato de comodato no caso de duas ou mais pessoas b) se o menor se viu obrigado a contrair o empréstimo para
serem, simultaneamente, comodatárias da mesma coisa, os seus alimentos habituais em razão da ausência de seu
ficando solidariamente responsáveis para com o representante legal;
comodante.
c) se o menor tiver bens ganhos com o seu trabalho,
6.3. DO MÚTUO (EMPRÉSTIMO DE CONSUMO) observando-se que a execução do credor não lhes poderá
(arts. 586 a 592 do CC) ultrapassar as forças;

6.3.1. Conceito d) se o empréstimo reverteu em benefício do menor;

O conceito do contrato de mútuo está previsto no e) se o menor obteve o empréstimo maliciosamente.


artigo 586 do Código Civil:
6.3.5. A garantia no mútuo e a exceptio non adimplenti
Art. 586. O mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis. O contractus
mutuário é obrigado a restituir ao mutuante o que dele
recebeu em coisa do mesmo gênero, qualidade e Verificando o mutuante que o mutuário poderá
quantidade. inadimplir com o mesmo o contrato firmado, poderá este
exigir a garantia legal, podendo ser ela real ou fidejussória,
6.3.2. Natureza jurídica com o objetivo de buscar maior segurança jurídica.
Contudo, mesmo adimplindo o contrato, se o mutuário não
a) Unilateral – gera obrigações somente para uma das cumprir com seu mister, a dívida vencerá antecipadamente
partes, neste caso, o mutuário. ante a exceptio non rite adimpleti contractus, como
disposto no artigo 477 do Código Civil.
b) Gratuito – só traz ônus para o mutuante; o mutuário irá
devolver sem ônus. Excepcionalmente esta modalidade 6.3.6. O mútuo feneratício ou mercantil e a limitação
contratual será onerosa, nas situações de mútuo feneratício de juros
ou, como é popularmente conhecido, empréstimo em
dinheiro. Versa sobre o mútuo destinado a fins econômicos,
cujos juros cobrados presumir-se-ão devidos, podendo até
c) Informal e não solene – por inexistir previsão legal chegar ao limite previsto no artigo 406 do Código Civil,
sobre a forma de celebração, podendo ser feito por sob pena de redução.
instrumento particular.
Segundo entendimento do STJ, os contratos
d) Real – se concretiza com a entrega do bem fungível. bancários, que não foram regulamentados pela legislação
específica, poderão possuir juros moratórios no limite de
6.3.3. A transferência da coisa 1% para se convencionar. Além disso, a simples
estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao
ano não traz indícios de abusividade.
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O STF ainda entende que a Lei de Usura (DL n.


22.626/33) não é aplicável às instituições bancárias
(Súmula n. 596 do STF).

Atenção: Veja as seguinte Súmulas do STJ:


Súmula n. 379 do STJ: “Nos contratos bancários não
regidos por legislação específica, os juros moratórios
poderão ser convencionados até o limite de 1% ao mês.”

Súmula n. 382 do STJ: “A estipulação de juros


remuneratórios superiores a 12% ao ano, por si só, não
indica
abusividade.”

Sumúla n. 539 do STJ: “É permitida a capitalização de


juros com periodicidade inferior a anual em contratos
celebrados com instituições integrantes do Sistema
Financeiro Nacional a partir de 31/3/2000 (MP n. 1.963-
17/2000, reeditada como MP n. 2.170-36/2001), desde que
expressamente pactuada.”

Súmula n. 541, do STJ: “A previsão no contrato bancário


de taxa de juros anual superior ao duodécuplo da mensal e
suficiente para permitir a cobrança da taxa efetiva anual
contratada.”
7. DA PRESTAÇÃO DE SERVIÇO (arts. 593 a 609 do
6.3.7. Prazo para a realização do pagamento do mútuo CC)

Inexistindo convenção entre as partes, o mútuo será 7.1. Conceito


devido:
São aquelas reguladas pelo Código Civil, como
a) se for de produtos agrícolas, até a próxima colheita toda espécie de serviço ou trabalho lícito, material ou
quando já estiverem prontos para o consumo ou para a imaterial que pode ser contratada mediante retribuição, e
semeadura; que não esteja sujeita às leis trabalhistas ou à lei especial.

b) pelo prazo de 30 dias, se ele for de dinheiro; 7.2. Natureza jurídica

c) se for de qualquer outra coisa fungível sempre que a) Bilateral – gera deveres a ambas as partes.
declarar o mutuante.
b) Comutativo – as partes possuem o prévio conhecimento
das obrigações contratuais.

c) Personalíssimo/intuitu personae – deve ser prestado


somente pelas partes que pactuaram os termos do contrato.

d) Oneroso – possui repercussão econômica.

e) Informal/não solene – não tem previsão legal quanto à


sua forma, podendo ser verbal, escrito, ou por instrumento
particular.

f) Consensual – deriva da vontade comum das partes.


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7.3. Objeto do contrato 7.7. Inexecução do contrato

Como informado anteriormente, é toda espécie de A lei civil dispõe que não será contado o tempo em
serviço ou trabalho lícito, material ou imaterial que pode que o prestador de serviço não tenha efetuado a sua tarefa.
ser contratada mediante retribuição.
7.8. Amplitude do contrato
Atenção: Enunciado n. 541 da VI Jornada de Direito
Civil: “O contrato de prestação de serviço pode ser Quando nesta modalidade de contrato não se
gratuito.” estabelecer a tarefa que o prestador de serviço deverá
executar, entende-se que o mesmo se obrigou a todo e
7.4. A remuneração (a não presunção de gratuidade) qualquer serviço compatível com as suas forças e
condições.
A remuneração será, em regra, paga após a
prestação do serviço, podendo ser convencionada de forma 7.9. Responsabilidade pela ruptura culposa do contrato
diversa, ou seja, o pagamento poderá se concretizar no
início dos trabalhos ou, também, ser dividido em três Não poderá o prestador de serviço contratado por
parcelas, efetuando o pagamento de 1/3 no início, outros tempo certo ou por obra determinada se ausentar sem justa
1/3 durante a execução dos serviços e o restante ao final. causa antes de preenchido o tempo ou concluída a obra.

No que tange aos valores devidos, se inexistir Dessa forma, terá o contratante direito à
estipulação prévia e muito menos a possibilidade de retribuição vencida, através das perdas e danos. Essa
acordo entre as partes, deverá ser proposta ação para que o punição também se aplicará para o caso do prestador ser
juiz arbitre a remuneração de acordo com o costume do despedido por justa causa.
lugar, o tempo de serviço e sua qualidade.
7.10. Perdas e danos
7.5. Prazo máximo do contrato
Nas hipóteses em que o prestador de serviço for
Prevê a lei civil no caput de seu artigo 598: despedido sem justa causa, o contratante será obrigado a
lhe pagar a integral retribuição vencida acrescida da
Art. 598. A prestação de serviço não se poderá metade da remuneração a que caberia a ele, caso pudesse
convencionar por mais de quatro anos, embora o contrato cumprir com o termo legal do contrato.
tenha por causa o pagamento de dívida de quem o presta,
ou se destine à execução de certa e determinada obra. 7.11. A declaração formal da dissolução do contrato
Neste caso, decorridos quatro anos, dar-se-á por findo o
contrato, ainda que não concluída a obra. Ao final do contrato, o prestador de serviço tem o
direito de exigir da outra parte uma declaração, afirmando
7.6. Resilição do contrato que as obrigações contraídas foram finalizadas, bem como
se for despedido sem ou com justa causa.
O prazo para estabelecer a resilição contratual
ficará ao arbítrio de ambas as partes, mediante prévio 7.12. Exigência de capacitação
aviso. Entretanto, a lei estipula prazos gerais, caso as
partes não pactuem previamente tais limites: Nas hipóteses de prestação de serviço por pessoa
que não possua título de habilitação ou não satisfaça
a) oito dias de antecedência, nas hipóteses de remuneração requisitos estabelecidos em lei, não poderá ser cobrada
fixada por tempo de um mês, ou mais; retribuição correspondente ao trabalho executado por
quem o prestou.
b) quatro dias de antecedência, se a remuneração for
ajustada por semana ou quinzena; Se o serviço for prestado de boa-fé, o juiz arbitrará
compensação razoável, exceto quando a proibição da
c) quando a contratação tenha sido por prazo inferior a sete prestação de serviço resultar de lei de ordem pública.
dias, poderá ser avisado na véspera.

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7.13. Formas de extinção do contrato e) Consensual – deriva da vontade comum das partes.

A lei civil estabeleceu algumas formas de extinção f) Instantâneo ou de longa duração – o primeiro se
do contrato, dentre elas consta a morte de qualquer das consumará com a prática do ato, já o segundo necessita de
partes, escoamento do prazo contratualmente tempo para se exaurir.
determinado, conclusão da obra, rescisão do contrato
mediante aviso prévio, inadimplemento de qualquer das g) Não personalíssimo – sua execução pode ser confiada a
partes ou impossibilidade da continuação do contrato terceiros, sob a responsabilidade do empreiteiro.
motivada por força maior.
8.3. Espécies
7.14. Aliciamento do prestador de serviço
a) de lavor – neste contrato o empreiteiro somente
Atente-se para a leitura do artigo 608 do Código contribui com o seu trabalho;
Civil:
b) mista – o empreiteiro contribui com o seu trabalho, mas
Art. 608. Aquele que aliciar pessoas obrigadas em contrato também com os materiais necessários para a sua
escrito a prestar serviço a outrem pagará a este a realização;
importância que ao prestador de serviço, pelo ajuste
desfeito, houvesse de caber durante dois anos. c) de projeto – a obrigatoriedade do empreiteiro é somente
entregar o seu projeto final;

7.15. Alienação do prédio agrícola e suas consequências d) instantânea – é estabelecida remuneração fixa para a
execução da obra;
Não implica a rescisão do contrato quando o prédio
agrícola, local da prestação de serviços, é alienado, salvo e) por medida/ad mensuram – nesta modalidade, a fixação
no caso em que o prestador opte em continuar com o do preço é determinada pelas etapas realizadas, isto é, a
adquirente da propriedade ou com o contratante inicial. remuneração é proporcional ao trabalho executado;

8. EMPREITADA (arts. 610 a 626 do CC) f) por administração – na qual o empreiteiro se encarrega
da execução do projeto, pesquisando preço, profissionais,
8.1. Conceito dentre outros aspectos, sendo remunerado de forma fixa ou
através de um percentual sobre o custo da obra.
Trata-se de contrato em que o
contratado/empreiteiro se obriga, sem subordinação ou 8.4. Deveres e direitos do dono da obra
dependência, a realizar pessoalmente ou por terceiros
determinada obra para o dono ou para o empreiteiro Quando a obra for concluída de acordo com o que
contratado, com material próprio ou fornecido pelo dono foi pactuado inicialmente, o dono da obra será obrigado a
da obra, mediante remuneração determinada ou aceitá-la, podendo rejeitá-la caso o empreiteiro se afaste
proporcional ao trabalho executado. das instruções recebidas, dos planos dados ou das regras
técnicas em trabalhos de tal natureza.
8.2. Natureza jurídica
8.5. Responsabilidade do empreiteiro
a) Bilateral – gera deveres a ambas as partes.
Existem três pontos a serem analisados:
b) Comutativo – possui o prévio conhecimento das
obrigações contratuais. a) Consoante o artigo 617 do CC:

c) Oneroso – proporciona repercussão econômica. Art. 617. O empreiteiro é obrigado a pagar os materiais
que recebeu, se por imperícia ou negligência os inutilizar.
d) Informal e não solene – não há previsão legal expressa
quanto à sua forma, podendo ser verbal, escrito ou por b) O empreiteiro responderá durante o irredutível prazo de
instrumento particular. cinco anos, pela solidez e segurança do trabalho, como
também em razão dos materiais utilizados; contudo
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decairá o direito do dono da obra que não propuser a ação 9.3. Modalidades
contra o empreiteiro, nos 180 dias seguintes ao
aparecimento do vício ou defeito; cumpre ressaltar que tal a) voluntário – decorre da autonomia da vontade das
responsabilidade é objetiva segundo a norma do artigo 618 partes;
do CC, cuja obrigação é de resultado.
b) necessário – não resulta da autonomia da vontade, sendo
c) Se a obra ficar paralisada sem justo motivo resolve-se subdividido em:
em perdas e danos, podendo o empreiteiro suspender a b.1) legal – origina-se do direito positivo;
obra nos casos do artigo 625 do CC. b.2) miserável – sucede de calamidade pública;
b.3) hospedeiro – depende da guarda das bagagens de
8.6. Subempreitada hospedes;

Esta modalidade contratual não possui natureza c) regular – deriva de bem infungível e inconsumível;
personalíssima, podendo a execução da obra ser confiada
a terceiros, desde que os mesmos não assumam a direção d) irregular – oriunda de bem fungível ou consumível;
ou fiscalização do serviço, ficando limitados os danos
resultantes de defeitos durante o irredutível prazo de cinco e) judicial – possui como finalidade resguardar a coisa até
anos. a decisão final judicial, derivando de mandado judicial;

9. DEPÓSITO (arts. 627 a 652 do CC) f) bem indivisível – diz o artigo 639 da lei civilista:

9.1. Conceito Art. 639. Sendo dois ou mais depositantes, e divisível a


coisa, a cada um só entregará o depositário a respectiva
Neste contrato, o depositário recebe um objeto parte, salvo se houver entre eles solidariedade.
móvel para guardar até que o depositante o reclame, sendo
em regra gratuito, exceto se houver convenção em g) fechado – conforme o artigo 630 do Código Civil:
contrário e for fruto de atividade negocial ou se o
depositário o praticar por profissão. Art. 630. Se o depósito se entregou fechado, colado,
selado, ou lacrado, nesse mesmo estado se manterá.”
9.2. Natureza jurídica
9.4. Direitos e deveres do depositário
a) Real – depende da entrega da coisa.
A lei traz ao longo do texto os seguintes direitos:
b) Unilateral – somente gera obrigações a uma das partes,
todavia excepcionalmente na hipótese do artigo 643 do a) o depositante terá o direito de obter a restituição sobre
Código Civil, poderá se tornar contrato bilateral as despesas necessárias;
imperfeito.
b) direito de retenção do bem depositado para o caso de
c) Gratuito – regra geral onera somente uma das partes, inadimplemento;
havendo extraordinariamente remuneração ao depositário.
c) ser remunerado, nas hipóteses que é devida a
d) Informal – não obstante o deposito voluntário se provar remuneração.
por escrito, não há regramento específico para a sua
celebração. Além disso, terá como dever:

e) Não solene – pode ser feito por instrumento particular. a) custodiar a coisa com o devido zelo;

f) Personalíssimo – o contrato será ajustado de acordo com b) obter autorização do depositante para usar a coisa
o depositário, podendo ser afastado quando o depositário depositada;
for pessoa jurídica.
c) restituir o bem no prazo final, no local pactuado, se
g) Temporário – pode ser estipulado prazo final ou não responsabilizando pela coisa até a sua efetiva entrega.
nesta modalidade de contrato.
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9.5. Direitos e deveres do depositante d) Consensual – deriva da autonomia da vontade das
partes.
Como dever, consta o de pagar pelas despesas
referentes à manutenção do depósito, bem como sobre os e) Comutativo – as partes já conhecem os seus efeitos.
prejuízos que a coisa gerar ao depositário. O depositário
tem o direito de ser ressarcido no caso de deterioração do f) Preparatório – serve para preparar a prática de um
bem depositado. terceiro ato.

9.6. Da prisão do depositário infiel g) Informal e não solene – inexiste previsão legal sobre o
seu formato.
A presente matéria, objeto de antigas
controvérsias, foi pacificada pela Súmula Vinculante n. 25 10.3. Espécies
do STF e Súmula n. 419, do STJ estabelecendo que:
a) Judicial – possui a finalidade de representar perante o
Súmula Vinculante n. 25. É ilícita a prisão civil de Poder Judiciário o outorgante.
depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do
depósito. b) Legal – não há instrumento por decorrer da lei.

Súmula n. 419, do STJ. Descabe a prisão civil do c) Escrito – materializado por instrumento público ou
depositário judicial infiel. particular.

9.7. Extinção do depósito d) Verbal – inexiste documento escrito, sendo evidenciado


por prova testemunhal.
O presente contrato será extinto por resilição
unilateral, pelo término do prazo estabelecido, pelo e) Expresso e tácito – o primeiro se forma explicitamente
perecimento da coisa, morte do depositário e pela através de sua forma, podendo ser verbal ou escrito,
incapacidade civil do depositário. Importante se faz entretanto, o segundo se dá com a definição dos deveres
mencionar a Lei n. 2.313/54, prevendo que após o prazo em decorrência de outra pessoa.
de 25 anos, se a coisa não for reclamada, os bens serão
recolhidos ao Tesouro Nacional. f) Aparente – terá o mandatário o dever de remunerar,
adiantar as despesas necessárias, reembolsar as despesas
10. DO MANDATO (arts. 653 a 692 do CC) feitas na execução do mandato, ressarcir os prejuízos,
honrar os compromissos em seu nome assumidos,
10.1. Conceito vincular-se com quem seu procurador contratou,
responsabilizar-se solidariamente nas hipóteses legais,
Esta modalidade contratual ocorre enquanto pagar a remuneração do substabelecido e vincular-se a
alguém substitui outra pessoa, com poderes legais terceiro de boa-fé.
necessários confiados para agir em nome do representado,
atuando consoante sua vontade. g) Salariado – trata-se de obrigação de meio, em que a
remuneração se dá independente do resultado-fim.
10.2. Natureza jurídica
h) Geral – engloba todo o patrimônio do outorgante.
a) Unilateral – gera somente obrigações ao mandatário.
i) Especial – abrange um ou mais negócios do mandante.
b) Gratuito – se não ficar estipulada remuneração, exceto
quando se tratar de ofício ou profissão lucrativa do j) Conjunto – quando há uma pluralidade de mandatários
mandatário. que devem participar do ato designado.

c) Oneroso – será cabível a remuneração pactuada entre as l) Solidário – com cláusula in solidum, cada mandatário
partes e, na ausência, a prevista em lei de acordo com a poderá realizar o mister independente dos demais.
categoria profissional, estabelecendo-se, ainda, conforme
os usos e costumes do lugar da celebração ou por m) Fracionário – sempre que existir divisão de tarefas
arbitramento judicial. devidamente delimitada entre os mandatários.
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n) Singular – preza pela existência de apenas um não surta o esperado efeito, exceto tendo o mandatário
outorgado. culpa;

o) plural – sempre que vários são nomeados no c) é obrigatório o mandante ressarcir ao mandatário as
instrumento de mandato. perdas que este sofrer com a execução do mandato, sempre
que não resultem de culpa sua ou de excesso de poderes;
10.4. Submandato
d) o mandante ficará obrigado para com aqueles com quem
Contrato acessório ao mandato principal, devendo o seu procurador contratou, ainda que o mandatário
ser escrito, por meio do instrumento de substabelecimento, contrarie as instruções originárias;
e tem como objeto obrigação de fazer fungível. Se houver
reservas, tanto o mandatário quanto o submandatário e) o mandatário tem direito de retenção sobre a coisa de
podem realizar as tarefas. Todavia, quando este que tenha a posse em virtude do mandato, até se
instrumento for sem reservas, o mandatário revoga os seus reembolsar do que no desempenho do encargo despendido;
próprios poderes perante o mandante, repassando-os para
o submandatário. 10.7. Extinção do contrato

10.5. Obrigações do mandatário O Código Civil regulamenta o tema nos artigos


682 a 691 determinando a extinção nas hipóteses de
A lei civil estabelece as regras gerais de revogação, renúncia, morte de uma das partes, interdição
obrigações do mandatário nos artigos 667 a 674, cuja de uma das partes, mudança de estado de uma das partes,
leitura se faz obrigatória, podendo ser listados aqui os término do prazo e conclusão do negócio.
principais deveres:
11 DO TRANSPORTE (arts. 730 a 756, CC)
a) agir em nome do mandante dentro dos limites
outorgados no instrumento de mandato; 11.1. Conceito

b) ser diligente na execução do contrato e indenizar no A lei civil traz no art. 730 define o contrato de
caso de prejuízo causado por sua culpa ou de quem transporte dispondo que: “Pelo contrato de transporte
substabeleceu; alguém se obriga, mediante retribuição, a transportar, de
um lugar para outro, pessoas ou coisas”.
c) prestar contas com o mandante, transferindo as Essa modalidade contratual é uma obrigação de resultado,
vantagens provenientes do instrumento de mandato; tendo em vista que a coisa ou a pessoa devem ser
transportadas com segurança. Nesse conceito está
d) se identificar como mandatário perante terceiros com implícita a cláusula de incolumidade cujo significado é
quem tratar; transportar o passageiro/bagagem são e salvo até o seu
destino.
e) concluir a tarefa a que foi contratado.
11.2. Natureza jurídica
10.6. Obrigações do mandante
a)Bilateral ou sinalagmático - deveres proporcionais para
É de extrema importância a leitura dos artigos 675 as partes.
a 681 do CC, podendo ser enumerados aqui os principais
deveres: b)Consensual - formado pelo consenso das partes,
independente da entrega da coisa ou passageiro. Sua
a) satisfazer todas as obrigações contraídas pelo validade não está ligada à entrega da coisa/pessoa, pois
mandatário, na conformidade do mandato conferido, e essa corresponde à execução contratual.
adiantar a importância das despesas necessárias à
execução dele, quando necessário se fizer; c)Comutativo - as prestações já são conhecidas pelas
partes.
b) a pagar ao mandatário pela remuneração ajustada e
despesas da execução do mandato, ainda que o negócio d)De adesão - o transportador é quem em geral impõe as
cláusulas contratuais (art. 54, CDC e arts. 423 e 424 do
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CC) . Destaca-se que nada obsta que ele seja paritário, e de Montreal limitam a indenização em caso de
podendo as partes discutir as cláusulas. perda/extravio de bagagem ou atraso de voo em viagens
internacionais. Mas o CDC deve ser aplicado, não
e)Informal e não solene - não há solenidade e exigibilidade prevalecendo a tarifação limitada em respeito ao direito
para a sua realização. básico da reparação integral dos danos (art. 6º, VI, da Lei
n. 8.078/1990). Todavia, importante mencionar que a
Atenção: No art. 730 o contrato se opera mediante questão sobre a antinomia entre os diplomas no que tange
retribuição. Mas, a onerosidade não é da essência do às regras de indenização em transporte aéreo
contrato podendo ser gratuito. internacional foi levada ao Supremo Tribunal Federal, que
havia suspendeu o julgamento do Recurso Extraordinário
11.3. Normas relativas ao contrato de transporte 636.331 e Recurso Extraordinário com Agravo
766.618. Sobre o tema ver o Informativo n. 745, STF.
Apesar da lei estabelece regras de direito privado,
no entanto, o art. 731 traz ressalva para as hipóteses Mas, recentemente, o Plenário do STF por maioria
relativas ao transporte público que pode ser executado de de votos, decidiu que em se tratando de ação de
forma direta ou através de delegação ao particular, por indenização por extravio de bagagem em viagens
concessão (delegação bilateral), permissão (licitação da internacionais, devem ser aplicadas as convenções
prestação de serviços públicos) ou autorização (ato internacionais prevalecendo sobre os ditames do Código
administrativo unilateral, precário e discricionário). de Defesa do Consumidor. Assim ficou aprovada a
seguinte tese:
O art. 732 dispõe que, em geral, são aplicáveis aos
contratos de transporte, quando couber, desde que não Tema 210 - “por força do artigo 178 da Constituição
contrariem as disposições da lei civil, os preceitos Federal, as normas e tratados internacionais limitadoras
constantes da legislação especial e de tratados e da responsabilidade das transportadoras aéreas de
convenções internacionais. passageiros, especialmente as Convenções de Varsóvia e
Montreal, têm prevalência em relação ao Código de
Atenção: Defesa do Consumidor”.
Veja os Enunciados n. 37 da I Jornada de Direito
Comercial, 369 da IV Jornada de Direito Civil e 559 da VI Ainda foi reconhecida a repercussão geral e a decisão
Jornada de Direito Civil: deverá tal entendimento do STF apenas vale para voos
internacionais, portanto, o transporte aéreo nacional submete-se
Enunciado n. 37. “Aos contratos de transporte aéreo às leis brasileiras.
internacional celebrados por empresários aplicam-se as Nesta decisão o Supremo decidiu que quanto ao prazo
disposições da Convenção de Montreal e a regra da prescricional para a propositura da ação indenizatória deverá ser
indenização tarifada nela prevista (art. 22 do Decreto n. aplicado o disposto nas regras internacionais que estabelece que
5.910/2006).” tal prazo é de 2 anos a contar da chegada do voo ao local de
destino ou que deveria chegar, enquanto o CDC traz o prazo
Enunciado n. 369. “Diante do preceito constante no art. prescricional de 5 anos contados da data do conhecimento do
732 do Código Civil, teleologicamente e em uma visão prejuízo e de sua autoria. Ou seja, com a aplicação das regras
constitucional de unidade do sistema, quando o contrato internacionais, o tempo que o consumidor teria para pleitear a
de transporte constituir uma relação de consumo, aplicam- indenização por extravio de sua bagagem sofreu uma redução de
se as normas do Código de Defesa do Consumidor que 3 anos, o que compromete em muito o exercício do direito do
forem mais benéficas a este.” consumidor em ver seus prejuízos indenizados.

Enunciado n. 559. “Observado o Enunciado n. 369 do CJF, O art. 733 trata do transporte cumulativo,
no transporte aéreo, nacional e internacional, a estabelecendo que cada transportador se obriga a cumprir
responsabilidade do transportador em relação aos o contrato relativamente ao respectivo percurso,
passageiros gratuitos, que viajarem por cortesia, é respondendo pelos danos nele causados a pessoas e coisas.
objetiva, devendo atender à integral reparação de danos O dano, resultante do atraso ou da interrupção da viagem,
patrimoniais e extrapatrimoniais.” será determinado em razão da totalidade do percurso. No
caso de substituição de algum dos transportadores no
Importante! decorrer do percurso, a responsabilidade solidária será
Cumpre mencionar que as Convenções de Varsóvia estendida ao substituto.
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11.4. Transporte de pessoas (arts. 734 a 742, CC) transportador. Se o prejuízo sofrido pela pessoa
transportada for atribuível à transgressão de normas e
O transportador responde pelos danos causados às instruções regulamentares, o juiz reduzirá equitativamente
pessoas transportadas e suas bagagens, salvo motivo de a indenização, na medida em que a vítima houver
força maior, sendo nula qualquer cláusula excludente da concorrido para a ocorrência do dano. (art. 738).
responsabilidade. É lícito ao transportador exigir a
declaração do valor da bagagem a fim de fixar o limite da O art. 739 prevê que o transportador não recusará
indenização. (art. 734, CC). Trata-se de obrigação de passageiros, salvo nas hipóteses previstas nos
resultado do transportador, acarretando a sua regulamentos, ou se as condições de higiene ou de saúde
responsabilidade civil objetiva baseada na teoria do risco. do interessado o justificarem.
O risco não é integral, pois conforme de acordo com a lei,
poderá ser excluído pela força maior/fortuito. O art. 740 prevê a possibilidade de resilição
contratual pelo passageiro, apesar de a lei mencionar
A exclusão de responsabilidade, se dará apenas em “rescisão”.
caso de ser considerado fortuito externo. O fortuito interno
é aquele que está atrelado a uma causa conexa. Atenção: O artigo citado não regula os casos de
overbooking ou overseating, que diz respeito a prática
Atenção: Súmula n. 161, STF. “Em contrato de transporte, abusiva de os transportadores venderem mais passagens do
é inoperante a cláusula de não indenizar”. que assentos existentes.

A boa-fé é enfatizada no § 1º do artigo, pois Quanto a viagem for interrompida por qualquer
garante a licitude do transportador exigir a declaração do motivo alheio à vontade do transportador, ainda que em
valor da bagagem. consequência de evento imprevisível, fica ele obrigado a
concluir o transporte contratado em outro veículo da
O art. 735, CC estabelece que a responsabilidade mesma categoria, ou, com a anuência do passageiro, por
contratual do transportador por acidente com o passageiro modalidade diferente, à sua custa, correndo também por
não é elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem ação sua conta as despesas de estada e alimentação do usuário,
regressiva. durante a espera de novo transporte.

Atenção: Sobre o tema veja a Súmula n. 187, do STF: “A O diploma civilista traz uma norma de defesa
responsabilidade contratual do transportador, pelo tratando não de penhor legal, mas sim de direito pessoal
acidente com o passageiro, não é elidida por culpa de de retenção sobre a bagagem do passageiro (art. 742, CC).
terceiro, contra o qual tem ação regressiva.”
11.5. Transporte de coisas (arts. 743 a 756, CC)
O art. 736 dispõe que não se subordina às normas
do contrato de transporte aquele realizado gratuitamente, Tudo aquilo que for transportado necessita ser
por amizade ou cortesia. No entanto, não é considerado identificado para que seja evitada a confusão com outras
como gratuito o transporte quando, mesmo sem coisas. A identificação se dá por um documento
remuneração, o transportador auferir vantagens indiretas. denominado conhecimento, onde devem constar os dados
do transportador, do remetente e do destinatário.
Atenção: Súmula n. 145, STJ - “No transporte A informação constitui elemento essencial ao
desinteressado, de simples cortesia, o transportador só será contrato de transporte, assim, em caso desta ser inexata ou
civilmente responsável por danos causados ao falsa quando descrita no documento, será o transportador
transportado quando incorrer em dolo ou culpa grave.” indenizado pelo prejuízo que sofrer, devendo a ação
respectiva ser ajuizada no prazo de cento e vinte dias, a
O transportador sujeita-se aos horários e contar daquele ato, sob pena de decadência.
itinerários previstos, sob pena de responder por perdas e
danos, salvo motivo de força maior (art. 737). A obrigação Atenção: Entendemos que houve um equívoco na lei, pois
de resultado e a incidência da responsabilidade civil se a ação busca uma condenação, esse prazo deveria ser
objetiva fundada no risco. prescricional.

Passageiros considerados inconvenientes, que não A embalagem deve estar em conformidade com o
estejam em condições de viajar, podem ser impedidos pelo transporte. E sendo ilícito o objeto, o transporte também o
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será. Assim, tendo conhecimento da ilicitude do objeto obriga, mediante o pagamento do prêmio, a garantir
transportado, o transportador terá o dever legal de recusar- interesse legítimo do segurado, relativo a pessoa ou a
se. coisa, contra riscos predeterminados. Parágrafo único.
Somente pode ser parte, no contrato de seguro, como
No art. 748, CC verificar-se o denominado segurador, entidade para tal fim legalmente autorizada.
stoppage in transitu ou variação do destino de carga,
dispondo que: “Até a entrega da coisa, pode o remetente O seguro tem por função econômica socializar
desistir do transporte e pedi-la de volta, ou ordenar seja riscos entre os segurados. A companhia seguradora recebe
entregue a outro destinatário, pagando, em ambos os casos, de cada um o prêmio, calculado conforme a probabilidade
os acréscimos de despesa decorrentes da contraordem, de ocorrência do evento danoso. Todavia, obriga-se a dar
mais as perdas e danos que houver.” garantia, pagando certa prestação pecuniária ao segurado,
ou a terceiros beneficiários, em geral de caráter
É dever do transportador conduzir a coisa ao seu indenizatório, no caso de ocorrência do sinistro.
destino, tomando todas as cautelas necessárias para mantê-
la em bom estado e entregá-la no prazo ajustado ou 12.2. Natureza jurídica
previsto. Trata-se de cláusula de incolumidade no
transporte de coisas. a) Bilateral ou sinalagmático - os direitos e deveres
são proporcionais para ambas as partes.
Ao desembarcar as mercadorias, o transportador
não é obrigado a dar aviso ao destinatário, se assim não foi b) Oneroso - o prêmio representa a remuneração a ser
convencionado, dependendo também de ajuste a entrega a paga pelo segurado ao segurador. Vigendo o contrato, os
domicílio, e devem constar do conhecimento de embarque prêmios pagos não são irrepetíveis, haja vista sua natureza
as cláusulas de aviso ou de entrega a domicílio. aleatória.

O dever de boa-fé, especificamente com relação c) Consensual - se forma pela vontade das partes,
ao zelo está disposto no art. 753. pelo consenso.

Da leitura do art. 754, do CC, há um equívoco na d) Aleatório - é aquele que sua natureza apresenta o
lei ao realçar mais uma vez a decadência no parágrafo risco.
único do artigo 754, quando se trata em realidade de Atenção: Parte da doutrina sustenta a natureza comutativa
prescrição. No caput o prazo é para a reclamação e no do contrato de seguro, tendo em vista que o risco poderia
parágrafo único para ação. ser determinado com base em cálculos.

Na dúvida sobre quem é o destinatário, o e) Adesão - aquele autorizado por autoridade


transportador deve depositar a mercadoria em juízo, se não competente ou estipulado por uma das partes, em regra a
lhe for possível obter instruções do remetente; se a demora seguradora.
puder ocasionar a deterioração da coisa, o transportador
deverá vendê-la, depositando o saldo em juízo. 12.3. Preceitos do contrato

O art. 756 trata da solidariedade no transporte O contrato de seguro deverá ser feito por escrito,
cumulativo, no qual todos os transportadores responderão vedada a forma verbal. A proposta é fase contratual na qual
solidariamente pelo dano causado perante o remetente, dever estar presente a boa-fé objetiva, pois o segurado
ressalvada a apuração final da responsabilidade entre eles, obriga-se a prestar todas as informações com base na
de modo que o ressarcimento recaia, por inteiro, ou lealdade e na confiança, tornando possível à seguradora
proporcionalmente, naquele ou naqueles em cujo percurso avaliar os riscos, aceitar ou não o contrato e o prêmio a ser
houver ocorrido o dano. pago.
E a apólice ou o bilhete de seguro serão
12 DO SEGURO (arts. 757 a 802 , CC) nominativos, à ordem ou ao portador, mencionando os
riscos assumidos, o início e o fim de sua validade, o limite
12.1. Definição e a socialização dos riscos da garantia e o prêmio devido, e, quando for o caso, o
nome do segurado e o do beneficiário.
Sua definição está presente no art. 757 da lei civil,
dispondo que: “Pelo contrato de seguro, o segurador se Assim, esse contrato apresenta uma interpretação
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restritiva, não sendo possível a ampliação da álea e dos O segurado perderá o direito à garantia se agravar
termos. intencionalmente o risco objeto do contrato.

Atenção: No seguro de pessoas, a apólice ou o bilhete não Atenção: Súmula n. 465 do STJ. Ressalvada a hipótese de
podem ser ao portador. efetivo agravamento do risco, a seguradora não se exime
do dever de indenizar em razão da transferência do veículo
O cosseguro está disciplinado no art. 761, do CC sem a sua prévia comunicação.
e trata-se de uma operação securitária na qual duas ou mais
seguradoras, com a concordância do segurado, O dever de informação, intimamente ligado à boa-
compartilham, em percentuais previamente estabelecidos, fé, está presente no art. 769 do CC.
os riscos de uma apólice de seguro, respondendo cada
cossegurador unicamente pelo limite da responsabilidade Note que, salvo disposição em contrário, a
assumida. No cosseguro também é admitida a pluralidade diminuição do risco no curso do contrato não acarreta a
de apólices para cada cosseguradora e não existindo redução do prêmio estipulado; mas, se a redução do risco
responsabilidade solidária entre elas. for considerável, o segurado poderá exigir a revisão do
É nulo o contrato de seguro em que tenha por prêmio, ou a resolução do contrato.
objeto a cobertura de atividades ilícitas ou de ato doloso
do segurado. Nesse caso é atingido o plano de validade do A falta de comunicação do sinistro é apresentada
negócio jurídico, tratando-se de nulidade textual, pela lei no art. 771, assegurando que: “sob pena de perder
consoante a conjugação dos artigos 104, 166, VI, e 762 da o direito à indenização, o segurado participará o sinistro ao
norma civilista. segurador, logo que o saiba, e tomará as providências
imediatas para minorar-lhe as consequências. Parágrafo
Não terá direito à indenização o segurado que único. Correm à conta do segurador, até o limite fixado no
estiver em mora no pagamento do prêmio e se ocorrer o contrato, as despesas de salvamento consequente ao
sinistro antes de sua purgação. A regra em questão é um sinistro.”
meio de exceção do contrato não cumprido, e não forma
de resolução do contrato. Atenção: O atraso não motivado acarreta a perda do
Salvo disposição especial, o fato de o risco não ter sido direito à indenização.
verificado, em previsão do qual se faz o seguro, não exime
o segurado de pagar o prêmio. Caso haja mora do segurador no pagamento do
sinistro, o mesmo será obrigado à atualização monetária
A boa-fé objetiva se encontra destacada nos arts. da indenização devida de acordo com índices oficiais
765 e 766 do da lei civil. De acordo com a matéria sob regularmente estabelecidos, sem prejuízo dos juros
comento, importa mencionar a VII Jornada de Direito moratórios (art. 772 do CC).
Civil:
O art. 773 CC apresenta penalidade à seguradora
“Arts. 765 e 766 – Impõe-se o pagamento de indenização que age de má-fé. A fim de garantir um pacto equilibrado
do seguro mesmo diante de condutas, omissões ou e que seja protegida a função social do negócio, reza o art.
declarações ambíguas do segurado que não guardem 774 do CC que a recondução tácita do contrato pelo
relação com o sinistro. “(Enunciado n. 585) mesmo prazo, mediante expressa cláusula contratual, não
poderá operar mais de uma vez.
Atenção: Sobre o tema veja a Súmula n. 302, do STJ - “É
abusiva a cláusula contratual de plano de saúde que limita O corretor de seguros é o agente autorizado do
no tempo a internação hospitalar do segurado”. segurador e presumem-se seus representantes para todos
os atos relativos aos contratos que agenciarem.
Atenção: Importa ainda mencionar a Súmula n. 469 do Na hipótese de o corretor causar danos ao segurado, a
STJ dispondo que “Aplica-se o Código de Defesa do seguradora responderá solidariamente com o mesmo ou
Consumidor aos contratos de plano de saúde”. por ele.
O segurador é obrigado a pagar em dinheiro o
De acordo com o art. 767 do CC, no seguro à conta prejuízo resultante do risco assumido, salvo se
de outrem, o segurador pode opor ao segurado exceções convencionada a reposição da coisa (art. 776, CC).
que contra o estipulante, por descumprimento das normas
de conclusão do contrato, ou de pagamento do prêmio. Atenção: Súmula n. 188 do STF. “O segurador tem ação
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regressiva contra o causador do dano, pelo que O contrato de seguro não é personalíssimo e,
efetivamente pagou, até ao limite previsto no contrato de portanto, admite-se a transferência do contrato a terceiro
seguro” com a alienação ou cessão do interesse segurado.

12.4. Seguro de dano (arts. 778 a 788, CC) A sub-rogação legal está disposta no art. 786,
estabelecendo que paga a indenização, o segurador sub-
De acordo com o art. 778, nos seguros de dano, a roga-se, nos limites do valor respectivo, nos direitos e
garantia prometida não pode ultrapassar o valor do ações que competirem ao segurado contra o autor do dano.
interesse segurado no momento da conclusão do contrato, Salvo dolo, a sub-rogação não tem lugar se o dano foi
sob pena do disposto no art. 766, e sem prejuízo da ação causado pelo cônjuge do segurado, seus descendentes ou
penal que no caso couber. Assim, o segurador terá o ônus ascendentes, consanguíneos ou afins. Sendo ineficaz
da prova de que o valor excede o do bem e ainda que o qualquer ato do segurado que diminua ou extinga, em
segurado agiu de má-fé. prejuízo do segurador, os direitos a que se refere este
artigo.
Atenção: Súmula n. 31 do STJ. “A aquisição, pelo
segurado, de mais de um imóvel financiado pelo Sistema Atenção: A regra descrita não se aplica ao seguro de
Financeiro da Habitação, situados na mesma localidade, pessoas (art. 800, CC)
não exime a seguradora da obrigação de pagamento dos
seguros.” Sobre a hipótese de o segurado causar danos a
terceiros remetemos à leitura das regras presentes no art.
O risco do seguro compreenderá todos os 787 da lei civil.
prejuízos resultantes ou consequentes, como sejam os
estragos ocasionados para evitar o sinistro, minorar o Atenção: Sobre o tema, observe:
dano, ou salvar a coisa. Qualquer cláusula que vá contra Sumula 529, do STJ: “No seguro de responsabilidade civil
ao previsto na norma será tida como nula. facultativo, não cabe o ajuizamento de ação pelo terceiro
prejudicado direta e exclusivamente em face da seguradora
Atenção: Súmula n. 402 do STJ. “O contrato de seguro do apontado causador do dano.”
por danos pessoais compreende os danos morais, salvo
cláusula expressa de exclusão.” Sumula n. 537, STJ: “Em ação de reparação de danos, a
seguradora denunciada, se aceitar a denunciação ou
O contrato coligado está presente no art. 780 do contestar o pedido do autor, pode ser condenada, direta e
CC e é assim denominado pois se estabelece pela soma do solidariamente junto com o segurado, ao pagamento da
contrato de seguro mais o de transporte. indenização devida a vítima, nos limites contratados na
apólice.”
Os parâmetros para a indenização securitária estão
expostos através no artigo 781 da legislação civilista Ainda veja a VI Jornada de Direito Civil:
Destacamos o princípio do justo ressarcimento, pois tal
contrato não tem como fim enriquecer o segurado. Enunciado n. 544. “O seguro de responsabilidade civil
Ainda é possível a cumulação de seguros ou o facultativo garante dois interesses, o do segurado contra os
chamado seguro duplo disciplinado no art. 782 do CC. E efeitos patrimoniais da imputação de responsabilidade e o
ainda, de acordo com o art. 783 do CC pode ser realizado da vítima à indenização, ambos destinatários da garantia,
o seguro parcial. Nessa hipótese, evidencia-se o com pretensão própria e independente contra a
dispositivo que aborda a chamada cláusula de rateio, seguradora.”
quando a cobertura contratada é inferior ao valor da coisa
e dos danos. Enunciado n. 546. “O § 2º do art. 787 do Código Civil deve
ser interpretado em consonância com o art. 422 do mesmo
Fica excluído do dever de indenizar a ocorrência diploma legal, não obstando o direito à indenização e ao
do vício ou defeito intrínseco, de acordo com o disposto reembolso. Artigos 787, § 2º, e 422.”
no art. 784, segundo o qual não se inclui na garantia o
sinistro provocado por vício intrínseco da coisa segurada Na modalidade dos chamados seguros de
(o defeito próprio da coisa, que se não encontra responsabilidade legalmente obrigatórios, a indenização
normalmente em outras da mesma espécie), não declarado por sinistro será paga pelo segurador diretamente ao
pelo segurado. terceiro prejudicado. O segurador que for demandado em
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ação direta pela vítima do dano, não poderá opor a exceção qualquer hipótese, quando for individual, o segurador não
de contrato não cumprido pelo segurado, sem promover a terá ação para cobrar o prêmio vencido, cuja falta de
citação deste para integrar o contraditório. pagamento, nos prazos previstos, acarretará consoante se
estipular, a resolução do contrato, com a restituição da
12.5. Seguro de pessoa (arts. 789 a 802, CC) reserva já formada, ou a redução do capital garantido
proporcionalmente ao prêmio pago, de acordo o art. 796,
Nesse seguro, o capital segurado poderá ser CC.
livremente pactuado entre as partes, não obedecendo ao
princípio indenitário. Assim, a indenização pode não Ocorrendo a morte, é lícito estipular-se um prazo
corresponder ao valor do prejuízo. de carência, durante o qual o segurador não responde pelo
sinistro, ficando este obrigado a devolver ao beneficiário o
No seguro sobre a vida de outros, o proponente é montante da reserva técnica já formada (art. 797). Não há
obrigado a declarar o seu interesse pela preservação da fixação legal de um prazo, devendo este ser pautado pelo
vida do segurado, sob pena de falsidade. Até prova em princípio da razoabilidade.
contrário, presume-se o interesse, quando o segurado é
cônjuge, ascendente ou descendente do proponente, de O beneficiário não tem direito ao capital
acordo com a redação do art. 790 do CC. estipulado quando o segurado se suicida nos primeiros
dois anos de vigência inicial do contrato, ou da sua
Atenção: A norma omitiu a figura do companheiro. recondução depois de suspenso, observado o disposto no
parágrafo único do artigo 797. Será nula a cláusula
Trata-se de prerrogativa do segurado a contratual que exclui o pagamento do capital por suicídio
possibilidade de substituir-se a qualquer tempo e ainda do segurado. (art. 798, CC)
sem justificação.
Atenção: Sobre o tema, veja:
Não sendo indicada a pessoa ou beneficiário, ou Súmula n. 61 do STJ. “O seguro de vida cobre o suicídio
por qualquer motivo não prevalecer aquela que fora objeto não premeditado”.
de indicação, o capital segurado será pago desta forma:
metade ao cônjuge não separado judicialmente, e o Súmula n. 105 do STF. “Salvo se tiver havido
restante aos herdeiros do segurado, obedecida a ordem da premeditação, o suicídio do segurado no período
vocação hereditária. Caso inexistam tais pessoas, serão contratual de carência não exime o segurador do
beneficiários aqueles que provarem que a morte do pagamento do seguro”.
segurado os privou dos meios necessários à subsistência,
de acordo com o art. 792 do CC. O segurador não pode eximir-se ao pagamento do
É válida a instituição do companheiro como seguro, ainda que da apólice conste a restrição, se a morte
beneficiário, se ao tempo do contrato o segurado era ou a incapacidade do segurado provier da utilização de
separado judicialmente, ou já se encontrava separado de meio de transporte mais arriscado, da prestação de serviço
fato militar, da prática de esporte, ou de atos de humanidade
em auxílio de outrem (art. 799, CC).
Atenção: A lei civil utiliza o termo separação judicial,
observe que há o entendimento que com a EC n. 66/2010 Atenção: A referência aos atos de humanidade em auxílio
esta figura foi retirada do nosso ordenamento. de outrem significa aqueles que são praticados em estado
de necessidade.
O capital do seguro de vida pertence ao
beneficiário não estando sujeito às dívidas do segurado, Nos seguros de pessoas, segurador fica proibido
nem é considerado como herança. de sub-rogar-se nos direitos e ações do segurado, ou do
beneficiário, contra o causador do sinistro. Assim, no
O art. 795 da lei civil, dispõe que é nula, no seguro seguro de pessoas não há direito de regresso.
de pessoa, qualquer transação para pagamento reduzido do
capital segurado. Trata-se da aplicação do princípio da O seguro de pessoas pode ser estipulado por
boa-fé nos contratos. pessoa natural ou jurídica em proveito de grupo que a ela,
de qualquer modo, se vincule. O estipulante não representa
O prêmio, no seguro de vida, será conveniado por o segurador perante o grupo segurado, e é o único
prazo limitado, ou por toda a vida do segurado. Em responsável, para com o segurador, pelo cumprimento de
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todas as obrigações contratuais. A modificação da apólice não for idôneo, domiciliado no município onde tenha de
em vigor dependerá da anuência expressa dos segurados prestar a fiança, e não possua bens suficientes para cumprir
que representem 3/4 do grupo. a obrigação.

O garantia de reembolso de despesas não é objeto d) Se houver insolvência do fiador, o credor poderá exigir
do contrato de seguro de pessoas, mas sim do seguro de a sua substituição.
dano às despesas hospitalares ou de tratamento médico,
bem como as despesas oriundas de luto e funeral do e) É inerente à fiança o benefício de ordem, qual seja, o
segurado. fiador exigir que inicialmente seja executado o bem do
devedor para posteriormente ter o seu patrimônio atingido.
13. CONTRATO DE FIANÇA (arts. 818 a 839 do CC)
f) A solidariedade não se presume, decorre da lei ou da
13.1. Conceito vontade das partes, logo inexiste diploma legal dizendo
que o devedor e o fiador são solidários; se inexistir no
Trata-se de garantia fidejussória em que um contrato, não se poderá presumi-los solidários, pois isso
terceiro (fiador) passa a garantir pessoalmente perante o violaria a regra legal.
credor a dívida do devedor com seu patrimônio, tendo
dessa forma uma responsabilidade sem débito. g) A fiança poderá ser prestada conjuntamente a um só
débito, por mais de uma pessoa, importando o
13.2. Natureza jurídica compromisso de solidariedade entre elas se
declaradamente não se reservarem o benefício da divisão,
a) Gratuito – quem obtém o benefício deste contrato é o respondendo cada fiador unicamente pela parte que
credor, que tem o seu direito de crédito garantido. Porém, proporcionalmente lhe couber no pagamento.
pode ser oneroso, como no caso da fiança bancária. Nessa
última hipótese será aplicada as regras do CDC. h) O fiador também tem direito perante o devedor de ser
ressarcido de todas as perdas e danos que vier a sofrer em
b) Consensual – atende à autonomia da vontade das partes. razão da fiança.

c) Formal – exige, minimamente, documento escrito. i) Poderá o fiador promover o andamento da execução
contra o devedor nos casos em que o credor, sem justa
d) Não solene – não há necessidade de escritura pública. causa, demorar a executar.

e) Obrigação acessória – a sua existência depende de um j) Segundo a doutrina majoritária, a renúncia convencional
contrato principal. é nula.

f) Típico – possui previsão legal. l) A obrigação do fiador passa para os herdeiros, mas fica
limitado ao quinhão hereditário (forças da herança).
g) Fiduciário – essencialmente decorre da confiança das
partes. m) É o único contrato em que há compensação sem
reciprocidade de créditos e débitos, podendo ser
13.3. Seus efeitos e regras compensado com o credor o que este deve ao afiançado.

a) As dívidas futuras podem ser objeto de fiança, mas o n) A desoneração de fiador em locação urbana é regulada
fiador, nesse caso, não será demandado senão depois que pelo artigo 40 da Lei n. 8.245/91, em que o fiador ainda
se fizer certa e líquida a obrigação do principal devedor responde no período de 120 dias após a sua desoneração,
(art. 821 do CC). enquanto a da lei civil, o fiador ficará obrigado por todos
os efeitos da fiança, durante 60 dias após a notificação do
b) A fiança poderá abranger a totalidade da dívida (total) credor.
ou parte da dívida (parcial), sendo a primeira ilimitada e a
segunda limitada. o) Não obstante discussões anteriores acerca da
constitucionalidade da penhora do único bem imóvel do
c) O credor possui o direito de examinar a idoneidade da fiador, o STF pacificou este entendimento acerca da
fiança, não podendo ser obrigado a aceitá-lo se o mesmo
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possibilidade, declarando a constitucionalidade do artigo f) Não solene, em regra. Todavia poderá revestir-se de
3º, inciso VII, da Lei n. 8.009/90. forma solene, de acordo com o disposto no art. 842, da lei
civil.
13.4. Extinção da fiança

São casos de extinção da fiança: 14.3. Espécies

a) resilição unilateral; A norma apresenta duas modadalidades de


transação:
b) morte;

c) O fiador pode opor ao credor as exceções que lhe forem a) Judicial ou extintiva, realizada perante o juiz, quando
pessoais e as extintivas da obrigação que competem ao existir litígio em relação à alguma obrigação. Necessária
devedor principal, se não provierem simplesmente de escritura pública ou de termo nos autos, assinado pelas
incapacidade pessoal, salvo o caso do mútuo feito a pessoa partes e homologado pelo juízo;
menor;

d) o fiador, ainda que solidário, ficará desobrigado se, sem b) Extrajudicial ou preventiva: feita com o objetivo de
o seu consentimento, o credor conceder moratória ao prevenir eventual litígio, não existindo forma solene por
devedor; se por fato do credor, for impossível a sub- determinação legal, mas exige-se a forma escrita.
rogação nos seus direitos e preferências; se o credor, em
pagamento da dívida, aceitar amigavelmente do devedor
objeto diverso do que este era obrigado a lhe dar, ainda que 14.4. Efeitos
depois venha a perdê-lo por evicção;
O contrato de transação deve ser interpretado
e) em caso de ser invocado o benefício da excussão e o restritivamente, e por ele não se transmitem, apenas se
devedor, retardando-se à execução, cair em insolvência, declaram ou reconhecem direitos.
ficará exonerado o fiador que o invocou, se provar que os
bens por ele indicados eram, ao tempo da penhora, Em relação a terceiros, a transação não aproveita,
suficientes para a solução da dívida afiançada; nem prejudica senão aos que nela intervierem, ainda que
diga respeito a coisa indivisível. Se for concluída entre o
14. DA TRANSAÇÃO (arts. 840 a 850, CC) credor e o devedor, desobrigará o fiador; se entre um dos
credores solidários e o devedor, extingue a obrigação deste
14.1. Conceito para com os outros credores; e, se entre um dos devedores
solidários e seu credor, extingue a dívida em relação aos
O contrato de transação está disciplinado nos arts. codevedores.
840 a 850 da lei civil e é o contrato pelo meio do qual as
partes convencionam a extinção de uma obrigação fazendo Ocorrendo a evicção da coisa renunciada por um
concessões mútuas ou recíprocas. dos transigentes, ou por ele transferida à outra parte, não
revive a obrigação extinta pela transação; mas ao evicto
cabe o direito de reclamar perdas e danos.Se um dos
14.2. Natureza Jurídica
transigentes adquirir, depois da transação, novo direito
sobre a coisa renunciada ou transferida, a transação feita
a) Bilateral; não o inibirá de exercê-lo.
b) Comutativo;
c) Oneroso; A transação concernente a obrigações resultantes de
d) Consensual; delito não extingue a ação penal pública. E é admissível,
na transação, a pena convencional.
e) Tem por objeto apenas direitos obrigacionais de cunho
patrimonial e de caráter privado (art. 841, do CC); No que tange à nulidade de qualquer das cláusulas
da transação, esta será tida por nula também. Na hipótese
de a transação versar sobre diversos direitos contestados,

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independentes entre si, o fato de não prevalecer em relação até o momento em que Augusto realize o pagamento
a um não prejudicará os demais. Será também nula a integral do preço.
transação a respeito do litígio decidido por sentença d) Trata-se de pacto adjeto ao contrato de compra e venda
transitada em julgado, se dela não tinha ciência algum dos em que Marcelo, enquanto constituir faculdade de
transatores, ou quando, por título ulteriormente exercício, poderá ceder ou transferir por ato inter vivos.
descoberto, se verificar que nenhum deles tinha direito Comentários
sobre o objeto da transação. A assertiva correta de letra B deita bases no art. 513, CC
que dispõe que “A preempção, ou preferência, impõe ao
Em se tratando de anulabilidade, a transação só será comprador a obrigação de oferecer ao vendedor a coisa
anulada nos casos de dolo, coação, ou erro essencial que aquele vai vender, ou dar em pagamento, para que este
quanto à pessoa ou coisa controversa. Todavia, não será use de seu direito de prelação na compra, tanto por tanto.”
anulada por erro de direito a respeito das questões que
foram objeto de controvérsia entre as partes. (FGV - XI Exame de Ordem) Questão 39 A Lanchonete
Mirim celebrou contrato de fornecimento de bebidas
com a Distribuidora Céu Azul, ficando ajustada a
entrega mensal de 200 latas de refrigerante, com
pagamento em 30 dias após a entrega. Para tanto,
Luciana, mãe de uma das sócias da lanchonete, sem o
conhecimento das sócias da sociedade e de seu marido,
celebrou contrato de fiança, por prazo indeterminado,
com a distribuidora, a fim de garantir o cumprimento
das obrigações assumidas pela lanchonete diante desse
quadro, assinale a afirmativa correta.
a) Luciana não carece da autorização do cônjuge para
celebrar o contrato de fiança com a sociedade Céu Azul,
qualquer que seja o regime de bens.
*b) Pode-se estipular a fiança, ainda que sem o
consentimento do devedor ou mesmo contra a sua vontade,
sendo sempre por escrito e não se admitindo interpretação
extensiva.
c) Em caso de dação em pagamento, se a distribuidora vier
a perder, por evicção, o bem dado pela lanchonete para
pagar o débito, remanesce a obrigação do fiador.
d) Luciana não poderá se exonerar, quando lhe convier, da
fiança que tiver assinado, ficando obrigada por todos os
Questões Comentadas efeitos da fiança até a extinção do contrato de
fornecimento de bebidas.
(FGV - IX Exame de Ordem) Questão 38 Marcelo Comentários
firmou com Augusto contrato de compra e venda de A assertiva correta de letra B tem por base legal os arts.
imóvel, tendo sido instituindo no contrato o pacto de 819 e 820, do CC, dispondo que a fiança dar-se-á por
preempção. Acerca do instituto da preempção, assinale escrito, não se admite interpretação extensiva e podendo
a afirmativa correta. ser estipulada, ainda que sem consentimento do devedor
a) Trata-se de pacto adjeto ao contrato de compra e venda ou contra a sua vontade.
em que Marcelo se reserva ao direito de recobrar o imóvel
vendido a Augusto no prazo máximo de 3 anos, restituindo (FGV - XII Exame de Ordem) Questão 39 José
o preço recebido e reembolsando as despesas do celebrou com Maria um contrato de compra e venda de
comprador. imóvel, no valor de R$100.000,00, quantia paga à vista,
*b) Trata-se de pacto adjeto ao contrato de compra e venda ficando ajustada entre as partes a exclusão da
em que Marcelo impõe a Augusto a obrigação de oferecer responsabilidade do alienante pela evicção. A respeito
a coisa quando vender, ou dar em pagamento, para que use desse caso, vindo a adquirente a perder o bem em
de seu direito de prelação na compra, tanto por tanto. decorrência de decisão judicial favorável a terceiro,
c) Trata-se de pacto adjeto ao contrato de compra e venda assinale a afirmativa correta.
em que Marcelo reserva para si a propriedade do imóvel
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a) Tal cláusula, que exonera o alienante da os seus alimentos habituais; III - se o menor tiver bens
responsabilidade pela evicção, é vedada pelo ordenamento ganhos com o seu trabalho. Mas, em tal caso, a execução
jurídico brasileiro. do credor não lhes poderá ultrapassar as forças; IV - se o
*b) Não obstante a cláusula de exclusão da
empréstimo reverteu em benefício do menor; V - se o
responsabilidade pela evicção, se Maria não sabia do risco,
ou, dele informada, não o assumiu, deve José restituir o menor obteve o empréstimo maliciosamente. Assim,
valor que recebeu pelo bem imóvel. incorreta a assertiva de letra A.
c) Não obstante a cláusula de exclusão da responsabilidade
pela evicção, Maria, desconhecendo o risco, terá direito à (FGV - Exame de Ordem 2016.3) João e Maria
dobra do valor pago, a título de indenização pelos casaram-se, no regime de comunhão parcial de bens,
prejuízos dela resultantes. em 2004. Contudo, em 2008, João conheceu Vânia e
d) O valor a ser restituído para Maria será aquele ajustado eles passaram a ter um relacionamento amoroso.
quando da celebração do negócio jurídico, atualizado Separando- se de fato de Maria, João saiu da casa em
monetariamente, sendo irrelevante se tratar de evicção que morava com Maria e foi viver com Vânia, apesar
total ou parcial. de continuar casado com Maria. Em 2016, João, muito
Comentários feliz em seu novo relacionamento, resolve dar de
De acordo com o art. 448 e 449 do CC podem as partes, presente um carro 0 km da marca X para Vânia.
por cláusula expressa, reforçar, diminuir ou excluir a Considerando a narrativa apresentada, sobre o
responsabilidade pela evicção. Não obstante a cláusula que contrato de doação celebrado entre João, doador, e
exclui a garantia contra a evicção, se esta se der, tem Vânia, donatária, assinale a afirmativa correta.
direito o evicto a receber o preço que pagou pela coisa
evicta, se não soube do risco da evicção, ou, dele a) é nulo, pois é hipótese de doação de cônjuge adúltero
informado, não o assumiu. Trata-se do conteúdo da letra ao seu cúmplice.
B, assertiva correta. b) poderá ser anulado, desde que Maria pleiteie a anulação
até dois anos depois da assinatura do contrato.
(FGV - 2014 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XIII - c) é plenamente válido, porém João deverá pagar perdas e
Primeira Fase) Questão 37 Pedro, menor impúbere, e danos à Maria.
sem o consentimento de seu representante legal, *d) É plenamente válido, pois João e Maria já estavam
celebrou contrato de mútuo com Marcos, tendo este lhe separados de fato no momento da doação.
entregue a quantia de R$400,00, a fim de que pudesse Comentários
comprar uma bicicleta. A respeito desse caso, assinale
a afirmativa incorreta. Dispõe o art. 550 que a doação do cônjuge adúltero ao seu
*a) O mútuo poderá ser reavido somente se o representante cúmplice poderá ser anulada pelo outro cônjuge, ou por
legal de Pedro ratificar o contrato. seus herdeiros necessários, até dois anos depois de
b) Se o contrato tivesse por fim suprir despesas com a dissolvida a sociedade conjugal. O art. 1.521, inc. VI, da
própria manutenção, o mútuo poderia ser reavido, ainda lei civil, que traz os impedimentos para casamento que se
que ausente ao ato o representante legal de Pedro. aplicam também à união estável, dispõe que não podem
c) Se Pedro tiver bens obtidos com o seu trabalho, o mútuo
casar as pessoas casadas, ou seja, não poderá constituir
poderá ser reavido, ainda que contraído sem o
consentimento do seu representante legal. união estável. Entretanto, se estiver separada de fato ou
d) O mútuo também poderia ser reavido caso Pedro tivesse judicialmente, a união estável poderá ser constituída,
obtido o empréstimo maliciosamente. de acordo com o art. 1.723, § 1º, segunda parte do Código
Comentários: Civil. Assim, a doação é válida, tendo em vista que João
De acordo com a redação do arts. 588 e 589 do CC o mútuo já encontrava separado de fato de Maria. Sobre o tema,
feito a pessoa menor, sem prévia autorização daquele sob observe o entendimento jurisprudencial do STJ:
cuja guarda estiver, não pode ser reavido nem do mutuário,
nem de seus fiadores. Todavia, cessa essa disposição nas DIREITO CIVIL. DOAÇÃO. AQUISIÇÃO DE IMÓVEL
seguintes hipóteses: I - se a pessoa, de cuja autorização EM NOME DA COMPANHEIRA POR HOMEM
necessitava o mutuário para contrair o empréstimo, o CASADO, JÁ SEPARADO DE FATO. DISTINÇÃO
ratificar posteriormente;II - se o menor, estando ausente ENTRE CONCUBINA E COMPANHEIRA. As doações
essa pessoa, se viu obrigado a contrair o empréstimo para feitas por homem casado à sua companheira, após a
separação de fato de sua esposa, são válidas, porque, nesse
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momento, o concubinato anterior dá lugar à união estável; (FGV - Exame de Ordem 2017.1) João e Maria, casados
a contrario sensu, as doações feitas antes disso são nulas. e donos de extenso patrimônio, celebraram contrato de
(REsp 408.296/RJ, Rel. Ministro ARI PARGENDLER, fiança em favor de seu filho, Carlos, contrato este
acessório a contrato de locação residencial urbana,
TERCEIRA TURMA, julgado em 18/06/2009, DJe
com duração de 30 meses, celebrado entre Carlos,
24/06/2009) locatário, e Marcelo, proprietário do apartamento e
locador, com vigência a partir de 1° de setembro de
(FGV - Exame de Ordem 2016.3) Tiago celebrou
2015. Contudo, em novembro de 2016, Carlos não
contrato de empreitada com a sociedade Obras Já
pagou o aluguel.
Ltda. para a construção de piscina e duas quadras de
Considerando que não houve renúncia a nenhum
esporte em sua casa de campo, pelo preço total de R$
benefício pelos fiadores, assinale a afirmativa correta.
50.000,00. No contrato ficou estabelecido que a
a) Marcelo poderá cobrar diretamente de João e Maria,
empreiteira seria responsável pelo fornecimento dos
fiadores, tendo em vista que eles são devedores solidários
materiais necessários à execução da obra.
do afiançado, Carlos.
Durante a obra, ocorreu uma enchente que alagou a
b) Marcelo poderá cobrar somente de João, tendo em vista
região e parte do material a ser usado na obra foi
que Maria não é fiadora, mas somente deu a outorga
destruída. A empreiteira, em razão disso, entrou em
uxória.
contato com Tiago cobrando um adicional de R$
c) Marcelo poderá cobrar de Carlos, locatário, mas não
10.000,00 para adquirir os novos materiais necessários
dos fiadores, pois não respondem pela dívida do contrato
para terminar a obra.
de locação.
Diante dos fatos narrados, assinale a afirmativa
*d) Marcelo poderá cobrar de João e Maria, fiadores,
correta.
após tentar cobrar a dívida de Carlos, locatário, tendo em
*a)Tiago não terá que arcar com o adicional de R$
vista que os fiadores são devedores subsidiários.
10.000,00, ainda que a destruição do material não tenha
Comentário
ocorrido por culpa do devedor.
Em geral, na fiança a responsabilidade é subsidiária, de
b) Tiago não terá que arcar com o adicional de R$
acordo com o art. 827 do CC. O fiador eventualmente
10.000,00, porém a empreiteira não está mais obrigada a
demandado antes do devedor poderá arguir, em defesa,
terminar a obra, tendo em vista a ocorrência de um fato
benefício de ordem, indicando bens livres e
fortuito ou de força maior.
desembaraçados, do devedor, situados no mesmo
c) Tiago terá que arcar com o adicional de R$ 10.000,00,
domicílio e que bastem ao pagamento da dívida. Os
tendo em vista que a destruição do material não foi
fiadores só se tornarão devedores solidários na hipótese de
causada por um fato fortuito ou de força maior.
renúncia ou afastamento do benefício de ordem. Trata-se
d) Tiago terá que arcar com o adicional de R$ 10.000,00
de situações excepcionais previstas no art. 828 do CC. No
e a empreiteira não está mais obrigada a terminar a obra,
que tange aos cofiadores, a responsabilidade é solidária,
ante a ocorrência de um caso fortuito ou de força maior.
conforme o teor do art. 829 do CC, exceto se existir pacto
Comentários
em sentido diverso.
A questão tem por base legal os arts. 610 a 612, do Código
Civil. O empreiteiro de uma obra pode contribuir para ela
RESPONSABILIDADE CIVIL
só com seu trabalho, que se trata da empreitada por lavor,
ou com ele e os materiais, que é a empreitada mista ou
Por Cristiano Sobral
materiais, que é o caso trazido pela questão. Esta obrigação
de fornecer os materiais não se presume; resulta da lei ou
1. Conceito
da vontade das partes, que é o caso narrado, pois, ficou
acordado em contrato quem forneceria os materiais. Nesta
A matéria a ser estudada vincula-se ao dever de
hipótese, quando o empreiteiro fornece os materiais,
não causar prejuízo injustamente, buscando-se a
correm por sua conta os riscos até o momento da entrega
indenização pelos danos sofridos, com a finalidade de
da obra, a contento de quem a encomendou, se este não
reparação na medida do injusto causado resultante da
estiver em mora de receber. Mas se estiver, por sua conta
violação do dever de cuidado.
correrão os riscos, mesmo aqueles que não são de sua
culpa. Já se fosse a hipótese de o empreiteiro só ter
2. Pressupostos
fornecido mão de obra, todos os riscos em que não tiver
culpa correriam por conta do dono. Correta a letra A.
a) ato ilícito ou conduta;
b) culpa;
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58
DIREITO CIVIL
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c) dano; poderá ser: grave em razão do erro grosseiro, leve diante
d) nexo causal. de falta evitável e, ainda, levíssima ante a falta de atenção
extraordinária. Sendo a indenização obrigatória em
2.1. Ato ilícito ou conduta qualquer um desses graus (in lege Aquilia et levissima
culpa venit).
Conduta contrária ao direito positivado, tendo por
elementos a antijuridicidade, ou seja, o ato ser contrário à 2.2.1. Espécies de culpa strictu sensu
ordem jurídica e o agente ser imputável, respondendo pelo
mesmo por possuir maturidade e sanidade para a prática a) contratual – violação de um dever jurídico
dos atos civis. originariamente estabelecido;

2.1.1. Espécies b) extracontratual ou aquiliana – aquela que ocorre sem


qualquer estabelecimento de relação jurídica originária;
a) indenizatório – busca a reparação do estado inicial da
vítima (status quo ante); c) in comitendo – em cometer, culpa por agir com
imprudência;
b) invalidante – tem como objetivo a invalidade do ato
praticado de forma ilícita; d) in omitendo – culpa em omitir;

c) caducificante – resulta na efetiva perda do direito; e) in vigilando – culpa pela vigilância;

d) autorizante – a lei autoriza a prática de uma conduta em f) in eligendo – culpa pela escolha;
rejeição a um ilícito.
g) in custodiando – culpa pela custódia, por guardar;
2.2. Culpa
h) presumida – a culpa, nesse caso, é essencial para o dever
A culpa pode ser dividida em dois casos: de reparar, geralmente a lei já faz o juízo de presunção, não
sendo a mesma adotada pelo CC/02, e, nas situações de
a) culpa latu sensu: tem o dolo como sua modalidade mais previsão em leis esparsas, a doutrina entende que se
grave, podendo o mesmo ser encontrado nas seguintes considera caso de responsabilidade objetiva;
formas:
i) concorrente – hipótese em que o agente e a vítima
– dolo direto: o agente deseja a prática do ilícito; contribuem para a prática do evento danoso, sendo devida,
segundo a doutrina, a divisão proporcional dos graus de
– dolo necessário: fala a respeito de um efeito colateral culpa entre eles.
típico decorrente do meio escolhido e admitido, pelo autor,
como certo ou necessário; 2.3. Dano

– dolo eventual: o agente, com a sua conduta, assume o As espécies de dano existentes são: material,
risco do ilícito. moral, estético, coletivo e social e a perda de uma chance.

b) culpa strictu sensu (mera culpa): o agente pratica o 2.3.1. Espécies


ilícito com a ausência do dever de cuidado, gerando as
seguintes espécies: 2.3.1.1. Dano material

– negligência – a conduta é caracterizada pelo desleixo; Trata-se de uma efetiva lesão patrimonial,
podendo ser total ou parcial, suscetível de avaliação
– imprudência – a conduta é omissiva; pecuniária.

– imperícia – é a falta de habilidade técnica. 2.3.1.1.1. Danos emergentes e lucros cessantes

Diante do tema abordado, constata-se a existência a) danos emergentes – do latim damnum emergens,
de uma classificação referente à graduação, em que a culpa significa a perda efetivamente sofrida;
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b) lucros cessantes – atinge o patrimônio futuro (ganho 2.3.1.4.2.1. Punitive damages
esperável), impedindo seu crescimento.
Traduzido para a língua portuguesa, danos
2.3.1.2. Dano incerto punitivos, seria aquilo que a doutrina chama de “dano
moral punitivo”. Defende-se o entendimento de que tal
Segundo entendimento do STJ, não se pode instituto seja possível se o juiz entender que diante da
indenizar um dano incerto, em razão da própria natureza proporcionalidade entre a culpa e o dano é cabível
da responsabilidade civil, que é a efetiva reparação de indenização com o objetivo de punir o agente pela prática.
dano causado ao patrimônio. Todavia, parte da doutrina possui posicionamento
diverso, interpretando que se inexiste previsão no CC/02,
2.3.1.3. Dano material futuro logo, não é possível ser adotado, sob pena de configurar
enriquecimento sem causa como disposto no artigo 884 do
Inexiste a possibilidade desta modalidade, uma CC.
vez que somente se pode exigir reparação por danos
causados e não por danos a causar, isto é, que poderão 2.3.1.4.2. Dano moral direto e indireto ou ricochete
acontecer futuramente, inexistindo lesão patrimonial.
Ocorre o dano moral direto quando o ofendido é
2.3.1.4. Dano moral diretamente atingido nos seus direitos da personalidade. O
sofrimento, a dor e o trauma provocados pela morte de um
É uma espécie de dano, extrapatrimonial, por ente querido podem gerar o dever de indenizar. Assim tem
violação aos direitos inerentes à pessoa, contidos nos se posicionado o Superior Tribunal de Justiça (STJ) ao
direitos da personalidade. julgar os pedidos de reparação feitos por parentes ou
pessoas que mantenham fortes vínculos afetivos com a
Atenção: V Jornada de Direito Civil: Enunciado n. 445 – vítima. Trata-se de dano moral reflexo ou indireto,
“Art. 927. O dano moral indenizável não pressupõe também denominado dano moral por ricochete.
necessariamente a verificação de sentimentos humanos
desagradáveis como dor ou sofrimento.” Atenção: Observe os Enunciados n. 552 e 560 da VI
Jornada de Direito Civil:
2.3.1.4.1. Formas de fixação
Constituem danos reflexos reparáveis as despesas
2.3.1.4.1. Compensatório suportadas pela operadora de plano de saúde decorrentes
de complicações de procedimentos por ela não cobertos.
São analisados dois requisitos
concomitantemente: extensão do dano + condições No plano patrimonial, a manifestação do dano
pessoais da vítima. reflexo ou por ricochete não se restringe às hipóteses
previstas no art. 948 do Código Civil.
Atenção: Sobre o tema, observe os Enunciados da VII
Jornada de Direito Civil: 2.3.1.4.3. Dano moral à pessoa jurídica

Art. 927 – O patrimônio do ofendido não pode funcionar Não é pacífico o ponto de vista da matéria
como parâmetro preponderante para o arbitramento de abordada, sendo majoritário o entendimento de que é
compensação por dano ex-trapatrimonial. (Enunciado n. possível que a pessoa jurídica possa sofrer dano moral,
588) conforme dispõe a Súmula n. 227 do STJ: “A pessoa
jurídica pode sofrer dano moral.”
Art. 927 – A compensação pecuniária não é o único modo
de reparar o dano extrapatrimonial, sendo admitida a 2.3.1.4.4. A não possibilidade de incidência de imposto
reparação in natura, na forma de retratação pública ou de renda
outro meio. (Enunciado n. 589)
O dano moral é uma recomposição de lesão, ainda
2.3.1.4.2. Punitiva que extrapatrimonial, e por tal motivo a sua indenização
não significa um acréscimo patrimonial, não incidindo
Neste outro ponto, existem dois requisitos: desse modo no imposto de renda sobre as verbas recebidas
condições econômicas + grau de culpa do ofensor. a título de ressarcimento pelos danos causados.
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2.3.1.4.5. Dano moral coletivo e social. Diferenças. Atenção: Sobre o tema:
Posicionamento da jurisprudência do STJ
Art. 944. A redução equitativa da indenização tem caráter
O dano moral coletivo é a lesão extrapatrimonial excepcional e somente será realizada quando a amplitude
aos direitos da personalidade de um determinado grupo, do dano extrapolar os efeitos razoavelmente imputáveis à
como, por exemplo, discriminação sexual, etnia, religião, conduta do agente (Enunciado n. 457 da V Jornada de
dentre outras. Já o dano moral social envolve a sociedade, Direito Civil).
ou seja, um grupo indeterminado, não se podendo medir a
quantidade de pessoas lesionadas. Um grande exemplo, a Art. 944. O grau de culpa do ofensor, ou a sua eventual
ação civil pública movida pelo MPF/SP, em face da Rede conduta intencional, deve ser levado em conta pelo juiz
TV, por ter entrevistado ao vivo a vítima Eloá no cativeiro para a quantificação do dano moral (Enunciado n. 458 da
momento antes de seu assassinato. Nesta ocasião, foi V Jornada de Direito Civil).
impossível medir a quantidade de pessoas no país que
estavam assistindo ao programa, sendo indiscutível, ainda, A quantificação da reparação por danos extrapatrimoniais
a exposição da vítima em rede nacional, argumentos estes não deve estar sujeita a tabelamento ou a valores fixos
objetos da discussão nos autos do processo n. (Enunciado n. 550 da VI Jornada de Direito Civil).
2008.61.00.029505-0, distribuído perante a 6ª Vara
Federal Cível de São Paulo. 2.3.1.5. Dano estético

2.3.1.4.6. Prova do dano moral É a efetiva lesão à integridade corporal da vítima


e, podendo ser indenizável, o dano deve ser duradouro ou
Segundo entendimento pacífico do STJ, o dano permanente ou, em alguns casos, impedir as capacidades
moral é chamado de in re ipsa (presumido), ou dano na laborativas.
própria coisa, bastando demonstrar unicamente o fato.
O STJ sumulou o seu entendimento no verbete n.
Atenção: Sobre o tema veja os Enunciados da V e VII 387, em que: “É lícita a cumulação das indenizações de
Jornadas de Direito Civil: dano estético e dano moral.”

Art. 944. Embora o reconhecimento dos danos morais se 2.3.1.6. Perda de uma chance
dê, em numerosos casos, independentemente de prova (in
re ipsa), para a sua adequada quantificação, deve o juiz Ocorre quando a vítima possui uma chance séria e
investigar, sempre que entender necessário, as real, englobando tanto o dano moral quanto o material.
circunstâncias do caso concreto, inclusive por intermédio Exemplificando: nas Olimpíadas de Atenas em 2004, o
da produção de depoimento pessoal e da prova maratonista Vanderlei Cordeiro de Lima estava liderando
testemunhal em audiência (Enunciado n. 455). a prova, até que por volta do 36º km de prova, um padre
irlandês o empurrou desconcentrando-o e retirando o ritmo
Art. 927. O dano à imagem restará configurado quando da prova, fazendo com que o atleta conquistasse apenas o
presente a utilização indevida desse bem jurídico, bronze.
independentemente da concomitante lesão a outro direito
da personalidade, sendo dispensável a prova do prejuízo Outro grande exemplo de perda de uma chance foi
do lesado ou do lucro do ofensor para a caracterização do caso no programa “Show do Milhão” (REsp. n.
referido dano, por se tratar de modalidade de dano in re 788.459/BA), em que foi questionada ao participante uma
ipsa. (Enunciado n. 587) pergunta que não possuía resposta correta. Nesse sentido,
o STJ entendeu por reduzir a indenização para o valor de
2.3.1.4.7. A quantificação dos danos morais R$ 125.000,00 (cento e vinte e cinco mil reais) de acordo
com a probabilidade matemática de o participante acertar,
No momento de fixar o quantum debeatur, o o que, data vênia, saiu de graça para quem teria o dever de
magistrado deverá estabelecer uma reparação equitativa, pagar um milhão de reais.
baseada na culpa do agente, na extensão e na gravidade do
prejuízo causado, bem como na capacidade econômica das 2.4. Nexo causal
partes. A indenização deve apresentar um critério de
razoabilidade, proporcionalidade e ao mesmo tempo É o vínculo ou relação de causa e efeito entre a
necessária à condenação do agente. conduta e o resultado, existindo diversas teorias, sendo
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adotada pela jurisprudência a Teoria do Dano Direto e – risco proveito – todo ônus deve ser suportado por quem
Imediato. No entanto, é essencial listar as principais recebe o bônus;
teorias existentes:
– risco profissional – deriva das relações de trabalho;
– Teoria da equivalência das condições/conditio sinequa
non – nesta teoria não há diferença entre os antecedentes – risco excepcional – origina-se de atividades que exigem
do resultado danoso, de forma que tudo irá concorrer para elevado grau de perigo;
o evento considerado causador. Ela não é adotada em
nosso ordenamento. – risco integral – modalidade mais elevada de
responsabilidade objetiva por não admitir exclusão de
– Teoria da causalidade adequada – adotada pelo CC/02 culpabilidade, em razão de o agente ser o responsável
nos artigos 944 e 945, para esta teoria, considera-se como universal, adotado excepcionalmente no ordenamento
causa todo e qualquer evento que haja contribuído para a jurídico nas seguintes formas:
efetiva ocorrência do resultado. Portanto, para que ela
possa ser adotada, deve-se estar diante de uma causa – dano ambiental: art. 225, § 3º, CF/88 c/c o art. 14, § 1º,
adequada e apta à efetivação do resultado. da Lei n. 6.931/81, defende que o dano ambiental deverá
ser reparado independentemente de culpa;
– Teoria do dano direto e imediato – segundo essa teoria,
será indenizável todo o dano que se filia a uma causa, ainda – seguro obrigatório – DPVAT: Lei n. 6.194/74 com
que remota, desde que necessária, encontrando respaldo no posterior alteração pela Lei n. 8.441/92 estabelece
artigo 403 do atual Código Civil. indenização às vítimas de acidente de veículos
automotores independente de culpa ou de identificação do
2.4.1. Concorrência de causas veículo automotor;

a) Subsequentes – é causado pela prática de conduta Atenção:


oriunda de um ato fundamentando por prática posterior. Súmula n. 405, STJ: “A ação de cobrança do seguro
obrigatório (DPVAT) prescreve em três anos.”
b) Complementares – é gerado pela a prática da conduta
de dois ou mais agentes que, sem a ajuda do outro, não Súmula n. 426, STJ: “Os juros de mora na indenização do
seria atingido o fim pretendido. seguro DPVAT fluem a partir da citação”.

c) Cumulativas – não haveria necessidade da conduta dos Súmula n. 474, STJ: “A indenização do seguro DPVAT,
agentes somarem-se, em razão de que ambas atingiriam o em caso de invalidez parcial do beneficiário, será paga de
objetivo-fim da mesma maneira. forma proporcional ao grau da invalidez”.

d) Alternativas – não há como definir o agente causador Súmula n. 540: “Na ação de cobrança do seguro DPVAT,
do dano. constitui faculdade do autor escolher entre os foros do seu
domicílio, do local do acidente ou ainda do domicílio do
e) Preexistentes – a conduta do agente por si só não réu.”
atingiria o resultado-fim se já existisse outra causa.
Súmula n. 544: “É válida a utilização de tabela do
f) Concomitantes – são causas geradoras do dano que são Conselho Nacional de Seguros Privados para estabelecer a
produzidas ao mesmo tempo. proporcionalidade da indenização do seguro DPVAT ao
grau de invalidez também na hipótese de sinistro anterior
g) Supervenientes – surgem após o evento danoso. a 16/12/2008, data da entrada em vigor da Medida
Provisória n. 451/2008”.
3. O risco
– danos nucleares – art. 21, inciso XXIII, “d”, CF,
Há diversas espécies de risco dispostas no responsabilidade civil por danos nucleares, na qual
ordenamento jurídico, devendo ser mencionadas as também foi adotada a teoria do risco integral.
principais:

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4. Responsabilidade por ato próprio ü No caso do empregador ou comitente, por seus
empregados, serviçais e prepostos, no exercício do
Transcorre por ato do próprio agente, ora causador trabalho que lhes competir ou em razão dele, o CC/02
do dano. Está disposta nos artigos 939 e 940 do CC. inovou.

Conforme o primeiro dispositivo, quem demandar Anteriormente, a aplicação do Código Civil de


judicialmente contra devedor antes de vencida a dívida, 2002, nesses casos, havia a responsabilidade por culpa in
fora dos casos em que a lei o permita, ficará obrigado a elegendo, como culpa presumida na forma da Súmula n.
aguardar o vencimento, bem como pagar as custas em 341 do STF que, ao final, resultava nas mesmas
dobro, sendo obrigado ainda a descontar os juros, por consequências previstas no atual diploma civil, que
serem, até o momento, indevidos. transformou em responsabilidade objetiva.

Já o segundo dispositivo, quem demandar A norma abrange não somente a relação de


judicialmente por dívida já paga, ainda que somente parte emprego, mas toda e qualquer outra relação empregatícia
desta, ficará obrigado a pagar ao devedor, no primeiro com subordinação, chamada de preposição.
caso, o dobro do que houver cobrado. E, ainda, se litigar
sem ressalvar as quantias recebidas ou pedir mais do que ü Referente aos donos de hotéis, hospedarias, casas
for devido, ficará obrigado a pagar ao devedor o ou estabelecimentos onde se albergue por dinheiro, mesmo
equivalente do que dele exigir. Em ambos os casos, fica para fins de educação, pelos seus hóspedes, moradores e
ressalvado se já tiver ocorrido a prescrição. educandos, alguns pontos merecem destaque.

A diferença entre o artigo 940 do Código Civil e o A responsabilidade é objetiva como acima
parágrafo único do artigo 42 da Lei n. 8.078/90, é que o mencionado. Os hotéis, em especial, responderiam
primeiro somente é aplicável a cobranças judiciais e o também, caso o CC/02 não dispusesse sobre essa matéria,
segundo, a todas as judiciais e extrajudiciais. de maneira objetiva, por força do artigo 14 da Lei n.
8.078/90, visto que está presente o risco da atividade
5. Responsabilidade por ato de outrem ou desenvolvida.
responsabilidade indireta
Tanto nos casos dos hospitais, clínicas e outros
De acordo com os ditames do artigo 932 da norma estabelecimentos similares, bem como nas escolas,
civilista, é o caso que terceiros praticam o ilícito e o enquanto estiverem no referido local, aplica-se a teoria da
responsável legal responde pelo fato, isto é, responde guarda.
(Haftung) mesmo sem ter contraído o débito (Schuld). O
CC/02 adotou para esses casos a responsabilidade Quando o paciente nos hospitais for menor ou
objetiva, conforme redação do artigo 933. adolescente, deverá ser observado o artigo 12 da Lei n.
8.069/90 do ECA:
A responsabilidade solidária prevista no artigo
942 da lei civil é aplicável nos casos dos incisos III, IV e Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde
V do artigo 932. deverão proporcionar condições para a permanência em
tempo integral de um dos pais ou responsável, nos casos
ü Os pais irão responder pelos atos dos filhos que de internação de criança ou adolescente.
estiverem sob sua guarda e companhia, mesmo que
provarem não agir com negligência. A responsabilidade Atualmente, estão na moda os casos de bullying,
será objetiva, e os pais irão substituir os filhos, consoante que consiste em apertadíssima síntese na prática infantil de
a Teoria da Substituição. deboche com isolamento da pessoa naquela comunidade,
geralmente ocorrendo nos colégios. Logo há
ü A responsabilidade do tutor e curador pelos responsabilidade pedagógica do estabelecimento de
pupilos e curatelados que se acharem sob sua autoridade e ensino, sob pena de infração administrativa, conforme
companhia é aplicada nos mesmos moldes que a artigo 245 do ECA:
responsabilidade dos genitores. Importante ressaltar que
inexiste proibição legal sobre direito de regresso em face Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por
dos pupilos ou curatelados. estabelecimento de atenção à saúde e de ensino
fundamental, pré-escola ou creche, de comunicar à
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autoridade competente os casos de que tenha 8. Excludentes de ilicitude e excludentes de
conhecimento, envolvendo suspeita ou confirmação de responsabilidade
maus-tratos contra criança ou adolescente. Pena – multa de
três a vinte salários de referência, aplicando-se o dobro em As excludentes de ilicitude afastam a ilicitude da
caso de reincidência. conduta, mas não o dever de indenizar, respondendo o
agente pelos atos lícitos. Têm-se, como exemplos, o estado
Atenção: Sobre o tema, importa observar a recente Lei n. de necessidade, a legítima defesa e o exercício regular do
13.185, de 06.11.2015 que institui o Programa de Combate direito.
à Intimidação Sistemática (Bullying).
Por sua vez, as excludentes de responsabilidade
ü Em relação aos que gratuitamente houverem rompem o nexo causal e afastam o dever de indenizar.
participado nos produtos do crime, será responsabilizado Exemplos: o caso fortuito, a força maior e a culpa
objetivamente até a concorrente quantia da qual tirou o exclusiva da vítima.
proveito efetivo, consagrando o Princípio da reparação do
indevido. 8.1. Estado de necessidade

ü Deve ser ressaltada a norma do artigo 934 da lei Baseia-se na deterioração ou destruição da coisa
civil, que trata do direito de regresso. Somente no caso do alheia, ou lesão à pessoa, com o fim de remover perigo
inciso I do artigo 932 não será cabível tal direito. Atenção! iminente, quando as circunstâncias não autorizarem outra
forma de atuação. Nesse caso, o agente irá atuar com o fim
5.1. Independência das responsabilidades civil e de resguardar direito seu ou de outra pessoa em situação
criminal de perigo concreto.

A responsabilidade civil e criminal possui Esta excludente foi regulamentada no artigo 188,
comunicação, no entanto, irá prevalecer de forma absoluta inciso II, c/c artigo 929, ambos do Código Civil.
o reconhecimento do fato e de autoria na justiça penal (art.
935 do CC). Não corre a prescrição antes do trânsito em 8.2. Legítima defesa
julgado da sentença penal condenatória (art. 200 do CC) e
esta formará título executivo judicial na jurisdição civil, Este instituto preceitua que o agente, diante de
consoante disposição do CPC. situação de injusta agressão atual e iminente, a si ou a outra
pessoa, age de forma moderada a repelir o acometido. Tal
6. Responsabilidade por fato da coisa ou do animal forma de exclusão de ilicitude encontra-se prevista no
artigo 188, inciso I, 1ª parte, do diploma civil.
O dono de edifício ou construção responde pelos
danos que resultarem de sua ruína, se esta provier de falta No caso da defesa gerar danos a terceiros, deverá
de reparos, cuja necessidade seja manifesta. o agente, ainda que licitamente em sua defesa ou de
Aquele que habitar prédio, ou parte dele, responsabiliza-se outrem, indenizar o terceiro na forma dos artigos 929 e 930
pelo dano proveniente das coisas que dele caírem ou forem do Código Civil.
lançadas em lugar indevido.
8.3. Exercício regular do direito
Quando não é possível identificar em um prédio
com diversos blocos o autor do lançamento de objetos, a Presente no artigo 188, inciso I, 2ª parte, da norma
doutrina entende que se aplica a Teoria da Pulverização civilista, consiste na extrapolação dos fins colimados pela
dos Danos, respondendo todos os condôminos por não se lei. Quando não for ilícito, será exercício regular do
conseguir individualizar a conduta. direito. Ressalte-se que o estrito cumprimento do dever
legal não está previsto, dessa forma deve ser encarado
Já a responsabilidade por fato do animal se aplica como uma espécie de exercício regular do direito.
também a teoria da guarda, devendo o dono ou o detentor
de animal ressarcir o dano causado por este. Essa regra é 8.4. Caso fortuito e força maior
aplicável tanto ao adestrador quanto aos estabelecimentos
especializados. Para estes casos, são aplicáveis a isenção São institutos bem parecidos e podem ser
de responsabilidade mediante produção probatória da conceituados da seguinte maneira:
culpa exclusiva da vítima ou força maior.
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a) Caso fortuito – marcado pela imprevisibilidade, advém b) se houver violação a interesse de ordem pública;
de causa desconhecida.
c) diante dos hipossuficientes e vulneráveis;
b) Força maior – caracterizada pela inevitabilidade,
sobrevém de causa conhecida. d) nos casos dos artigos 424 e 734 do Código Civil;

8.5. Culpa exclusiva da vítima e) nas hipóteses dos artigos 25 e 51, inciso I, da Lei n.
8.078/90;
Diferente da culpa concorrente da vítima, a culpa
exclusiva da vítima ocorrerá quando ela concorrer sozinha f) nas condições do artigo 247 da Lei n. 7.565/86 (Código
para a ocorrência do evento danoso. Há previsão legal Brasileiro de Aeronáutica);
neste sentido no artigo 14, § 3º, inciso II, da Lei n.
8.078/90. Um exemplo seria um consumidor que compra Requisitos para a validade da cláusula de não indenizar:
uma passagem para um determinado horário e não
comparece. a) bilateralidade do consentimento;

A companhia não é obrigada a devolver o valor da b) que não colida com preceito de ordem pública;
passagem em razão do serviço ter sido prestado
adequadamente e o consumidor não ter se beneficiado pelo c) igualdade das partes;
seu não comparecimento.
d) inexistência do escopo de eximir o dolo ou a culpa grave
Já a culpa concorrente, prevista no artigo 945 do do estipulante;
Código Civil, ocorrerá se a vítima tiver concorrido
culposamente para o evento danoso. A indenização será e) ausência da intenção de afastar obrigação inerente à
fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em função.
confronto com a do autor do dano.

É importante destacar que se houver previsão legal Questões Comentadas


de responsabilidade objetiva não se discute a culpa, exceto
quando se tratar de culpa exclusiva da vítima ou culpa (FGV - Exame de Ordem 2016.2) Maria, trabalhadora
concorrente. autônoma, foi atropelada por um ônibus da Viação
XYZ S.A. quando atravessava movimentada rua da
8.6. Fato de terceiro cidade, sofrendo traumatismo craniano. No caminho
do hospital, Maria veio a falecer, deixando o marido,
Como o próprio nome diz, um terceiro estranho à João, e o filho, Daniel, menor impúbere, que dela
relação jurídica entre a vítima e o fornecedor de bens ou dependiam economicamente.
serviços causa dano. Dessa forma, o fato de terceiro não Sobre o caso, assinale a afirmativa correta.
exime o dever de indenizar, mas permite o direito de a) João não poderá cobrar compensação por danos
regresso em face do terceiro. morais, em nome próprio, da Viação XYZ S.A., porque o
dano direto e imediato foi causado exclusivamente a
8.7. Cláusula de não indenizar Maria.
b) Ainda que reste comprovado que Maria atravessou a
Somente poderá ser utilizada nas hipóteses de rua fora da faixa e com o sinal de pedestres fechado, tal
responsabilidade contratual, em que uma das partes fato em nada influenciará a responsabilidade da Viação
estabelece cláusula visando ao afastamento do dever de XYZ S.A..
indenizar quando ocorrer o dano. c) João poderá cobrar pensão alimentícia apenas em nome
de Daniel, por se tratar de pessoa incapaz.
Casos em que não será aceita: *d) Daniel poderá cobrar pensão alimentícia da Viação
XYZ S.A., ainda que não reste comprovado que Maria
a) cada vez que seu conteúdo tiver por fim exonerar exercia atividade laborativa, se preenchido o critério da
devedor que incorreria em responsabilidade por dolo ou necessidade.
culpa grave; Comentário

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A jurisprudência tem entendido que na hipótese de A respeito do caso narrado, assinale a afirmativa
necessidade e em sendo família de baixa renda, é possível correta.
aos dependentes pleitearem pensão alimentícia, veja: *a)Tomás e Vinícius são corresponsáveis pelo dano moral
DANOS MATERIAIS. DONA-DE-CASA. Trata-se de sofrido por Adilson e devem responder solidariamente
ação de indenização, tendo em vista o falecimento da pelo dever de indenizar.
esposa e mãe dos autores, vítima de atropelamento por b) Tomás e Vinícius devem responder pelo dano moral
composição férrea de propriedade da empresa ré. Quanto sofrido por Adilson, sendo a obrigação de indenizar, nesse
ao pedido de indenização por danos materiais, a ré caso, fracionária, diante da pluralidade de causadores do
impugna a conclusão do acórdão sob o argumento de que dano.
estes deveriam ser indeferidos, na medida que a vítima era c) Tomás e Vinícius apenas poderão responder, cada um,
dona de casa e não recebia remuneração. O fato de a vítima por metade do valor fixado a título de indenização, pois
não exercer atividade remunerada não autoriza a concluir cada um poderá alegar a culpa concorrente do outro para
que, por isso, ela não contribuía com a manutenção do lar. limitar sua responsabilidade.
Os trabalhos domésticos prestados no dia a dia podem ser d) Adilson sofreu danos morais distintos: um causado por
mensurados economicamente, gerando reflexos Tomás e outro por Vinícius, devendo, portanto, receber
patrimoniais imediatos. Na hipótese, releva ainda duas indenizações autônomas.
considerar que os recorrentes litigam sob o benefício da Comentários
assistência judiciária, indício de que a vítima pertencia à De acordo com o art. 186, do CC, aquele que, por ação ou
família de poucas posses, fato que só vem a reforçar a ideia omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar
do prejuízo causado com sua ausência para a economia do direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
lar. Isso porque, em se tratando de família de baixa renda, moral, comete ato ilícito. E em conformidade com o art.
a mantença do grupo é fruto da colaboração de todos, de 942, da lei civil, os bens do responsável pela ofensa ou
modo que o direito ao pensionamento não pode ficar violação do direito de outrem ficam sujeitos à reparação
restrito à prova objetiva da percepção de renda, na acepção do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um autor,
formal do termo. No caso vertente, a morte da vítima todos responderão solidariamente pela reparação. Sendo
causada pelo trágico acidente, a par de causar inestimável ainda solidariamente responsáveis com os autores os
perda de ordem emocional aos recorridos, pelo que coautores e as pessoas designadas no art. 932. Assim, no
representa a figura de esposa e mãe na estrutura de um lar, caso em tela ambos os coautores responderão
acarretou-lhes, também, prejuízo passível de valoração solidariamente pelo dano moral causado.
econômica, razão pela qual deve ser prestigiada a
conclusão assentada no aresto hostilizado, reconhecendo (FGV – 2015 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XVI
devida aos ora recorridos a pensão por danos materiais. A - Primeira Fase) Daniel, morador do Condomínio Raio
Turma, prosseguindo o julgamento, conheceu do recurso e de Luz, após consultar a convenção do condomínio e
lhe deu parcial provimento, apenas para limitar o constatar a permissão de animais de estimação,
pensionamento em favor do filho menor até aos 25 anos de realizou um sonho antigo e adquiriu um cachorro da
idade. REsp 402.443-MG, Rel. originário Min. Carlos raça Beagle. Ocorre que o animal, muito travesso,
Alberto Menezes Direito, Rel. para acórdão Min. Castro precisou dos serviços de um adestrador, pois estava
Filho, julgado em 2/10/2003.(Inf. 186). destruindo móveis e sapatos do dono. Assim, Daniel
contratou Cleber, adestrador renomado, para um
(FGV - Exame de Ordem 2016.3) Tomás e Vinícius pacote de seis meses de sessões. Findo o período do
trabalham em uma empresa de assistência técnica de treinamento, Daniel, satisfeito com o resultado,
informática. Após diversas reclamações de seu chefe, resolve levar o cachorro para se exercitar na área de
Adilson, os dois funcionários decidem se vingar dele, lazer do condomínio e, encontrando-a vazia, solta a
criando um perfil falso em seu nome, em uma rede coleira e a guia para que o Beagle possa correr
social. Tomás cria o referido perfil, inserindo no livremente. Minutos depois, a moradora Diana, com
sistema os dados pessoais, fotografias e informações 80 (oitenta) anos de idade, chega à área de lazer com
diversas sobre Adilson. Vinícius, a seu turno, alimenta seu neto Theo. Ao percebe presença da octogenária,
o perfil durante duas semanas com postagens o cachorro pula em suas pernas, Diana perde o
ofensivas, até que os dois são descobertos por um equilíbrio, cai e fratura o fêmur. Diana pretende ser
terceiro colega, que os denuncia ao chefe. Ofendido, indenizada pelos danos materiais e compensada
Adilson ajuíza ação indenizatória por danos morais em pelos danos estéticos. Com base no caso narrado,
face de Tomás e Vinícius. assinale a opção correta.

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a)Há responsabilidade civil valorada pelo critério disciplinam a responsabilidade civil, assinale a
subjetivo e solidária de Daniel e Cleber, aquele por culpa afirmativa correta.
na vigilância do animal e este por imperícia no a)Cada um arcará com seu próprio prejuízo, visto que a
adestramento do Beagle, pelo fato de não evitarem que o responsabilidade pelos danos causados deve ser repartida
cachorro avançasse em terceiros. entre todos os envolvidos.
*b)Há responsabilidade civil valorada pelo critério b)Caberá a Tatiana indenizar os prejuízos causados ao
objetivo e extracontratual de Daniel, havendo obrigação de veículo de Sandro, e este deverá indenizar os prejuízos
indenizar e compensar os danos causados, haja vista a causados ao veículo de Ricardo.
ausência de prova de alguma das causas legais excludentes *c)Caberá a Tatiana indenizar os prejuízos causados aos
do nexo causal, quais sejam, força maior ou culpa veículos de Sandro e Ricardo.
exclusiva da vítima. d)Tatiana e Sandro têm o dever de indenizar Ricardo, na
c)Não há responsabilidade civil de Daniel valorada pelo medida de sua culpa.
critério subjetivo, em razão da ocorrência de força maior,
isto é, da chegada inesperada da moradora Diana, Comentários
caracterizando a inevitabilidade do ocorrido, com
rompimento do nexo de causalidade.. Correta a alternativa de letra C, de acordo com o disposto
d)Há responsabilidade valorada pelo critério subjetivo e no art. 927, da lei civil: “Aquele que, por ato ilícito (arts.
contratual apenas de Daniel em relação aos danos sofridos 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-
por Diana; subjetiva, em razão da evidente culpa na lo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano,
custódia do animal; e contratual, por serem ambos independentemente de culpa, nos casos especificados em
moradores do Condomínio Raio de Luz. lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo
autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
Comentários direitos de outrem.”

O dono do animal responderá de objetivamente, ou


seja, independe de culpa pelos danos causados pelo seu
animal. Não se trata de culpa contratual, pois a norma (FGV - 2014 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XIII
violada não foi um contrato. Na questão houve a infração - Primeira Fase) Felipe, atrasado para um
de um dever geral de conduta imposto pela lei (art. 186, compromisso profissional, guia seu veículo particular
CC). Trata-se de culpa extracontratual ou aquiliana. Não de passeio acima da velocidade permitida e, falando ao
se podendo responsabilizar o adestrador pelo fato, pois não celular, desatento, não observa a sinalização de
restou comprovada a sua culpa no evento. Por fim, não trânsito para redução da velocidade em razão da
houve prova das excludentes de culpabilidade como culpa proximidade da creche Arca de Noé. Pedro,
da vítima ou força maior. Neste sentido é o que determina divorciado, pai de Júlia e Bruno, com cinco e sete anos
o art. 936, CC: “O dono, ou detentor,do animal ressarcirá de idade respectivamente, alunos da creche,
o dano por este causado, se não provar culpa da vítima ou atravessava a faixa de pedestres para buscar os filhos,
força maior.” A questão tem por assertiva correta a letra B. quando é atropelado pelo carro de Felipe. Pedro fica
gravemente ferido e vem a falecer, em decorrência das
lesões, um mês depois. Maria, mãe de Júlia e Bruno,
agora privados do sustento antes pago pelo genitor
(FGV – 2014- OAB - Exame de Ordem Unificado - XV) falecido, ajuíza demanda reparatória em face de
Devido à indicação de luz vermelha do sinal de Felipe, que está sendo processado no âmbito criminal
trânsito, Ricardo parou seu veículo pouco antes da por homicídio culposo no trânsito.
faixa de pedestres. Sandro, que vinha logo atrás de Com base no caso em questão, assinale a opção correta.
Ricardo, também parou, guardando razoável *a) Felipe indenizará as despesas comprovadamente
distância entre eles. Entretanto, Tatiana, que gastas com o mês de internação para tratamento de Pedro,
trafegava na mesma faixa de rolamento, mais atrás, alimentos indenizatórios a Júlia e Bruno tendo em conta a
distraiu-se ao redigir mensagem no celular enquanto duração provável da vida do genitor, sem excluir outras
conduzia seu veículo, vindo a colidir com o veículo reparações, a exemplo das despesas com sepultamento e
de Sandro, o qual, em seguida, atingiu o carro de luto da família.
Ricardo. Diante disso, à luz das normas que b) Felipe deverá indenizar as despesas efetuadas com a
tentativa de restabelecimento da saúde de Pedro, sendo

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incabível a pretensão de alimentos para seus filhos, diante fé é injusta, no entanto, o possuidor não entende do seu
de ausência de previsão legal. vício.
c) Felipe fora absolvido por falta de provas do delito de
trânsito na esfera criminal e, como a responsabilidade civil 1.3. Aquisição (arts. 1.204 a 1.209, CC)
e a criminal não são independentes, essa sentença fará
coisa julgada no cível, inviabilizando a pretensão É adquirida quando se torna possível exercer em
reparatória proposta por Maria. nome próprio os poderes de proprietário. Assim, adquire-
d) Felipe, como a legislação civil prevê em caso de se a posse de um bem com a tradição. São três tipos de
homicídio, deve arcar com as despesas do tratamento da tradição: real, simbólica ou ficta. A real quando se entrega
vítima, seu funeral, luto da família, bem como dos o próprio bem. Simbólica ocorre quando não se entrega o
alimentos aos dependentes enquanto viverem, excluindo- bem, e sim um símbolo que o representa. Ficta ocorre
se quaisquer outras reparações. quando a tradição se dá por ficção jurídica, podendo ser de
duas naturezas: constituto possessório e traditio brevi
Comentários: manu. A posse pode ser adquirida pelo próprio possuidor
A assertiva correta é a letra A e tem por base legal o ou por um terceiro.
dispositivo art. 948 e incisos da lei civil prevendo que no A aquisição da posse pode ser originária ou derivada. A
caso de homicídio, a indenização consiste, sem excluir originária acontece quando não existir um vínculo jurídico
com o possuidor anterior e derivada se houver vínculo
outras reparações: no pagamento das despesas com o
jurídico com o possuidor anterior.
tratamento da vítima, seu funeral e o luto da família; na
prestação de alimentos às pessoas a quem o morto os 1.4. Perda (arts. 1.223 e 1.224, CC)
devia, levando-se em conta a duração provável da vida da
vítima. A perda da posse se dará sempre que o possuidor
perder o poder sobre o bem, ficando impossibilitado de
DIREITOS REAIS exercer qualquer atributo relativo ao domínio. Só haverá
perda posse se o titular tiver ciência do esbulho. Assim, se
1.POSSE tendo conhecimento não toma as medidas cabíveis para a
sua proteção ou reintegração ou é repelido violentamente
1.1. Conceito na tentativa de recuperação, esta se consolidará com o
possuidor.
De acordo com o art. 1.196, CC, ter a posse de um
bem é possuir o exercício de algum dos poderes inerentes 1.5. Efeitos da posse
à propriedade.
Estão previstos quatro efeitos da posse: proteção
1.2. Classificação (arts. 1.196 a 1.203, CC): possessória, posse e frutos, posse e benfeitorias, e posse e
responsabilidade pela perda ou deterioração do bem.
a) direta e indireta - É possível a alguém possuir a posse
de um bem sem com ele ter contato físico: é o que ocorre - Defesa da posse: Há dois tipos de defesa da posse:
na posse indireta. Haverá posse direta e indireta quando se autotutela e heterotutela. Autotutela ocorre quando a
desmembrar pessoa defende sua posse com suas próprias forças. Na
os poderes de proprietário, quer dizer, sempre que a pessoa heterotutela um terceiro defende a posse de outrem, ou
cede temporariamente melhor, a defesa é feita pelo Estado, todavia, este por ser
a alguém um ou alguns de seus poderes de proprietário. inerte, precisa ser provocado, o que é feito por meio do
b) justa e injusta - justa é aquela legítima ou legal; e ajuizamento das ações possessórias.
injusta é a ilegítima ou ilegal. A posse é injusta quando for OBS: Difere-se a ação reivindicatória da ação possessória.
violenta, clandestina ou precária. Posse violenta é aquela Ação reivindicatória é aquela que o proprietário tem para
que foi adquirida violentamente, posse clandestina é reclamar o que é seu (discute-se propriedade), enquanto a
aquela que foi adquirida às escondidas e posse precária é possessória é para o possuidor reclamar sua posse agredida
aquela que decorre de um negócio jurídico condicionado a (discute-se posse). Está última poderá ser
uma devolução futura, tornando-se precária após a recusa instrumentalizada em caso de: esbulho, turbação e ameaça.
da devolução, quando a posse justa torna-se injusta. São, três as ações possessórias:
c) boa-fé e de má-fé - Posse de má-fé é aquela que tem
um vício e o possuidor sabe ser injusta, enquanto a de boa-
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a) ação de reintegração de posse: cabe diante de esbulho, (art. 1.248, CC), usucapião (extraordinária, Art. 1.238,
pois a pessoa foi retirada do bem e pede para na posse ser CC; ordinária, Art. 1.242, CC; especial rural ou pro
reintegrada. labore, arts. 1.239, CC e 191, CF; especial urbana ou pro
b) ação de manutenção de posse: admite-se diante de misero, arts. 1.240, CC, 193, CF e 9°, Lei n. 10.257/01;
turbação, pois a pessoa está sendo molestada no exercício por abandono de lar conjugal, art. 1.240-A, CC; e coletiva,
da posse e solicita para nela ser mantida, fazendo cessar os art. 10, Lei n. 10.257/01) e herança(art. 1.784, CC).
atos de agressão.
c) ação de interdito proibitório: realiza-se diante de 2.4.2.Perda (art. 1.275 e ss., CC)
ameaça, cujo pedido é para o juiz fixar uma multa
suficientemente alta, tentando impedir a sua Perde-se a propriedade: por alienação; pela
concretização. renúncia; por abandono; por perecimento da coisa; por
desapropriação.
- Composse: quando houver mais de um possuidor ao
mesmo tempo de um bem. Posse direta e indireta não e 2.5. PROPRIEDADE MÓVEL
caso de composse, pois devem ser posses de mesma
natureza, tal como mais de um inquilino ou mais de um 2.5.1.Aquisição
proprietário alugando seu imóvel. Desde que os
compossuidores tenham posse, todos podem exercê-la, Podem ser adquiridas por : -usucapião (ordinária,
contanto que não excluam os demais (art. 1.199, CC). art. 1.260, CC e extraordinária, art. 1.261, CC); ocupação
(art. 1.263, CC); achado de tesouro (art. 1.264, CC);
2. PROPRIEDADE tradição (art. 1.267, CC); venda a non domino (art. 1.268,
CC); direito hereditário (art. 1.784, CC); especificação
2.1. Conceito (art. 1.269 a 1.271, CC); confusão, comistão e adjunção
A propriedade é o direito real em qual se apoiam (arts. 1.272 a 1.274, CC).
todos os demais direitos reais e por isso é o mais completo
e denso deles. O direito de propriedade é entendido através 2.5.2 Perda (art. 1.275 e ss., CC)
das características relativas ao uso, gozo e disposição do
bem. Liga-se ao seu titular, podendo ser reivindicada onde Perde-se a propriedade: por alienação; pela renúncia; por
e por quem injustamente a detenha ou possua.
abandono; por perecimento da coisa; por desapropriação.
2.2. A função social da propriedade 3. USUCAPIÃO
O direito de propriedade deve ser exercido em
consonância com as suas finalidades econômicas e sociais É modo de aquisição da propriedade e de outros
e de modo que sejam preservados o meio ambiente, o direitos reais pela posse prolongada da coisa com a
equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico. observância dos requisitos legais. É também chamada de
Prevalecem os valores ligados à solidariedade social. A prescrição aquisitiva. É modalidade de aquisição
função social pode ser da propriedade urbana (art. 182, originária, pois não existe vínculo entre o usucapiente e o
CF) e da propriedade rural (arts. 184 e 186, CF) antigo proprietário da coisa, ou seja, não existe o
fenômeno da transmissão. OBS: Os bens públicos não
2.3.Limitações impostas à propriedade: estão sujeitos a usucapião (art. 102, CC).
As limitações jurídicas estão previstas nos 4. DIREITOS DE VIZINHANÇA
parágrafos do art. 1.228, CC, consubstanciadas em
restrições ao poder de disposição do proprietário e até em São relações jurídicas que disciplinam a
situações que podem gerar a perda do seu direito de vizinhança, trata-se de uma concessão aos proprietários e
propriedade. possuidores de imóveis vizinhos. É uma relação propter
rem (obrigações sobre a coisa). Encontra-se disciplinado
2.4. PROPRIEDADE IMOBILIÁRIA nos arts. 1.277 a 1.313, CC.
2.4.1.Aquisição (arts. 1.238 a 1.259, CC)

São quatro as formas de aquisição da propriedade


de bem imóvel: registro (arts. 1.245 a 1.247, CC), acessão
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5. CONDOMÍNIO 6. PROPRIEDADE RESOLÚVEL (arts. 1.359 a 1.360,
CC)
5.1. Conceito
Caracteriza-se por trazer no próprio título
O direito de propriedade pertencer a mais de um constitutivo do direito de propriedade a causa de sua
titular, existirá o condomínio ou domínio comum de um extinção. A lei trata da propriedade resolúvel que vem a
bem. O princípio da exclusividade resta mantido, tendo em ser marcada com o estigma da destruição, de vez que
vista que caberá a cada condômino a fração ideal do todo, bastará o implemento de uma condição (evento futuro e
podendo usar da coisa conforme sua destinação, exercer incerto) ou advento de um termo (evento futuro e certo)
sobre ela todos os direitos compatíveis com a indivisão, resolutivo para que a propriedade se extinga.
reivindicá-la de terceiro, defender a sua posse e alhear a
respectiva parte ideal, ou gravá-la. Nenhum dos 7. PROPRIEDADE FIDUCIÁRIA (arts. 1.361 a 1.368-
condôminos poderá alterar a destinação da coisa comum, B, CC)
nem dar posse, uso ou gozo dela a estranhos, sem o
consenso dos outros. Trata-se de direito real de garantia, recaindo sobre
bem que passa a integrar o patrimônio do credor. Assim, é
5.2. Espécies: fiduciária a propriedade resolúvel de coisa móvel
infungível que o devedor, com escopo de garantia, transfere
Condomínio geral: ao credor. Necessário o seu registro para que possa ser
a) voluntário;
oponível erga omnes.
b) necessário ou forçado;
c) edilício ou em edificações. DIREITOS REAIS SOBRE COISA ALHEIA
Quanto à origem, podem ser: Fundamental para entendermos os direitos reais
a) convencional, advindo da vontade dos sobre coisas alheias é lembrar os chamados poderes
condôminos; inerentes à propriedade: uso, fruição ou gozo, disposição e
b) eventual, resultando da vontade de terceiros; sequela. A razão é simples: haverá direito real sobre coisas
c) legal ou necessário que é o imposto pela alheias quando houver um desmembramento dos poderes
lei. de proprietário, quer dizer, quando o proprietário ceder
para alguém um ou alguns de seus poderes, permanecendo
5.3. Classificação com os demais. Quem os recebe poderá ter um direito real
sobre algo que não lhe pertence, tal como o direito real de
• Quanto a forma, pode ser: usufruto, quando recebe os direitos de usar e fruir.
Também são chamados de direitos reais limitados, pois seu
a) pro diviso, onde cada coproprietário tem sua parte titular tem menos poderes do que o proprietário.
dividida; Assim sendo, haverá dois atores envolvidos nos
b) pro indiviso, não sendo passível de divisão; direitos reais sobre coisas alheias. De um lado o
c) transitório, sendo extinto a qualquer tempo pela proprietário, que não tem mais a propriedade plena, por ter
vontade de qualquer condômino; e cedido um ou alguns de seus poderes. Passa a ser chamado
d) permanente, perdurando enquanto persistir a de nu proprietário, pois despido de um ou alguns de seus
situação que o determinou. poderes, e a propriedade não plena é chamada de nua
propriedade. De outro lado, o titular do direito real sobre
• E em relação ao objeto, pode ser: coisas alheias, cujo nome varia a depender do direito real
sobre coisas alheias em questão.
a) universal, abrangendo todos os bens; Nos termos do artigo 1.225 da Lei Civil, são os
ou, direitos reais sobre coisas alheias: superfície, servidão,
b) singular, incidindo sobre coisa usufruto, uso, habitação, direito do promitente comprador
determinada. de imóveis, hipoteca, penhor, anticrese, concessão de uso
especial para fins de moradia e concessão de direito real
de uso.

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1. DIREITOS REAIS DE FRUIÇÃO Nasce a partir do registro do contrato de servidão,
no qual os contratantes chegam a um acordo acerca de uma
1.1. SUPERFÍCIE (arts. 1.369 a 1.377, CC) vantagem que o prédio dominante terá sobre o prédio
serviente. O proprietário do prédio serviente pode aliená-
É o direito real em que o proprietário cede por lo, no entanto o adquirente deverá suportar o ônus real.
tempo determinado a alguém o direito de construir ou Como nasce com o registro, não poderá alegar
plantar em seu terreno. O nu proprietário é chamado de desconhecimento do fato, pois o registro confere
fundeiro e o titular do direito real de superfície é chamado publicidade. O dono do prédio dominante também poderá
de superficiário. Como exemplo, temos o direito real de aliená-lo, caso em que o adquirente desfrutará da
superfície por vários anos para construção de um hotel. vantagem do prédio serviente.
Durante alguns anos o superficiário compensa seu Não é temporário, só chegando a termo nas hipóteses
investimento, lucrando os ganhos dos demais anos. previstas em lei, casos que estão arrolados no artigo 1.388,
O superficiário só pode usar a superfície, não do CC: se o dono do prédio dominante renunciar, se o dono
podendo explorar o subsolo, usando este apenas o no que
do prédio serviente resgatar a servidão (recomprá-la) ou se
for indispensável para a construção ou plantação, como o
subsolo necessário para base da construção. cessar a utilidade para o prédio dominante que determinou
A temporalidade é obrigatória, tendo em vista que a constituição da servidão. A eles acrescento o caso do
o superficiário devolve o terreno ao fundeiro ao final do dono do um prédio dominante se tornar dono do prédio
prazo contratado. Pode ser gratuito ou oneroso, se há ou serviente, pois só há servidão com prédio de donos
não um valor a ser pago pela exploração do terreno, distintos. Se não acontecer qualquer dos casos aí previstos,
pagamento que recebe o nome de cânon superficiário. assumirá a servidão o caráter da perpetuidade.
Mesmo sendo gratuito é vantajoso para o fundeiro, pois
este retoma o seu terreno ao final, adquirindo, por acessão, 1.3. USUFRUTO (arts. 1.390 a 1.411, CC)
a propriedade da construção ou plantação.
É adquirido através do registro do contrato de O nu proprietário cede ao usufrutuário
superfície. Possibilitando ao fundeiro vender o terreno a temporariamente o direito de usar e fruir de seu bem,
terceiros, afinal ele permanece com o poder de disposição, permanecendo com os poderes de disposição e sequela.
contudo o comprador terá que respeitar o direito real de Assim, o usufrutuário pode não só morar no apartamento,
superfície pelo restante do prazo acordado. Com o registro, mas também alugá-lo. Embora seja mais comum recair
não poderá o adquirente alegar ignorância do fato, pois o sobre bem imóvel, pode ter por objeto também bem móvel.
registro dá publicidade ao ônus real. Do mesmo modo, o São duas as principais características do usufruto:
superficiário pode alienar o direito real de superfície a um
terceiro. Se o nu proprietário alienar a nua propriedade ou a) Temporário: não pode haver usufruto eterno, tendo o
se o superficiário alienar o direito de superfície, deverá dar usufrutuário o dever de devolver o bem ao final do prazo.
direito de preferência ao outro. Pode ser por prazo indeterminado, como o usufruto
vitalício, pois não sei quando a pessoa morre, todavia é
1.2. SERVIDÃO (arts.1.378 a 1.389, CC) temporário, pois é certa a morte da pessoa natural. Como
não é certa a morte da pessoa jurídica, até pode haver
Na servidão há um prédio (chamado de serviente) concessão de usufruto para pessoa jurídica, entretanto a lei
servindo a outro prédio (chamado de dominante). Aqui limita com prazo máximo de trinta anos.
prédio é sinônimo de imóvel, direito real de servidão, b) Intransmissível: o direito de usufruto é personalíssimo,
portanto, é o direito pelo qual o proprietário do prédio ou seja, o usufrutuário não pode cedê-lo (inter vivos ou
dominante desfruta de alguma vantagem sobre o prédio causa mortis). A consequência da intransmissibilidade é a
serviente. morte do usufrutuário gerar extinção do usufruto.
Não há na lei uma lista de vantagens que podem
ser desfrutadas, pois nasce de um contrato, que representa Atenção! A morte do nu proprietário não acarreta a
um acordo de vontade das partes. Porém, há tipos mais extinção do usufruto, pois ele pode ceder a nua
comuns, podendo ser citados: servidão de pasto (pastagem propriedade em razão de permanecer com o poder de
para animais), servidão de cacimba (busca de água em disposição do bem, sendo os herdeiros o nu proprietário.
poço), servidão de passagem (direito de passar no terreno
alheio), servidão de aqueduto (passar aquedutos no prédio Sobre a intransmissibilidade, cuidado com o artigo
serviente), servidão de vista (não haver construção acima 1.393 da Norma Civilista, que dispõe ser o usufruto
de certa altura para não tirar a vista do prédio dominante).
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intransmissível, contudo prevê que o seu exercício pode é apenas residir com a família gratuitamente. Assim, no
ser transmitido a terceiros. Assim, o usufrutuário não pode direito real de habitação, não pode este ser oneroso, nem o
ceder o direito real de usufruto, porém pode ceder os imóvel ser usado para outro fim, tal como a utilização
direitos que decorrem do usufruto, isto é, o direito de usar comercial de parte dele ou aluguel de um dos quartos.
e de fruir do bem, afinal, pensando no usufruto de um
apartamento, o usufrutuário pode alugá-lo (ceder o uso) e 1.5. CONCESSÃO DE USO ESPECIAL PARA FINS
até, se houver permissão contratual, alugá-lo com direito DE MORADIA E CONCESSÃO DE DIREITO REAL
de sublocação (ceder a fruição). DE USO (Lei n. 11.481/07)
O direito real de usufruto surge a partir de um
contrato em que as partes acordam na cessão do uso e da A Lei n. 11.481/07, uma lei de direito
fruição do bem, mas só há direito real de usufruto com a administrativo, trata da possibilidade do Poder Público
prática de ato posterior: se usufruto de imóvel, com o ceder a particulares o direito de usar ou habitar bens
registro desse contrato no cartório de imóveis; se usufruto públicos. Para que essas pessoas tenham um direito com
de bem móvel, com a tradição do bem. No entanto, o força de direito real, a referida lei administrativa criou dois
usufruto pode decorrer de lei, sendo chamado de usufruto novos direitos reais em 2007. Criou a concessão de direito
legal, adquirido independente de registro ou tradição. Em real de uso para o particular usar bem público e a
conformidade com o artigo 1.689 do Diploma Civil, os concessão de uso especial para fins de moradia para o
pais têm a administração e o usufruto legal dos bens dos particular habitar bens públicos, conforme regras de
filhos menores durante o poder familiar. direito administrativo. Assim sendo, quando falamos em
Há duas categorias específicas de usufruto: direito real de uso e de habitação, estamos falando do
particular contratando com outro particular o uso ou
a)Deducto ou retenção: é quando o proprietário transfere habitação de bem particular, diferente da concessão de
a propriedade do bem, reservando para si o usufruto. É o direito real de uso e de uso especial para fins de moradia,
inverso do normal, pois em vez do dono ceder o usufruto que trata do particular usando ou habitando bem público.
do que é seu, ele transfere a propriedade e retém o usufruto
do bem. 1.6. DIREITO REAL DO PROMITENTE
b) Impróprio ou quase usufruto: é o usufruto que recai COMPRADOR DE IMÓVEL (arts. 1.417 e 1.418, CC)
sobre bens consumíveis e fungíveis. Em tese, não poderia
haver usufruto de bem consumível, pois o usufrutuário Existem duas formas para a compra de um imóvel:
a primeira consiste na celebração de um contrato de
pode usar o bem, todavia deve devolvê-lo no fim do prazo,
compra e venda, onde o comprador entrega o dinheiro e o
o que com ele seria incompatível, pois o uso gera sua vendedor entrega a escritura pública assinada, cujo
destruição imediata. Entretanto a lei afirma ser possível registro faz nascer o direito real de propriedade. Caso não
usufruto de bem consumível, desde que também seja seja possível o pagamento à vista, uma segunda forma é
fungível, pois será possível devolver outro idêntico no fim celebrar um contrato de promessa de compra e venda.
do prazo, não sendo verdadeiro usufruto. Trata-se de um pré-contrato, ou melhor, um contrato onde
se assume a obrigação de celebrar no futuro o contrato
1.4. USO E HABITAÇÃO (arts. 1.412 a 1.416, CC) definitivo, que aqui é o contrato de compra e venda de
imóvel. Muito comum na compra de apartamento de
O direito real de uso não permite ao usuário apenas prédio em construção, celebrando-se a promessa de
usar bem alheio, como o nome faz parecer, mas também compra e venda, para, após o pagamento de certo número
dele fruir. Não se confunde com usufruto, pois o fruir é de prestações mensais, haver a celebração do contrato de
limitado para atendimento das necessidades do usuário e compra e venda.
de sua família. Assim, pensando no uso de um imóvel, Durante o pagamento das prestações mensais, o
pode não só nele morar, e sim retirar frutos de árvores no promitente comprador não é dono, pois só adquire a
jardim, fazer um comércio junto com o residir ou até propriedade quando pagar a última prestação e, celebrando
alugar um dos quartos, se assim reclamar as necessidades o contrato de compra e venda, registrá-lo no cartório de
familiares. Para efeitos do fruir no direito real de uso, imóveis. Para que o promitente comprador tenha um
família tem sentido peculiar, compreendendo o cônjuge, direito real antes da celebração do contrato de compra e
os filhos solteiros e as pessoas do serviço doméstico. venda, quer dizer, durante o pagamento das prestações
Quando o uso consistir no habitar gratuitamente, mensais, a lei diz que o registro do contrato de promessa
haverá direito real de habitação. Se o direito real de uso é de compra e venda faz nascer o direito real de promitente
limitado, o direito real de habitação ainda mais o será, pois comprador de imóvel.
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Pode ser realizado por instrumento particular, Um bem hipotecado pode ser validamente vendido
mesmo sendo exigido que o contrato de compra e venda a um terceiro? Não só pode ser vendido, como a lei diz ser
seja por escritura pública, já que a promessa de compra e nula a cláusula que proíbe a venda (art. 1.475 do CC).
venda é um pré-contrato e, nos termos do artigo 462 do São suas espécies:
CC, o contrato preliminar ou pré-contrato, exceto quanto à a) Convencional: é o caso mais comum, ou melhor, a
forma, deve ter os mesmo do contrato definitivo. hipoteca que surge do acordo de vontade das partes, após
Com a sua celebração, o promitente comprador seu registro no cartório de registro de imóveis.
assume a obrigação de pagar as prestações mensais b) Legal: é a que decorre da lei, independendo da vontade
determinadas no contrato e o promitente vendedor assume das partes e de registro. Os casos estão previstos no artigo
a obrigação de entregar-lhe ao final a escritura pública 1.497 da Norma Civilista.
assinada para aquisição da propriedade com o registro. c) Judicial: é a fixada pelo juiz em processo judicial sobre
Caso o promitente vendedor não a entregue, o promitente bens imóveis do devedor sucumbente no processo, para
comprador poderá propor uma ação judicial chamada ação que o credor tenha uma garantia com força de direito real
de adjudicação compulsória para entrega forçada do bem, para recebimento do seu crédito.
pois a sentença de procedência vale como título para
registro no cartório de imóveis para aquisição da 2.2. PENHOR
propriedade.
O penhor tem por objeto bens móveis, cuja posse
2. DIREITOS REAIS DE GARANTIA se transfere ao credor, assegurando preferência no
recebimento de seus créditos. O credor garantido pelo
Seu titular não tem a prerrogativa de usar ou fruir penhor é chamado de credor pignoratício e o bem dado em
do bem, contudo, apenas de tê-lo como garantia de penhor é dito bem empenhado. A posse do bem
pagamento, ou seja, caso o credor não receba seu crédito, empenhado é transferida ao credor. Todavia, há importante
poderá executar o bem, tendo preferência no pagamento exceção. Penhor industrial, mercantil ou rural (agrícola ou
com os recursos obtidos com sua venda. São três os pecuário) é o penhor em que o empresário oferece em
direitos reais sobre coisas alheias de garantia: garantia pignoratícia os bens que integram o seu
estabelecimento. Estabelecimento é o conjunto de bens
2.1. HIPOTECA que o empresário organiza para exploração da empresa. Se
o empresário transferisse a posse do bem empenhado, não
É o direito real de garantia que tem por objeto bens teria como continuar a exploração da empresa, de onde
imóveis, navios ou aeronaves e que, embora não entregues aufere recursos para pagamento da dívida. Por essa razão,
ao credor, assegura preferência no recebimento de seus sendo penhor industrial, mercantil ou rural, há uma
créditos. Só pode hipotecar bem imóvel quem tem tradição ficta, quer dizer, por ficção jurídica, não havendo
legitimidade para vendê-lo, pois é o que irá acontecer se a entrega real do bem ao credor pignoratício.
dívida não for paga. Por isso que não só a venda de bem
imóvel, mas também hipotecá-lo, exige outorga uxória ou 2.2.1. Espécies:
material, salvo se casados no regime da separação de bens,
segundo prevê o artigo 1.647, I, da Lei Civil. a) Convencional: é o caso mais comum, isto é, o penhor
Em relação ao objeto da hipoteca, o bem de que surge do acordo de vontade das partes, após a tradição
família pode ser validamente hipotecado. Se a dívida não do bem empenhado e o registro do penhor no cartório de
é paga, o bem hipotecado é penhorado e vendido no registro de títulos e documentos.
processo de execução. O bem de família é impenhorável,
todavia o entendimento jurisprudencial é pela validade da b) Legal: é aquele que decorre da lei, independendo da
hipoteca de bem imóvel, representando renúncia da vontade das partes, tradição e registro. Nos termos do
impenhorabilidade. artigo 1.467 do Diploma Civil, é admitido em dois casos,
Pode o devedor dar o mesmo bem em garantia devendo ser homologado judicialmente, de acordo com a
hipotecária a mais de um credor, em conformidade com o ação judicial com procedimento previsto nos artigos 703 a
permissivo do artigo 1.476 do Código Civil. É o que 706 do CPC/15.
chamamos de sub-hipoteca ou hipoteca de segundo grau.
Se a venda do bem não gerar recursos suficientes para o
pagamento de todos os créditos, terá preferência no
recebimento não quem primeiro contraiu o empréstimo,
mas sim quem primeiro registrou a hipoteca.
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2.3. ANTICRESE Importante: essa disposição não se aplica às edificações
ou aos conjuntos de edificações, de um ou mais
A anticrese constitui-se quando se der bem imóvel pavimentos, construídos sob a forma de unidades isoladas
em garantia, para o credor retirar frutos até receber o que entre si, destinadas a fins residenciais ou não, nos termos
lhe era devido, previsto nos arts. 1.506 a 1.510 da lei civil. do Código Civil e da legislação específica de condomínios.
O credor anticrético pode administrar os bens
dados em anticrese e fruir seus frutos e utilidades, mas Os Municípios e o Distrito Federal poderão dispor
deverá apresentar anualmente balanço, exato e fiel, de sua sobre posturas edilícias e urbanísticas associadas ao direito
administração. Responderá pelas deteriorações que, por real de laje.
culpa sua, o imóvel vier a sofrer, e pelos frutos e
rendimentos que, por sua negligência, deixar de perceber. Questões Comentadas
Pode vindicar ainda os seus direitos contra o adquirente
dos bens, os credores quirografários e os hipotecários (FGV - Exame de Ordem 2017.1) George vende para
posteriores ao registro da anticrese. Marília um terreno não edificado de sua propriedade,
O adquirente dos bens dados em anticrese poderá enfatizando a existência de uma "vista eterna para a
remi-los, antes do vencimento da dívida, pagando a sua praia" que se encontra muito próxima do imóvel,
totalidade à data do pedido de remição e imitir-se-á, se for mesmo sem qualquer documento comprovando o fato.
Marília adquire o bem, mas, dez anos após a compra, é
o caso, na sua posse.
surpreendida com a construção de um edifício de vinte
andares exatamente entre o seu terreno e o mar,
3. DIREITO REAL DE LAJE
impossibilitando totalmente a vista que George havia
A MP n. 759/ 2016, inseriu o inc. XIII no art. 1.225 prometido ser eterna.
do Código Civil, dispondo acerca do direito real de laje. Diante do exposto e considerando que a construção do
Foi ainda criado o Título XI, cujo Capítulo Único, com edifício ocorreu em um terreno de terceiro, assinale a
inclusão de novo art. 1.510-A. Consiste na possibilidade afirmativa correta.
de coexistência de unidades imobiliárias autônomas de a) Uma vez transcorrido o prazo de 10 anos, Marília pode
titularidades distintas situadas em uma mesma área, de pleitear o reconhecimento da usucapião da servidão de
maneira a permitir que o proprietário ceda a superfície de vista.
sua construção a fim de que terceiro edifique unidade b) Mesmo sem registro, Marília pode ser considerada
distinta daquela originalmente construída sobre o solo. titular de uma servidão de vista por destinação de George,
Somente se aplica quando se constatar a o antigo proprietário do terreno.
impossibilidade de individualização de lotes, a c) Mesmo sendo uma servidão aparente, as circunstâncias
sobreposição ou a solidariedade de edificações ou terrenos do caso não permitem a usucapião de vista.
e contempla o espaço aéreo o subsolo de terrenos públicos *d) Sem que tenha sido formalmente constituída, não
ou privados, tomados em projeção vertical, como unidade é possível reconhecer servidão de vista em favor de
imobiliária autônoma, não contemplando as demais áreas Marília.
edificadas ou não pertencentes ao proprietário do imóvel Comentário:
original. Como é cediço nos direitos reais sobre coisa alheia,
São consideradas como unidades imobiliárias também é necessário que a servidão seja registrada no
autônomas aquelas que possuam isolamento funcional e cartório imobiliário, de acordo com os arts. 1.378 e 1.379
acesso independente, qualquer que seja o seu uso, devendo do CC:
ser aberta matrícula própria para cada uma das referidas
unidades. Seu titular responderá pelos encargos e tributos “Art. 1.378. A servidão proporciona utilidade para o
que incidirem sobre a sua unidade. prédio dominante, e grava o prédio serviente, que pertence
As unidades autônomas constituídas em matrícula a diverso dono, e constitui-se mediante declaração
própria poderão ser alienadas e gravadas livremente por expressa dos proprietários, ou por testamento, e
seus titulares, não podendo o adquirente instituir subsequente registro no Cartório de Registro de Imóveis.
sobrelevações sucessivas, observadas as posturas previstas
em legislação local. Art. 1.379. O exercício incontestado e contínuo de uma
A instituição do direito real de laje não implica servidão aparente, por dez anos, nos termos do art. 1.242,
atribuição de fração ideal de terreno ao beneficiário ou autoriza o interessado a registrá-la em seu nome no
participação proporcional em áreas já edificadas. Registro de Imóveis, valendo-lhe como título a sentença
que julgar consumado a usucapião. Parágrafo único. Se o
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possuidor não tiver título, o prazo da usucapião será de d)Mélvio é possuidor de má-fé, fazendo jus ao direito de
vinte anos.” (grifos nossos) retenção por benfeitorias e devendo ser indenizado pelo
valor atual delas.
Cumpre mencionar que de acordo com o Enunciado n. Comentários
251, III Jornada de Direito Civil: ”O prazo máximo para o
usucapião extraordinário de servidões deve ser de 15 anos, A questão tem por gabarito a assertiva A. Mévio é
em conformidade com o sistema geral de usucapião possuidor de má-fé posto que adquiriu a posse por meios
previsto no Código Civil.” violentos. Desta forma, não assiste direito de retenção
pelas benfeitorias. Cabendo apenas o direito de se ver
Ainda, de acordo com a classificação quanto à forma de indenizado pelas benfeitorias necessárias. Todavia, estas
exteriorização da servidão, elas podem ser aparentes ou já se achavam deterioradas, não cabendo desta forma
não aparentes. As primeiras são aquelas concretas e direito à indenização. Dispõem os arts. 1.220 e 1.221, da
evidentes, p. ex., a servidão de passagem. Já as segundas, lei civil:
são aquelas que não se mostram evidentes, como, é o caso
da servidão de vista. Assim, a servidão de vista não poderá “Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas
ser objeto de usucapião, pois é não aparente, incorretas, somente as benfeitorias necessárias; não lhe assiste o
portanto, as alternativas de letras A e C. No caso em tela, direito de retenção pela importância destas, nem o de
não há registro da servidão, assim Marília não poderá ser levantar as voluptuárias.
considerada titular de uma servidão de vista por destinação
de George, a teor do art. 1.379 do CC, desta forma, está Art. 1.221. As benfeitorias compensam-se com os danos,
errada a assertiva de letra B e correta a letra D. e só obrigam ao ressarcimento se ao tempo da evicção
ainda existirem.”
(FGV – 2015 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XVI
- Primeira Fase) Mediante o emprego de violência, (FGV – 2014 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XV)
Mélvio esbulhou a posse da Fazenda Vila Feliz. A Com a ajuda de homens armados, Francisco invade
vítima do esbulho, Cassandra, ajuizou ação de determinada fazenda e expulsa dali os funcionários
reintegração de posse em face de Mélvio após um de Gabriel, dono da propriedade. Uma vez na posse
ano e meio, o que impediu a concessão de medida do imóvel, Francisco decide dar continuidade às
liminar em seu favor. Passados dois anos desde a atividades agrícolas que vinham sendo ali
invasão, Mélvio teve que trocar o telhado da casa desenvolvidas (plantio de soja e de feijão). Três anos
situada na fazenda, pois estava danificado. Passados após a invasão, Gabriel consegue, pela via judicial,
cinco anos desde a referida obra, a ação de ser reintegrado na posse da fazenda. Quanto aos
reintegração de posse transitou em julgado e, na frutos colhidos por Francisco durante o período em
ocasião, o telhado colocado por Mélvio já se que permaneceu na posse da fazenda, assinale a
encontrava severamente danificado. Diante de sua afirmativa correta.
derrota, Mélvio argumentou que faria jus ao direito *a)Francisco deve restituir a Gabriel todos os frutos
de retenção pelas benfeitorias erigidas, exigindo que colhidos e percebidos, mas tem direito de ser ressarcido
Cassandra o reembolsasse. A respeito do pleito de pelas despesas de produção e custeio.
Mélvio, assinale a afirmativa correta. b)Francisco tem direito aos frutos percebidos durante o
*a)Mélvio não faz jus ao direito de retenção por período em que permaneceu na fazenda
benfeitorias, pois sua posse é de má-fé e as benfeitorias, c)Francisco tem direito à metade dos frutos colhidos,
ainda que necessárias, não devem ser indenizadas, porque devendo restituir a outra metade a Gabriel.
não mais existiam quando a ação de reintegração de posse d)Francisco deve restituir a Gabriel todos os frutos
transitou em julgado. colhidos e percebidos, e não tem direito de ser ressarcido
b)Mélvio é possuidor de boa-fé, fazendo jus ao direito de pelas despesas de produção e custeio
retenção por benfeitorias e devendo ser indenizado por Comentários
Cassandra com base no valor delas. A questão tem por gabarito a letra A e tem por base legal
c)Mélvio é possuidor de má-fé, não fazendo jus ao direito o art. 1.216, da lei civil, dispondo que: “O possuidor de
de retenção por benfeitorias, mas deve ser indenizado por
má-fé responde por todos os frutos colhidos e percebidos,
Cassandra com base no valor delas.
bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber,
desde o momento em que se constituiu de má-fé; tem
direito às despesas da produção e custeio.
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DIREITO CIVIL
Professor Cristiano Sobral



(FGV - 2014 - OAB - Exame de Ordem Unificado - XIII
- Primeira Fase) Jeremias e Antônio moram cada um
em uma margem do rio Tatuapé. Com o passar do
tempo, as chuvas, as estiagens e a erosão do rio
alteraram a área da propriedade de cada um. Dessa
forma, Jeremias começou a se questionar sobre o
tamanho atual de sua propriedade (se houve
aquisição/diminuição), o que deixou Antônio
enfurecido, pois nada havia feito para prejudicar
Jeremias. Ao mesmo tempo, Antônio também começou
a notar diferenças em seu terreno na margem do rio.
Ambos questionam se não deveriam receber alguma
indenização do outro.
Sobre a situação apresentada, assinale a afirmativa
correta.

*a) Trata-se de aquisição por aluvião, uma vez que


corresponde a acréscimos trazidos pelo rio de forma
sucessiva e imperceptível, não gerando indenização a
ninguém.
b) Se for formada uma ilha no meio do rio Tatuapé,
pertencerá ao proprietário do terreno de onde aquela
porção de terra se deslocou.
c) Trata-se de aquisição por avulsão e cada proprietário
adquirirá a terra trazida pelo rio mediante indenização do
outro ou, se ninguém tiver reclamado, após o período de
um ano.
d) Se o rio Tatuapé secar, adquirirá a propriedade da terra
aquele que primeiro a tornar produtiva de alguma maneira,
seja como moradia ou como área de trabalho.
Comentários:
A questão tem por gabarito a letra A, e tem como base
legal o art. 1.250, da lei civil dispondo que: “os acréscimos
formados, sucessiva e imperceptivelmente, por depósitos
e aterros naturais ao longo das margens das correntes, ou
pelo desvio das águas destas, pertencem aos donos dos
terrenos marginais, sem indenização.”

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