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I – Anotações
1) Obrigação de dar
Entrega da coisa:
A) Coisa Certa: está devidamente individualizada.
Ex.: o carro da marca Audi, modelo A5, da cor branca, ano 2018, placa..., chassi...
B) Coisa Incerta: Não está devidamente individualizada, mês deve ser indicada, ao menos,
quanto ao gênero e quantidade.
Ex.: Entregar dois touros da raça Nelore, de meu plantel que possui 500 touros.
Art. 313 – O credor não é obrigado a receber prestação diversa da devida, ainda que mais
valiosa.
Dica: essa regra é conhecida por princípio do “aliud pro alio” – “nemo aliud pro alio
invito creditore solvere potest”
Resp. 1.194.264/PR – O credor não era obrigado a receber depósito em numerário
(dinheiro – coisa diversa da devida) estimado exclusivamente pelo devedor, quando
este se obrigou a entregar sacas de soja (coisa devida)
Art. 233. A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela embora não
mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso.
Princípio da gravitação jurídica: “O acessório segue sempre o principal”
Existem exceções: “...salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do
caso”.
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Exemplo de exceção ao princípio da gravitação jurídica se encontra no caso das
pertenças:
- Pertenças: são bens acessórios que, não constituem parte integrante da coisa, mas
se destinam, de modo duradouro, ao seu uso, serviço ou aformoseamento (art. 93).
Ex.: ar-condicionado na residência
Art. 94. Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as
pertenças, salvo se o contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das
circunstâncias do caso.
Dica- No REsp 1.305.183/SP o STJ decide que pertenças, em regra não seguem o
principal, em um caso em que um veículo financiado pelo banco em regime de alienação
fiduciária, foi adaptado para uso de uma pessoa com deficiência com mobilidade
reduzida. Com o inadimplemento obrigacional, o banco retomou o automóvel e o levou
a leilão com os equipamentos de adaptação para condução veicular da pessoa com
deficiência (que tinham valor considerável). Mas o devedor conseguiu promover a
retirada desses equipamentos, sob o argumento que se tratam de pertenças.
Dica: existe também a obrigação de restituir a coisa certa – o devedor tem o dever
de devolver a coisa que não lhe pertence. Ex.: locação de um automóvel. O que acontece
se o automóvel se perder por culpa do devedor ou sem a culpa do devedor?
Restituir a Coisa Certa Sem culpa do devedor Com culpa do devedor
Perda – perda total Fica resolvida a obrigação para Responde o devedor pelo
*Lembre-se que é uma ambas as partes, com a coisa equivalente
obrigação de devolver perecendo para o seu dono – o + Perdas e Danos
a coisa que pertence credor deve sofrer a perda do
ao credor bem (res perit domino)
Deterioração – perda Deve o credor receber a coisa Pode o credor exigir o equiva-
parcial no estado em que se encontra lente + Perdas e Danos
*Lembre-se que é uma OU
obrigação de devolver aceitar a coisa no estado em
a coisa que pertence que se encontra + Perdas e
ao credor Danos
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Princípio da equivalência das prestações: o devedor não será obrigado a entregar
apenas as coisas de melhor qualidade, mas também não poderá entregar somente as
piores (art. 244, 2ª parte) – Veda-se o enriquecimento sem causa previsto nos arts.
884 a 886 do Código Civil.
*Com a escolha ocorre a chamada CONCENTRAÇÃO da obrigação: deixa de ser
obrigação para entrega de coisa INCERTA e passa a ser obrigação para entrega
de coisa CERTA.
Art. 246: Até a escolha, não pode o devedor alegar perda ou deterioração da
coisa, ainda que por caso fortuito ou força maior – Princípio do “Genus Nunquam
Perit” (O gênero nunca perece): não cabe alegar perda ou deterioração da coisa
incerta
Dica: existe a tese de que o gênero pode perecer em situações
excepcionais, quando se tratar de um gênero limitado (Flávio Tartuce,
Flávio Monteiro de Barros) – Obrigação de “quase gênero”: Se a
obrigação for de gênero limitado e ocorrer o perecimento de as coisas
que pertencem a esse gênero, resolve-se a obrigação, como nos casos
da coisa certa.
Ex.: Entregar 20 garrafas do vinho chileno “x” da safra 1970. Contudo,
ocorre um terremoto no Chile e se perdem todas as garrafas desse
vinho, da safra de 1970. Como o gênero é limitado e não existe mais,
resolve-se a obrigação.
2) Obrigação de fazer – Positiva – A prestação consiste no cumprimento de uma tarefa
a) Obrigação de fazer fungível: pode ser cumprida pelo devedor ou por um terceiro
(não-personalíssima). Ex.: José foi contratado para pintar o muro da minha casa.
Se ele não for, poderei chamar o Antônio ou a Maria ou o Sebastião;
b) Obrigação de fazer infungível: só pode ser cumprida pelo devedor
(personalíssima). Ex.: Contrato o Pelé como garoto-propaganda da minha
marca. Nem mesmo que apreça o Messi ou o Neymar, o Pelé poderá ser
substituído.
FUNGÍVEL INFUGÍVEL
Pode ser cumprida por outra pessoa às Não pode ser cumprida por outra pessoa.
custas do devedor. Na hipótese de inadimplemento do devedor
Na hipótese de inadimplemento do devedor o credor poderá:
o credor poderá: a) Exigir o seu cumprimento ou
a) Exigir o seu cumprimento ou b) Contratar um terceiro para que execute o
b) Contratar um terceiro para que ato, às custas do devedor
execute o ato, às custas do + Perdas e danos em ambos os casos
devedor
+ Perdas e danos em ambos os
casos
Dica: Tartuce entende que a conversão da obrigação em perdas e danos deve ser admitida
apenas em casos excepcionais – princípio da conservação do negócio jurídico.
Diálogo com o CPC e o CDC
1º) Arts 497 e ss. do CPC
Art. 497. Na ação que tenha por objeto a prestação de fazer ou de não fazer, o juiz, se procedente
o pedido, concederá a tutela específica ou determinará providências que assegurem a obtenção
de tutela pelo resultado prático equivalente.
Parágrafo único. Para a concessão da tutela específica destinada a inibir a prática, a reiteração
ou a continuação de um ilícito, ou a sua remoção, é irrelevante a demonstração da ocorrência de
dano ou da existência de culpa ou dolo.
Art. 499. A obrigação somente será convertida em perdas e danos se o autor o requerer ou se
impossível a tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente. Por
essa previsão Tartuce entende que a conversão em perdas em danos consiste em medida
excepcional.
Art. 500. A indenização por perdas e danos dar-se-á sem prejuízo da multa fixada
periodicamente para compelir o réu ao cumprimento específico da obrigação - ASTREINTE.
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1º) Art. 84 do CDC
Art. 84. Na ação que tenha por objeto o cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer,
o juiz concederá a tutela específica da obrigação ou determinará providências que
assegurem o resultado prático equivalente ao do adimplemento.
§ 1° A conversão da obrigação em perdas e danos somente será admissível se por elas
optar o autor ou se impossível a tutela específica ou a obtenção do resultado prático
correspondente.
§ 4° O juiz poderá, na hipótese do § 3° ou na sentença, impor multa diária ao réu,
independentemente de pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a obrigação,
fixando prazo razoável para o cumpri-mento do preceito.- ASTREINTE
Exemplo clássico: Obrigação do fornecedor de fazer a substituição do produto em
favor do consumidor, nos casos de vícios de qualidade ou de quantidade do produto (arts.
18, § 1º, I e 19, III) ou de reexecutar o serviço prestado ao consumidor, nos casos de
vício de qualidade do serviço (art. 20, I)
Tem por objeto a abstenção de uma conduta por parte do devedor. O seu
descumprimento se dá no momento em que o devedor pratica o ato pelo qual deveria
se abster (art. 390)
Dica: pela clássica classificação de Moacyr Amaral Santos temos:
a) Obrigação de não fazer transeunte ou instantânea: é irreversível e só permita ao
credor exigir perdas e danos na hipótese de inadimplemento do devedor. Ex.:
obrigação de não divulgar uma fórmula secreta. Se a fórmula for divulgada,
tornou-se pública e acabou o segredo – só resta ao credor pedir perdas e danos
(é irreversível!)
b) Obrigação de não fazer permanente: é reversível, ou seja, pode ser desfeita na
hipótese de inadimplemento do devedor. O credor pode exigir o desfazimento do
ato (tutela específica) ou buscar o resultado prático equivalente (desfazimento
do ato por terceiro, por exemplo), mais as perdas e danos. Ex.: a obrigação de
não construir acima de uma determinada altura.
Dica: nesse caso, cabe a chamada autotutela civil – prevista no parágrafo único
do art. 251:
Art. 251. Praticado pelo devedor o ato, a cuja abstenção se obrigara, o credor
pode exigir dele que o desfaça, sob pena de se desfazer à sua custa, ressarcindo
o culpado perdas e danos.
Parágrafo único. Em caso de urgência, poderá o credor desfazer ou mandar
desfazer, independentemente de autorização judicial, sem prejuízo do
ressarcimento devido. Autotutela civil! Se houver excesso ficará caracterizado o
ato ilícito por abuso de direito (art. 187) – hipótese de responsabilidade objetiva
por abuso de direito nos termos do Enunciado 37 das Jornadas de Direito Civil:
Enunciado 37 – Art. 187: a responsabilidade civil decorrente do abuso do direito
independe de culpa, e fundamenta-se somente no critério objetivo-finalístico.