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Disciplina: Direito Penal

Professor: Guilherme Nucci


Aula: 02
Monitor: Samuel

MATERIAL DE APOIO

I. Anotações

I. Anotações

RECAPITULAÇÃO ART. 2º, CP

Lei penal no tempo

Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei


posterior deixa de considerar crime, cessando em
virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença
condenatória.
Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo
favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores,
ainda que decididos por sentença condenatória
transitada em julgado.

Todas as vezes que uma lei penal nova for editada, se esta lei trouxer qualquer tipo de benefício para o
réu, deve sempre ser aplicada a nova lei aos casos atuais, dentro de certos parâmetros.
A lei penal benéfica nova é dotada de extratividade (ou ainda a grafia extra-atividade) pois produz efeitos
fora da sua época de vigência. Este é um fenômeno bastante diferente da regra clássica do tempus regit
actum (o direito é regido pela lei da época do fato).
A extratividade pode ser tanto voltado para o passado (retroatividade) como para o futuro (ultratividade)
da linha do tempo do processo penal.
Veja a súmula 611, STF e o artigo 66, I, LEP.

Art. 66. Compete ao Juiz da execução:


I - aplicar aos casos julgados lei posterior que de
qualquer modo favorecer o condenado;
II - declarar extinta a punibilidade;
III - decidir sobre:
a) soma ou unificação de penas;
b) progressão ou regressão nos regimes;
c) detração e remição da pena;
d) suspensão condicional da pena;
e) livramento condicional;
f) incidentes da execução.

IV - autorizar saídas temporárias;


V - determinar:
a) a forma de cumprimento da pena restritiva de
direitos e fiscalizar sua execução;

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b) a conversão da pena restritiva de direitos e de multa
em privativa de liberdade;
c) a conversão da pena privativa de liberdade em
restritiva de direitos;
d) a aplicação da medida de segurança, bem como a
substituição da pena por medida de segurança;
e) a revogação da medida de segurança;
f) a desinternação e o restabelecimento da situação
anterior;
g) o cumprimento de pena ou medida de segurança em
outra comarca;
h) a remoção do condenado na hipótese prevista no §
1º, do artigo 86, desta Lei.
i) (VETADO); (Incluído pela Lei nº 12.258, de 2010)

VI - zelar pelo correto cumprimento da pena e da


medida de segurança;
VII - inspecionar, mensalmente, os estabelecimentos
penais, tomando providências para o adequado
funcionamento e promovendo, quando for o caso, a
apuração de responsabilidade;
VIII - interditar, no todo ou em parte, estabelecimento
penal que estiver funcionando em condições
inadequadas ou com infringência aos dispositivos desta
Lei;
IX - compor e instalar o Conselho da Comunidade.
X – emitir anualmente atestado de pena a cumprir.
(Incluído pela Lei nº 10.713, de 2003)

SÚMULA 611

Transitada em julgado a sentença condenatória,


compete ao Juízo das execuções a aplicação de lei mais
benigna.

Atenção para a súmula 711, STF:

A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou


ao crime permanente, se a sua vigência é anterior à
cessação da continuidade ou da permanência.

ART. 3º, CP

Lei excepcional ou temporária (Incluído pela Lei


nº 7.209, de 11.7.1984)

Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora


decorrido o período de sua duração ou cessadas as
circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato
praticado durante sua vigência.

Esse artigo se dirige às chamadas leis intermitentes que são as leis feitas para terem curta duração e são
dotas de auto-revogação.
Possuem duas variações: temporárias e excepcionais

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As leis temporárias possuem data de expiração específico. Exemplo: esta lei valerá por 6 meses
Leis excepcionais possuem uma data de expiração não específico. Por exemplo: esta lei valerá até o fim
do estado de calamidade decretado no estado “X” da federação.
Segundo o entendimento do professor e de outros autores, o art. 3º,CP não foi recepcionado pela CF/1988
pois a mesma fala em retroatividade da lei penal mais benéfica sem quaisquer exceções.
O entendimento repassado pelo professor é par5 apontar esta contradição em provas dissertativas ou
orais mas não em provas de múltipla escolha.

NORMA PENAL EM BRANCO


O que é norma penal em branco?
É a norma que possui um conteúdo indeterminado, mas determinável.
O conteúdo indeterminado de uma norma penal em branco é dado por outra norma. Exemplo: a definição
de droga ilícita para a configuração de crimes da lei de drogas é dada por portaria do Ministério da Saúde.
Existem dois tipos de norma em branco:
-Própria ou em sentido estrito: o complemento para norma penal em branco é dado por norma de
hierarquia inferior. Exemplo: Art. 33, Lei de drogas
-Imprópria ou em sentido amplo: o complemento é dado por norma de igual hierarquia à norma penal em
branco. Exemplo: Art. 237, CP

ARTS. 4º e 6º, CP

Tempo do crime
Art. 4º - Considera-se praticado o crime no momento
da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento
do resultado.
(...)
Lugar do crime
Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em
que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte,
bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o
resultado.

Para se tratar de tempo e local do crime existem três teorias:


Atividade: leva em conta a ação ou omissão.
Resultado: leva em conta o resultado.
Mista ou ubiquidade: leva em consideração as duas teorias acima.

O CP brasileiro adotou a teoria da atividade para crimes materiais, ou seja, crimes cujo resultado é
materialístico, onde podemos dividir o dia da conduta e o dia do resultado, conforme o art. 4º, CP.
Para crimes internacionais utiliza-se a teoria da ubiquidade ou o art. 6º, CP.

DIREITO PENAL INTERNACIONAL E DIREITO INTERNACIONAL PENAL


As expressões não são sinônimas. No Direito Penal Internacional estuda-se o Direito Penal no Espaço e no
Direito Internacional Penal estuda-se as sanções aplicáveis às nações.

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ART. 5º, CP

Territorialidade

Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de


convenções, tratados e regras de direito internacional,
ao crime cometido no território nacional.
§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como
extensão do território nacional as embarcações e
aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço
do governo brasileiro onde quer que se encontrem,
bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras,
mercantes ou de propriedade privada, que se achem,
respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou
em alto-mar.
§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes
praticados a bordo de aeronaves ou embarcações
estrangeiras de propriedade privada, achando-se
aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no
espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar
territorial do Brasil.

A regra aplicada no Brasil é a contida no artigo 5º, CP, ou seja, os crimes cometidos no território nacional
serão persecutidos no Brasil.
O que é o território nacional? É o solo (ocupado pela nação), o seu espaço aéreo (coluna de ar acima do
solo) e seu mar territorial (faixa de mar de 12 milhas fixado a partir da praia), além de rios, lagos e
afluentes.
Além desses elementos também é considerado como extensões de território nacional
Navios e aeronaves que:
a) privadas que estejam em nosso território;
b) públicas, em qualquer lugar do mundo;
c) privadas em alto-mar.

CASOS DE EXCEÇÃO: DIPLOMATAS E CÔNSULES. CONVENÇÕES DE VIENA (1961 E 1963)


De acordo com a Convenção de Viena, os diplomatas não serão julgados pelo Brasil. É uma causa de
exclusão da jurisdição.
Os diplomatas gozam de:
1) Total imunidade no território brasileiro;
2) Inviolabilidade pessoal (sem revista, sem prisão e não pode ser testemunha);
3) Isenção de jurisdição penal, civil e tributária;
4) Inviolabilidade de habitação;
5) São absolutamente independentes no exercício da sua função.

Além dos diplomatas, gozam de todas essas benesses os:


1) Chefes de Estado;
2) Diplomatas “ad hoc”;
3) Diplomatas em trânsito;
4) Membros administrativos da embaixada;
5) Familiares dependentes economicamente do diplomata;
6) Os funcionários das organizações internacionais como a ONU.

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Veja que imunidade não é sinônimo de impunidade visto que se houver a ocorrência de crime, o diplomata
será processado em seu país.
Importante lembrar também que a embaixada não é território estrangeiro é apenas inviolável, ou seja,
continua fazendo parte do território brasileiro
É preciso dizer que diplomata terrorista, traficante de drogas e etc não serão imunes à aplicação da lei.
A imunidade não pode abrir mão da imunidade, somente om seu país de origem pode fazê-lo.

Os agentes consulares possuem mais restrições à imunidade tais como:


1) Imunidade válida somente no território do consulado;
2) Somente para crimes funcionais.

PARLAMENTARES E OUTROS DETENTORES DE IMUNIDADES.

Os parlamentares possuem imunidade do tipo:


-Substantiva (ou absoluta, são livres dos crimes de opinião);
-Processual: podem ser presos em flagrante, porém a casa legislativa a que pertencerem decidirá a prisão
e as medidas cautelares.
A novidade nesse aspecto é que o STF não precisa mais da autorização do Legislativo para denunciar o
Parlamentar, apenas oficia a casa legislativa respectiva para o prosseguimento do processo ou não.
Os deputados estaduais possuem as mesmas imunidades dos parlamentares federais.
Os vereadores somente possuem somente a imunidade substantiva no seu território.
O prefeito somente possui o foro privilegiado.
O advogado também possui imunidade sobre crimes de opinião, mas de maneira restritiva, conforme
entendimento do STF.

ART. 7º, CP

Extraterritorialidade
Art. 7º - Ficam sujeitos à lei brasileira, embora
cometidos no estrangeiro:
I - os crimes: a) contra a vida ou a liberdade do
Presidente da República;
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do
Distrito Federal, de Estado, de Território, de Município,
de empresa pública, sociedade de economia mista,
autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público;
c) contra a administração pública, por quem está a seu
serviço;
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou
domiciliado no Brasil;

II - os crimes:
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a
reprimir;
b) praticados por brasileiro;
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras,
mercantes ou de propriedade privada, quando em
território estrangeiro e aí não sejam julgados.

§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo


a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado no
estrangeiro.

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§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira
depende do concurso das seguintes condições:
a) entrar o agente no território nacional;
b) ser o fato punível também no país em que foi
praticado;
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei
brasileira autoriza a extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não
ter aí cumprido a pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por
outro motivo, não estar extinta a punibilidade, segundo
a lei mais favorável.

§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime


cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil,
se, reunidas as condições previstas no parágrafo
anterior:
a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
b) houve requisição do Ministro da Justiça.

A extraterritorialidade é a aplicação da lei penal brasileira fora do território nacional.


Esse artigo pode ser dividido nos seguintes princípios:
1) Defesa ou proteção: o bem jurídico lesado é brasileiro e portanto deve ser punido pela lei brasileira
(art. 7º, I, “a”, “b”, “c” e §3º);
2) Justiça universal ou Justiça cosmopolita (art. 7º, I, “d” e II, “a”);
3) Nacionalidade ou personalidade (art. 7º, II, “b”);
4) Representação ou Bandeira/Pavilhão (art. 7º, “c”).

CASOS DE EXTRATERRIORIALIDADE CASOS DE EXTRATERRIORIALIDADE


INCONDICIONADA CONDICIONADA
Art. 7º, I, “a”, “b”, “c” e “d” Art. 7º, II, “a”, “b”, “c” e §º, 3º
Quais são as condições? Estão listadas no art. 7º, §2º e são as seguintes:
a) Entrar no Brasil;
b) Dupla tipicidade;
c) Estar incluído nos crimes extraditáveis (pena máxima de 2 anos);
d) Não ter sido processado no estrangeiro;
e) Não estar extinta a punibilidade.

ART. 8º, CP

Segundo o professor, este artigo não foi recepcionado pela atual CF por entrar em contradição como o
princípio da vedação do bis in idem.

ART. 9º, CP

Eficácia de sentença estrangeira (Redação dada


pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

Art. 9º - A sentença estrangeira, quando a aplicação da


lei brasileira produz na espécie as mesmas
conseqüências, pode ser homologada no Brasil para:
I - obrigar o condenado à reparação do dano, a
restituições e a outros efeitos civis;
II - sujeitá-lo a medida de segurança.

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Parágrafo único - A homologação depende:
a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da
parte interessada;
b) para os outros efeitos, da existência de tratado de
extradição com o país de cuja autoridade judiciária
emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de
requisição do Ministro da Justiça

O Brasil por regra não cumpre sentenças de outras nações por questão de soberania nacional exceto nos
casos previsto no art. 9º do CP e somente após que foram homologadas pelo Presidente do STJ.
As condições de homologação da sentença estrangeira estão previstas no parágrafo único do art. 9º, CP.

ART. 10º, CP

Contagem de prazo

Art. 10 - O dia do começo inclui-se no cômputo do prazo.


Contam-se os dias, os meses e os anos pelo calendário
comum.

Esse artigo demostra a forma de cômputo dos dias para questões penais. Conta-se o primeiro dia e exclui-
se o último.

ART. 11º, CP

Frações não computáveis da pena

Art. 11 - Desprezam-se, nas penas privativas de liberdade


e nas restritivas de direitos, as frações de dia, e, na pena
de multa, as frações de cruzeiro

Com relação a este artigo pode se dizer que desprezam as frações de dias (horas) tanto quanto as frações
de moeda corrente.

ART. 12º, CP

Legislação especial

Art. 12 - As regras gerais deste Código aplicam-se aos


fatos incriminados por lei especial, se esta não dispuser
de modo diverso.

O conflito (ou concurso) aparente de normas é resolvido pelos seguintes critérios:


1) Sucessividade: a lei mais nova afasta a mais velha;
2) Especialidade: a lei especial afasta a lei geral;
3) Subsiariedade: a lei secundária cede à lei principal;
4) Absorção ou consunção: um fato contido em uma norma deixa de ser considerado quanto contido
em uma norma de maior amplitude;
5) Alternatividade: a aplicação de uma norma a um fato afasta a aplicação de outra norma.

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