Você está na página 1de 52

Noções Básicas de Execução Penal, Progressão

de Regime e Livramento Condicional

Conteudista: Prof.ª Ma. Rosa Maria Neves Abade


Revisão Textual: Esp. Pérola Damasceno

Objetivos da Unidade:

Adquirir conhecimentos sobre as peças jurídicas na fase de execução penal,


especialmente o pedido de progressão de regime e livramento condicional;

Aprender sobre o domínio de técnica de elaboração de peças jurídicas na fase de


execução penal.

ʪ Material Teórico

ʪ Material Complementar

ʪ Referências
1 /3

ʪ Material Teórico

Fase de Execução Penal


A Execução Penal está regulamentada pela Lei n.º 7.210, de 11 de julho de 1984 e também na parte
geral do Código Penal, no Código de Processo Penal e legislações locais.
Figura 1 – Execução penal
Fonte: ccep-se.org.br

#ParaTodosVerem: trata-se de um desenho de duas mãos algemadas. O


desenho é cinza e branco. Fim da descrição.

Trata-se da fase processual em que o Estado faz valer a pretensão executória da pena, tornando
efetiva a punição do agente e buscando a concretude das finalidades da sanção penal (NUCCI,
2022, p. 17).

Nessa fase (execução da pena), já existe uma sentença penal condenatória e o réu foi
considerado culpado, tendo sido estabelecida a pena que deverá ser cumprida por ele, nos
termos da legislação vigente.

Objetivo da Execução Penal


A execução penal visa a aplicação da pena ou da medida de segurança, constituindo-se no
conjunto de atos judiciais por meio dos quais se efetiva a sentença.

“Art. 1º. A execução penal tem por objetivo efetivar as disposições de sentença ou

decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do


condenado e do internado.

Tem por objetivo efetivar as disposições da sentença ou decisão criminal e


proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do
internado.”

- BRASIL, 1984, n.p.


Legislação sobre Execução Penal
No Brasil, como já dito no item anterior, a matéria está contida na Lei 7.210/84, Lei de Execuções
Penais – LEP, e também no Código Penal, Código de Processo Penal e legislações locais.

No Código de Processo Penal (CPP), alguns aspectos são aplicados na execução penal (Arts. 696
até 779). Portanto, para uma boa atuação na fase de execução penal, deve sempre se valer destas
três leis:

Lei de Execução Penal: Lei 7.210/84;

Código Penal: (Parte geral – Arts. 32 ao 99);

Código Processo Penal: (Arts. 696 até 779).

Compete, de forma concorrente, à União, Estados e Distrito Federal legislar sobre a matéria
(BRASIL, 1988).

Para os operadores do direito que atuam na área de execução penal no Estado de São Paulo, é
imprescindível o conhecimento do Regimento Interno Padrão das Unidades Prisionais do
Estado de São Paulo, instituídas pela Resolução SAP – Secretaria de Administração Penitenciária
- 144 de 29/06/2010.

Nos demais estados, os profissionais atuantes na fase de execução penal deverão conhecer o
Regimento Interno Padrão do Estado em que o sentenciado está preso.

Natureza Jurídica da Execução Penal


A execução penal possui natureza híbrida, ou seja, contempla normas de cunho jurisdicional
(Poder Judiciário) e administrativo (Poder Executivo – autoridades penitenciárias). Significa que
comporta decisões judiciais e decisões meramente administrativas por parte dos dirigentes dos
estabelecimentos prisionais.

Finalidade da Execução Penal – Art. 1º. da LEP


As finalidades da execução penal também são extraídas do artigo 1º da LEP. São elas:

Tornar efetivo o cumprimento da sentença imposta;

A ressocialização do sentenciado: reinserção social do condenado.

Competência
A competência do Juiz da execução começar com o trânsito em julgado da sentença penal
condenatória, sendo determinada pelas leis de Organização Judiciária de cada Estado.

Aliás é o que está previsto na LEP, em seu artigo 65: “A execução penal competirá ao Juiz
indicado na lei local de organização judiciária e, na sua ausência, ao da sentença” (BRASIL, 1984,
n.p.).

Em regra, a competência será do juiz da Vara das Execuções Criminais, exceto em tratando-se de
Vara Única, que será do próprio juiz que prolatou a sentença.

São atribuições do Juiz da execução, conforme dispõe o artigo 66 da LEP:

“I – aplicar aos casos julgados lei posterior que de qualquer modo favorecer o

condenado;
II – declarar extinta a punibilidade;

III – decidir sobre:

a) soma ou unificação de penas;

b) progressão ou regressão nos regimes;

c) detração e remição da pena;

d) suspensão condicional da pena;

e) livramento condicional;

f) incidentes da execução.

IV – autorizar saídas temporárias;

V – determinar:

a) a forma de cumprimento da pena restritiva de direitos e fiscalizar sua execução;

b) a conversão da pena restritiva de direitos e de multa em privativa de liberdade;

c) a conversão da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos;

d) a aplicação da medida de segurança, bem como a substituição da pena por


medida de segurança;

e) a revogação da medida de segurança;

f) a desinternação e o restabelecimento da situação anterior;


g) o cumprimento de pena ou medida de segurança em outra comarca;

h) a remoção do condenado na hipótese prevista no § 1º, do artigo 86, desta Lei;

i) (VETADO); (Incluído pela Lei nº 12.258, de 2010).

VI – zelar pelo correto cumprimento da pena e da medida de segurança;

VII – inspecionar, mensalmente, os estabelecimentos penais, tomando


providências para o adequado funcionamento e promovendo, quando for o caso, a
apuração de responsabilidade;

VIII – interditar, no todo ou em parte, estabelecimento penal que estiver


funcionando em condições inadequadas ou com infringência aos dispositivos desta
Lei;

IX – compor e instalar o Conselho da Comunidade.

X – emitir anualmente atestado de pena a cumprir.”

- BRASIL, 1984, n.p.

Há que se distinguir o início da execução penal, que se dá com a prisão e a consequente


expedição de guia de recolhimento, e o início da competência do juiz da execução, que se dá com
o trânsito em julgado da sentença.

Competência Territorial
A competência territorial é definida pelo local de prisão, mas se o sentenciado foi preso em
diversas comarcas, onde tramitará a sua execução? A execução terá andamento na comarca em
que estiver preso, não importando em que comarca tenha sido processado e condenado.
Quando o sentenciado for removido para um presídio que fica em outra comarca, o processo
também é enviado para essa comarca. Se ainda não foi expedida a guia de recolhimento (mesmo
que provisória), ainda não há processo de execução.

Portanto, primeiro, o Juiz da Vara em que foi processado deve expedir a guia de recolhimento
para a Vara das Execuções. Só assim será possível ao Juiz das Execuções Criminais dar
andamento ao pedido de progressão, livramento condicional, etc.

Saiba Mais
No Estado de São Paulo, algumas unidades prisionais não possuem
Vara de Execução na própria Comarca, sendo a competência destas
definidas pelo Conselho Superior da Magistratura do Tribunal de
Justiça de São Paulo.

Quanto à competência, atualmente, há no Brasil, em atividade, presídio federal para abrigar


criminosos de alta periculosidade, normalmente, condenados por delitos hediondos e
equiparados. Por isso, valendo-se da Súmula 192 do STJ, o pedido de progressão deve ser
dirigido ao juiz corregedor do presídio. Ora, se um preso, condenado pela Justiça Estadual,
estiver inserido em presídio federal, cabe ao juiz federal com competência para a execução penal
conhecer do pedido. Do mesmo modo que se um preso condenado pela Justiça Federal, estiver
em presídio estadual, deve o juiz da execução criminal do Estado analisar o pedido.
A Lei 10.792/2003, alterando a redação do art. 112 da Lei de Execução Penal (Lei 7.210/84),
estipulou que a progressão de regime é viável, desde que o condenado ostente bom
comportamento carcerário, o que foi mantido pela Lei 13.964/2019. Na prática, teria
inviabilizado a realização do parecer da Comissão Técnica de Classificação e o exame
criminológico, que sempre foram obrigatórios para delitos violentos ou com grave ameaça à
pessoa, como é o caso do roubo. Para a visão do advogado, a referida modificação foi positiva,
razão pela qual, no seu pedido, ele juntará o atestado de boa conduta carcerária. Entretanto, se o
juiz entender que outros dados (como o exame criminológico) devem ser obtidos, em função da
individualização executória da pena, para apurar o mérito do condenado, negando, pois, a
progressão, cabe agravo em execução.

Figura 2 – Prisão
Fonte: Getty Images

#ParaTodosVerem: trata-se de uma foto escura, em que aparece apenas as


mãos de um homem segurando a grade de uma prisão. Fim da descrição.
Competência para Execução do Sursis e Penas Restritivas de
Direitos
A competência para cumprimento do “sursis”, Livramento condicional e prisão albergue
domiciliar, penas restritivas de direito será a do domicílio do executado.

Pena de multa: É competente o juízo da condenação;

Foro privilegiado: O tribunal competente irá acompanhar a execução da pena.

Pedidos Judiciais no Processo de Execução da Pena


São efetuados ao Juiz da Execução Penal, com manifestação prévia do Ministério Público e da
Defesa.

Pressupostos para Execução da Pena

Título executivo: transitada em julgado, a sentença


condenatória constitui título executivo. Este título é a guia de
recolhimento (art. 105, LEP), imprescindível na orientação e
individualização da pena;

Capacidade de sujeição: é a capacidade da pessoa de submeter-se à execução;

Sujeito passivo da ação: aquele que foi condenado.

Nomenclatura do Sujeito Passivo da Ação


Nas petições elaboradas perante o juiz da execução penal, utilizamos as nomenclaturas:
“sentenciado”, “condenado”, “executado”, “reeducando” e “apenado”.

Legitimidade
O pedido de benefício deverá, preferencialmente, ser formulado por advogado. Isto porque só ele
tem condições técnicas de avaliar o seu cabimento. A lei exige que em todos os presídios haja
assistência judiciária gratuita.

Direitos do Condenado e ao Internado


São assegurados todos os direitos não atingidos pela sentença ou pela lei. Não haverá qualquer
distinção de natureza racial, social, religiosa ou política.

O sentenciado não pode votar e ser votado no período de cumprimento de pena, mesmo que
esteja em regime aberto, já o preso provisório pode votar e ser votado.

Execução Provisória
Diante da demora do julgamento definitivo de processos com réus presos, admite-se a execução
provisória, destinada ao preso provisório cuja custódia advém de prisão cautelar decretada por
força de condenação recorrível.

De acordo com a LEP: Art. 2º, Parágrafo único: “Esta Lei aplicar-se-á igualmente ao preso
provisório e ao condenado pela Justiça Eleitoral ou Militar, quando recolhido a estabelecimento
sujeito à jurisdição ordinária” (BRASIL, 1984, n.p.), cabível tanto em pendência de recurso da
defesa ou da acusação.

Está prevista também na Resolução n.º 113 de 20/04/2010 – Conselho Nacional de Justiça:
“Art. 8º. A guia de Recolhimento Provisória será expedida ao Juiz da Execução

Penal após o recebimento do recurso, independentemente de quem o interpôs,


acompanhada no que couber, das peças e informações prevista no artigo 1º.

Parágrafo 2º. Estando o processo em grau de recurso, sem expedição da guia de


recolhimento provisória, às Secretarias desses órgãos caberão expedi-las e
remetê-las ao juízo competente.”

A Progressão de Regime e a Execução Provisória


As súmulas n.º 716 e 717 do STF trazem tal previsão de que se admite a progressão de regime
durante a progressão provisória da sentença. São elas:

Importante!
Admite-se a progressão de regime durante a progressão provisória da
sentença?

Súmula n.º 716 do STF: admite-se a progressão de regime de cumprimento da pena


ou a aplicação imediata de regime menos severo nela determinada, antes do trânsito
em julgado da sentença condenatória. A maioria dos doutrinadores entende que,
para haver a progressão de regime na execução provisória da pena, deve ter havido
pelo menos o trânsito em julgado para a acusação;

Súmula n.º 717 do STF: não impede a progressão de regime de execução da pena,
fixada em sentença não transitada em julgado, o fato de o réu se encontrar em
prisão especial.

Cumprimento da Sentença Imposta – Procedimentos


O cumprimento da sentença imposta será iniciado quando o réu for recolhido à prisão. Isso
ocorrerá nas seguintes hipóteses:

Réu preso durante toda a instrução processual;

Juiz determina a prisão na prolação da sentença impedindo o mesmo de recorrer em


liberdade;

Após decisão final irrecorrível.

Nos casos descritos, quando determinada a prisão, o juiz do processo de conhecimento, após o
cumprimento do mandado de prisão, expede uma Guia de Recolhimento para ser encaminhada
a Vara de Execuções Criminais competente.

Guia de Recolhimento
Você sabe o que é uma guia de recolhimento? Guia de recolhimento é o documento que
materializa o título executivo judicial e que contém todas as informações do réu e do processo
criminal que ensejou a condenação. Ela vem acompanhada pelas principais peças do processo
criminal: flagrante, denúncia, interrogatório e sentença.

Inicia-se o processo de execução da pena privativa de liberdade, e sem esta guia a execução não
autuada.
Há duas espécies de guia de recolhimento:

Guia de recolhimento provisória: quando pendente recurso;

Guia de recolhimento definitiva: quando há pena definida e decisão irrecorrível.

Requisitos para Obtenção de Benefícios Durante a Execução Penal


A Lei de Execução penal prevê uma série de benefícios. O preso, entretanto, deverá preencher
alguns requisitos exigidos por esse texto legal:

Requisito Objetivo: a maioria dos benefícios na execução da


pena exige lapso temporal, ou seja, o preso deverá cumprir um
certo tempo da pena para poder pedir um benefício;

Requisito Subjetivo: é o mérito, ou seja, é preciso ter boa conduta carcerária; exercer
atividade laborterápica (trabalhar), que é, além de tudo, um direito; ter controlada a
agressividade e a impulsividade etc. Demostrar, enfim, que está apto a retornar à
sociedade. É feito pelo Boletim Informativo.

Ilegalidades na Execução Penal


São consideradas ilegalidades durante a fase da execução penal todo ato ou procedimento que
estiver em desacordo com a Constituição Federal ou com as leis penais. São exemplos de
ilegalidade: regime semiaberto fixado na sentença e o preso em regime fechado; preso
condenado cumprindo pena em Distrito Policial ou Cadeia Pública; superlotação da população
carcerária; falta de assistência médica; que tenha sido desrespeitada a integridade física ou
moral do preso; falta de alimentação; impedir entrevista com o advogado; não atribuir atividade
laborterápica; não ter a oportunidade de defender o sentenciado no processo etc. Tais
ilegalidades serão sanadas através de habeas corpus ou mesmo através do Agravo em Execução.
Início do Processo de Execução Penal
O Processo de Execução Penal (PEP) tem início com o cadastramento e autuação da guia de
recolhimento ou de execução.

A autuação e a tramitação do PEP deverão observar as disposições contidas na Resolução n.º 113
do Conselho Nacional de Justiça.

Mesmo nas varas criminais com competência concorrente em execução penal, havendo
condenação e expedição da guia de recolhimento, o processo de conhecimento deverá ser
arquivado e o cartório deverá instaurar um novo processo, específico para a execução da pena.
Ainda, uma via da guia de recolhimento deverá ser remetida à autoridade penitenciária,
conforme determinação contida na Resolução acima mencionada.

Os autos do PEP terão os seguintes incidentes:

Roteiro de Penas: (resumo de todos os acontecimentos relevantes do processo),


com capa de cor verde (se o processo for físico) – sendo que a abertura deste
apenso será facultativa quando houver apenas uma condenação. Se o processo for
eletrônico, será o processo principal e os pedidos de benefícios serão incidentes;

Incidentes de Execução: onde tramitarão os pedidos de benefícios e incidentes de


julgamento na execução.

Individualização do Processo de Execução Penal


Para cada condenado, haverá apenas um processo ativo de execução penal, com sua respectiva
numeração no Sistema de Execução Penal do TJSP.

Chegando processo de execução de outra unidade judiciária, deverá o mesmo ser apensado ao
PEP. Tratando-se de processo eletrônico, os autos recém-chegados deverão ser digitalizados.

O processo de execução penal inicia-se com a guia de recolhimento.


Liquidação das Penas
O cálculo de liquidação de penas, elaborado pelo Sistema de Execução Penal dos Tribunais de
Justiça e Justiça Federal (sistema SEEU), atende às diretrizes do Plano de Gestão em Varas de
Execução Penal do CNJ, além de fazer as vezes do atestado de pena a cumprir.

Incidentes de Execução
Deverão ser autuados separadamente e em apenso ao PEP. Se o processo for eletrônico,
constarão todos os incidentes relativos à execução e pedidos de benefícios.

Existirão tantos apensos (incidentes) quantos forem os pedidos, mas sempre havendo um
único apenso ativo para cada natureza de pedido.

Os incidentes deverão conter, obrigatoriamente, o nome do sentenciado, o número do processo


de execução, o assunto e a data da autuação.

São exemplos de incidentes ou pedidos que deverão ser autuados como Incidentes de Execução:

progressão de regime;

livramento condicional;

indulto ou comutação;

remição de penas;

reconhecimento de homonímia;

autorização de trabalho/estudo;

conversões;
anistia e indulto;

extinção da punibilidade;

unificação de pena.

Benefícios durante a Execução Penal

Detração: o tempo de prisão provisória (flagrante, preventiva,


temporária, pronúncia) deverá ser computado como tempo de
pena cumprida. Aqui, o preso também não precisa comprovar
requisito objetivo ou subjetivo;

Remição: o preso terá direito de descontar um dia de sua pena em face ao trabalho,
estudo ou leitura. É necessário juntar atestados de atividade laborterápica (atestado
do trabalho realizado);

Pedido de Progressão de Regime: o preso poderá progredir do regime fechado para


o semiaberto, e deste para o aberto. É necessário o cumprimento de uma
porcentagem da pena (art 112 da LEP) e preencher os requisitos subjetivos;

Livramento Condicional: cumprimento de um terço da pena para primário, metade


para reincidente e dois terços para quem comete crime considerado hediondo.
Comportamento satisfatório durante a execução da pena e aptidão para o trabalho;

Indulto e Comutação: todo ano, o presidente da República elabora um decreto para


indultar (perdoar a pena) ou comutar (reduzir a pena). O decreto também exige o
lapso temporal além do mérito, salvo nas hipóteses de indulto humanitário (em que
é exigida somente a comprovação de estar o preso acometido de doença grave e
incurável, em estado terminal);

Unificação de Penas: é o caso em que o condenado pratica os crimes de acordo com


o que está previsto no artigo 71 do Código Penal. Assim, os delitos são da mesma
espécie e, pelas condições de tempo, lugar e maneira de execução são considerados
em continuação um do outro. Não é necessário cumprir lapso temporal ou ter
méritos.

Recursos para Pedidos Negados Durante a Execução Penal


Sempre que o juiz da execução penal indeferir qualquer benefício requerido durante a fase de
execução caberá interpor recurso de Agravo em Execução, conforme prevê o art 197 da LEP.

Trocando Ideias...
Pois bem. Você aprendeu quais são os benefícios requeridos durante a
execução penal. Agora, vamos aprender especialmente duas delas: A
Progressão de Regime e o Livramento Condicional. Vamos lá?

Progressão de Regime

Sistema Progressivo de Cumprimento da Pena


A pena deverá ser, como regra, cumprida de forma progressiva.

Estabelecido o regime fechado inicial (presídio de segurança máxima), o condenado tem direito
a, cumprido o prazo previsto no art. 112 da Lei de Execução Penal nesse regime, pleitear a
progressão para o semiaberto (colônia penal agrícola ou industrial) (NUCCI, 2022). Se houver
merecimento, o magistrado autorizará a transferência do regime fechado para o semiaberto.
Após, cumprido mais um período, conforme previsto em lei, o condenado poderá requerer a
transferência ao regime aberto (casa do albergado). Assim, a Progressão de regime é a
transferência do preso de um regime mais rigoroso para outro mais brando.

O juiz, quando entender relevante, pode requisitar a elaboração de exame criminológico, em


especial, nos casos de condenações por crimes violentos contra a pessoa (posição atual do STF e
do STJ).

Os §§ 3.º e 4.º do art. 112 da LEP, por sua vez, fazem a seguinte previsão:

“No caso de mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou

pessoas com deficiência, os requisitos para progressão de regime são,


cumulativamente:

I – não ter cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa;

II – não ter cometido o crime contra seu filho ou dependente;

III – ter cumprido ao menos 1/8 (um oitavo) da pena no regime anterior;

IV – ser primária e ter bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor


do estabelecimento;

V – não ter integrado organização criminosa.

§ 4º. O cometimento de novo crime doloso ou falta grave implicará a revogação do


benefício previsto no § 3.º deste artigo.”

- BRASIL, 1984, n.p.


Saiba Mais
A Lei 10.792/03 alterada aboliu o exame criminológico, dispensando
manifestação da CTC.

Fundamento Legal
O fundamento legal do pedido de progressão de regime está previsto no Art.112 da LEP

Legitimidade na Progressão de Regime


O incidente de progressão pode ser instaurado:

Mediante requerimento do preso;

Requerimento do advogado;

Requerimento do MP;

De ofício pelo juiz.

Requisitos da Progressão
Requisitos Objetivos
Refere-se ao quantum de cumprimento de pena:

“I – 16% (dezesseis por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime tiver

sido cometido sem violência à pessoa ou grave ameaça;

II – 20% (vinte por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime


cometido sem violência à pessoa ou grave ameaça;

III – 25% (vinte e cinco por cento) da pena, se o apenado for primário e o crime
tiver sido cometido com violência à pessoa ou grave ameaça;

IV – 30% (trinta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime


cometido com violência à pessoa ou grave ameaça;

V – 40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for condenado pela prática de
crime hediondo ou equiparado, se for primário;

VI – 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for: a) condenado pela


prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte, se for primário,
vedado o livramento condicional; b) condenado por exercer o comando, individual
ou coletivo, de organização criminosa estruturada para a prática de crime hediondo
ou equiparado; ou c) condenado pela prática do crime de constituição de milícia
privada;

VII – 60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na prática de
crime hediondo ou equiparado;
VIII – 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime
hediondo ou equiparado com resultado morte, vedado o livramento condicional.”

- BRASIL, 1984, n.p.

Não se considera hediondo ou equiparado o crime de tráfico de drogas, previsto no § 4º do Art.


33 da Lei n. 11.343/2006.

A decisão do juiz do processo é provisória e, a partir do regime fechado, pode-se transferir o


sentenciado para o regime semiaberto, e deste para o regime aberto.

Iniciado o cumprimento da pena no regime estabelecido na sentença, possibilita-se ao


sentenciado, de acordo com o sistema progressivo, a transferência para regime menos rigoroso,
desde que cumpra a porcentagem determinada no artigo 112 da LEP (Lei de execuções Penais).

Requisitos Subjetivos
Refere-se ao mérito do condenado, onde o condenado deve apresentar boa conduta carcerária,
comprovada pelo diretor do estabelecimento, respeitadas as normas que vedam a progressão.

Exemplo: Na prática, é fornecido boletim informativo que demonstra a conduta do preso. O


objetivo é demonstrar que o condenado pode se adaptar ao regime mais brando.

Parecer da Comissão Técnica de Classificação (Não Necessário)


Com o advento da Lei n.º 10.792/2003, o exame criminológico e o parecer da Comissão Técnica
de Classificação deixaram de ser requisitos para a progressão de regime.

A Súmula 439 do STJ prevê admissão do exame criminológico pelas peculiaridades do caso,
desde que em decisão motivada.

Decisão de Concessão ou
Indeferimento da Progressão Deve
ser Motivada
A decisão do juiz que determinar a progressão de regime será sempre motivada e precedida de
manifestação do Ministério Público e do defensor; procedimento que também será adotado na
concessão de livramento condicional, indulto e comutação de penas, respeitados os prazos
previstos nas normas vigentes.

A decisão do juiz do processo é provisória e, a partir do regime fechado, pode-se transferir o


sentenciado para o regime semiaberto, e deste para o regime aberto.

Progressão do Regime Semiaberto


para o Regime Aberto
A Lei de Execução Penal prevê, também, a possibilidade de o condenado do regime semiaberto
progredir para o aberto, com os mesmos requisitos temporais e comportamentais para a
obtenção do benefício.

No aberto, a pena deve ser cumprida em casa de albergado. Nessa condição, ele pode deixar o
local durante o dia e deve retornar à noite. Na falta de casa de albergado, pode ser transferido
para local adequado, como, por exemplo, a residência do preso.
Conforme a Súmula Vinculante 56, “a falta de vagas em estabelecimento prisional não autoriza a
manutenção do preso em regime mais gravoso, devendo-se observar, nessa hipótese, os
parâmetros do Recurso Extraordinário 641.320” (BRASIL, 2016, n.p.).

Progressão por Salto


É a passagem direta do regime fechado para o regime aberto.

O STJ firmou entendimento de que é inadmissível a chamada progressão per saltum de regime
prisional, nos termos da Súmula 491.

Progressão no Crimes Hediondos


De acordo com as alterações trazidas pela Lei 13.964/19 (Pacote Anticrime), a pena privativa de
liberdade será executada em forma progressiva, com a transferência para regime menos
rigoroso, a ser determinada pelo juiz, nos crimes hediondos, quando o preso tiver cumprido ao
menos:

“40% (quarenta por cento) da pena, se o apenado for condenado pela prática de

crime hediondo ou equiparado, se for primário;

50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for: condenado pela prática de
crime hediondo ou equiparado, com resultado morte, se for primário, vedado o
livramento condicional, ou condenado por exercer o comando, individual ou
coletivo, de organização criminosa estruturada para a prática de crime hediondo ou
equiparado; ou condenado pela prática do crime de constituição de milícia privada;
60% (sessenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente na prática de crime
hediondo ou equiparado;

70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime hediondo
ou equiparado com resultado morte, vedado o livramento condicional.”

- BRASIL, 2019, n.p.

Figura 3 – Escada da liberdade


Fonte: adaptada de Getty Images

#ParaTodosVerem: trata-se de um quadro em que demonstra as escalas da


progressão de regime. A figura apresenta o título “Progressão de Regime”.
Embaixo, há um quadrado vermelho e em seu interior está escrito “Fechado”.
Abaixo, em diagonal, há um quadrado amarelo e em seu interior está escrito
“Semiaberto”. Abaixo, há um quadrado verde e em seu interior está escrito
“Aberto”. Ao lado, há uma flecha indicando a uma imagem representando a
“Liberdade”. Fim da descrição.
Regressão de Regime
Ocorre quando o condenado é transferido do regime mais brando para o mais rigoroso.
Configura, por exemplo, quando o condenado pratica fato definido como crime doloso durante o
benefício ou falta grave, ou sofrer condenação em um crime anterior, cuja pena, somada ao
restante da pena em execução, torne incabível o regime.

A regressão pode ocorrer por salto, por exemplo: transferir de regime aberto para o fechado.

Falta Grave por Parte de Preso que está em Regime Fechado –


Regressão
O Art. 118, I, da Lei das Execuções dispõe que o preso que comete falta grave fica sujeito a
regressão para regime mais rigoroso.

Veja-se, entretanto, que não é possível regredir o preso que já está no regime fechado, que é o
mais rigoroso existente, e que venha a cometer falta grave.

Assim, os Tribunais Superiores firmaram entendimento de que, em tal caso, a contagem do


prazo para a progressão deve reiniciar-se a contar da última falta grave cometida.

O prazo, entretanto, deve ser contado com base no tempo remanescente de pena, e não no
tempo total imposto na sentença.

Desta forma, o cometimento de falta grave durante a execução da pena privativa de liberdade
interrompe o prazo para a obtenção da progressão no regime de cumprimento da pena, caso em
que o reinício da contagem do requisito objetivo terá como base a pena remanescente,
vide artigos 50 a 52 da LEP.

As hipóteses de falta grave encontram-se descritas no Art. 50 da Lei de Execuções Penais, como,
por exemplo, fuga, posse de arma ou de telefone celular dentro do presídio, etc.
Conforme já estudado, determinadas espécies de falta grave, como, por exemplo, integrar
organização criminosa no interior do presídio, podem também levar o juiz a decretar o regime
disciplinar diferenciado.

Agora, vamos aprender como elaborar uma peça prática de progressão de Regime?

Elaboração da Peça Prática de Progressão de Regime

Importante!
O pedido de progressão de regime deve ser efetuado ao juiz da
execução. Trata-se de um simples requerimento, no qual o advogado
deve comprovar que o sentenciado preenche os requisitos objetivos (ou
seja, que cumpriu a porcentagem de pena determinada em lei) e,
também, os requisitos subjetivos (ou seja, que possui boa conduta
carcerária).

Endereçamento: Ao juiz da execução (federal ou estadual), nos


termos do art. 66, inciso III, b, da LEP.
Se a sentença não transitou em julgado, será competente o juiz da condenação, nos termos das
Súmulas 716 e 717, ambas do STF.

1 Súmula 717: não impede a progressão de regime de execução de


pena, fixada em sentença não transitada em julgado, o fato de o
réu se encontrar em prisão especial;

2 Súmula 716: admite-se a progressão de regime de cumprimento da pena ou a


aplicação imediata de regime menos severo nela determinada, antes do trânsito em
julgado da sentença condenatória.

Fundamento legal da peça prática: você deve fundamentar a


peça prática no artigo 66, III, “b” e no Art. 112, ambos da Lei de
Execução Penal;

Preâmbulo: (a) A peça deve iniciar com o nome e qualificação do requerente (não
precisa da qualificação completa, pois não é peça inicial, ou seja, colocar “já
qualificado”); (b) capacidade postulatória (por seu advogado .....); (c) fundamento
legal (com fundamento nos artigos 66, III, “b” e do Art. 112, ambos da Lei de
Execução Penal; (d) nome da peça (requerer a Progressão de regime); (e) frase final,
pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos:

Dos fatos: narrar a infração penal praticada, sem inventar dados, e o andamento
processual até o momento do pedido da progressão de regime;

Do direito: comprovar a presença dos requisitos para concessão da progressão de


regime;

Do pedido: deverá requerer a progressão de regime mais grave para o regime mais
brando;

Parte final: termos em que pede deferimento, data e indicação da OAB.


Importante!
A seguir é possível realizar o download de um modelo de progressão de
regime.

Progressão de Regime.docx
14.8 KB

Livramento Condicional
Trata-se da antecipação provisória da liberdade concedida, sob certas condições, ao condenado
que está cumprindo pena privativa de liberdade.

O livramento condicional ocorre após parte da pena já ter sido cumprida, e seu tempo de duração
corresponde ao restante da pena que estava sendo executada.

É direito subjetivo do sentenciado, desde que preenchidos os requisitos legais.


Figura 4 – Sentenciado saindo da prisão
Fonte: foroporlaniñez.org

#ParaTodosVerem: trata-se de uma imagem de um presídio em que aparece o


corredor de algumas celas e um portão de grades. Na imagem, há uma figura
escura: um vulto de um homem que está saindo do presídio. Fim da descrição.
Figura 4 – Sentenciado saindo da prisão
Fonte: foroporlaniñez.org
#ParaTodosVerem: Trata-se de uma imagem de um presídio em que aparece o
corredor de algumas celas e um portão de grades. Na imagem, há uma figura
escura: um vulto de um homem que está saindo do presídio. Fim da descrição.

Fundamento Legal
O livramento condicional está previsto nos Arts. 83 a 90 do CP e Arts. 131 a 146 da LEP.

Definição
Livramento condicional é o benefício que consiste na soltura antecipada do executado, mediante
o preenchimento de determinadas condições.

É a possibilidade do condenado poder cumprir solto o período restante da pena já cumprida,


mediante determinadas condições.

Natureza Jurídica
É direito subjetivo do acusado. Busca-se a ressocialização, possibilitando ao executado que
possua bom comportamento carcerário, a liberação antecipada, sendo que, durante o restante
da pena, deverá se comportar de forma a não ter o benefício revogado e cumprir determinadas
condições.

Período de Prova
Conta-se do tempo restante de pena a cumprir, contado desde quando foi concedido o benefício.

Espécie da Pena
A pena deve ser privativa de liberdade, se crime: reclusão ou detenção; se contravenção penal:
prisão simples.

Quantidade da Pena
A pena privativa de liberdade imposta ao condenado, a qual se encontra em sede de execução,
deve ser igual ou superior a 2 anos.

Requisitos do Livramento Condicional

“Art. 83. O juiz poderá conceder livramento condicional ao condenado a pena

privativa de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que:

I – cumprida mais de um terço da pena se o condenado não for reincidente em


crime doloso e tiver bons antecedentes;

II – cumprida mais da metade se o condenado for reincidente em crime doloso;

III – comprovado:

a) bom comportamento durante a execução da pena;

b) não cometimento de falta grave nos últimos 12 (doze) meses;

c) bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído;

d) aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto;


IV – tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano causado pela
infração;

V – cumpridos mais de dois terços da pena, nos casos de condenação por crime
hediondo, prática de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, tráfico
de pessoas e terrorismo, se o apenado não for reincidente específico em crimes
dessa natureza.

Parágrafo único. Para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou
grave ameaça à pessoa, a concessão do livramento ficará também subordinada à
constatação de condições pessoais que façam presumir que o liberado não voltará a
delinquir.”

São requisitos para concessão do livramento condicional:

Requisitos Objetivos

1 Que a pena privativa de liberdade igual ou superior a dois anos;

2 O primeiro requisito objetivo é o quantum de pena cumprido:

Crime simples, se primário: 1/3 da pena;

Crime simples, se reincidente em crime doloso: 1/2 da pena;

Crime hediondo ou equiparado, desde que não seja reincidente específico: 2/3 da
pena.
Ou seja, exige-se o cumprimento de determinado lapso temporal da pena, isto é, de determinada
fração da pena privativa de liberdade imposta ao condenado.

Vamos relembrar?

No caso de réu não reincidente em crime doloso e bons antecedentes, o condenado


deve cumprir mais de um terço da pena;

Na hipótese de condenado que seja reincidente em crime doloso, a fração é de mais


de metade da pena;

E no caso de condenados por crime hediondo ou equiparado (tráfico de drogas,


tortura e terrorismo) e de tráfico de pessoas, a fração é de mais de dois terços,
desde que não seja reincidente específico.

3 Ter reparado o dano causado pela infração, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo.

O condenado deve reparar o dano. Se não for possível a reparação deverá comprovar
porque não o fez.

Requisitos Subjetivos
Não bastam os requisitos objetivos para a concessão do livramento condicional, é necessário,
ainda, o atendimento de requisitos subjetivos legalmente previstos e atinentes à pessoa do
condenado, são eles:

Bom comportamento durante a execução da pena: refere-se


ao bom comportamento carcerário. Normalmente, é requerido
um boletim informativo que ateste o bom comportamento do
condenado. Possui bom comportamento aquele que não tem
falta grave. Esse requisito necessita de ser comprovado pelo
diretor do estabelecimento prisional, levando em conta o modo
de agir do condenado após o início da execução da pena, não
sendo valorado seu comportamento anterior;

Não cometimento de falta grave nos últimos 12 (doze) meses: é verificado junto ao
presídio se condenado não possui falta grave nos últimos 12 meses;

Bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído: o exercício de atividade


laboral é obrigatório para a concessão do livramento
condicional. Não se confunde com trabalho forçado, que é
proibido pela nossa Constituição (art. 5º, XLVII, “e”, CF). O
preso não é forçado a trabalhar, porém, se não o fizer, será
vedado o benefício da liberdade condicional. É evidente que, se
por problemas do estabelecimento prisional, nenhum trabalho
foi atribuído ao condenado, não poderá ser exigido tal
requisito;

Aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto: nesse


requisito, a exigência é prova de aptidão, e não de um emprego certo ou garantido
após a saída do estabelecimento prisional;

Para o condenado por crime doloso, cometido com violência ou grave ameaça à
pessoa, a constatação de condições pessoais que façam presumir que o liberado não

voltará mais a delinquir: essa constatação deve ser realizada por uma
Comissão Técnica de Classificação, responsável pela
elaboração e fiscalização do programa de individualização da
execução penal. A análise é efetuada com o propósito de
constatar se, em razão das condições pessoais, não há
probabilidade de reincidência pelo condenado. É obrigatório
para crimes cometidos com violência ou grave ameaça à
pessoa, porém, facultativo para os demais delitos;
Não ser reincidente específico em crimes hediondos ou assemelhados: o réu,
reincidente específico, pela prática de delitos hediondos ou
equiparados, tem vedado o benefício do livramento
condicional, tendo que cumprir a pena a ele imposta, de forma
integral.

Livramento e os Crimes Hediondos


Segundo a Lei n.º 8.072/90 (crimes hediondos, tortura, entorpecentes e terrorismo), o
livramento condicional exige cumprimento de dois terços da pena e ausência de reincidência
específica, ou seja, na reincidência em que o agente pratica outro crime da mesma natureza,
com a violação do mesmo artigo.

É necessário mencionar que a Lei n.º 13.964/19 alterou o artigo 112, VI, “a” e o VIII da Lei de
Execução Penal (LEP), que tornou vedado o livramento condicional para condenados por crime
hediondo ou equiparado, com resultado morte (Lei 7210/84).

“Art. 112. A pena privativa de liberdade será executada em forma progressiva com a

transferência para regime menos rigoroso, a ser determinada pelo juiz, quando o
preso tiver cumprido ao menos:

VI – 50% (cinquenta por cento) da pena, se o apenado for: a) condenado pela


prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte, se for primário,
vedado o livramento condicional (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019);

VIII – 70% (setenta por cento) da pena, se o apenado for reincidente em crime
hediondo ou equiparado com resultado morte, vedado o livramento condicional.”

- Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019


Livramento Condicional e Crime Organizado
Já a Lei n.º 12.850/13 teve incluído o § 9º em seu artigo 2º pela Lei n. 13.964/2019, tornando
proibido o livramento condicional para o condenado expressamente em sentença por integrar
organização criminosa ou por crime praticado por meio de organização criminosa, se houver
elementos probatórios que indiquem a manutenção do vínculo associativo:

O condenado expressamente em sentença por integrar organização criminosa ou


por crime praticado por meio de organização criminosa não poderá progredir de
regime de cumprimento de pena ou obter livramento condicional ou outros
benefícios prisionais se houver elementos probatórios que indiquem a manutenção
do vínculo associativo (Incluído pela Lei nº 13.964, de 2019).

Soma das Penas


No caso concreto, pode existir concurso de crimes, unificação das penas e, com isso, será
considerado o somatório das penas para cálculo do livramento condicional.

Art. 84. As penas que correspondem a infrações diversas devem somar-se para efeito do
livramento.

Sendo assim, aquelas penas que já transitaram em julgado, para efeito de aplicação do benefício,
devem ser somadas.
Condições do Livramento Condicional
O livramento, como o próprio nome diz, é condicional, o que acarreta ao condenado cumprir
determinadas condições. Desta forma, durante o tempo que resta cumprir da pena, o condenado
que obteve livramento ficará sujeito ao cumprimento das condições definidas.

Art. 85. A sentença especificará as condições a que fica subordinado o livramento.

O artigo 132 da LEP dispõe que o Juiz especificará as condições a que fica subordinado o
livramento, e arrola, em seus parágrafos, quais são condições obrigatórias, e quais são
facultativas.

Quadro 1 – Condições de Livramento Condicional

Condições Obrigatórias Condições Facultativas

Não mudar de residência sem


Obter ocupação lícita, dentro de comunicação ao Juiz e à
prazo razoável se for apto para autoridade incumbida da
o trabalho. observação cautelar e de
proteção.

Comunicar periodicamente ao Recolher-se à habitação em


Juiz sua ocupação. hora fixada.

Não mudar do território da Não frequentar determinados


comarca do Juízo da execução, lugares.
sem prévia autorização deste.

Fonte: Adaptado de BRASIL, 1984

Cumpre registrar que o Juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público, da Defensoria


Pública ou mediante representação do Conselho Penitenciário, e ouvido o liberado, poderá
modificar as condições especificadas na sentença (art. 144, LEP) (BRASIL, 1984).

Revogação do Livramento Condicional


Há hipóteses de revogação obrigatória, e hipóteses em que a revogação é uma faculdade do juiz,
que pode, ao invés de revogar, advertir o liberado ou agravar as condições do livramento,
conforme o Art. 140, parágrafo único, da LEP. Vejamos:

Revogação Obrigatória

O livramento será revogado obrigatoriamente se o liberado vem


a ser condenado a pena privativa de liberdade, em sentença
irrecorrível, por crime anterior ou cometido durante a vigência
do benefício – (CP, Art. 86). (BRASIL, 1940, n.p.);

Condenação a pena privativa de liberdade, em sentença irrecorrível, por crime


cometido durante a vigência do livramento;

Condenação a pena privativa de liberdade, em sentença irrecorrível, por crime


anterior, após se proceder ao somatório das penas (Art. 84, CP). (BRASIL, 1940,
n.p.).
Revogação Facultativa

“O juiz poderá, também, revogar o livramento se houver descumprimento das

condições impostas ou houver condenação irrecorrível, por crime ou


contravenção, a pena que não se já privativa de liberdade.”

- CP, art. 87 | BRASIL, 1940, n.p.

Em resumo, a revogação será facultativa se houver:

Descumprimento de qualquer das obrigações constantes da


sentença;

Condenação irrecorrível por crime ou contravenção a pena que não seja privativa de
liberdade.

Segundo o artigo 140, parágrafo único da LEP, mantido o livramento condicional, na hipótese da
revogação facultativa, o Juiz deverá advertir o liberado ou agravar as condições.

Legitimidade para Requerer a Revogação


O Ministério Público, mediante representação do Conselho Penitenciário, ou o Juiz, de ofício,
ouvido o liberado.
Efeitos da Revogação – (CP, Art. 88)

Por crime praticado durante o benefício – Não se desconta o tempo em que o


sentenciado esteve solto e deve cumprir integralmente a sua pena, só podendo obter
novo livramento com relação à nova condenação;

Por crime anterior ao benefício – É descontado o tempo em que o sentenciado


esteve solto, devendo cumprir preso apenas o tempo que falta para completar o
período de prova. Além disso, terá direito a somar o que resta da pena com a nova
condenação, calculando o livramento sobre esse total – (CP, art. 84 e LEP, art. 141)
(BRASIL, 1940; BRASIL, 1894, n.p.);

Por descumprimento das condições impostas – Não é descontado o tempo em que


esteve solto e não pode obter novo livramento em relação a essa pena, uma vez que
traiu a confiança do Juízo.

Extinção

“Art. 89. O juiz não poderá declarar extinta a pena, enquanto não passar em julgado

a sentença em processo a que responde o liberado, por crime cometido na vigência


do livramento.

Art. 90. Se até o seu término o livramento não é revogado, considera-se extinta a
pena privativa de liberdade.”

Se o condenado estiver respondendo a processo por crime cometido durante a vigência do


livramento, não será declarada a extinção da pena; trata-se de prorrogação do período de prova
“a fim de se constatar se não era o caso de revogação obrigatória (Art. 86, I, CP)” (NUCCI, 2020,
p. 908).

Não dando causa à revogação do livramento e não sendo caso de prorrogação, ao término do
período de prova está extinção a pena.

Procedimento para Concessão


Após concedido o livramento condicional, especificadas as condições ou obrigações que terá
que submeter-se o liberado, será expedida carta de livramento com cópia integral da sentença
em duas vias, remetendo-a à autoridade administrativa incumbida da execução e outra ao
Conselho Penitenciário, conforme o Art. 136 da LEP.

Figura 5 – Carteira de Livramento Condicional


Fonte: reprodução

#ParaTodosVerem: trata-se de uma foto de uma carteira de livramento


condicional. É uma caderneta, ou seja, um pequeno livrinho branco em
brochura, com tarja verde e amarela, e está em cima de uma mesa com um
computador (aparece apenas o teclado). Nesta carteira, está escrito em sua capa
logo em cima o símbolo do Estado do Piauí e ao lado escrito: “Estado do Piauí-
Secretaria do estado da Justiça - Conselho Penitenciário do Piauí. Ao centro:
“Livramento Condicional” e, embaixo, escrito, em caneta azul, o número de
matrícula do liberado: “070/2017”. Logo abaixo, está escrito “Caderneta do
Liberado. Fim da descrição.

Após concedido o livramento condicional, especificadas as condições ou obrigações que terá


que submeter-se o liberado, será expedida carta de livramento com cópia integral da sentença
em duas vias, remetendo-a à autoridade administrativa incumbida da execução e outra ao
Conselho Penitenciário, conforme o Art. 136 da LEP.

Logo depois, será designada uma solenidade, uma data para a cerimônia do livramento
condicional, que será realizada no dia marcado pelo presidente do Conselho Penitenciário no
estabelecimento onde está sendo cumprida a pena, cuja sentença será lida abertamente para o
liberando, na presença dos demais condenados, pelo presidente do Conselho Penitenciário ou
por um membro por ele designado, de acordo com o Art. 137, I da LEP.

O objetivo desta solenidade é mostrar ao liberando que ele conquistou antecipadamente o seu
direito de retornar a sociedade, para ressocializar-se plenamente em comunidade, no seio
familiar e gozando da totalidade da sua dignidade. Ao mesmo tempo, estimulando os demais
condenados, através do exemplo da cooperação, ressocialização e bom comportamento no
sistema carcerário, que também, poderão ser beneficiados pelo livramento.

A autoridade administrativa apresentará ao liberando, a termo, as condições impostas na


sentença de livramento, perguntando-lhe se está de acordo com as condições, devendo o
liberando expressar-se claramente que aceita as condições para beneficiar-se do livramento
condicional.

Passos do Procedimento para Concessão do Livramento Condicional


O pedido de livramento condicional segue os passos:
Apresentação do requerimento pelo sentenciado através de
advogado;

Oitiva do diretor do estabelecimento penitenciário, do ministério público e do


defensor;

Relatório minucioso do diretor do estabelecimento penal, nos moldes do art. 714 do


CPP;

Deferido o livramento, serão impostas condições e expedida a carta de livramento;

Cerimônia do livramento: leitura da sentença, explicação das condições e causas de


revogação;

Início do período de prova: o liberado fica sob vigilância;

Audiência admonitória presidida pelo conselho penitenciário ou designação


judicial: (1) se aceitar: recebe caderneta com identificação e condições; (2) se não
aceitar: sem efeito.

Livro
Prática Penal para o Exame da OAB
MESSA, A. F. Prática penal para o exame da OAB. 13ª edição. Editora
Saraiva, 2021. p. 177.
Necessidade de Parecer do Conselho Penitenciário
Há dois posicionamentos:

1 É necessário, porque:

Não é possível afastar o conselho de decisão de antecipação


provisória da liberdade, como entidade fiscalizadora e
colaboradora da execução penal;

Há previsão expressa da necessidade do parecer no art. 131 da LEP, que, inclusive, é


específico sobre livramento condicional.

2 Não é necessário

Parecer do Conselho Penitenciário, nos termos do art. 70 da LEP - posição na OAB.

Estrutura da Peça Prática de Livramento Condicional

Endereçamento: juiz da execução federal ou estadual, nos termos do art. 66, inciso
III, e da LEP;

Fundamento legal da peça prática: você deve fundamentar a peça prática no artigo
83 do CP e no Art. 131 da Lei de Execução Penal;

Nomenclatura: você deve utilizar a seguinte nomenclatura: “requerente”, ou


“sentenciado”, ou ainda “condenado” (não pode utilizar “réu ou acusado”, pois
lembre-se já houve condenação e parte de cumprimento de pena);

Preâmbulo: a peça deve iniciar com o nome e qualificação do requerente (não


precisa da qualificação completa, pois não é peça inicial, ou seja, colocar “já
qualificado”); (b) capacidade postulatória (por seu advogado...); (c) fundamento
legal (artigo 83 do CP e no art. 131 da Lei de Execução Penal; (d) nome da peça
(requerer o Livramento Condicional) ; (e) frase final (pelos motivos de fato e de
direito a seguir expostos: Dos fatos: narrar os fatos e infração penal praticada, sem
inventar dados, e o andamento processual até o momento do pedido do livramento
condicional. Do direito: comprovar a presença dos requisitos objetivos (fração) e
subjetivos (conduta, trabalho) para a concessão do livramento condicional. Do
pedido: requerer a concessão do livramento condicional e expedição do alvará de
soltura.

Parte final: termos em que, pede deferimento; local e data e Nome do advogado e

OAB.

Importante!
A seguir é possível realizar o download de um modelo de modelo de
livramento condicional.

Modelo de Livramento Condicional.docx


15.8 KB
2/3

ʪ Material Complementar

Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Vídeos

Livramento Condicional x Progressão de Regime

Livramento condicional x progressão de regime


Curso de Execução Penal Teoria e Prática – Aula 5
(Instrumentos Redução de danos)

Curso de Execução Penal Teoria e Prática- Aula 5(Instrumentos R…

Curso de Execução Penal Teoria e Prática – Aula 5


(Instrumentos Redução de danos)

Clique no botão para conferir o vídeo indicado.

ASSISTA

Leitura

Como se Inicia um Processo de Execução Penal?


Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE

STJ Fixa Regras para Progressão de Regime de Presos por


Crime Hediondo

Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE

As Mudanças Efetivadas pela Lei 13.964/2019 (Pacote


Anticrime) no Instituto do Livramento Condicional

Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE
3/3

ʪ Referências

BRASIL. Decreto-Lei n.º 2.848, de 7 de dezembro de 1940. Código Penal. Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm#:~:text=LEI%20N%C2%BA%207.210%
2C%20DE%2011%20DE%20JULHO%20DE%201984.&text=Institui%20a%20Lei%20de%20Exec
u%C3%A7%C3%A3o%20Penal.&text=Art.,do%20condenado%20e%20do%20internado>.
Acesso em: 24/03/2023.

BRASIL. Lei n.º 7.210, de 11 de julho de 1984. Lei de Execução Penal. Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7210.htm#:~:text=LEI%20N%C2%BA%207.210%
2C%20DE%2011%20DE%20JULHO%20DE%201984.&text=Institui%20a%20Lei%20de%20Exec
u%C3%A7%C3%A3o%20Penal.&text=Art.,do%20condenado%20e%20do%20internado>.
Acesso em: 24/03/2023.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em:


<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em:
24/03/2023.

BRASIL. Lei n.º 8.072, de 25 de julho de 1990. Dispõe sobre os crimes hediondos, nos termos do
art. 5º, inciso XLIII, da Constituição Federal, e determina outras providências. Disponível em:
<https://portal.stf.jus.br/jurisprudencia/sumariosumulas.asp?base=26&sumula=3352>. Acesso
em: 24/03/2023.

BRASIL. Lei n.º 10.792, de 1 de dezembro de 2003. Altera a Lei n.º 7.210, de 11 de junho de 1984.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.792.htm>. Acesso em:
24/03/2023.
BRASIL. Aplicação das Súmulas no STF. Supremo Tribunal Federal. 2003. Disponível em:
<https://portal.stf.jus.br/jurisprudencia/sumariosumulas.asp?base=30&sumula=2499>. Acesso
em: 24/03/2023.

BRASIL. Lei n.º 12.850, de 2 de agosto de 2013. Define organização criminosa e dispõe sobre a
investigação criminal, os meios de obtenção da prova, infrações penais correlatas e o
procedimento criminal; altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal);
revoga a Lei nº 9.034, de 3 de maio de 1995; e dá outras providências. Disponível em:
<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2013/lei/l12850.htm>. Acesso em:
24/03/2023.

BRASIL. Súmula Vinculante 56. Supremo Tribunal Federal. 2016. Disponível em:
<https://portal.stf.jus.br/jurisprudencia/sumariosumulas.asp?base=26&sumula=3352>. Acesso
em: 24/03/2023.

BRASIL. Lei n.º 13.964, de 24 de dezembro de 2019. Aperfeiçoa a legislação penal e processual
penal. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2019-
2022/2019/lei/l13964.htm>. Acesso em: 24/03/2023.

DEZEM, G. M. et al. Prática Jurídica – Penal. 16. ed. São Paulo: Saraiva, 2021.

Gloeckner, R. J. Nulidades no processo penal. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. (e-book).

LOPES Jr., A. Direito processual penal. 15. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. (e-book).

MARCÃO, R. Curso de processo penal. 4. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2018. (e-book).

NUCCI, G. S. Prática Forense Penal. São Paulo: Grupo Gen, 2022.

NUCCI, G. S. Curso de direito processual penal. 19. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2022. (e-book).

PACELLI, E. Curso de processo penal. 22. ed. São Paulo: Atlas, 2018. (e-book).
RANGEL, P. Direito processual penal. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2019. (e-book).

Você também pode gostar