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JULGADOS – DIREITO PENAL - GERAL

Em adequação ao entendimento do Supremo Tribunal Federal, o inadimplemento da pena de multa obsta a extinção da
punibilidade do apenado
Resumo do julgado
Uma vez extinta, pelo seu cumprimento, a pena privativa de liberdade ou a restritiva de direitos que a substituir, o inadimplemento
da pena de multa não obsta a extinção da punibilidade do apenado, porquanto, após a nova redação dada ao art. 51 do Código Penal,
pela Lei n. 9.268/1996, a pena pecuniária passou a ser considerada dívida de valor, adquirindo caráter extrapenal. Porém, o Supremo
Tribunal Federal, ao julgar a ADI n. 3.150/DF, declarou que, à luz do preceito estabelecido pelo inciso XLVI do art. 5º da
Constituição Federal, a multa, ao lado da privação de liberdade e de outras restrições (perda de bens, prestação social alternativa e
suspensão ou interdição de direitos), é espécie de pena aplicável em retribuição e em prevenção à prática de crimes, não perdendo
sua natureza de sanção penal.
Em recente julgado, a Sexta Turma deste Superior Tribunal de Justiça já alterou o entendimento sobre a matéria, acompanhando a
Corte Suprema. Dessarte, as declarações de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade são dotadas de eficácia contra todos e
efeito vinculante em relação aos órgãos do Poder Judiciário. Assim, não se pode mais declarar a extinção da punibilidade pelo
cumprimento integral da pena privativa de liberdade quando pendente o pagamento da multa criminal. AgRg no REsp 1.850.903-
SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 28/04/2020, DJe 30/04/2020. (Info 671)

O cumprimento de pena imposta em outro processo, ainda que em regime aberto ou em prisão domiciliar, impede o curso da
prescrição executória
Resumo do julgado
De acordo com o parágrafo único, do artigo 116, do Código Penal, "depois de passada em julgado a sentença condenatória, a
prescrição não corre durante o tempo em que o condenado está preso por outro motivo". Ao interpretar o referido dispositivo legal,
esta Corte Superior de Justiça pacificou o entendimento de que o cumprimento de pena imposta em outro processo, ainda que em
regime aberto ou em prisão domiciliar, impede o curso da prescrição executória. Assim, não há que se falar em fluência do prazo
prescricional, o que impede o reconhecimento da extinção de sua punibilidade. Quanto ao ponto, é imperioso destacar que o fato de
o prazo prescricional não correr durante o tempo em que o condenado está preso por outro motivo não depende da unificação das
penas. AgRg no RHC 123.523-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 13/04/2020, DJe
20/04/2020. (Info 970)

MP é quem deve executar a pena de multa e, apenas se ficar inerte por mais de 90 dias, essa legitimidade é transferida para
a Fazenda Pública

Resumo do julgado
O Ministério Público possui legitimidade para propor a cobrança de multa decorrente de sentença penal condenatória transitada em
julgado, com a possibilidade subsidiária de cobrança pela Fazenda Pública.
Quem executa a pena de multa?
• Prioritariamente: o Ministério Público, na vara de execução penal, aplicando-se a LEP.
• Caso o MP se mantenha inerte por mais de 90 dias após ser devidamente intimado: a Fazenda Pública irá executar, na vara de
execuções fiscais, aplicando-se a Lei nº 6.830/80.
STF. Plenário. ADI 3150/DF, Rel. para acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 12 e 13/12/2018 (Info 927).
STF. Plenário. AP 470/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 12 e 13/12/2018 (Info 927).

Obs: a Súmula 521-STJ fica superada e deverá ser cancelada. Súmula 521-STJ: A legitimidade para a execução fiscal de multa
pendente de pagamento imposta em sentença condenatória é exclusiva da Procuradoria da Fazenda Pública.

PACOTE ANTICRIME
Onde tramita a execução da pena de multa?
No juízo da execução penal.
O art. 51 do Código Penal foi alterado para deixar expressa essa competência:

CÓDIGO PENAL
Antes da Lei 13.964/2019
Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será considerada dívida de valor, aplicando-se-lhes as normas da
legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição.

ATUALMENTE
Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será executada perante o juiz da execução penal e será considerada
dívida de valor, aplicáveis as normas relativas à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e
suspensivas da prescrição.
Diante desta alteração, permanece o entendimento do STF acima exposto?
Ainda não temos certeza de como o STF irá decidir.
Se você observar a redação anterior do art. 51 verá que ele não falava em legitimidade prioritária do Ministério Público e subsidiária
da Fazenda Pública. Também não havia na lei esse prazo de 90 dias. Igualmente, não havia essa distinção de dois foros competentes.
Isso tudo foi uma criação do STF sem previsão na lei.
Assim, não se pode afirmar que a alteração legislativa promovida pelo Pacote Anticrime modificou o entendimento do STF porque
ele não estava expressamente baseado na lei.
Para fins de concurso, recomendo que saiba o que o STF decidia e, principalmente, que memorize a nova redação do art. 51.

MODULAÇÃO DOS EFEITOS


O STF, em embargos de declaração, decidiu modular os efeitos do entendimento acima e afirmou que existe competência
concorrente da Procuradoria da Fazenda Pública quanto às execuções findas ou iniciadas até a data do trânsito em julgado da
presente ação direta de inconstitucionalidade (STF. Plenário. ADI 3150 ED, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 20/04/2020)
Sanção penal
Sanção penal é a resposta dada pelo Estado à pessoa que praticou uma infração penal.
Existem duas espécies de sanção penal:
1) Pena.
2) Medida de segurança.
Espécies de pena
As penas podem ser de três subespécies:
1.1 Penas privativas de liberdade;
1.2 Penas restritivas de direito;
1.3 Multa.
Espécies de medidas de segurança
As medidas de segurança, por sua vez, podem ser:
2.1 Detentiva
2.2 Restritiva

Multa
Multa é uma espécie de pena por meio da qual o condenado fica obrigado a pagar uma quantia em dinheiro que será revertida em
favor do Fundo Penitenciário.

Pagamento da multa
A pena de multa é fixada na própria sentença condenatória.
Depois que a sentença transitar em julgado, o condenado terá um prazo máximo de 10 dias para pagar a multa imposta (art. 50 do
CP).
O Código prevê a possibilidade de o condenado requerer o parcelamento da multa em prestações mensais, iguais e sucessivas,
podendo o juiz autorizar, desde que as circunstâncias justifiquem (ex: réu muito pobre, multa elevadíssima etc.).
O parcelamento deverá ser feito antes de esgotado o prazo de 10 dias.
O Juiz, antes de decidir, poderá determinar diligências para verificar a real situação econômica do condenado e, ouvido o Ministério
Público, fixará o número de prestações (art. 169, § 1º da LEP).
Se o condenado for impontual ou se melhorar de situação econômica, o Juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público,
poderá revogar o benefício (art. 169, § 2º da LEP).

O que acontece caso o condenado não pague nem parcele a multa no prazo de 10 dias?
• Antes da Lei nº 9.268/96: se o condenado, deliberadamente, deixasse de pagar a pena de multa, ela deveria ser convertida em pena
de detenção. Em outras palavras, a multa era transformada em pena privativa de liberdade.
• A Lei nº 9.268/96 alterou o art. 51 do CP e previu que, se a multa não for paga, ela será considerada dívida de valor e deverá ser
exigida por meio de execução (não se permite mais a conversão da pena de multa em detenção).
Antes da Lei 9.268/96 Depois da Lei 9.268/96
Art. 51. A multa converte-se em pena de detenção, Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenatória,
quando o condenado solvente deixa de paga-lá ou a multa será considerada dívida de valor, aplicando-se-
frustra a sua execução. lhes as normas da legislação relativa à dívida ativa da
Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas
interruptivas e suspensivas da prescrição.

Multa permaneceu com caráter penal


Importante esclarecer que, mesmo com essa mudança feita pela Lei nº 9.268/96, a multa continua tendo caráter de sanção criminal,
ou seja, permanece sendo uma pena, por força do art. 5º, XLVI, “c”, da CF/88:
Art. 5º (...)
XLVI - a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:
c) multa;
Assim, a única coisa que a Lei nº 9.268/96 fez foi mudar a forma de cobrança da multa não paga: antes, ela virava pena de detenção;
agora, deve ser cobrada por meio de execução.

Quem executa a pena de multa?

STF:
STJ: Fazenda Pública Prioritariamente: o Ministério Público.
Subsidiariamente: a Fazenda Pública
O STJ sempre sustentou que, como se trata de dívida de A Lei nº 9.268/96, ao considerar a multa penal como
valor, a pena de multa deveria ser executada pela dívida de valor, não retirou dela o caráter de sanção
Fazenda Pública por meio de execução fiscal que criminal.
tramita na vara de execuções fiscais.
Diante de tal constatação, não há como retirar do MP a
O rito a ser aplicado seria o da Lei nº 6.830/80. competência para a execução da multa penal,
considerado o teor do art. 129 da CF/88, segundo o
A execução da pena de multa ocorreria como se
qual é função institucional do MP promover
estivesse sendo cobrada uma multa tributária.
privativamente a ação penal pública, na forma da lei.
Não se aplica a Lei nº 7.210/84 (LEP).
Promover a ação penal significa conduzi-la ao longo do
processo de conhecimento e de execução, ou seja, buscar
a condenação e, uma vez obtida esta, executá-la. Caso
Esse era o entendimento pacífico do STJ, tanto que foi
contrário, haveria uma interrupção na função do titular da
editada uma súmula nesse sentido.
ação penal.
Ademais, o art. 164 da LEP é expresso ao reconhecer
Súmula 521-STJ: A legitimidade para a execução fiscal essa competência do MP. Esse dispositivo não foi
de multa pendente de pagamento imposta em sentença revogado expressamente pela Lei nº 9.268/96.
condenatória é exclusiva da Procuradoria da Fazenda
Vale ressaltar, entretanto, que, se o titular da ação
Pública.
penal, mesmo intimado, não propuser a execução da
multa no prazo de 90 dias, o juiz da execução criminal
deverá dar ciência do feito ao órgão competente da
Fazenda Pública (federal ou estadual, conforme o caso)
para a respectiva cobrança na própria vara de execução
fiscal, com a observância do rito da Lei 6.830/80.
Quem executa: Fazenda Pública. Quem executa:
Juízo: vara de execuções fiscais. • Prioritariamente: o Ministério Público, na vara de
execução penal, aplicando-se a LEP.
Legislação: Lei nº 6.830/80.
• Caso o MP se mantenha inerte por mais de 90 dias
após ser devidamente intimado: a Fazenda Pública irá
executar, na vara de execuções fiscais, aplicando-se a
Lei nº 6.830/80.

Onde tramita essa execução?


No juízo da execução penal.
ATENÇÃO: alteração recente do art. 51 pela Lei 13.964/2019 ("Pacote Anticrime").
O art. 51 do Código Penal foi alterado para deixar expressa essa competência:
CÓDIGO PENAL
Antes da Lei 13.964/2019 ATUALMENTE
Art. 51. Transitada em julgado a sentença Art. 51. Transitada em julgado a sentença
condenatória, a multa será considerada dívida de valor, condenatória, a multa será executada perante o juiz da
aplicando-se-lhes as normas da legislação relativa à execução penal e será considerada dívida de valor,
dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que aplicáveis as normas relativas à dívida ativa da
concerne às causas interruptivas e suspensivas da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas
prescrição. interruptivas e suspensivas da prescrição.

O que decidiu o STF sobre a legitimidade de quem executa?


O Ministério Público possui legitimidade para propor a cobrança de multa decorrente de sentença penal condenatória
transitada em julgado, com a possibilidade subsidiária de cobrança pela Fazenda Pública.
STF. Plenário. ADI 3150/DF, Rel. para acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 12 e 13/12/2018 (Info 927).
STF. Plenário. AP 470/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 12 e 13/12/2018 (Info 927).

Exemplo:
João foi sentenciado por roubo e o juiz de direito (Justiça Estadual) o condenou a 4 anos de reclusão e mais 10 dias-multa no valor
de meio salário mínimo cada.
Depois do trânsito em julgado, o condenado foi intimado para pagar a pena de multa no prazo de 10 dias, mas não o fez.
Diante disso, o escrivão da vara irá fazer uma certidão na qual constarão as informações sobre a condenação e o valor da multa.
• Para o STJ, o magistrado deveria remeter a certidão para a Procuradoria Geral do Estado e um dos Procuradores do Estado iria
ajuizar, em nome do Estado, uma execução fiscal que tramitaria na vara de execuções fiscais (não era na vara de execuções penais).
• Agora, com a decisão do STF, o magistrado deverá intimar o Ministério Público e o Parquet irá propor a execução da multa na
vara de execução penal. Caso o MP, devidamente intimado, não proponha a execução da multa no prazo de 90 dias, o juiz da
execução criminal deverá dar ciência do feito ao órgão competente da Fazenda Pública (federal ou estadual, conforme o caso) para a
respectiva cobrança na própria vara de execução fiscal, com a observância do rito da Lei 6.830/80.
Obs: se João tivesse sido condenado pela Justiça Federal, quem iria ingressar com a execução seria prioritariamente o MPF e,
apenas subsidiariamente, a União, por intermédio da Procuradoria da Fazenda Nacional (PFN).

O que acontece com o entendimento do STJ manifestado na Súmula 521?


Fica superado e a súmula será cancelada. Isso porque a decisão do STF foi proferida em ação direta de inconstitucionalidade,
possuindo, portanto, eficácia erga omnes e efeito vinculante (art. 102, § 2º, da CF/88).

NOVIDADE LEGISLATIVA (2019)


LEI 13.964/2019 (PACOTE ANTICRIME): ALTERAÇÕES NO CÓDIGO PENAL
COMPETÊNCIA PARA EXECUTAR A PENA DE MULTA (ART. 51 DO CP)
Quem executa a pena de multa?
• Prioritariamente: o Ministério Público, na vara de execução penal, aplicando-se a LEP.
• Caso o MP se mantenha inerte por mais de 90 dias após ser devidamente intimado: a Fazenda Pública irá executar, na vara de
execuções fiscais, aplicando-se a Lei nº 6.830/80.

Foi o que decidiu o STF:


O Ministério Público possui legitimidade para propor a cobrança de multa decorrente de sentença penal condenatória transitada em
julgado, com a possibilidade subsidiária de cobrança pela Fazenda Pública.
STF. Plenário. ADI 3150/DF e AP 470/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgados em 12 e 13/12/2018 (Info 927).

Onde tramita essa execução?


No juízo da execução penal.
O art. 51 do Código Penal foi alterado para deixar expressa essa competência:
CÓDIGO PENAL
Antes da Lei 13.964/2019 ATUALMENTE
Art. 51. Transitada em julgado a sentença Art. 51. Transitada em julgado a sentença
condenatória, a multa será considerada dívida de condenatória, a multa será executada perante o juiz
valor, aplicando-se-lhes as normas da legislação da execução penal e será considerada dívida de valor,
relativa à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive aplicáveis as normas relativas à dívida ativa da
no que concerne às causas interruptivas e Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas
suspensivas da prescrição. interruptivas e suspensivas da prescrição.

Em regra, não se aplica o princípio da insignificância ao furto qualificado, salvo quando presentes circunstâncias
excepcionais que recomendam a medida
Resumo do julgado
A despeito da presença de qualificadora no crime de furto possa, à primeira vista, impedir o reconhecimento da atipicidade material
da conduta, a análise conjunta das circunstâncias pode demonstrar a ausência de lesividade do fato imputado, recomendando a
aplicação do princípio da insignificância.
STJ. 5ª Turma. HC 553872-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 11/02/2020 (Info 665).
NOÇÕES GERAIS SOBRE O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
Origem
Quem primeiro tratou sobre o princípio da insignificância no direito penal foi Claus Roxin, em 1964.
Esse princípio busca raízes no brocardo civil minimis non curat praetor (algo como “o pretor – magistrado à época – não cuida de
coisas sem importância).
Terminologia
Também é chamado de “princípio da bagatela” ou “infração bagatelar própria”.
Previsão legal
O princípio da insignificância não tem previsão legal no direito brasileiro.
Trata-se de uma criação da doutrina e da jurisprudência.

Natureza jurídica
Para a posição majoritária, o princípio da insignificância é uma causa supralegal de exclusão da tipicidade material.

Tipicidade material
A tipicidade penal divide-se em:
a) Tipicidade formal (ou legal): é a adequação (conformidade) entre a conduta praticada pelo agente e a conduta descrita
abstratamente na lei penal incriminadora.
b) Tipicidade material (ou substancial): é a lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico protegido pelo tipo penal.
Verificar se há tipicidade formal significa examinar se a conduta praticada pelo agente amolda-se ao que está previsto como crime
na lei penal.
Verificar se há tipicidade material consiste em examinar se essa conduta praticada pelo agente e prevista como crime produziu
efetivamente lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico protegido pelo tipo penal.
Primeiro se verifica se a conduta praticada pelo agente se enquadra em algum crime descrito pela lei penal.
• Se não se amoldar, o fato é formalmente atípico.
• Se houver essa correspondência, o fato é formalmente típico.
• Sendo formalmente típico, é analisado se a conduta produziu lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico que este tipo penal protege.
• Se houver lesão ou perigo de lesão, o fato é também materialmente típico.
• Se não houver lesão ou perigo de lesão, o fato é, então, materialmente atípico.
Princípio da insignificância e tipicidade material
Se o fato for penalmente insignificante, significa que não lesou nem causou perigo de lesão ao bem jurídico. Logo, aplica-se o
princípio da insignificância e o réu é absolvido por atipicidade material, com fundamento no art. 386, III do CPP.
O princípio da insignificância atua, então, como um instrumento de interpretação restritiva do tipo penal.

Requisitos objetivos (vetores) para a aplicação do princípio


O Min. Celso de Mello (HC 84.412-0/SP) idealizou quatro requisitos objetivos para a aplicação do princípio da insignificância,
sendo eles adotados pela jurisprudência do STF e do STJ.
Segundo a jurisprudência, somente se aplica o princípio da insignificância se estiverem presentes os seguintes requisitos
cumulativos:
a) mínima ofensividade da conduta;
b) nenhuma periculosidade social da ação;
c) reduzido grau de reprovabilidade do comportamento; e
d) inexpressividade da lesão jurídica provocada.

Qual é a diferença entre cada um desses requisitos?


Não sei. Acho que ninguém sabe ao certo. Os julgados que mencionam esses requisitos não explicam o que seja cada um deles, até
porque alguns parecem se confundir. A doutrina critica esses critérios.
Paulo Queiroz, por exemplo, afirma que esses requisitos são claramente tautológicos e apenas dizem a mesma coisa com palavras
diferentes, argumentando em círculo (Curso de Direito Penal. Salvador: Juspodivm, 2014, p. 89).
Desse modo, não se preocupe em diferenciá-los, mas é importante ter uma noção dos quatro para fins de concurso.

CASO CONCRETO JULGADO PELO STJ


Feita esta breve revisão, imagine a seguinte situação hipotética:
Adriana e Janaína, em concurso de pessoas, subtraíram dois pacotes de linguiça, um litro de vinho, uma lata de refrigerante e quatro
salgados de um supermercado.
Os bens subtraídos foram avaliados em R$ 69,23.
As duas foram presas no estacionamento do supermercado e não houve prejuízo para o estabelecimento.
O Ministério Público ofereceu denúncia contra elas pela prática de furto qualificado, tipificado no art. 155, § 4º, IV, do Código
Penal:
Art. 155. Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
(...)
§ 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido:
(...)
IV - mediante concurso de duas ou mais pessoas.
A defesa pediu a absolvição com base na aplicação do princípio da insignificância.
O juiz, contudo, negou o pedido argumentando que não se pode aplicar o princípio da insignificância no caso de furto qualificado.

É possível aplicar o princípio da insignificância em caso de furto qualificado?


Em regra, não. Como regra, a aplicação do princípio da insignificância tem sido rechaçada nas hipóteses de furto qualificado, tendo
em vista que tal circunstância denota, em tese, maior ofensividade e reprovabilidade da conduta.
Deve-se, todavia, considerar as circunstâncias peculiares de cada caso concreto, de maneira a verificar se, diante do quadro
completo do delito, a conduta do agente representa maior reprovabilidade a desautorizar a aplicação do princípio da insignificância.
No caso concreto, a 5ª Turma do STJ aplicou o princípio da insignificância e absolveu as acusadas. Afirmou-se que “muito embora
a presença da qualificadora possa, à primeira vista, impedir o reconhecimento da atipicidade material da conduta, a análise conjunta
das circunstâncias demonstra a ausência de lesividade do fato imputado, recomendando a aplicação do princípio da insignificância.”
A despeito da presença de qualificadora no crime de furto possa, à primeira vista, impedir o reconhecimento da atipicidade
material da conduta, a análise conjunta das circunstâncias pode demonstrar a ausência de lesividade do fato imputado,
recomendando a aplicação do princípio da insignificância.
STJ. 5ª Turma. HC 553.872-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 11/02/2020 (Info 665).

Crimes tributários estaduais e o limite de 20 mil reais


Resumo do julgado
Não pode ser aplicado para fins de incidência do princípio da insignificância nos crimes tributários estaduais o parâmetro de R$
20.000,00 (vinte mil reais), estabelecido no art. 20 da Lei 10.522/2002, devendo ser observada a lei estadual vigente em razão da
autonomia do ente federativo.
STJ. 5ª Turma. AgRg-HC 549.428-PA. Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 19/05/2020.

O princípio da insignificância pode ser aplicado no caso de crimes tributários e no descaminho?


SIM. É plenamente possível que incida o princípio da insignificância tanto nos crimes contra a ordem tributária previstos na Lei nº
8.137/90 como também no caso do descaminho (art. 334 do CP).
O descaminho é também considerado um crime contra a ordem tributária, apesar de estar previsto no art. 334 do Código Penal e não
na Lei nº 8.137/90.

Existe algum limite máximo de valor para que possa ser aplicado o princípio da insignificância nos crimes tributários?
SIM. A jurisprudência criou a tese de que nos crimes tributários, para decidir se incide ou não o princípio da insignificância, será
necessário analisar, no caso concreto, o valor dos tributos que deixaram de ser pagos.

E qual é, então, o valor máximo considerado insignificante no caso de crimes tributários?


20 mil reais.
Assim, se o montante do tributo que deixou de ser pago for igual ou inferior a 20 mil reais, não há crime tributário (incluindo
descaminho), aplicando-se o princípio da insignificância.

Qual é o parâmetro para se adotar esse valor?


Esse valor foi fixado pela jurisprudência tendo como base a Portaria MF nº 75, de 29/03/2012, na qual o Ministro da Fazenda
determinou, em seu art. 1º, inciso II, “o não ajuizamento de execuções fiscais de débitos com a Fazenda Nacional, cujo valor
consolidado seja igual ou inferior a R$ 20.000,00 (vinte mil reais).”
Em outros termos, essa Portaria determina que, até o valor de 20 mil reais, os débitos inscritos como Dívida Ativa da União não
serão executados.
Com base nisso, a jurisprudência construiu o seguinte raciocínio: ora, não há sentido lógico permitir que alguém seja processado
criminalmente pela falta de recolhimento de um tributo que nem sequer será cobrado no âmbito administrativo-tributário. Se a
própria “vítima” não irá cobrar o valor, não faz sentido aplicar o direito penal contra o autor desse fato.
Vale lembrar que o direito penal é a ultima ratio. Se a Administração Pública entende que, em razão do valor, não vale a pena
movimentar a máquina judiciária para cobrar a quantia, com maior razão também não se deve iniciar uma ação penal para punir o
agente.

Esse valor de 20 mil reais é adotado tanto pelo STF como pelo STJ?
SIM.
Incide o princípio da insignificância aos crimes tributários federais e de descaminho quando o débito tributário verificado
não ultrapassar o limite de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a teor do disposto no art. 20 da Lei n. 10.522/2002, com as
atualizações efetivadas pelas Portarias n. 75 e 130, ambas do Ministério da Fazenda.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.709.029/MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 28/02/2018 (recurso repetitivo).

Aplica-se o princípio da insignificância ao crime de descaminho quando o montante do tributo não recolhido for inferior ao
limite de R$ 20.000,00 — valor estipulado pelo art. 20, Lei 10.522/2002, atualizado pelas portarias 75 e 130/2012, do
Ministério da Fazenda.
STF. 1ª Turma. HC 137595 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 07/05/2018.
STF. 2ª Turma. HC 155347/PR, Rel. Min. Dias Tóffoli, julgado em 17/4/2018 (Info 898).

Diante disso, imagine a seguinte situação hipotética:


O Ministério Público Estadual do Pará ofereceu uma denúncia em face dos sócios da Empresa X, porque teriam deixado de recolher
ICMS na saída de mercadorias durante o exercício de 2003.
Na época da constituição definitiva do crédito tributário, 02/09/2005, o valor atualizado, excluído juros e multa, era de R$
14.700,34.
Diante disso, houve a impetração de Habeas Corpus pleiteando o trancamento da ação penal em razão da aplicação do princípio da
insignificância com fundamento no limite de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) previsto no art. 20 da Lei n. 10.522/2002.
Após a discussão ser decidida nas instâncias ordinárias, o tema chegou até o STJ.

O que ele decidiu?


Não pode ser aplicado para fins de incidência do princípio da insignificância nos crimes tributários estaduais o parâmetro de
R$ 20.000,00 (vinte mil reais), estabelecido no art. 20 da Lei 10.522/2002, devendo ser observada a lei estadual vigente em
razão da autonomia do ente federativo.
STJ. 5ª Turma. AgRg-HC 549.428-PA. Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 19/05/2020

Parâmetro de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) é exclusivo da União


Para o STJ, esse parâmetro vale, a princípio, apenas para os crimes que se relacionam a tributos federais, considerando que é
baseado no art. 20 da Lei n.° 10.522/2002, que trata dos tributos federais. Assim, esse é o valor que a União considera insignificante.
Logo, para fins de crimes de sonegação fiscal que envolvam tributos estaduais ou municipais, deve ser analisado se há lei estadual
ou municipal dispensando a execução fiscal no caso de tributos abaixo de determinado valor. Esse será o parâmetro para a
insignificância.

Liberalidade e respeito à autonomia do ente federativo


O STJ destacou que o fato de a União, por motivos políticos ou administrativos, optar por autorizar o pedido de arquivamento das
execuções fiscais que não ultrapassem o patamar de R$ 20.000,00 (vinte mil reais) não autoriza, por si só, que a mesma liberalidade
seja estendida aos demais entes federados (Estados e Municípios), o que somente poderia ocorrer caso estes também legislassem no
mesmo sentido, tendo em vista que, nos termos do art. 18, caput, da Constituição Federal, são dotados de autonomia.
Em outras palavras, o que se convencionou ser quantia irrelevante para União em termos arrecadatórios, pode não o ser para os
Estados e Municípios, que, se assim entenderem, deverão editar as suas respectivas leis disciplinando a matéria.
No caso narrado, a Lei n. 7.772/2003 do Estado do Pará autorizou que a Procuradoria do Estado não ajuizasse ação de execução
fiscal nos casos em que o valor do montante sonegado não exceda a 2.000 (duas mil) unidades padrão fiscal do Estado do Pará –
UPA/PA, que equivalia ao momento do oferecimento da denúncia a R$ 4.858,80.
Assim, o valor do tributo sonegado era superior ao quantum permitido à época pela lei estadual para fins de renúncia ao direito de
execução fiscal, não sendo possível reconhecer a atipicidade material da conduta através do princípio da insignificância.
Vale ressaltar que o STJ já possuía entendimento semelhante:
(...)1. Esta Corte Superior de Justiça consolidou-se pela aplicação do princípio da insignificância aos crimes tributários federais cujo
débito não exceda R$ 10.000,00 (dez mil reais), com sustentáculo no disposto no art. 20 da Lei n. 10.522/2002 (precedentes).
2. A aplicação da bagatela aos tributos de competência estadual encontra-se subordinada à existência de norma do ente competente
no mesmo sentido, porquanto a liberalidade da União não se estende aos demais entes federados (precedentes).(...)
(AgInt no HC 331.387/SC, Rel. Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO, SEXTA TURMA, julgado em 14/02/2017, DJe
21/02/2017)
“(...) 4. Para a aplicação do referido entendimento aos tributos que não sejam da competência da União, seria necessária a existência
de lei estadual no mesmo sentido, até porque à arrecadação da Fazenda Nacional não se equipara a das Fazendas estaduais.
Precedentes e doutrina.
5. Inviável a aplicação do referido entendimento ao caso em análise, no qual o paciente foi denunciado por, em tese, suprimir o valor
de R$ 819,00 (oitocentos e dezenove reais) de Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), de competência dos
estados, de acordo com o art. 155, II, da Constituição Federal.
6. Um dos requisitos indispensáveis à aplicação do princípio da insignificância é a inexpressividade da lesão jurídica provocada, que
pode se alterar de acordo com o sujeito passivo, situação que reforça a impossibilidade de se aplicar referido entendimento de forma
indiscriminada à sonegação dos tributos de competência dos diversos entes federativos da União. (...)”
STJ. 6ª Turma. HC 165003/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 20/03/2014 (Info 540).

O acórdão que confirma ou reduz a pena enquadra-se no inciso IV do art. 117 do CP e, portanto, interrompe a prescrição
Resumo do julgado
Nos termos do inciso IV do artigo 117 do Código Penal, o acórdão condenatório sempre interrompe a prescrição, inclusive quando
confirmatório da sentença de 1º grau, seja mantendo, reduzindo ou aumentando a pena anteriormente imposta.
STF. Plenário. HC 176473/RR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 27/04/2020.

O que é prescrição no direito penal?


Prescrição pode ser conceituada como sendo:
- a perda do direito do Estado de
- punir (pretensão punitiva) ou
- executar uma punição já imposta (pretensão executória),
- em razão de não ter agido (inércia) nos prazos previstos em lei.
Natureza jurídica
A prescrição é causa de extinção da punibilidade (art. 107, IV do CP).
Prazos
Os prazos de prescrição estão previstos no art. 109 do CP.

Termo inicial da prescrição da pretensão punitiva


Quando começa a correr o prazo da prescrição? Em outras palavras, a partir de quando começa o prazo para que o Estado-acusação
tente punir uma pessoa que, supostamente, cometeu um crime?
As regras e as exceções são as seguintes:

Regra geral no caso de O prazo prescricional começa a correr do dia


crimes consumados em que o crime se CONSUMOU.

Regra geral no caso de O prazo prescricional começa a correr do dia


crimes tentados em que CESSOU A ATIVIDADE CRIMINOSA.

1ª regra específica: O prazo prescricional começa a correr do dia


crimes permanentes em que CESSOU A PERMANÊNCIA.

2ª regra específica: O prazo prescricional começa a correr do dia


crime de bigamia em que O FATO SE TORNOU CONHECIDO.

3ª regra específica: O prazo prescricional começa a correr do dia


crime de falsificação ou alteração de assentamento em que O FATO SE TORNOU CONHECIDO.
do registro civil

4ª regra específica: O prazo prescricional começa a correr do dia


crimes contra a dignidade sexual de em que a vítima completar 18 (dezoito) anos,
crianças e adolescentes
salvo se a esse tempo já houver sido proposta a ação penal.

Causas que interrompem o prazo prescricional


O art. 117 do CP traz os momentos em que o prazo da prescrição é interrompido.
Interrupção do prazo significa que ele é zerado e recomeça a ser contado a partir daquela data.
Art. 117. O curso da prescrição interrompe-se:
I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa;
II - pela pronúncia;
III - pela decisão confirmatória da pronúncia;
IV - pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis;
V - pelo início ou continuação do cumprimento da pena;
VI - pela reincidência.

Análise do inciso IV do art. 117 do CP


O inciso IV do art. 117 do CP prevê que a publicação da sentença condenatória ou do acórdão condenatório interrompe o prazo
prescricional. Esse é um inciso que gerava algumas polêmicas na doutrina e jurisprudência, razão pela qual irei explicá-lo com mais
calma.
Imagine a seguinte situação hipotética:
João praticou um furto consumado em 28/03/2010.
Foi denunciado e a denúncia recebida em 28/06/2010.
O réu foi condenado, em 1ª instância, a uma pena de 2 anos de reclusão, sentença publicada em 28/10/2011.
O Ministério Público não recorreu.
A defesa interpôs apelação e o Tribunal de Justiça manteve a sentença, confirmando a condenação, acórdão publicado em
28/09/2013.
Contra a decisão do TJ, a defesa interpôs recurso extraordinário ao STF.
No dia 28/05/2015, a 1ª Turma do STF iniciou o julgamento do recurso.

Vamos verificar se houve prescrição no caso relatado acima.

Início do prazo prescricional


O prazo prescricional do crime cometido por João começou a correr em 28/03/2008, dia em que o crime se consumou, nos termos
do art. 111, I, do CP:
Art. 111. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, começa a correr:
I - do dia em que o crime se consumou;

Como ele foi condenado a uma pena não superior a 2 anos, qual é o prazo prescricional aplicável a este fato?
O delito praticado por João prescreverá em 4 anos, nos termos do art. 109, V do CP:
Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no § 1º do art. 110 deste Código, regula-se
pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se:
(...)
V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a dois;

Conforme vimos acima, existem algumas hipóteses que interrompem o prazo prescricional (art. 117). Vejamos quais delas se
aplicam ao caso concreto:
• Início da contagem do prazo prescricional: dia em que o crime se consumou - 28/03/2010.
• Este prazo foi interrompido (recomeçou do zero) quando a denúncia foi recebida: 28/06/2010.
• O prazo foi novamente interrompido (recomeçou) quando a sentença condenatória foi publicada: 28/10/2011.

Confira se houve prescrição:


• Entre a data do fato e o recebimento da denúncia: 3 meses (não houve prescrição).
• Entre a data do recebimento e a publicação da sentença: 1 ano e 4 meses (não houve prescrição).

Logo, até aqui não houve prescrição.

Após a publicação da sentença condenatória, o que acontece com o prazo que já passou?
Ele será interrompido, ou seja, reiniciado. Despreza-se o período anterior (esse 1 ano e 4 meses) e inicia-se uma nova contagem a
partir desta data (28/10/2011).

No dia 28/09/2013 foi publicado um acórdão do Tribunal de Justiça confirmando a condenação, ou seja, dizendo que a sentença
deveria ser mantida, que não era caso de mudar nada. Este acórdão interrompeu a prescrição?
SIM. Depois de muita polêmica, o STF pacificou o tema e decidiu que a decisão que o acórdão confirmatório da sentença implica a
interrupção da prescrição. Foi fixada a seguinte tese a respeito:
Nos termos do inciso IV do artigo 117 do Código Penal, o acórdão condenatório sempre interrompe a prescrição, inclusive
quando confirmatório da sentença de 1º grau, seja mantendo, reduzindo ou aumentando a pena anteriormente imposta.
STF. Plenário. HC 176473/RR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 27/04/2020.

A prescrição é o perecimento da pretensão punitiva ou da pretensão executória pela inércia do próprio Estado.
As hipóteses do art. 117 do Código Penal representam hipóteses nas quais o Estado agiu, ou seja, situações nas quais não ficou
inerte.
Se o Tribunal prolata acórdão confirmando a condenação, isso significa que o Tribunal agiu/decidiu o caso. Consequentemente, se o
Estado não está inerte, há necessidade de se interromper a prescrição para o cumprimento do devido processo legal.
Assim, a interrupção da prescrição ocorre pela simples condenação em segundo grau, seja confirmando integralmente a sentença,
seja reduzindo ou aumentando a pena anteriormente imposta.

Posição do STJ e da doutrina majoritária era em sentido contrário


Vale ressaltar que a doutrina majoritária defende posição contrária ao que decidiu o STF.
O STJ também acompanhava esse entendimento doutrinário e dizia que:
Se o acórdão apenas CONFIRMA a condenação ou então REDUZ a pena do condenado, ele não terá o condão de interromper a
prescrição.
STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1557791/SP, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 06/02/2020.
STJ. Corte Especial. AgRg no RE nos EDcl no REsp 1301820/RJ, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 16/11/2016.
Essa posição do STJ será, certamente, revista para se adequar ao que decidiu o STF.
Portanto, o entendimento que atualmente vigora é o de que: o acórdão que confirma ou reduz a pena enquadra-se no inciso IV do
art. 117 do CP e, portanto, interrompe a prescrição.

O indulto extingue somente a pena ou medida de segurança, não interferindo nos efeitos secundários da condenação
(Súmula 631-STJ)
Resumo do julgado
Súmula 631-STJ: O indulto extingue os efeitos primários da condenação (pretensão executória), mas não atinge os efeitos
secundários, penais ou extrapenais.
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 24/04/2019, DJe 29/04/2019.

Efeitos da condenação
A sentença penal condenatória, depois de transitada em julgado, produz diversos efeitos.
Os efeitos da condenação podem se dividir em:
1) Efeitos PRINCIPAIS (PRIMÁRIOS) da condenação;
2) Efeitos SECUNDÁRIOS da condenação.

EFEITOS DA CONDENAÇÃO
O efeito principal (primário) da condenação é impor ao condenado uma sanção penal.
1) PRINCIPAIS
Efeito principal (primário) = sanção penal.
(PRIMÁRIOS)
A sanção penal divide-se em: a) pena; b) medida de segurança.
2) 2.1) PENAIS
SECUNDÁRIOS
Alguns exemplos: reincidência (art. 63), causa de revogação do sursis (art. 77, I e § 1º),
causa de revogação do livramento condicional (art. 86), causa de conversão da pena
restritiva de direitos em privativa de liberdade (art. 44, § 5º), impossibilita a transação
penal e concessão de suspensão condicional do processo (arts. 76 e 89 da Lei nº
9.099/95) etc.
2.2) EXTRAPENAIS
a) Genéricos: art. 91 do CP;
b) Específicos: art. 92 do CP;
c) Previstos em “leis” especiais (exs: art. 15, III, CF; art. 83 da Lei de Licitações; art.
181, da Lei de Falências).

Anistia, graça e indulto:


- são formas de renúncia do Estado ao seu direito de punir;
- classificam-se como causas de extinção da punibilidade (art. 107, II, CP);
- a anistia, a graça e o indulto são concedidos pelo Poder Legislativo (no primeiro caso) ou pelo Poder Executivo (nos dois últimos),
mas somente geram a extinção da punibilidade com a decisão judicial;
- podem atingir crimes de ação penal pública ou privada.

GRAÇA INDULTO
ANISTIA
(ou indulto individual) (ou indulto coletivo)
É um benefício concedido pelo Congresso Nacional, Concedidos por Decreto do Presidente da República.
com a sanção do Presidente da República (art. 48,
VIII, CF/88), por meio do qual se “perdoa” a prática
de um fato criminoso. Apagam o efeito executório da condenação.
Normalmente, incide sobre crimes políticos, mas
também pode abranger outras espécies de delito.
A atribuição para conceder pode ser delegada ao(s):
• Procurador Geral da República;
• Advogado Geral da União;
• Ministros de Estado.
É concedida por meio de uma lei federal ordinária. Concedidos por meio de um Decreto.
Pode ser concedida: Tradicionalmente, a doutrina afirma que tais benefícios só podem ser
concedidos após o trânsito em julgado da condenação. Esse
• antes do trânsito em julgado (anistia própria);
entendimento, no entanto, está cada dia mais superado, considerando que
• depois do trânsito em julgado (anistia imprópria). o indulto natalino, por exemplo, permite que seja concedido o benefício
desde que tenha havido o trânsito em julgado para a acusação ou quando
o MP recorreu, mas não para agravar a pena imposta (art. 5º, I e II, do
Decreto 7.873/2012).
Classificação Classificação
a) Propriamente dita: quando concedida antes da a) Pleno: quando extingue totalmente a pena.
condenação.
b) Parcial: quando somente diminui ou substitui a pena (comutação).
b) Impropriamente dita: quando concedida após a
condenação.
a) Incondicionado: quando não impõe qualquer condição.
b) Condicionado: quando impõe condição para sua concessão.
a) Irrestrita: quando atinge indistintamente todos os
autores do fato punível.
b) Restrita: quando exige condição pessoal do autor a) Restrito: exige condições pessoais do agente. Ex.: exige primariedade.
do fato punível. Ex.: exige primariedade.
b) Irrestrito: quando não exige condições pessoais do agente.

a) Incondicionada: não se exige condição para a sua


concessão.
b) Condicionada: exige-se condição para a sua
concessão. Ex.: reparação do dano.

a) Comum: atinge crimes comuns.


b) Especial: atinge crimes políticos.
Extingue os efeitos penais (principais e secundários) Só extinguem o efeito principal do crime (a sanção penal).
do crime.
Os efeitos penais secundários e os efeitos de natureza civil permanecem
Os efeitos de natureza civil permanecem íntegros. íntegros.
O réu condenado que foi anistiado, se cometer novo O réu condenado que foi beneficiado por graça ou indulto, se cometer
crime, não será reincidente. novo crime, será reincidente.
É um benefício coletivo que, por referir-se somente a É um benefício individual (com É um benefício coletivo (sem
fatos, atinge apenas os que o cometeram. destinatário certo). destinatário certo).
Depende de pedido do sentenciado. É concedido de ofício (não
depende de provocação).

Vale ressaltar que a concessão do indulto está inserida no exercício do poder discricionário do Presidente da República (STF. ADI
2.795-MC, Rel. Min. Maurício Corrêa).

Indulto extingue apenas os efeitos principais da condenação


O indulto extingue apenas os efeitos primários da condenação (pretensão executória).
Dito de forma bem simples: o indulto extingue somente a pena ou a medida de segurança.
O indulto não atinge os efeitos secundários (penais ou extrapenais):
A concessão do indulto afasta o efeito principal decorrente da condenação, qual seja, o próprio cumprimento da pena anteriormente
fixada pela sentença condenatória. No entanto, os efeitos secundários da condenação, tais como aqueles elencados no art. 91 do
Código Penal, mas não a eles restritos, não são afetados pela concessão do indulto, ante a inexistência de previsão legal neste
sentido, restando mantidas, assim, as devidas anotações junto aos cartórios e ofícios distribuidores acerca da existência do feito.
STJ. 5ª Turma. AgInt no RHC 66.190/PR, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 12/03/2019.
A extinção da punibilidade pelo indulto não afasta os efeitos da condenação, dentre eles a reincidência, uma vez que só atinge a
pretensão executória.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 409.588/SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 12/12/2017.
Exemplos de situações que não serão afetadas mesmo tendo havido o indulto:
• as anotações do crime continuarão nos cartórios e ofícios distribuidores;
• nome do condenado continua incluído no “rol dos culpados”;
• a condenação que foi objeto de indulto continua tendo força para gerar reincidência (a reincidência não é afastada com a concessão
do indulto);
• se o indivíduo havia sido condenado a perder bens e valores, o indulto não irá alterar isso;
• condenado continua com a obrigação de indenizar a vítima.

Não confundir:
ANISTIA GRAÇA E INDULTO
Extingue o efeito primário da condenação (pretensão Extingue o efeito primário da condenação (pretensão
executória). executória).

Extingue também os efeitos secundários penais da NÃO extingue os efeitos secundários penais da
condenação (ex: reincidência). condenação.
Não extingue os efeitos secundários extrapenais da NÃO extingue os efeitos secundários extrapenais da
condenação (ex: tornar certa a obrigação de indenizar, condenação (ex: tornar certa a obrigação de indenizar,
perda da função pública). Os efeitos de natureza civil perda da função pública). Os efeitos de natureza civil
permanecem íntegros. permanecem íntegros.

Dito de outro modo:


• Efeitos primários da condenação: anistia, graça e indulto extinguem.
• Efeitos secundários penais: anistia extingue; graça e indulto não extinguem.
• Efeitos secundários extrapenais: não são extintos seja pela anistia, graça ou indulto.
Folha de antecedentes criminais é um documento válido para comprovar maus antecedentes ou reincidência
Resumo do julgado
Súmula 636-STJ: A folha de antecedentes criminais é documento suficiente a comprovar os maus antecedentes e a reincidência.
Aprovada em 26/06/2019, DJe 27/06/2019.
Importante.

Critério trifásico
A dosimetria da pena na sentença obedece a um critério trifásico:
1º passo: o juiz calcula a pena-base de acordo com as circunstâncias judiciais do art. 59, CP;
2º passo: o juiz aplica as agravantes e atenuantes;
3º passo: o juiz aplica as causas de aumento e de diminuição.
Este critério trifásico, elaborado por Nelson Hungria, foi adotado pelo Código Penal, sendo consagrado pela jurisprudência pátria
(STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1021796/RS, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 19/03/2013).

Maus antecedentes
Na primeira fase, as chamadas circunstâncias judiciais analisadas pelo juiz são as seguintes:
a) culpabilidade, b) antecedentes, c) conduta social, d) personalidade do agente, e) motivos do crime, f) circunstâncias do crime, g)
consequências do crime, h) comportamento da vítima.
Antecedentes são as anotações negativas que o réu possua em matéria criminal.
Se o juiz entender que o réu possui maus antecedentes, ele irá aumentar a pena-base imposta ao condenado. Trata-se, portanto, de
uma circunstância analisada na 1ª fase da dosimetria.
O STJ afirma que, em face do princípio da presunção de não culpabilidade, os inquéritos policiais e ações penais em curso não
podem ser considerados maus antecedentes.
Súmula 444-STJ: É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base.
Esse é também o entendimento do STF:
A existência de inquéritos policiais ou de ações penais sem trânsito em julgado não podem ser considerados como maus
antecedentes para fins de dosimetria da pena.
STF. Plenário. RE 591054/SC, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/12/2014 (repercussão geral) (Info 772).

Exemplo de maus antecedentes:


Em 05/05/2012, Pedro cometeu um roubo.
Em 06/06/2013, ele foi condenado pelo roubo, mas recorreu contra a sentença.
Em 07/07/2013, Pedro praticou um furto, iniciando outro processo penal.
Em 08/08/2013, a condenação pelo roubo transitou em julgado.
Em 09/09/2013, Pedro é condenado pelo furto.
Na sentença condenatória pelo furto, o juiz não poderá considerar Pedro reincidente (art. 61, I, do CP). Isso porque quando praticou
o segundo crime (furto), a condenação pelo delito anterior (roubo) ainda não havia transitado em julgado. Logo, não se enquadra na
definição de reincidência.
Por outro lado, na sentença condenatória pelo furto, o juiz poderá considerar a condenação pelo roubo, já transitada em julgado,
como circunstância judicial negativa.
A condenação por fato anterior ao delito que se julga, mas com trânsito em julgado posterior, pode ser utilizada como circunstância
judicial negativa, a título de antecedente criminal.
STJ. 5ª Turma. HC n. 210.787/RJ, Min. Marco Aurélio Bellizze, DJe 16/9/2013.
Uma vez existente condenação transitada em julgado por fato anterior ao cometimento do delito sub examine, mostra-se correta a
conclusão pela existência de maus antecedentes.
STJ. 6ª Turma. HC 399.029/PE, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 26/06/2018.
Reincidência
A definição de reincidência, para o Direito Penal brasileiro, é encontrada a partir da conjugação do art. 63 do CP com o art. 7º da Lei
de Contravenções Penais.
Com base nesses dois dispositivos, podemos encontrar as hipóteses em que alguém é considerado reincidente para o Direito Penal
(inspirado no quadro contido no livro de CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal. Salvador: JusPodivm, 2013, p. 401):

Se a pessoa é condenada E depois da condenação definitiva Qual será a consequência?


definitivamente por pratica novo(a)
CRIME
CRIME REINCIDÊNCIA
(no Brasil ou exterior)
CRIME CONTRAVENÇÃO
REINCIDÊNCIA
(no Brasil ou exterior) (no Brasil)
CONTRAVENÇÃO CONTRAVENÇÃO
REINCIDÊNCIA
(no Brasil) (no Brasil)
NÃO HÁ reincidência.
CONTRAVENÇÃO
CRIME Foi uma falha da lei.
(no Brasil)
Mas gera maus antecedentes.
NÃO HÁ reincidência.
CONTRAVENÇÃO
CRIME ou CONTRAVENÇÃO Contravenção no estrangeiro não
(no estrangeiro)
influi aqui.

A reincidência é uma agravante da pena


Se o réu for reincidente, sofrerá diversos efeitos negativos no processo penal.
O principal deles é que, no momento da dosimetria da pena em relação ao segundo delito, a reincidência será considerada como uma
agravante genérica (art. 61, I do CP), fazendo com que a pena imposta seja maior do que seria devida caso ele fosse primário.
Art. 61. São circunstâncias que sempre agravam a pena, quando não constituem ou qualificam o crime:
I — a reincidência;

Outras consequências da reincidência


Além de ser uma agravante, a reincidência produz inúmeras outras consequências negativas para o réu. Vejamos as principais:
a) torna mais gravoso o regime inicial de cumprimento de pena (art. 33, § 2º do CP);
b) o reincidente em crime doloso não tem direito à substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos (art. 44,
II);
c) o reincidente em crime doloso não tem direito à suspensão condicional da pena – sursis (art. 77, I), salvo se condenado apenas
a pena de multa (§ 1º do art. 77);
d) o réu reincidente não poderá ser beneficiado com o privilégio no furto (art. 155, § 2º), na apropriação indébita (art. 170), no
estelionato (art. 171, § 1º) e na receptação (art. 180, § 5º, do CP);
e) a reincidência impede a concessão da transação penal e da suspensão condicional do processo (arts. 76, § 2º, I e 89, caput da
Lei nº 9.099/95);
f) no concurso de agravantes e atenuantes, a pena deve aproximar-se do limite indicado pelas circunstâncias preponderantes,
entendendo-se como tais as que resultam dos motivos determinantes do crime, da personalidade do agente e da reincidência
(art. 67 do CP);
g) influencia no tempo necessário para a concessão do livramento condicional (art. 83);
h) o prazo da prescrição executória aumenta em 1/3 se o condenado é reincidente (art. 110) (obs.: não influencia na prescrição da
pretensão punitiva);
i) é causa de interrupção da prescrição executória (art. 117, VI);
j) é causa de revogação do sursis (art. 81, I e § 1º), do livramento condicional (art. 86, I e II, e art. 87) e da reabilitação, se a
condenação for a pena que não seja de multa (art. 95).
Imagine agora a seguinte situação hipotética:
Na sentença condenatória, o juiz, no momento da dosimetria da pena, majorou a pena-base, assim fundamentando sua decisão:
“O réu ostenta maus antecedentes, conforme demonstrado pela folha de antecedentes criminais juntada aos autos pelo Ministério
Público às fls. 111-112, razão pela qual majoro a pena-base, fixando-a em...”
A defesa apelou alegando que os “maus antecedentes” e a “reincidência” somente podem ser comprovados mediante certidão
cartorária, não sendo suficiente a mera juntada de folha de antecedentes considerando que esta poderia conter erros, não sendo
confiável.

A tese da defesa é acolhida pelo STJ? A comprovação dos maus antecedentes e da reincidência precisa ser feita,
obrigatoriamente, por meio de certidão cartorária?
NÃO. Para o STJ, a comprovação dos maus antecedentes ou a comprovação da reincidência pode ser feita com a juntada da mera
folha de antecedentes criminais do réu.
(...) a folha de antecedentes criminais é documento hábil e suficiente à comprovação da existência de maus antecedentes e reincidência,
não sendo, pois, imprescindível a apresentação de certidão cartorária. (...)
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1716998 RN, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 08/05/2018.
O registro de condenação transitada em julgado em folha de antecedentes criminais é suficiente para a caracterização da
reincidência, não sendo obrigatória a apresentação de certidão cartorária.
STJ. 6ª Turma. HC 212789 SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 07/10/2014.
Assim, a folha de antecedentes criminais é documento hábil à comprovação tanto dos maus antecedentes como da reincidência.

Por que?
Porque a folha de antecedentes criminais já possui fé pública e valor probante para o reconhecimento das informações nela
certificadas. (STJ. 6ª Turma. HC 272899 SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 18/09/2014.
A folha de antecedentes criminais expedida contém a identificação do réu, o crime que o condenou e a data do trânsito em julgado
da condenação. Essas informações já são suficientes para o reconhecimento da circunstância judicial dos “maus antecedentes” ou
para a agravante da “reincidência”, não sendo necessário, portanto, nenhum documento a mais (STJ. 5ª Turma. REsp 285750/DF,
Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 07/10/2003).

Esta súmula trata apenas sobre aspectos formais


Vale ressaltar que a Súmula 636 do STJ versa unicamente sobre a forma de comprovação dos registros criminais que existem contra
o réu, ou seja, ele trata apenas de aspectos formais.
Este enunciado não dispõe sobre os registros que se enquadram ou não juridicamente como “maus antecedentes” ou como
“reincidência”. Em outras palavras, ela não discute o conteúdo do conceito desses institutos.
Logo, a Súmula 444 do STJ não foi afetada e continua sendo plenamente aplicável: “É vedada a utilização de inquéritos policiais e
ações penais em curso para agravar a pena-base”.
A Súmula 636 do STJ diz apenas o seguinte: os registros criminais do réu podem ser comprovados pela “folha de antecedentes”. Os
registros que estão, portanto, na folha de antecedentes são presumivelmente verdadeiros e produzem efeitos para o processo. A
partir daí, se tais registros serão, ou não, considerados como maus antecedentes ou reincidência não é assunto tratado pela Súmula
636.
Ex: imaginemos que o MP junta, no processo criminal, a folha de antecedentes do réu e que nela consta a existência de um inquérito
instaurado contra ele. Esse documento (folha de antecedentes) é válido e eficaz para o processo. No entanto, apesar desse registro
ser verídico – a folha de antecedentes comprovou validamente que existe um inquérito contra o réu – isso não servirá para aumentar
a pena-base.

Presunção relativa
Vale ressaltar que a folha de antecedentes faz presunção relativa de veracidade. Assim, a defesa poderá provar, por exemplo, que
alguma informação que ali consta está incorreta.

Os atos infracionais podem ser valorados negativamente na circunstância judicial referente à personalidade do agente?
Resumo do julgado
Os atos infracionais podem ser valorados negativamente na circunstância judicial referente à personalidade do agente?
Existe certa polêmica no STJ sobre o tema:
1ª corrente: NÃO.
Atos infracionais não podem ser considerados maus antecedentes para a elevação da pena-base, tampouco podem ser utilizados para
caracterizar personalidade voltada para a pratica de crimes ou má conduta social.
Há impropriedade na majoração da pena-base pela consideração negativa da personalidade do agente em razão da prévia prática de
atos infracionais, pois é incompossível exacerbar a reprimenda criminal com base em passagens pela Vara da Infância.
STJ. 5ª Turma. HC 499987/SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 30/05/2019.
STJ. 6ª Turma. REsp 1702051/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 06/03/2018.

2ª corrente: SIM
A prática de ato infracional, embora não possa ser utilizada para fins de reincidência ou maus antecedentes, por não ser considerada
crime, pode ser sopesada na análise da personalidade do paciente, reforçando os elementos já suficientes dos autos que o apontam
como pessoa perigosa e cuja segregação é necessária.
STJ. 5ª Turma. HC 510354/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 18/06/2019.

João, 19 anos, está respondendo a processo criminal por roubo. Quando era adolescente, João cumpriu medida socioeducativa
por homicídio. No momento da condenação, o juiz poderá considerar esse ato infracional para fins de reincidência ou de maus
antecedentes?
NÃO. Atos infracionais não podem ser considerados maus antecedentes para a elevação da pena-base e muito menos servem para
configurar reincidência (STJ. 5ª Turma. HC 289.098/SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 20/05/2014).

E como “personalidade”? Os atos infracionais podem ser valorados negativamente na circunstância judicial referente à
personalidade do agente?
Existe certa polêmica no STJ sobre o tema:
1ª corrente: NÃO.
Atos infracionais não podem ser considerados maus antecedentes para a elevação da pena-base, tampouco podem ser utilizados para
caracterizar personalidade voltada para a pratica de crimes ou má conduta social.
STJ. 5ª Turma. HC 499.987/SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 30/05/2019.

Há impropriedade na majoração da pena-base pela consideração negativa da personalidade do agente em razão da prévia prática de
atos infracionais, pois é incompossível exacerbar a reprimenda criminal com base em passagens pela Vara da Infância.
STJ. 6ª Turma. REsp 1702051/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 06/03/2018.
2ª corrente: SIM
A prática de ato infracional, embora não possa ser utilizada para fins de reincidência ou maus antecedentes, por não ser considerada
crime, pode ser sopesada na análise da personalidade do paciente, reforçando os elementos já suficientes dos autos que o apontam
como pessoa perigosa e cuja segregação é necessária.
STJ. 5ª Turma. HC 510.354/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 18/06/2019.

FONTE: BUSCADOR DIZER O DIREITO

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