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Em adequação ao entendimento do Supremo Tribunal Federal, o inadimplemento da pena de multa obsta a extinção da
punibilidade do apenado
Resumo do julgado
Uma vez extinta, pelo seu cumprimento, a pena privativa de liberdade ou a restritiva de direitos que a substituir, o inadimplemento
da pena de multa não obsta a extinção da punibilidade do apenado, porquanto, após a nova redação dada ao art. 51 do Código Penal,
pela Lei n. 9.268/1996, a pena pecuniária passou a ser considerada dívida de valor, adquirindo caráter extrapenal. Porém, o Supremo
Tribunal Federal, ao julgar a ADI n. 3.150/DF, declarou que, à luz do preceito estabelecido pelo inciso XLVI do art. 5º da
Constituição Federal, a multa, ao lado da privação de liberdade e de outras restrições (perda de bens, prestação social alternativa e
suspensão ou interdição de direitos), é espécie de pena aplicável em retribuição e em prevenção à prática de crimes, não perdendo
sua natureza de sanção penal.
Em recente julgado, a Sexta Turma deste Superior Tribunal de Justiça já alterou o entendimento sobre a matéria, acompanhando a
Corte Suprema. Dessarte, as declarações de constitucionalidade ou de inconstitucionalidade são dotadas de eficácia contra todos e
efeito vinculante em relação aos órgãos do Poder Judiciário. Assim, não se pode mais declarar a extinção da punibilidade pelo
cumprimento integral da pena privativa de liberdade quando pendente o pagamento da multa criminal. AgRg no REsp 1.850.903-
SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 28/04/2020, DJe 30/04/2020. (Info 671)
O cumprimento de pena imposta em outro processo, ainda que em regime aberto ou em prisão domiciliar, impede o curso da
prescrição executória
Resumo do julgado
De acordo com o parágrafo único, do artigo 116, do Código Penal, "depois de passada em julgado a sentença condenatória, a
prescrição não corre durante o tempo em que o condenado está preso por outro motivo". Ao interpretar o referido dispositivo legal,
esta Corte Superior de Justiça pacificou o entendimento de que o cumprimento de pena imposta em outro processo, ainda que em
regime aberto ou em prisão domiciliar, impede o curso da prescrição executória. Assim, não há que se falar em fluência do prazo
prescricional, o que impede o reconhecimento da extinção de sua punibilidade. Quanto ao ponto, é imperioso destacar que o fato de
o prazo prescricional não correr durante o tempo em que o condenado está preso por outro motivo não depende da unificação das
penas. AgRg no RHC 123.523-SP, Rel. Min. Jorge Mussi, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 13/04/2020, DJe
20/04/2020. (Info 970)
MP é quem deve executar a pena de multa e, apenas se ficar inerte por mais de 90 dias, essa legitimidade é transferida para
a Fazenda Pública
Resumo do julgado
O Ministério Público possui legitimidade para propor a cobrança de multa decorrente de sentença penal condenatória transitada em
julgado, com a possibilidade subsidiária de cobrança pela Fazenda Pública.
Quem executa a pena de multa?
• Prioritariamente: o Ministério Público, na vara de execução penal, aplicando-se a LEP.
• Caso o MP se mantenha inerte por mais de 90 dias após ser devidamente intimado: a Fazenda Pública irá executar, na vara de
execuções fiscais, aplicando-se a Lei nº 6.830/80.
STF. Plenário. ADI 3150/DF, Rel. para acórdão Min. Roberto Barroso, julgado em 12 e 13/12/2018 (Info 927).
STF. Plenário. AP 470/MG, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 12 e 13/12/2018 (Info 927).
Obs: a Súmula 521-STJ fica superada e deverá ser cancelada. Súmula 521-STJ: A legitimidade para a execução fiscal de multa
pendente de pagamento imposta em sentença condenatória é exclusiva da Procuradoria da Fazenda Pública.
PACOTE ANTICRIME
Onde tramita a execução da pena de multa?
No juízo da execução penal.
O art. 51 do Código Penal foi alterado para deixar expressa essa competência:
CÓDIGO PENAL
Antes da Lei 13.964/2019
Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será considerada dívida de valor, aplicando-se-lhes as normas da
legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e suspensivas da prescrição.
ATUALMENTE
Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenatória, a multa será executada perante o juiz da execução penal e será considerada
dívida de valor, aplicáveis as normas relativas à dívida ativa da Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas interruptivas e
suspensivas da prescrição.
Diante desta alteração, permanece o entendimento do STF acima exposto?
Ainda não temos certeza de como o STF irá decidir.
Se você observar a redação anterior do art. 51 verá que ele não falava em legitimidade prioritária do Ministério Público e subsidiária
da Fazenda Pública. Também não havia na lei esse prazo de 90 dias. Igualmente, não havia essa distinção de dois foros competentes.
Isso tudo foi uma criação do STF sem previsão na lei.
Assim, não se pode afirmar que a alteração legislativa promovida pelo Pacote Anticrime modificou o entendimento do STF porque
ele não estava expressamente baseado na lei.
Para fins de concurso, recomendo que saiba o que o STF decidia e, principalmente, que memorize a nova redação do art. 51.
Multa
Multa é uma espécie de pena por meio da qual o condenado fica obrigado a pagar uma quantia em dinheiro que será revertida em
favor do Fundo Penitenciário.
Pagamento da multa
A pena de multa é fixada na própria sentença condenatória.
Depois que a sentença transitar em julgado, o condenado terá um prazo máximo de 10 dias para pagar a multa imposta (art. 50 do
CP).
O Código prevê a possibilidade de o condenado requerer o parcelamento da multa em prestações mensais, iguais e sucessivas,
podendo o juiz autorizar, desde que as circunstâncias justifiquem (ex: réu muito pobre, multa elevadíssima etc.).
O parcelamento deverá ser feito antes de esgotado o prazo de 10 dias.
O Juiz, antes de decidir, poderá determinar diligências para verificar a real situação econômica do condenado e, ouvido o Ministério
Público, fixará o número de prestações (art. 169, § 1º da LEP).
Se o condenado for impontual ou se melhorar de situação econômica, o Juiz, de ofício ou a requerimento do Ministério Público,
poderá revogar o benefício (art. 169, § 2º da LEP).
O que acontece caso o condenado não pague nem parcele a multa no prazo de 10 dias?
• Antes da Lei nº 9.268/96: se o condenado, deliberadamente, deixasse de pagar a pena de multa, ela deveria ser convertida em pena
de detenção. Em outras palavras, a multa era transformada em pena privativa de liberdade.
• A Lei nº 9.268/96 alterou o art. 51 do CP e previu que, se a multa não for paga, ela será considerada dívida de valor e deverá ser
exigida por meio de execução (não se permite mais a conversão da pena de multa em detenção).
Antes da Lei 9.268/96 Depois da Lei 9.268/96
Art. 51. A multa converte-se em pena de detenção, Art. 51. Transitada em julgado a sentença condenatória,
quando o condenado solvente deixa de paga-lá ou a multa será considerada dívida de valor, aplicando-se-
frustra a sua execução. lhes as normas da legislação relativa à dívida ativa da
Fazenda Pública, inclusive no que concerne às causas
interruptivas e suspensivas da prescrição.
STF:
STJ: Fazenda Pública Prioritariamente: o Ministério Público.
Subsidiariamente: a Fazenda Pública
O STJ sempre sustentou que, como se trata de dívida de A Lei nº 9.268/96, ao considerar a multa penal como
valor, a pena de multa deveria ser executada pela dívida de valor, não retirou dela o caráter de sanção
Fazenda Pública por meio de execução fiscal que criminal.
tramita na vara de execuções fiscais.
Diante de tal constatação, não há como retirar do MP a
O rito a ser aplicado seria o da Lei nº 6.830/80. competência para a execução da multa penal,
considerado o teor do art. 129 da CF/88, segundo o
A execução da pena de multa ocorreria como se
qual é função institucional do MP promover
estivesse sendo cobrada uma multa tributária.
privativamente a ação penal pública, na forma da lei.
Não se aplica a Lei nº 7.210/84 (LEP).
Promover a ação penal significa conduzi-la ao longo do
processo de conhecimento e de execução, ou seja, buscar
a condenação e, uma vez obtida esta, executá-la. Caso
Esse era o entendimento pacífico do STJ, tanto que foi
contrário, haveria uma interrupção na função do titular da
editada uma súmula nesse sentido.
ação penal.
Ademais, o art. 164 da LEP é expresso ao reconhecer
Súmula 521-STJ: A legitimidade para a execução fiscal essa competência do MP. Esse dispositivo não foi
de multa pendente de pagamento imposta em sentença revogado expressamente pela Lei nº 9.268/96.
condenatória é exclusiva da Procuradoria da Fazenda
Vale ressaltar, entretanto, que, se o titular da ação
Pública.
penal, mesmo intimado, não propuser a execução da
multa no prazo de 90 dias, o juiz da execução criminal
deverá dar ciência do feito ao órgão competente da
Fazenda Pública (federal ou estadual, conforme o caso)
para a respectiva cobrança na própria vara de execução
fiscal, com a observância do rito da Lei 6.830/80.
Quem executa: Fazenda Pública. Quem executa:
Juízo: vara de execuções fiscais. • Prioritariamente: o Ministério Público, na vara de
execução penal, aplicando-se a LEP.
Legislação: Lei nº 6.830/80.
• Caso o MP se mantenha inerte por mais de 90 dias
após ser devidamente intimado: a Fazenda Pública irá
executar, na vara de execuções fiscais, aplicando-se a
Lei nº 6.830/80.
Exemplo:
João foi sentenciado por roubo e o juiz de direito (Justiça Estadual) o condenou a 4 anos de reclusão e mais 10 dias-multa no valor
de meio salário mínimo cada.
Depois do trânsito em julgado, o condenado foi intimado para pagar a pena de multa no prazo de 10 dias, mas não o fez.
Diante disso, o escrivão da vara irá fazer uma certidão na qual constarão as informações sobre a condenação e o valor da multa.
• Para o STJ, o magistrado deveria remeter a certidão para a Procuradoria Geral do Estado e um dos Procuradores do Estado iria
ajuizar, em nome do Estado, uma execução fiscal que tramitaria na vara de execuções fiscais (não era na vara de execuções penais).
• Agora, com a decisão do STF, o magistrado deverá intimar o Ministério Público e o Parquet irá propor a execução da multa na
vara de execução penal. Caso o MP, devidamente intimado, não proponha a execução da multa no prazo de 90 dias, o juiz da
execução criminal deverá dar ciência do feito ao órgão competente da Fazenda Pública (federal ou estadual, conforme o caso) para a
respectiva cobrança na própria vara de execução fiscal, com a observância do rito da Lei 6.830/80.
Obs: se João tivesse sido condenado pela Justiça Federal, quem iria ingressar com a execução seria prioritariamente o MPF e,
apenas subsidiariamente, a União, por intermédio da Procuradoria da Fazenda Nacional (PFN).
Em regra, não se aplica o princípio da insignificância ao furto qualificado, salvo quando presentes circunstâncias
excepcionais que recomendam a medida
Resumo do julgado
A despeito da presença de qualificadora no crime de furto possa, à primeira vista, impedir o reconhecimento da atipicidade material
da conduta, a análise conjunta das circunstâncias pode demonstrar a ausência de lesividade do fato imputado, recomendando a
aplicação do princípio da insignificância.
STJ. 5ª Turma. HC 553872-SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 11/02/2020 (Info 665).
NOÇÕES GERAIS SOBRE O PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA
Origem
Quem primeiro tratou sobre o princípio da insignificância no direito penal foi Claus Roxin, em 1964.
Esse princípio busca raízes no brocardo civil minimis non curat praetor (algo como “o pretor – magistrado à época – não cuida de
coisas sem importância).
Terminologia
Também é chamado de “princípio da bagatela” ou “infração bagatelar própria”.
Previsão legal
O princípio da insignificância não tem previsão legal no direito brasileiro.
Trata-se de uma criação da doutrina e da jurisprudência.
Natureza jurídica
Para a posição majoritária, o princípio da insignificância é uma causa supralegal de exclusão da tipicidade material.
Tipicidade material
A tipicidade penal divide-se em:
a) Tipicidade formal (ou legal): é a adequação (conformidade) entre a conduta praticada pelo agente e a conduta descrita
abstratamente na lei penal incriminadora.
b) Tipicidade material (ou substancial): é a lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico protegido pelo tipo penal.
Verificar se há tipicidade formal significa examinar se a conduta praticada pelo agente amolda-se ao que está previsto como crime
na lei penal.
Verificar se há tipicidade material consiste em examinar se essa conduta praticada pelo agente e prevista como crime produziu
efetivamente lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico protegido pelo tipo penal.
Primeiro se verifica se a conduta praticada pelo agente se enquadra em algum crime descrito pela lei penal.
• Se não se amoldar, o fato é formalmente atípico.
• Se houver essa correspondência, o fato é formalmente típico.
• Sendo formalmente típico, é analisado se a conduta produziu lesão ou perigo de lesão ao bem jurídico que este tipo penal protege.
• Se houver lesão ou perigo de lesão, o fato é também materialmente típico.
• Se não houver lesão ou perigo de lesão, o fato é, então, materialmente atípico.
Princípio da insignificância e tipicidade material
Se o fato for penalmente insignificante, significa que não lesou nem causou perigo de lesão ao bem jurídico. Logo, aplica-se o
princípio da insignificância e o réu é absolvido por atipicidade material, com fundamento no art. 386, III do CPP.
O princípio da insignificância atua, então, como um instrumento de interpretação restritiva do tipo penal.
Existe algum limite máximo de valor para que possa ser aplicado o princípio da insignificância nos crimes tributários?
SIM. A jurisprudência criou a tese de que nos crimes tributários, para decidir se incide ou não o princípio da insignificância, será
necessário analisar, no caso concreto, o valor dos tributos que deixaram de ser pagos.
Esse valor de 20 mil reais é adotado tanto pelo STF como pelo STJ?
SIM.
Incide o princípio da insignificância aos crimes tributários federais e de descaminho quando o débito tributário verificado
não ultrapassar o limite de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a teor do disposto no art. 20 da Lei n. 10.522/2002, com as
atualizações efetivadas pelas Portarias n. 75 e 130, ambas do Ministério da Fazenda.
STJ. 3ª Seção. REsp 1.709.029/MG, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 28/02/2018 (recurso repetitivo).
Aplica-se o princípio da insignificância ao crime de descaminho quando o montante do tributo não recolhido for inferior ao
limite de R$ 20.000,00 — valor estipulado pelo art. 20, Lei 10.522/2002, atualizado pelas portarias 75 e 130/2012, do
Ministério da Fazenda.
STF. 1ª Turma. HC 137595 AgR, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado em 07/05/2018.
STF. 2ª Turma. HC 155347/PR, Rel. Min. Dias Tóffoli, julgado em 17/4/2018 (Info 898).
O acórdão que confirma ou reduz a pena enquadra-se no inciso IV do art. 117 do CP e, portanto, interrompe a prescrição
Resumo do julgado
Nos termos do inciso IV do artigo 117 do Código Penal, o acórdão condenatório sempre interrompe a prescrição, inclusive quando
confirmatório da sentença de 1º grau, seja mantendo, reduzindo ou aumentando a pena anteriormente imposta.
STF. Plenário. HC 176473/RR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 27/04/2020.
Como ele foi condenado a uma pena não superior a 2 anos, qual é o prazo prescricional aplicável a este fato?
O delito praticado por João prescreverá em 4 anos, nos termos do art. 109, V do CP:
Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no § 1º do art. 110 deste Código, regula-se
pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se:
(...)
V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a dois;
Conforme vimos acima, existem algumas hipóteses que interrompem o prazo prescricional (art. 117). Vejamos quais delas se
aplicam ao caso concreto:
• Início da contagem do prazo prescricional: dia em que o crime se consumou - 28/03/2010.
• Este prazo foi interrompido (recomeçou do zero) quando a denúncia foi recebida: 28/06/2010.
• O prazo foi novamente interrompido (recomeçou) quando a sentença condenatória foi publicada: 28/10/2011.
Após a publicação da sentença condenatória, o que acontece com o prazo que já passou?
Ele será interrompido, ou seja, reiniciado. Despreza-se o período anterior (esse 1 ano e 4 meses) e inicia-se uma nova contagem a
partir desta data (28/10/2011).
No dia 28/09/2013 foi publicado um acórdão do Tribunal de Justiça confirmando a condenação, ou seja, dizendo que a sentença
deveria ser mantida, que não era caso de mudar nada. Este acórdão interrompeu a prescrição?
SIM. Depois de muita polêmica, o STF pacificou o tema e decidiu que a decisão que o acórdão confirmatório da sentença implica a
interrupção da prescrição. Foi fixada a seguinte tese a respeito:
Nos termos do inciso IV do artigo 117 do Código Penal, o acórdão condenatório sempre interrompe a prescrição, inclusive
quando confirmatório da sentença de 1º grau, seja mantendo, reduzindo ou aumentando a pena anteriormente imposta.
STF. Plenário. HC 176473/RR, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 27/04/2020.
A prescrição é o perecimento da pretensão punitiva ou da pretensão executória pela inércia do próprio Estado.
As hipóteses do art. 117 do Código Penal representam hipóteses nas quais o Estado agiu, ou seja, situações nas quais não ficou
inerte.
Se o Tribunal prolata acórdão confirmando a condenação, isso significa que o Tribunal agiu/decidiu o caso. Consequentemente, se o
Estado não está inerte, há necessidade de se interromper a prescrição para o cumprimento do devido processo legal.
Assim, a interrupção da prescrição ocorre pela simples condenação em segundo grau, seja confirmando integralmente a sentença,
seja reduzindo ou aumentando a pena anteriormente imposta.
O indulto extingue somente a pena ou medida de segurança, não interferindo nos efeitos secundários da condenação
(Súmula 631-STJ)
Resumo do julgado
Súmula 631-STJ: O indulto extingue os efeitos primários da condenação (pretensão executória), mas não atinge os efeitos
secundários, penais ou extrapenais.
STJ. 3ª Seção. Aprovada em 24/04/2019, DJe 29/04/2019.
Efeitos da condenação
A sentença penal condenatória, depois de transitada em julgado, produz diversos efeitos.
Os efeitos da condenação podem se dividir em:
1) Efeitos PRINCIPAIS (PRIMÁRIOS) da condenação;
2) Efeitos SECUNDÁRIOS da condenação.
EFEITOS DA CONDENAÇÃO
O efeito principal (primário) da condenação é impor ao condenado uma sanção penal.
1) PRINCIPAIS
Efeito principal (primário) = sanção penal.
(PRIMÁRIOS)
A sanção penal divide-se em: a) pena; b) medida de segurança.
2) 2.1) PENAIS
SECUNDÁRIOS
Alguns exemplos: reincidência (art. 63), causa de revogação do sursis (art. 77, I e § 1º),
causa de revogação do livramento condicional (art. 86), causa de conversão da pena
restritiva de direitos em privativa de liberdade (art. 44, § 5º), impossibilita a transação
penal e concessão de suspensão condicional do processo (arts. 76 e 89 da Lei nº
9.099/95) etc.
2.2) EXTRAPENAIS
a) Genéricos: art. 91 do CP;
b) Específicos: art. 92 do CP;
c) Previstos em “leis” especiais (exs: art. 15, III, CF; art. 83 da Lei de Licitações; art.
181, da Lei de Falências).
GRAÇA INDULTO
ANISTIA
(ou indulto individual) (ou indulto coletivo)
É um benefício concedido pelo Congresso Nacional, Concedidos por Decreto do Presidente da República.
com a sanção do Presidente da República (art. 48,
VIII, CF/88), por meio do qual se “perdoa” a prática
de um fato criminoso. Apagam o efeito executório da condenação.
Normalmente, incide sobre crimes políticos, mas
também pode abranger outras espécies de delito.
A atribuição para conceder pode ser delegada ao(s):
• Procurador Geral da República;
• Advogado Geral da União;
• Ministros de Estado.
É concedida por meio de uma lei federal ordinária. Concedidos por meio de um Decreto.
Pode ser concedida: Tradicionalmente, a doutrina afirma que tais benefícios só podem ser
concedidos após o trânsito em julgado da condenação. Esse
• antes do trânsito em julgado (anistia própria);
entendimento, no entanto, está cada dia mais superado, considerando que
• depois do trânsito em julgado (anistia imprópria). o indulto natalino, por exemplo, permite que seja concedido o benefício
desde que tenha havido o trânsito em julgado para a acusação ou quando
o MP recorreu, mas não para agravar a pena imposta (art. 5º, I e II, do
Decreto 7.873/2012).
Classificação Classificação
a) Propriamente dita: quando concedida antes da a) Pleno: quando extingue totalmente a pena.
condenação.
b) Parcial: quando somente diminui ou substitui a pena (comutação).
b) Impropriamente dita: quando concedida após a
condenação.
a) Incondicionado: quando não impõe qualquer condição.
b) Condicionado: quando impõe condição para sua concessão.
a) Irrestrita: quando atinge indistintamente todos os
autores do fato punível.
b) Restrita: quando exige condição pessoal do autor a) Restrito: exige condições pessoais do agente. Ex.: exige primariedade.
do fato punível. Ex.: exige primariedade.
b) Irrestrito: quando não exige condições pessoais do agente.
Vale ressaltar que a concessão do indulto está inserida no exercício do poder discricionário do Presidente da República (STF. ADI
2.795-MC, Rel. Min. Maurício Corrêa).
Não confundir:
ANISTIA GRAÇA E INDULTO
Extingue o efeito primário da condenação (pretensão Extingue o efeito primário da condenação (pretensão
executória). executória).
Extingue também os efeitos secundários penais da NÃO extingue os efeitos secundários penais da
condenação (ex: reincidência). condenação.
Não extingue os efeitos secundários extrapenais da NÃO extingue os efeitos secundários extrapenais da
condenação (ex: tornar certa a obrigação de indenizar, condenação (ex: tornar certa a obrigação de indenizar,
perda da função pública). Os efeitos de natureza civil perda da função pública). Os efeitos de natureza civil
permanecem íntegros. permanecem íntegros.
Critério trifásico
A dosimetria da pena na sentença obedece a um critério trifásico:
1º passo: o juiz calcula a pena-base de acordo com as circunstâncias judiciais do art. 59, CP;
2º passo: o juiz aplica as agravantes e atenuantes;
3º passo: o juiz aplica as causas de aumento e de diminuição.
Este critério trifásico, elaborado por Nelson Hungria, foi adotado pelo Código Penal, sendo consagrado pela jurisprudência pátria
(STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1021796/RS, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 19/03/2013).
Maus antecedentes
Na primeira fase, as chamadas circunstâncias judiciais analisadas pelo juiz são as seguintes:
a) culpabilidade, b) antecedentes, c) conduta social, d) personalidade do agente, e) motivos do crime, f) circunstâncias do crime, g)
consequências do crime, h) comportamento da vítima.
Antecedentes são as anotações negativas que o réu possua em matéria criminal.
Se o juiz entender que o réu possui maus antecedentes, ele irá aumentar a pena-base imposta ao condenado. Trata-se, portanto, de
uma circunstância analisada na 1ª fase da dosimetria.
O STJ afirma que, em face do princípio da presunção de não culpabilidade, os inquéritos policiais e ações penais em curso não
podem ser considerados maus antecedentes.
Súmula 444-STJ: É vedada a utilização de inquéritos policiais e ações penais em curso para agravar a pena-base.
Esse é também o entendimento do STF:
A existência de inquéritos policiais ou de ações penais sem trânsito em julgado não podem ser considerados como maus
antecedentes para fins de dosimetria da pena.
STF. Plenário. RE 591054/SC, Rel. Min. Marco Aurélio, julgado em 17/12/2014 (repercussão geral) (Info 772).
A tese da defesa é acolhida pelo STJ? A comprovação dos maus antecedentes e da reincidência precisa ser feita,
obrigatoriamente, por meio de certidão cartorária?
NÃO. Para o STJ, a comprovação dos maus antecedentes ou a comprovação da reincidência pode ser feita com a juntada da mera
folha de antecedentes criminais do réu.
(...) a folha de antecedentes criminais é documento hábil e suficiente à comprovação da existência de maus antecedentes e reincidência,
não sendo, pois, imprescindível a apresentação de certidão cartorária. (...)
STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1716998 RN, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 08/05/2018.
O registro de condenação transitada em julgado em folha de antecedentes criminais é suficiente para a caracterização da
reincidência, não sendo obrigatória a apresentação de certidão cartorária.
STJ. 6ª Turma. HC 212789 SP, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 07/10/2014.
Assim, a folha de antecedentes criminais é documento hábil à comprovação tanto dos maus antecedentes como da reincidência.
Por que?
Porque a folha de antecedentes criminais já possui fé pública e valor probante para o reconhecimento das informações nela
certificadas. (STJ. 6ª Turma. HC 272899 SP, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado em 18/09/2014.
A folha de antecedentes criminais expedida contém a identificação do réu, o crime que o condenou e a data do trânsito em julgado
da condenação. Essas informações já são suficientes para o reconhecimento da circunstância judicial dos “maus antecedentes” ou
para a agravante da “reincidência”, não sendo necessário, portanto, nenhum documento a mais (STJ. 5ª Turma. REsp 285750/DF,
Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 07/10/2003).
Presunção relativa
Vale ressaltar que a folha de antecedentes faz presunção relativa de veracidade. Assim, a defesa poderá provar, por exemplo, que
alguma informação que ali consta está incorreta.
Os atos infracionais podem ser valorados negativamente na circunstância judicial referente à personalidade do agente?
Resumo do julgado
Os atos infracionais podem ser valorados negativamente na circunstância judicial referente à personalidade do agente?
Existe certa polêmica no STJ sobre o tema:
1ª corrente: NÃO.
Atos infracionais não podem ser considerados maus antecedentes para a elevação da pena-base, tampouco podem ser utilizados para
caracterizar personalidade voltada para a pratica de crimes ou má conduta social.
Há impropriedade na majoração da pena-base pela consideração negativa da personalidade do agente em razão da prévia prática de
atos infracionais, pois é incompossível exacerbar a reprimenda criminal com base em passagens pela Vara da Infância.
STJ. 5ª Turma. HC 499987/SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 30/05/2019.
STJ. 6ª Turma. REsp 1702051/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 06/03/2018.
2ª corrente: SIM
A prática de ato infracional, embora não possa ser utilizada para fins de reincidência ou maus antecedentes, por não ser considerada
crime, pode ser sopesada na análise da personalidade do paciente, reforçando os elementos já suficientes dos autos que o apontam
como pessoa perigosa e cuja segregação é necessária.
STJ. 5ª Turma. HC 510354/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 18/06/2019.
João, 19 anos, está respondendo a processo criminal por roubo. Quando era adolescente, João cumpriu medida socioeducativa
por homicídio. No momento da condenação, o juiz poderá considerar esse ato infracional para fins de reincidência ou de maus
antecedentes?
NÃO. Atos infracionais não podem ser considerados maus antecedentes para a elevação da pena-base e muito menos servem para
configurar reincidência (STJ. 5ª Turma. HC 289.098/SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 20/05/2014).
E como “personalidade”? Os atos infracionais podem ser valorados negativamente na circunstância judicial referente à
personalidade do agente?
Existe certa polêmica no STJ sobre o tema:
1ª corrente: NÃO.
Atos infracionais não podem ser considerados maus antecedentes para a elevação da pena-base, tampouco podem ser utilizados para
caracterizar personalidade voltada para a pratica de crimes ou má conduta social.
STJ. 5ª Turma. HC 499.987/SP, Rel. Min. Felix Fischer, julgado em 30/05/2019.
Há impropriedade na majoração da pena-base pela consideração negativa da personalidade do agente em razão da prévia prática de
atos infracionais, pois é incompossível exacerbar a reprimenda criminal com base em passagens pela Vara da Infância.
STJ. 6ª Turma. REsp 1702051/SP, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura, julgado em 06/03/2018.
2ª corrente: SIM
A prática de ato infracional, embora não possa ser utilizada para fins de reincidência ou maus antecedentes, por não ser considerada
crime, pode ser sopesada na análise da personalidade do paciente, reforçando os elementos já suficientes dos autos que o apontam
como pessoa perigosa e cuja segregação é necessária.
STJ. 5ª Turma. HC 510.354/SP, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 18/06/2019.