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17 de Julho de 2023

O Pacote Anticrime e seus


reflexos no Código Penal - de
forma didática e descomplicada
Publicado por Vicente de Paula Rodrigues Maggio ano passado  1.411 visualizações

Considerações iniciais: o presente artigo tem a finalidade de


apresentar, em apertada síntese, o pacote anticrime e seus refle-
xos no Código Penal de forma sintética, didática e descompli-
cada, ou seja, deixando-se a devida análise minuciosa para arti-
gos posteriores.

Sumário: 1. Alterações no Código Penal promovidas pelo Pa-


cote Anticrime – 1.1 Legítima defesa – 1.2 Pena de multa – 1.3
Limite de cumprimento de pena – 1.4 Livramento condicional –
1.5 Efeitos da condenação – 1.6 Causas impeditivas da prescri-
ção – 1.7 Homicídio qualificado – 1.8 Crimes contra a honra –
1.9 Roubo – 1.10 Estelionato – 1.11 Concussão – 2. Alterações
no Código Penal promovidas por Leis Especiais - Lei
13.968/2019 – 2.1 Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio
ou a automutilação.

Introdução: A Lei 13.964, de 24 de dezembro de 2019, deno-


minada Pacote Anticrime, entrou em vigor em 23.01.2020, com
exceção do Juiz de Garantias [1] que ficou suspenso (não revo-
gado) por tempo indeterminado. À época, foram vetados 24
(vinte e quatro) dispositivos pelo Presidente da República. En-
tretanto, em abril de 2021, ocorreram profundas alterações no
pacote anticrime após a derrubada de 16 (dezesseis) vetos pelo
Congresso Nacional.

O objetivo do pacote anticrime é tornar mais efetivo o combate


ao crime organizado, a criminalidade violenta e à corrupção.
Para isso, promoveu mudança de diversos artigos do Código Pe-
nal, do Código de Processo Penal e de várias leis especiais, tais
como: Lei 7.210/1984 (Lei de Execução Penal) Lei 8.702/1990 (
Lei dos Crimes Hediondos), Lei 8.429/1992 ( Lei de Improbi-
dade Administrativa), Lei 10.826/2003 ( Estatuto do Desarma-
mento), dentre outras.

1. Alterações no Código Penal promovidas pelo Pacote


Anticrime

1.1 – Legítima defesa


Legítima defesa é uma causa de exclusão da ilicitude (ou da an-
tijuridicidade) consistente em repelir injusta agressão, atual ou
iminente, a direito próprio ou alheio, usando moderadamente
dos meios necessários ( CP, art. 25).

A alteração foi a inclusão do parágrafo único no referido artigo,


com a seguinte redação: “Observados os requisitos previstos no
caput deste artigo, considera-se também em legítima defesa o
agente de segurança pública que repele agressão ou risco de
agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes”.

Entendemos que se trata de um dispositivo redundante e desne-


cessário, por dois motivos: (a) se estão “observados os requisi-
tos previstos no caput deste artigo” é porque já se caracteriza
uma situação de legítima defesa; (b) se existe “vítima mantida
refém durante a prática de crimes”, o agente de segurança pú-
blica não só pode como também deve repelir agressão ou risco
de agressão à vítima refém. Desta forma, nos parece que foi cri-
ada, desnecessariamente, uma hipótese de legítima defesa espe-
cífica para agentes de segurança pública.

1.2 – Pena de multa

Com a alteração promovida pela Lei 13.964/2019, o art. 51 do


Código Penal passou a ter a seguinte redação: “Transitada em
julgado a sentença condenatória, a multa será executada pe-
rante o juiz da execução penal e será considerada dívida de va-
lor, aplicáveis as normas relativas à dívida ativa da Fazenda Pú-
blica, inclusive no que concerne às causas interruptivas e sus-
pensivas da prescrição.”

Desta forma, o legislador deixou bem claro que o juízo compe-


tente para executar a pena de multa é o juiz da execução penal
em ação promovida pelo Ministério Público, embora se possa
utilizar o rito da Lei de Execuções Fiscais.
Com a redação anterior, seria possível, concluir, erroneamente,
que a dívida de valor convertida da pena de multa estaria mi-
grando para esfera cível, ferindo o princípio da personalidade
da pena, pelo qual “nenhuma pena passará da pessoa do conde-
nado” ( CF, art. 5º, XLV, primeira parte). No entanto, “podendo
a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de
bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra
eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido”
( CF, art. 5º, XLV, segunda parte).

1.3 – Limite de cumprimento de pena

Com a alteração promovida pela Lei 13.964/2019, o art. 75, ca-


put, do Código Penal passou a ter a seguinte redação: “O tempo
de cumprimento das penas privativas de liberdade não pode ser
superior a 40 (quarenta) anos”.
Na redação anterior, o limite de cumprimento de pena privativa
de liberdade era de 30 (trinta) anos, fixados em 1940 (idade do
nosso Código Penal). Em 1984, com a reforma da Parte Geral,
por meio da Lei 7.209/1984, poderia ter alterado, porém, man-
teve esse limite.

A Constituição Federal determina que não pode existir pena de


caráter perpétuo (CF, art. 5º XLVII, b). Em 1940, o limite de
cumprimento de pena privativa de liberdade foi fixado em 30
anos e a expectativa de vida era de 45,5 anos. Em 2019, a expec-
tativa do brasileiro já estava em 76,3 anos, ou seja, a expectativa
de vida do brasileiro aumentou, em média, 30,8 anos de 1940 a
2019, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o
IBGE. [2]

Observa-se, porém, continua a prevalecer o disposto pela Sú-


mula 715 do STF: “A pena unificada para atender ao limite de
trinta anos de cumprimento, determinado pelo art. 75 do Có-
digo Penal, não é considerada para a concessão de outros bene-
fícios, como o livramento condicional ou regime mais favorável
de execução”. Agora, basta substituir os 30 pelos 40 anos. Desta
forma, ninguém cumpre em regime fechado, mais de 40 anos.
Porém, todos os benefícios relativos à execução penal devem es-
tar relacionados à quantidade total de pena e não os 40 anos
previstos para o efetivo cumprimento. [3]

1.4 – Livramento condicional

Livramento condicional é a possibilidade de que tem o conde-


nado que já cumpriu certo tempo de pena privativa de liberdade
de poder cumprir solto o período restante, mediante determina-
das condições que consistem em determinados requisitos objeti-
vos (relativos ao crime) e requisitos subjetivos (relativos ao
agente).
Com a alteração promovida pela Lei 13.964/2019, o art. 83, do
Código Penal passou a ter a seguinte redação: “O juiz poderá
conceder livramento condicional ao condenado a pena privativa
de liberdade igual ou superior a 2 (dois) anos, desde que:” (o ca-
put e os incisos I e II permanecem inalterados)

III – comprovado:

a) bom comportamento durante a execução da pena;


b) não cometimento de falta grave nos últimos 12 (doze) meses;

c) bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído; e

d) aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho


honesto;

Os incisos IV e V e o Parágrafo único, também permanecem


inalterados

Em suma: há duas alterações relevantes trazidas no contexto do


livramento condicional: (1) fixa-se no inciso III, a, a exigência
de bom comportamento, substituindo o comportamento satisfa-
tório durante a execução da penal; (2) estabelece-se, no inciso
III, b, a exigência do não cometimento de falta grave nos últi-
mos 12 meses. Assim, o livramento condicional fica em conso-
nância com o art. 112 da Lei de Execução Penal e com a juris-
prudência majoritária que indica justamente essa condição (do
não cometimento de falta grave nos últimos 12 meses) para a
obtenção do livramento condicional.

1.5 – Efeitos da condenação


Efeitos da condenação são todas as consequências que, direta ou
indiretamente, recaem sobre a pessoa do condenado por sen-
tença penal transitada em julgado. Resumidamente, eles podem
ser efeitos principais e secundários: (a) Efeitos principais: cum-
primento de pena privativa de liberdade, restritiva de direitos,
de multa, de medida de segurança e do período de prova da sus-
pensão condicional da pena; (b) Efeitos secundários (reflexos
ou acessórios) podem ainda ser genéricos (elencados no art. 91
do CP) e específicos (elencados no art. 92 do CP).

São exemplos de efeitos secundários da condenação: obrigação


de reparação civil do dano causado pelo crime; confisco de ins-
trumentos do crime, produto ou proveito do delito; perda de
cargo, função pública ou mandato eletivo; incapacidade para
exercer o poder familiar; inabilitação para dirigir veículo
quando usado como meio para cometer a prática de crime
doloso.

Com a finalidade de combater o enriquecimento ilícito, introdu-


ziu-se pela Lei 13.964/2019, o art. 91-A, do Código Penal, com a
seguinte redação:

Art. 91-A. Na hipótese de condenação por infrações às quais a lei


comine pena máxima superior a 6 (seis) anos de reclusão, po-
derá ser decretada a perda, como produto ou proveito do crime,
dos bens correspondentes à diferença entre o valor do patrimô-
nio do condenado e aquele que seja compatível com o seu rendi-
mento lícito.
§ 1º Para efeito da perda prevista no caput deste artigo, en-
tende-se por patrimônio do condenado todos os bens:

I - de sua titularidade, ou em relação aos quais ele tenha o do-


mínio e o benefício direto ou indireto, na data da infração penal
ou recebidos posteriormente; e

II - transferidos a terceiros a título gratuito ou mediante contra-


prestação irrisória, a partir do início da atividade criminal.
§ 2º O condenado poderá demonstrar a inexistência da incom-
patibilidade ou a procedência lícita do patrimônio.

§ 3º A perda prevista neste artigo deverá ser requerida expres-


samente pelo Ministério Público, por ocasião do oferecimento
da denúncia, com indicação da diferença apurada.

§ 4º Na sentença condenatória, o juiz deve declarar o valor da


diferença apurada e especificar os bens cuja perda for
decretada.

§ 5º Os instrumentos utilizados para a prática de crimes por or-


ganizações criminosas e milícias deverão ser declarados perdi-
dos em favor da União ou do Estado, dependendo da Justiça
onde tramita a ação penal, ainda que não ponham em perigo a
segurança das pessoas, a moral ou a ordem pública, nem ofere-
çam sério risco de ser utilizados para o cometimento de novos
crimes.

Tradicionalmente, no Direito Penal brasileiro, o alcance do con-


fisco sempre foi limitado aos instrumentos do crime e ao pro-
duto do crime (ou de qualquer bem ou valor que constitua pro-
veito auferido pelo agente com a prática do fato criminoso).
Com o dispositivo supra, inserido pela Lei 13.964/2019, buscou
o legislador, corretamente, combater o enriquecimento ilícito,
com o instituto conhecido como confisco alargado ou ampli-
ado. [4]

1.6 – Causas impeditivas da prescrição

Prescrição penal é a perda da pretensão punitiva ou executória


do Estado, em face de determinado criminoso, pelo decurso do
tempo previsto em lei, sem o seu exercício. A prescrição é uma
das causas de extinção da punibilidade ( CP, art. 107, V) e está
prevista no art. 109 e seguintes do Código Penal.
A punibilidade compreende duas pretensões do Estado: (a) pre-
tensão punitiva – que consiste no direito do Estado de exigir a
condenação do infrator penal, aplicando-lhe a pena que a lei vi-
olada prevê em abstrato; (b) pretensão executória – que con-
siste no direito do Estado de executar a pena que foi concreta-
mente aplicada na condenação do infrator.

A pretensão punitiva do Estado inicia-se, em regra, da data do


crime e termina com o trânsito em julgado definitivo da sen-
tença condenatória. A pretensão executória, por sua vez, inicia-
se com o trânsito em julgado definitivo da sentença condenató-
ria e termina com o efetivo cumprimento da pena ou com a ex-
tinção da punibilidade.
Durante os referidos lapsos temporais, pode ocorrer: (a) causas
impeditivas (ou suspensivas) que susta o prazo prescricional,
durante um certo período, retomando-se, depois, do ponto em
que parou a contagem, ou seja, o prazo volta a correr pelo
tempo restante, aproveitando-se o tempo decorrido anterior-
mente. As causas impeditivas estão previstas no art. 116 do CP e
em leis especiais; (b) causas interruptivas que interrompem o
prazo prescricional, ou seja, precisa ser reiniciado do zero, des-
prezando-se o tempo já decorrido. As causas interruptivas estão
previstas no art. 117 do CP e em leis especiais.

Com a alteração promovida pela Lei 13.964/2019, acrescentou-


se duas outras causas impeditivas da prescrição, inseridas nos
incisos III e IV, do artigo 116, do Código Penal.

No inciso III, prevê-se uma das novas causas impeditivas da


prescrição “na pendência de embargos de declaração ou de re-
cursos aos Tribunais Superiores, quando inadmissíveis” So-
mente esta causa já assegura, para a maioria dos casos crimi-
nais, o afastamento da impunidade gerada pela prescrição,
quando a defesa promove todos os recursos legalmente possí-
veis, protelando ao máximo o respectivo trânsito em julgado,
justamente para provocar a extinção da punibilidade pelo ad-
vento da prescrição.
Desta forma, a partir da vigência da Lei 13.964/2019, prolatada
a sentença condenatória e havendo embargos de declaração, se
forem estes considerados inadmissíveis, a prescrição fica sus-
pensa entre a data da sentença e a data da decisão sobre os em-
bargos. Da mesma forma, prolatado o acórdão, havendo embar-
gos, se inadmissíveis, a prescrição também fica suspensa.

O mesmo procedimento se aplica com os recursos aos Tribunais


Superiores, notadamente o recurso especial (STJ) e o recurso
extraordinário (STF), em hipóteses nas quais esses instrumen-
tos processuais são claramente procrastinatórios. Assim, ha-
vendo recurso, se inadmissíveis, a prescrição também fica
suspensa.
No inciso IV, prevê-se a outra nova causa impeditiva da prescri-
ção “enquanto não cumprido ou não rescindido o acordo de não
persecução penal”. Acordo de não persecução penal, discipli-
nado pelo art. 28-A, do Código de Processo Penal, é um instru-
mento jurídico formalizado por escrito e firmado pelo Ministé-
rio Público, pelo investigado e pelo seu defensor cabível nas in-
frações penais praticadas sem violência ou grave ameaça e com
pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, devidamente homolo-
gado pelo juízo competente. Assim, de acordo com o disposto le-
gal, em estudo, a persecução penal fica suspensa durante a vi-
gência do acordo de não persecução penal como também fica
suspensa a prescrição penal durante esse período.

1.7 – Homicídio qualificado

Homicídio é a eliminação da vida humana extrauterina prati-


cada por outra pessoa. Se a conduta for praticada pela mesma
pessoa, o fato é atípico (suicídio); se for eliminação da vida in-
trauterina, o crime praticado é aborto.
O direito à vida está expresso na Declaração Universal dos Di-
reitos Humanos [5] (ONU, 1948) e na Convenção Americana
sobre Direitos Humanos [6] (Pacto de São José da Costa Rica –
1969), promulgada em nosso país pelo Decret 678 78, de 9 de
novembro de 1992. A Constituição Federal [7] garante a inviola-
bilidade do direito à vida, a todos os brasileiros e estrangeiros
residentes no Brasil.

São espécies de homicídio: (a) Doloso – que pode ser simples (


CP, art. 121, caput), privilegiado (§ 1º) e qualificado (§ 2º); (b)
Culposo – que pode ser simples (§ 3º), qualificado (§ 4º) prati-
cado na direção de veículo automotor (Lei 9.503/1997, art.
302).

Homicídio simples é a modalidade básica do delito em que a


pena não é nem aumentada nem diminuída, em razão da ausên-
cia de circunstâncias [8] que o tornaria privilegiado ou qualifi-
cado. Pena – reclusão, de 6 a 20 anos – (CP, art. 121, caput).

Homicídio privilegiado é aquele que a lei acrescenta alguma cir-


cunstância ao tipo básico, para diminuir a pena. Na realidade
não se trata de nenhum privilégio e, sim, de uma causa de dimi-
nuição de pena, pois, neste caso, o juiz pode reduzir a pena de
um sexto a um terço – ( CP, art. 121, § 1º).

Homicídio qualificado é aquele que a lei acrescenta alguma cir-


cunstância ao tipo básico para aumentar a pena. Em todos os
casos, a pena passa a ser reclusão, de 12 a 30 anos – ( CP, art.
121, § 2º). O homicídio qualificado é crime hediondo, qualquer
que seja a qualificadora – (Lei 8.072/1990, art. 1º I, última
parte).

Com a alteração promovida pela Lei 13.964/2019, inseriu-se no


art. 121, § 2º, do Código Penal, uma nova qualificadora, pre-
vista, então, no seguinte inciso: VIII – com emprego de arma de
fogo de uso restrito ou proibido.

Trata-se de uma norma penal em branco, complementada pela


Lei 10.826/2003 ( Lei de Armas de Fogo) e por outros atos nor-
mativos, tais como: Decreto 9.845/2019 (trata da aquisição, ca-
dastro, registro e posse de armas de fogo e munição); Decreto
9.846/2019 (dispõe sobre o registro, cadastro e aquisição de ar-
mas e de munições por caçadores, colecionadores e atiradores);
Decreto 9.847/2019 (dispõe sobre a aquisição, cadastro, regis-
tro, porte e comercialização de armas de fogo e de munição e so-
bre o Sistema Nacional de Armas – Sinarm - e o Sistema de Ge-
renciamento Militar de Armas - Sigma) e Decreto 10.030/2019
(aprova o Regulamento de Produtos Controlados).

Resumidamente, podemos fazer a seguinte distinção: (a) arma


de fogo de uso restrito – são as armas de fogo automáticas, de
qualquer tipo ou calibre, semiautomáticas ou de repetição que
não sejam portáteis ou de projéteis de alma raiada [9]; (b) ar-
mas de fogo de uso proibido – são as armas de fogo dissimula-
das, com aparência de objetos inofensivos.

Esse inciso, objeto do presente estudo, inserido pela Lei


13.964/2019, foi inicialmente vetado pelo Presidente da Repú-
blica. Entretanto, o Congresso Nacional derrubou (correta-
mente) o referido veto, resultando na implementação de mais
uma qualificadora no crime de homicídio: com emprego de
arma de fogo de uso restrito ou proibido – ( CP, art. 121, § 2º,
VIII).

Caso o referido veto tivesse sido mantido, terminaria por ate-


nuar a pena do mau agente de segurança, que mata em situação
ilícita, como também de todos os agentes criminosos que se va-
lem dessas armas para atingir a polícia e a população em geral.
Além disso, muitos delinquentes disputam espaços de tráfico de
drogas com muita violência, matando uns aos outros, na maio-
ria das vezes, com o emprego de armas de fogo de uso restrito
ou proibido. [10]

1.8 – Crimes contra a honra

Inúmeros são os conceitos de honra, podendo, porém, ser sim-


plesmente entendida como sendo o “o conjunto de atributos fí-
sicos (como a sanidade mental e a força física), morais (como a
honestidade, a lealdade e o altruísmo) e intelectuais (como a in-
teligência e a cultura) que concorrem para determinar o valor da
pessoa humana perante si mesma e diante da sociedade” [11]

A honra, como um conjunto de atributos, pode ser dividida em:


(a) honra objetiva – é o sentimento que o grupo social tem a
respeito dos atributos físicos, morais e intelectuais de alguém,
ou seja, é o que os outros pensam a respeito do sujeito; (b)
honra subjetivo – é o sentimento que cada um tem a respeito de
seus próprios atributos, ou seja, é o juízo que se faz de si
mesmo, o seu amor-próprio, sua autoestima.

Pelo Código Penal os crimes que protegem a honra são: calúnia


(art. 138), difamação (art. 139) e injúria (art. 140), sendo que a
calúnia e a difamação protegem a honra objetiva e a injúria, a
honra subjetiva. Esses crimes são de natureza subsidiária ou re-
sidual que, em razão do princípio da especialidade, somente se-
rão aplicados quando o fato não estiver tipificado por leis espe-
ciais, tais como o Código Eleitoral (Lei 4.737/1965, arts. 324,
325 e 326) e no Código Penal Militar (Decreto-lei 1.001/1969,
arts. 214, 215 e 216).

Constitucionalmente, a honra é um bem considerado inviolável,


pelo que dispõe expressamente o texto maior: “são invioláveis a
intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, as-
segurando o direito a indenização pelo dano material ou moral
decorrente da sua violação” ( CF, art. 5º X).

Com a alteração promovida pela Lei 13.964/2019, inseriu-se o §


2º ao art. 141, do Código Penal (que prevê as disposições co-
muns dos crimes contra a honra), uma nova causa de amento de
pena, com a seguinte redação: “Se o crime é cometido ou divul-
gado em quaisquer modalidades das redes sociais da rede mun-
dial de computadores, aplica-se em triplo a pena”.

Esse referido parágrafo, objeto do presente estudo, inserido pela


Lei 13.964/2019, foi inicialmente vetado pelo Presidente da Re-
pública. Entretanto, o veto foi derrubado (corretamente) pelo
Congresso Nacional, resultando na implementação de mais uma
causa de aumento de pena, no triplo, quando qualquer dos cri-
mes contra a honra – calúnia, difamação ou injúria – é prati-
cado com a utilização de rede social da internet, como, por
exemplo, o Twitter, Facebook, Instagram, WhatsApp, Telegram
etc. - ( CP, art. 141, § 2º).

1.9 – Roubo

O crime de roubo possui duas figuras típicas simples: (a) Roubo


próprio – consiste no fato de “Subtrair coisa móvel alheia, para
si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pes-
soa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impos-
sibilidade de resistência” (CP, art. 157, caput); (b) Roubo im-
próprio – consiste no fato de o sujeito que “logo depois de sub-
traída a coisa, emprega violência contra pessoa ou grave ame-
aça, a fim de assegurar a impunidade do crime ou a detenção da
coisa para si ou para terceiro” ( CP, art. 157, § 1º). [12]

Além das duas figuras simples do crime de roubo (CP, art. 157,
caput e § 1º), estão previstas: (a) as causas de aumento de pena
de um terço até metade (§ 2º, incisos I a VII); (b) causas de au-
mento de pena de dois terços (§ 2º-A, incisos I e II); (c) causa
de aumento em que a pena se aplica em dobro (§ 2º-B); (d) fi-
guras qualificadas (§ 3º, incisos I e 2).

Com a alteração promovida pela Lei 13.964/2019, inseriu-se no


Código Penal: (a) uma nova causa de aumento de pena de um
terço até metade: “se a violência ou grave ameaça é exercida
com emprego de arma branca” ( CP, art. 157, § 2º, VII); (b) uma
nova causa de aumento em que a pena se aplica em dobro, “Se a
violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de
fogo de uso restrito ou proibido” ( CP, art. 157, § 2º-B).

O crime de roubo, em regra, não é crime hediondo, exceto


quando circunstanciado pela restrição da liberdade da vítima
(art. 157, § 2º, V) ou pelo emprego de qualquer arma de fogo
(art. 157, § 2º-A, I) ou pelo emprego de arma de uso proibido ou
restrito (art. 157, § 2º-B), ou então se qualificado pelo resultado
lesão corporal grave ou morte (art. 157, § 3º). E o que se extrai
da lei de crimes hediondos (Lei 8.072/1990, art. 1º, II).

1.9.1 - Primeira causa de aumento inserida: prevê uma


causa de aumento de pena de um terço até metade “se a violên-
cia ou grave ameaça é exercida com emprego de arma branca” (
CP, art. 157, § 2º, VII).

O conceito de arma branca é obtido por exclusão, ou seja, consi-


dera-se arma branca aquela que não é arma de fogo [13]. Arma
branca pode ser: (a) própria – quando produzida para ser utili-
zada para ataque ou defesa, tal como o punhal, a espada, o soco-
inglês, dentre outras; (b) imprópria – quando produzida para
variadas finalidades, sem a característica exclusiva de ser utili-
zada para ataque ou defesa, embora possa servir para isso, como
o martelo, a chave de fenda, o machado, a faca de cozinha, den-
tre outros instrumentos.
O porte de arma branca, por si só, constitui contravenção penal:
“Trazer consigo arma fora de casa ou de dependência desta, sem
licença da autoridade” ( Lei das Contravencoes Penais – De-
creto-lei 3.688/1941, art. 19). O referido dispositivo não se re-
fere à arma branca, mas a jurisprudência do Superior Tribunal
de Justiça é firme no sentido da possibilidade de tipificação da
conduta de porte de arma branca como contravenção penal.

No entanto, quando o roubo é praticado com o emprego de


arma branca, ao agente será imputado unicamente o delito em
estudo, tipificado no art. 157, § 2º, VII, que absorve a referida
contravenção penal de acordo com o princípio da consunção.
[14]

1.9.2 - Segunda causa de aumento inserida: prevê uma


nova causa de aumento em que a pena se aplica em dobro “Se a
violência ou grave ameaça é exercida com emprego de arma de
fogo de uso restrito ou proibido” ( CP, art. 157, § 2º-B).

Trata-se de uma norma penal em branco, complementada pela


Lei 10.826/2003 ( Lei de Armas de Fogo) e por outros atos nor-
mativos, tais como: Decreto 9.845/2019 (trata da aquisição, ca-
dastro, registro e posse de armas de fogo e munição); Decreto
9.846/2019 (dispõe sobre o registro, cadastro e aquisição de ar-
mas e de munições por caçadores, colecionadores e atiradores);
Decreto 9.847/2019 (dispõe sobre a aquisição, cadastro, regis-
tro, porte e comercialização de armas de fogo e de munição e so-
bre o Sistema Nacional de Armas – Sinarm - e o Sistema de Ge-
renciamento Militar de Armas - Sigma) e Decreto 10.030/2019
(aprova o Regulamento de Produtos Controlados).

Conforme já estudado, resumidamente, podemos fazer a se-


guinte distinção: (a) arma de fogo de uso restrito – são as ar-
mas de fogo automáticas, de qualquer tipo ou calibre, semiauto-
máticas ou de repetição que não sejam portáteis ou de projéteis
de alma raiada [15]; (b) armas de fogo de uso proibido – são as
armas de fogo dissimuladas, com aparência de objetos
inofensivos.

Desta forma, se a violência ou grave ameaça for exercida com


emprego de arma de fogo de uso restrito ou proibido, a pena
prevista no caput – reclusão, de 4 a 10 anos, e multa – será apli-
cada em dobro. [16]

As causas de aumento e diminuição de pena (circunstâncias le-


gais específicas), são consideradas na terceira fase da fixação
(ou dosimetria) da pena e a quantidade de aumento ou diminui-
ção está expressamente fixada pelo legislador e, assim, não de-
pende do critério do juiz. Se essas causas estiverem previstas na
Parte Geral do Código Penal (do art. 1º ao 120), todas serão de
aplicação obrigatória; se estiverem previstas na Parte Especial
(do art. 121 ao 361), aplica-se só o maior aumento ou só a maior
diminuição ( CP, art. 68, parágrafo único). Todavia, nesta fase, a
pena pode ficar tanto abaixo do mínimo quanto acima do má-
ximo cominado.

1.10 – Estelionato

O crime de estelionato, consiste no fato de o agente “Obter, para


si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, indu-
zindo ou mantendo alguém em erro, mediante artifício, ardil, ou
qualquer outro meio fraudulento: Pena - reclusão, de um a cinco
anos, e multa” (CP, art. 171, caput).

Na execução do estelionato, a fraude pode ser praticada por


meio de: (a) artifício (meio material – truque, dissimulação),
como, por exemplo, o conto do bilhete premiado ou venda de bi-
juteria como se fosse ouro; (b) ardil (meio moral – manha, as-
túcia), como, por exemplo, quando o agente se faz passar por
um representante de uma instituição de caridade; (c) qualquer
outro meio fraudulento, como, por exemplo, o silêncio daquele
que tem o dever de alertar ou dizer a verdade para que a vítima
não seja induzida ou mantida em erro.

De qualquer forma, o meio escolhido deve ser idôneo para enga-


nar a vítima, levando em conta as condições do caso concreto,
caso contrário, caracteriza o crime impossível e, desta forma,
não se pune nem a tentativa – ( CP, art. 17).

O delito de estelionato antes do pacote anticrime, era, em regra,


de ação penal pública incondicionada, cujo oferecimento da de-
núncia para iniciar a ação penal não dependia de qualquer con-
dição de procedibilidade. Entretanto, com a alteração promo-
vida pela Lei 13.964/2019, a ação penal do delito em estudo pas-
sou a ser, em regra, condicionada à representação, salvo em ra-
lação às vítimas abaixo mencionadas, onde a ação penal conti-
nua sendo pública incondicionada ( CP, art. 171, § 5º, I a IV).

Assim, dispõe o § 5º do art. 171, do Código Penal: “Somente se


procede mediante representação, salvo se a vítima for:

I - a Administração Pública, direta ou indireta: (a) Administra-


ção Pública direta é o conjunto de órgãos ligados diretamente ao
Poder Executivo, em nível federal (Presidência da República e
seus ministérios, Congresso Nacional e Supremo Tribunal Fede-
ral), estadual (Governo estadual e suas secretarias, Assembleia
legislativa, Ministério Público Estadual e Tribunal de Justiça) e
municipal (Prefeitura e suas secretarias, Câmara dos Vereadores
e o procurador do município); (b) Administração Pública indi-
reta é o conjunto de órgãos que prestam serviços públicos e es-
tão vinculados a uma entidade da administração direta, mas
possuem personalidade jurídica própria, ou seja, têm CNPJ pró-
prio (autarquias [17], fundações públicas [18], empresas públi-
cas [19], sociedade de economia mista [20]).
II - criança ou adolescente: considera-se criança, para os efeitos
do Estatuto da Criança e do Adolescente, a pessoa até doze anos
de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito
anos de idade (ECA, Lei 8.069/1990, art. 2º, caput).

III - pessoa com deficiência mental: são as pessoas com au-


tismo, esquizofrenia, transtornos psicóticos e outras limitações
psicossociais que impedem a sua plena e efetiva participação na
sociedade em igualdade de oportunidades com as demais pes-
soas [21]; ou

IV - maior de 70 (setenta) anos de idade ou incapaz: quanto ao


incapaz, entendemos que deve ser aplicado o conceito do abso-
lutamente incapaz, de acordo com a legislação civil, que dispõe:
“São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos
da vida civil os menores de 16 (dezesseis) anos” – Código Civil –
Lei 10.406/2002, art. 3º).

Cabe observar que o não oferecimento da representação no


prazo legal leva à extinção da punibilidade, em razão da deca-
dência ( CP, art. 107, IV). Desta forma, surge a seguinte questão:
A nova sistemática da ação penal no crime de estelionato deve
ou não retroagir, visando alcançar os procedimentos investiga-
tórios e os processos em curso antes da entrada em vigor da Lei
13.964/2019? Há posições divergentes:

Em que pese as posições em sentido contrário, mesmo tratando-


se de norma de natureza penal mista (penal e processual), en-
tendemos ser inaplicável a retroatividade do § 5º, do art. 171, do
Código Penal, às hipóteses onde o Ministério Público tiver ofe-
recido a denúncia antes da entrada em vigor da Lei
13.964/2019, uma vez que naquele momento a norma proces-
sual em vigor definia a ação para o delito de estelionato como
pública incondicionada, cujo oferecimento da denúncia para ini-
ciar a ação penal não depende de qualquer condição de
procedibilidade.

1.11 – Concussão

O crime de concussão consiste no fato de o agente “Exigir, para


si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da
função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem in-
devida: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.”
(CP, art. 316, caput). São quatro os elementos que integram o
delito: (a) a conduta de exigir para si ou para outrem; (b) direta
ou indiretamente; (c) ainda que fora da função ou antes de as-
sumi-la, mas em razão dela; (d) vantagem indevida.
O crime de concussão (do latim concutere – verbo empregado
quando se queria significar o ato de sacudir uma árvore para fa-
zer cair os frutos). Segundo o conceito tradicional, trata-se de
uma espécie de extorsão praticada pelo funcionário público,
com abuso de autoridade, contra particular que cede ou vem a
ceder em razão do temor de represálias por parte do agente
(metus publicai potestatis). [22]

Distinção entre concussão e corrupção passiva: (a) Na concus-


são, o funcionário público exige a vantagem indevida e a vítima,
temendo alguma represália, cede à exigência, em razão dos po-
deres inerentes ao cargo ocupado pelo agente. Pena (antes do
pacote anticrime) – reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos, e
multa; (b) Na corrupção passiva ( CP, art. 317), há uma mera so-
licitação da vantagem indevida. Pena – reclusão, de 2 (dois) a
12 (doze) anos, e multa.

Em suma: a principal diferença entre esses crimes reside no fato


da existência ou não da coação, pois ela existe no primeiro, mas
não existe no segundo. Assim, na concussão o funcionário pú-
blico exige a vantagem indevida, havendo, portanto, uma ame-
aça, intimidação ou imposição; na corrupção passiva ele apenas
solicita, recebe ou aceita promessa de tal vantagem.

Conclui-se que a concussão se caracteriza por um fato mais


grave em relação à corrupção passiva e, por esse motivo, deveria
ter uma pena mais elevada ou, ao menos equiparada, à da cor-
rupção passiva. E foi exatamente o que aconteceu pela reforma
promovida pela Lei 13.964/2019, elevando-se a pena do delito
de concussão para reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa
e, desta forma, restabelecendo-se o princípio da proporcionali-
dade das penas.

2. Alterações no Código Penal promovidas por Leis


Especiais

2.1 – Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio ou a


automutilação

2.1.1 - Introdução

A Lei 13.968/2019 alterou o art. 122 do Código Penal com a fi-


nalidade de incluir, além, do suicídio, as condutas de induzir ou
instigar a automutilação, bem como a de prestar auxílio a quem
a pratique.

Suicídio é a deliberada destruição da própria vida. Embora a


vida seja um bem jurídico indisponível, o direito não pune
aquele que, com sua conduta, tira ou tenta tirar aquilo que tem
de mais precioso: sua própria vida. Assim, o suicídio consu-
mado não é crime pela impossibilidade de aplicação de sanção
penal, e na forma tentada, por razões de política criminal como
também, em ambos os casos, pelo fato do suicida ser, na reali-
dade, considerado vítima e não autor.
Automutilação (ou lesão autoprovocada intencionalmente) con-
siste em qualquer lesão intencional e direta dos tecidos do corpo
provocada pela própria pessoa, sem que esta tenha a intenção
de cometer suicídio. O motivo da inclusão da automutilação de-
corre do fenômeno denominado jogo da baleia azul que pelo
qual, indutores ou instigadores, fomentam ideias suicidas ou de
automutilação em vários jovens pelo mundo.
O referido jogo da baleia azul é capaz de levar os envolvidos a
praticar a automutilação ou até mesmo atingir o suicídio. A ba-
leia azul é encontrada nos oceanos Atlântico, Pacífico, Antártico
e Índico e chega a procurar as praias para morrer, por vontade
própria. Este jogo tem 50 níveis de dificuldade, sendo o suicídio
o resultado maior. [23]

Observa-se que induzir, instigar ou auxiliar, constituem, em re-


gra, atividades de partícipe. No crime de participação em suicí-
dio ou a automutilação, essas atividades constituem o núcleo do
tipo penal, ou seja, quem as pratica será autor ou coautor e não
partícipe, de acordo com a concepção restritiva, onde autor é so-
mente aquele que realiza a conduta típica.

Mesmo que o agente realize todas as condutas, responde por


crime único, pois se trata de crime de ação múltipla ou de con-
teúdo variado. São as seguintes as condutas que constituem o
núcleo do tipo penal, em estudo:

(a) Induzir – consiste em fazer nascer, criar na mente de al-


guém, a ideia de autodestruição ou de autolesão até então ine-
xistente. Desta forma, o agente indutor acaba, por qualquer
meio, criando em alguém uma vontade que o leva ao suicídio ou
a automutilação;

(b) Instigar – consiste em reforçar, estimular uma ideia de au-


todestruição ou de autolesão já existente. O agente instigador
provoca, por qualquer meio, a vontade já existente da vítima,
mas não toma parte nem da execução nem do domínio do fato;

(c) Auxílio – pressupõe a participação material ao suicídio ou à


automutilação, de forma secundária, como, por exemplo, o for-
necimento de veneno ou de qualquer objeto ou instrumento
para a prática de autolesão, empréstimo do punhal, do revólver,
a indicação de um local ideal para o suicídio ou a automutilação
etc. Entendemos que o auxílio é sempre prestado por uma ação
ou atividade positiva de fazer e, por isso, não é possível prestar
o auxílio por omissão.

2.1.2 - Figuras típicas qualificadas

São aquelas em que a lei acrescenta alguma circunstância ao


tipo básico com a finalidade de agravar a pena. No crime de par-
ticipação em suicídio ou a automutilação, em estudo, existem
duas figuras qualificadas, a saber:

(a) Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima -


Nos termos do § 1ºº, do art. 122 2, do Código Penal l, a pena é
de reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, “Se da automutilação ou
da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave
ou gravíssima, nos termos dos §§ 1ºº e 2ºº do art. 129 9 deste
Código”.

Desclassificação para lesão corporal gravíssima em razão das


qualidades da vítima: nos termos do § 6º, do art. 122, do Código
Penal, se da automutilação ou da tentativa de suicídio que re-
sulta lesão corporal natureza gravíssima (observa-se que não in-
clui a lesão de natureza grave) e o delito é cometido contra me-
nor de 14 (quatorze) anos ou contra quem, por enfermidade ou
deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a
prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não pode ofe-
recer resistência, o agente não responde por este crime qualifi-
cado de participação em suicídio ou a automutilação (que tem
pena prevista de reclusão, de 1 a 3 anos) e, sim, pelo crime de le-
são corporal gravíssima ( CP, art. 129, § 2º), cuja pena é sensi-
velmente superior: reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos.

(b) Se resulta morte em razão do suicídio ou da automutilação


– Nos termos do § 2ºº, do art. 122 2, do Código Penal l, a pena é
de reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, “Se o suicídio se con-
suma ou se da automutilação resulta morte”.

Desclassificação para homicídio em razão das qualidades da ví-


tima: nos termos do § 7º, do art. 122, do Código Penal, se o sui-
cídio se consuma ou se da automutilação resulta morte e o de-
lito é cometido contra menor de 14 (quatorze) anos ou contra
quem não tem o necessário discernimento para a prática do ato,
ou que, por qualquer outra causa, não pode oferecer resistência,
o agente não responde por este crime qualificado de participa-
ção em suicídio ou a automutilação (que tem pena prevista de
reclusão, de 2 a 6 anos) e, sim, pelo crime de homicídio ( CP,
art. 121), cuja pena é sensivelmente superior: reclusão, de 6
(seis) a 20 (vinte) anos.

2.1.3 - Causas de aumento de pena

No crime de participação em suicídio ou a automutilação, em


estudo, existe e a possibilidade de três aumentos de pena, apli-
cados distintamente em diversas causas de aumento, a saber:

Primeira causa de aumento de pena: Nos termos do § 3º, do


art. 122, do Código Penal, “a pena é duplicada: I – se o crime é
praticado por motivo egoístico, torpe ou fútil; II – se a vítima é
menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de
resistência”. Verifica-se, então, as seguintes hipóteses:
(a) Motivo egoístico – entende-se o motivo que decorre do ex-
clusivismo que faz o sujeito referir tudo a si próprio, sem consi-
deração aos interesses alheios. Exemplo: agente induz a vítima
ao suicídio para ficar com a sua herança, com seu cargo, com
sua esposa, para receber o seguro de vida etc. Guilherme de
Souza Nucci define o motivo egoístico como sendo o de “exces-
sivo apego a si mesmo, o que evidencia o desprezo pela vida
alheia, desde que algum benefício concreto advenha ao agente”.
[24]

(b) Motivo torpe – é aquele baixo, desprezível (que inspira hor-


ror do ponto de vista moral) e repugnante que deixa perplexa a
coletividade.

(c) Motivo fútil – é aquele insignificante, banal, sem importân-


cia, totalmente desproporcional em relação ao crime praticado.

(d) Vítima menor – quando a lei fala de vítima menor, está se


referindo àquela maior de 14 anos e menor de 18 anos, que
ainda não atingiram a maioridade penal ( CP, art. 27). Se a ví-
tima for menor de 14 anos, haverá presunção da sua incapaci-
dade de discernimento.

(e) Vítima com diminuída capacidade de resistência – em ra-


zão de enfermidade física ou mental (vítima embriagada, sob o
efeito de tóxicos, angustiada, deprimida, com idade avançada,
com algum tipo de enfermidade grave etc.)

É necessário que a capacidade de resistência da vítima esteja so-


mente diminuída. Exemplo: sujeito induz ao suicídio alguém
embriagado. Entretanto, se a vítima tiver totalmente sem capa-
cidade de discernimento e resistência, estará configurado o
crime de homicídio e não de participação em suicídio ou a auto-
mutilação qualificada.
Segunda causa de aumento de pena: Nos termos do § 4º, do
art. 122, do Código Penal, “A pena é aumentada até o dobro se a
conduta é realizada por meio da rede de computadores, de rede
social ou transmitida em tempo real”. Verifica-se, então, as se-
guintes hipóteses:

(a) Rede de computadores – neste caso, o agente pratica a con-


duta típica por meio de um conjunto de dois ou mais computa-
dores que usam determinadas regras (protocolo) em comum
para compartilhar, especialmente, a troca de mensagens entre
si, utilizando-se de uma conexão por meio de fio de cobre, fibra
ótica, ondas de rádio ou também via satélite. Exemplos: a inter-
net; a intranet de uma empresa; uma rede local doméstica etc.

(b) Rede social – é uma estrutura social composta por pessoas


ou organizações, conectadas por um ou vários tipos de relações,
que compartilham valores e objetivos comuns. Uma das funda-
mentais características na definição das redes é a sua abertura,
possibilitando relacionamentos horizontais e não hierárquicos
entre os participantes. Exemplos: Facebook, YouTube, What-
sApp, Messenger, Instagram, Twitter, Snapchat, LinkedIn etc.

(c) Transmitida em tempo real - é uma expressão utilizada na


reportagem, no meio televisivo ou radiofónico para indicar que
um programa ou evento está sendo transmitido em tempo real,
simultaneamente enquanto ocorre. No caso do delito em estudo,
o agente se utiliza de qualquer meio de comunicação (falado ou
escrito) para praticar a conduta delituosa em tempo real.
Terceira causa de aumento de pena: Nos termos do § 5º, do art.
122, do Código Penal, “Aumenta-se a pena em metade se o
agente é líder ou coordenador de grupo ou de rede virtual”. Ve-
rifica-se, então, as seguintes hipóteses:
(a) Líder ou coordenador – é o indivíduo que tem autoridade
para comandar ou coordenar outros, ou seja, é a pessoa cujas
ações e palavras exercem influência sobre o pensamento e com-
portamento de outras.

(b) Grupo ou rede virtual – é um espaço específico na Internet


que permite compartilhar, aos respectivos participantes, dados
e informações sendo estas de caráter geral ou específico, das
mais diversas formas (textos, arquivos, imagens, fotografias, ví-
deos etc.).

2.1.4 – Observações e casos especiais

(a) Automutilação – também conhecida como autolesão, não é


punida pelas mesmas razões de política criminal em relação ao
suicídio, ou seja, não comete crime o sujeito que ofende a pró-
pria integridade corporal. Entretanto, a conduta de se auto lesi-
onar, dependendo do propósito do agente, pode ser meio de
execução utilizado pelo mesmo para praticar outros crimes.
Assim, se o agente lesa o próprio corpo, ou agrava as con-
sequências da lesão existente, com a finalidade de receber inde-
nização ou valor de seguro, responde por estelionato ( CP, art.
171, § 2º, V). Se o agente cria ou simula incapacidade física que
o inabilite para o serviço militar, responde pelo crime de criação
ou simulação de incapacidade física, previsto no art. 184, do Có-
digo Penal Militar (Decreto-lei nº 1.001/1969).

(b) Greve de fome – especialmente dentro do sistema prisional,


o médico tem o dever de zelar pela vida do grevista de fome, ou
seja, ele está na posição de garantidor, onde sua omissão o fará
responder pela morte do grevista ( CP, art. 13, § 2º).

Assim, chegará o momento em que a intervenção médica para


ministrar alimentação ou medicamento se torna inevitável para
que o grevista não venha morrer ou sofrer lesões irreversíveis.
Neste caso, a coação exercida pelo médico para impedir o suicí-
dio do grevista não caracteriza o crime de constrangimento ile-
gal ( CP, art. 146, § 3º, I).

Situação análoga ocorre com as testemunhas de Jeová que, por


motivos religiosos, são contra as transfusões de sangue. Assim,
a transfusão determinada pelo médico, quando necessária para
salvar a vida do paciente, também não caracterizará o crime de
constrangimento ilegal ( CP, art. 146, § 3º, II).

(c) Pacto de morte – também chamado de suicídio a dois,


ocorre quando duas pessoas combinam, por qualquer razão, o
duplo suicídio e, para tanto, ficam em um cômodo da casa her-
meticamente fechado, com o gás de cozinha aberto. Entretanto,
se um ou ambos sobreviverem, teremos as seguintes situações:

Se um sobrevive e foi ele quem abriu o gás, responde pelo crime


de homicídio ( CP, art. 121), pois realizou o ato executório de
matar. Se um sobrevive e não foi ele quem abriu o gás, responde
pelo crime de participação em suicídio ou a automutilação ( CP,
art. 122);

Se os dois sobrevivem, havendo lesão de natureza grave: quem


abriu o gás responde por homicídio tentado (CP, art. 121, caput
c/c art. 14, II), e quem não abriu responde pelo crime de partici-
pação em suicídio ou a automutilação ( CP, art. 122);

Se os dois sobrevivem, e não há lesão de natureza grave: quem


abriu o gás responde por homicídio tentado (CP, art. 121, caput
c/c art. 14, II), e quem não abriu pelo crime de participação em
suicídio ou a automutilação ( CP, art. 122). Se os dois sobrevi-
vem e ambos abriram a torneira do gás: ambos respondem por
homicídio tentado (CP, art. 121, caput c/c art. 14, II).
(d) Duelo americano ou roleta russa – no duelo americano
existem duas armas e só uma delas está carregada e os agentes
escolhem uma delas; na roleta russa, a única arma tem um só
projétil, devendo ser disparada pelos agentes cada um em sua
vez. Nestes casos, o sobrevivente responde pelo crime de parti-
cipação em suicídio ou a automutilação ( CP, art. 122).

(e) Erro na execução ou aberratio ictus – ocorre quando o


agente pretende atingir determinada pessoa, efetua o golpe,
mas, por má pontaria ou qualquer outro motivo, acaba atin-
gindo pessoa diversa da que pretendia. Assim, se um suicida
dispara uma arma sobre si mesmo e acaba errando, atingindo e
matando uma terceira pessoa, responde pelo crime de homicí-
dio culposo ( CP, art. 121, § 3º).

2.1.5 – Competência e anomalia jurídica

Em que pese a boa vontade do legislador, a nova figura típica


(Induzimento, instigação ou auxílio a automutilação) acabou ca-
racterizando uma anomalia jurídica porque ficou situada em lo-
cal topograficamente inadequado do Código Penal, ou seja, en-
tre os “crimes contra a vida”, pois, o correto, seria ao menos fi-
car como uma variante no capítulo das Lesões Corporais, cuja
competência é do juízo singular.

O bem jurídico protegido é a vida (no caso de suicídio) e a inte-


gridade corporal (no caso da automutilação). Desta forma, se a
conduta do agente consiste em induzir, instigar ou prestar auxí-
lio material ao suicídio, a competência é do Tribunal do Júri que
julga os crimes dolosos contra a vida (homicídio, induzimento,
instigação ou auxílio ao suicídio, infanticídio e aborto), na
forma tentada ou consumada (CF, art. 5º, XXXVIII, alínea d,
c/c CPP, art. 74, § 1º).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BECCARIA, Cesare Bonesana, Marquês de. Dos Delitos e das
Penas. Tradução de Lucia Guidicini e Alessandro Berti Con-
tessa. – 2ª ed. – São Paulo: Martins Fontes, 2000.
HUNGRIA, Nélson. Comentários ao Código Penal – Volume IX.
– 2ª ed. – Rio de Janeiro: Forense, 1959.

MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Infanticídio e a morte


culposa do recém-nascido. Campinas, SP: Millenium Editora,
2004.
MASSON, Cleber. Direito Penal – Parte Geral – Volume 1. – 16ª
ed. – Rio de Janeiro: Método, 2022.

____ . Direito Penal – Parte Especial – Volume 2. – 15ª ed. –


Rio de Janeiro: Método, 2022.

____ . Direito Penal – Parte Especial – Volume 3. – 12ª ed. –


Rio de Janeiro: Método, 2022.

NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. – 22ª


ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2022.

____ . Pacote Anticrime Comentado: Lei 13.964, de


24.12.2019. – 2ª ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2021.

[1]. Liminar do Supremo Tribunal Federal: Na Ação Direta de


Inconstitucionalidade 6.299-DF, o Ministro Luiz Fux, em
22.01.2020, suspendeu a vigência dos arts. 3º-A a 3º-F, todos
relacionados à nova figura do juiz das garantias. Assim, os refe-
ridos artigos estão suspensos, por prazo indeterminado, até que
o mérito da causa seja avaliado pelo Plenário do STF.

[2]. Disponível em:


https://jornal.usp.br/atualidades/brasileiros-vivem-em-media-
30-anosamais-que-em-1940/ - publicado em 11.12.2019, acesso
em 01 de abril de 2022.
[3]. NUCCI, Guilherme de Souza. Pacote Anticrime Comen-
tado: Lei 13.964, de 24.12.2019. – 2ª ed. – Rio de Janeiro: Fo-
rense, 2021, pp. 14-15.

[4]. MASSON, Cleber. Direito Penal – Parte Geral – Volume 1.


– 16ª ed. – Rio de Janeiro: Método, 2022, p. 735.

[5]. Declaração Universal dos Direitos Humanos, ONU, 1948.


Art. III – “Toda pessoa tem direito à vida, à liberdade e à segu-
rança pessoal”.

[6]. Convenção Americana dos Direitos Humanos (Pacto de


São José da Costa Rica), 1969. Art. 4º- 1. “Toda pessoa tem o di-
reito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido
pela lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém
pode ser privado da vida arbitrariamente”.

[7]. Constituição Federal de 1988 – “Dos Direitos e Garantias


Fundamentais”. Art. 5º caput: “Todos são iguais perante a lei,
sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasilei-
ros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do di-
reito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à proprie-
dade, nos seguintes termos:”.

[8]. Circunstância é todo dado acessório (não essencial) que,


agregado à figura típica fundamental (ou figura simples), tem a
função de aumentar ou diminuir as consequências jurídicas do
crime, em especial a pena. As circunstâncias são objetivas,
quando relacionadas ao crime; ou subjetivas, quando relaciona-
das ao agente.

[9]. Nas armas de alma raiada há, na parte interna do cano, es-
trias helicoidais que fazem com que os projéteis girem em torno
do próprio eixo. Essas estrias permitem que o projétil saia gi-
rando da arma, detalhe que ajuda a alcançar maiores distâncias
com muita precisão.

[10]. NUCCI, Guilherme de Souza. Pacote Anticrime Comen-


tado: Lei 13.964, de 24.12.2019. – 2ª ed. – Rio de Janeiro: Fo-
rense, 2021, p. 26.

[11]. MAGGIO, Vicente de Paula Rodrigues. Infanticídio e a


morte culposa do recém-nascido. Campinas, SP: Millenium
Editora, 2004, p. 60.

[12]. A distinção entre o roubo próprio e impróprio reside no


momento em que o agente emprega a grave ameaça ou violência
contra a pessoa: (a) no roubo próprio a grave ameaça ou violên-
cia é empregada antes ou durante a subtração; (b) no roubo im-
próprio, a violência ou grave ameaça contra a pessoa é empre-
gada logo depois da subtração, a fim de assegurar a impunidade
do crime ou a detenção da coisa para si ou para terceiro.

[13]. Arma de fogo é um artefato que arremessa projéteis em-


pregando a força expansiva dos gases gerados pela combustão
de um propelente confinado em uma câmara que, normalmente,
está solidária a um cano que tem a função de propiciar continui-
dade à combustão do propelente, além de direção e estabilidade
ao projétil.

[14]. Princípio da consunção é aquele que se aplica, no conflito


aparente de normas, quando o fato definido como crime é prati-
cado na preparação, execução ou exaurimento de um outro
crime mais grave. Por este princípio, o agente responde somente
pelo crime mais grave que absorve o menos grave, ou seja, o
crime-fim absorve o crime-meio.
[15]. Nas armas de alma raiada há, na parte interna do cano, es-
trias helicoidais que fazem com que os projéteis girem em torno
do próprio eixo. Essas estrias permitem que o projétil saia gi-
rando da arma, detalhe que ajuda a alcançar maiores distâncias
com muita precisão.

[16]. MASSON, Cleber. Direito Penal – Parte Especial – Vo-


lume 2. – 15ª ed. – Rio de Janeiro: Método, 2022, p. 443.

[17]. Autarquias são instituídas por lei, têm autonomia admi-


nistrativa e financeira, mas estão sujeitas ao controle do Estado.
São entidades de direito público e sua atividade fim é de inte-
resse público. Exemplos: Agência Nacional de Energia Elétrica
(ANEEL), Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e o Banco
Central do Brasil (BACEN).

[18]. Fundações públicas são criadas por lei e podem ser enti-
dade de direito público ou privado. Sua atividade fim deve ser
de interesse público e essas organizações não podem ter fins lu-
crativos. Exemplos: Fundação Nacional do Índio (FUNAI).

[19]. Empresas públicas são pessoas jurídicas de direito pri-


vado, criadas por autorização legal e administradas pelo poder
público. O capital das empresas públicas é exclusivamente pú-
blico. Essas empresas prestam serviço de interesse coletivo e
exercem atividades econômicas. Exemplos: Correios e Caixa
Econômica Federal.

[20]. Sociedade de economia mista são pessoas jurídicas de di-


reito privado, criadas sob a forma de sociedade anônima e com-
postas por capital público e privado. A maior parte das ações
dessas empresas são do Estado. Assim como as empresas públi-
cas, prestam serviços públicos e exercem atividades econômicas.
Exemplos: Banco do Brasil e Petrobras.
[21]. De um modo geral, “pessoa com deficiência: aquela que
tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, in-
telectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais
barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na soci-
edade em igualdade de condições com as demais pessoas” – (Lei
10.098, art. 2º, III).

[22]. HUNGRIA, Nélson. Comentários ao Código Penal – Vo-


lume IX. – 2ª ed. – Rio de Janeiro: Forense, 1959, p. 358.

[23]. NUCCI, Guilherme de Souza. Pacote Anticrime Comen-


tado: Lei 13.964, de 24.12.2019. – 2ª ed. – Rio de Janeiro: Fo-
rense, 2021, p. 28.

[24]. NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. –


22ª ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2022, p. 686.

Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/artigos/o-pacote-anticrime-e-seus-reflexos-no-


codigo-penal-de-forma-didatica-e-descomplicada/1450595100

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