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ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR

ESCOLA DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS

CURSO DE FORMAÇÃO DE SOLDADOS 2024


LEGISLAÇÃO APLICADA À ATIVIDADE POLICIAL

Coordenação: 1º Ten Carolina Batista


Colaboração: 1º Ten Mariana Canuto

NOSSOS SÍMBOLOS, NOSSA HONRA.


Lei das Contravenções Penais
Decreto-Lei 3.688/41
O Decreto Lei 3688/41 foi recepcionado como Lei Ordinária, podendo,
portanto, trazer normas incriminadoras válidas em seu bojo, consoante a
C F , que exige lei em sentido estrito para que a alguém possa ser atribuído
cometimento de crime (art. 5º, X X X I X - não há crime sem lei anterior que o
defina, nem pena sem prévia cominação legal) – Princípio da Legalidade.

Infração penal é gênero do qual são espécies os crimes e as contravenções.


O que é, afinal, Contravenção Penal?

A contravenção é considerada u m a infração penal que gera consequências menores e punida


com sanções menos graves. O grande criminalista Nelson Hungria definiu a contravenção
penal como "crime-anão", em razão de s u a menor gravidade e repercussão social.

Principal Critério legal diferenciador entre C r i m e e Contravenção

Este critério refere-se às modalidades de PENA cabíveis para cada infração, e se baseia no
Decreto Lei nº 3.914/41 (Lei de Introdução ao Código Penal).
C R I M E : infração penal à qual a lei comina pena de reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer
alternativa ou cumulativamente com a pena de multa.
C O N T R A V E N Ç Ã O : a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão
simples ou de mul t a, ou a m b a s , alternativa ou cumulativamente.
PARTE GERAL

Art. 1º Aplicam-se as contravenções às regras gerais do Código Penal, sempre que a


presente lei não disponha de modo diverso (Pricípio da Especialidade).

Uma norma é especial em relação a outra, denominada geral, quando apresenta todos os elementos desta e
mais alguns, de cunho objetivo ou subjetivo, chamados especializantes. Quando isso ocorre, a norma
especial, i. e., a que acresce elemento à geral, tem preferência sobre esta: a norma especial exclui a
aplicação da geral, afastando o bis in idem.

Art. 2º A lei brasileira só é aplicável à contravenção praticada no território nacional.


(Territorialidade Exclusiva)

Art. 3º Para a existência da contravenção, basta a ação ou omissão voluntária. Deve-se,


todavia, ter em conta o dolo ou a culpa, se a lei faz depender, de u m ou de outra, qualquer
efeito jurídico.

ATENÇÃO! Trata-se de disposição elaborada à luz da Teoria Psicológico-normativa, em que


dolo e culpa eram espécies de culpabilidade. De acordo com a doutrina, o artigo foi
revogado tacitamente, pela reforma de 1984 do Código Penal. - Aplica-se o artigo 18, CP.
Art. 4º Não é punível a tentativa de contravenção.

Fundamento da impunidade da tentativa


O fundamento é da ordem de política criminal, e está no menor poder ofensivo do fato
contravencional, o que torna a tentativa uma conduta de pequena importância jurídica.

A expressão “não é punível a tentativa de contravenção” indica uma causa de exclusão da


antijuridicidade. O fato contravencional tentado é típico, porém não antijurídico.

Art. 6º A pena de prisão simples deve ser cumprida, sem rigor penitenciário, em estabelecimento
especial ou seção especial de prisão comum, em regime semiaberto ou aberto.

§ 1º O condenado à pena de prisão simples fica sempre separado dos condenados à pena de
reclusão ou de detenção.

§ 2º O trabalho é facultativo, se a pena aplicada não excede a 15 (quinze) dias.


Art. 7º - Verifica-se a reincidência quando o agente pratica uma contravenção
depois de passar em julgado a sentença que o tenha condenado, no Brasil ou no
estrangeiro, por qualquer crime, ou, no Brasil, por motivo de contravenção.

INFRAÇÃO ANTERIOR INFRAÇÃO POSTERIOR RESULTADO

CRIME CRIME REINCIDENTE

CRIME CONTRAVENÇÃO REINCIDENTE

CONTRAVENÇÃO CONTRAVENÇÃO REINCIDENTE

CONTRAVENÇÃO CRIME PRIMÁRIO


Art. 8º No caso de ignorância ou de errada compreensão da lei, quando escusáveis, a
pena pode deixar de ser aplicada.

Perdão judicial
O dispositivo prevê um caso de perdão judicial, instituto pelo qual o juiz, reconhecendo a
prática contravencional e a culpabilidade do réu, deixa de aplicar-lhe a pena. Constitui
causa de extinção da punibilidade (CP, art. 107, IX). Nesse sentido: TAMG, ACrim 137.136-
4, RJ, 49:370.

Exclusão da reincidência
Art. 120 do CP: “a sentença que conceder perdão judicial não será considerada para
efeitos de reincidência”.
Art. 9º Revogado tacitamente pelo artigo 5 1 do CP
Est e artigo fazia menção à possibilidade d e conversão d a p e n a d e multa e m p e n a
d e prisão s i m p l e s , estando e xpre ssa m e nt e V E D A D A e s t a conversão, n o s d i ze re s do art. 5 1
do C P .

Art. 10 - A duração da pena de prisão simples não pode, em caso


algum, ser superior a cinco a n o s , nem a importância das m ul t a s ultrapassar
cinquenta contos (atualmente calcula-se utilizando o sistema do “Dia-Multa”.
Suspensão Condicional da Pena e Livramento Condicional
Art. 11. Desde que reunidas as condições legais, o juiz pode suspender, por tempo não
inferior a u m ano nem superior a três, a execução da pena de prisão simples, bem
como conceder livramento condicional.

O s requisitos para o sursis são os mesmos do Código Penal, ou seja, aqueles previstos
no art. 77:
a) que a pena imposta na sentença não seja superior a dois anos;
b) que não seja cabível a substituição por pena restritiva de direitos;
c) que as circunstâncias judiciais do art. 59 do Código Penal sejam favoráveis ao
condenado;
d) que o réu não seja reincidente.

O período de prova para as contravenções, contudo, é menor, ou seja, é de u m a


três anos, enquanto nos crimes é de dois a quatro.

As regras de revogação e prorrogação do sursis, previstas no art. 81 do Código


Penal, aplicam-se às contravenções.
AÇÃO PENAL
Art. 17. A ação penal é pública, devendo a autoridade proceder de ofício.

Significa que a instauração do inquérito policial/TCO e da ação penal, não depende de


consentimento do sujeito passivo da contravenção ou de terceiro.

Processamento
Regra: JECRIM (rito sumaríssimo)
Exceção: Justiça Comum (rito sumário)

Inquérito: é a exceção. Em regra, adota-se o procedimento do TCO.

Competência para julgamento: Justiça Estadual, mesmo que haja interesse da União e
suas entidades (art. 109 CF)
GENERALIDADES

Tempo da Contravenção: Corresponde à data da prática do fato contravencional (art.


4º do CP): considera-se praticada a contravenção “no momento da ação ou omissão, ainda
que outro seja o momento do resultado” (teoria da atividade). Ex.: contravenção de
desabamento de construção (art. 29 da LCP). O sujeito dá causa ao desabamento, por erro
no projeto, em janeiro de 1993, vindo aquele a ocorrer em fevereiro. A contravenção se tem
por cometida em janeiro.

No Brasil só há duas contravenções penais que têm pena máximas maiores que 04
anos, a saber:
Lei 6.259/44:Art. 53. Colocar, distribuir ou lançar em circulação bilhetes de loterias
relativos a extrações já feitas. Penas: as do art. 171 do Código Penal. (01 a 5 anos).
Art. 54. Falsificar, emendar ou adulterar bilhetes de loteria. Penas: as do art. 298 do Código
Penal. (01 a 5 anos)
GENERALIDADES

Prisão em flagrante:
É admissível nas contravenções (vide arts. 301 a 310 do CPP).

Casos em que o contraventor se livra solto:


Nos termos do art. 321 do CPP, ressalvado o disposto em seu art. 323, III e IV, o sujeito se
livra solto: I — no caso de infração, a que não for, isolada, cumulativa ou alternativamente,
cominada pena privativa de liberdade; II — quando o máximo da pena privativa de
liberdade, isolada, cumulativa ou alternativamente cominada, não exceder a três meses.
Hipóteses do inc. I: LCP, contravenções descritas nos arts. 20, 22, caput e § 1º, 29, 30, 32,
37, 38, 43, 44, 46, 49, 61, 66 e 68, caput. Casos do inc. II: LCP, contravenções definidas
nos arts. 19, § 2º, 21, 22 e seu § 2º, 23, 26, 28, 31, 33, 35, 36 e seu parágrafo, 42, 45, 47 e
62.
GENERALIDADES

Penas restritivas de direitos:


Podem substituir a prisão simples, desde que satisfeitos os requisitos do art. 44 do CP.
Durante a execução pode ocorrer a sua conversão em prisão simples, nos termos do art. 181
da LEP.

Concurso de crime e contravenção:


Nos termos do art. 76 do CP, a pena mais grave, reclusão ou detenção, deve ser executada
antes da prisão simples.
QUADRO COMPARATIVO ENTRE CRIME E CONTRAVENÇÃO PENAL

CONTRAVENÇÃO CRIME
APLICAÇÃO DA LCP Territorialidade Exclusiva (art.2º, Extraterritorialidade (art. 7º
LCP) CP)
PENAS PRINCIPAIS Prisão Simples/Multa Reclusão/Detenção/Multa

AÇÃO PENAL Pública Incondicionada (art.17, Pública Incondicionada,


LCP) Condicionada ou Privada (art. 24
*ressalva para divergência ao 62, CPP)
jurisprudencial e doutrinária
em relação a vias de fato (art.
21, LCP)

PRAZO MÁXIMO D E 5 anos (art. 10 LCP) 40 anos (art. 75, CP)


CUMPRIMENTO D E PENA
TENTATIVA Não é punível (art. 4º LCP) É punível (art. 14, CP)
PRAZO DA SUSP E N SÃ O Mínimo de 1 ano e Máximo de 3 De 2 a 4 anos, em regra (arts. 77
CONDICIONAL DA PENA anos (art. 11, LCP) a 82, CPP)
APLICAÇÃO DA LEI 9099/95 Aplica-se a todas as Aplica-se apenas aos crimes com
contravenções, inclusive àquelas pena cominada inferior a 2 anos
com pena superior a 2 anos
PARTE ESPECIAL
Art. 19. Trazer consigo arma fora de c a s a ou de dependência desta, sem
licença da autoridade:
Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses, ou mult a, ou
a m ba s cumulativamente.

De acordo com a jurisprudência majoritária o referido foi revogado parcialmente pelo


Estatuto do Desarmamento no tocante às armas de fogo, remanescendo a
contravenção penal em relação às armas brancas.

Porte e transporte
Há diferença entre porte e transporte. Este corresponde à locomoção da arma de um local para outro. Não é
punido, uma vez que revela apenas a intenção de mudar o objeto material de lugar, sem finalidade de uso. Já o
porte dá a ideia de trazer consigo a arma para utilização imediata.

Transporte impunível
Só ocorre quando o uso da arma, pela forma com que é conduzida, não se mostra imediato e fácil. Casos:
arma em pasta fechada à chave; arma no interior de mochila, no porta-malas de veículo; arma sob o banco do
motorista, coberta pelo carpete do assoalho do veículo.
S e m licença da autoridade
A opção de conceder ou não o porte a uma determinada pessoa está dentro do
poder discricionário da autoridade responsável. Ocorre que, como não existe
licença para o porte de armas brancas e considerando art. 19 da Lei das
Contravenções Penais somente estaria em vigor em relação a estas, tal parte do
dispositivo encontra- se sem aplicação prática.
E m resumo

S T J : conduta de quem porta arma branca é típica.

S T F : Recurso com repercussão geral pendente de julgamento, doutrina entende


que a tendência é que decida por atipicidade, tendo em vista inexistência de
norma regulamentadora.

Porte de simulacro de arma de fogo


- https://meusitejuridico.editorajuspodivm.com.br/2019/03/22/porte-ilegal-de-simulacro-de-arma-de-fogo-
consequencias-juridicas/
- o porte de simulacro, por si só, cabe apenas a sua apreensão, sem contudo prisão
do indivíduo que a tiver portando
VIAS DE FATO

Art. 21. Praticar vias de fato contra alguém:


Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, se o fato não constitui
crime.
Parágrafo único. Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) até a metade
se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos.

VIAS D E FATO: se caracterizam como atos de violência, sem o dolo e a intensidade


suficiente para ofender efetivamente a integridade física ou mental. Diz a doutrina, por
exclusão: "constitui vias de fato toda agressão física contra a pessoa, desde que não
constitua lesão corporal”. Ex.: empurrão, bofetada, puxar cabelo, rasgar roupa, causando
eritemas. O resultado naturalístico (material) não existe, a lei não se preocupa com o resultado. Ocorrendo
evento material (ferimentos, hematomas) o fato passa a configurar lesão corporal, injúria real, etc.

Vias de Fato x Injúria Real: a injúria real consiste em um crime em que, através de vias de fato (cuspe no
rosto, puxão de cabelo, etc) é realizada ofensa a honra subjetiva de outrem (princípio da absorção ou
consunção).
Embora a Ação Penal pela LCP seja sempre incondicionada, existe doutrina que baliza o
entendimento, d e q u e “A ação penal relativa à contravenção de vias de fato dependerá
de representação” (Enunciado nº 76 do Fórum Nacional de Juizados Especiais (FONAJE).

Estes entendimentos se fundamentam na edição da Lei 9.099/95, a qual previu em


seu artigo 88 a necessidade de representação do ofendido em crimes de lesão
corporal leve e culposa. Visando uma interpretação proporcional e racional
do ordenamento jurídico, entendeu-se que a Lei 9.099 disse “menos que queria
dizer”, u m a vez que as vias de fato são infração penal que sequer provocam lesão.
Portanto, não seria razoável que diante delas o Estado procedesse de ofício, e, ao
contrário, diante de crimes de lesão, se procedesse somente mediante
representação.

Exceção: Lei Maria da Penha - se as vias de fato se derem em contexto


doméstico e familiar contra a mulher, a ação é pública e incondicionada (art. 41,
Lei 11.340/2006).
Art. 2 4 . Fabricar, ceder o u vender gazua o u instrumento empregado usualme nt e n a prática
de crime de furto:

Pena – prisão simples, de seis meses a dois a n o s , e m u l t a .

Conceito de “Gazua”/chave mixa: É todo instrumento apto a fazer funcionar fechadura, cadeado ou aparelho similar.
Normalmente é um ferro curvo que serve para abrir fechaduras. A lei também faz referência a qualquer instrumento
usualmente empregado na prática de furto, como alicate, pinça, serra, verruma, lima, pé de cabra, chave de fenda, etc.

Se o agente é surpreendido adquirindo “gazua” o fato é atípico.

O objeto material deve ter destinação própria para prática de furto, atentando-se para o termo
"usualmente", sendo necessário o exame pericial para a sua caracterização.
Art. 31. Deixar em liberdade, confiar à guarda de pessoa inexperiente, ou não guardar com
a devida cautela animal perigoso:

Pena – prisão simples, de dez dias a dois meses, ou multa.

Parágrafo único. Incorre n a mesma pena quem:

a) n a via pública, abandona animal de tiro, carga ou corrida, ou o confia à pessoa


inexperiente;

b) excita ou irrita animal, expondo a perigo a segurança alheia;

c) conduz animal, n a via pública, pondo em perigo a segurança alheia.

INCOLUMIDADE PÚBLICA: A Incolumidade pública se consubstancia no dever de evitar o perigo


ou o risco coletivo, de forma a garantir o bem estar e a segurança de u m número indeterminado de
pessoas ou de bens, quando o agente estiver diante de situações que causem ameaça de dano.
Art. 4 0 . Provocar tumulto o u portar-se de modo inconveniente ou desrespeitoso, em
solenidade ou ato oficial, em assembleia o u espetáculo público, se o fato não constitui
infração penal m ai s grave.

Pena – prisão simples, de quinze dias a seis m eses, o u m u l t a .

Art. 4 1 . Provocar alarma, an uncian do desastre ou perigo inexistente, ou praticar qualquer ato
capaz de produzir pânico ou tumulto:
Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses, o u m u l t a .

ATENÇÃO! Trote é crime de acionar autoridade (art. 340 CP)


PERTURBAÇÃO DE SOSSEGO

Art. 42. Perturbar alguém, o trabalho ou o sossego alheios:


I — com gritaria ou algazarra;
II — exercendo profissão incômoda ou ruidosa, em desacordo com as prescrições legais;
III — abusando de instrumentos sonoros ou sinais acústicos;
IV — provocando ou não procurando impedir barulho produzido por animal de que tem guarda:
Pena — prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, ou multa.

Memorando nº 32.276.3/09-EMPM (Perturbação de Sossego )


De acordo com o Memorando nº 32.276.3/09-EMPM, elaborado pelo Estado-Maior da Polícia Militar, o primeiro procedimento
policial é o de orientar o possível contraventor, no sentido de que se faça cessar a perturbação, sob pena de tomada de medidas
mais rigorosas.
https://prefeitura.pbh.gov.br/politica -urbana/fiscalizacao/poluicao -sonora
Considerações Importantes

1-Para que se caracterize a perturbação de sossego, não é necessário medir com decibelímetro a
intensidade do som emitido;

2- A vítima poderá não acompanhar a guarnição até a delegacia, porém deverá ser identificada;

3- Não há horário específico que possa descaracterizar a perturbação de sossego, ela pode acontecer a
qualquer horário do dia ou da noite;

4- A Polícia Militar poderá apreender os objetos relacionados a prática da infração penal normalmente,
conforme autoriza o Código Penal Brasileiro;

5- Poderá ser solicitado pela Prefeitura o apoio ao cumprimento de fiscalizações em estabelecimentos


comerciais, indústrias, atividades recreativas, sociais e prestações de serviços, para aplicação de
multas e/ou outras penalidades cabíveis, conforme a lei local (Em Belo Horizonte: Lei 9.505/2008 –
Emissão de ruídos).

Não se incluem no universo de atendimento da Prefeitura as reclamações referentes a latidos de cães e canto de galos em
residências; barulho de trânsito de veículos e de brigas/algazarra em via pública; ruídos de vizinhos em suas residências
(situações domésticas); ruídos provocados por manifestações grevistas, sem uso de equipamentos de som; disparos de
alarmes de veículos; reclamações de outros municípios; e festas em residências.
Considerações Importantes

Elemento normativo: A expressão “alheios” faz concluir que a perturbação de um a única


pessoa não configura esta contravenção.

Evidenciado que u m a pessoa determinada se encontrou em situação de incômodo e


prejuízo, devido a ações do agente, configura-se, em princípio, a perturbação da
tranquilidade e, não a perturbação do sossego alheio – figura que prevê prejuízo
para número indeterminado de pessoas. (RHC 11.235/MG, Rel. Ministro G I LSON DIPP,
QUINTA TURMA, julgado em 02/08/2001)

O STF, no H C 85032/ RJ, decidiu que a perturbação deve alcançar u m número


considerável de pessoas. Devem ser também considerados outros aspectos, tais
como costumes e cultura.

Segundo o S T J (HC 54536/MS), se ocorrer poluição sonora em níveis prejudiciais à saúde


humana, haverá crime ambiental.
Contravenções contra a Fé Pública

Art. 43. Recusar-se a receber, pelo seu valor, moeda de curso legal no país:

Pena – m u lt a .

Art. 45. Fingir-se funcionário público:


Pena – prisão simples, de u m a três meses, ou m u lt a.

Comentar diferenciação com as condutas dos arts. 307 (falsa identidade) e 328
(usurpação de função pública) do CP.
Art. 46. Us a r, publicamente, de uniforme, ou distintivo de função pública que não
exerce; u s a r , indevidamente, de sinal, distintivo ou denominação cujo emprego
seja regulado por lei.
Pena – m ult a, de duzentos a dois mil cruzeiros, se o fato não constitui infração penal
mais grave.

Mencionar o crime militar previsto no art. 171 do CPM.


Art. 47. Exercer profissão ou atividade econômica ou anunciar que a exerce, sem preencher as condições a que
por lei está subordinado o seu exercício:
Pena — prisão simples, de 15 (quinze) dias a 3 (três) meses, ou multa.

CONSIDERAÇÕES RELEVANTES:

“Flanelinhas” (guardadores de veículos) -Lei 6.242/75, regulamentada pelo Decreto 79.797/77, cujo
art. 1º dispõe: “O exercício das profissões de guardador e lavador autônomo de veículos
automotores, com as atribuições estabelecidas neste Decreto, somente será permitido aos
profissionais registrados na Delegacia Regional do Trabalho do Ministério do Trabalho.

Em se tratando de flanelinha, não há “atividade especializada que exija conhecimentos


técnicos para a sua realização, não sendo a previsão de registro em determinado órgão, por
si só, capaz de tornar a conduta penalmente relevante.” (Dizer o Direito, Informativo 536 do
STJ)
Poderá haver crimes de extorsão, constrangimento ilegal, estelionato, todavia, entendo
não haver contravenção propriamente dita referente ao exercício irregular de
profissão.
Contravenções contra a Polícia de Costumes

Art. 50. Estabelecer ou explorar jogo de azar em lugar público ou acessível ao público, mediante o
pagamento de entrada ou sem ele:

Pena – prisão simples, de três meses a u m a n o , e m u l t a , estendendo- se os efeitos da condenação à perda dos
moveis e objetos de decoração do local.

Exige a atuação de várias pessoas: banqueiro, carteador, ponteiro, apostador e outros participantes do jogo. Mínimo de
pessoas: duas. Ponteiro: é a pessoa que faz a aposta. A qualificação plurissubjetiva da infração não impede a
responsabilidade penal isolada de seus participantes.

Conceito de Jogo de Azar : §3º do artigo 50

a) o jogo em que o ganho e a perda dependem exclusiva ou principalmente da sorte;

b) as apostas sobre corrida de cavalos fora de hipódromo ou de local onde sejam autorizadas;

c) as apostas sobre qualquer outra competição esportiva.


§ 4º Equiparam-se, para os efeitos penais, a lugar acessível ao público:

a) a casa particular em que se realizam jogos de azar, quando deles habitualmente participam pessoas que
não sejam da família de quem a ocupa;
b) o hotel ou casa de habitação coletiva, a cujos hóspedes e moradores se proporciona jogo de azar;
c) a sede ou dependência de sociedade ou associação, em que se realiza jogo de azar;
d) o estabelecimento destinado à exploração de jogo de azar, ainda que se dissimule esse destino.

São considerados jogos de azar


Monte, jaburu, caipira, ronda, trinta e um, roleta, víspora, pôquer, pif-paf, “bingo”.

A jurisprudência do Superior Tribunal de J u stiç a é assente em afirmar que a E XPL OR AÇ ÃO E FUNCIONAMENTO


das máquinas de jogos eletrônicos, caça-níqueis, bingos e similares é de natureza ilícita, revelando prática contra-
vencional descrita no art. 50 da Lei de Contravenções Penais. (RMS 21.422/PR, Rel. Min. Luiz F u x , Primeira
Turma, julgado em 16.12.2008, D J e 18.2.2009.). Precedentes. Súmula 83/STJ .

Sobretudo, em razão da realização de jogos de azar, sem amparo legal, vulnerar a ordem pública, a economia
popular e o direito dos consumidores (além de infringir a legislação penal, notadamente os arts. 50 e 51 da Lei de
Contravenções Penais).
JOGO DO BICHO
Art. 58. (Revogado pelo art. 58 do Decreto-Lei n. 6.259, de 10-2-1944.)
• Legislação em vigor

O art. 58 da LCP foi revogado e substituído pelo art. 58 do Decreto-Lei n. 6.259, de 10 de fevereiro de 1944, que tem a
seguinte redação:
‘‘Art. 58. Realizar o denominado ‘jogo do bicho’, em que um dos participantes, considerado comprador ou ponto,
entrega certa quantia com a indicação de combinações de algarismos ou nome de animais, a que correspondem
números, ao outro participante, considerado o vendedor ou banqueiro, que se obriga mediante qualquer sorteio ao
pagamento de prêmios em dinheiro.
Penas — de 6 (seis) meses a 1 (um) ano de prisão simples e multa ao vendedor ou banqueiro, e de 40 (quarenta) a 30
(trinta) dias de prisão celular ou multa ao comprador ou ponto.
§ 1º Incorrerão nas penas estabelecidas para vendedores ou banqueiros:
a) os que servirem de intermediários na efetuação do jogo;
b) os que transportarem, conduzirem, possuírem, tiverem sob sua guarda ou poder, fabricarem, derem, cederem,
trocarem, guardarem em qualquer parte, listas com indicações do jogo ou material próprio para a contravenção, bem
como de qualquer forma contribuírem para a sua confecção, utilização, curso ou emprego, seja qual for a sua espécie ou
quantidade;
c) os que procederem à apuração de listas ou à organização de mapas relativos ao movimento do jogo;
d) os que por qualquer modo promoverem ou facilitarem a realização do jogo.
§ 2º Consideram-se idôneas para a prova do ato contravencional quaisquer listas com indicações claras ou disfarçadas,
uma vez que a perícia revele se destinarem à perpetração do jogo do bicho’’.
Art. 61. Importunar alguem, em lugar público ou acessivel ao público, de modo ofensivo ao pudor: (Revogado pela Lei nº
13.718, de 2018)
Pena – multa

*Contravenção revogada pela lei nº 13.718/2018. Não houve o abolitio a criminis, pois
conduta descrita na LCP passou a ser prevista no art.215-A do CP. não Desse modo,
tivemos o abolitio criminis, mas sim continuidade normativo-típica.
Art. 68. R ecusar à autoridade, quando por esta, justificadamente solicitados ou exigidos, dados ou
indicações concernentes à própria identidade, estado, profissão, domicílio e residência:

Pena – m u l t a , de duzentos mil réis a dois contos de réis.

Parágrafo único. Incorre n a pena de prisão simples, de u m a seis meses, e m u l t a , se o fato não
constitui infração penal mais grave, quem, n a s mesmas circunstâncias, faz declarações inverídicas a
respeito de s u a identidade pessoal, estado, profissão, domicílio e residência.

Diferenciar do crime de falsa identidade. Por exemplo: no momento da prisão em


flagrante o autor se identifica com nome falso, para que seus dados não sejam
conhecidos.
C o m alteração provocada no art. 9º do CPM pela Lei nº 13.491/2017, é
possível falarmos em contravenção Penal Militar?

Não, a alteração ocorrida no art. 9º do C P M que, diante de circunstâncias específicas e

especializadoras, permite abarcar como crimes militares aqueles tipificados na legislação

penal, ao se expressar “os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal”, em

nenhum momento determinou que fossem consideradas as contravenções penais. Lima (2017),

comentando sobre a nova competência da Ju st iça Militar, também coaduna com esse

entendimento.

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