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LIBERDADE PROVISÓRIA

Conceito
A Constituição Federal garante o direito à liberdade provisória em seu art. 5º, LXVI:
“ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade provisória,
com ou sem fiança”.
Trata-se, portanto, do instituto que substitui a prisão provisória e garante ao acusado
o direito de aguardar o transcorrer do processo em liberdade, até o trânsito em julgado,
vinculado ou não a certas obrigações que o prendem ao processo e ao juízo e asseguram a
sua presença ao processo.

Natureza
- Garantia Constitucional – art. 5º, LXVI da CF
- Medida de contracautela e providência cautelar autônoma – direito do sujeito,
independentemente de ter sido ou não preso em flagrante, de aguardar em liberdade o
desfecho do processo, sujeito a medida(s) cautelar(es) diversa(s) da prisão.

Previsão legal
A liberdade provisória encontra previsão no art. 5o, LXVI, da CF e nos arts. 321 a 350
do CPP.

A fiança pode ser concedida em qualquer fase do inquérito policial ou do


processo, até o trânsito em julgado da sentença condenatória (art. 334 do CPP).

Liberdade provisória obrigatória


Concedida imediatamente no caso de infrações penais às quais não se comina pena
privativa de liberdade e nas infrações de menor potencial ofensivo (art. 69, par. ún., da Lei nº
9.099/1995).

Liberdade provisória permitida


Admissível nas hipóteses em que não couber prisão preventiva (art. 321 do CPP),
impondo, quando for o caso, as medidas cautelares do art. 319 do CPP, observados os
critérios do art. 282 do CPP (necessidade e adequação).

Ressalte-se o entendimento de Gustavo Henrique Badaró sobre a divisão


mencionada acima no sentido de não haver razão em distinguir a liberdade
provisória obrigatória da liberdade provisória permitida, como se libertar uma
pessoa fosse uma faculdade do juiz. Segundo o autor, no campo da liberdade,
não há discricionariedade judicial, ou seja, sempre que presentes os requisitos legais, o juiz
ou a autoridade deve conceder uma das modalidades de liberdade provisória.

Liberdade provisória com e sem vinculação


Sendo o caso de concessão da liberdade provisória, o juiz ou autoridade policial
poderá ou não determinar sejam observadas medidas e/ou obrigações que vinculem o sujeito
ao processo.
Quando houver necessidade de vinculação, será observado o art. 319 do CPP que
elenca medidas cautelares diversas da prisão (sendo a fiança uma delas). Em caso de
descumprimento injustificado, o benefício da liberdade provisória será revogado.
Existem casos conhecidos como aqueles “em que o sujeito se livra solto”, que
correspondem às situações em que não se impõe qualquer medida cautelar.
Até 2007, a Lei dos Crimes Hediondos (Lei nº 8.072/1990) vedava a concessão
de liberdade provisória. Em 2007, foi aprovada a Lei nº 11.464, que alterou
alguns detalhes da referida lei, inclusive o inciso que tratava dessa vedação.
Segundo a redação do art. 2º, II, da Lei nº 8.072/1990, é vedada somente a
concessão de fiança e não mais a liberdade provisória. Resumindo – é cabível a concessão de
liberdade provisória nos casos de crimes hediondos e equiparados, mas com imposição de
medidas cautelares diversas, exceto a fiança.

Liberdade provisória com e sem fiança


O CPP não determina de forma expressa as hipóteses nas quais cabe o arbitramento
de fiança. Deve-se analisar os arts. 323 e 324 do CPP, a contrario sensu, para definir tais
hipóteses.
De acordo com a doutrina, a fiança é uma caução de natureza real, cuja função é a de
garantir o cumprimento das obrigações processuais.
A opção entre a liberdade provisória com ou sem fiança é condicionada à garantia
dos atos processuais e de sua efetividade, por isto a lei diz que o juiz imporá, se o caso, as
medidas cautelares do art. 319 do CPP (art. 321, 2ª parte, do CPP).
Assim, a liberdade provisória é obrigatória, já a fiança, assim como qualquer outra
medida cautelar alternativa à prisão provisória, só será imposta de necessária para garantir o
processo.

Casos em que não deve ser imposta fiança


Listamos abaixo algumas regras específicas, que podem ser cobradas na sua prova, que
tratam de casos em que NÃO deverá ser imposta fiança:
➢ Art. 69, p. único, da Lei nº 9.099/95 – flagrante de infração de menor potencial
ofensivo - não será arbitrada fiança, mas o autor do fato estará vinculado a
comparecer ao juizado. Caso se recuse, poderá ser preso em flagrante, lavrando-se o
APFD.
➢ Art. 48, §2º da Lei 11.343/06 – flagrante nos casos previstos no art. 28 da mesma lei
(porte para uso de drogas) – não será imposta prisão em flagrante, fiança ou
qualquer vinculação.
➢ Art. 301 do CTB (Lei 9.503/97) – acidente de trânsito de que resulte vítima – caso o
condutor preste pronto e integral socorro à vítima não será imposta prisão em
flagrante, nem arbitrada fiança ou imposta qualquer vinculação.
➢ Art. 310, §1º do CPP – probabilidade de existência de excludente de ilicitude (estende-
se também aos casos de excludentes de culpabilidade – ressalvada a
inimputabilidade – e descriminantes previstas na parte especial do CP) – será
concedida a liberdade provisória sem fiança, mas com vinculação de
comparecimento aos atos do processo.

Vedações à liberdade provisória


Algumas leis especiais determinam expressamente que não deverá ser concedida a
liberdade provisória:
➢ Lei nº 11.340/06 (Lei Maria da Penha) – art. 12-C, §2º - nos casos de risco á integridade
física da mulher ou à efetividade de medida protetiva de urgência imposta.
➢ Lei nº 7.492/86 – art. 31 – crimes contra o sistema financeiro nacional. O artigo proíbe
a liberdade provisória com fiança. Entende-se cabível a liberdade provisória sem
fiança, com imposição de medida cautelar.
➢ Art. 310, §2º do CPP – alterado pelo Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/19) – quando o juiz
verificar que o agente é reincidente ou integra organização criminosa armada ou
milícia, ou ainda quando porta arma de fogo de uso restrito.

Crimes inafiançáveis – arts. 323 e 324 do CPP


Os arts. 323 do CPP elencam os crimes considerados inafiançáveis:
➢ Racismo
➢ Tortura
➢ tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins
➢ Terrorismo
➢ Crimes hediondos cometidos por grupos armados, civis ou militares, contra a ordem
constitucional e o Estado Democrático.

O art. 324 do CPP determina que não será concedida fiança:


➢ Aos que, no mesmo processo, tiverem quebrado fiança anteriormente concedida
➢ Aos que tiverem infringido, sem motivo justo, qualquer das obrigações a que se
referem os arts. 327 e 328 do CPP;
➢ Nos casos de prisão civil ou militar;
➢ Quando presentes os motivos que autorizam a decretação da prisão preventiva.

Legitimidade para concessão da fiança:

➢ AUTORIDADE POLICIAL - art. 322 do CPP – crimes cuja pena máxima privativa de
liberdade não seja superior a 4 anos (devem ser considerados qualificadoras,
privilégios, majorantes, minorantes e concurso de crimes);
Caso a autoridade policial recuse ou retarde a concessão de fiança, o preso ou alguém
por ele poderá prestá-la, mediante simples petição, perante o juiz competente, que
deverá decidir em um prazo de 48 horas (art. 335 do CPP).
➢ AUTORIDADE JUDICIAL – art. 322, p. único, do CPP – crimes com pena superior a 4
anos.
Caso o juiz se recuse a conceder a fiança, poderá ser impetrado habeas corpus (arts.
648, V, e 660, § 2º, do CPP). Nesse caso, será arbitrada pelo Tribunal.
➢ RELATOR – art. 2º da Lei 8.038/90 – casos de competência originária dos Tribunais.

Em caso de prisão em flagrante, será competente para conceder a fiança a


autoridade que presidir ao respectivo auto, e, em caso de prisão por mandado,
o juiz que o houver expedido, ou a autoridade judiciária ou policial a quem tiver
sido requisitada a prisão (art. 332 do CPP).

Arbitramento da fiança (valores): arts. 325 e 326 do CPP


1. de 1 a 100 salários para os crimes com pena até 4 anos
2. de 10 a 200 salários para os crimes com pena superior a 4 anos.

Critérios para fixação do valor da fiança (art. 326 do CPP)


Além da pena máxima cominada ao crime, a autoridade deverá considerar os seguintes
vetores:
➢ Natureza da infração;
➢ Condições pessoais de fortuna;
➢ Vida pregressa;
➢ Periculosidade;
➢ Importância provável das custas do processo até o final julgamento.
Dispensa, redução e aumento da fiança
De acordo com o art. 325, §1º do CPP, caso a situação econômica do preso justifique, o
juiz poderá:
➢ Dispensar a fiança, sujeitando-o às obrigações constantes dos arts. 327 e 328 do CPP
e a outras medidas cautelares, se for o caso (art. 350 do CPP);
➢ Reduzir o valor até o máximo de 2/3;
➢ Aumentar em até 1.000 vezes.
Na hipótese de descumprimento sem justo motivo, o magistrado poderá substituir a
medida, impor outra em cumulação ou, em último caso, decretar a prisão preventiva,
conforme o art. 282, § 4º, do CPP, desde que haja requerimento do Ministério Público, de seu
assistente ou do querelante, pois não poderá agir de ofício.

Da decisão que que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança
caberá a interposição de Recurso em sentido estrito – RESE – art. 581, V, do
CPP.

Medidas Cautelares diversas da prisão


O art. 321 do CPP autoriza o juiz a impor, se for o caso, após a concessão da liberdade
provisória, medidas cautelares diversas da prisão. São elas:
➢ Comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas condições fixadas pelo juiz, para
informar e justificar atividades;
➢ Proibição de acesso ou frequência a determinados lugares quando, por
circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer
distante desses locais para evitar o risco de novas infrações;
➢ Proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias
relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante;
➢ Proibição de ausentar-se da Comarca quando a permanência seja conveniente ou
necessária para a investigação ou instrução;
➢ Recolhimento domiciliar no período noturno e nos dias de folga quando o
investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos;
➢ Suspensão do exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou
financeira quando houver justo receio de sua utilização para a prática de infrações
penais;
➢ Internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com violência
ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi-imputável
(art. 26 do CP) e houver risco de reiteração;
➢ Fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do
processo, evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência
injustificada à ordem judicial;
➢ Monitoração eletrônica.

A afiançabilidade dos crimes é a REGRA, ou seja, todas as infrações penais são


afiançáveis, salvo nos casos expressamente previstos pela CF e quando houver
disposição em contrário.
FICHA DA PEÇA
Fundamento Jurídico Art. 5º, LXVI, da CF e 310, III do CPP
Cabimento Nos casos de prisão em flagrante, quando o flagrante for legal, mas
o preso preencher os requisitos para aguardar em liberdade.
Quando, apesar de decretada prisão, puder o preso aguardar em
liberdade.
Prazo Não há
Quantidade de peças 01
Estrutura Petição simples
Destinatário Juiz de Direito – conforme competência
Terminologia Acusado / Requerente
Verbo Requerer
Teses a serem desenvolvidas - Impossibilidade da conversão do flagrante em preventiva, pois
ausentes os requisitos da preventiva. – arts. 312 e 313 do CPP;
- Direito ao benefício por ser primário, não ostentar antecedentes
etc... – Arts. 321 e ss;
- Que o crime não é inafiançável – arts. 323 e 324 do CPP;
- Que cabe a imposição de medida cautelar diversa da prisão – arts.
319 e 320 do CPP

Pedido Concessão da liberdade provisória, arbitramento da fiança (quando


cabível), aplicação de medida cautelar diversa (quando cabível),
expedição do alvará de soltura.
MODELO DE REQUERIMENTO DE LIBERDADE PROVISÓRIA

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da... Vara Criminal da Comarca de.... (competência
estadual e crimes comuns).
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da... Vara do Júri da Comarca de... (competência estadual
e crimes dolosos contra a vida).
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito Corregedor do Departamento de Inquéritos Policiais da
Capital. (somente na capital/SP – fase de inquérito policial – crimes comuns)
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Federal da... Vara Criminal da Subseção Judiciária de.../...
(competência federal e crimes comuns).
Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz Federal da... Vara do Júri da Subseção Judiciária de.../...
(competência federal e crimes dolosos contra a vida).

..., (nacionalidade), (estado civil), (profissão), residente e


domiciliado na Rua..., nesta comarca, por seu advogado que esta subscreve (procuração anexa –
documento...), vem, respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, com fulcro no artigo 5º, LXVI
da Constituição Federal combinado com os artigos 310, III e 321 e seguintes do Código de Processo
Penal, requerer sua LIBERDADE PROVISÓRIA pelas razões a seguir aduzidas:

DOS FATOS
Narrar os acontecimentos contidos no problema, sem
inventar nenhum dado. Também não é aconselhável copiar o problema.
DO DIREITO
A defesa, segura do conhecimento de Vossa Excelência e
certa de que nenhum detalhe escapará da análise criteriosa dos autos em apreço, vem aduzir os
argumentos que demonstram ser o requerente merecedor do benefício em questão.
Com efeito.. (desenvolver a argumentação, demonstrando:
que não é possível a conversão do flagrante em preventiva, pois não estão presentes os requisitos da
preventiva. – arts. 312 e 313 do CPP; que o requerente faz jus ao benefício, por ser primário, não
ostentar antecedentes etc... – arts. 321 e ss ; que o crime não é inafiançável – arts. 323 e 324 do CPP;
que cabe a imposição de medida cautelar diversa da prisão – arts. 319 e 320 do CPP
Outra não é a posição da jurisprudência dominante:... (no
caso do assunto já ser sumulado pelos Tribunais).

DO PEDIDO
Diante do exposto, requer a Vossa Excelência:
- A concessão da liberdade provisória, a fim de que o
requerente possa responder a eventual processo-crime em liberdade;
- A expedição do competente alvará de soltura em favor do
requerente;
- A fixação de fiança ou de outra medida cautelar que
entender adequada e necessária;
- Vista ao membro do MP.

Nestes termos,
Pede deferimento.

(local, data)
___________________________
Advogado – OAB/SP nº....

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