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RESUMO – MEDIDAS CAUTELARES (PRISÃO PREVENTIVA, PROVISÓRIA

E MEDIDAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO)

1. PRISÃO PREVENTIVA

Trata-se de uma medida cautelar de constrição à liberdade do indiciado


ou réu, por razões de necessidade, respeitados os requisitos
estabelecidos em lei. No ensinamento de FREDERICO MARQUES,
possui quatro pressupostos: a) natureza da infração (alguns delitos não
a admitem, como ocorre com os delitos culposos); b) probabilidade de
condenação (fumus boni juris, ou seja, “fumaça do bom direito”); c)
perigo na demora (periculum in mora); e d) controle jurisdicional prévio
(Elementos de direito processual penal, v. 4, p. 58).

a) Momento da decretação e período de duração

Pode ser decretada em qualquer fase da investigação policial ou do


processo penal, em razão de requerimento do Ministério Público, do
querelante ou do assistente, ou mediante representação da autoridade
policial. O juiz pode decretá-la, de ofício, desde que no curso da ação
penal.
Não tem prazo de duração e, portanto, deve ser revisada pelo juiz a
cada 90 dias.

b) Requisitos para a decretação da prisão preventiva

São sempre, no mínimo três: prova da existência do crime


(materialidade) + indício suficiente de autoria + uma das situações
descritas no art. 312 do CPP, a saber: a) garantia da ordem pública; b)
garantia da ordem econômica; c) conveniência da instrução criminal; d)
garantia de aplicação da lei penal.
A prova da existência do crime é a certeza de que ocorreu uma infração
penal, não se podendo determinar o recolhimento cautelar de uma
pessoa, presumidamente inocente, quando há séria dúvida quanto à
própria existência de evento típico.
O indício suficiente de autoria é a suspeita fundada de que o indiciado
ou réu é o autor da infração penal. Não é exigida prova plena da culpa,
pois isso é inviável num juízo meramente cautelar, feito, como regra,
muito antes do julgamento de mérito.
A garantia da ordem pública é a hipótese de interpretação mais ampla e
flexível na avaliação da necessidade da prisão preventiva. Entende-se
pela expressão a indispensabilidade de se manter a ordem na
sociedade, que, como regra, é abalada pela prática de um delito. Se
este for grave, de particular repercussão, com reflexos negativos e
traumáticos na vida de muitos, propiciando àqueles que tomam
conhecimento da sua realização um forte sentimento de impunidade e
de insegurança, cabe ao Judiciário determinar o recolhimento do agente.
A garantia de ordem econômica é uma espécie do gênero anterior
(garantia da ordem pública). Nesse caso, visa-se, com a decretação da
prisão preventiva, impedir que o agente, causador de seriíssimo abalo à
situação econômico-financeira de uma instituição financeira ou mesmo
de órgão do Estado, permaneça em liberdade, demonstrando à
sociedade a impunidade reinante nessa área.
A conveniência da instrução criminal é o motivo resultante da garantia de
existência do devido processo legal, no seu aspecto procedimental. A
conveniência de todo processo é que a instrução criminal seja realizada
de maneira escorreita, equilibrada e imparcial, na busca da verdade real,
interesse maior não somente da acusação, mas, sobretudo, do réu.
A garantia de aplicação da lei penal significa assegurar a finalidade útil
do processo penal, que é proporcionar ao Estado o exercício do seu
direito de punir, aplicando a sanção devida a quem é considerado autor
de infração penal.

c) Fundamentação da prisão preventiva

Exige a Constituição Federal que toda decisão judicial seja


fundamentada (art. 93, IX), razão por que, para a decretação da prisão
preventiva, é indispensável que o magistrado apresente as suas razões
para privar alguém de sua liberdade. É o previsto igualmente no art. 315
do Código de Processo Penal. Essa fundamentação pode ser concisa,
sem implicar nulidade ou constrangimento ilegal.
A mera repetição dos termos legais, entretanto, é inadmissível, dizendo
o juiz, por exemplo, que decreta a prisão preventiva, tendo em vista que
há “prova da materialidade”, “indício suficiente de ser o réu o autor” e
para “garantir a ordem pública”, sem especificar em quais fatos se
baseia para extrair tal conclusão.

d) Circunstâncias legitimadoras e circunstâncias impeditivas da prisão


preventiva

O art. 313 do Código de Processo Penal especifica que a prisão


preventiva será admissível nos casos de crimes dolosos, punidos com
pena privativa de liberdade máxima superior a quatro anos (inciso I), se
o acusado tiver sido condenado por outro delito doloso, em sentença
transitada em julgado, ressalvado o prazo depurador do art. 64, I, do
Código Penal (inciso II), bem como se o crime envolver violência
doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso,
enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das
medidas protetivas de urgência (inciso III).
Pode-se, ainda, decretar a preventiva quando houver dúvida quanto à
identidade civil da pessoa suspeita ou quando esta não fornecer
elementos suficientes para esclarecê-la. Nessa hipótese, o preso deve
ser colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se
outra causa justificar a manutenção da prisão cautelar (art. 313,
parágrafo único).

2. Medidas cautelares alternativas à prisão

a) Espécies de medidas cautelares

Aquelas presentes no artigo 319 do CPP. ROL É TAXATIVO!!!!!


A fiança pode ser cumulada com outras medidas cautelares (art. 319,
§ 4.º, CPP), bem como pode o magistrado fixar medidas isoladas ou
cumulativas (art. 282, § 1.º, CPP). Tais medidas podem ser
requeridas pelas partes (Ministério Público, querelante e assistente
de acusação – este pode solicitar a prisão preventiva, logo, pode
também pleitear qualquer outra cautelar) ou decretadas de ofício pelo
juiz, durante a instrução; na fase investigatória, dependem de
representação da autoridade policial ou requerimento do Ministério
Público.
Havendo prisão em flagrante, se não for caso de conversão em
prisão preventiva, desde que presentes os requisitos do art. 312 do
CPP, deve o juiz conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.
Nesse ato, pode impor medidas cautelares compatíveis com a
situação do indiciado ou réu (art. 321, CPP).

b) Requisitos para a decretação das medidas cautelares

Há dois requisitos genéricos: a) necessariedade; b) adequabilidade.


Estes são cumulativos, ou seja, ambos precisam estar presentes
para autorizar a imposição de medidas cautelares (art. 319, CPP).
O primeiro requisito genérico divide-se em três: a.1) para aplicação
da lei penal; a.2) para a investigação ou instrução criminal; a.3) para
evitar a prática de infrações penais, nos casos previstos em lei.
Esses três são alternativos, ou seja, basta a presença de um deles
para configurar a necessariedade.
O segundo requisito genérico divide-se em três: b.1) gravidade do
crime; b.2) circunstâncias do fato; b.3) condições pessoais do
indiciado ou acusado.
Qualquer medida cautelar (prisão ou alternativa) deve ser fixada de
acordo com o caso concreto, levando em consideração a pessoa do
indiciado ou réu, sem nenhum padrão estabelecido de antemão.
c) Aplicação do contraditório e da ampla defesa

Como regra, antes de decretar qualquer medida cautelar alternativa à


prisão (art. 319, CPP), deve o juiz ouvir a parte contrária, que, no
caso, é o indiciado ou réu, como prevê o art. 282, § 3.º, do Código de
Processo Penal. Cuida-se de consagração dos princípios
constitucionais do contraditório e da ampla defesa. Por vezes, o
pedido formulado pelo interessado (Ministério Público, querelante ou
assistente) não apresenta consistência, algo que poderá ser
apontado pelo maior interessado no indeferimento. Em casos de
urgência ou de perigo de ineficácia da medida, não se ouve o
indiciado ou réu antes da decretação, nada impedindo que se
promova a sua oitiva depois. Seria um autêntico contraditório
diferido.

d) Descumprimento da medida cautelar alternativa

Em caso de descumprimento injustificado das obrigações impostas,


ouvido antes o indiciado ou réu, em homenagem à ampla defesa,
pode o juiz, de ofício, ou a requerimento do Ministério Público, seu
assistente ou do querelante, substituir a medida por outra, impor
mais uma em cumulação ou, em último caso, decretar a preventiva
(art. 282, § 4.º, CPP).
A qualquer tempo, o magistrado pode rever a medida decretada,
entendendo não ser o caso de mantê-la, bem como voltar a decretá-
la, se novas razões advierem (art. 282, § 5.º, CPP).
A prisão preventiva passa a ser considerada, expressamente, como
última opção (art. 282, § 6.º, CPP).

3. PRISÃO TEMPORÁRIA

É uma modalidade de prisão cautelar, cuja finalidade é assegurar uma


eficaz investigação policial, quando se tratar de apuração de infração
penal de natureza grave.
Há duas situações que autorizam a temporária: quando imprescindível
para as investigações do inquérito policial e quando o indiciado não tiver
residência fixa ou não fornecer elementos necessários ao
esclarecimento de sua identidade. Ambas hipóteses devem ser
associadas com o inciso III do artigo 1° da Lei 7.960/89.

Acrescente-se, ainda, que o art. 2.º, § 4.º, da Lei 8.072/90, possibilitou a


decretação da temporária a todos os delitos hediondos e equiparados,
logo, os previstos nos arts. 1.º e 2.º da referida lei. Por isso, aos já
mencionados acima, adicione-se a tortura e o terrorismo.

a) Prazo

Em regra, 5 dias, podendo ser prorrogado por outros 5, em caso de


extrema e comprovada necessidade (art. 2.º, caput, da Lei 7.960/89).
Quando se tratar de crimes hediondos e equiparados, o prazo sobe
para 30 dias, prorrogáveis por outros 30 (art. 2.º, § 4.º, da Lei
8.072/90).

Não há decretação de ofício pela autoridade judiciária, ao contrário


do que pode ocorrer com a preventiva, devendo haver requerimento
do Ministério Público ou representação da autoridade policial.

Terminando o prazo estipulado pelo juiz (com ou sem prorrogação),


deve o indiciado ser imediatamente libertado, pela própria autoridade
policial, independentemente da expedição de alvará de soltura pelo
juiz. Deixar de soltar o sujeito implica abuso de autoridade (art. 4.º, i,
da Lei 4.898/65).

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