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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA ...

VARA CRIMINAL DA
CIRCUNSCRIÇÃO JUDICIÁRIA DE TAGUATINGA-DISTRITO FEDERAL.

. Distribuição por dependência ao auto de prisão em flagrante n....

MARCOLINO JORGITO, brasileiro, técnico em enfermagem, residente e


domiciliado na SQS 100, Bloco H, apartamento 701, na cidade de .../.... , CEP...;
portador do RG ... e do CPF ..., endereço de email... vem à presença de Vossa
Excelência, por intermédio de seu advogado que esta subscreve, conforme procuração
acostada, com fulcro no art. 310, Inciso III e § 1º, do código de processo penal,
combinado com o artigo art. 5º, inciso LXVI, da Carta Constitucional, requerer

LIBERDADE PROVISÓRIA

pelos fatos e fundamentos jurídicos que passa a expor:

I BREVE SÍNTESE DA DEMANDA:

Em 15 de abril de 2022, foi processada a prisão em flagrante de Marcolino Jorgito,


trabalhador, pai de 03 filhos menores de idade e esposo, que após ter sido desrespeitado e
ameaçado por Viníciusley Romério que empunhava um bisturi tentando agredir o referido
técnico em enfermagem dentro do hospital em que labora. Com intuito de presevar sua
vida, ao notar que Viníciusley Romério estava descontrolado e visivelmente transtornado,
ao tentar desarmá-lo, quebrou o braço do agredido causou-lhe as lesões descritas no laudo
de exame de corpo de delito. As testemunhas que prestaram declarações perante a
autoridade policial, informaram que se o técnico não agisse da forma que agiu, o paciente
poderia ter lhe ferido letalmente, pois demonstrou inequívoca intenção de atentar contra a
vida do Sr. Marcolino. Os autos do Inquérito Policial foram  lavrados no prazo legal e após
comunicada a esposa de Marcolino, foi levado ao conhecimento da autoridade judicial, do
Ministério Público e ao Defensor Público para verificação dos ritos processuais estabelecidos
para prisão em flagrante.

II DO DIREITO

Consoante o disposto no art. 310 do CPP que versa sobre a liberdade provisória concedida
a presos em flagrante obedecendo os pressupostos e condições necessárias e verificado as
condições estabelecidas no § 1º do mesmo normativo que estabelece:

§ 1º Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que


o agente praticou o fato em qualquer das condições
constantes dos incisos I, II ou III do caput do art. 23 do
Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
Penal), poderá, fundamentadamente, conceder ao acusado
liberdade provisória, mediante termo de comparecimento
obrigatório a todos os atos processuais, sob pena de
revogação.          (Renumerado do parágrafo único pela Lei nº

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13.964, de 2019)       (Vigência)
Em que pese o Auto de Prisão em flagrante encontrar-se em perfeita harmonia
com a lei, a manutenção do detido e cárcere, só poderá se manter quando presentes os
requisitos que autorizam a prisão preventiva, fatos estes que não se amoldam ao presente
processo.
Neste sentido, a aplicabilidade da liberdade provisária prevista no § 1º do art. 310
é direito que se impõe ao indiciado e não apenas um simples benefício, afastando qualquer
interpretação contrária, tendo em vista que todos os pressupostos estão presentes para
satisfação do direito de liberdade almejado.
Após a promulgação da Constituição Federal de 1988, ficou consagrado no art.
5º, LXVI que “ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a
liberdade provisória, com ou sem fiança” desde que não esteja presente os casos que a lei
do processo penal definir e justamente neste sentido visualiza-se que não no caso estudado
qualquer requisito para manutenção da prisão do recorrente.

II.I DA AUSÊNCIA DOS REQUISITOS DA PREVENTIVA

A manutenção da prisão em flagrante do acusado é incabível e desnecessária, haja


visto que não estão presentes no vertente caso, os requisitos autorizativos da prisão
preventiva constantes no artigo 312 do Código de Processo Penal, enquadrando-se a
hipótese nos moldes do art. 321 do mesmo diploma legal. Vejamos:

Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como


garantia da ordem pública, da ordem econômica, por
conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a
aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do
crime e indício suficiente de autoria.

A Suprema Corte Federal sintetizou entendimento no  HC 127.186, esclarecendo


que:
“A prisão preventiva supõe prova da existência do crime
(materialidade) e indício suficiente de autoria; todavia, por
mais grave que seja o ilícito apurado e por mais robusta que
seja a prova de autoria, esses pressupostos, por si sós, são
insuficientes para justificar o encarceramento preventivo (...).
A tais requisitos deverá vir agregado, necessariamente, pelo
menos mais um dos seguintes fundamentos, indicativos da
razão determinante da medida cautelar: a) a garantia da
ordem pública; b) a garantia da ordem econômica; c) a
conveniência da instrução criminal ou; d) a segurança da
aplicação da lei penal”.

Embora haja a inegabilidade da autoria criminal, a mesma aconteceu pela


necessidade do recorrente e garantir proteção a sua própria vida em virtude de iminente
ataque de um cidadão em fúria, o que objetivou a necessidade de cessar qualquer tipo de
agressão interrompendo a vontade de outrem em tirar-lhe a vida.

Ademais, insta destacar que o requetente, é réu primário possui bons antecedentes
residência fixa, ocupação lícita, pai de 03 (três) crianças e bom esposo, não refletindo em
sua personalidade nenhuma caracteristica que possa ofender a ordem pública e/ou impor
qualquer obstáculo que possa ensejar na segurança da aplicação da lei penal ou interferir
na continuidade do feito processual.

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Cumpre destacar ainda a concessão da liberdade provisória, sem fiança.

 Apresentados os contundentes argumentos pela pertinência da liberdade


provisória, destaca-se a necessidade que essa seja proferida sem arbitramento de fiança,
pois merece destacar que o Requerente não aufere quaisquer condições de recolhê-la,
mesmo que arbitrada no valor mínimo.

II.II DA EXCLUDENTE DE ILICITUDE POR LEGÍTIMA DEFESA

O artigo 25 do Código Penal, dispõe que age em legítima defesa quem,


usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou
iminente, a direito seu ou de outrem. Reforçando este conceito Nucci (2009, p. 250)
detalha:

“É a defesa necessária empreendida contra agressão


injusta, atual ou iminente, contra direito próprio ou de
terceiros, usando, para tanto, moderadamente, os meios
necessários. Trata-se do mais tradicional exemplo de
justificação para a prática de fatos típicos.

(...)

“Valendo-se da legítima defesa, o indivíduo consegue


repelir agressões indevidas a direito seu ou de outrem,
substituindo a atuação da sociedade ou do Estado, que
não pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo,
através de seus agentes.”

Em que pese ter sido imputado ao requerente o delito de lesão corporal grave,
pelo fato de ter que evitar a agressão contra sua pessoa, tendo incorrido na necessidade de
quebrar o braço de seu pretenso agressor, que portava objeto perfuro cortante, e se impôs a
atentar contra a vida do recorrente. A medida adotada tornou-se necessária e foi efetivada
de forma moderada, pois em momento algum foi proferido qualquer golpe em região fatal
que pudesse ceifar a vida da suposta vítima que na verdade era um algoz em fúria.
O requerente só utilizou os meios necessários para se defender, desarmar e
impedir a atitude descontrolada ocupando o lugar o Estado para garantir sua proteção e dos
demais que ali laboravam, já que os agentes de segurança estatais não podem estar em
todos os lugares para garantir a ordem.
Portanto, não resta dúvidas que o recorrente agiu em legitima defesa, tese essa
confirmada pelas testemunhas presentes.

II.III DAS CAUTELARES DIVERSAS DA PRISÃO

Conforme assegurado no Inciso LXVI do art. 5º da CF e sabendo que a


manunteção do preso em cárcere é a exceção, sendo permitido apenas quando não houver
a possibilidade de aplicação de outra medida, assim entabulado no texto do § 6º  do artigo
282 do Código de Processo Penal, que define que a prisão preventiva só é cabível quando
não for possível sua substituição pelas medidas cautelares. A liberdade provisória do
requerente é medida que se impõe uma vez ausentes os requisitos que autorizam a
decretação da prisão preventiva.

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Art. 321. Ausentes os requisitos que autorizam a decretação
da prisão preventiva, o juiz deverá conceder liberdade
provisória, impondo, se for o caso, as medidas cautelares
previstas no art. 319 deste Código e observados os critérios
constantes do art. 282 deste Código

Sendo a regra a liberdade e a prisão a exceção a aplicabilidade do art. 319 no


vertente caso está cristalina se amoldando ao requerente as medidas cautelares diversas de
prisão abaixo descritas:

Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão:


I – comparecimento periódico em juízo, no prazo e nas
condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar
atividades;
II – proibição de acesso ou frequência a determinados lugares
quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o
indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para
evitar o risco de novas infrações;
III – proibição de manter contato com pessoa determinada
quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o
indiciado ou acusado dela permanecer distante;
IV – proibição de ausentar-se da Comarca quando a
permanência seja conveniente ou necessária para a
investigação ou instrução;

III DO PEDIDO

Ante o exposto, pugna o requerente:

a) Seja concedida a Liberdade Provisória sem arbitramento de fiança, nos termos do


art. 310 Inciso III do CPP, mediante compromisso do requerente em comparecer a
todos os atos que for intimado, ante a ausência dos requisitos, ante a ausência dos
requisitos da prisão preventiva constantes no art. 312 do CPP, bem como pela
configuração da excludente de ilicitude de legítima defesa presente no Inciso II, art.
23, CP em estrita observância aos termos do § 1º do art. 310 do CPP, expedido-se
alvará de soltura para cumprimento imediato pela autoridade policial que mantém
sua custódia.
b) Subsidiariamente, pela conveniência e oportunidade e, caso entenda este Juízo ser
necessário, que imponha a cautelares diversas de prisão elecandas nos Incisos de I
a IV do art. 319 do CPP ,em observância aos arts. 282 e 321 do mesmo diploma
legal.

Nestes Termos
Pede Deferimento

Taguatinga – Distro Federal, 16 de abril de 2022.

ADVOGADO.
OAB

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