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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 5ª VARA

CRIMINAL DA COMARCA DE PORTO ALEGRE CAPITAL DO ESTADO DO


RIO GRANDE DO SUL

Autor: Ministério Publico


Denunciado: Luiz
Processo: n°__________________

Luíz, já qualificado nos autos do processo em epígrafe, através de


seus procuradores ao final subscritos, vem respeitosamente à presença de V.
Exa., nos termos do art. 403, § 3º do Código de Processo Penal, apresentar

ALEGAÇÕES FINAIS SOB A FORMA DE MEMORIAIS

Pelas razões de fato e de Direito a seguir expostas.

I- DOS FATOS:
Segundo denúncia do Ministério Público, o denunciado
encontra-se incurso nas sanções do crime prescrito no art. 33 da lei nº
11.343/06. Na madrugada do dia 1º de janeiro de2020, Luiz, nascido em 24
de abril de 1948, estava em sua residência, em Porto Alegre, na companhia
de seus três filhos e do irmão Igor, nascido em 29 de novembro de 1965, que
também morava há dois anos no mesmo imóvel. Em determinado momento,
um dos filhos de Luiz acionou fogos de artifício, no quintal do imóvel, para
comemorar a chegada do novo ano.
Ocorre que as faíscas atingiram o telhado da casa, que
começou a pegar fogo. Todos correram para sair pela única e pequena porta
da casa, mas Luiz, em razão de sua idade e pela dificuldade de locomoção,
acabou ficando por último na fila para saída da residência. Percebendo que o
fogo estava dele se aproximando e que iria atingi-lo em segundos, Luiz
desferiu um forte soco na cabeça do irmão, que estava em sua frente,
conseguindo deixar o imóvel. Igor ficou caído por alguns momentos, mas
conseguiu sair da casa da família, sangrando em razão do golpe recebido.

1. DOS FUNDAMENTOS
A) O Art. 88 da Lei nº 9.099/95
Quando a lesão for de natureza leve a ação será
pública condicionada à representação. Apesar de Igor ter comparecido à
Delegacia após intimação, a todo o momento deixou claro não ter
interesse em ver o autor do fato responsabilizado criminalmente.
Passados mais de 06 meses sem que houvesse
representação da vítima, houve decadência e, consequentemente, deveria ter
ocorrido a extinção da punibilidade do acusado, conforme o Art. 107, inciso
IV, do CP.

B) Ilicitudes de conduta Art. 24 do CP


Afasta a proposta de suspensão condicional do processo
ao réu. Argumentou o Ministério Público que não seria cabível a proposta,
porque o Art. 129, § 9º, do CP, foi introduzido pela Lei nº 11.340/06, que, em
seu Art. 41, veda a aplicação dos institutos despenalizadores previstos na Lei
nº 9.099/95. Apesar de, efetivamente, a forma qualificada da lesão prevista
no Art. 129, § 9º, do CP, ter sido introduzida pela Lei nº 11.340/06, o crime
imputado não necessariamente envolve situação de violência doméstica e
familiar contra a mulher. Quando o crime do Art. 129, § 9º, do CP, for
praticado no contexto da Lei nº 11.340/06, desnecessária será a
representação e impossível será a aplicação do Art. 89 da Lei nº 9.099/95,
nos termos do Art. 41 da Lei Maria da Penha. Todavia, apesar de o dispositivo
ter sido introduzido por tal lei, na situação em análise, os fatos teriam sido
praticados contra vítima do sexo masculino, não sendo aplicáveis os
dispositivos, vedações e procedimento trazidos pela Lei nº 11.340/06.
Dessa forma, seria necessária a representação da vítima diante da
natureza leve da lesão e cabível proposta de suspensão condicional do
processo, sendo certo que a condenação anterior por contravenção não
impede o benefício.
No mérito, o examinando deveria defender que os
fatos foram praticados em situação de estado de necessidade, causa
excludente da ilicitude, na forma do Art.23, inciso I, e do Art. 24, ambos do
CP.

C) Absolvição sumária – Crime Impossível. (Artigos 17 do CP, art.,


397, inciso III).
Como rege o art. 17 do Código Penal, não se pode punir
tentativa quando a ineficácia do meio diz respeito à arma ou instrumento que
foi utilizado para cometer o crime que não possui eficácia.
Neste caso em especifico, a arma de fogo utilizada não foi
eficaz, pois sequer efetuou algum disparo e o artigo em si, prevê que não se
pode sequer punir a tentativa neste caso, pois não houve a consumação do
crime. Nos fatos narrados, é certo que Patrick, diante de uma situação de
risco a vida dessua sobrinha, tentou utilizar a arma de fogo, porém,
como consta no laudo pericial, houve a ineficácia absoluta do meio
utilizado, e mais uma vez, impossibilitando a punição por tentativa.
Exmo. (a), reconhecer o crime impossível neste caso,
gera atipicidade da conduta e, logo, se torna cabível a absolvição sumária
pelos fatos evidenciados não constituírem crime, seguindo a essência do
positivado art., 397, inciso I e III do Código de Processo Penal.

D) Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: (Redação


dada pela Leinº 7.209, de 11.7.1984), inciso I - em estado de
necessidade; (Incluído pela Lei nº7.209, de 11.7.1984)
Sabemos que Luiz não agiu com a intenção de lesionar
Igor, seu irmão.
A esse propósito, faz-se mister trazer à colação o
entendimento do eminente Fernando Capez (2008, p.281) que assevera:

‘’A legitima defesa é causa de exclusão de ilicitude que


consistem em repelir injusta agressão, atual ou iminente, a
direito próprio ou alheio, usando moderadamente dos
meios necessários. Não há, aqui, uma situação de perigo
pondo em conflito dois ou mais bens, na qual um deles
deverá ser sacrificado. Ao contrário, ocorre um efetivo
ataque ilícito contra o agente ou terceiro, legitimando a
repulsa. ’’

Desta forma, conforme dita o art. 25 do CP, Luiz se


enquadra no requisito de legítima defesa em face ao seu irmão. No que diz
respeito a excludente de ilicitude, podemos citar o art. 23 incisos II do CP
onde se menciona no seu inciso a legitima defesa, que nesta ocasião foi em
prol de sua sobrinha. Sendo os meios utilizados moderados e necessários,
pois Luiz estava fugindo do acidente conforme Igor, que no desespero acertou
um soco no irmão que se prontificou a leva lo ao hospital e arcar com suas
despesas médicas.

II- DA POSSIBILIDADE DE APELAR EM LIBERDADE


Na busca do caráter ressocializador da pena, a justiça
deve trabalhar para aplicar aquilo que se coaduna com a realidade social.
Hoje, infelizmente, nosso Sistema Prisional é cercado de incertezas sobre a
verdadeira função de ressocialização dos indivíduos que lá são mantidos,
onde em muitos casos trata-se de verdadeira “escola do crime”.
Com base no princípio da presunção de inocência,
previsto na nossa Constituição Federal em seu art. 5º, inciso LVII, requer o
denunciado que responda ao processo em liberdade, até o trânsito em julgado,
pois as circunstâncias do fato e condições pessoais da acusada (art. 282,
inciso II, CPP) lhe são favoráveis pelo fato de não haver reincidência e sua
conduta social não ser em nenhum momento questionada.

III- DOS PEDIDOS:


1) Preliminarmente, reconhecimento da decadência ou extinção da
punibilidade;
2) Reconhecimento da nulidade em razão do não oferecimento de proposta
de suspensão condicional do processo;
3) No mérito, absolvição, com fulcro no Art. 386, inciso VI, do CPP;
4) Na eventualidade de condenação, aplicação da pena no mínimo legal,
com fixação de regime aberto e suspensão condicional da pena.

Temos em que.
Pede deferimento.

Local, 25, janeiro de 2021.

Nome do advogado OAB- MT

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