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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ(A) DE DIREITO DA ___

VARA CRIMINAL DA COMARCA DE ARARUAMA, ESTADO DO RIO DE


JANEIRO.

Autos nº:________________

PATRICK, qualificado nos autos da ação em epígrafe, vem, respeitosamente,


perante Vossa Excelência, por intermédio do advogado devidamente constituído,
conforme procuração anexa, apresentar resposta escrita à acusação, com fundamento no
art. 396-A, do Código de Processo Penal.

1 – GRATUIDADE JUDICIÁRIA

O acusado não possui condições financeiras de arcar com eventual pagamento das
custas processuais, sem prejuízo do seu sustento e de sua família.
Diante do exposto e em conformidade com o art. 5º, inciso LXXIV, da Constituição
Federal, e subsidiariamente ao art. 98 e seguintes, do Código de Processo Civil, requer os
benefícios da justiça gratuita.

2 – DOS FATOS

Na data dos fatos, Patrick, estava na varanda de sua casa, quando vê Lauro,
namorado de sua sobrinha, agredindo-a de forma violenta, motivado por ciúmes. O
acusado, devido a um acidente de trânsito, nada pode fazer além de gritar com o rapaz,
que não lhe deu atenção.
Ao ver que as agressões não paravam, o indiciado foi até o interior de sua
residência e pegou uma arma de fogo que mantinha no imóvel, de uso permitido e
devidamente registrada, no qual possuía autorização para deter.
Com o intuito de fazer com que Lauro parasse com as agressões, Patrick efetuou
um disparo na direção da perna de Lauro, mas por circunstâncias alheias à sua vontade,
a arma não funcionou. Com o barulho causado pelo disparo, Lauro fugiu.
Logo após o ocorrido, Lauro procurou a Delegacia de Polícia para relatar os fatos.
Após a finalização do inquérito policial, o Ministério Público do Estado do Rio de
Janeiro denunciou Patrick como incurso no art. 129, § 1º, inciso III, c.c. o art. 14, inciso II,
do Código Penal.
Consta nos autos, os antecedentes criminais do indiciado (fls. ___) e o laudo
pericial da arma apreendida (fls. ___), sendo que este concluiu pela total incapacidade da
arma em efetuar disparos.
Após o recebimento da denúncia, foi expedido mandado de citação, sendo que o
oficial de justiça compareceu um único dia na casa do indiciado e, não o localizando,
providenciou a citação por hora certa para o dia seguinte, conforme relatos da Sra. Maria,
vizinha do acusado.

3 – DAS PRELIMINARES
3.1 – DA NULIDADE

A citação efetuada é nula. O oficial de justiça procedeu com a citação por hora
certa, após ter comparecido no endereço do indiciado uma única vez. Conforme disposto
no art. 252, caput, do Código de Processo Civil, o oficial de justiça somente poderá citar
por hora certa, após duas tentativas sem êxito, e ainda, quando houver suspeita de
ocultação por parte do citando.
Além do fato de ter comparecido uma única vez na residência do acusado, não há
motivação alguma para a suspeita do oficial de justiça, de que o indiciado esteja se
ocultando. Isso se comprova pelo fato de que o investigado encontrava-se trabalhando,
embarcado em alto mar, sem possibilidade de deslocamento para terra firme nos dias
subsequentes à tentativa de citação.
Diante do exposto, requer a nulidade da citação do acusado.

3.2 – ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA – CRIME IMPOSSÍVEL

O art. 17 do Código Penal nos diz que “não se pune a tentativa quando, por
ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível
consumar-se o crime.”.
Nas palavras de Nucci1 (2014, p. 181), “crime impossível é a tentativa não punível,
porque o agente se vale de meios absolutamente ineficazes ou volta-se contra objetos
absolutamente impróprios, tornando impossível a consumação do crime.”.
No campo jurisprudencial, a Sexta Turma do Colendo Superior Tribunal de Justiça
considerou como crime impossível à utilização de uma arma de fogo inapta, quando
julgou o Agravo de Instrumento no Recurso Especial nº 1394230/ SE:
AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. PENAL E PROCESSO
PENAL. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO. INEFICÁCIA
DA ARMA ATESTADA POR LAUDO PERICIAL. AUSÊNCIA DE
POTENCIALIDADE LESIVA. ATIPICIDADE DA CONDUTA. ABSOLVIÇÃO. 1. A
Terceira Seção deste Tribunal Superior possui entendimento pacífico de que o
tipo penal de posse ou porte ilegal de arma de fogo cuida de delito de perigo
abstrato, sendo irrelevante a demonstração de seu efetivo caráter ofensivo. 2. In
casu, contudo, como ficou demonstrada, por laudo pericial, a total ineficácia da
arma de fogo (inapta a disparar), deve ser reconhecida a atipicidade da
conduta perpetrada, diante da caracterização de crime impossível dada a
absoluta ineficácia do meio. 3. Agravo regimental desprovido.

O indiciado foi denunciado pelo Parquet como incurso no art. 129, § 1º, inciso III,
c.c. o art. 14, inciso II, do Código Penal, ou seja, por lesão corporal de natureza grave, na
modalidade tentada. Ocorre que a arma utilizada, estava totalmente inapta para efetuar
disparos, conforme comprovado pelo exame pericial juntado aos autos (fls. ___).
Diante do exposto, requer a absolvição sumária do acusado, por tratar-se o fato de
crime impossível, à luz do art. 17, do Código Penal.

3.3 – ABSOLVIÇÃO SUMÁRIA – LEGÍTIMA DEFESA DE OUTREM

A legítima defesa é considerada uma excludente de ilicitude, conforme dispõe o art.


23, inciso II, do Código Penal: “Não há crime quando o agente pratica o fato: … II – em
legítima defesa.”.
O mesmo código expande a referida excludente para os casos de legítima defesa
de outrem, com base no art. 25, caput, do Código Penal: “Entende-se em legítima defesa
quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou
iminente, a direito seu ou de outrem.”.
Segundo Masson2 (2020, p. 393), “na legítima defesa, o perigo provém de uma
agressão ilícita do homem, e a reação se dirige contra seu autor.”.
A Primeira Câmara Criminal do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio
Grande do Sul, na Apelação nº 70046211421, negou provimento ao recurso contra
Sentença Absolutória, reconhecendo à legítima defesa própria e de terceiro e,
consequentemente, a excludente de ilicitude:
APELAÇÃO CRIME. LESÃO CORPORAL. SENTENÇA ABSOLUTÓRIA PELO
RECONHECIMENTO DA EXCLUDENTE DE ILICITUDE DA LEGÍTIMA DEFESA
PRÓPRIA E DE TERCEIRO. INCONFORMISMO MINISTERIAL. NÃO
ACOLHIMENTO. MANUTENÇÃO DA ABSOLVIÇÃO. O acusado admitiu a autoria,
mas alegou que agiu sob o pálio da excludente de ilicitude da legítima defesa, a
qual realmente restou evidenciada, uma vez que o caderno probatório evidenciou
que apenas interveio em defesa própria e da atual namorada contra investida de
sua ex-companheira, que ficou revoltada ao vê-lo em novo relacionamento.
Inexistência de excesso na conduta da legítima defesa. Absolvição mantida. Apelo
improvido.
No caso concreto destes autos, o único anseio do indiciado era fazer com que
Lauro parasse de agredir sua sobrinha Natália e, estando machucado por causa de um
acidente ocorrido anteriormente, não achou outra saída à não ser atirar contra a vítima,
mesmo estando a arma com problemas.
Diante do exposto, requer a absolvição sumária do acusado, por tratar-se o fato de
uma excludente de ilicitude, com fulcro no art. 23, inciso II, e art. 25, caput, ambos do
Código Penal.

4 – DO MÉRITO

A denúncia não merece prosperar. Estrategicamente, a defesa deixa de expor às


questões pertinentes ao mérito, nesta data, aguardando o encerramento da instrução
processual. Antecipa-se porém, que o indiciado é inocente, conforme será comprovado
em momento oportuno, caso não seja acolhida as preliminares.

5 – DOS PEDIDOS

Diante do exposto:
a) Requer a absolvição sumária do investigado, por tratar-se de crime impossível, com
fulcro no art. 17, do Código Penal;
b) Requer subsidiariamente, a absolvição sumária do investigado, por tratar-se o fato de
legítima defesa de outrem, ou seja, uma excludente de ilicitude, com fulcro no art. 23,
inciso II, e art. 25, caput, ambos do Código Penal;
c) Caso o entendimento de Vossa Excelência não seja pela absolvição sumária, requer
seja declarada nula a citação efetuada, e
d) Subsidiariamente, requer a concessão dos benefícios da gratuidade judiciária.

Para a instrução processual, arrolo as seguintes testemunhas:


1) Natália, qualificada à fls. ___.
2) Maria, qualificada à fls. ___.
3) José, qualificado à fls. ___.

Local, ___/___/____
Advogado, OAB/ _________.

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