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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ PRESIDENTE DO TRIBUNAL DO JÚRI

DA COMARCA CENTRAL DO ESTADO DE SÃO PAULO

Processo de n°

PAULO, qualificado nos autos da Ação Penal que lhe move a


Justiça Pública, por intermédio de sua advogada e procuradora que esta subscreve,
vem, à presença de Vossa Excelência, com fulcro no artigo 593, inciso III, “d”, do
Código de Processo Penal, interpor recurso de APELAÇÃO contra a decisão de fls.__.

Desde já, requer seja o recurso conhecido por este D. Juízo e,


assim, remetido ao Egrégio Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo para que dele
conheça, dando-lhe provimento.

Termos em que,
Pede deferimento.

São Paulo, 05 de setembro de 2019.

Advogada
OAB. n°
RAZÕES DE APELAÇÃO

EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Processo n°___

Cartório do __ª Ofício Criminal da Comarca de __

Apelante: Paulo

Apelado: Justiça Pública do Estado de São Paulo

DOUTOR PROCURADOR,

COLENDA CÂMARA,

A r. decisão de fls. __ merece ser reformada, pelas razões de fato e direito a seguir
expostas.

I - DOS FATOS

Consta nos autos que Paulo foi denunciado pelo Ministério


Público por ter supostamente cometido o crime de homicídio qualificado, previsto no
art. 121, § 2º, II e IV do Código Penal1, ao empurrar Carlos, que caiu e faleceu em
decorrência deste ato.

Em primeira instância foi produzido laudo pericial que atestou a


morte de Carlos por trauma crânio encefálico, ocorrido pela queda. Foi, também,
produzida prova oral.

Paulo afirmou que empurrou a vítima por ter se assustado com


a abordagem desta. Contudo, o juiz acatou com a acusação em sua decisão de
pronúncia, alegando que não seria crível que o APELANTE tenha se assustado com a
abordagem.

1
Código Penal: “Art. 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. (...) § 2° Se o
homicídio é cometido: II - por motivo fútil; (...) IV - à traição, de emboscada, ou mediante
dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; (...) Pena
- reclusão, de doze a trinta anos.”
Posteriormente, o processo foi remetido ao Tribunal do Júri,
momento em que Paulo afirmou novamente que jamais pretendeu a morte do Sr.
Carlos e que reagiu institivamente à abordagem, para se defender do que imaginou se
tratar de uma tentativa de roubo.

Além disso, foi produzida prova testemunhal acusatória no


plenário do júri. Entretanto, o júri entendeu por condenar Paulo, de modo contrário às
provas acostadas aos autos, visto que, as testemunhas arroladas pela defesa (Srs.
Tico e Teco), as quais presenciaram os fatos investigados, afirmaram que Paulo se
assustou com a abordagem repentina da vítima.

Assim, o juiz-presidente do 50º Tribunal do Júri da Capital,


aplicou a Paulo a pena de 12 anos de reclusão em regime inicialmente fechado, em
função da decisão do júri, totalmente contrária à prova trazida pela defesa, razão pela
qual o APELANTE interpõe a presente Apelação.

II - DO DIREITO

Conforme denota-se em síntese dos fatos, ao caminhar pela


Praça João Mendes, Paulo, ora APELANTE, foi surpreendido pela abordagem
repentina de Carlos, um morador de rua do centro da cidade de São Paulo. Acreditou
o APELANTE tratar-se de um roubo, motivo pelo qual, buscando se defender, agiu
mediante seus reflexos e instintos, empurrando Carlos para longe.

É importante ressaltar, inicialmente, que a atitude do


APELANTE é totalmente compreensível, uma vez que, o lugar onde estava andando é
notoriamente conhecido por seu alto índice de crimes – em especial roubos, conforme
notícia do G1 datada de maio/2019, meses antes do ocorrido2.

Pois bem, submetido o caso a julgamento perante o Tribunal


do Júri, as testemunhas arroladas pela defesa, que presenciaram todos os fatos,
confirmaram o alegado pelo APELANTE, informando que esse se assustou diante da
aproximação repentina de Carlos. Nada obstante, a acusação foi incapaz de produzir
provas em plenário.

Evidente, portanto, que a única prova colacionada aos autos –


o testemunho de Teco e Tico – vem a favor do ora APELANTE, no sentido de
confirmar a involuntariedade de seu ato. Nesse sentido, considerando que os atos
reflexos excluem a conduta do agente, é cristalina a ausência de um dos elementos
essenciais para caracterização do crime: a tipicidade. Por essa razão, deveria o
APELANTE ter sido absolvido pelo júri.

2
“Centro de SP é a região da cidade com maior número de casos de roubos de celular”
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2019/05/13/centro-de-sp-e-a-regiao-da-cidade-com-
maior-numero-de-casos-de-roubos-de-celular.ghtml
No caso em comento, diante de todo o demonstrado, destaca-
se a ocorrência do disposto no artigo 593, III, alínea “d”, do Código Penal, in verbis:

“Art. 593. Caberá apelação no prazo de 5 (cinco) dias:

III - das decisões do Tribunal do Júri, quando:


d) for a decisão dos jurados manifestamente contrária à
prova dos autos.” (grifado)

Ora, demonstrado que a decisão dos jurados, no sentido de


condenar o APELANTE por crime de homicídio duplamente qualificado, vai a total
afronta e desconformidade com os fatos e provas colacionadas no processo, devendo
ser submetida a novo julgamento, nos termos do artigo 593, §3º, do Código Penal.

Subsidiariamente, pode-se verificar a hipótese de


descriminante putativa, prevista no parágrafo 1º do artigo 20, do Código Penal, em que
o agente é isento de pena por agir sob erro plenamente justificado pelas
circunstâncias, supondo que estava em situação de fato que, se existisse, tornaria a
ação legítima, in verbis:

“Art. 20 - O erro sobre elemento constitutivo do tipo legal de


crime exclui o dolo, mas permite a punição por crime culposo,
se previsto em lei.

§ 1º - É isento de pena quem, por erro plenamente


justificado pelas circunstâncias, supõe situação de fato
que, se existisse, tornaria a ação legítima. Não há isenção
de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é punível como
crime culposo.” (grifado)

III - DO PEDIDO

Ante o exposto, requer o recebimento e provimento do


presente recurso, a fim de que seja anulado o julgamento realizado em plenário e
determinado um novo julgamento, nos termos do art. 593, §3º, do Código Penal.

Termos em que,
Pede deferimento.

São Paulo, 05 de setembro de 2019.

Advogada
OAB. n°

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