Você está na página 1de 8

EXCELENTISSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DO JUíZO MILITAR DA 1ª

INSTÂNCIA DE JUSTIÇA MILITAR DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Processo nº 0001490.84.2010.9.13.0002

BENEVIDES NAHAS DE ALMEIDA, Cb PMV, n1 120.998-0, residente na rua


José de Paula Galvão, n' 893, bairro Planalto, cidade Uberlândia/MG, casado,
natural de Catalão/GO, filho de Benevides de Almeida e de Manira Nahas,, já
devidamente qualificado nos autos da AÇÃO CRIMINAL em epígrafe, que lhe
move a JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL vem respeitosamente perante Vossa
Excelência, por meio do seu advogado subscritor por procuração já juntado aos
autos, com fundamento no artigo 593, inciso I do Código de Processo Penal,
interpor RECURSO DE APELAÇÃO contra a r. sentença de fls. 208 a 220,
requerendo, desde já, seja o recurso conhecido por este Juízo e,
consequentemente remetido ao Egrégio Tribunal de Justiça Militar do Estado
de Minas Gerais, para que dele conheça, dando-lhe provimento.

Termos em que,

Pede e espera deferimento.

Pará de Minas/MG, data.

ADVOGADO

OAB

_________________________________________________

RAZÕES DE APELAÇÃO

Processo nº
Origem: ___ª Vara Criminal da Comarca de XXXXX

Ação Criminal

Apelante: BENEVIDES NAHAS DE ALMEIDA

Apelado: Justiça Militar do Estado de Minas Gerais

EGRÉGIO TRIBUNAL

ÍNCLITOS DESEMBARGADORES

1 – DA ADMISSIBILIDADE

O presente recurso é cabível vez que investe contra sentença condenatória


prolatada pelo respeitável Juízo a quo nestes autos de ação criminal.

Além disso, o presente recurso é tempestivo, vez que o prazo para Apelação,
conforme a legislação processual vigente, é de 5 (cinco) dias, contados a partir
da data da sentença que se deu no dia 28 de junho de 2013. Portanto,
tempestivo o presente recurso.

2 – DA SENTENÇA

O Juízo a quo julgou procedente a denúncia, condenando o Apelante nas


sanções do artigo 160, COM, definindo sua pena final que foi aplicada a regra
do art. 435 CPPM foi fixada em 09 meses de detenção com direito ao regime
aberto.

De acordo com a sentença condenatória, a autoria e a materialidade do delito


restaram comprovadas pelas provas produzidas.
Em que pese o conhecimento jurídico do Juízo prolator da sentença, vê-se que
não decidiu com acerto, fazendo-se necessária a reforma da decisão de 1º
Grau. É o que se passa a demonstrar.

3 – DA INSUFICIÊNCIA PROBATÓRIA / DA NECESSIDADE DE


ABSOLVIÇÃO DO APELANTE

Em Juízo, sob o manto do contraditório e da ampla defesa, o Apelante negou


com veemência a prática delitiva (fl. 43), bem como afirma nunca ter
desrespeitado um Superior Hierárquico.

Em ambos os interrogatórios, tanto o do Apelante como o das testemunhas,


são idênticas as versões, em que afirmam: se encontraram na Marechal uma
avenida em Uberlândia/MG e, após comprarem a droga em local diverso do
que estavam no momento da prisão, procuraram um local tranquilo para
fazerem uso de “crack”. Sendo que uma moça de nome Vanessa indicou uma
casa a eles e para lá se deslocaram. Já na casa ficaram no portão usando a
droga.

Ou seja, em nenhum momento, mesmo nos depoimentos das testemunhas,


restou claro que o Apelante incidiu no artigo 33, caput da Lei 11.343/06.

Como é cediço, a Constituição Federal garante a presunção de inocência, de


tal sorte que se faz mister um conjunto probatório harmonioso e robusto para a
imposição de um édito condenatório.

A dúvida deve levar, necessariamente, à absolvição, em apreço à


constitucional presunção de inocência, a menos que haja robusto
conjunto probatório a elidi-la. Não é o que ocorre nos autos.

As testemunhas de acusação se limitaram a dizer que o Apelante estava no


portão em companhia de Luiz Antônio da Silva e que gritaram: “Polícia,
polícia...”.
Ora, Nobres Julgadores, com a devida licença para vos questionar, mas desde
quando se localizar no portão e gritar “polícia” são tipificados pelo artigo 33,
caput da Lei 11.343/06?

E mais! Os depoimentos das testemunhas de acusação coincidem com o


interrogatório do Apelante, visto que este afirmou que estava no portão
juntamente com Vanessa para consumo de droga. A diferença é que as
testemunhas fantasiaram que o Apelante se localizava ali por outro
motivo que não o consumo de entorpecentes.

A fantasia das testemunhas de acusação é tão burlesca que não há como


imaginar um homem e uma mulher, desarmados e com o portão aberto
estarem ali para fazerem contenção ao tráfico interno... é, no mínimo, uma
história absurda!

De acordo os depoimentos colhidos em Juízo, conclui-se que a única prova de


que o Apelante participava do tráfico de drogas consiste na palavra dos
policiais responsáveis pelas diligências; porém, apenas a palavra dos agentes
policiais não é apta a ensejar uma condenação. Principalmente, por concluírem
que o Apelante participava do tráfico por estar na porta da residência e gritar
“polícia, polícia...”.

Com efeito, a palavra policial não pode servir de sustentáculo para um grave
édito condenatório. Neste sentido:

“Por outro lado, é de bom senso e cautela que o magistrado dê valor relativo
ao depoimento, pois a autoridade policial, naturalmente, vincula-se ao que
produziu investigando o delito, podendo não ter a isenção dispensável
para narrar os fatos, sem uma forte dose de interpretação. Outros policiais
também podem ser arrolados como testemunhas, o que, via de regra, ocorre
com aqueles que efetuaram a prisão em flagrante. Nesse caso, podem narrar
importantes fatos, embora não deva o juiz olvidar que eles podem estar
emocionalmente vinculados à prisão que realizaram, pretendendo validá-la e
consolidar o efeito de suas atividades. Cabe, pois, especial atenção para a
avaliação da prova e sua força como meio de prova totalmente isento” (Entre
várias testemunhas uma delas Roberto Alexandre Seixas,
consequentemente reconheceu todas as assinaturas das testemunhas,
concretizando todo ato falado na audiência, por tanto sobre o crime é
certo afirmar que no ato de sua prisão tenha se desentendido e
ocasionando um desacato ao colega de profissão e autoridade que ali
estava presente).

Neste sentido, ainda, o entendimento jurisprudencial:

Por mais idôneo que seja o policial, por mais honesto e correto, se participou
da diligência, servindo de testemunha, no fundo está procurando legitimar
sua própria conduta, o que juridicamente não é admissível. A legitimidade
de tais depoimentos surge, pois, com a corroboração por testemunhas
estranhas aos quadros policiais. (Sendo assim fica claro,que não teve como
fraudar, manipular ou mudar nenhuma fala sobre testemunhas que
estavam no local,o interrogatório que foi feito sobre o ocorrido é coletado
todas as faladas ouvidas das testemunhas que não há nenhum tipo de
mudança em relação as falas e que todos estavam de acordo e relataram
o que ouviram e viram no dia).

A principal função da Polícia, na repressão criminal, não é testemunhar fatos,


mas antes oferecer elementos de convicção que sustentem a acusação
pública. Entender o contrário e partir da presunção de autenticidade dos
depoimentos policiais, sem outras provas concludentes, é desnaturar o
princípio do contraditório e inverter o princípio da inocência presumida. Pois
que ao réu, obviamente, não se há de exigir que prove sua inocência.

Este é todo o conjunto probatório produzido contra o Apelante, sendo patente


sua fragilidade, visto que não reúne elementos de certeza que autorizem a
prolação de um decreto condenatório. E a dúvida, resultado da insuficiência de
provas, deve ser sempre interpretada em benefício do réu, princípio basilar da
seara penal.

Desta forma, a manifesta insuficiência probatória deve levar,


imprescindivelmente, à absolvição do Apelante pelo crime descrito no
artigo 33, caput da Lei 11.343/06, conforme previsão do Código de
Processo Penal, artigo 386, inciso VII.
4 – DA ATIPICIDADE

No caso em apreço, apenas para o belo debate jurídico, caso entenda-se que o
Apelante, de fato, estivesse participando do tráfico de drogas, deve-se
reconhecer a atipicidade da conduta.

Não foi encontrada nenhuma droga em poder do Apelante, sendo impossível


que ele pudesse participar do tráfico de drogas. Dessa forma, não houve
nenhum perigo à sociedade e tampouco foi verificada a tipicidade exigida pelo
tipo de modo a ensejar um édito condenatório.

No mesmo diapasão, a mera suposição, sem que se constate o tráfico, não


apresenta qualquer lesividade à incolumidade pública.

Aliás, é meio absolutamente ineficaz ou exemplo de crime impossível, nos


termos do artigo 17 do Código Penal, a suposição de tráfico de drogas que, nas
condições em que se encontrava, não poderia gerar qualquer risco.

Assim, não é coerente afirmar que o simples fato de uma pessoa estar no
portão de uma casa e supostamente gritar “polícia, polícia...” possa constituir
um delito. Ou seja, o simples fato de o agente se localizar numa residência
onde indiscutivelmente se consome droga não justifica a imposição de uma
sanção penal, já que não se constata um perigo imediato de lesão a qualquer
bem jurídico.

De fato, o Direito Penal não pode se preocupar com condutas que sequer
geram dano em abstrato à sociedade, não havendo tipicidade material, sendo
que a conduta do Apelante é atípica. Nesse sentido, este Egrégio Tribunal de
Justiça mineiro:

APELAÇÃO CRIMINAL - COLABORAÇÃO PARA O TRÁFICO ILÍCITO DE


ENTORPECENTES - ABSOLVIÇÃO - NECESSIDADE - AUSÊNCIA DE
PROVAS ACERCA DA COLABORAÇÃO COM GRUPO, ASSOCIAÇÃO OU
ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA - ATIPICIDADE DA CONDUTA - RECURSO
PARCIALMENTE PROVIDO. O delito previsto no art. 37 da Lei 11.343/06
exige, para a sua configuração, que o agente colabore com integrantes de
um grupo, associação ou organização criminosa, sendo que, não
restando demonstrado quem seriam tais destinatários do alerta proferido
pela apelante e ausente a comprovação da existência de uma organização
criminosa exploradora do tráfico ilícito de entorpecentes que teria sido
auxiliado pela conduta da apelante, imperativa a absolvição da recorrente,
face à atipicidade da conduta. (Na maioria dos casos colocando provas
falsas que ocasionaram a prisão do réu, sendo assim um crime sem
provas, e sem nenhum motivo aparente sobre o que realmente aconteceu
no dia do ocorrido e mostrando que entre outras venha a se concientizar
sobre os atos apresentados).

APELAÇÃO CRIMINAL. TRÁFICO DE DROGAS. ASSOCIAÇÃO PARA O


TRÁFICO E DESOBEDIÊNCIA. RECURSO MINISTERIAL PLEITO DE
CONDENAÇÃO DOS RECORRIDOS. IMPOSSIBILIDADE. CONJUNTO
PROBATÓRIO DUVIDOSO E INSUBSISTENTE. FRAGILIDADE. MEROS
INDÍCIOS. INSUFICIÊNCIA PARA EMBASAR A CONDENAÇÃO. AUSÊNCIA
DE PROVAS SEGURAS E ROBUSTAS DO VÍNCULO ASSOCIATIVO
PERMANENTE E ESTÁVEL. IN DUBIO PRO REO. DESOBEDIÊNCIA. NÃO
COMPARECIMENTO NA DELEGACIA, NA QUALIDADE DE SUSPEITOS,
PARA PRESTAR INFORMAÇÕES, APÓS INTIMAÇÃO. EXERCÍCIO DE
AUTODEFESA. ATIPICIDADE DA CONDUTA. ABSOLVIÇÃO MANTIDA.
RECURSO NÃO PROVIDO.

- Não se pode condenar ninguém como traficante com base em meras


suposições. A gravidade do crime exige prova cabal e perfeita, de modo
que, inexistindo esta nos autos, impõe-se a absolvição. - A simples
probabilidade de autoria, tratando-se de mera etapa da verdade, não
constitui certeza por si só. - Não havendo prova segura e firme da
associação para a traficância exercida pelos acusados, a existência de
meros indícios não autoriza o decreto condenatório. - Não há que se falar
em crime de desobediência quando o acusado, na qualidade de suspeito, após
ser intimado a comparecer à Delegacia de Polícia, para prestar esclarecimento,
opta por não fazê-lo, na medida em que se encontra acobertado pelo direito à
autodefesa.

- Recurso ministerial não provido[5]. (Dentre de várias normas e a partir da


investigação não contendo provas ou testemunhas que digam ou
executem de maneira sutil, qualquer ato apresentado nessa demanda
sobre o caso).

Portanto, o Apelante deve ser absolvido pela atipicidade da conduta com


fulcro no artigo 386, inciso III, do Código de Processo Penal.

5 – DOS PEDIDOS

Requer-se, portanto, seja o presente recurso CONHECIDO e PROVIDO para


o fim de absolver-se o réu, com base no artigo 386, incisos III ou VII, do
Código de Processo Penal.

Aguarda provimento do recurso, estabelecendo-se, assim, a mais precisa


JUSTIÇA!

Termos em que,

Pede e espera deferimento.

Uberlândia/MG, data.

ADVOGADO

OAB

Você também pode gostar