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EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA -VARA DE TÓXICOS DA

COMARCA DE BELO HORIZONTE MINAS GERAIS


PROCESSO Nº...
xxxxxxx, já qualificado nos autos do processo em epígrafe, através de seus procuradores ao
final subscritos, vem respeitosamente à presença de V. Exa., nos termos do art. 403, § 3º do
Có digo de Processo Penal, apresentar,
ALEGAÇÕ ES FINAIS
Pelos motivos de fato e de Direito a seguir expostos.
FATOS
Segundo a denú ncia do Ministério Pú blico, o denunciado encontra-se incurso nas sançõ es
do crime prescrito no art. 33 da lei nº 11.343/06, posto que na data de 09/07/2015, foi
preso em flagrante no endereço de fl. Xxxx sob acusaçã o de estar praticando traficâ ncia de
substâ ncia conhecida como cocaína.
Ocorre que, o denunciado é apenas um usuá rio de drogas que estava no local tã o somente
para comprar e consumir a substâ ncia entorpecente. Com o denunciado nada foi
encontrado, uma vez que toda a droga foi encontrada em local inacessível para o
denunciado.
Durante audiência de instruçã o realizada por este Douto Magistrado, através dos
depoimentos dos policiais, foi confirmado que a droga fora encontrada em cima do telhado
de um barracã o e que com o acusado foi encontrado apenas R$14,00, nã o sendo possível
afirmar se a droga era ou nã o do denunciado, além disso, só um dos policiais afirma que viu
o denunciado jogar a droga em cima do telhado do barracã o, apesar de apresentar a droga
só 40 minutos depois de efetuada a prisã o do denunciado.
Verifica-se que nã o há nenhuma prova capaz de imputar ao denunciado a prá tica do crime
constante na denú ncia.
Em síntese, sã o os fatos.
MÉ RITO
DA ABSOLVIÇÃ O
Conforme informaçõ es dos autos percebe-se a ausência de qualquer prova que o
denunciado tinha a intençã o de vender a droga apreendida no local do crime.
Em seu interrogató rio, o denunciado é categó rico ao afirmar que é apenas usuá rio habitual
e jamais se envolveu na mercancia de qualquer entorpecente.
Diante da insuficiência das provas, nã o há como imputar ao denunciado a autoria pela
prá tica de trá fico de drogas, de forma que, nos termos do art. 386, V e VII do CPP, o juiz
deverá absolve-lo.
As provas trazidas aos autos claramente ratificam o envolvimento do denunciado somente
como usuá rio, estando provado que este nã o concorreu de forma alguma para a prá tica do
crime constante na denú ncia.
Caso nã o seja este o entendimento do MM. Juízo, torna-se incontestá vel entã o a
necessidade de aplicaçã o do princípio do in dú bio pro réu, uma vez que certa é a dú vida
acerca da culpa a ele atribuída com relaçã o à acusaçã o de Trá fico de Drogas, pois o Réu nã o
foi encontrado em atividade de traficâ ncia e muito menos com qualquer outro elemento
que levasse a crer ser o denunciado traficante. Veja Exa., que, com o acusado fora
encontrado apenas R$14,00 em dinheiro e os pró prios policiais afirmam que o denunciado
vendiam cada pino a R$30,00.
Destarte, diante da insuficiência probató ria, posto que a acusaçã o nã o conseguiu
demonstrar que os fatos efetivamente ocorreram para que pudessem imputar a prá tica
delituosa ao denunciado, nã o conseguindo, consequentemente, demonstrar que fora a
conduta do denunciado que causou a lesã o ao bem juridicamente protegido, que ressai dos
autos, a pretensã o punitiva merece ser julgada improcedente.
Nesse sentido, temos o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:
APELAÇÃ O CRIME. TRÁ FICO DE ENTORPECENTES. INSUFICIÊ NCIA DE PROVAS.
ABSOLVIÇÃ O. IN DUBIO PRO REO. ART. 386, VI, DO CPP. A condenaçã o do réu exige prova
robusta da autoria do fato delituoso que lhe é imputado. Remanescendo dú vida, impõ e-se a
absolviçã o, com fundamento no art. 386, VI, do CPP.
Sendo assim, o denunciado deve ser ABSOLVIDO, com fundamento no art. 386, inciso V do
Có digo de Processo Penal, por nã o haver qualquer prova de que o Sr. Xxxxxx, tenha
concorrido para o trá fico de drogas.
Se este nã o for o entendimento, que seja ABSOLVIDO nos termos do art. 386, inciso VII, do
Có digo de Processo Penal, devida inexistência de provas suficientes que ensejem sua
condenaçã o pela figura do art. 33, caput, da Lei 11.343/06.
DA DESCLASSIFICAÇÃ O PARA USUÁ RIO
Em seu interrogató rio, o denunciado explica o motivo de estar no local onde foi preso.
Trata-se de um usuá rio, que estava em local “destinado para usuá rios”, fato este de
conhecimento da polícia.
Numa simples aná lise do art. 28 e do art. 33 da lei nº 11.343/06 é notó rio que a vontade do
agente e a destinaçã o para uso pessoal do denunciado, o simples indício de materialidade
do crime de trá fico de drogas nã o é argumento suficiente para a condenaçã o pelo delito do
art. 33 da referida lei. Para iniciar a açã o penal bastam indícios mas, para condenar é
necessá rio prova. Com ele nada foi encontrado, estando apenas no local onde usa a droga
que compra, fato este comprovado pelo pró prio Boletim de Ocorrência lavrado pela
autoridade policial e confirmado em audiência.
Além do mais, trata-se de um réu primá rio e com residência fixa, a sua primariedade é sim
uma coisa que deve ser observada, pois o denunciado nã o ostenta a atividade criminosa.
Conforme se observa do exposto, resta por comprovada a situaçã o do denunciado como
usuá rio de drogas, conduta elencada no art. 28 da Lei de Drogas, e nã o a de traficante,
conforme aduzido na denú ncia. Nã o há prova nos autos que, de acordo com a aná lise dos
depoimentos, do local do fato, das condiçõ es em que se desenvolveu a açã o, das
circunstâ ncias sociais e pessoais, bem como a conduta e os antecedentes do Réu, cheguem à
certeza plena de que a prá tica do fato era realmente trá fico de drogas, razã o que demonstra
caso típico de desclassificaçã o.
Do exposto, caso Vossa Excelência nã o vislumbre a ideia da absolviçã o, requer que seja
desclassificada a conduta prevista na denú ncia para a conduta prevista no art. 28, da lei
11.343/06.
DOS POSSÍVEIS CRITÉ RIOS DE FIXAÇÃ O DA PENA
Embora nítida a tese da absolviçã o por nã o estar comprovado o crime de trá fico, e ainda, a
tese da desclassificaçã o necessá ria para usuá rio, convêm demonstrar outras situaçõ es que
devem ser observadas por Vossa Excelência.
Verificando a situaçã o do denunciado, é possível concluir que o réu é primá rio e de bons
antecedentes e possui residência fixa.
Nesse sentido entende o Supremo Tribunal Federal, senã o vejamos:
EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL. TRÁ FICO DE DROGAS. PENA
FIXADA EM PATAMAR INFERIOR A DOIS ANOS. PEDIDO DE CONCESSÃ O DE SURSIS.
IMPETRAÇÃ O PREJUDICADA. CONCESSÃ O DA ORDEM DE OFÍCIO PARA RECONHECER A
POSSIBILIDADE DE SUBSTITUIÇÃ O DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVA
DE DIREITOS.
1. O Supremo Tribunal Federal assentou serem inconstitucionais os arts. 33, § 4º, e 44,
caput, da Lei n. 11.343/2006, na parte em que vedavam a substituiçã o da pena privativa de
liberdade por restritiva de direitos em condenaçã o pelo crime de trá fico de entorpecentes
(HC 97.256, Rel. Min. Ayres Britto, sessã o de julgamento de 1º.9.2010, Informativo/STF
598).
(…)
5. Concessã o de ofício para reconhecer a possibilidade de se substituir a pena privativa de
liberdade aplicada ao Paciente por restritiva de direitos, desde que preenchidos os
requisitos objetivos e subjetivos previstos em lei, devendo a aná lise ser feita pelo juízo do
processo de conhecimento ou, se tiver ocorrido o trâ nsito em julgado, pelo juízo da
execuçã o da pena.
Ainda no que tange ao entendimento do STF:
EMENTA: HABEAS CORPUS. TRÁ FICO DE DROGAS. ART. 33 DA LEI 11.343/2006:
IMPOSSIBILIDADE DE CONVERSÃ O DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE EM PENA
RESTRITIVA DE DIREITOS. DECLARAÇÃ O INCIDENTAL DE INCONSTITUCIONALIDADE.
OFENSA À GARANTIA CONSTITUCIONAL DA INDIVIDUALIZAÇÃ O DA PENA (INCISO XLVI
DO ART. 5º DA CF/88). ORDEM PARCIALMENTE CONCEDIDA.
(…)
3. As penas restritivas de direitos sã o, em essência, uma alternativa aos efeitos certamente
traumá ticos, estigmatizantes e onerosos do cá rcere. Nã o é à toa que todas elas sã o
comumente chamadas de penas alternativas, pois essa é mesmo a sua natureza: constituir-
se num substitutivo ao encarceramento e suas sequelas. E o fato é que a pena privativa de
liberdade corporal nã o é a ú nica a cumprir a funçã o retributivo-ressocializadora ou
restritivo-preventiva da sançã o penal. As demais penas também sã o vocacionadas para
esse geminado papel da retribuiçã o-prevençã o- ressocializaçã o, e ninguém melhor do que o
juiz natural da causa para saber, no caso concreto, qual o tipo alternativo de reprimenda é
suficiente para castigar e, ao mesmo tempo, recuperar socialmente o apenado, prevenindo
comportamentos do gênero.
(…)
Assim, ao denunciado deve ser deferida a conversã o da pena privativa de liberdade por
restritiva de direitos, conforme garantida pela lei penal; e ainda, que sua pena seja fixada
no mínimo legal pelas circunstâ ncias já elencadas.
DA POSSIBILIDADE DE APELAR EM LIBERDADE
Na busca do cará ter ressocializador da pena, a justiça deve trabalhar para aplicar aquilo
que se coaduna com a realidade social.
Hoje, infelizmente, nosso Sistema Prisional é cercado de incertezas sobre a verdadeira
funçã o de ressocializaçã o dos indivíduos que lá sã o mantidos, onde em muitos casos trata-
se de verdadeira “escola do crime”.
Com base no princípio da presunçã o de inocência, previsto na nossa Constituiçã o Federal
em seu art. 5º, inciso LVII, requer o denunciado que responda ao processo em liberdade,
até o trâ nsito em julgado, pois as circunstâ ncias do fato e condiçõ es pessoais do acusado
(art. 282, inciso II, CPP) lhe sã o favorá veis pelo fato de nã o haver reincidência e sua
conduta social nã o ser em nenhum momento questionada.
DO PEDIDO
Pelo exposto, requer Vossa Excelência digne-se de:
1. Absolver o denunciado xxxxxxxxx, pela ausência de provas de que este concorreu para a
prá tica do crime, nos termos do art. 386, V do CPP.
2. Caso nã o seja este o entendimento, que seja absolvido por nã o existir prova suficiente
para a condenaçã o, com base no art. 386, VII, do CPP
3. Pelo princípio da eventualidade, que seja desclassificada a conduta para a prá tica do art.
28 da lei 11.343/06, por existirem elementos suficientes para a afirmaçã o de que o
denunciado é usuá rio de drogas.
Por necessá rio, ad argumentum, caso Vossa Excelência entenda pela condenaçã o, pela
prá tica do crime disposto no art. 33 da Lei 11.343/06, sejam observadas as atenuantes da:
a) menoridade penal, art. 65, l, do CP; b) preponderâ ncia na fixaçã o da pena, art. 42 da lei
de drogas; c) causa especial de diminuiçã o prevista no art. 33, § 4º, fixando no mínimo
legal, convertendo-a em restritiva de direitos, conforme entendimento pacificado do
Supremo Tribunal Federal, e que o denunciado possa apelar em liberdade nos termos do
art. 283 do CPP, por preencher os requisitos objetivos para tal benefício.
Nesses termos,
Pede deferimento.
Contagem, 07 de fevereiro de 2015.
Advogado
OAB/MG xxxxxx

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