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EXCELENTÍSSIMA SENHORA DOUTORA JUIZA DE DIREITO DA TERCEIRA VARA CRIMINAL DA

COMARCA DE MONTE ALTO - SP

PROCESSO Nº 0004493-61.2015.8.26.0368

KAUE HENRIQUE SATYRO DE SOUZA, já qualificado nos autos supra, vêm


respeitosamente à presença de Vossa Excelência, por meio de seu defensor que ao final
subscreve, apresentar seus MEMORIAIS, nos termos a seguir aduzidos.
SÍNTESE DA DENUNCIA

O acusado foi denunciado por incurso nos artigos 35 e 33, caput, c.c. artigo 40, VI,
todos da Lei nº 11.343/06, sob o fundamento de que durante perícia realizada no aparelho
celular do denunciado Gustavo da Silva Ramos, os investigadores e polícia encontraram, no
"WhatsApp" conversas sobre a divisão de tarefas para a comercialização de drogas entre
ambos, onde combinavam quanto cada um venderia de drogas, bem como acertavam a
"padronização da embalagem".

Ao ser interrogado, o Acusado negou a prática dos crimes descritos na denúncia,


afirmando que não mantem contato com o corréu Gustavo, apenas o conheceu quando ambos
estavam internados na Fundação Casa.

Em relação ao menor envolvido, a saber, Alan Vinicius Serra Soares, o denunciado


afirma que desconhece quem seja.

Em síntese, são os fatos.

Nos depoimentos pessoais dos Policiais Militares, os mesmos não conseguiram


afirmar que conheciam da associação entre os corréus. Ato continuo, asseguraram que entre
o réu Gustavo e o menor apreendido, esta associação era de conhecimento geral dos
membros da Policia Militar.

No depoimento do corréu, o mesmo afirmou categoricamente que o denunciado


(KAUE) não participa, não participou e muito menos conversou sobre a traficância de
entorpecentes.

Ao término da audiência de instrução, em seus memoriais o Ministério Público


pleiteou a condenação dos denunciados.
Contudo, em que pese o notório saber jurídico de seu subscritor, este
posicionamento não deve prevalecer, pelas razões apontadas a seguir.

DO DIREITO
DA ABSOLVIÇÃO NECESSÁRIA

Conforme informações dos autos percebe-se a ausência de qualquer prova que o


denunciado tinha a intenção de vender a droga apreendida com o corréu, o mesmo ocorre
quanto à acusação de associação.

Em seu interrogatório, o denunciado é categórico ao afirmar que é apenas usuário


habitual e jamais se envolveu na mercancia de qualquer entorpecente.

Diante da insuficiência das provas, não há como imputar ao denunciado a autoria


pela prática de tráfico de drogas e associação para o tráfico, de forma que, nos termos do art.
386, V e VII do CPP, o juiz deverá absolve-lo.

As provas trazidas aos autos claramente ratificam o elencado acima, NÃO EXISTEM
PROVAS CONTRA O DENUNCIADO KAUE HENRIQUE, estando evidenciado que este não
concorreu de forma alguma para a prática dos crimes constantes na denúncia.

Caso não seja este o entendimento da MM. Juíza, torna-se incontestável então, a
necessidade de aplicação do princípio do in dúbio pro réu, uma vez que certa é a dúvida acerca
da culpa a ele atribuída, com relação à acusação de Tráfico de Drogas, pois o Réu não foi
encontrado em atividade de traficância.

Ora, Vossa Excelência, o mesmo deve ser dito quanto à associação para o tráfico. O
denunciado, a saber, Kaue Henrique Satyro de Souza, não é citado em nenhum momento
pelos outros corréus e, ainda, as provas obtidas pelos investigadores são totalmente vagas e
escassas.
O inquérito policial apenas se ampara no “serviço de inteligência” da Policia Civil,
afirmando de forma discricionária que o elemento “K” seria o denunciado em testilha.
CONSTANDO NO PRÓPRIO RELATÓRIO DE INVESTIGAÇÃO, ATRAVÉS DE PRINT-SCREEN, QUE
NÃO EXISTE FOTO DO DENUNCIADO.

Em suma, o contexto probatório desenhado no processo pelo Ilustre representante


do Ministério Público, é ilusório, não existe, pois está calcado apenas em suposições, indícios e
ilações duvidosas.

O princípio da não-culpabilidade previsto na Constituição da República e o princípio


da inocência estabelecido nas convenções internacionais conferem ao acusado segurança
processual. O Ministério Público enfrenta o ônus de comprovar a materialidade e a autoria
delituosa no que concerne a mercancia.

NÃO DEVE HAVER INVERSÃO DO ÔNUS PROBATÓRIO. O DENUNCIADO NÃO


CARECE PROVAR SUA INOCÊNCIA.

Destarte, diante da insuficiência probatória, posto que a acusação não conseguiu


demonstrar que os fatos efetivamente ocorreram para que pudessem imputar a prática
delituosa ao denunciado, não conseguindo, consequentemente, demonstrar que fora a
conduta do denunciado que causou a lesão ao bem juridicamente protegido, que ressai dos
autos, a pretensão punitiva merece ser julgada improcedente.

Nesse sentido:

APELAÇÃO CRIME. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. INSUFICIÊNCIA DE


PROVAS. ABSOLVIÇÃO. IN DUBIO PRO REO. ART. 386, VI, DO CPP. A
condenação do réu exige prova robusta da autoria do fato delituoso que lhe
é imputado. Remanescendo dúvida, impõe-se a absolvição, com
fundamento no art. 386, VI, do CPP. (Apelação Crime Nº 70011856390,
Terceira Câmara Criminal, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Danúbio Edon
Franco, Julgado em 08/09/2005.)

Sendo assim, o denunciado deve ser ABSOLVIDO, com fundamento no art. 386, inciso
IV do Código de Processo Penal, por não haver qualquer prova de que o mesmo tenha
concorrido para o tráfico de drogas.

Caso não for este o entendimento de Vossa Excelência, requer a ABSOLVIÇÃO nos
termos do art. 386, inciso VII, do Código de Processo Penal, devida inexistência de provas
suficientes que ensejem sua condenação pela figura do art. 33, caput, da Lei 11.343/06.

Assim, e pela estrita particularidade do caso dos autos, de rigor a absolvição do


acusado.

ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO


INOCORRÊNCIA – AUSÊNCIA DE ANIMUS ASSOCIATIVO

Para que se cogite a conduta delitiva prevista no art. 35, caput, da Lei nº.
11.343/2006, faz-se mister que o quadro fático encontrado seja de sorte a demonstrar o
ânimo associativo dos integrantes do delito em espécie. Dessa feita, cabia ao Ministério
Público evidenciar, com clareza e precisão, a eventual convergência de interesses dos
Acusados em unirem-se para o tráfico, de modo estável e permanente.

NO PRESENTE CASO NÃO FOI POSSÍVEL NEM A IDENTIFICAÇÃO DO USUÁRIO DO


WHATSAPP DENOMINADO "K".

Todos os depoimentos colhidos na fase inquisitória traduzem que os Acusados, a


saber, GUSTAVO e KAUE, tão-somente se conheciam pela passagem e convivência que ambos
tiveram na Fundação Casa.
Em relação ao menor, o denunciado não o conhece e nunca teve contado com o
mesmo, logo, impossível a aplicação da causa de aumento de pena.

Em todas as diligências realizadas pela Polícia Civil, nenhuma foi capaz de vincular um
elo entre os acusados em relação à traficância/associação.

Abordando o tema aqui trazido à baila, professa Luiz Flávio Gomes que:

“O art. 35 traz modalidade especial de quadrilha ou bando (art. 288 do CP).


Contudo, diferentemente da quadrilha, a associação para o tráfico exige
apenas duas pessoas (e não quatro), agrupadas de forma estável e
permanente, para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos
crimes previstos nos arts. 33, caput (tráfico de drogas), e 34 (tráfico de
maquinário) desta Lei. […] Tipo Subjetivo – É o dolo (animus associativo),
aliado ao fim específico de traficar drogas ou maquinário. […] ‘Para o
reconhecimento do crime previsto no art. 14 da Lei 6.368/76 [atual 35], não
basta a convergência de vontades para a prática das infrações constantes
dos arts. 12 e 13 [atuais arts. 33 e 34]. É necessário, também, a intenção
associativa com a finalidade de cometê-las, o dolo específico’ […]” (Lei de
Drogas Comentada. 2. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p.
204/205)

Com a mesma sorte de entendimento leciona Guilherme de Souza Nucci que:

“Exige-se elemento subjetivo do tipo específico, consistente no ânimo de


associação, de caráter duradouro e estável. Do contrário, seria um mero
concurso de agentes para a prática do crime de tráfico. Para a configuração
do delito do art. 35 (antigo art. 14 da Lei 6.368/76) é fundamental que os
ajustes se reúnam com o propósito de manter uma meta comum.” (Leis
Penais e Processuais Penais Comentadas. 6ª. ed. São Paulo: RT, 2012, vol. I,
p. 334)”
Para que se legitime a imposição da sanção correspondente pelo cometimento do
delito em questão (art. 35), a lei exige mais do que o exercício do tráfico em integração pelos
criminosos, porquanto em tal situação, a conduta de cada qual, sem um animus específico e
duradouro de violar os arts. 33 e 34 da Lei de Tóxicos, evidencia, em tese, unicamente a co-
autoria.

APELAÇÃO CRIMINAL. TRÁFICO DE DROGAS, CORRUPÇÃO DE MENORES E


ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. SENTENÇA CONDENATÓRIA. INSURGÊNCIA
DA DEFESA.
Preliminares. I – Inépcia da denúncia. Inocorrência. Denúncia que preenche
os requisitos do art. 41, do CPP. Acusado que se defende dos fatos e não da
capitulação da exordial. Nulidade inexistente. II – Nulidade do
procedimento investigatório realizado pela polícia militar. Inocorrência.
Usurpação de função não verificada. Procedimentos da Lei nº 9.296/96
devidamente atendidos. Dispositivo constitucional que não prevê
exclusividade da polícia civil. Precedentes. Auto de prisão em flagrante
lavrado por delegado de polícia. Provas obtidas pelas investigações
juntadas ao auto de prisão. Nulidade inexistente. 2. Mérito. I – Crime de
tráfico que é considerado permanente e de conteúdo múltiplo ou variado.
Crime praticado nas modalidades vender e ter em depósito. Crime único
reconhecido. Concurso material afastado. II – Absolvição do crime de
associação para o tráfico. Possibilidade. Animus associativo não
configurado. III – Condenação pelo crime de corrupção de menores e
aplicação da causa de especial aumento de pena prevista no artigo 40,
inciso VI, da Lei nº 11.343/06. Bis in idem configurado. Prevalência da Lei
Especial. Precedentes. Afastamento da condenação do crime previsto no
artigo 244-b do ECA. Manutenção da causa de especial aumento de pena.
IV – Condenação pelo crime de tráfico de drogas mantida. Materialidade e
autoria devidamente comprovadas. Confissão do réu corroborada pelo
restante da prova oral coligida. V – Aplicação da causa de especial
diminuição prevista no artigo 33, §4º, da Lei nº 11.343/06. Impossibilidade.
Réu reincidente. Requisitos necessários não preenchidos. VI – Dosimetria da
pena recalculada. Pena minorada. Manutenção do regime fechado face à
reincidência. VII – Restituição dos bens apreendidos. Possibilidade em parte.
Honda biz de propriedade de terceiro. Determinação, de ofício, para o juízo
a quo proceder na forma do artigo 123 do código de processo penal. Honda
nx-4 falcon de propriedade do acusado. Origem ilícita não demonstrada.
Uso exclusivo para o tráfico não comprovado. Ausência de preparação do
veículo para o transporte de drogas. Restituição devida. Recurso conhecido
e parcialmente provido. (TJSC; ACr 2013.086958-3; Rio do Sul; Segunda
Câmara Criminal; Relª Desª Subst. Cinthia Beatriz da Silva Bittencourt
Schaefer; Julg. 25/03/2014; DJSC 02/04/2014; Pág. 516)
APELAÇÕES CRIMINAIS. TRÁFICO DE DROGAS. RECURSO MINISTERIAL.
CONDENAÇÃO DOS RÉUS NO ART. 35 DA LEI Nº 11.343/06. INEXISTÊNCIA
DE PROVA A ATESTAR QUE OS AGENTES ESTIVESSEM ASSOCIADOS DE
FORMA ESTÁVEL E PERMANENTE PARA A PRÁTICA DO CRIME DO ART. 35
DA LEI DE TÓXICOS. MERO CONCURSO DE PESSOAS. ABSOLVIÇÃO
MANTIDA. RECURSO DEFENSIVO. AUTORIA E MATERIALIDADE
COMPROVADAS. ABSOLVIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE. DESCLASSIFICAÇÃO PARA
O DELITO DE USO. CIRCUNSTÂNCIAS DA APREENSÃO QUE COMPROVAM A
DESTINAÇÃO MERCANTIL DO ENTORPECENTE APREENDIDO. INVIABILIDADE
DE ACOLHIMENTO DO PLEITO DESCLASSIFICATÓRIO. REPRIMENDA.
SEGUNDO APELANTE. RECONHECIMENTO DA ATENUANTE DA CONFISSÃO
ESPONTÂNEA E COMPENSAÇÃO COM A AGRAVANTE DA REINCIDÊNCIA.
NECESSIDADE. TERCEIRA APELANTE. ABRANDAMENTO DO REGIME DE
CUMPRIMENTO DE PENA E SUBSTITUIÇÃO DA PENA CORPORAL POR
RESTRITIVA DE DIREITOS. VIABILIDADE. REQUISITOS PRESENTES. RÉUS
PATROCINADOS PELA DEFENSORIA PÚBLICA. CUSTAS ISENTAS, DE OFÍCIO.
PRIMEIRO RECURSO NÃO PROVIDO E SEGUNDO RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO. DE OFÍCIO, ISENTAR OS RÉUS DO PAGAMENTO DAS CUSTAS. Para
uma condenação pelo crime de associação, previsto no art. 35 da Lei nº
11.343/06, devem estar comprovadas a existência de estabilidade,
permanência ou habitualidade, bem como o animus associativo, que se
traduz no prévio ajuste para a formação de um vínculo associativo de fato.
Inexistindo prova de que havia uma verdadeira societas sceleris, onde a
vontade de se associar seja separada da vontade necessária à prática do
crime visado, deve ser proferida uma decisão absolutória em favor do
apelante. Comprovadas a materialidade e a autoria delitiva,
consubstanciadas na confissão extrajudicial dos réus e nos depoimentos
prestados pelos milicianos em juízo, bem como pela apreensão de droga
fracionada e de dinheiro em espécie de origem não comprovada apreendido
na residência dos agentes, torna-se inviável o acolhimento dos pleitos
absolutório e desclassificatório, levando-se em conta a existência de provas
concretas da destinação mercantil que seria dada ao entorpecente
apreendido. Verificado que a fundamentação exposta na sentença utilizou-
se da confissão espontânea do segundo apelante para embasar a
condenação, há que ser reconhecida a atenuante da confissão espontânea
e procedida a sua compensação com a agravante da reincidência,
concretizando-se a pena do réu no mínimo legal. É possível o abrandamento
do regime de cumprimento de pena da terceira apelante e a substituição da
pena corporal, já que reconhecida a causa especial de diminuição contida
no § 4º do art. 33 da Lei nº 11.343/06, tendo em vista o quantum de pena
imposta e o que preconizam os artigos 33 e 44, ambos do CP. A
possibilidade deve ser verificada no caso concreto, à luz dos moduladores
do art. 59 e seguintes do CPB, do art. 42 da Lei Antitóxicos e, ainda, se esse
aliviamento é necessário e suficiente para a reprovação e prevenção do
crime. Tendo em vista a pequena quantidade de droga apreendida, é
permitido o cumprimento da pena no regime aberto, medida que se mostra
necessária e suficiente para reprovação e prevenção do crime, no presente
caso. Presentes os requisitos do art. 44 do CP, a substituição da pena
corporal por restritiva de direitos é medida que se impõe ao segundo
apelante. Tratando-se de réus patrocinados pela Defensoria Pública, a
isenção das custas processuais é medida que se impõe, de ofício. (TJMG;
APCR 1.0512.12.008129-8/001; Rel. Des. Nelson Missias de Morais; Julg.
19/03/2014; DJEMG 31/03/2014)

Observa-se de forma induvidosa e cristalina, Meritíssima, a gritante improcedência


da denúncia no tocante ao delito de associação para o tráfico, uma vez que não houve
demonstração do dolo associandi para sua caracterização, tanto na instrução criminal como no
caderno inquisitório.

O delito de associação para o tráfico não pode, de forma alguma, ser


comparado a um mero concurso de agentes, sendo necessária para sua
caracterização a existência de um vínculo associativo, em que a vontade
de se associar seja separada da vontade à prática do crime visado” (TJSP,
Ap. 295.901-3/1-00, 6ª Câm., j. 6-4-2000, rel. Des. Canguçu de Almeida, JTJ
209/284).

Resta-nos dizer, portanto, que tanto a autoria quanto a tipicidade do delito descrito
no art. 35 da Lei 11.343/2006, imputado ao senhor Kaue Henrique Satyro de Souza, quedaram-
se totalmente INDEMONSTRADAS pelos agentes de polícia e principalmente pelo Ministério
Público.

STJ, 6ª Turma, HC 139942 (19/11/2012): Exige-se o dolo de se associar com


permanência e estabilidade para a caracterização do crime de associação
para o tráfico, previsto no art. 35 da Lei n. 11.343/2006. Dessa forma, é
atípica a conduta se não houver ânimo associativo permanente
(duradouro), mas apenas esporádico (eventual).

Por fim, eminente Magistrada, NÃO merece ser acolhida a imputação feita ao
acusado Kaue Henrique, quanto ao delito descrito no art. 35 da Lei 11.343/06, por não ter
havido liame subjetivo duradouro e permanente entre os agentes, E, ACIMA DE TUDO, PELO
FATO DE TER FICADO PROVADO NOS AUTOS QUE, O ORA ACUSADO, NÃO CONHECE OS
DEMAIS ENVOLVIDOS, SALVO O SENHOR GUSTAVO DA SILVA RAMOS, COM QUEM
COEXISTIU DURANTE UM PERÍODO NA FUNDAÇÃO CASA, razão pela qual não se pode aqui
cogitar em associação para o tráfico, eis que, SE a associação existiu, foi de NATUREZA
OCASIONAL, modalidade não contemplada na novel legislação de tóxicos, estando certo que a
absolvição do acusado do crime de associação para o tráfico, nos termos do art. 386, IV do
CPP, é medida da mais límpida justiça!

DA VERDADE REAL NO PROCESSO CRIMINAL E PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA

A grande diferença do processo não penal é de que o Juiz pode satisfazer-se com a
verdade formal ou convencional que surja das manifestações formuladas pelas partes. No
Processo Penal, o Juiz tem o dever de investigar a verdade real, procurar saber como os fatos
se passaram na realidade, quem realmente praticou, para dar base certa à justiça.

Ora, no presente caso não fora comprovada a pratica delituosa por parte do
denunciado, sequer se o mesmo comercializava os tóxicos obtendo vantagem ilícita.

Cabe à acusação levar a juízo as provas capazes de inculpar o réu.

O réu em seu depoimento pessoal prestado na delegacia de polícia, descreve que é


usuário de drogas, afirmando redondamente que não comercializa e nunca comercializou
drogas.

A presunção de inocência do denunciado, é um ato de fé no valor ético da pessoa,


próprio de toda sociedade livre.

No presente caso, não é apenas uma presunção, e sim uma verdade.


CRITÉRIOS DE FIXAÇÃO DA PENA

Embora nítida a tese da absolvição por não estar comprovado o crime de tráfico e
associação, convêm demonstrar outras situações que devem ser observadas por Vossa
Excelência.

Verificando a situação do denunciado, é possível concluir que o réu é primário e de


bons antecedentes e possui residência fixa.

Nesse sentido entende o Supremo Tribunal Federal, senão veja-se:

EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL. TRÁFICO DE


DROGAS. PENA FIXADA EM PATAMAR INFERIOR A DOIS ANOS. PEDIDO DE
CONCESSÃO DE SURSIS. IMPETRAÇÃO PREJUDICADA. CONCESSÃO DA
ORDEM DE OFÍCIO PARA RECONHECER A POSSIBILIDADE DE SUBSTITUIÇÃO
DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE POR RESTRITIVA DE DIREITOS.

1. O Supremo Tribunal Federal assentou serem inconstitucionais os arts. 33,


§ 4º, e 44, caput, da Lei n. 11.343/2006, na parte em que vedavam a
substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos em
condenação pelo crime de tráfico de entorpecentes (HC 97.256, Rel. Min.
Ayres Britto, sessão de julgamento de 1º.9.2010, Informativo/STF 598).

(…)

5. Concessão de ofício para reconhecer a possibilidade de se substituir a


pena privativa de liberdade aplicada ao Paciente por restritiva de direitos,
desde que preenchidos os requisitos objetivos e subjetivos previstos em lei,
devendo a análise ser feita pelo juízo do processo de conhecimento ou, se
tiver ocorrido o trânsito em julgado, pelo juízo da execução da pena. (STF,
1ª Turma, HC 104361, Rel. Ministra Carmen Lúcia, análise 03/05/2011).
Ainda no que tange ao entendimento do STF:

EMENTA: HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE DROGAS. ART. 33 DA LEI


11.343/2006: IMPOSSIBILIDADE DE CONVERSÃO DA PENA PRIVATIVA DE
LIBERDADE EM PENA RESTRITIVA DE DIREITOS. DECLARAÇÃO INCIDENTAL
DE INCONSTITUCIONALIDADE. OFENSA À GARANTIA CONSTITUCIONAL DA
INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA (INCISO XLVI DO ART. 5º DA CF/88). ORDEM
PARCIALMENTE CONCEDIDA.

(…)

3. As penas restritivas de direitos são, em essência, uma alternativa aos


efeitos certamente traumáticos, estigmatizantes e onerosos do cárcere.
Não é à toa que todas elas são comumente chamadas de penas
alternativas, pois essa é mesmo a sua natureza: constituir-se num
substitutivo ao encarceramento e suas sequelas. E o fato é que a pena
privativa de liberdade corporal não é a única a cumprir a função retributivo-
ressocializadora ou restritivo-preventiva da sanção penal. As demais penas
também são vocacionadas para esse geminado papel da retribuição-
prevenção-ressocialização, e ninguém melhor do que o juiz natural da causa
para saber, no caso concreto, qual o tipo alternativo de reprimenda é
suficiente para castigar e, ao mesmo tempo, recuperar socialmente o
apenado, prevenindo comportamentos do gênero.

(…)

Assim, ao denunciado deve ser deferida a conversão da pena privativa de


liberdade por restritiva de direitos, conforme garantida pela lei penal; e
ainda, que sua pena seja fixada no mínimo legal pelas circunstâncias já
elencadas (STF, HC 97256, Rel. Ministro Ayres Britto, análise 28/01/2011).
Assim, ao ora acusado deve ser deferida a conversão da pena privativa de liberdade
por restritiva de direitos, conforme garantida pela lei penal, e ainda, que sua pena seja fixada
no mínimo legal pelas circunstâncias já elencadas.

DA POSSIBILIDADE DE APELAR EM LIBERDADE

Na busca do caráter ressocializador da pena, a justiça deve trabalhar para aplicar


aquilo que se coaduna com a realidade social.

Hoje, infelizmente, nosso Sistema Prisional é cercado de incertezas sobre a


verdadeira função de ressocialização dos indivíduos que lá são mantidos, onde em muitos
casos trata-se de verdadeira “escola do crime”.

Com base no princípio da presunção de inocência, previsto na nossa Constituição


Federal em seu art. 5º, inciso LVII, requer o denunciado que recorra em liberdade, pois as
circunstâncias do fato e condições pessoais do acusado (art. 282, inciso II, CPP) lhe são
favoráveis pelo fato de não haver reincidência e sua conduta social não ser em nenhum
momento questionada.

CONCLUSÃO

O tráfico de drogas/associação para o tráfico, por se tratar de situação extrema da


criminalidade, que provoca ojeriza e revolta, é merecedora de intensa reprovação social e
política de combate/guerra por parte do Estado.

O que se verte do histórico fático destes autos, é a falta dos elementos objetivos
comprovadores de que houve a prática do delito de associação para o fim do tráfico, devendo
ser aplicado à hipótese o princípio do in dúbio pro reo, que fundamenta a absolvição do
acusado na imputação do crime disposto no artigo 35 da Lei nº 11.343/06.
Não se pode prolatar um decreto condenatório baseado apenas em meras
conjecturas e ilações, é evidente e essencial que haja prova cabal para tanto.

O ESTADO NÃO PODE RUIR EM TENTAÇÃO E CEDER/DESRESPEITAR AS PROVAS


APRESENTADAS NOS AUTOS, UTILIZANDO COMO CRITÉRIO A VERDADE FORMAL COMO MEIO
DE CONDENAR O SUSPEITO, EM NOME DE UMA PRETENSA SEGURANÇA PÚBLICA.

Sempre que o crime é grave, surgem vozes defendendo a flexibilização dos direitos
fundamentais de índole processual penal.

Conforme nos lembram, oportunamente, Américo Bedê Júnior e Gustavo Senna, “por
mais bem-intencionados que estejam os defensores da utilização da prova ilícita para
condenação, parece-nos que os riscos de abusos, assim como a experiência recente da
ditadura, conspiram pela não aceitação da tese. Ademais devemos lembrar que o princípio da
máxima efetividade dos direitos fundamentais impede uma interpretação que admitia a prova
ilícita ‘pro societate’. Esse é o preço que se paga para viver em um Estado Democrático de
Direito”.

Na prática diária do Direito, verificamos que as mais brilhantes teses de defesa são
apenas para que as aulas da universidade sejam atraentes, e as doutrinas contenha majestosos
exemplos. Constatamos na prática que, por mais que tentamos demonstrar o real fato, a
justiça, literalmente, permanece cega.

É triste admitir, porém deve ser feito. No presente caso, o momento que o acusado é
condenado não em sede de sentença, mas no recebimento da denúncia, o que ocorre depois
disto, é apenas o cumprimento do “protocolo”.

No entanto, ainda existe expectativa da verdadeira Justiça prevalecer, é o que se


espera do juiz. Para dizer o óbvio, o juiz é o que o nome diz, um juiz, não um “justiceiro”.
DO PEDIDO

Ante o exposto, requer de Vossa Excelência a absolvição do denunciado pela


ausência de provas de que este concorreu para a prática do crime de tráfico de drogas e
associação, com base no art. 386, IV do CPP.

Caso não seja este o entendimento, que seja absolvido por não existir prova
suficiente para a condenação, com base no art. 386, VII, do CPP, tendo em vista que o caderno
inquisitório não logrou êxito em afirmar precisamente de que o denunciado, Kauê, era o
remetente das mensagens.

No entanto, caso nenhum dos pedidos supramencionados sejam acolhidos, requer,


em caso de condenação, que a pena seja fixada no mínimo legal, reduzida em 2/3, conforme
requisitos do art. 33, §4º da lei 11.343/06, aplicando o REGIME ABERTO e/ou, a conversão da
pena em restritiva de direito, uma vez que o denunciado atende a todos os requisitos
necessários contidos na inteligência deste mesmo parágrafo;

Ainda requer, o afastamento da causa de aumento de pena requerido pelo


representante do Ministério Público, uma vez que o denunciado não conhece e nunca
manteve contato com o menor do caso em testilha;

Por necessário, ad argumentum, caso Vossa Excelência entenda pela condenação,


requer que a pena seja fixada no mínimo legal e que o denunciado possa apelar em liberdade
nos termos do art. 283 do CPP, por preencher os requisitos objetivos para tal benefício. “Ad
hunc modo”, seja qual for o crime, a regra é a mesma. Tratando-se de sentença penal
condenatória recorrível, o binômio necessidade-fundamentação é premissa imperiosa,
mormente por estar em jogo “jus libertatis” e no presente caso, a colaboração do denunciado
demonstra que sua liberdade não assenta nenhum risco ao tramite do processo legal.
Por fim, que as publicações sejam efetuadas exclusivamente em nome do Dr. RAFAEL
MIRANDA BIANCHI, OAB/SP 333.513, para que fique constando das publicações de intimação
dos atos e termos do presente feito, sob pena de nulidade.

Termos em que,
pede deferimento.

Monte Alto, 10 de março de 2016.

RAFAEL MIRANDA BIANCHI


OAB/SP 333.513

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