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PROCESSO Nº 0004493-61.2015.8.26.0368
O acusado foi denunciado por incurso nos artigos 35 e 33, caput, c.c. artigo 40, VI,
todos da Lei nº 11.343/06, sob o fundamento de que durante perícia realizada no aparelho
celular do denunciado Gustavo da Silva Ramos, os investigadores e polícia encontraram, no
"WhatsApp" conversas sobre a divisão de tarefas para a comercialização de drogas entre
ambos, onde combinavam quanto cada um venderia de drogas, bem como acertavam a
"padronização da embalagem".
DO DIREITO
DA ABSOLVIÇÃO NECESSÁRIA
As provas trazidas aos autos claramente ratificam o elencado acima, NÃO EXISTEM
PROVAS CONTRA O DENUNCIADO KAUE HENRIQUE, estando evidenciado que este não
concorreu de forma alguma para a prática dos crimes constantes na denúncia.
Caso não seja este o entendimento da MM. Juíza, torna-se incontestável então, a
necessidade de aplicação do princípio do in dúbio pro réu, uma vez que certa é a dúvida acerca
da culpa a ele atribuída, com relação à acusação de Tráfico de Drogas, pois o Réu não foi
encontrado em atividade de traficância.
Ora, Vossa Excelência, o mesmo deve ser dito quanto à associação para o tráfico. O
denunciado, a saber, Kaue Henrique Satyro de Souza, não é citado em nenhum momento
pelos outros corréus e, ainda, as provas obtidas pelos investigadores são totalmente vagas e
escassas.
O inquérito policial apenas se ampara no “serviço de inteligência” da Policia Civil,
afirmando de forma discricionária que o elemento “K” seria o denunciado em testilha.
CONSTANDO NO PRÓPRIO RELATÓRIO DE INVESTIGAÇÃO, ATRAVÉS DE PRINT-SCREEN, QUE
NÃO EXISTE FOTO DO DENUNCIADO.
Nesse sentido:
Sendo assim, o denunciado deve ser ABSOLVIDO, com fundamento no art. 386, inciso
IV do Código de Processo Penal, por não haver qualquer prova de que o mesmo tenha
concorrido para o tráfico de drogas.
Caso não for este o entendimento de Vossa Excelência, requer a ABSOLVIÇÃO nos
termos do art. 386, inciso VII, do Código de Processo Penal, devida inexistência de provas
suficientes que ensejem sua condenação pela figura do art. 33, caput, da Lei 11.343/06.
Para que se cogite a conduta delitiva prevista no art. 35, caput, da Lei nº.
11.343/2006, faz-se mister que o quadro fático encontrado seja de sorte a demonstrar o
ânimo associativo dos integrantes do delito em espécie. Dessa feita, cabia ao Ministério
Público evidenciar, com clareza e precisão, a eventual convergência de interesses dos
Acusados em unirem-se para o tráfico, de modo estável e permanente.
Em todas as diligências realizadas pela Polícia Civil, nenhuma foi capaz de vincular um
elo entre os acusados em relação à traficância/associação.
Abordando o tema aqui trazido à baila, professa Luiz Flávio Gomes que:
Resta-nos dizer, portanto, que tanto a autoria quanto a tipicidade do delito descrito
no art. 35 da Lei 11.343/2006, imputado ao senhor Kaue Henrique Satyro de Souza, quedaram-
se totalmente INDEMONSTRADAS pelos agentes de polícia e principalmente pelo Ministério
Público.
Por fim, eminente Magistrada, NÃO merece ser acolhida a imputação feita ao
acusado Kaue Henrique, quanto ao delito descrito no art. 35 da Lei 11.343/06, por não ter
havido liame subjetivo duradouro e permanente entre os agentes, E, ACIMA DE TUDO, PELO
FATO DE TER FICADO PROVADO NOS AUTOS QUE, O ORA ACUSADO, NÃO CONHECE OS
DEMAIS ENVOLVIDOS, SALVO O SENHOR GUSTAVO DA SILVA RAMOS, COM QUEM
COEXISTIU DURANTE UM PERÍODO NA FUNDAÇÃO CASA, razão pela qual não se pode aqui
cogitar em associação para o tráfico, eis que, SE a associação existiu, foi de NATUREZA
OCASIONAL, modalidade não contemplada na novel legislação de tóxicos, estando certo que a
absolvição do acusado do crime de associação para o tráfico, nos termos do art. 386, IV do
CPP, é medida da mais límpida justiça!
A grande diferença do processo não penal é de que o Juiz pode satisfazer-se com a
verdade formal ou convencional que surja das manifestações formuladas pelas partes. No
Processo Penal, o Juiz tem o dever de investigar a verdade real, procurar saber como os fatos
se passaram na realidade, quem realmente praticou, para dar base certa à justiça.
Ora, no presente caso não fora comprovada a pratica delituosa por parte do
denunciado, sequer se o mesmo comercializava os tóxicos obtendo vantagem ilícita.
Embora nítida a tese da absolvição por não estar comprovado o crime de tráfico e
associação, convêm demonstrar outras situações que devem ser observadas por Vossa
Excelência.
(…)
(…)
(…)
CONCLUSÃO
O que se verte do histórico fático destes autos, é a falta dos elementos objetivos
comprovadores de que houve a prática do delito de associação para o fim do tráfico, devendo
ser aplicado à hipótese o princípio do in dúbio pro reo, que fundamenta a absolvição do
acusado na imputação do crime disposto no artigo 35 da Lei nº 11.343/06.
Não se pode prolatar um decreto condenatório baseado apenas em meras
conjecturas e ilações, é evidente e essencial que haja prova cabal para tanto.
Sempre que o crime é grave, surgem vozes defendendo a flexibilização dos direitos
fundamentais de índole processual penal.
Conforme nos lembram, oportunamente, Américo Bedê Júnior e Gustavo Senna, “por
mais bem-intencionados que estejam os defensores da utilização da prova ilícita para
condenação, parece-nos que os riscos de abusos, assim como a experiência recente da
ditadura, conspiram pela não aceitação da tese. Ademais devemos lembrar que o princípio da
máxima efetividade dos direitos fundamentais impede uma interpretação que admitia a prova
ilícita ‘pro societate’. Esse é o preço que se paga para viver em um Estado Democrático de
Direito”.
Na prática diária do Direito, verificamos que as mais brilhantes teses de defesa são
apenas para que as aulas da universidade sejam atraentes, e as doutrinas contenha majestosos
exemplos. Constatamos na prática que, por mais que tentamos demonstrar o real fato, a
justiça, literalmente, permanece cega.
É triste admitir, porém deve ser feito. No presente caso, o momento que o acusado é
condenado não em sede de sentença, mas no recebimento da denúncia, o que ocorre depois
disto, é apenas o cumprimento do “protocolo”.
Caso não seja este o entendimento, que seja absolvido por não existir prova
suficiente para a condenação, com base no art. 386, VII, do CPP, tendo em vista que o caderno
inquisitório não logrou êxito em afirmar precisamente de que o denunciado, Kauê, era o
remetente das mensagens.
Termos em que,
pede deferimento.