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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA

CRIMINAL DA COMARCA DE SAQUAREMA – RJ

Processo nº. 0013766-88.2018.8.19.0001

LUCAS DANIEL DOS SANTOS VASCONCELOS, devidamente


qualificado nos autos do processo em epígrafe, por seu advogado
que esta subscreve, com escritório estabelecido na Avenida Amaral
Peixoto, km 70, Bacaxá, Saquarema - RJ, vem, respeitosamente, à
presença de Vossa Excelência, apresentar a sua

DEFESA PRELIMINAR

com fulcro no artigo 55 da Lei n.º 11.343/06, pelas razões de fato e


de direito a seguir expostas:

I – DOS FATOS

O acusado foi preso em suposto flagrante delito no dia 20 de


janeiro de 2018, e denunciado como incurso nas penas dos artigos
33 e 35, ambos da Lei n.º 11.343/06, e artigo 14 da lei 10.826/2003
por ter, conforme denúncia, se associado aos demais acusados para
o fim último de praticar tráfico ilícito de entorpecentes.

Desta feita, a denúncia deduz que a traficância estaria


evidenciada conforme o depoimento dos policiais que realizaram
diligência no bairro da Raia, nesta comarca, onde realizaram a
prisão dos acusados.

Passaremos a demonstrar, que a presente denúncia deve ser


integralmente rejeitada pelo MM. Juízo, vez que dos fatos
supramencionados é patente a ilação de que o acusado é inocente,
e que falta justa causa para a ação penal como a seguir será
demonstrado.

II – DO SUPOSTO TRÁFICO

Segundo a regra insculpida no artigo 33, "caput" da


lei 11.343/06, o crime consiste em praticar qualquer uma dentre as
dezoito formas de condutas puníveis previstas (que são os núcleos
do tipo), sendo algumas permanentes e outras instantâneas:

Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir,


vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar,
trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo
ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou
em desacordo com determinação legal ou regulamentar.

É necessária a vontade livre e consciente de praticar uma das


ações previstas neste tipo penal.

Conforme doutrina e aresto abaixo transcritos:

Vicente Greco Filho, leciona que: "[...] O elemento subjetivo é


o dolo genérico em qualquer das figuras. É a vontade livre e
consciente de praticar uma das ações previstas no tipo, sabendo o
agente que a droga é entorpecente". (GRECO FILHO, Vicente.
Tóxicos: Prevenção - Repressão. 11ª ed. São Paulo: Saraiva, 1996, p.
84-85).

DOLO, portanto, é a vontade livre e consciente dirigida a


realizar a conduta prevista no tipo penal incriminador, ou seja é a
vontade livre e consciente de praticar um crime.

Em nenhum momento pode-se dizer que o acusado teve dolo


de traficar drogas, uma vez que foi preso em via pública, no
momento em que apenas conversava com conhecidos seus, os quais
nem sequer poderia imaginar estarem envolvidos com o crime.

Ressalte-se que o acusado não tinha conhecimento de que


havia um "ponto" de drogas funcionando na rua em que transitava
ou quem dirá no interior da casa onde foi encontrado o material
entorpecente, local em que jamais chegou a adentrar.

O acusado estava apenas, para sua infelicidade, no local


errado, na hora errada, próximo de pessoas que desconhecia ter
qualquer envolvimento com tráfico.

O acusado conhece de vista os outros denunciados, e a relação


entre os mesmos se limita a isso, pois como se pode

estudou durante 8 anos com o acusado, firmaram amizade desde


então; Desde a formatura em ____ não tinham se visto, até que em
__/__/____ encontraram-se na saída da boate ____, nesta ocasião o
acusado teria lhe dado o seu novo endereço e telefone, convidando
a acusada para visitá-lo.

Em __/__/____ a acusada foi fazer uma visita social ao acusado, se


dirigiu até a casa do mesmo na rua ____ e adentrando no recinto
iniciaram colóquio animado sobre os tempos de escola. Fato este
incontroverso nos autos.

Na sequência, o acusado ____ recebeu "sucessivas visitas" de outras


pessoas, desconhecidas para a acusada, e para sua surpresa
testemunhou a chegada de uma viatura policial.

Quando o acusado avistou a viatura, saiu em disparada. Deixando a


acusada na casa, atônita.

O acusado foi encurralado pela polícia, conduzido para a viatura


algemado. Os policiais disseram ter encontrado as drogas dentro da
residência e deram voz de prisão aos acusados, porém, em revista
pessoal, nada foi encontrado com a acusada, apenas uma pequena
importância em dinheiro em sua bolsa.

Vimos a suprema necessidade do dolo genérico do agente, ou seja,


ter a vontade livre e consciente de praticar uma das ações previstas
no tipo penal, restou claro que a acusada não tinha a intenção de
traficar, pois sequer tinha conhecimento da existência ou não de
drogas no interior do residência.

Resta claro que a conduta da acusada é isenta de culpa ou dolo.

A conduta da acusada é atípica, não caracterizada pelo artigo 33,


caput, e/ou artigo 35 da Lei 11.343/06.
III – DO DINHEIRO APREENDIDO COM A ACUSADA

O pai da acusada, sr. ______, na data de __/__/____, pediu que sua


filha recebesse sua aposentadoria, no banco ____, fornecendo para
tanto, seu cartão bancário e senha.

Esta atitude era usual para a acusada, pois era frequente suas idas
ao centro da cidade, facilitando a vida de seu genitor.

A acusada, antes de fazer visita ao acusado, foi ao banco ___ e


sacou a aposentadoria de seu pai no valor de R$ ____, (um salário
mínimo).

Quantia esta que foi apreendida pelos policiais no mesmo dia.

Dinheiro lícito, de origem comprovadíssima, e que por ter sido


apreendido, causou transtornos e aborrecimentos ao seu pai _____.

IV – DA SUPOSTA ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO


A conduta prevista no artigo 35, "caput" da lei 11.343/06, é inerente
ao agente, a existência de um animus associativo, ou seja, há
necessidade de um ajuste prévio no sentido da formação de um
vínculo associativo de fato.
Como já restou provado, e sendo fato incontroverso nos autos, a
acusada apenas foi visitar um antigo colega de escola, fato que por
si só torna sua conduta atípica, não enquadrada, portanto, no
artigo 35 da lei 11.343/06.
Devemos ressaltar que a acusada não apresenta nenhum
antecedente criminal, e que não é conhecida no meio policial como
pessoa ligada ao tráfico.

V – DOS DEPOIMENTOS E DAS PROVAS COLHIDAS QUANDO DA


PRISÃO EM FLAGRANTE

Deslindada as características mais importantes, tanto da


personalidade da ora acusada, quanto dos motivos e do objeto da
relação estabelecida entre esta e o senhor _____, calha verificar os
conteúdos dos depoimentos e das provas colhidas quando da prisão
em flagrante, bem como destacar quais são as interpretações que
podem ser extraídas dos mesmos.

O Ministério Público quer o recebimento da denúncia, pois estaria


evidenciado o "fim de traficância", e que "pelas investigações e
delações os denunciados comercializavam drogas" e que o dinheiro
apreendido com a acusada "evidencia envolvimento".

Entretanto, as alegações exordiais em relação a ora acusada, não


passam de um mero juízo especulativo, porque não encontram
ressonância com as provas existentes.

No Boletim de Ocorrência (BO/PM) nº. ____ (cópia anexa),


elaborado pelos policiais que efetuaram a prisão, a acusada aparece
apenas como "amiga de _____" e neste mesmo boletim a acusação
de tráfico recai apenas sobre o acusado, proprietário e morador da
casa.
Cristalino é este entendimento, no depoimento da segunda
testemunha (fls. __), o também policial militar _____ diz "(...). De
imediato, reconheceram _____, CONTRA QUEM PESAVAM VÁRIAS
DENÚNCIAS DE TRÁFICO DE ENTORPECENTE". Nada vindo a
acrescentar ou relatar sobre possíveis denúncias contra, a ora
acusada, ______.

Assim sendo, na versão dos policiais, não há elementos


incriminadores para sustentar o recebimento da denúncia contra a
acusada. Neste diapasão, havendo dúvida a respeito da propriedade
e da destinação da droga e inexistindo qualquer outro indício
incriminador da conduta da ora acusada, a questão só pode ser
resolvida em favor desta.

Condenação exige certeza absoluta, fundada em dados objetivos


indiscutíveis, o que não ocorre no caso em tela.

Desta feita, conclui-se que as provas são irrefutáveis no sentido de


que a acusada não tinha conhecimento da existência de ponto de
venda de drogas na residência do acusado e sendo assim não é
possível penalizá-la, nem mesmo pelo art. 33 nem pelo art. 35 da
Lei 11.343/06.
NESSE SENTIDO:

"Ex Positis", pede-se a rejeição da denúncia, e a imediata concessão


do respectivo alvará de soltura, culminando por fim, com a
liberdade da ora acusada, por ser medida de Direito e de inteira
JUSTIÇA.

Em caso de entendimento diverso, protesta-se desde já, por todos


os meios de provas admitidas em direito, notadamente pela oitiva
das testemunhas, cujo rol segue anexo, e que devidamente
intimadas, inclusive por precatórias, comparecerão às audiências
que forem designadas.

_________, ____ de _________ de _____.


___________

OAB

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