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ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

- EMERJ -

Aluno: 2021.2.1.161 - BRUNA FONSECA DIAS LIMA GATTI


Tipo Prova: PROVA REGULAR
Turma: CPI B 2 2021
Disciplina: CP03 - DIREITO PENAL - 01
Total de questões: 6
Total de questões objetivas corretas: 5
O GABARITO DA QUESTÃO ESTARÁ ESCRITO NA COR VERMELHA.
Valor Questão:4
01ª - Questão / Nota: 4,00

MARIA, de 19 anos de idade, casada com JOÃO, de 20 anos de idade, tem uma irmã paterna, SOFIA, de 8 anos.
Desde que MARIA se casou, SOFIA sempre frequentou a sua residência e nas vezes em que a menor ficava apenas na companhia de JOÃO, era vítima de constantes práticas de atos libidinosos,
inclusive conjunções carnais praticadas por ele.
Por vezes, após a prática de tais atos, JOÃO oferecia dinheiro a SOFIA, dizendo-lhe que era um auxílio para a sua mãe, que passava por dificuldades financeiras.
Dois anos depois de reiterados episódios de abusos sexuais, MARIA presenciou a ocorrência de um deles, na ocasião em que chegou em casa mais cedo do trabalho.
MARIA se desesperou e foi para o quarto chorar. Após se acalmar, chamou SOFIA para conversar, a qual lhe confidenciou todos os estupros.
Ciente dos fatos, MARIA prometeu para SOFIA que tais abusos não aconteceriam de novo, pois conversaria com JOÃO.
Todavia os abusos perduraram por diversos anos, todos nas ocasiões em que SOFIA ficava apenas na companhia de JOÃO.
Os fatos somente vieram à tona quando a mãe de SOFIA, suspeitando do comportamento da filha, convenceu-a a conversar, quando então a vítima confidenciou todos os abusos sofridos, tendo a mãe
de SOFIA adotado prontamente todas as providências legais cabíveis.
O Ministério Público denunciou JOÃO e MARIA por estupro de vulnerável, sendo a última na modalidade de omissão imprópria, na figura de garantidor do art. 13, §2º, & ldquo;a & rdquo;, Código Penal.
A defesa de JOÃO não contestou os fatos narrados na denúncia, enquanto a de MARIA afirma não incidir sobre ela a figura do garantidor, pois não possui a guarda de sua irmã, tampouco mora na
mesma casa, razão pela qual não poderá responder pelo crime a ela imputado.
Com base no caso concreto narrado, a alegação de MARIA merece acolhimento? Fundamente a sua resposta.

Resposta:

Ainda que MARIA não se enquadre na alínea "a" do art. 13, §2º, CP (obrigação por lei) já que seu parentesco (irmã) não pode ser igualado à responsabilidade penal dos pais ou guardiães, ela assume
o papel de garantidor nos termos das alíneas "b" e "c" do mesmo artigo. Isto é, seu papel de garantidora advém da responsabilidade que de outra forma assumiu em impedir o resultado danoso e por
criar o risco da ocorrência do resultado a partir de seu comportamento anterior. No caso em tela, MARIA assumiu a responsabilidade ao levar SOFIA para a sua casa desacompanhada de seus
genitores, omitiu-se quanto aos abusos praticados por JOÃO na residência do casal, e continuou a deixar sua irmã menor desacompanhada com o agressor. Portanto, a alegação de MARIA não merece
acolhimento, devendo responder pelo delito de estupro de vulnerável por omissão imprópria, nos termos do art. 13, §2º, alíneas "b" e "c", CP.

 Gabarito...
STJ - Informativo 681- novembro de 2020
Processo HC 603.195-PR, Rel. Min. Ribeiro Dantas, Quinta Turma, por unanimidade, julgado em 06/10/2020, DJe 16/10/2020.

A irmã de vítima do crime de estupro de vulnerável responde por conduta omissiva imprópria se assume o papel de garantidora.

Trata-se de denúncia pela prática do delito de estupro de vulnerável na forma omissiva imprópria, tendo por vítimas as irmãs menores da denunciada e como autor da conduta comissiva seu
marido.
Os crimes omissos impróprios, de acordo com a doutrina, são aqueles que "(...) envolvem um não fazer, que implica a falta do dever legal de agir, contribuindo, pois, para causar o resultado. Não
têm tipos específicos, gerando uma tipicidade por extensão. Para que alguém responda por um delito omissivo impróprio é preciso que tenha o dever de agir, imposto por lei, deixando de atuar,
dolosa ou culposamente, auxiliando na produção do resultado."
Quando se fala em "dever legal de agir" e em assunção do papel de "garantidor", o Código Penal, no art. 13, § 2º, apresenta três hipóteses taxativas para caracterizar tal incumbência ao agente.
Na primeira perspectiva, na alínea "a", tem-se a figura do garantidor legal stricto sensu, aquele que tem por lei o dever de proteção, vigilância e cuidado, hipótese comumente aplicada entre os pais e
os seus filhos menores de idade, no exercício de seu poder familiar. Nesse ponto, é clara a impossibilidade de extensão das obrigações paternas aos irmãos. Afinal, muito embora haja vínculo familiar
e até presumidamente uma relação afetiva entre irmãos, o mero parentesco não torna penalmente responsável um irmão para com o outro, salvo, evidentemente, os casos de transferência de
guarda ou tutela.
A lei, ainda, expressamente prevê a assunção da figura de "garantidor" pelo agente, nas alíneas "b" e "c", quais sejam: o da pessoa que de outra forma assumiu a responsabilidade de impedir o
resultado, e daquele que criou o risco da ocorrência do resultado a partir de seu comportamento anterior.
Assim, muito embora uma irmã mais velha não possa ser enquadrada na alínea "a" do art. 13, § 2º, do CP, pois o mero parentesco não torna penalmente responsável um irmão
para com o outro, caso caracterizada situação fática de assunção da figura do "garantidor" pela irmã, nos termos previstos nas duas alíneas seguintes do referido artigo ("b" e
"c"), não há falar em atipicidade de sua conduta. Hipótese em que a acusada omitiu-se quanto aos abusos sexuais em tese praticados pelo seu marido na residência do casal
contra suas irmãs menores durante anos. Assunção de responsabilidade ao levar as crianças para sua casa sem a companhia da genitora e criação de riscos ao não denunciar o
agressor, mesmo ciente de suas condutas, bem como ao continuar deixando as meninas sozinhas em casa.

Valor Questão:1
02ª - Questão / Nota: 1,00

Em relação ao Direito Penal, assinale a alternativa correta.

A criminalização primária possui duas características: seletividade e vulnerabilidade, as quais guardam íntima relação com o movimento criminológico do labeling approach.

Consoante a jurisprudência do STF, é aplicável o princípio da insignificância ao crime de moeda falsa desde que seja de pequena monta o valor posto em circulação.

A Política Criminal preocupa-se com os aspectos sintomáticos, individuais e sociais do crime e da criminalidade, isto é, aborda cientificamente os fatores que podem conduzir o homem ao crime.

As fontes de conhecimento são os órgãos constitucionalmente encarregados de elaborar o Direito Penal. No Brasil, essa tarefa é exercida precipuamente pela União e, excepcionalmente, pelos
Estados membros.

Em homenagem ao princípio da reserva legal (art. 5º, XXXIX, CF), os tratados e as convenções internacionais não podem criar crimes nem cominar penas, ainda que já tenham
sido internalizados pelo Brasil.

Valor Questão:1
03ª - Questão / Nota: 1,00

Em relação ao Direito Penal, assinale a alternativa correta.

A interpretação analógica consiste na aplicação, ao caso não previsto em lei, de lei reguladora de caso semelhante.

A lei penal excepcional é aquela que tem o seu termo final explicitamente previsto em data certa do calendário. É espécie de lei intermitente, sendo autorrevogável e dotada de ultratividade.

O princípio da consunção se concretiza em quatro situações: crime continuado, crime progressivo, progressão criminosa e atos impuníveis.

Aos crimes conexos e aos crimes plurilocais, quanto ao lugar do crime, não se aplica a teoria da ubiquidade.

No tocante aos efeitos de sentença estrangeira condenatória para a caracterização da reincidência no Brasil, é imprescindível a sua homologação pelo STJ, não bastando apenas a sua existência e
eficácia no exterior.

Valor Questão:1
04ª - Questão / Nota: 1,00

Quanto às TEORIAS DO CRIME, pode-se ASSEVERAR que

o modelo Neokantista, da teoria teleológica do delito, manteve o dolo natural e a culpa strictu sensu na culpabilidade, acrescentando a esta, apenas, o elemento exigibilidade de conduta conforme o
Direito.

para o finalismo, o juízo de culpabilidade deve recair sobre o fato.


o funcionalismo sistêmico preconiza que a missão do Direito Penal é a proteção de bens jurídicos, através da prevenção geral ou especial.

na visão do funcionalismo teleológico, a responsabilidade, como condição para a sanção, exige, além da análise dos requisitos da culpabilidade, o juízo da necessidade da pena.

o conceito central para a moderna teoria significativa da ação é o papel que cada pessoa tem, em uma vida em sociedade, restringindo-se a possibilidade de responsabilização penal ao seu
conhecimento e aos seus limites.

Valor Questão:1
05ª - Questão / Nota: 1,00

Assinale a alternativa correta no que concerne ao Direito Penal.

Na teoria naturalística, conduta é o comportamento humano voluntário que produz modificação no mundo exterior. Nessa teoria, dolo e culpa se alojam no interior da conduta, isto é, do fato típico.

Nas causas supervenientes relativamente independentes que produzem por si sós o resultado, adotou-se a teoria da causalidade adequada. Sendo assim, rompe-se o nexo causal
em relação ao resultado, e o agente só responde pelos atos até então praticados.

Os elementos normativos são os dados da conduta criminosa que não pertencem ao mundo anímico do agente. Exprimem um juízo de certeza.

No dolo de propósito, não há intervalo entre a cogitação do crime e a execução da conduta penalmente ilícita. Ocorre, de modo geral, nos crimes passionais.

A concorrência de culpas se verifica quando duas ou mais pessoas concorrem, culposamente, para a produção de um resultado naturalístico. Nesse caso, ambos os agentes respondem pelo resultado
em coautoria.

Valor Questão:1
06ª - Questão / Nota: 1,00

Para a TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA,

se um cliente bancário consegue vultoso empréstimo dentro das normas da Casa de crédito, confidenciando ao gerente que empregará o recurso para comprar cocaína e revender, este será partícipe
do tráfico.

se dois indivíduos moradores da mesma república que a vítima são contratados para matá-la por envenenamento sem saberem um do outro, e ministrarem a substância na bebida, sequencialmente,
em quantidade insignificante para a finalidade em virtude da chegada repentina de terceiros, vindo a produzir-lhe o resultado letal dada a soma das doses, ambos responderão por homicídio
consumado.

os ofendículos podem excluir a tipicidade ou a ilicitude, ocorrendo, na primeira hipótese, apenas quando o dissenso for elementar do tipo.

quando o autor, após desferir golpes de faca contra a vítima, desejando matá-la, vê que ela desfaleceu e, imaginando-a já sem vida, põe fogo no local para ocultar o fato,
verificando-se, pelo laudo, que o óbito se deu pelas queimaduras e não pelos ferimentos, ele não responde pela consumação do crime.

o nexo de causalidade material deixou de ter relevância jurídico-penal.

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