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ESCOLA DA MAGISTRATURA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

Turma: CPIII A 22022


Disciplina/Matéria: DIREITO PENAL
Sessão: 01 - Dia 05/09/2022 - 10:10 às 12:00
Professor: MARCO ANTONIO AZEVEDO JUNIOR

01 Tema: Teoria da pena. 1) Conceitos e fins da pena: teorias, os sistemas penais. 2)


Descriminalização. Abolicionismo penal. 3) A individualização da pena: importância.
Individualizações legislativa, judicial e executória. 4) As elementares do crime: definição e
importância. 5) Circunstâncias: circunstância judicial, agravantes e atenuantes, causas especiais
de aumento e de diminuição. 6) A qualificadora: a) Crimes qualificados pelo resultado; b)
Diferenças entre qualificadora e causa especial de aumento de pena. 7) A forma privilegiada.

1ª QUESTÃO:
FÁBIO foi condenado a 7 anos de reclusão, no regime inicial fechado, em razão de ter cometido o
crime tipificado no art. 33, caput, da Lei nº 11.343/2006.
A folha de antecedentes criminais de FÁBIO apresentou quatro anotações, todas condenações
criminais transitadas em julgado, mas somente uma por fatos praticados depois do crime objeto desse
processo.
Em razão dessas anotações, a pena de FÁBIO foi majorada pela reincidência, assim como pela análise
desfavorável das circunstâncias judiciais relativas aos antecedentes criminais e à conduta social.
A defesa de FÁBIO alega existir bis in idem na majoração da pena.
Você, na qualidade de juiz, como decidiria a alegação defensiva? Fundamente a sua resposta.

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RESPOSTA:
STJ (Informativo 639- fevereiro de 2019)
Não é possível a utilização de condenações anteriores com trânsito em julgado como
fundamento para negativar a conduta social.
A utilização de condenações com trânsito em julgado anteriores para negativar a conduta social era
admitida porque os antecedentes judiciais e os antecedentes sociais se confundiam na mesma
circunstância, conforme o art. 42 do Código Penal, anterior à reforma de 1984. Essa alteração
legislativa, operada pela Lei n. 7.209/1984, especificou os critérios referentes ao autor,
desmembrando a conduta social e a personalidade dos antecedentes. Cumpre observar que esse tema
possuía jurisprudência pacificada no âmbito da Quinta e Sexta Turmas do Superior Tribunal de
Justiça, que admitiam a utilização de condenações com trânsito em julgado como fundamento para
negativar não só o vetor antecedentes, como também a conduta social e a personalidade. No entanto,
após o julgamento do HC n. 366.639/SP (DJe 05/04/2017), a Quinta Turma passou a não admitir a
utilização de condenações com trânsito em julgado anteriores para fins de negativação da conduta
social. A mudança de orientação adotada pela Quinta Turma deste Tribunal Superior, consoante a
compreensão da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, incrementa significado ao disposto no
art. 59 do Código Penal, na medida em que torna a conduta social melhor concretizável, com locus
específico. Assim, em melhor atenção ao princípio da individualização das penas, as condenações
com trânsito em julgado, não utilizadas a título de reincidência, não podem fundamentar a
negativação da conduta social, o que significa alteração também da jurisprudência desta Sexta Turma
sobre o tema.

Trechos do acórdão: A pena do paciente, portanto, foi majorada em 1 ano de reclusão em razão da
análise desfavorável das vetoriais relativas aos antecedentes criminais e à conduta social, que passo a
analisar.
O acórdão recorrido registrou que, "conforme se vê na CAC juntada fls. 127/128, o apelante além da
condenação relativa ao processo de n. 0035.09.166526-1, gerador da reincidência, possui contra si
ainda outras três condenações definitivas por fatos praticados antes dos fatos destes autos, podendo,
assim, um deles ser usado para macular a conduta social, como já mencionado, e outra para revelar a
desfavorabilidade da circunstância judicial dos antecedentes".
No ponto, verifico a ilegalidade na dosimetria.
A existência de condenações definitivas anteriores e distintas daquela considerada para efeitos
de reincidência, de fato, pode ensejar a elevação da pena-base.
Contudo, tal operação não pode ser realizada

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maisde uma vez na primeira etapa da dosimetria da pena, sob pena de indevido bis in idem.
O histórico criminal do réu - que tecnicamente deveria ser enquadrado na vetorial antecedentes
- não pode ser desmembrado para justificar, para cada condenação, a análise desfavorável de
circunstâncias judiciais diversas, sob pena de aceitar-se múltipla exasperação na mesma etapa
da dosimetria, por idêntica motivação jurídica. O réu estaria sendo duplamente punido pela
existência de condenações definitivas anteriores, não importa o número delas.

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