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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

CFC
Nº 70085714574 (Nº CNJ: 0020946-17.2022.8.21.7000)
2022/CRIME

REVISÃO CRIMINAL. ROUBO MAJORADO


TENTADO. REEXAME DE PROVAS. NÃO
CONHECIMENTO.
A vulneração das decisões acobertadas pelo manto da coisa
julgada, com assento na primeira parte do inc. LXXV do art.
5º da Constituição Federal, está restrita às hipóteses
taxativas circunscritas no art. 621 do Código de Processo
Penal. Não se admite, pois, o ajuizamento de revisão
criminal para revolver e rediscutir as questões que foram
controvertidas no decorrer da ação criminal, buscando-se
verdadeira nova instância recursal de julgamento. Na
hipótese, o pedido revisional limita-se a buscar a rediscussão
das provas valoradas na ação penal e no acórdão
condenatório que, à unanimidade, concluiu pela
responsabilidade criminal do requerente pelo ilícito
imputado, ausente circunstância nova a respaldar a
pretensão.
REVISÃO CRIMINAL NÃO CONHECIDA.
CONCEDIDO O BENEFÍCIO DA ASSISTÊNCIA
JUDICIÁRIA GRATUITA.

REVISÃO CRIMINAL TERCEIRO GRUPO CRIMINAL

Nº 70085714574 (Nº CNJ: 0020946- COMARCA DE IVOTI


17.2022.8.21.7000)

DANIEL MACHADO REQUERENTE

MINISTERIO PUBLICO REQUERIDO

DECISÃO MONOCRÁTICA

Vistos.
Trata-se de Revisão Criminal ajuizada por DANIEL MACHADO, em causa
própria, tendo por objeto a condenação no processo criminal nº 166/2.09.0000165-8, como
incurso nas sanções do artigo 157, § 2°, inciso II, c/c o artigo 14, inc. II, ambos do Código
Penal, à pena privativa de liberdade de 03 (três) anos, 06 (seis) meses e 20 (vinte) dias de
reclusão, em regime inicial aberto, além de 10 (dez) dias-multa, à razão unitária mínima.

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Na peça inicial, sustenta o requerente, em suma, que a conclusão acerca da


responsabilidade criminal pelo fato imputado é contrária à evidência dos autos. Defende a
insuficiência de provas acerca de sua ciência prévia da intenção criminosa do coadenunciado
Valdoir e do menor Douglas, esmiuçando o conjunto probatório. Demais disso, destacou não
possuir motivos para cometer o delito imputado, porquanto detentor de boas condições
socioeconômicas. Nessa toada, por precários os elementos coligidos, requereu a concessão
da liminar, fins de retirada de seu nome dos antecedentes criminais, em virtude do transcurso
de mais de cinco anos do cumprimento da pena, e a procedência do pedido revisional e sua
absolvição (fls. 02/11).

Não conhecido o pleito liminar (fls. 14/15).


A Procuradoria de Justiça, em seu parecer, opinou pelo não conhecimento da
revisão e, caso conhecida, pelo seu improvimento (fls. 18/19).
É o relatório, apertado. Decido.

O presente pedido revisional não merece conhecimento.


A revisão criminal consiste em ação autônoma de impugnação, de
competência originária dos Tribunais, que pode ser ajuizada a qualquer tempo visando à
desconstituição de decisão condenatória ou absolutória imprópria, em favor do réu.

Inequívoco que a proteção constitucional conferida à coisa julgada (art. 5º,


inc. XXXVI) é pressuposto da segurança jurídica, característica indispensável no Estado
Democrático de Direito. Desse modo, a vulneração das decisões acobertadas pelo aludido
manto, assentada na primeira parte do inc. LXXV do art. 5º da Carga Magna (“ o Estado
indenizará o condenado por erro judiciário”), está restrita às hipóteses taxativas
circunscritas no art. 621 do Código de Processo Penal, cuja transcrição faz-se oportuna:

Art. 621. A revisão dos processos findos será admitida:


I - quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da
lei penal ou à evidência dos autos;
II - quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos,
exames ou documentos comprovadamente falsos;
III - quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de
inocência do condenado ou de circunstância que determine ou
autorize diminuição especial da pena.

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Não se admite, pois, o ajuizamento de revisão criminal para revolver e


rediscutir as questões que foram controvertidas no decorrer da ação criminal, buscando-se
verdadeira nova instância recursal de julgamento. O inconformismo com o resultado do
julgamento pretérito é incompatível com a excepcionalidade intrínseca da presente ação.
Nessa senda, o Superior Tribunal de Justiça já pacificou o entendimento no sentido do não
cabimento da revisão criminal quando utilizada como nova apelação, com vistas ao mero
reexame de fatos e provas, não se verificando hipótese de contrariedade ao texto expresso
da lei penal ou à evidência dos autos, consoante previsão do art. 621, I, do CPP (HC n.
206.847/SP, Rel. Ministro Nefi Cordeiro, 6ª T., DJe 25/2/2016).
No presente caso, limita-se a requerente a buscar a rediscussão das provas
valoradas no curso da ação penal nº 166/2.09.0000165-8, que transitou em julgado em
03/06/2014 e teve a pena extinta ou cumprida em 05/04/2017 1, sob o argumento de que
contrária à evidência dos autos, não trazendo aos autos qualquer substrato novo a respaldar
sua tese pessoal.

Acerca da revisão criminal fulcrada no inc. I do art. 621 do CPP, leciona


Renato Brasileiro de Lima que a expressão verdade deve ser compreendida como a verdade

1
166/2.09.0000165-8
Vara Judicial da Comarca de Ivoti. Proposto em 25/02/2009.
Natureza da Ação: Crimes de Roubo e Extorsão.
--- INQUÉRITO(S) VINCULADO(S) ---
» Inquérito (Policial) número 77/2009, aberto em 26/02/2009, origem:
Ivoti, Ivoti
--- DELITO(S) ---
» Dec. Lei n° 2848 de 1940 Art. 157, § 2, inc. II, cometido em
21/02/2009, combinado com
» Dec. Lei n° 2848 de 1940 Art. 29, cometido em 21/02/2009
» Dec. Lei n° 2848 de 1940 Art. 157, § 2, inc. II, cometido em
21/02/2009
» Dec. Lei n° 2848 de 1940 Art. 14, inc. II, cometido em 21/02/2009
» Denúncia recebida em 14/04/2009.
--- SENTENÇA(S) ---
» Sentença Condenatória em 30/04/2014, transitada em julgadoem
03/06/2014.
» Remessa do PEC à VEC em 12/08/2014.
» Extinção ou cumprimento da pena em 05/04/2017.
--- PENA(S) APLICADA(S) ---
» 3 ano(s) e 6 mes(es) e 20 dia(s) de reclusão, regime aberto
» 10 dia(s) de multa a razão de 1/30 do SM vigente à época do fato
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manifesta. Portanto, só se pode falar em sentença contrária à evidência dos autos quando
esta não se apoia em nenhuma prova produzida no curso do processo, nem tampouco,
subsidiariamente, em elementos informativos produzidos no curso da fase investigatória.
Essa contrariedade pode se referir tanto à autoria do fato delituoso quanto ao crime em si,
ou, ainda, a circunstâncias que determinem a exclusão do crime, isenção ou diminuição da
pena. Portanto, a mera fragilidade ou precariedade do conjunto probatório que levou à
prolação de sentença condenatória não autoriza o ajuizamento de revisão criminal 2.

No caso dos autos, não obstante o esforço argumentativo da defesa, a


discussão posta não é nova, já amplamente debatida por ocasião do julgamento da apelação
criminal nº 70057955072, que, à unanimidade, rejeitou a preliminar e, no mérito, deu parcial
provimento aos apelos, para desclassificar a condenação dos réus VALDOIR MANOEL DA
SILVA JÚNIOR e DANIEL MACHADO para os lindes do art. 157, § 2º, inc. II, c/c o art. 14,
inc. II, ambos do C.P.B., reduzir a sua pena carcerária individual definitiva para 03 anos,
06 meses e 20 de reclusão, ambas a serem cumpridas em regime inicial aberto (art. 33, § 2º,
alínea "b", do C.P.B.), e a pena de multa cumulativa de cada réu para 10 dias-multa, a
razão de 1/30 do valor do salário mínimo vigentes à época do fato, mantidas as demais
disposições da sentença recorrida.

A esse respeito, faz-se oportuna a transcrição do voto do nobre


Desembargador Aymoré Roque Pottes de Mello, ao analisar o referido recurso no âmbito da
Colenda Sexta Câmara Criminal, acompanhado pelos ilustres Desembargadores Bernardete
Coutinho Friedrich e Ícaro Carvalho de Bem Osório:

2. A autoria concursada dos réus VALDOIR e DANIEL também está


estampada na prova carreada aos autos, que passo a analisar.

A vítima ÂNGELA prestou o seguinte relato em Juízo, verbis (fl.


213):

"( ... )
No dia do fato estava na loja juntamente com sua funcionária
Taís, relatando que entraram dois rapazes, que pediram
informações sobre as marcas de roupas vendidas no local, sendo

2
LIMA, Renato Brasileiro de. Código de Processo Penal Comentado. 3 ed. rev. E atual. Salvador:
Juspodivm, 2018. P. 1514.
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que logo após informar, anunciaram o assalto, referindo a


depoente que um deles portava uma arma. O indivíduo apontou a
arma e em seguida guardou. Entregaram duas mochilas à
depoente e mandaram que enchesse de roupas, o que fez. Soube
posteriormente pelos policias que a arma era de brinquedo, o que
não pode perceber quando do anúncio da subtração. A arma
parecia de verdade, afirmando a depoente que ficou intimidada
com o instrumento. Acha que os indivíduos levaram
aproximadamente R$ 2,.000,00 em produtos. Os dois elementos
estavam de boné. A depoente neste ato não reconhece o réu
Daniel como uma das pessoas que entraram em seu
estabelecimento comercial. Não recorda das características
físicas dos dois elementos que entraram em sua loja. Ao que
recorda do depoimento que deu no processo do menor, era este
quem portava a arma. Acha que o fato ocorreu pela manhã. Os
elementos ficaram menos de dez minutos no estabelecimento. Não
houve agressão física. Quando os indivíduos saíram do
estabelecimento logo em seguida a polícia passou, o que permitiu
que a abordagem imediata. Havia um carro esperando pelos
elementos, uma Fiat Uno ao que recorda, com um terceiro
integrante, condutor. A depoente neste ato reconhece o réu
Daniel presente como sendo o condutor do veículo. Quando os
elementos entraram na loja a depoente estava atrás do balcão, que
fica distante da entrada uns dois metros. Relata que logo em
seguida à saída dos elementos da loja, já foi atrás, sendo que viu
quando ingressaram no veículo Fiat, referindo que passava um
cliente amigo e então logo em seguida a Brigada, que ainda
conseguiu abordar os rapazes na frente do boliche, localizado na
Avenida Presidente Lucena. Afirma a depoente que foi até o local
e de longe pode ver os elementos, bem com na delegacia. Diz que
somente pode ver o condutor na delegacia, confirmando que o
réu Daniel foi o elemento então preso. Ao que recorda o réu
Daniel, embora esteja mais gordo neste momento, foi uma das
pessoas abordadas pela polícia em frente ao boliche. Não fez
reconhecimento pessoal na delegacia e nem por foto. A depoente
recuperou todas as mercadorias. Nunca havia visto os elementos
em seu estabelecimento antes do fato. Depois do fato descrito na
denúncia a loja da depoente foi assaltada mais uma vez. A
depoente reconhece o réu Valdoir como sendo um dos elementos
que ingressaram no estabelecimento comercial, reafirmando que
não era ele que portava a arma. Pelo Ministério Público:
prejudicado. Pela Defesa do réu Daniel: não recorda da cor do
veículo. Pela Defesa do réu Valdoir: os elementos não usavam
óculos de sol. Ao que lembra a arma era de cor grafite. Não
recorda se houve ameaças verbais. Nada mais.
( ... )" (grifei)

Em Juízo também, a ofendida TAÍS assim se manifestou, verbis (fl.


214):

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"( ... )
A depoente trabalhava no estabelecimento vítima na ocasião dos
fatos, como vendedora. No momento do fato estava junto com
Angela, referindo que dois indivíduos entraram no
estabelecimento, com uma mochila, perguntando sobre as
marcas que vendiam. Após prestarem as informações um dos
elementos levantou a camisa e mostrou uma arma que portava
na cintura, anunciando o assalto, pedindo que colocassem as
roupas na mochila, o que fizeram. Diz que ficou muito nervosa e
que os elementos passaram a encher as mochilas, sendo que
Angela tentou pegar o celular para fazer uma ligação, mas um dos
indivíduos determinou que largasse. Não recorda se o elemento
que portava a arma a tirou da cintura, apontando para a
depoente ou Angela. Os indivíduos não estavam de máscara e um
deles usava boné. Neste ato a depoente acha que o foi o réu
Valdoir que entrou na loja, juntamente com o terceiro elemento.
Que a depoente reconheceu na audiência realizada no processo
que tramitou no JIJ. Não recorda se era o réu Valdoir quem
portava arma, mas lembra que a pessoa era morena, baixa e
estava de boné. Afirma que ficaram intimidadas com a arma e não
perceberam que se tratava de uma arma de brinquedo. Os
elementos ficaram na loja menos de dez minutos. Havia uma
terceira pessoa aguardando do lado de fora em um carro,
afirmando a depoente que era um Celta preto. Não pode ver o
rosto do condutor, mas relata que quando foi á delegacia o réu
daniel foi apresentado como sendo uma das pessoas abordadas
pela autoridade policial e que conduzia o veículo. O celta estava
estacionado em frente da loja e logo após a saída do carro polícia
passou pelo local, sendo acionada. A polícia conseguiu abordar os
elementos em frente ao boliche, na Presidente Lucena. Os
elementos abordadas foram mostrados por meio de um vidro para
a depoente na delegacia de Novo Hamburgo, afirmando que não
havia mais pessoas com eles. Acha que a arma era de cor prata.
Acha que foram levadas mercadorias no valor de R$ 5.000,00,
mas tudo foi restituído. As mercadorias eram bonés, bermudas,
camisetas e colares de prata. Não houve agressão física. Não
houve ameças verbais, apenas intimidação com a arma. Pelo
Ministério Público: prejudicado. Pela Defesa do réu Daniel: ao
que recorda o veículo era um Celta preto de duas portas. Diz que
antes do assalto o veículo passava devagar pela entrada da loja,
achando a depoente que se tratava do mesmo carro usado para
fuga dos meliantes. Não falou co o réu Daniel na delegacia. Os
elementos que entraram na loja não pareciam estar sob o efeito de
substância entorpecente. Os elementos não pareciam estar
nervosos. Pela Defesa do réu Valdoir: .nada. Nada mais.
( ... )" (grifei)

O policial militar VANDERLEI contou o que segue em Juízo,


verbis (fl. 215):

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"( ... )
Estavam em patrulhamento na Avenida Presidente Lucena,
quando foram informados da ocorrência de um roubo na loja
Agarru, tendo sido informado que os elementos teriam fugido em
um celta preto. Foram em perseguição e na altura do boliche
existente na Presidente Lucena abordaram o veículo, dentro do
qual havia três elementos, entre eles um menor. Ainda relata que
havia uma mochila com peças de roupas da loja vítima, bem
como no porta-luva foi encontrada uma pistola de brinquedo,
que eram tipo cromada, desgastado. As roupas encontradas
tinham etiquetas da loja vítima. Inicialmente os indivíduos
negaram a subtração, porém admitiram a prática delituosa logo
em seguida. O fato ocorreu pela manhã, entre 09 ou 10horas, não
lembrando bem. Não sabe o valor das mercadorias subtraídas,
mas tudo foi restituído à vítima. O depoente reconhece os réus
presentes neste ato como as pessoas abordadas, apontando o réu
Daniel como condutor do celta, achando, embora não recorde
bem, que Valdoir estava no banco de trás do carro. Não recorda
bem, mas lembra que alguém da loja vítima esteve na frente do
boliche reconhecendo as mercadorias que estavam no carro, bem
como os elementos que entraram na loja. Após, os elementos
foram encaminhados para a delegacia, não sabendo o depoente
informar se foi feito reconhecimento pessoal. Se não está
enganado as vítima relataram ameaças verbais. Mas agressão
física não. Confirma que estava com o colega Cristiano Muller.
Pelo Ministério Público: prejudicado. Pela Defesa do réu Daniel:
não houve resistência à abordagem. Pela Defesa do réu Valdoir:
nada. Nada mais.
( ... )" (grifei)

O miliciano CRISTIANO disse o seguinte, verbis (fl. 241):

"( ... )
Juiz: O senhor sabe alguma coisa sobre isso?
Testemunha: Sim, é bem como o senhor narrou.
Juiz: Como é que foi a tua participação nisso?
Testemunha: Nós fomos avisados pela sala de operações que
tava acontecendo um assalto nessa loja aí, e a gente chegou ...
eles tavam saindo com esse Celta aí, a gente acompanhou eles e
conseguiu abordar na Presidente Lucena, daí foi retirado ele do
veículo, feito a abordagem e daí encontramos a arma se não me
engano porta luvas, de plástico, parecia com uma pistola e os
objetos furtados numa mochila.
Juiz: Pelo Ministério Público.
Ministério Público: Nada mais.
Juiz: Pela Defesa.
Defesa: Que horas teria o sido o crime?
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Testemunha: Pela manhã, não me recordo o horário.


Defesa: Como foi a postura do réu quando da abordagem
pessoal?
Testemunha: Tranqüila, não esboçaram reação.
Defesa: A arma era de brinquedo, estaria a onde?
Testemunha: Não fui eu que revistei o carro, acredito que tava no
porta luvas.
Defesa: Não revistou, mais tu acha que tava no porta luvas?
Testemunha: Sim, eu não fui quem revistou o veículo.
Defesa: Reconhece o Daniel aqui presente?
Testemunha: Sim.
Defesa: Nada mais.
Juiz: Nada mais.
( ... )" (grifei)

O policial militar RUDI disse não lembrar do fato (fls. 264/266).

O adolescente DOUGLAS admitiu sozinho a prática do fato,


verbis (fl. 255):

"( ... )
IR: o depoente estava em casa quando chegaram seus amigos
Valdoir e Daniel. Eles estavam num Celta de um amigo de Daniel
e queriam marcar um jogo de futebol com o depoente. Depois de
acertarem o jogo, o depoente convidou os dois para irem passar o
dia em Ivoti, onde o depoente tem uma tia. Eles aceitaram e foram
todos para Ivoti. O depoente tinha passado a noite de festa e
fumado maconha com crack e naquela hora ainda estava sob o
efeito da droga. Ainda não tinha dormido. Quando passavam pelo
centro de Ivoti, o depoente pediu que Daniel parasse o carro para
que o depoente comprasse umas roupas numa loja. Daniel parou
no centro e o depoente e Valdoir desceram e foram até uma loja
de material esportivo. Quando estavam dentro da loja, o depoente
tirou da cintura uma pistola de plástico, que imita uma pistola
verdadeira, e anunciou o assalto. Pegou vários objetos e colocou
numa mochila. Depois saíram e voltaram para o Celta, quando o
depoente mandou que Daniel arrancasse e fosse embora.
Quando já estavam a uns cinquenta metros da loja, foram
abordados e presos pelos brigadianos. Quando o depoente pediu
para que Daniel parasse o carro e disse que iria comprar umas
roupas, o depoente já tinha a intenção de assaltar a loja. Daniel
e Valdoir não sabiam de nada. Foi o depoente quem fez tudo,
sem que Daniel e Valdoir tivessem qualquer participação no
assalto. O depoente respondeu a um processo na Vara da Infância
e da Juventude por esse fato e foi “absolvido”. Daniel e Valdoir

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não estiveram na festa na qual o depoente fumou maconha com


crack. Pela defesa: Nada. Nada mais.
( ... )" (grifei)

Interrogado, o réu VALDOIR disse o que segue, verbis (fl. 275/v.):

"( ... )
- São verdadeiros os fatos descritos na denúncia.
- Não conhece as provas contra si apuradas deixando-as a
critério de seu Defensor.
- PREJUDICADO.
- refere que na ocasião do fato Douglas, de que era amigo, lhe
convidou para jogar bola, sendo que ele e Daniel passaram na
casa do interrogando. Diz que não sabia ao sair de casa que se
dirigiam para esta cidade, relatando que apenas tomou
conhecimento desse fato quando chegaram em Novo Hamburgo,
ocasião e que perguntou para onde estava indo. Relata que
Douglas referiu que havia encomendado algumas roupas em
uma loja no centro, para onde se dirigiram, parando o veículo
próximo ao local. Douglas convidou o interrogando para lhe
acompanhar, o que fez, sendo que Daniel, condutor do veículo,
permaneceu nele. Ao entrarem na loja Douglas pediu uma
bermuda e quando esta foi alcançada pela vendedor ele então
anunciou o assalto. Douglas portava uma arma na cintura e ao
que recorda o interrogando ele apenas levantou a blusa e mostrou
para a vendedora. A arma era uma pistola, não recordando a cor.
Nega que tivesse conhecimento da intenção de Douglas em
praticar o assalto. Diz que em momento alguma enquanto esteve
com Douglas e Daniel, em direção a esta cidade, ele comentou
sobre a intenção de realizar a subtração. Acha que Daniel
também desconhecia a intenção de Douglas. Douglas mandou
que o interrogando ficasse cuidando o movimento, o que fez,
sendo que ele passou a recolher objetos na loja. Ficaram no local
do fato por mais ou menos quinze minutos. Diz que atendeu à
determinação de Douglas e ficou cuidando porque achou que
não adiantaria nada fugir, pois já havia entrado no local.
Entraram correndo no carro, referindo o interrogando que
Daniel ficou assustado, sendo que Douglas portava uma bolsa
com os objetos subtraídos, mantendo a arma na cintura. Aio
entrar no carro a ele o porque daquilo, ao que respondeu que
tudo estava planejado. Saíram do local, mas foram abordados
pela polícia na Castro Laves, duas quadras mais ou menos
distante da loja. Pararam o veículo que foi revistado pela polícia,
tendo sido a arma encontrada no porta luvas. Nada foi dito na
hora da abordagem. Estudou com Douglas, referindo que não
tinha conhecimento de qualquer envolvimento dele na
criminalidade. Não tem idéia do valor das mercadorias

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subtraídas. Pelo Ministério Público: nada. Pela Defesa do


interrogando: nada. Pela Defesa do réu Daniel. nada. Nada mais.
( ... )" (grifei)

O corréu DANIEL relatou o seguinte, verbis (fl. 276/v.):

"( ... )
- São verdadeiros os fatos descritos na denúncia.
- Não conhece as provas contra si apuradas deixando-as a
critério de seu Defensor.
- PREJUDICADO.
- refere que era conhecido de Valdoir e de Douglas, pois jogavam
futebol juntos. Douglas disse ao interrogando que queria
comprar roupas em Ivoti, pedindo ao interrogando que o
trouxesse nesta cidade. Refere que Douglas já falava há algum
tempo m vir para Ivoti e ao que recorda o interrogando sempre
falava na ausência de Valdoir,. No dia do fato o interrogando
pegou um carro emprestado de um amigo, pegando primeiro
Douglas e depois Valdoir. Quando saíram de São Leopoldo não
sabia exatamente onde iriam, apenas refere que Douglas queria
comprar roupas para o time. Quando estavam na faixa já em
Novo Hamburgo, Douglas pediu para seguir para Ivoti. Ao
chegar nesta cidade pararam próximo de uma loja, tendo
Douglas dito ao interrogando que ficasse aguardando no carro.
Diz que chegou a perguntar a ele porque não poderia ir junto,
tendo Douglas dito que o interrogando não saberia decidir sobre
as roupas do time. Ficou no carro aguardando aproximadamente
de dez a quinze minutos. Valdoir acompanhou Douglas na loja,
afirmando o interrogando que inicialmente Valdoir foi o
primeiro a retornar, pedindo que colocasse o carro um pouco ais
a frente. Douglas veio em seguida e ao entrar no carro mandou
ir embora. Acha que Douglas portava uma sacola e uma mochila.
Diz que ao sair do local Douglas e Valdoir nada referiram sobre a
subtração. Logo em seguida foram abordados pela polícia,
esclarecendo o interrogando que quando iniciou a parada do
veículo viu Douglas tirar uma arma da cintura e colocar no porta
luvas do carro. Até este momento afirma que nada sabia sobre a
subtração. Após parar o veículo a polícia fez revista, encontrando
a arma, que era de brinquedo, no porta luvas. Acha que no local
da abordagem nada foi referido sobre a subtração. Não houve
reação à abordagem policial. Nega que tivesse conhecimento da
intenção de Douglas em praticar o assalto. Afirma que somente
soube da subtração quando a polícia pegou a mochila e começou
tirar as roupas do seu interior. Não tinha conhecimento de que
Douglas tinha envolvimento no crime. Não sabe se Valdoir tinha
conhecimento da intenção de Douglas em praticar o assalto. A
arma que Douglas portava era uma pistola, de brinquedo. Pelo
Ministério Público: não tem inimizade com Douglas ou Valdoir.
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Não foi vítima de qualquer abuso por parte da Autoridade Policial


civil o militar. Pararam o carro há mais ou menos trinta metros de
distância da loja. Pela Defesa do interrogando: tem um filho e
mora com a sua esposa. Nunca se envolveu em outros crimes. Pela
Defesa do réu Valdoir: nada. Nada mais.
( ... )" (grifei)

Como se vê da prova supra reproduzida, as ofendidas ÂNGELA e


TAÍS colocam o réu VALDOIR e o adolescente DOUGLAS na cena do fato-
subtração, bem assim apontam para DANIEL como sendo o motorista do veículo
utilizado por eles na fuga. Para mais disso, VALDOIR, DANIEL e o menor
DOUGLAS admitem que estavam uns com os outros no local do fato. De outra
banda, o adolescente afirma que cometeu a subtração sozinho, sem que
VALDOIR e DANIEL tivessem ciência da sua intenção de subtrair o
estabelecimento comercial.

Contudo, analisando o conjunto probatório, concluo que


VALDOIR e DANIEL tiveram efetiva participação na empreitada criminosa. No
caso, se de um lado não é possível ter certeza que eles tinham ciência prévia
sobre a conduta originária de DOUGLAS, por outra banda é certo que
VALDOIR e DANIEL aderiram à execução do fato.

Por oportuno, registro que VALDOIR, DANIEL e DOUGLAS são


da cidade de São Leopoldo e o fato-subtração ocorreu em Ivoti. A versão dos
dois réus de que saíram de São Leopoldo sem saber para onde iam não é crível.

Mais adiante, sobre a execução do fato-subtração, registro que


VALDOIR estava com DOUGLAS no interior do estabelecimento comercial e
teve participação ativa à subtração de alguns dos seus pertences. Veja-se um
trecho do interrogatório de VALDOIR: "(...) Douglas mandou que o
interrogando ficasse cuidando o movimento, o que fez, sendo que ele passou a
recolher objetos na loja. Ficaram no local do fato por mais ou menos quinze
minutos. Diz que atendeu à determinação de Douglas e ficou cuidando porque
achou que não adiantaria nada fugir, pois já havia entrado no local. (...)". Ao
depois da subtração, VALDOIR fugiu com DOUGLAS e ambos ingressaram no
carro de DANIEL.

O corréu DANIEL, assim como VALDOIR, também aderiu à


conduta de DOUGLAS, disponibilizando o automóvel, o qual estava sob sua
posse, para a fuga de todos. No caso, veja-se que DANIEL havia pedido o carro
emprestado a JAIR, proprietário do automóvel, no dia em que ocorreu o fato-
subtração (fls. 127 e 129). Ora, é muita coincidência DANIEL ter pedido o
automóvel emprestado a JAIR no dia 21/02/2009, na cidade de São Leopoldo, e
justamente nesse dia o adolescente DOUGLAS ter resolvido assaltar o
estabelecimento comercial na cidade de Ivoti.

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Aqui, saliento que DOUGLAS não portava qualquer instrumento


capaz de ofender a integridade física de alguém, pois utilizou uma arma de
brinquedo na empreitada criminosa. Nesta senda, se VALDOIR e DANIEL não
quisessem aderir à conduta do menor assim poderia proceder, porque contra
eles não houve qualquer violência ou grave ameaça por parte de DOUGLAS
para que participassem do assalto.

Por fim, é evidente que a subtração efetuada foi consequência de


unidade de desígnios e condutas conjuntas, simultâneas e reforçadas entre si de
VALDOIR e DANIEL e mais o adolescente DOUGLAS, o que contribuiu
decisivamente para o resultado subtração, desestimulando qualquer reação por
parte das vítimas. No caso, se não é clara a existência do prévio ajuste dos
agentes para a prática da subtração, o certo é que houve a adesão de VALDOIR
e DANIEL à conduta de DOUGLAS, produto final das suas vontades. De resto,
anoto que, para a configuração do concurso de agentes, basta a adesão de um
agente à conduta criminosa de outro, durante a fase executória do iter criminis,
sequer necessitando do prévio ajuste para a sua configuração. No ponto, lembro
que a existência do prévio ajuste evidenciará a maior ou menor periculosidade
dos agentes ativos do fato, sendo valorável quando da dosimetria da pena. Logo,
é induvidoso o concurso de agentes no caso.

Nesta esteira, melhor sorte não ampara o pleito defensivo de


VALDOIR quando afirma a conduta de menor importância dele no fato sub
judice, porquanto, repito, evidente que a sua conduta caracteriza típica
coautoria, tendo ingressado no interior do estabelecimento comercial e
permanecido cuidando o movimento de clientes. No ponto, ressai cristalino dos
autos a efetiva divisão de tarefas havida entre ele e os seus comparsas, tendo
VALDOIR, assim como DANIEL, participado ativamente da empreitada.

Portanto, a prova produzida nos autos autoriza um juízo de


certeza quanto à autoria concursada dos réus VALDOIR e DANIEL no fato-
subtração denunciado.

Com efeito, depreende-se dos termos da sentença e da decisão do Colegiado


que o juízo condenatório está suportado no entrelaçamento da prova produzida na instrução
criminal com os elementos informativos colhidos na investigação, notadamente observadas
as declarações vitimárias e dos policiais militares atuantes na prisão em flagrante, o
requerente surpreendido na condução do veículo utilizado na consecução da empreitada
criminosa. E em atenção às sustentações defensivas, destaca-se ponderado no aresto que, a
despeito da impossibilidade de certeza quanto à ciência prévia de DANIEL e do corréu
Valdoir sobre a intenção do adolescente Douglas, não pairam dúvidas de sua adesão à
conduta do inimputável, o requerente incumbindo-se da condução do automóvel utilizado na
fuga dos agentes, agir de expressiva relevância ao desiderato almejado.
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Dessa forma, não configuradas quaisquer das hipóteses insculpidas no artigo


621 do Código de Processo Penal, resta evidente o intento defensivo em rediscutir questões
já devidamente apreciadas, inclusive, em sede de apelação criminal. Assim, considerando
que a revisão criminal não se presta a tal objetivo, inviável o conhecimento da pretensão
revisional.

Nesse sentido, colaciono precedentes:


REVISÃO CRIMINAL. ABSOLVIÇÃO. IMPOSSIBILIDADE A
Revisão Criminal é hipótese de alteração da coisa julgada; portanto,
invariavelmente, deve ser encarada como exceção, e não como uma
terceira instância de julgamento que confere ao condenado nova
chance de absolvição ou de redução da pena. Havendo análise das
questões suscitadas na decisão objeto da revisão, e inexistindo prova
nova substancial, acerca do fato que constitui seu objeto, impõe-se a
pronta rejeição. REVISÃO CRIMINAL NÃO CONHECIDA. 
DECISÃO MONOCRÁTICA. (Revisão Criminal, Nº 70083831511,
Primeiro Grupo de Câmaras Criminais, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Luiz Mello Guimarães, Julgado em: 17-12-2020)

REVISÃO CRIMINAL. DUPLO HOMICÍDIO QUALIFICADO, UM


TENTADO E OUTRO CONSUMADO. PLEITO GENÉRICO DE
REEXAME DAS PROVAS. PEDIDO DE REDUÇÃO DE PENA
ASSOCIADO AO AFASTAMENTO DAS QUALIFICADORAS, ALÉM
DE PLEITO DE AFASTAMENTO DO CARÁTER HEDIONDO DOS
DELITOS. REDISCUSSÃO FÁTICO-PROBATÓRIA. A revisão
criminal configura-se instrumento de garantia fundamental do
indivíduo, estando destinada à retificação de decisões injustas, cuja
coisa julgada possa estar eivada de vícios graves, aptos a
caracterizar erro judiciário. Caso concreto em que o revisionando
pretende rediscutir os contornos fáticos-probatórios que ensejaram
sua condenação por incurso no delito de ameaça. Argumentos já
sobejamente enfrentados, tanto em primeira instância, quanto por
ocasião do julgamento do recurso de apelação em órgão colegiado;
reigstra-se ainda já ter sido interposta revisão criminal sob os
mesmos fundamentos ora exarados, a qual restou parcialmente
conhecida e, na parte conhecida, julgada improcedente por este
Grupo Criminal. De tal sorte que a hipótese dos autos em nada se
amolda aos requisitos insculpidos no art. 621 do Código de Processo
Penal, sendo inviável, pois, o conhecimento da presente ação
autônoma de impugnação. REVISÃO CRIMINAL NÃO CONHECIDA.
(Revisão Criminal, Nº 70085550242, Primeiro Grupo de Câmaras
Criminais, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Andréia Nebenzahl de
Oliveira, Julgado em: 05-04-2022)

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REVISÃO CRIMINAL. ESTUPRO DE VULNERÁVEL. PRETENSÃO


DE REEXAME DE QUESTÕES JÁ DECIDIDAS NO PROCESSO DE
CONHECIMENTO. NÃO CONHECIMENTO. A revisão criminal é
ação autônoma de natureza desconstitutiva, cujas hipóteses de
admissibilidade estão limitadas ao previsto no artigo 621 do Código
de Processo Penal. Impossibilidade de reexame de matéria já
enfrentada no curso do processo de conhecimento, a transformar esta
via excepcional em segunda apelação. Precedentes. Pretensão de
mero reexame de questões já examinadas por ocasião da sentença
condenatória e, posteriormente, em recurso de apelação, com
consequente revaloração do já valorado no julgamento pelo juízo de
conhecimento, afigura-se inadmissível a revisional formulada. Logo,
sob qualquer enfoque que se examine a controvérsia, o não
conhecimento da ação revisional é imperativo. REVISÃO CRIMINAL
NÃO CONHECIDA.(Revisão Criminal, Nº 70085539179, Terceiro
Grupo de Câmaras Criminais, Tribunal de Justiça do RS, Relator:
Sérgio Miguel Achutti Blattes, Julgado em: 03-03-2022)

REVISÃO CRIMINAL. ROUBO IMPRÓPRIO. DOSIMETRIA DA


PENA. NÃO CONHECIMENTO. AUSÊNCIA DOS REQUISITOS
LEGAIS. O art. 621 do CPP estabeleceu hipóteses restritas em que o
ajuizamento da revisão criminal está autorizado, razão pela qual não
se pode admitir o processamento de ações que não preencham os
requisitos legais, sob pena de total descaracterização do instituto.
Hipótese em que o requerente limitou-se a postular a revisão do
apenamento, sustentando a possibilidade de redução da pena
provisória para aquém do mínimo legal, em face da incidência de
atenuantes (confissão espontânea e menoridade) reconhecidas na
sentença, sem apontar qualquer erro técnico ou imprecisão no
processo dosimétrico. Tese defensiva que foi arguida, pela Defensoria
Pública, nas razões de apelação, sendo expressamente examinada e
rejeitada, à unanimidade, pelo Colegiado. Reprodução de tese já
arguida e definitivamente decidida, que não justifica a interposição
da revisional, levando ao seu não conhecimento. REVISÃO
CRIMINAL NÃO CONHECIDA. Unânime.(Revisão Criminal, Nº
70083259077, Quarto Grupo de Câmaras Criminais, Tribunal de
Justiça do RS, Relator: Fabianne Breton Baisch, Julgado em: 28-08-
2020)

Pelo exposto, em decisão monocrática, NÃO CONHEÇO da revisão


criminal.
Tratando-se de ação originária deste Tribunal de Justiça, determino o
pagamento das custas processuais pelo requerente, cuja exigibilidade segue suspensa em
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virtude do benefício da Assistência Judiciária Gratuita que ora concedo, nos termos do art.
98, § 3º, do CPC, subsidiariamente aplicado por força do art. 3º do CPP, porquanto atuando
em causa própria.

Intimem-se.
Após, arquive-se.

Diligências legais.

Porto Alegre, 26 de abril de 2023.

DRA. CARLA FERNANDA DE CESERO HAASS,


Relatora.

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