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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

ILB
Nº 70083988907 (Nº CNJ: 0037249-77.2020.8.21.7000)
2020/CRIME

APELAÇÃO. CÓDIGO PENAL. CRIMES CONTRA O


PATRIMÔNIO. ART. 155, CAPUT. FURTO SIMPLES.

EXISTÊNCIA DO FATO E AUTORIA.

Réu que entrou no pátio da empresa COOTIL e, aproveitando-se


do pouco movimento de pessoas no local, subtraiu uma bateria do
caminhão. Existência do fato induvidosa, e autoria comprovada,
a começar pela confissão. Condenação mantida. 

ARREPENDIMENTO POSTERIOR.

Viável o reconhecimento do arrependimento posterior, uma


vez que o acusado restituiu integralmente o bem subtraído,
ainda que com avarias.

PRIVILEGIADORA. 

Viável o reconhecimento do furto privilegiado, considerando o


valor da coisa subtraída - e reparada - bem como a condição
pessoal do agente.  É o que basta para o conhecimento
da privilegiadora.

PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE.

Pena-base no mínimo legal. Por fim, reconhecido o


arrependimento posterior e o furto privilegiado, reduzindo a pena
na fração de 2/3, pois reparado o prejuízo. Pena total reduzida.

PENA DE MULTA.

Fixada no mínimo legal.

REGIME DE CUMPRIMENTO DA PENA.

Aberto, diante da quantidade de pena aplicada.

PENAS SUBSTITUTIVAS. SURSIS.

Viável a substituição, deferida na sentença, por duas restritivas de


direitos.

CUSTAS PROCESSUAIS. 

Consequência legal da condenação (art. 804, CPP). Suspensa a


exigibilidade, já na sentença.

EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. PRESCRIÇÃO.


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Considerando a redução da pena nesta instância, passa a se


regular a prescrição pelo termo máximo de três anos (art. 109, VI,
do CP). Transcorridos entre a publicação da sentença
condenatória e a presente decisão, sendo impositiva a declaração
de extinção da punibilidade do agente (art. 107, IV, do CP).

APELO DEFENSIVO PROVIDO, EM PARTE. EXTINTA A


PUNIBILIDADE. UNÂNIME.

APELAÇÃO CRIME QUINTA CÂMARA CRIMINAL

Nº 70083988907 (Nº CNJ: 0037249- COMARCA DE ITAQUI


77.2020.8.21.7000)

JOSE CLEITON FERNANDES RODRIGUES APELANTE

MINISTERIO PUBLICO APELADO

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.


Acordam os Desembargadores integrantes da Quinta Câmara Criminal do

Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em dar parcial provimento ao

apelo defensivo para reduzir a pena privativa de liberdade para ‘quatro


meses de detenção’. Transitado em julgado o que aqui decidido, para o
Ministério Público, desde já fica declarada extinta a punibilidade de JOSÉ
CLEITON FERNANDES RODRIGUES, pela prescrição.
Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, além do signatário (Presidente), os eminentes


Senhores DES.ª VANDERLEI TERESINHA TREMEIA KUBIAK E DES. JONI
VICTORIA SIMÕES.
Porto Alegre, 10 de maio de 2023.

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DES. IVAN LEOMAR BRUXEL,


Relator.

RELATÓRIO

DES. IVAN LEOMAR BRUXEL (RELATOR)

JOSÉ CLEITON FERNANDES RODRIGUES, 27 anos na data do fato


(DN 6/3/1989), foi denunciado junto ao Juízo da 1ª Vara Judicial da Comarca de Itaqui/RS,
por incurso no artigo 155, § 1º, do Código Penal.
O fato foi assim descrito na denúncia, recebida em 18/7/2017:

No dia 17 de dezembro de 2016, por volta das 23h30min, na Rua Afonso


Escobar, nº 3.080, Bairro José da Luz, na sede da COOTIL, nesta Cidade de Itaqui/RS, o
denunciado JOSÉ CLEITON FERNANDES RODRIGUES, durante o repouso noturno,
subtraiu, para si, ambicionado lucro fácil, 01 (uma) bateria de 180 amperes, marca Mil
Léguas, bem de propriedade da vítima EVERALDO ALBERTO MOIANO KARSBURG.
Na ocasião do fato, o denunciado JOSÉ CLEITON entrou no pátio da
COOTIL, se dirigiu ao caminhão placas IDB 1261 que estava estacionado no local acima
descrito e retirou o bem acima listado, levando-o consigo.
A res furtiva não foi apreendida, sendo avaliada indiretamente em R$
400,00 (quatrocentos reais), consoante autos de avaliação indireta da fl. 14 do
procedimento policial.
O crime foi praticado durante o repouso noturno.

Ultimada a instrução, foi proferida sentença de parcial procedência para


condenar JOSÉ CLEITON FERNANDES RODRIGUES por incurso no artigo 155, caput,
do Código Penal.

A DEFESA apelou, buscando absolvição, alegando insuficiência probatória.


Subsidiariamente, pretende reconhecimento da forma privilegiada, do arrependimento
posterior, redução da pena, penas substitutivas, ou apenas multa.
Oferecida contrariedade.

Parecer pelo improvimento.

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É o relatório.

VOTOS
DES. IVAN LEOMAR BRUXEL (RELATOR)

Esta a fundamentação da sentença:

.../...

A prova da materialidade da conduta delituosa está presente na


comunicação de ocorrência policial das fls. 03/04, no auto de avaliação indireta da fl. 14,
bem como na prova oral produzida nos autos.

A autoria do delito supramencionado também restou induvidosa.

A vítima EVERALDO ALBERTO MOIANO KARSBURG, em juízo,


declarou que não presenciou o fato, apenas ficou sabendo por meio da testemunha
presencial JORGE. Informou que estava em uma festa da Cooperativa no momento do
desiderato criminoso. Sustentou que o acusado propôs pagar o valor do objeto subtraído em
troca da retirada da queixa, tendo o depoente negado o pedido. Relembrou que o
denunciado retornou em outro momento e reparou o prejuízo.

A testemunha EDERSON RUPP FLORIANO, em juízo, falou que ficou


sabendo da subtração por terceiros. Disse que a notícia do furto chegou durante a festa da
Cooperativa. Comentou que o acusado trabalhava consigo. Aduziu que o réu não estava na
comemoração. Relatou que o ofendido tentou passar a responsabilidade para o depoente,
razão pela qual registrou a ocorrência. Disse que JOSÉ CLEITON ao ser questionado
sobre o episódio falou que errou.

A testemunha JORGE VERIANO MACIEL BARBO, em juízo, disse que


não presenciou a subtração, apenas viu a bateria desconectada dos cabos. Informou que
enxergou o acusado pulando a cerca para dentro do pátio. Disse que o réu mencionou que
estava assumindo a guarda do local e posteriormente relatou a subtração. Falou que viu o
réu carregando um estepe.

A testemunha JOSÉ MAURO MAZONI CUNHA, em juízo, declarou que


não presenciou a subtração.

Interrogado o réu JOSE CLEITON FERNANDES RODRIGUES, na


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fase pré-processual, confessou a autoria delitiva. Declarou que prometeu reparar o prejuízo.

Não há dúvidas, portanto, no que condiz à autoria do crime imputado


ao réu JOSE CLEITON FERNANDES RODRIGUES, ante a confissão do acusado na fase
pré-processual e da coerência do depoimento da vítima e das testemunhas EDERSON e
JORGE.

Convém mencionar aqui representar a visualização do acusado


adentrando indevidamente no pátio do local onde se encontrava o produto do crime prova
não plena, porém suficiente para conduzir a um juízo de certeza a respeito de sua
culpabilidade, por constituir circunstância conhecida e provada, que autoriza mediante
raciocínio indutivo se concluir pela prática do delito, sobretudo quando cotejada com a
confissão extrajudicial do réu e com as tentativas de ressarcir o lesado. É o que dispõe o art.
239 do CPP, regra jurídica disciplinadora da instituição da prova e que, portanto, não pode
ser ignorada pelo julgador.

Noutro tanto, considerando que o fato ocorreu no período em vítima


estava em uma festividade da Cooperativa Cootil, afasto a causa de aumento de pena pelo
repouso noturno.

Embora o crime tenha sido cometido sem violência e o réu tenha


reparado o dano até a data do recebimento da denúncia, inviável o acolhimento do pedido
de reconhecimento da causa de diminuição de pena pelo arrependimento posterior. Explico:

A declaração de reparação do prejuízo sobreveio em 09/02/2017 e a


ocorrência foi registrada 19/12/2016, ou seja, meses depois da consumação do delito.
Ainda, o acusado pediu para a vítima retirar a queixa em troca da reparação do dano, fato
que comprova que a retratação não ocorreu por ato voluntário do agente, conforme prevê o
art. 16 do Estatuto Repressivo.

Dessa forma, inviável o reconhecimento da causa de diminuição de


arrependimento posterior.

Outrossim, cabe mencionar que o artigo 155 do Código de Processo


penal proíbe a utilização exclusiva da prova indiciária, não sendo este o caso dos autos,
onde os indícios colhidos na fase inquisitorial são considerados no contexto, em cortejo com
a prova produzida judicialmente sob o crivo do contraditório.

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Diante de tais fundamentos, a condenação do acusado é de rigor. Passo


a dosimetria da pena pelo sistema trifásico adotado no Direito Penal vigente.

(...)

Pelo exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE A AÇÃO


PENAL para CONDENAR o réu JOSE CLEITON FERNANDES RODRIGUES ao
cumprimento de 01 (um) ano de detenção e 10 (dez) dias-multa, como incurso na prática do
delito previsto no art. 155, caput, do Código Penal.

Itaqui, 15 de julho de 2019.

André Elias Atalla


Juiz de Direito

E parte da justificativa do parecer:

A apelação é tempestiva, estando presentes os demais requisitos de


admissibilidade. Assim, merece ser conhecida.

No mérito, deve ser desprovido o apelo.

Diferente do que aduz a defesa, a prova constante no feito é plenamente


suficiente para ensejar a condenação do recorrente.

Neste ponto, tem-se que a análise probatória restou devidamente efetuada


pelo eminente Promotor de Justiça em suas contrarrazões recursais, assim, para evitar
desnecessária tautologia, passo a transcrever (fls. 104/106):

.../...

Nota-se da prova contida no feito que a confissão do recorrente na fase


policial restou devidamente corroborada em juízo, em especial pelo relato da testemunha
Ederson e pela vítima, as quais o recorrente confirmou a prática do delito, tendo, inclusive,
se prontificado em ressarcir o prejuízo ao ofendido, o que restou feito por intermédio de sua
mãe.

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Outrossim, conforme se infere da certidão judicial criminal de fls. 76/77,


percebe-se que José responde pela prática de outros delitos de furto, demonstrando que o
presente fato não restou isolado em sua trajetória de vida.

Assim, tem-se que a autoria do delito restou devidamente demonstrada no


caso em tela, estando à condenação, portanto, consentânea com a prova produzida.

No que se refere ao pedido de substituição da pena privativa de liberdade


por multa ou a sua redução em grau máximo pelo reconhecimento do furto privilegiado,
também não merece provimento.

Com efeito, conforme se infere dos autos, o magistrado singular entendeu


por reconhecer a forma privilegiada do crime de furto, assim, a teor do disposto no § 2º do
artigo 155 do CP, poderá o juiz “substituir a pena de reclusão pela de detenção, diminuí-la
de um a dois terços, ou aplicar somente a pena de multa”.

Nesse sentido, vale ressaltar que a escolha dentre as opções previstas em lei
encontra-se dentro do poder discricionário do magistrado, que entendeu, no presente caso,
ser mais recomendável a substituição da pena de reclusão por detenção.

Assim, não restando demonstrado que a decisão está em desconforme com


os limites do poder discricionário do Magistrado, merece ser mantida a decisão também
neste ponto.

Outrossim, não merece ser acolhido o pedido de reconhecimento da


minorante do arrependimento posterior, pois como destacado na decisão recorrida, “o
acusado pediu para a vitima retirar a queixa em troca da reparação do dado, fato que
comprova que a retratação não correu por ato voluntário do agente” (fl. 88-verso), situação
que não se encontra abrigada no artigo 16 do Código Penal.

.../...

Por fim, quanto ao pedido de redução da pena diante do reconhecimento da


atenuante da confissão espontânea, inviável o seu acolhimento, eis que a reprimenda restou
fixada no seu mínimo legal (1 ano), não sendo possível a sua minoração abaixo do mínimo
legal, sob pena de ofender o disposto na Súmula nº 231 do Superior Tribunal de Justiça 1.

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Súmula 231 do STJ: "A incidência da circunstância atenuante não pode conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal."
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Esse o entendimento da Corte de Justiça Gaúcha:

.../...

Assim, merece ser mantida a sentença de primeiro grau conforme exarada.

Diante do exposto, o Ministério Público manifesta-se pelo conhecimento e


desprovimento do recurso de apelação em debate.

Porto Alegre, 17 de outubro de 2022.

Renato Vinhas Velasques,


Procurador de Justiça.

A existência do fato foi bem retratada pela palavra da vítima e das


testemunhas que narraram o ocorrido, bem como pela confissão do réu.

Na Delegacia de Polícia, a vítima Everaldo disse que é proprietário do


caminhão trator M. Benz LS 1934, placa IDB-1261, que fica estacionado no pátio da
COOTIL, empresa pela qual presta serviços. Contou que no dia do fato estava em uma festa
da empresa, quando foi informado que mexeram no seu veículo. Disse que quando chegou
no local, constatou que furtaram a bateria de marca Mil Léguas de 180 ampares, do
caminhão. Ressaltou que não presenciou o fato, mas que o indivíduo trabalhou para o dono
da empresa, Ederson. Acrescentou que JOSÉ CLEITON lhe procurou junto com sua mãe,
assumindo que furtou a bateria e que queria lhe pagar, ficando acordado que pagariam à
vítima o valor de uma bateria nova no final do mês, ou seja R$ 640,00.
Em juízo, o ofendido ratificou as declarações anteriormente prestadas e
acrescentou que o denunciado, quando lhe procurou para confessar o delito, propôs pagar o
valor do objeto subtraído em troca da retirada da queixa, mas que o depoente negou. Contou
que o réu retornou e reparou o prejuízo.
Ainda na sede policial, a testemunha Ederson disse que no dia do fato soube
por terceiros que o réu, se aproveitando de pouco movimento na COOTIL, pois havia uma
festa próximo ao local, entrou no pátio da empresa e furtou uma bateria de 180 amperes, sem
marca aparente, do caminhão de placa IDB1261. Contou que o réu já trabalhou com ele na
empresa. Referiu que quem presenciou o crime foi Jorge, o único vizinho da cooperativa.

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A testemunha Jorge, por sua vez, declarou na Delegacia de Polícia que mora
nos fundos da empresa COOTIL. Contou que era quase meia noite, quando viu um homem
pular a cerca e entrar no pátio da empresa, que ao ver o depoente, foi até ele conversar,
dizendo que era o guarda daquela noite. Relatou que depois viu o réu tirando o estepe de
uma carreta, deixando perto da porteira. Logo, Jorge ligou para o Sr. José Mauro, presidente
da COOTIL, que foi até o local e constatou que o referido indivíduo estava mesmo furtando.
Na Delegacia de Polícia, a testemunha José Mauro contou que é o diretor da
COOTIL e que na noite do fato estava em uma festa de final de ano da empresa, quando foi
avisado sobre um furto em um dos caminhões que estava no pátio da empresa. Disse que
quando checou no local, já se encontravam a BM e o dono do veículo, e que a bateria já
havia sumido. Referiu que não viu nada, pois estava na festa, mas sabe que o autor do fato
foi funcionário da empreiteira que presta serviços para a COOTIL.
Em juízo, as testemunhas Ederson, Jorge e José Mauro mantiveram as
declarações anteriormente prestadas.
Em sede policial, JOSÉ CLEITON assumiu que pegou a bateria do
caminhão do Sr. Everaldo no estacionamento da
COOTIL. Contou que conhecia o dono do caminhão e que como precisava de uma bateria,
foi até o local para pedir, mas que a vítima não estava lá e então resolveu pegar sem avisar o
dono. Disse que pretendia devolver a bateria, mas que ao desocupar a bateria no pátio de sua
casa, ela foi furtada. Declarou que não sabe quem furtou a bateria e que depois procurou
pessoalmente o dono, comprometendo-se a pagar ele no final do mês. Ressaltou que não
vendeu a bateria, que ela foi furtada do pátio de sua casa.
Em Juízo, o réu nada declarou, pois revel.

Percebe-se, portanto, que está devidamente comprovado que o réu praticou o


delito pelo qual foi condenado, diante da confissão do denunciado na fase policial e da
coerência dos depoimentos da vítima e testemunhas. Com efeito, o acusado entrou no pátio
da empresa COOTIL e, aproveitando-se do pouco movimento de pessoas no local, furtou a
bateria do caminhão de propriedade da vítima Everaldo.
A sentença condenatória, portanto, não passou de resultado lógico da análise
dos autos, merecendo ser mantida, não havendo que se falar em insuficiência probatória.

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- ARREPENDIMENTO POSTERIOR.

O arrependimento posterior é causa geral de diminuição de pena que ocorre


após a consumação do delito, quando, nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça,
o agente repara o dano ou restitui a coisa até o recebimento da denúncia, conforme art. 16 do
Código Penal:

Art. 16 - Nos crimes cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa,


reparado o dano ou restituída a coisa, até o recebimento da denúncia ou da
queixa, por ato voluntário do agente, a pena será reduzida de um a dois
terços. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)

No caso em tela, apesar de se tratar de delito sem violência ou grave


ameaça, segundo firme relato da vítima, como já destacado, o denunciado procurou o
ofendido e reparou o prejuízo somente após o registro da ocorrência, mas antes de oferecida
a denúncia.

E o artigo 16 do CP exige que o arrependimento seja voluntário, ou seja, não


precisa necessariamente ser espontâneo.

Diante disso, viável reconhecer o arrependimento posterior no caso dos


autos.

- FURTO PRIVILEGIADO.

Finalmente, possível o reconhecimento do furto privilegiado.

Conforme certidão criminal, o réu é primário e, além disso, o bem subtraído


foi avaliado em R$ 400,00, conforme auto de avaliação indireta à fl. 14, valor inferior ao
correspondente a um salário mínimo vigente ao tempo da prática delituosa.

O atendimento dessas duas condições é o que basta, segundo a majoritária


jurisprudência, para o reconhecimento do furto privilegiado.

Assim, o réu faz jus ao reconhecimento da privilegiadora prevista no art.


155, § 2º, do Código Penal, conforme já feito na sentença.

- PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE.

Consta na sentença:

Na primeira fase, no que toca às circunstâncias do art. 59 do CP, tenho

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que a culpabilidade é normal à espécie; o réu não possui antecedentes (certidão judicial
criminal as fls. 76/77-v); não há elementos para valorar adequadamente a personalidade e a
conduta social do acusado; o motivo já é apenado pelo tipo incriminador; as circunstâncias
e as consequências do crime também são normais à espécie, sendo que comportamento da
vítima em nada influenciou para o delito. Pelas razões acima, fica a pena-base fixada em 01
(um) ano de reclusão e 10 (dez) dias-multa.

A pena-base foi fixada no mínimo legal, qual seja, um ano de reclusão.

- AGRAVANTES E ATENUANTES.

Na segunda etapa da aplicação da pena, nada obstante a confissão


espontânea do acusado ocorrida durante a fase pré-processual, deixo de reduzir a pena até
agora calculada, eis que a pena-base foi fixada em seu grau mínimo, esbarrando tese
contrária no disposto na Súmula 231 do STJ.

Ausentes agravantes, e a atenuante da confissão espontânea não tem força


suficiente para romper o limite mínimo cominado. 

- CAUSAS DE AUMENTO E DE DIMINUIÇÃO DA PENA.

Na terceira fase, ausentes outras modificadoras, torno a pena definitiva


no mínimo legal, qual seja, 01 (um) ano de reclusão e 10 (dez) dias-multa.

Por fim, reconheço o privilégio do art. 155, § 2º, do Estatuto


Repressivo, uma vez que JOSE CLEITON não possui antecedentes e é de pequeno valor a
coisa furtada, substituindo a pena de reclusão pela de detenção, ficando a pena
definitivamente fixada em 01 (um) ano de detenção e 10 (dez) dias-multa.

Por força da privilegiadora, a pena de reclusão foi substituída pela de


detenção, permanecendo em um ano de detenção e dez dias-multa.
Percebe-se, todavia, que em termos práticos, a detenção não diferencia-se da
reclusão.

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Além do mais, somado o reconhecimento do furto privilegiado ao


arrependimento posterior, cabível a redução da pena na fração de 2/3.
Desse modo, reduzida a pena definitiva para quatro meses de detenção e dez
dias-multa.
- PENA DE MULTA.

O valor do dia-multa resta fixado em 1/30 do salário mínimo, na


inexistência de elementos que façam concluir por maior capacidade econômico-financeira
do apenado.

A pena de multa é cumulativa na espécie, e não pode ser dispensada,


independentemente de eventual condição de hipossuficiência do réu.

No caso, já foi fixada no mínimo legal, nada havendo para ser modificado.

- REGIME DE CUMPRIMENTO DA PENA.

Fixo o regime inicial ABERTO para o cumprimento da pena, em


atenção às diretrizes do art. 33, § 2º, “c”, do CP.

Inalterado o regime estabelecido - aberto -, pois de acordo com a quantidade


de pena carcerária e a primariedade do réu.

- PENAS SUBSTITUTIVAS. SURSIS.

Presentes o pressupostos da medida, substituo a pena privativa de


liberdade por duas restritivas de direito, a saber, prestação de serviços à comunidade e
prestação pecuniária no valor de 1 (um) salário mínimo, ambas em favor de instituições a
serem indicadas pelo juízo da execução.

A pena privativa de liberdade foi substituída por duas restritivas de direitos,


quais sejam, prestação de serviços à comunidade e prestação pecuniária.

Reduzida a pena, restaria uma apenas.

- REPARAÇÃO DOS DANOS.

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Ainda, com fundamento no art. 387, IV, do CPP, deixo de fixar o valor
para reparação dos danos sofridos, uma vez que o prejuízo foi ressarcido.

- CUSTAS PROCESSUAIS.

Por fim, condeno o réu nas custas, suspensa a exigibilidade em razão


da AJG, que ora defiro.

Suspensa a exigibilidade, já na sentença.

- EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. PRESCRIÇÃO.

Reduzida a pena de JOSÉ CLEITON nesta instância para quatro meses de


detenção, o prazo prescricional é de três anos, conforme artigo 109, inciso VI, do Código
Penal.
No caso, o fato ocorreu em 17/12/2016, a denúncia foi recebida em
18/7/2017, e a sentença condenatória foi publicada apenas em 16/7/2019.
E desde então se passaram mais de três anos.

Assim, entre os marcos interruptivos do recebimento da denúncia e da


publicação da sentença condenatória e, ainda, entre a publicação da sentença condenatória e
a presente decisão, decorreu o lapso prescricional, sendo impositiva a declaração da extinção
da punibilidade de JOSÉ CLAITON (artigo 107, inciso IV, do Código Penal).

Esta afirmação, e consequência, ficam sobrestadas, dependendo do trânsito


em julgado para o MINISTÉRIO PÚBLICO.  

- CONCLUSÃO.

Voto por dar parcial provimento ao apelo defensivo para reduzir a pena
privativa de liberdade para ‘quatro meses de detenção’. Transitado em julgado o que aqui
decidido, para o Ministério Público, desde já fica declarada extinta a punibilidade de
JOSÉ CLEITON FERNANDES rodrigues, pela prescrição.

IILB

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11ABR2023
TER-17H58

DES.ª VANDERLEI TERESINHA TREMEIA KUBIAK (REVISORA) - De acordo com


o(a) Relator(a).

DES. JONI VICTORIA SIMÕES - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. IVAN LEOMAR BRUXEL - Presidente - Apelação Crime nº 70083988907,


Comarca de Itaqui: "À UNANIMIDADE, DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO APELO
DEFENSIVO, PARA REDUZIR A PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE PARA
‘QUATRO MESES DE DETENÇÃO’. TRANSITADO EM JULGADO O QUE AQUI
DECIDIDO, PARA O MINISTÉRIO PÚBLICO, DESDE JÁ FICA DECLARADA
EXTINTA A PUNIBILIDADE DE JOSÉ CLEITON FERNANDES RODRIGUES, PELA
PRESCRIÇÃO. UNÂNIME."

Julgador(a) de 1º Grau: ANDRE ELIAS ATALLA

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