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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

NBL
Nº 70030777213
2009/CRIME

HOMICÍDIO. CO-AUTORIA. INCIDENTE DE


INSANIDADE MENTAL DE CO-RÉU. SUSPENSÃO
DO PROCESSO. A instauração de incidente para a
averiguação da saúde mental de co-réu faz
recomendado o desmembramento do processo, e
não a sua suspensão em relação aos demais
acusados. Ordem denegada.

HABEAS CORPUS TERCEIRA CÂMARA CRIMINAL

Nº 70030777213 COMARCA DE PORTO ALEGRE

LUCAS GEHRKE DE OLIVEIRA IMPETRANTE

DIRCEU NUNES DE OLIVEIRA PACIENTE

JUIZ DE DIREITO DA 2ª VARA DO JÚRI COATOR

ACÓRDÃO
Acordam, os Desembargadores integrantes da Terceira
Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, à
unanimidade, em denegar a ordem.

Custas na forma da lei.

Participaram do julgamento, além do signatário (Presidente), os


eminentes Senhores DES. IVAN LEOMAR BRUXEL, E DES. ODONE
SANGUINÉ.

Porto Alegre, 30 de julho de 2009.


DES. NEWTON BRASIL DE LEÃO,
Relator.

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RELATÓRIO
1. LUCAS GEHRKE DE OLIVEIRA impetrou Habeas corpus,
em favor de DIRCEU NUNES DE OLIVEIRA, preso preventivamente, e
denunciado como incurso, em tese, como incurso nas sanções do artigo
121, § 2º, incisos I e III, artigo 211, e artigo 242, todos do Código Penal.
Requereu a suspensão da audiência de instrução, aprazada para o dia 23
de junho de 2009, face a necessidade de juntada da integralidade do diário
da co-ré Iara; em caso de impossibilidade de suspensão da audiência,
sustenta a necessidade de que ela seja declarada nula, e todas as
testemunhas sejam reinquiridas, em nova oportunidade; suspensão do
processo pelo prazo de realização do incidente de insanidade mental;
marcação da audiência após o cumprimento do incidente de insanidade
mental, juntada das cópias do diário da co-ré Iara, e sua extração dos autos;
concessão de liberdade provisória do paciente; que seja declarada nula a
denúncia, posto que inepta, bem como seja posto em liberdade, em razão do
excesso de prazo da prisão.
O pedido liminar foi indeferido, e as informações prestadas.
Sobreveio parecer do Dr. Procurador de Justiça, em que opina
pela parcial concessão da ordem.
É o relatório.

VOTOS
DES. NEWTON BRASIL DE LEÃO (RELATOR)
2. Preliminarmente, anota-se que prejudicadas as postulações
de números 01 e 02 da inicial, haja vista a transferência, pelo Juiz da
instrução, do ato a que elas dizem respeito e, a de número 03, porque
ordenada a juntada aos autos do material que refere (despacho da folha
692).

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Ainda em sede preliminar, anota-se não se visualizar nulidade


alguma no feito, a ser sanada por esta via. Nem da denúncia e nem da
atuação da autoridade policial, no reinquirir da co-denunciada Iara.
Quanto ao inquérito policial, é de natureza inquisitiva a sua
produção, e, portanto, o que durante sua formação for praticado pode
prescindir da atuação de defensor técnico. E no que respeita à denúncia,
não é inepta aquela que, como a apresentada contra o ora paciente, atenda
aos requisitos do artigo 41, do Código de Processo Penal. Com efeito, nela
descritas as circunstâncias dos fatos de que o acusa, e o fez de molde a
permitir o pleno exercício da sua defesa. Veja-se que nela dito que Dirceu,
juntamente com Iara, matou Simone Insaurrauld Veber; ocultou o cadáver
dela, e que registrou como seu filho de outrem (de Simone). Também consta
daquela peça o porquê e o modo como teriam sido praticados tais crimes,
condições que permitem dizer que de mais a denúncia não precisava se
ocupar.
A possível insanidade mental, que segundo o impetrante
obrigaria à suspensão do feito (fl. 692), é circunstância que diz somente com
a co-denunciada Iara. Quanto ao aqui paciente, nada foi alegado, donde o
se entender que em nada afetado o feito em relação a ele, bastando que
para isso seja tomada a providência do artigo 79, § 1º, do Código de
Processo Penal, desmembrando-se o processo (STJ, HC 50.792-BA,
Relatora Ministra Laurita Vaz), independentemente do que venha a ser
concluído ao final daquele expediente.
Posto isso, o voto encaminha-se no sentido da denegação da
ordem, posto é de meu sentir que não alteradas as circunstâncias que
levaram à decretação da prisão preventiva do aqui paciente, e que ainda
não ultrapassados os limites razoáveis para a ultimação da instrução do
processo. Atente-se, a propósito, para o que alinhou o Juiz que decretou a
prisão do paciente. Disse Sua Excelência, e com razão, tratar-se, o que

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investigado, “... de fato de extrema gravidade que impõe, não apenas a


prisão temporária requerida, mas sim a prisão preventiva, haja vista os
indícios concretos da autoria delituosa. Também em face do comportamento
dos suspeitos, um evadindo-se do local dos fatos (Dirceu) e outra
(Iara)adotando comportamento evasivo, ora negando os fatos e ora
declarando (segundo relatos policiais) que assumiria sozinha o delito, para
não prejudicar a carreira de seu companheiro”, isso o levando, então, a
concluir que soltos Dirceu e Iara, ameaçadas se fariam a elucidação dos
fatos e a instrução processual, quadro este ainda não modificado.
Quanto ao alegado excesso de prazo, ainda que em algo
ultrapassado, há que se ver que o processo é de instrução complexa,
envolvendo pluralidade de réus e defesas eficientes. Veja-se, a propósito,
decisão desta Câmara a respeito da matéria, e que sustenta o indeferimento
também desta postulação:

HABEAS CORPUS. TRÁFICO ILÍCITO DE


ENTORPECENTES. ASSOCIAÇÃO PARA O
TRÁFICO. INOCORRÊNCIA DE
CONSTRANGIMENTO ILEGAL. EXCESSO DE
PRAZO NÃO CONFIGURADO. As peculiaridades do
caso concreto justificam a ultrapassagem do prazo
“ideal” para o encerramento da instrução,
verificando-se que o alegado excesso de prazo ocorre,
também, pela ação da própria defesa. O prazo para a
conclusão da instrução criminal não é
improrrogável, devendo ficar sujeito às
circunstâncias factuais do processo e, nessa
hipótese, regulado pelo princípio da razoabilidade.
PRINCÍPIO DA CONFIANÇA. De acordo com o
princípio da confiança, deve ser deixada a condução
do processo ao prudente arbítrio do Magistrado a quo,
pois a proximidade dos fatos e das provas lhe confere
efetivamente a faculdade de ser quem melhor pode
aferir a ocorrência de circunstâncias ensejadoras de
determinadas medidas. CONDIÇÕES PESSOAIS. As
condições pessoais do paciente não impedem a
segregação quando outros motivos a legitimam. (HC

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70029677598, 3ª Câmara Criminal, Rel. Des. José


Antônio Hirt Preiss, j. em 14/05/2009).(grifos nossos).

3. Em remate, registro que sem condições de modificar essa


compreensão, o que articulado no aditamento à inicial do feito (petição das
folhas 36-39), seja por dizer com a situação da co-ré Iara no processo
originário, seja por carregar pedido que independentemente dele esta
decisão produziria, acaso fosse no sentido do acolhimento do remédio
heróico.

4. Por essas razões, denego a ordem.

DES. IVAN LEOMAR BRUXEL - De acordo.


DES. ODONE SANGUINÉ - De acordo.

DES. NEWTON BRASIL DE LEÃO - Presidente - Habeas Corpus nº


70030777213, Comarca de Porto Alegre: "DENEGARAM A ORDEM.
UNÂNIME."

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