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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

LFC
Nº 70073782062 (Nº CNJ: 0142321-58.2017.8.21.7000)
2017/CÍVEL

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.


IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. INGRESSO EM
CARGOS PÚBLICOS. DESRESPEITO ÀS
EXIGÊNCIAS CONSTITUCIONAIS. DESRESPEITO
AO PRINCÍPIO DA IMPESSOALIDADE NO ACESSO
ÀS FUNÇÕES PÚBLICAS. CONTRATAÇÕES
REALIZADAS COM A INDICAÇÃO DO GESTOR
MUNICIPAL. BURLA AO CONCURSO PÚBLICO.
APLICABILIDADE DA LEI 8.429/92 AOS AGENTES
POLÍTICOS.
Preliminares:
Aplicabilidade da LIA aos agentes políticos:
Não há incompatibilidade entre os regimes de
responsabilidade dos agentes políticos previstos no Decreto-
Lei 201/67 e na Lei de Improbidade Administrativa, uma
vez que a responsabilidade civil, disciplinada pela Lei nº
8.429/92, não se confunde com a responsabilidade penal,
prevista no mencionado Decreto-Lei, tratando-se de
punições distintas.
Inúmeros são os julgados do Superior Tribunal de Justiça
aplicando a Lei 8.429/1992 aos Prefeitos Municipais,
mesmo existindo o regime especial de responsabilização por
crime de responsabilidade previsto no Decreto-Lei nº
201/1967.
Em conclusão, submetem-se os agentes políticos à Lei de
Improbidade Administrativa, razão pela qual o juízo da
Comarca de São Francisco de Paula/RS é competente para
o processamento e julgamento da presente ação civil pública
por improbidade administrativa ajuizada contra o ex-
Prefeito Municipal, inexistindo a nulidade aventada pelo réu
adesivo.
Nulidade de sentença por ausência de fundamentação.
A decisão está suficientemente fundamentada e atende o
disposto no art. 93, IX da CF. Preliminar rejeitada.
Mérito:
Hipótese em que a prova dos autos é firme e coerente no
sentido da prática dos atos de improbidade administrativa
perpetrados por Décio Antônio Colla, os quais ocorreram de
forma continua e crescente durante o seu mandato, uma vez
que o vínculo ilegal mantido inicialmente para a contratação
de ACS- Agentes Comunitários de Saúde, no transcorrer de
três anos transformou-se em contratação de ACS, PSF-
Programa Saúde da Família e outros servidores como
porteiros, serventes, vigilantes.
Tais fatos restaram amplamente evidenciados nos
apontamentos das Auditorias do Tribunal de Contas do
Estado do Rio Grande do Sul dos exercícios de 2006, 2007,
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2008 e 2009, os quais relatam a conduta reiterada do réu


na terceirização dos serviços de saúde pelo Município de
São Francisco de Paula junto ao Hospital Municipal. Na
prática, o que se verificou foi o fornecimento de mão-de-
obra escolhida pelo administrador público sem a realização
de concurso público. A utilização de pessoa jurídica como
suposta prestadora de serviços serviu para ocultar a pratica
de conduta afrontosa ao ordenamento jurídico e violadoras
dos Princípios Administrativos, uma vez que os valores
repassados para a Organização Social em questão eram
utilizados em sua totalidade para custear a contratação de
pessoal escolhido pelo demandado para o desempenho de
funções na própria Secretaria Municipal de Saúde ou nas
unidades subordinadas como postos de saúde, unidades
básicas de saúde, farmácia popular e CAPS.
Preliminares rejeitadas. Apelo desprovido.

APELAÇÃO CÍVEL SEGUNDA CÂMARA CÍVEL

Nº 70073782062 (Nº CNJ: 0142321- COMARCA DE SÃO FRANCISCO DE


58.2017.8.21.7000) PAULA

DECIO ANTONIO COLLA APELANTE

MINISTERIO PUBLICO APELADO

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos os autos.


Acordam os Desembargadores integrantes da Segunda Câmara Cível do
Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em rejeitar as preliminares e negar provimento
ao apelo.
Custas na forma da lei.
Participaram do julgamento, além da signatária (Presidente), os eminentes
Senhores DES.ª LAURA LOUZADA JACCOTTET E DES. JOÃO BARCELOS DE
SOUZA JÚNIOR.
Porto Alegre, 26 de julho de 2017.

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DES.ª LÚCIA DE FÁTIMA CERVEIRA,


Presidente e Relatora.

RELATÓRIO
DES.ª LÚCIA DE FÁTIMA CERVEIRA (PRESIDENTE E RELATORA)
DÉCIO ANTÔNIO COLLA apela da sentença que, nos autos da Ação Civil
Pública por Atos de Improbidade Administrativa ajuizada pelo MINISTÉRIO PÚBLICO,
assim dispôs:
Diante do exposto, JULGO PROCEDENTE o
pedido, na presenta ação civil pública, ajuizada contra Décio
Antonio Colla, para condenar o réu ao pagamento de multa
civil no valor equivalente a 50 (cinquenta) vezes a
remuneração atual do Prefeito Municipal de São Francisco
de Paula. A partir da presente data sofrerá correção
monetária pelo IGP-M e o acréscimo de juros legais
moratórios. Suspendo os direitos políticos do demandado
pelo prazo de 5 (cinco) anos. Imponho, ainda, a proibição
de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou
incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente,
ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja
sócio majoritário pelo prazo de 3 (três) anos.

Em razões recursais, a parte apelante sustenta, preliminarmente, que a


decisão recorrida possui omissões apresentadas em sede de embargos de declaração, porém
não sanadas pelo Juízo a quo, haja visto não ter apreciado à contento as provas e os
documentos constantes dos autos. Alega ainda, a inaplicabilidade da Lei n. 8.429/92 aos
agentes políticos, uma vez que estes somente podem responder por crime de
responsabilidade e cita precedentes dos Tribunais Superiores. Defende a extinção da ação
por incompetência absoluta, porquanto o Tribunal de Justiça detêm a competência originária
para julgar atos praticados pelos prefeitos municipais, conforme dispõe o art. 29, X, da CF.
No mérito, refere que o contrato firmado e as condutas praticadas pelo gestor público foram
precedidas do devido procedimento legal. Aduz que o Hospital de São Francisco de Paula é
uma Organização Social que foi criada com o objetivo de desenvolver, através de convênios
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a serem firmados entre o Município e o Hospital Municipal, ações para viabilizar melhorias
na qualidade da saúde da população de São Francisco de Paula. Afirma que o contrato de
gestão e demais aditivos são perfeitamente legais, sendo que as contratações neles constantes
são admitidas pelo ordenamento jurídico. Colaciona doutrina e jurisprudência que entende
pertinente à matéria. Requer o provimento do apelo.
Com contrarrazões, o Ministério Público exarou parecer pelo desprovimento
do apelo, vêm os autos conclusos para julgamento.
Observado o disposto nos artigos 931 e 934 do CPC.
É o relatório.

VOTOS
DES.ª LÚCIA DE FÁTIMA CERVEIRA (PRESIDENTE E RELATORA)
O Ministério Público, por seu agente na Comarca de São Francisco de Paula
interpõe a presente ação civil pública por ato de improbidade administrativa contra Décio
Antônio Colla com base no Inquérito Civil nº 47/2010, pois na condição de Prefeito do
Município de São Francisco de Paula firmou contrato de gestão com o Hospital Municipal
com o objetivo de burlar as exigências constitucionais da realização de concurso público
para o ingresso em cargos públicos, em desrespeito ao Princípio da Impessoalidade no
acesso às funções públicas, uma vez que as contratações realizadas contavam com a
indicação do demandado, de acordo com seu interesse pessoal e político-partidário, sendo
que, posteriormente os contratados desempenhavam suas atividades na Secretaria Municipal
de Saúde. Segundo a inicial, tal pratica acarretou dispensa indevida do processo seletivo. Em
decorrência, postulou o autor a condenação do réu nas sanções do art.12, inc. III, da LIA
pela prática da conduta prevista no art.11 da mencionada lei.
Analiso as preliminares suscitadas:
Inaplicabilidade da LIA aos agentes políticos e competência do Juiz de 1º
Grau:
O réu/apelante sustenta a inaplicabilidade da Lei nº 8.429/92 ao caso
concreto, uma vez que os Prefeitos Municipais estão sujeitos ao regime especial do Decreto-
Lei nº 201/1967, que dispõe sobre os crimes de responsabilidade dos Prefeitos e Vereadores.
Sustenta que os Prefeitos não podem ser submetidos a dois regimes diferentes de imputação
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de delitos de responsabilidade, aduzindo que o ordenamento jurídico prevê mecanismo


próprio de apuração de sua responsabilidade em foro privilegiado, qual seja, o Tribunal de
Justiça Estadual.
A Lei de Improbidade Administrativa, em seu art. 1º, estabelece que os atos
de improbidade praticados por qualquer agente público, servidor ou não, contra a
administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, serão punidos na forma desta lei.
Quanto à extensão do conceito de agente público, o art. 2º da LIA não deixa
dúvidas:
Art. 2º - Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei,
todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem
remuneração, por eleição, nomeação, designação,
contratação ou qualquer outra forma de investidura ou
vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades
mencionadas no artigo anterior. (grifei)

O Decreto-Lei 201/67, por sua vez, foi direcionado aos Prefeitos e


Vereadores, sujeitando-os a julgamento perante a Câmara Municipal. Alem da previsão de
aplicação das sanções de perda da função pública, inabilitação ao exercício da função e
reparação do dano causado, o Decreto-Lei nº 201/67 estabelece a pena privativa de liberdade
que pode ser de 03 (três) a 12 (doze) anos.
Conforme se verifica, não há incompatibilidade entre os regimes de
responsabilidade dos agentes políticos previstos no Decreto-Lei 201/67 e na Lei de
Improbidade Administrativa, uma vez que a responsabilidade civil, disciplinada pela Lei nº
8.429/92, não se confunde com a responsabilidade penal, prevista no mencionado Decreto-
Lei, tratando-se de punições distintas.
Inúmeros são os julgados do Superior Tribunal de Justiça aplicando a Lei
8.429/1992 aos Prefeitos Municipais, mesmo existindo o regime especial de
responsabilização por crime de responsabilidade previsto no Decreto-Lei nº 201/1967,
conforme jurisprudência que abaixo transcrevo:
ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO
REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. LEI DE
IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
APLICABILIDADE AOS AGENTES POLÍTICOS. 1. A
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Lei nº 8.429/92 é aplicável aos agentes políticos.


Precedentes do STJ e do STF. 2. Agravo regimental
desprovido.
(STJ, Relator: Ministro SÉRGIO KUKINA, Data de
Julgamento: 05/11/2013, T1 - PRIMEIRA TURMA).

ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. AGRAVO


REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO
ESPECIAL. LEI DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. APLICABILIDADE AOS
PREFEITOS MUNICIPAIS. AUSÊNCIA DE
IMPUGNAÇÃO ESPECÍFICA DE FUNDAMENTO DA
DECISÃO AGRAVADA. SÚMULA 182⁄STJ.
INCIDÊNCIA. 1. A Lei nº 8.429⁄92 é aplicável aos Prefeitos
Municipais, não havendo incompatibilidade com o Decreto-
Lei nº 201⁄67. Precedentes do STJ e do STF. 2. "É inviável o
agravo do art. 545 do CPC que deixa de atacar
especificamente os fundamentos da decisão agravada". 3.
Agravo regimental parcialmente conhecido e, nessa
extensão, desprovido.
(AgRg no AREsp 108.084⁄RS, Rel. Ministro Sérgio Kukina,
Primeira Turma, DJe 10⁄4⁄2013).

ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO


ESPECIAL. ART. 535 DO CPC. OFENSA. AUSÊNCIA.
LEI DE IMPROBIDADE. PREFEITO.
APLICABILIDADE. MULTA CIVIL. PRINCÍPIOS DA
PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. 1. O
acórdão impugnado, examinando as provas dos autos, bem
ou mal, solucionou a controvérsia analisando todas as
questões necessárias ao desate da lide, inexistindo ofensa ao
artigo 535 do Código de Processo Civil. 2. A Lei de
Improbidade Administrativa (Lei 8.429⁄92) aplica-se a
prefeito, máxime porque a Lei de Crimes de
Responsabilidade (1.070⁄50) somente abrange as autoridades
elencadas no seu art. 2º, quais sejam: o Presidente da
República, os Ministros de Estado, os Ministros do Supremo
Tribunal Federal e o Procurador-Geral da República.
Precedentes. 3. A multa civil não tem natureza indenizatória,
mas punitiva, não estando, portanto, atrelada à comprovação
de qualquer prejuízo ao erário. Precedentes. 4. Agravo
regimental não provido.
(AgRg no Resp 1.152.717⁄MG, Rel. Ministro Castro Meira,
Segunda Turma, DJe 6⁄12⁄2012).

ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE IMPROBIDADE


ADMINISTRATIVA CONTRA PREFEITO. INCIDÊNCIA
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DA LEI 8.429⁄92 ADMITIDA PELA JURISPRUDÊNCIA


CONSOLIDADA DO STJ. AGRAVO REGIMENTAL A
QUE SE NEGA PROVIMENTO.
(AgRg no AREsp 19.896⁄SP, Rel. Ministro Teori Albino
Zavascki, Primeira Turma, DJe 2⁄8⁄2012).

Também a jurisprudência desta Corte é uníssona quanto à aplicabilidade da


Lei de Improbidade Administrativa aos Prefeitos, conforme se verifica dos acórdãos cujas
ementas transcrevo:
APELAÇÃO CÍVEL. IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. APLICABILIDADE DA LEI N.
9.429/92 A AGENTES POLÍTICOS. PREFEITO.
SUSPENSÃO DO FEITO. DESCABIMENTO.
DIRECIONAMENTO DE LICITAÇÃO A EMPRESA DE
PROPRIEDADE DE UM VEREADOR, EM NOME DE
"LARANJAS". VIOLAÇÃO À MORALIDADE
ADMINISTRATIVA. SANÇÕES ADEQUADAMENTE
FIXADAS. 1. Embora reconhecida sua repercussão geral no
Recurso Extraordinário n. 976.566, o STF não determinou o
sobrestamento dos feitos que versam sobre a matéria. Logo,
impossível acolher a pretensão de suspensão do presente
feito apenas com base na existência do dito recurso.
Precedentes. 2. Prova robusta no sentido de que o apelante,
então Prefeito do Município de Joia, permitiu e homologou
licitação cuja vencedora foi uma empresa de propriedade de
um vereador, embora do contrato social constassem nomes
de "laranjas". Fato público e notório acerca do qual o
Prefeito foi alertado por cidadãos, permanecendo, mesmo
assim, inerte. 3. Dolo suficientemente comprovado, até
porque é desnecessário o dolo específico para a configuração
dos atos de improbidade, bastando sua existência na
modalidade genérica. Entendimento do STJ e deste Tribunal.
4. Sanções do art. 12 da LIA corretamente arbitradas,
proporcionalmente à gravidade dos fatos narrados na inicial
e reconhecidos na sentença. APELO DESPROVIDO.
(Apelação Cível Nº 70073911521, Segunda Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Ricardo Torres
Hermann, Julgado em 28/06/2017).

APELAÇÕES CÍVEIS. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.


MINISTÉRIO PÚBLICO. IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. MUNICÍPIO DE BOM RETIRO DO
SUL. 1. APLICABILIDADE DA LEI 8.429/92 AOS
AGENTES POLÍTICOS 1.1 - Os agentes políticos estão sob
a égide da Lei 8.429/92. A expressão agente público,
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constante do art. 37, § 4º, da CF, é gênero do qual são


espécie os agentes políticos. Ademais, o art. 1º da Lei
8.429/92 refere agente público de qualquer dos Poderes, isto
é, abrange os próprios integrantes. 1.2 - A decisão do STF na
Reclamação nº 2138-6 versou tão só a respeito da
competência para suspender direitos políticos de Ministro de
Estado, isso tendo em conta o disposto no art. 102, I, "c", da
CF. Não tem, pois, repercussão alguma que não
relativamente a processos em que figurem Ministros de
Estado e as demais pessoas enumeradas no dispositivo
Constitucional. Resumindo: se, no âmbito das infrações
penais e dos crimes de responsabilidade, a competência para
tanto é privativa do STF, por lógica também o é à suspensão
dos direitos políticos prevista na Lei Anti-Improbidade
Administrativa. Por isso mesmo é dito que eles não se
submetem ao modelo de competência da Lei 8.429/92. 1.3 -
O incidente de demandas repetitivas instaurados sob a égide
do CPC/1973, não gera a suspensão dos processos em 1º e 2º
Graus ainda não julgados. Exegese do art. 543-B e C do
CPC/1973. Precedentes. 2. AGRAVO RETIDO Se, por
artifício de outra perícia, foram articulados e respondidos
quesitos relativos a perícia que havia sido indeferida,
considera-se prejudicado o agravo retido contra a decisão
indeferitória. 3. MÉRITO 3.1 - Mesmo que não tenha
causado prejuízo ao erário, caracteriza improbidade
administrativa, por violação dos deveres de honestidade e
imparcialidade (Lei 8.429/92, art. 11, caput), cometida pelos
membros da Comissão de Licitação, a adulteração para
menos do valor de proposta de certamista, a fim de torná-la a
mais vantajosa ao Poder Público. Cometem a mesma
improbidade os Membros da Comissão que, em licitação por
melhor preço, proclamam vencedor o 2º Colocado, sob a
alegação de produto de melhor qualidade. 3.2 -
Inadmissibilidade da acusação contra o ex-Prefeito, seja
porque em relação às licitações as irregularidades
aconteceram no âmbito estrito da Comissão de Licitação,
seja porque em relação ao demais fatos a inicial, além de
genérica, a prova não demonstra dolo específico, nem
genérico ou culpa grave. 4. SANCIONAMENTOS
Adequação aos sancionamentos previstos no art. 12, III, pela
improbidade prevista no art. 11, caput, ambos da Lei
8.429/92, relativamente aos membros da Comissão de
Licitação: (a) multa civil para cada condenado igual a duas
vezes as respectivas remunerações totais percebidas em
dezembro de 1995 (ano dos fatos); e (b) proibição de
contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou
incentivos fiscais ou creditícios, pelo período de três anos
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(prazo fixo estabelecido na lei). 5. DISPOSITIVO Provida


uma apelação, e em parte outra.
(Apelação Cível Nº 70072095250, Primeira Câmara Cível,
Tribunal de Justiça do RS, Relator: Irineu Mariani, Julgado
em 10/05/2017).

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA.


IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. ARTIGO 17 DA
LEI Nº 8.492/92. RECEBIMENTO DA INICIAL.
APLICABILIDADE DA LEI Nº 8.429/92 AOS AGENTES
POLÍTICOS. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA
NÃO CONFIGURADO. EXERCÍCIO DE SEGUNDO
MANDATO. DENÚNCIA ANÔNIMA. POSSIBILIDADE
DE INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO CIVIL. AÇÃO
PROPOSTA COM BASE EM OUTROS ELEMENTOS
PROBATÓRIOS. APLICABILIDADE DA LEI Nº 8.429/92
AOS AGENTES POLÍTICOS. Dispõe a LIA que "os atos de
improbidade praticados por qualquer agente público,
servidor ou não, contra a administração direta, indireta ou
fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
do Distrito Federal, dos Municípios, de Território, de
empresa incorporada ao patrimônio público ou de entidade
para cuja criação ou custeio o erário haja concorrido ou
concorra com mais de cinqüenta por cento do patrimônio ou
da receita anual, serão punidos na forma desta lei." (artigo
1º, caput). E o seu artigo 2º não deixa dúvidas quanto à
extensão do conceito de agente público, sendo "todo aquele
que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração,
por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer
outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo,
emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo
anterior." Incluem-se no conceito os agentes políticos.
Precedentes do STJ e desta Corte. A Reclamação nº
2.138/DF não gera efeitos erga omnes, na esteira da
jurisprudência do STF. PRESCRIÇÃO. Nos termos do art.
23 da Lei nº 8.429/92, não se configura a prescrição da
pretensão punitiva, pois não transcorreram cinco anos entre
o término do segundo mandato do recorrente como prefeito
municipal e o ajuizamento da ação. DENÚNCIA
ANÔNIMA. A vedação ao anonimato prevista no art. 5º,
inciso IV, da CF não deve se sobrepor ao interesse público
de apurar eventual ato ímprobo. Não resta viciado inquérito
civil que inicia com base em denúncia anônima, mas reúne
provas suficientes a embasar ação de improbidade
administrativa. Aquela apenas levou ao desencadeamento do
processo investigativo. A ação civil pública foi proposta com
base em outros elementos probatórios. RECEBIMENTO DA
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INICIAL. Descabe, neste momento processual inicial, a


análise profunda de questões relativas ao mérito, devendo se
ater o magistrado aos indícios de materialidade e autoria de
atos de improbidade que justifiquem o prosseguimento da
ação, por se reger a espécie nesta fase pelo princípio "in
dubio pro societate". Precedentes do STJ e também desta
Corte. O agravante firmou o edital da licitação apontada
como direcionada pelo Ministério Público, bem como o
contrato com a empresa vencedora, também ré, sendo
necessária dilação probatória para perquirição acerca do
cometimento ou não de atos de improbidade administrativa.
AGRAVO DE INSTRUMENTO DESPROVIDO.
(Agravo de Instrumento Nº 70068335405, Vigésima
Primeira Câmara Cível, Rel. Des. Almir Porto da Rocha
Filho, Julgado em 13/04/2016).

DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. AÇÃO


CIVIL PÚBLICA. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
PRINCÍPIOS DA UNIRRECORRIBILIDADE E DA
CONSUMAÇÃO. APLICAÇÃO DA LEI Nº 8.492/92 AOS
AGENTES MUNICIPAIS SEM PRERROGATIVA DE
FORO. CONTRATAÇÕES EMERGENCIAIS.
ILEGALIDADE QUE PERMEIA AS CONTRATAÇÕES
NÃO CARACTERIZA AUTOMATICAMENTE O ATO
COMO ÍMPROBO. NECESSIDADE DE PROVA DO
AGIR DOLOSO DO AGENTE POLÍTICO, AINDA QUE
GENERICAMENTE. Manifestação superveniente à
apelação. Princípio da unirrecorribilidade dos
pronunciamentos judiciais e princípio da consumação.
Exame da inconformidade de um dos réus restrito aos
fundamentos do apelo interposto. Incompetência do juízo de
primeiro grau e inaplicabilidade da Lei n. 8.429/92 aos
agentes políticos. Questão já apreciada em agravo de
instrumento interposto e alvo de recursos extraordinário e
especial retidos. A jurisprudência dos Tribunais Superiores
define pela aplicabilidade das disposições da Lei n.
8.429/92, sem prerrogativa de foro, aos agentes municipais,
desde que não haja cumulação com outro regime de
responsabilidade político-administrativa, no caso, o Decreto-
Lei n. 201/67. Reclamação n. 2.138/STF que tem efeito
apenas inter partes. Preliminar rejeitada. Agravo retido não
conhecido. Art. 523, § 1º, do antigo CPC e art. 1.009, § 1º,
do CPC/2015. Mérito. Ilegalidade na celebração de contratos
emergenciais pelo Município de Pelotas que está
suficientemente evidenciada e consubstanciada na ausência
de lei específica autorizadora para cada contratação,
porquanto respaldadas em lei municipal genérica. No
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entanto, a prática de ato ilegal pelo administrador público


não caracteriza, por si só, improbidade administrativa, que,
na hipótese do art. 11 da Lei n. 8.428/92, exige a intenção
deliberada do agente político. Não se caracteriza como
dolosa a conduta do administrador que se baseou em lei
municipal em vigor, ainda que genérica, mesmo que essa
conduta, posteriormente, tenha sido declarada ilegal.
Ausência de prova de que os réus arquitetaram um
procedimento paralelo de contratações por tempo
determinado para fins de favorecimento pessoal e que tal
procedimento tenha sido utilizado, como regra, na seleção
dos contratados. Depoimentos isolados indicando vínculo
político com os demandados que, considerado um universo
de quase 600 contratações emergenciais, constituem prova
insuficiente para amparar o juízo de convencimento
condenatório. Agravo retido não conhecido. Apelos
providos.
(Apelação Cível Nº 70067192922, Vigésima Segunda
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: José
Aquino Flôres de Camargo, Julgado em 31/03/2016).
APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE
RESSARCIMENTO AO ERÁRIO. MUNICÍPIO DE
SANANDUVA. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO
PREJUÍZO AO ERÁRIO. 1. Pretensão de ressarcimento ao
erário é imprescritível, na forma do art. 37, § 5º da CF/88.
Precedentes do STF, STJ e desta Corte. 2. Afastada a
alegação de sobrestamento do feito em razão da decisão
proferida no Recurso Extraordinário nº 669.069, tendo em
vista que a jurisprudência maciça é no sentido de que as
ações que visam ao ressarcimento ao erário são
imprescritíveis. 3. Há entendimento pacífico acerca da
aplicabilidade da Lei nº 8.429/92 - Improbidade
Administrativa - aos agentes políticos. Precedentes desta
Câmara. 4. Rejeitada a alegação de impossibilidade de
análise da subjetividade do ato administrativo através da
presente ação. 5. Em que pese a irregularidade na
contratação, não restou demonstrado nos autos qualquer
prejuízo ao erário, tendo em vista que houve a efetiva
prestação do serviço durante a contratualidade, por valor não
excessivo, devendo ser afasta a condenação. Precedentes da
Corte. APELAÇÃO PROVIDA. (Apelação Cível Nº
70068301985, Quarta Câmara Cível, Tribunal de Justiça
do RS, Relator: Francesco Conti, Julgado em 30/03/2016).

DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. AÇÃO


CIVIL PÚBLICA POR ATOS DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA. AGENTE POLÍTICO. STF.
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JULGAMENTO DA RECLAMAÇÃO Nº 2.138.


AUSÊNCIA DE EFEITO VINCULANTE. PREFEITO
MUNICIPAL. O Prefeito Municipal, ainda que qualificado
como agente político, é parte legítima para figurar no pólo
passivo de Ação Civil Pública por ato de improbidade
administrativa, sendo que o julgamento pelo STF da
Reclamação nº 2.138-6 não possui efeito vinculante, o que
inclusive é assentado por precedentes daquela Corte. LEI Nº
8.429/92 E DECRETO-LEI Nº 201-67. PUNIÇÕES
DISTINTAS. A responsabilidade civil, disciplinada pela Lei
nº 8.429/92, não se confunde com a responsabilidade penal,
prevista no Decreto-Lei nº 201/67, tratando-se de punições
distintas. Precedentes do STJ e TJRGS. COMPETÊNCIA
DO JUÍZO DE PRIMEIRO GRAU PARA
PROCESSAMENTO E JULGAMENTO DA AÇÃO DE
IMPROBIDADE CONTRA PREFEITO MUNICIPAL. É
competente para o processamento e julgamento da ação civil
pública por improbidade administrativa movida contra
Prefeito Municipal o juízo de 1º Grau, uma vez que a
inconstitucionalidade do foro privilegiado instituído pelo §
2º do art. 84 do CPP, alterado pela Lei nº 10.628/02,
reconhecida pelo STF na ADI 2797, afastou a competência
originária do Tribunal de Justiça.
(...)
Apelação provida em parte, por maioria. Relator vencido em
parte. (Apelação Cível Nº 70052002938, Vigésima Segunda
Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Carlos
Eduardo Zietlow Duro, Julgado em 28/02/2013)

Ainda, ressalto que a decisão proferida pelo Plenário do STF na Reclamação


nº 2.138/DF, somente produziu efeitos inter partes, como reconheceu o próprio Pretório
Excelso, no seguinte julgado:
AGRAVO REGIMENTAL NA RECLAMAÇÃO.
PREFEITO. AÇÃO DE IMPROBIDADE. ALEGADO
DESCUMPRIMENTO DE DECISÃO QUE, À ÉPOCA,
AINDA NÃO HAVIA SIDO PROFERIDA NOS AUTOS
DA RECLAMAÇÃO N. 2.138/DF. PROCESSO
SUBJETIVO. EFEITOS INTER PARTES. 1. Não cabe
reclamação com fundamento em descumprimento de decisão
do Supremo Tribunal Federal em processo cujo julgamento
não foi concluído, ainda que haja maioria de votos
proferidos em determinado sentido. Precedentes. 2. A
decisão proferida pelo Plenário do Supremo Tribunal
Federal na Reclamação n. 2.138/DF tem efeitos apenas
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inter partes, não beneficiando, assim, o Agravante. 3.


Agravo Regimental ao qual se nega provimento. (Rcl 4119
AgR, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno,
julgado em 06/10/2011, DJe-208 DIVULG 27-10-2011
PUBLIC 28-10-2011 EMENT VOL-02617-01 PP-00026)

Em conclusão, submetem-se os agentes políticos à Lei de Improbidade


Administrativa, razão pela qual o juízo da Comarca de São Francisco de Paula/RS é
competente para o processamento e julgamento da presente ação civil pública por
improbidade administrativa ajuizada contra o ex-Prefeito Municipal, inexistindo a nulidade
aventada pelo réu.
Assim, rejeito a preliminar.

Nulidade da sentença:
Não há falar em nulidade da sentença por ausência de fundamentação. A
sentença analisou à exaustão os fatos narrados na inicial, apreciando cada uma das condutas
imputadas ao réu de forma pormenorizada.
Ao contrário do alegado, o juízo a quo externou de modo conciso, porém
satisfatório, as razões de sua decisão. Ora, a controvérsia dos autos foi devida e
exaustivamente enfrentada quando da prolação da sentença, não se devendo confundir
decisão contrária aos interesses do réu com eventual vício.
Não bastasse isto, inexiste obrigação de o julgador pronunciar-se sobre cada
alegação trazida pelas partes, de forma pontual, bastando que apresente argumentos
suficientes às razões de seu convencimento, atendendo, com isso, o disposto no art. 93, IX da
CF.
Por tais razões, não merece guarida a preliminar de nulidade da decisão
recorrida por ausência de fundamentação.
Rejeito a preliminar.
Mérito:
Quanto ao mérito, a prova dos autos é firme e coerente no sentido da prática
dos atos de improbidade administrativa perpetrados por Décio Antônio Colla, os quais

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ocorreram de forma continua e crescente durante o seu mandato, uma vez que o vínculo
ilegal mantido inicialmente para a contratação de ACS- Agentes Comunitários de Saúde, no
transcorrer de três anos transformou-se em contratação de ACS, PSF-Programa Saúde da
Família e outros servidores como porteiros, serventes, vigilantes.
Tais fatos restaram amplamente evidenciados nos apontamentos das
Auditorias do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul dos exercícios de 2006,
2007, 2008 e 2009, os quais relatam a conduta reiterada do réu na terceirização dos serviços
de saúde pelo Município de São Francisco de Paula junto ao Hospital Municipal. Na prática,
o que se verificou foi o fornecimento de mão-de-obra escolhida pelo administrador público
sem a realização de concurso público. A utilização de pessoa jurídica como suposta
prestadora de serviços serviu para ocultar a pratica de conduta afrontosa ao ordenamento
jurídico e violadoras dos Princípios Administrativos, uma vez que os valores repassados para
a Organização Social em questão eram utilizados em sua totalidade para custear a
contratação de pessoal escolhido pelo demandado para o desempenho de funções na própria
Secretaria Municipal de Saúde ou nas unidades subordinadas como postos de saúde,
unidades básicas de saúde, farmácia popular e CAPS.
Acerca da forma como o administrador municipal contratava os servidores
para o hospital municipal a prova testemunhal não deixa dúvida acerca das práticas narradas
na inicial. Para melhor elucidar transcrevo os depoimentos colhidos em juízo e transcritos na
sentença recorrida:

Sérgio dos Reis Pacheco, brasileiro, casado, 68 anos,


aposentado, residente e domiciliado em São Francisco de Paula.
Lido o fato. Advertido e compromissado.

Juiz: O senhor sabe de algo sobre esse processo? Tem


conhecimento?

Testemunha: Sim.

Juiz: O que o senhor sabe?

Testemunha: Isso aí eram pessoas contratadas pelo hospital para


trabalhar nos diversos postos de saúde da prefeitura. O hospital
para tanto se credenciou como OS para poder fazer e exercer essa
função.

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Juiz: E quem é que fazia a contratação dessas pessoas? Era o


próprio hospital? Como é que funcionava essa contratação?

Testemunha: A triagem era feita pela Prefeitura, aí nos passava os


dados para fazer o contrato. Seleção, recrutamento e seleção era
com a Prefeitura.

Juiz: E pelo o que o senhor observou os critérios utilizados eram


de ordem

técnica e profissional?

Testemunha: Técnica e profissional.

Juiz: O senhor ouviu falar que alguém foi contratado por algum
favor político ou coisa que o valha?

Testemunha: Não.

Juiz: Pelo procurador dos requeridos nada. Nada mais.

Luciana Machado Barbosa Asmuz:

Juiz: A senhora sabe algo a respeito deses fatos?

Testemunha: Na verdade eu sei que existia esse contrato, mas


detalhes assim não.

Juiz: A forma de contratação dessas pessoas a senhora sabe como


era realizada nesse contrato de gestão?

Testemunha: Na verdade tinha uma menina dentro da OS que ela


fazia essa contratação. A minha parte era só ligar para marcar o
exame admissional, demissional. Só nessa parte que eu participava.
Mas demissão, contratação, férias, essas coisas não.

Juiz: Não era de gerência da sua parte?

Testemunha: Não, era outra menina que fazia isso.

Juiz: Pelo Ministério Público.

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Ministério Público: A senhora prestou depoimento lá na


Promotoria de Justiça sobre esse contrato?

Testemunha: Sim.

Ministério Público: A senhora se recorda do que tu falou na


Promotoria?

Testemunha: Se tu ler eu vou me lembrar.

Ministério Público: E naquela época tudo o que tu relataste era


verdeiro?

Testemunha: Sim.

Ministério Público: A forma como era realizada o (procedimento).

Procurador dos Requeridos: Doutor, uma pergunta meio


complicada.

Ministério Público: A senhora recorda de ter relatado a verdade na


Promotoria?

Testemunha: Sim.

Ministério Público: Ou a senhora falseou em algum momento?

Testemunha: Não.

Ministério Público: Lá na Promotoria a senhora referiu o seguinte:


que o contrato de trabalho era realizado pela Secretaria de Saúde.
Isso é verdadeiro?

Testemunha: Sim.

Ministério Público: Toda a contratação e controle desse contrato,


como é que era isso? O hospital tinha o controle dessa contratação
dos servidores?

Testemunha: Eles selecionavam lá e daí vinha pronto. Tanto que


ligavam: “é Ciclano de Tal”, daí eu ligava para marcar o exame.
Mas já vinha pronto de lá. Não era a gente que selecionava, não era
o hospital que selecionava. Isso vinha pronto de lá.

Ministério Público: Vinha pronto da Secretaria de Saúde?

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Testemunha: Sim.

Ministério Público: Eles é que avisavam inclusive quem seria


contratado?

Testemunha: Sim.

Ministério Público: Vocês não gerenciavam então os valores


repassados?

Testemunha: Nada. Já vinha pronto.

Ministério Público: Inclusive os pagamentos, como é que era


repassados?

Também já vinha determinado como é que ia se dar os pagamentos


e para quem?

Testemunha: Sim, vinha pronto para essa moça e ela que fazia
contracheque, ela que distribuía, contratos ela que fazia tudo.

Ministério Público: E já vinha tudo determinado, orientado?

Testemunha: Tudo.

Ministério Público: Tudo pronto da Secretaria de Saúde?

Testemunha: Tudo pronto.

Ministério Público: E o exame de admissão também era feito pela


Secretaria de Saúde?

Testemunha: Não, daí ela me ligava: “Luciana, vai ter a


contratação da Fulana de Tal”, daí eu ligava para a Prevença e
dizia: “preciso de um exame admissional”, daí passava os dados.

Juiz: Esse era o seu papel?

Testemunha: Isto. Daí eu passava para ela: “vai ser tal dia o exame
do Fulano”. Daí aí era com eles.

Ministério Público: E os valores eram praticamente geralmente


destinados para a contratação de pessoal?

Testemunha: Desse contrato aí?

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Ministério Público: Desse contrato de gestão.

Testemunha: Sim.

Ministério Público: E essas pessoas trabalham no hospital ou


trabalhavam aonde?

Testemunha: Trabalhavam nos postos de saúde.

Ministério Público: Na Secretaria de Saúde também?

Testemunha: Na Secretaria de Saúde também.

Ministério Público: Nada mais.

Juiz: Pelo procurador dos requeridos.

Procurador dos Requeridos: A senhora conhecia os termos


completos desse contrato? Quem é que era responsável?

Testemunha: Não.

Procurador dos Requeridos: Os valores que eram pagos a esses


contratados eles vinham desse convênio ou eram verbas próprias do
hospital?

Testemunha: Não, vinham deste convênio.

Procurador dos Requeridos: E os profissionais que eram


contratados eles tinham a capacidade técnica para exercer a
função? Sabiam fazer o que era para fazer?

Testemunha: Acredito que sim.

Procurador dos Requeridos: Nada mais.

Juiz: Nada mais.

Marilei da Silva Pereira, brasileira, separada, 51 anos, gerente,


residente e domiciliada em São Francisco de Paula. Lido o fato.
Advertida e compromissada.

Juiz: A senhora sabe de algo a respeito?

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Testemunha: Eu sei da existência do contrato, que é de longa data.


E que através desse contrato a Secretaria de Saúde fazia as
contratações do seu pessoal.

Juiz: Os profissionais?

Testemunha: Os profissionais. Repassava verbas para o hospital,


que distribuía para cada funcionário.

Juiz: Esses funcionários prestavam serviço no hospital? Nos


postos de

saúde?

Testemunha: Não prestavam serviços no hospital, eram nos postos


de saúde e na Secretaria de Saúde.

Juiz: A senhora sabe quais eram os critérios para admissão dessas


pessoas e como é que funcionava? Se eram técnicos, profissionais
específicos das áreas? Como é que funcionava isso?

Testemunha: Não sei, não sei lhe dizer como é que funcionava
esses critérios.

Juiz: Então o hospital recebia a verba e pagava esses servidores?

Testemunha: Sim.

Juiz: Pelo Ministério Público.

Ministério Público: A senhora sabe se tinha algum processo


seletivo? Era divulgado para as pessoas que o hospital ou a
Secretaria de Saúde estava contratando por meio desse contrato de
gestão?

Testemunha: Não.

Juiz: Não sabe ou não?

Testemunha: Eu não sei. O hospital recebia a informação de que


naquela relação de funcionários contratados pela OS tinha mais ou
tinha menos funcionários, conforme a pessoa responsável para
fazer esse trabalho, que era um

funcionário da OS também, desempenhava. Inclusive essa pessoa


também, como eu falei, ela ficava em uma sala ali no hospital junto
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com a pessoa que fazia o departamento pessoal do hospital. Eram


duas pessoas, dois departamentos pessoais dentro de uma sala só.

Ministério Público: A OS é o hospital de São Francisco de Paula?

Testemunha: Sim.

Ministério Público: Mas apesar do contrato ser para a OS realizar


o (…) não exista escolha dos servidores pelo hospital?

Testemunha: Não, nenhuma.

Ministério Público: E o pagamento como é que era feito?

Testemunha: A Prefeitura, através desse convênio entre OS e


Prefeitura,

era repassado o valor da folha de pagamento desse profissionais,


mais também o FGTS desses profissionais, e o hospital fazia a
distribuição nas contas de salários dos então funcionários.

Ministério Público: Esse contrato de gestão de alguma forma ele


servia para repassar verbas para o hospital executar algum serviço
ou ele era, na verdade, 100% para contratação de pessoal?

Testemunha: 100% para contratação de pessoal. O que acontecia é


que, por conta desse serviço, o hospital recebia um valor que, se
não me falha a memória, não tenho certeza do número, era 6% a
título de comissão por desempenhar esse trabalho. Que inclusive a
gente estava pensando na possibilidade de reunir com a diretoria
para fazer uma análise desse contrato, em função de todas as
questões que envolviam ali, a gente entendia que 6% era muito
pouco. Não conseguimos ir a frente.

Ministério Público: Nada mais.

Juiz: Pelo procurador dos requeridos nada. Nada mais.

José Angelo Canani, brasileiro, casado, 64 anos, vigilante,


residente e domiciliado em São Francisco de Paula. Lido o fato.
Advertido e compromissado.

Juiz: O senhor sabe algo a respeito desses fatos?

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Testemunha: Não senhor.

Juiz: Pelo Ministério Público.

Ministério Público: Seu José, o senhor lembra que o senhor


prestou

depoimento lá na Promotoria de Justiça sobre o seu contrato lá com


o hospital? O senhor trabalhou pelo hospital?

Testemunha: Trabalhei pelo hospital.

Ministério Público: O senhor trabalhou que ano? O senhor se


lembra?

Testemunha: Foi esse último contrato que foi feito pelo hospital,
porém trabalhando na Secretaria da Saúde.

Ministério Público: E o que o senhor fazia?

Testemunha: Trabalhava de vigilante na noite.

Ministério Público: E quem é que lhe dava as determinações e


orientações? Era o pessoal do hospital ou era da Secretaria de
Saúde que vinha as orientações para o senhor trabalhar?

Testemunha: Não, era a coordenadora, a Rosane. Rosane


Asmuz.

Ministério Público: Ela era da Secretaria de Saúde?

Testemunha: Da Secretaria de Saúde.

Ministério Público: O senhor antes de conseguir esse emprego, o


senhor referiu alguma coisa lá na Promotoria que o senhor teria
pedido emprego diretamente para o Prefeito Colla, que se dava
bem, como o senhor referiu aqui, tinha uma boa relação.

Testemunha: Não senhor.

Ministério Público: O senhor não teria pedido um trabalho para o


Prefeito e aí lhe chamaram na Secretaria para o senhor ir lá?

Testemunha: Mas isso foi na outra gestão.

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Ministério Público: Outra gestão dele?

Testemunha: É.

Ministério Público: Mas quando foi isso? Que ano?

Testemunha: Aí nós temos que somar.

Ministério Público: Mas não foi quando o senhor começou a


trabalhar?

Testemunha: Não. Eu trabalhei 4 anos aqui na Secretaria de


Saúde, depois eu trabalhei mais ou menos 2 anos na outra gestão.
Trabalhei de vigilante lá na creche e na Casa Lar.

Ministério Público: O senhor referiu o seguinte lá na Promotoria:


que pela boa relação de amizade que o senhor tinha com o Prefeito,
o senhor tinha pedido uma vaga de emprego e aí o senhor foi
comunicado da seleção pelo servidor da Secretaria de Saúde.

Testemunha: Exatamente.

Ministério Público: É isso?

Testemunha: Isto aí.

Ministério Público: Nada mais.

Juiz: Pelo procurador do requerido.

Procurador do Requerido: O senhor sabe precisar em que época


que foi que o senhor pediu emprego e foi chamado?

Testemunha: Essa última gestão?

Procurador do Requerido: Que o senhor falou no Ministério


Público.

Testemunha: Sim, sim.

Procurador do Requerido: Que época foi isso?

Testemunha: Foi em 2008.

Procurador do Requerido: O senhor relatou (…) como vigilante.

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Testemunha: Sim.

Procurador do Requerido: O senhor entende então que tem


capacidade técnica para ser vigilante? Da Secretaria de Saúde ou do
Hospital, da OS.

Testemunha: Não, não era concursado.

Procurador do Requerido: Mas o senhor tem capacidade para ser


vigilante?

Testemunha: Sim, sim. Já tinha trabalhado em outro.

Procurador do Requerido: Nada mais.

Juiz: Nada mais.

Rudmar dos Santos Pires, brasileiro, separado, desempregado,


residente e domiciliado em São Francisco de Paula. Lido o fato.
Advertido e compromissado.

Juiz: O senhor alguma vez pediu emprego lá para o Seu Décio e


lhe deram emprego? Como é que foi?

Testemunha: Eu pedi.

Juiz: Como é que foi isso e quando é que foi isso?

Testemunha: Foi há uns 4 anos atrás, 3 anos e poucos atrás.

Juiz: E qual é a função que deram para o senhor?

Testemunha: Eu comecei a trabalhar no início na manutenção das


obras. Depois daí da manutenção tinha um rapaz lá no Posto de
Saúde da Santa Isabel que estava ameaçando as gurias que
trabalhavam lá, daí eles me levaram para lá. Por último eu estava
trabalhando na Secretaria da Saúde de porteiro.

Juiz: Então o senhor trabalhou muitos anos para a Prefeitura?

Testemunha: É, trabalhei uns 3 ou 4 anos.

Juiz: Pelo Ministério Público.

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Ministério Público: Lá na Promotoria o senhor referiu inclusive


que o senhor participou da eleição do Prefeito Décio Colla,
participou da campanha.

Testemunha: Sim.

Ministério Público: Nada mais.

Juiz: Pelo procurador do requerido.

Procurador do Requerido: O senhor referiu que trabalhou


primeiro na manutenção de obras e depois como porteiro?

Testemunha: Sim.

Procurador do Requerido: O senhor tem capacidade técnica para


fazer isso? O senhor sabe fazer esses trabalhos?

Testemunha: Sim.

Procurador do Requerido: Nada mais.

Juiz: Nada mais.

Caroline Silva Neves dos Santos, brasileira, solteira, 25 anos,


administradora rural, residente e domiciliada em São
Francisco de Paula. Lido o fato. Advertida e compromissada.

Juiz: A senhora prestou algum serviço para o Município?

Testemunha: Sim, eu trabalhava na Secretaria de Saúde.

Juiz: A senhora foi contratada de quem forma?

Testemunha: Na Secretaria de Saúde eu entrei como (ocipe), que


era a forma de contratação anterior, através de uma seleção. Aí
posteriormente foi trocado, ficou OS, e aí eu fiquei na Secretaria de
Saúde fazendo as mesmas

coisas.

Juiz: Qual era a sua função?

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Testemunha: Eu era auxilar administrativa primeiramente.

Juiz: Depois exerceu alguma outra?

Testemunha: Depois eu fiquei de coordenadora de projetos.

Juiz: A senhora tem formação técnica para exercer essas funções?

Testemunha: Não, na verdade eu sou formada em


desenvolvimento rural. Mas na época, eu me formei em 2011, eu
saí da Secretaria em início de 2012. Eu acabei adquirindo
conhecimento mesmo dentro da Secretaria e aprendendo.

Juiz: A senhora conseguiu esse emprego em contato com o


Prefeito ou como é que foi isso?

Testemunha: Na verdade foi seleção, a (ocipe), quando eu entrei


foi uma seleção.

Juiz: Não por contato com o Seu Décio?

Testemunha: Não, a seleção foi feita na (ocipe), acho que saiu no


jornal, se não me engano na época, faz bastante tempo.

Juiz: Pelo Ministério Público.

Ministério Público: E essa seleção como é que ela foi feita?


Entrevista?

Testemunha: Era feita uma prova, tinha caráter assim técnico da


questão administrativa. E também psicológica. E também teve uma
entrevista com a psicóloga da (ocpipe).

Ministério Público: A senhora é parente de algum cargo de


comissão do Município de São Francisco de Paula?

Testemunha: Agora não, na época na verdade a Clara Ghidini ela é


minha prima, minha madrinha, ela tem a minha guarda.

Ministério Público: E ela era cargo de comissão da administração


do Colla?

Testemunha: Sim.

Ministério Público: Quando foi realizada a contratação pelo


hospital, foi feito processo seletivo?
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Testemunha: Não.

Ministério Público: Nada mais.

Juiz: Pelo procurador do requerido nada. Nada mais.

Lázaro Jesus Macedo, brasileiro, casado, 52 anos, residente e


domiciliado em São Francisco de Paula. Lido o fato. Advertido
e compromissado.

Juiz: O senhor foi administrador do hospital?

Testemunha: Sou. Mas eu era presidente na época da OS.

Juiz: Como é que funcionava esse contrato?

Testemunha: Era um repasse feito para o hospital onde o hospital


tinha uma taxa de administração, que é beneficiado o hospital em
função dessa taxa.

Juiz: E como é que eram selecionadas essas pessoas para essas


funções? O senhor sabe quem é que fazia a seleção?

Testemunha: Era o pessoal da Secretaria de Saúde.

Juiz: Isso vinha por critérios técnicos ou o senhor sabe se havia


algum apadrinhamento político nessa contratação?

Testemunha: Técnicos.

Juiz: Pelo Ministério Público.

Ministério Público: O senhor ou o seu filho receberam a


concessão do município de um ginásio para instalar uma empresa?

Testemunha: Sim.

Procurador do Requerido: Doutor, desculpe, (…) as contratações


pela OS.

Ministério Público: É comprometimento dele em dizer a verdade e


já vou chegar lá com relação ao cumprimento dos cargos da OS.
Do senhor ou do seu filho o nome dessa contratação, dessa (…).

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Testemunha: Meu filho.

Ministério Público: Foi feito processo seletivo para o senhor


receber esse ginásio?

Testemunha: Aí eu não sei, eu sei que tinha... desde anos tinha


outras empresas lá, aí o ginásio estava sendo depredado, foi
ofertado pelo pessoal

responsável da parte esportiva ou turística esse serviço.

Ministério Público: Mas foi ofertado ao público?

Testemunha: Não, foi ofertado para a empresa que estava


precisando de um local. O local que ela estava tinha sido retomado.

Ministério Público: Teve uma decisão declarando esses contratos


de gestão, essas contratações através do hospital, como ilegais. Foi
dado um prazo para cumprimento para exoneração desses cargos.
O senhor cumpriu o prazo da decisão judicial?

Juiz: O senhor tomou ciência de uma decisão judicial que


determinava a exoneração dessas pessoas que foram contratadas
com base nesse contrato?

Testemunha: Tomei com um pouco de atraso.

Juiz: Um pouco de atraso em que sentido?

Testemunha: Bastante atraso, não sei como isso aconteceu, mas


quando eu tomei o prazo já tinha corrido. Talvez por questão
administrativa do hospital ou alguma coisa, não sei dizer.

Juiz: Mas o senhor tomou a iniciativa de demitir essas pessoas


ou não?

Testemunha: Não.

Ministério Público: Nada mais.

Testemunha: Imediatamente eu como presidente e a diretoria


proibimos a contratação de mais ninguém a partir daquela data. E
aí foram feitas só demissões, mas gradativas.

Juiz: Pela procurador do requerido.

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2017/CÍVEL

Procurador do Requerido: Esse contrato de gestão da OS e do


Município foi assinado pelo senhor? O senhor era o presidente da
época da assinatura do contrato?

Testemunha: Não, assinatura do contrato no passado não.

Procurador do Requerido: O senhor conhecia, segundo o


contrato, como era feita a responsabilidade pela contratação e
seleção?

Testemunha: Não.

Procurador do Requerido: Esse fato que o Ministério Público


relatou do recebimento da concessão do ginásio. O senhor entende
que há alguma vinculação em relação a algum...

Testemunha: Mas de forma nenhuma.

Procurador do Requerido: Nada mais.

Juiz: Nada mais.

Conforme se verifica, o apelante na condição de prefeito municipal utilizou-


se do seu cargo de forma indevida, celebrando Contrato de Gestão com o Hospital São
Francisco de Paula para a terceirização de serviços públicos de saúde nos postos de saúde e
Secretaria Municipal de Saúde, sendo contratados inclusive servidores para os serviços de
vigilante, servente, porteiro, etc, sendo dispensada a realização de concursos públicos para o
preenchimento de tais funções sem amparo ou justificativa legal.
Dentro deste contexto, impõe-se o juízo de procedência da ação. Quanto às
sanções aplicadas na sentença, tenho que merecem ser mantidas tal como fixadas
considerando a gravidade da conduta do agente, a qual se deu de forma reiterada e crescente,
em violação aos princípios da administração pública, os quais, como se viu, foram
frontalmente aniquilados pela conduta do gestor municipal, ora apelante.
Ante ao exposto, rejeito as preliminares e nego provimento ao apelo.
É o voto

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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA

LFC
Nº 70073782062 (Nº CNJ: 0142321-58.2017.8.21.7000)
2017/CÍVEL

DES.ª LAURA LOUZADA JACCOTTET


Acompanhando a Eminente Relatora no caso concreto, mister consignar a
diferenciação entre a situação presente e a que julguei como relatora em 31/05/2015, onde o
mesmo Prefeito Municipal era também acusado de improbidade administrativa por
contratações de pessoal.
Naquele caso, as contratações eram temporárias e foram efetuadas após
seleções consistentes em prova escrita de múltipla escolha, apresentação de currículos e
entrevistas, fazendo transparecer que a intenção do administrador era realmente não permitir
solução de continuidade em serviços essenciais após determinação de exonerações oriundas
de uma Adin .
Feito o comentário, acompanho a nobre Relatora no presente feito para
desprover o recurso.

DES. JOÃO BARCELOS DE SOUZA JÚNIOR - De acordo com o(a) Relator(a).

DES.ª LÚCIA DE FÁTIMA CERVEIRA - Presidente - Apelação Cível nº 70073782062,


Comarca de São Francisco de Paula: "REJEITARAM AS PRELIMINARES E NEGARAM
PROVIMENTO AO APELO. UNÂNIME."

Julgador(a) de 1º Grau: CARLOS EDUARDO LIMA PINTO

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