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26/10/2022 14:43 SEI/MPSP - 7983796 - Termo de Conclusão

PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE SANTOS

TERMO DE CONCLUSÃO

Aos 10  de outubro  de 2022, faço estes autos conclusos ao Dr. Carlos Alberto Carmello Junior,
Promotor de Justiça. Eu, Letícia Passini, Oficial de Promotoria, digitei e subscrevi.
 
 
 

MP nº 5339/2020

SEI 29.0001.0055381.2021-64

Assunto: apurar eventual promoção pessoal do ex-Prefeito Municipal Paulo Alexandre Barbosa, o qual
utiliza de redes sociais para personalizar a sua passagem como prefeito municipal e perenizar feitos públicos
à sua figura pública.

PROMOÇÃO DE ARQUIVAMENTO

EGRÉGIO CONSELHO SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO

EMINENTES CONSELHEIROS

Trata-se de procedimento instaurado para apurar eventual promoção pessoal do ex-Prefeito Municipal Paulo
Alexandre Barbosa, por ter utilizado  redes sociais para personalizar a sua passagem como prefeito municipal
e perenizar feitos públicos à sua figura pública.

O representante Fernando Gomes Bezerra noticiou que o ex-prefeito municipal de Santos (Paulo Alexandre
Pereira Barbosa) utilizara a redes sociai instagram para promoção de sua gestão como Prefeito. (cf.fotos
anexas).

Anota-se prévia promoção de arquivamento do IC, não homologada pelo CSMP, pelo que o expediente foi
encaminhado para a 12ª Promotoria de Justiça.

Informou que o ex-prefeito teria criado logotipo/logomarca em sua página do instagram para a
personalização de obras públicas realizadas no município de Santos durante o seu mandato, bem como que

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faz divulgação dos feitos/obras públicas com seu logotipo de forma patrocinada ferindo os princípios da
impessoalidade e moralidade administrativa.

  Ressaltou que o ordenamento pátrio veda qualquer promoção pessoal do agente político (imagem ou
carreira política) a obras realizadas durante o seu mandato eletivo, e que tal postura do investigado
representou uma forma de autopromoção (imagem ou carreira política).

O investigado se manifestou no sentido de que, no caso dos autos, não houve "publicidade de obra pública"
como concebida pelo § 1º do art. 37, uma vez que se tratou de livre manifestação do pensamento, no
exercício da liberdade de expressão, na esfera particular, mediante comentário impessoal quanto a fato
público e notório.

Ressaltou que, não obstante o caso sob exame tratasse de postagens sem qualquer cunho de pessoalidade, e,
no seu entender, não estavam submetidas às restrições do artigo 37, § 1º da Constituição, disse ser necessário
o raciocínio no sentido de que, se fossem ilícitas postagens particulares vinculando o nome de gestores
públicos a realizações de governo (seja para elogia-las ou para critica-las), haveria uma deturpação
inominável do princípio da impessoalidade para descambar para censura (o que não se poderia admitir).

Ao final, informou que suas postagens possuíram mero caráter informativo e educativo, não podendo se
imputar a elas qualquer irregularidade.

Na sequência, foi proposto acordo de não persecução civil e o investigado, em um primeiro momento,
dispôs-se a discutir os termos propostos. Logo após, informou que a multa proposta se mostrava excessiva,
considerando a natureza da conduta questionada e a dificuldade financeira que teria para arcar com valor tão
elevado. Nessa linha, propôs a redução do valor da multa para uma vez a última remuneração recebida como
prefeito municipal, a ser parcelado em 12 vezes.

Foi realizada reunião com o patrono do investigado e, na ocasião, foi-lhe informado o sobrestamento dos
autos até a decisão do STF acerca da retroatividade ou irretroatividade dos novos termos da Lei de
Improbidade Administrativa - TEMA 1199/STF.

Em 18/08/2022, sobreveio a decisão do STF no tema 1199, e entendeu que novo texto da Lei de Improbidade
Administrativa (LIA - Lei 8.429/1992), com as alterações inseridas pela Lei 14.230/2021, pode ser aplicado
a casos não intencionais (culposos) se inexistentes condenações definitivas.

As teses de repercussão geral fixadas foram as seguintes:

1) É necessária a comprovação de responsabilidade subjetiva para a tipificação dos atos de improbidade


administrativa, exigindo-se nos artigos 9º, 10 e 11 da LIA a presença do elemento subjetivo dolo;

2) A norma benéfica da Lei 14.230/2021 revogação da modalidade culposa do ato de improbidade


administrativa, é irretroativa, em virtude do artigo 5º, inciso XXXVI, da Constituição Federal, não tendo
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incidência em relação à eficácia da coisa julgada; nem tampouco durante o processo de execução das penas e
seus incidentes;

3) A nova Lei 14.230/2021 aplica-se aos atos de improbidade administrativa culposos praticados na vigência
do texto anterior, porém sem condenação transitada em julgado, em virtude da revogação expressa do tipo
culposo, devendo o juízo competente analisar eventual dolo por parte do agente.

4) O novo regime prescricional previsto na Lei 14.230/2021 é irretroativo, aplicando-se os novos marcos
temporais a partir da publicação da lei (26/10/2021).

Eis o relato do necessário.

As informações apresentadas no presente expediente tratam de eventuais atos de improbidades por promoção
pessoal do ex-Prefeito Municipal Paulo Alexandre Barbosa, que teria utilizado redes sociais (instagram) para
personalizar a sua passagem como prefeito municipal e perenizar feitos públicos à sua figura pública.

O pano de fundo para a intervenção se circunscrevia a possível ato de improbidade administrativa que
atentava aos princípios da Administração Pública.

Neste contexto, o investigado alegou que seu comportamento foi limitado a publicação de textos de conteúdo
informativo e educativo, onde apenas citou o que tinha realizado em prol da coletividade. Ainda, afirmou ser
um tipo de censura não poder se expressar, livremente, em rede social.

Entendo inexistir, no caso presente, pertinência para a continuidade da investigação ou adoção de medida
outra que não o arquivamento.

Fatos posteriores à respeitável decisão deste Conselho Superior servem de lastro a esta conclusão.

Explico.

Em primeiro lugar, promoção pessoal para caracterizar ato de improbidade, pelas novas disposições trazidas
pela Lei n. 14.230/21, há de ser feita com recursos do erário. No caso presente, não há elemento de prova que
as publicações tenham de alguma forma sido custeadas com recursos públicos. Não se ignora que pende
decisão do STF acerca da aplicação retroativa das novas disposições relacionadas ao art. 11; pelo que foi
decidido em relação ao de improbidade administrativa derivado de culpa do agente, contudo, a probabilidade
maior é de aplicação retroativa da nova lei e consequente atipicidade da conduta ora apurada.

Em segundo lugar, e talvez mais importante, é que o prognóstico de sucesso de ação de improbidade tendo
como causa de pedir o objeto do presente IC não é favorável.  Tome-se como parâmetro a ação de
improbidade administrativa 10180035120208260562 , ajuizada por este órgão  contra o investigado também
por promoção pessoal, que tinha como causa de pedir o fato de o réu Paulo Alexandre Barbosa, na condição
de Prefeito, haver dado o nome de seu pai a uma escola ( o nome do pai era Paulo Gomes Barbosa, que
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também foi prefeito de Santos), utilizando recursos públicos para confecção de convites para a inauguração,
na qual  o Poder Judiciário Paulista, contrariando decisão do STJ que contemplava hipótese idêntica (
prefeito que deu nome de seu pai a próprio público, com convites custeados com recursos públicos– Resp
1146592 RS), entendeu, em primeiro e segundo grau de jurisdição, que se tratava de uma “ homenagem de
filho para pai”...

São estas as razões pelas quais entendo que  que não há justa causa para a propositura da ação civil pública,
expedição de recomendação ou celebração de termo de ajustamento de conduta e que não há outras
diligências úteis a serem realizadas, PROMOVO O SEU ARQUIVAMENTO.

Ainda, determino seja feita a remessa dos presentes autos ao Egrégio Conselho Superior do Ministério
Público, no prazo máximo de 03 (três) dias, mediante comprovante, para fins de homologação, nos termos
da Resolução nº 1342/21.

Santos, 25 de outubro de 2022.

CARLOS ALBERTO CARMELLO JUNIOR

                 Promotor de Justiça

                                              

Documento assinado eletronicamente por Carlos Alberto Carmello Junior, Promotor de Justiça,
em 25/10/2022, às 20:38, conforme art. 1º, III, "b", da Lei Federal 11.419/2006.

A autenticidade do documento pode ser conferida neste site, informando o código verificador 7983796
e o código CRC EC9CE8B0.

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