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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DA BAHIA

VARA DOS FEITOS DE REL DE CONS CIV E COMERCIAIS DE POÇÕES

Processo: AÇÃO CIVIL PÚBLICA n. 8002555-52.2022.8.05.0199


Órgão Julgador: VARA DOS FEITOS DE REL DE CONS CIV E COMERCIAIS DE POÇÕES
AUTOR: MINISTERIO PUBLICO DO ESTADO DA BAHIA
Advogado(s):
REU: INSTITUTO BRASILEIRO EDUCAR CONQUISTA - IBEC e outros (2)
Advogado(s): BETANIA ROBERTA TOURINHO FERNANDES (OAB:BA72640), KAIQUE COSTA OLIVEIRA (OAB:BA67853),
THASSIO ANALBERTO LOPES SANTANA (OAB:BA66969), ALINE CURVELO DA SILVA registrado(a) civilmente como ALINE
CURVELO DA SILVA (OAB:BA23115)

DECISÃO

Vistos etc.

Trata-se de AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA


ajuizada pelo MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL em face do MUNICÍPIO DE POÇÕES,
INSTITUTO BRASILEIRO EDUCAR CONQUISTA-IBEC e POLIANA SANTOS
DANTAS DE SOUSA, todos qualificado no autos, objetivando, caráter liminar, que
seja DETERMINADO aos acionados que suspendam imediatamente o concurso público regido
pelos edital de nº 01/2022, abstendo-se de divulgar o resultado final, de homologá-lo, de nomear
e de empossar os classificados, realizando ampla divulgação no diário oficial do município, nos
sites e redes sociais da Prefeitura e do IBEC, além de outros meios; e ainda DECRETADA a
indisponibilidade dos bens do INSTITUTO BRASILEIRO EDUCAR CONQUISTA – IBEC e da sua
presidente, POLIANA SANTOS DANTAS DE SOUSA, solidariamente, pelo menos do valor de R$
442.890,00 (quatrocentos e quarenta e dois mil, oitocentos e noventa reais), para ressarcimento
integral do dano ao erário, requerendo-se, para tanto: a) indisponibilidade de valores depositados
em contracorrente do requerido, por meio de bloqueio judicial eletrônico; b) remessa de ofício ao
Cartório de Registro de Imóveis de Poções, requisitando a inscrição da indisponibilidade de bens
pertencentes ao demandado; c) utilização do sistema RENAJUD, requisitando a inscrição da
indisponibilidade de veículos pertencentes ao demandado. No mérito, que seja julgada
procedente a demanda, determinando-se a ANULAÇÃO da dispensa de licitação nº 114/2022 que
deu origem ao contrato n° 641/2022; a ANULAÇÃO do concurso público regido pelo edital de nº
01/2022, condenando-se os demandados nas obrigações de abster-se de divulgar o resultado
final, de homologá-lo, de nomear e de empossar os classificados, além de realizar ampla
divulgação no diário oficial do município, nos sites da Prefeitura e do IBEC e em outros meios; e
ainda a CONDENAR o INSTITUTO BRASILEIRO EDUCAR CONQUISTA – IBEC e POLIANA
SANTOS DANTAS DE SOUSA solidariamente nas obrigações de: a) ressarcir os cofres públicos
municipais no valor de R$ 442.890,00 (quatrocentos e quarenta e dois mil, oitocentos e noventa
reais); b) pagar danos morais coletivos no valor de R$ 442.890,00 (quatrocentos e quarenta e
dois mil, oitocentos e noventa reais); e ainda o INSTITUTO BRASILEIRO EDUCAR CONQUISTA
– IBEC nas sanções previstas na Lei nº 12.846/2013 e, consequentemente, ao: I - perdimento dos

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bens, direitos ou valores que representem vantagem ou proveito direta ou indiretamente obtidos
da infração, ressalvado o direito do lesado ou de terceiro de boa-fé; II - suspensão ou interdição
parcial de suas atividades; III - dissolução compulsória da pessoa jurídica; e IV - proibição de
receber incentivos, subsídios, subvenções, doações ou empréstimos de órgãos ou entidades
públicas e de instituições financeiras públicas ou controladas pelo poder público, pelo prazo de 1
(um) a 5 (cinco) anos, consoante fatos e fundamentos aduzidos na petição inicial. Juntou
documentos.

Por meio da decisão de ID 331741535, foi facultada ao Município de Poções o


prazo de 72 (setenta e duas) horas para se manifestar acerca do pedido liminar, que deixou
transcorrer in albis o prazo concedido, sem resposta, conforme atesta a certidão de ID
337711103; determinou-se ainda suspensão do resultado do concurso, objeto desta ação, pela
realizadora do Certame.

Sobreveio manifestação do INSTITUTO BRASILEIRO EDUCAR CONQUISTA -


IBEC apresentado habilitação no feito (ID 332380947); Sobreveio também manifestação do
Órgão Ministerial, promovendo a juntada de documentos exarados pelo Tribunal de Conta do
Estado da Bahia (ID 3324443295); E ainda manifestação da Belª GUIOMAR SILVA CORREIA,
aprovada em 1.º lugar no concurso público do município em questão, para o Cargo de Advogado,
requerendo sua habilitação nos autos, na qualidade de terceiro interessada (ID 3324622787).

Houve, por fim, manifestação do Órgão Ministerial, requerendo a


HOMOLOGAÇÃO do TERMO DE AJUSTE DE CONDUTA firmado com o município de
POÇÕES, com fulcro nos arts. 487, inciso III, alíneas “a” e “b”, e 515, inciso II, do Código de
Processo Civil, para que produza os efeitos jurídicos de título executivo judicial mediante a
extinção da ação PARCIAL com a resolução do mérito, e ainda, que seja apreciado o pedido de
INDISPONIBILIDADE DOS BENS para a proteção do patrimônio público e para garantir o
ressarcimento direto a todos os candidatos, já que o decurso do tempo certamente permitirá a
dissipação do valor auferido pelas requeridas mediante dano ao erário.

Vieram-me os autos conclusos.

É o necessário. Fundamento e decido.

Inicialmente, REVOGO

Consoante relatado acima, foi realizado o TERMO DE AJUSTE DE CONDUTA


entre o MINISTÉRIO PUBLICO ESTADUAL e o município de POÇÕES que contempla
parcialmente o objeto da presente ação, restando, pois, a sua homologação judicial, para que
produza os seus jurídicos efeitos, bem como ocorra a extinção do processo em face do Município
acordante.

Isto posto, HOMOLOGO, por sentença, para que produza os jurídicos e


legais efeitos, o TERMO DE AJUSTE DE CONDUTA - TAC - avençado entre as partes (ID
337691001) e, por consequência, JULGO RESOLVIDO O MÉRITO do presente feito em face
do MUNICÍPIO DE POÇÕES, com fulcro no artigo 487, inciso III, alínea "b", do Código de
Processo Civil.

Sem de custas, em face da isenção legal. Deixo de condenar o Estado ao


pagamento de honorários advocatícios em razão de que tal verba é indevida ao Órgão Ministerial,
na forma do art. 128, § 5.º, II, da CF/88. Nesse sentido, recentemente se manifestou o Egrégio
Tribunal de Justiça, in verbis:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. FIXAÇÃO DE HONORÁRIOS


ADVOCATÍCIOS EM FAVOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO. IMPOSSIBILIDADE.

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RECURSO PROVIDO. 1. Em se tratando de ação civil pública movida pelo
Ministério Público e julgada procedente, não há que se cogitar na condenação
dos réus ao pagamento de honorários advocatícios posto que o art. 128, § 5.º,
II, da CF/88 veda expressamente a sua percepção pelos membros do
Ministério Público. (TJ-BA - APL: 05014397420188050088, Relator: JOANICE
MARIA GUIMARAES DE JESUS, TERCEIRA CAMARA CÍVEL, Data de
Publicação: 10/02/2021). (Grifei).

Inexistindo interesse recursal, certifique a Serventia, desde logo, o trânsito em


julgado, sem prejuízo às partes de instaurar incidente de cumprimento de sentença em caso de
eventual descumprimento do acordo acima homologado, a teor do quanto lhes faculta o art. 515,
do CPC.

No mais, REVOGO o sigilo antes decretado para fins de que dê publicidade ao


mencionado termo, dado o interesse publico nele entabulado. DEFIRO ainda o pedido de
HABILITAÇÃO aviado pela Belª GUIOMAR SILVA CORREIA na qualidade de terceira
interessada. ANOTE-SE.

Resta, portanto, determinar o prosseguimento do feito, com a análise do


pedido de INSDISPONIBLIDADE dos BENS dos requeridos INSTITUTO BRASILEIRO EDUCAR
CONQUISTA-IBEC e POLIANA SANTOS DANTAS DE SOUSA formulado na exordial.

Pois bem. Como sabido, a Lei 14.230/2021, promoveu significativas mudanças


na lei 8.429/1992, que trata sobre a Improbidade Administrativa.

Com efeito, a nova lei estabeleceu novas regras e condições aos processos e
procedimentos que versa sobre os atos que atente contra a improbidade administrativa e suas
respectivas sanções, como no caso em análise, produzindo, em regra, seus efeitos de modo
imediato e geral.

Entre as inovações trazidos, tem se o instituto da indisponibilidade de bens


que, antes, para sua concessão, bastava a demonstração preliminar do fumus boni juris,
consistente tão somente em indícios de atos de improbidade administrativa, para que se pudesse
decretar a inalienabilidade dos bens do devedor, entendimento, inclusive, consolidado pela
jurisprudência dos tribunais superiores.

No entanto, com a vigência da referida lei, torna-se indispensável, além


do fumus boni juris, tem que se evidenciar o perigo de danos irreparável ou de risco ao resultado
útil do processo, nos termos do art. 16, § 3º, e ainda - e principalmente - da ocorrência dos atos
de improbidades devidamente descritos na petição inicial, os quais não se encontram presente na
espécie, a despeito dos argumentos do Ministério Público.

No caso dos autos, em que pese a existência de forte indícios de ilegalidade


do processo de dispensa de licitação e contratação do primeiro requerido - condutas
configuradoras, em tese, de ato de improbidade administrativa - não há provas de que os
demandados tenham causados quaisquer prejuízos direto aos cofres públicos, ainda que
alicerçado na apropriação dos valores arrecadados das inscrições do concurso público.

Ademais, exige-se ainda a referida lei que o pedido de indisponibilidade de


bens apenas será deferido, além das a demonstração no caso concreto de perigo de dano
irreparável ou de risco ao resultado útil do processo, desde que o juiz se convença da
probabilidade da ocorrência dos atos descritos na petição inicial com fundamento nos respectivos
elementos de instrução, após a oitiva do réu em 5 (cinco) dias.

Assim sendo, INDEFIRO A LIMINAR REQUERIDA, sem prejuízo de ser

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reapreciado após a defesa dos requeridos e a juntada de novas provas pelo Órgão
Ministerial.

CITEM-SE os Requeridos INSTITUTO BRASILEIRO EDUCAR CONQUISTA-


IBEC e POLIANA SANTOS DANTAS DE SOUSA para tomar conhecimento da presente
ação, e querendo, apresentar defesa, no prazo legal, sob pena de se presumirem
verdadeiros os fatos articulados na petição inicial.

Por fim, remetam-se os autos ao CEJUSC para designação de audiência de


conciliação (artigo 165 do NCPC), audiência que observará antecedência mínima de 30 dias,
devendo o réu ser citado com antecedência mínima de 20 dias da audiência designada (artigo
334 do NCPC).

Da carta de citação deverá constar que a audiência não se realizará se ambas


as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na composição consensual (artigo 334, §
4º, I do NCPC).

Por fim, fica, desde já, o banco réu intimado para regularizar o cadastro de
pessoa jurídica e seus procuradores na Plataforma de Comunicações Processuais (Domicílio
Eletrônico) do Poder Judiciário da Bahia (https://www.tjba.jus.br/citacaoIntimacao/), nos termos do
Decreto Judiciário 061/2021, sob pena de cadastramento compulsório.

Servirá a presente decisão como carta de citação e intimação (AR Digital)


devendo o Cartório observar o disposto no Decreto 532/2020.

Publique-se. Intimem-se.

POÇOES/BA, 14 de dezembro de 2022.

RICARDO FREDERICO CAMPOS

Juiz de Direito

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