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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO


COMARCA DE SÃO PAULO
FORO DAS EXECUÇÕES FISCAIS ESTADUAIS
VARA DAS EXECUÇÕES FISCAIS ESTADUAIS
Praça Almeida Jr. - Número: 72, Sala: 11 - Liberdade
CEP: 01510-010 - São Paulo - SP
Telefone: 3277 - 7920 - E-mail: spfiscestad@tjsp.jus.br

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/pg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 1501032-89.2021.8.26.0014 e código 51A2D8F.
DECISÃO

Processo nº: 1501032-89.2021.8.26.0014


Classe - Assunto Execução Fiscal - ITCD - Imposto de Transmissão Causa Mortis
Exequente: Fazenda Pública do Estado de São Paulo
Executado: Helio Moreira dos Santos Junior

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ANDRE RODRIGUES MENK, liberado nos autos em 11/02/2022 às 18:23 .
Juiz(a) de Direito: Dr(a). André Rodrigues Menk

Vistos.
Fls. 06/15: Cuida-se de exceção de pré-executividade apresentada pelo executado
alegando, em resumo, incompetência tributária do Estado de São Paulo para a cobrança do
ITCMD, em razão de o doador ser domiciliado em outro Estado. Juntou os documentos de fls.
16/19.
Devidamente intimada, a Fazenda Estadual se manifestou pelo não conhecimento
e, subsidiariamente, pela rejeição (fls. 23/36).
Às fls. 37, foi determinada a juntada do processo administrativo, o que foi
cumprido pela Fazenda Estadual às fls. 41/235.
Cientificado, o executado se manifestou às fls. 239/241.
Brevemente relatado. DECIDO.
CONHEÇO da exceção de pré-executividade, nos termos da Súmula 393, do
Colendo Superior Tribunal de Justiça: “ A exceção de pré-executividade é admissível na execução
fiscal relativamente às matérias conhecíveis de ofício que não demandem dilação probatória” .
Conforme se extrai da CDA (fls. 02/03) que instrui a petição inicial, cuidam-se os
autos de execução fiscal referente ao ITCMD decorrente de doação.
De acordo com o auto de infração e imposição de multa nº 4.087.052-2 (fls. 42/43),
o executado teria deixado de pagar o ITCMD no montante de R$ 120.106,61 (cento e vinte mil,
cento e seis reais e sessenta e um centavos), devido pelo recebimento de transferência patrimonial
(doação/sucessão) declarada em sua Declaração de Imposto de Renda Pessoa Física no ano-
calendário 2011.
Ainda de acordo com o auto de infração, o executado teria recebido, em
31/12/2011, o valor declarado de R$ 3.002.665,22, o que daria ensejo ao ITCMD ora cobrado de

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R$ 120.106,61 (alíquota de 4%).
Dispõe o artigo 155, I, § 1º, II, da Constituição Federal:

Art. 155. Compete aos Estados e ao Distrito Federal instituir impostos


sobre:

I - transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos;

(...)

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por ANDRE RODRIGUES MENK, liberado nos autos em 11/02/2022 às 18:23 .
§ 1º O imposto previsto no inciso I:

(...)
II - relativamente a bens móveis, títulos e créditos, compete ao Estado
onde se processar o inventário ou arrolamento, ou tiver domicílio o
doador, ou ao Distrito Federal; (g. n.)
Como se vê, na doação de bem móvel, como é o caso dos autos, a competência
para a instituição do respectivo ITCMD é do Estado de domicílio do doador.
Em razão disso, sustenta o executado que a Fazenda do Estado de São Paulo não
teria competência para exigir a exação no presente caso, vez que o doador, José Adelmario
Pinheiro Filho, teria domicílio no Estado da Bahia na época do fato gerador.
A fim de subsidiar o quanto arguido, o executado juntou cópia de parte da
declaração de imposto de renda do doador referente aos exercícios de 2011 (fls. 17) e 2016 (fls.
18/19), sendo que, em ambas, o endereço declinado é do município de Salvador-BA.
Pois bem.
Embora tais documentos demonstrem que, efetivamente, na época do fato gerador,
o domicílio tributário (artigo 127, do Código Tributário Nacional) do doador era no Estado da
Bahia, tal fato não se mostra suficiente para retirar a competência do Estado de São Paulo para a
instituição e cobrança do ITCMD no presente caso.
Isso porque, como o conceito de domicílio foi utilizado expressamente pela
Constituição Federal para a definição de competência, tem-se que a legislação tributária não pode
alterar sua definição, conteúdo, ou alcance, conforme se infere do artigo 110, do Código Tributário
Nacional, in verbis:
Art. 110. A lei tributária não pode alterar a definição, o conteúdo e o
alcance de institutos, conceitos e formas de direito privado, utilizados,
expressa ou implicitamente, pela Constituição Federal, pelas

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Constituições dos Estados, ou pelas Leis Orgânicas do Distrito Federal
ou dos Municípios, para definir ou limitar competências tributárias.
E os conceitos de domicílio tributário (artigo 127, do Código Tributário Nacional)
e de domicílio civil (artigos 70 a 78, do Código Civil) não são correspondentes.
Enquanto o artigo 127 e seu inciso I, do Código Tributário Nacional estabelecem
como domicílio tributário da pessoa natural, em primeiro lugar, o local assim eleito pelo
contribuinte e, somente na falta de eleição, a sua residência habitual, os artigos 70 e 71, do Código
Civil definem como domicílio da pessoa natural o lugar onde ela estabelece a sua residência com

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ânimo definitivo, admitindo, ainda, a pluralidade de domicílios.
Desse modo, a fim de corretamente se apurar a competência tributária para a
instituição do ITCMD no caso em apreço, deve-se analisar qual era o domicílio civil (artigos 70 e
71, do Código Civil) do doador na data do fato gerador.
Nesse mesmo sentido, reconhecendo a prevalência do conceito de domicílio fixado
no Código Civil para a fixação da competência referente ao ITCMD de doação sobre bens móveis,
segue a jurisprudência do E. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo:

APELAÇÃO/REMESSA NECESSÁRIA. Ação anulatória de débito fiscal.


ITCMD IMPOSTO SOBRE TRANSMISSÃO 'CAUSA MORTIS' E
DOAÇÃO DE QUAISQUER BENS OU DIREITOS. Auto de Infração e
Imposição de Multa AIIM. Doação de numerário. Sentença de primeiro
grau que julgou procedente o pedido para desconstituir a autuação. 1.
DIREITO TRIBUTÁRIO. Doação de numerário. Pretensa desconstituição
da autuação. Admissibilidade. O ITCMD IMPOSTO SOBRE
TRANSMISSÃO 'CAUSA MORTIS' E DOAÇÃO DE QUAISQUER BENS
OU DIREITOS -, imposto cuja competência constitucional foi atribuída
aos Estados (artigo 155, I, da Carta Magna), incide nas hipóteses em que
verificada a doação de dinheiro, cabendo o gravame ao Estado no qual
ostenta domicílio o doador. 1.1. Em se tratando de incidência do
ITCMD em decorrência de doação de numerário, e não obstante o
quanto reza o artigo 127, do Código Tributário Nacional, o domicílio do
doador a ser considerado para fins de verificação do Estado
destinatário da exação deve ser o domicílio civil, observando-se os
artigo 70 e 71, do Código Civil. 1.2. Cotejo da prova dos autos que

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permite verificar que em 2011, no qual a genitora do autor realizou as
controversas doações, tinha domicílio civil no Estado do Mato Grosso do
Sul, razão pela qual o ITCMD que incide nessas operações de doação
cabe mesmo ao Estado do Mato Grosso do Sul, sendo certo que o
requerente efetuou corretamente o recolhimento do ITCMD para aquele
Estado. 1.3. Desconstituição da autuação que é medida de rigor. 2.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. Valor dos honorários fixados que se
mostra vultoso para o caso. Redução da verba honorária ante a

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desproporção do quantum fixado no r. julgado singular. Fixação que
deve ser feita por equidade no caso, nos termos do § 8º, do artigo 85, da
lei adjetiva de 2015. Sentença reformada no ponto. 3. Sentença
minimamente reformada. Recurso de apelação não provido e remessa
necessária acolhida em parte. (TJSP; Apelação / Remessa Necessária
1054155-44.2018.8.26.0053; Relator (a): Oswaldo Luiz Palu; Órgão
Julgador: 9ª Câmara de Direito Público; Foro Central - Fazenda
Pública/Acidentes - 5ª Vara de Fazenda Pública; Data do Julgamento:
03/03/2020; Data de Registro: 03/03/2020) (g. n.)
Superada tal questão, observo que a análise detida dos autos evidencia que, no
curso do processo administrativo, o ora executado apresentou impugnação sustentando, justamente,
a incompetência do Estado de São Paulo para a cobrança do ITCMD pelos mesmos motivos
deduzidos na presente exceção (fls. 62/73).
Em um primeiro momento, a defesa administrativa foi acolhida (fls. 96/99),
reconhecendo-se a incompetência da Fazenda do Estado de São Paulo para a exação.
Em seguida, contudo, o feito foi convertido em diligência (fls. 103/106),
sobrevindo o parecer de fls. 109/113 corroborado pelos documentos de fls. 115/181, no qual se
constata que:
(i) em 31/12/2009 (dois anos antes do fato gerador referente ao ITCMD ora em
cobro), o doador José Adelmario Pinheiro Filho realizou duas doações ao ora executado, tendo
apresentado declaração de ITCMD indicando como domicílio endereço sito em São Paulo/SP
(fls. 115/116 e 119/120);
(ii) em pesquisa junto ao DETRAN (datadas de 27/09/2017), foram localizados
dois veículos em nome do doador no mesmo endereço declinado como domicílio pelo doador

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nas declarações de ITCMD referentes às doações de 2009 (fls. 179 e 181); e
(iii) em pesquisa realizada no Google, constatou-se que o doador é sócio de três
empresas, sendo duas delas sediadas em São Paulo/SP e uma em Salvador/BA (fls. 121/178).
Notificado no processo administrativo acerca de tais elementos (fls. 201/205), o
executado se manifestou às fls. 211/212, reiterando que o domicílio do doador, na época da doação,
era na Bahia, se baseando exclusivamente nas declarações de imposto de renda por ele
apresentadas.
Note-se, ademais, que, no curso desta execução fiscal, cientificado da juntada do

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processo administrativo, o executado se manifestou às fls. 239/241, nada mencionando acerca de
tais elementos, deixando de trazer qualquer outra comprovação que subsidiasse os argumentos
deduzidos.
Às fls. 220/227, foi julgado o recurso de ofício no processo administrativo,
reconhecendo-se o domicílio do doador no Estado de São Paulo e, por via de consequência,
restabelecendo a autuação fiscal.
Pois bem.
Conforme já assentado, os documentos apresentados pelo executado demonstram,
apenas, que o domicílio tributário (artigo 127, do Código Tributário Nacional) do doador era, de
fato, no Estado da Bahia, na época da doação, o que, contudo, não interfere na competência
tributária para a cobrança do ITCMD, vez que, conforme já assentado, para tanto, deve se analisar
o domicílio civil (artigos 70 e 71, do Código Civil) do doador.
E, com relação ao domicílio civil do doador, por sua vez, inexiste qualquer
comprovação, por parte do executado, a quem incumbia o ônus probatório, frise-se, de que ele se
situava em outra localidade que não no Estado de São Paulo.
Ao contrário, os elementos dos autos, em especial os colhidos no curso do processo
administrativo (fls. 115/181) indicam que, de fato, na época da doação, o domicílio civil do doador
era em São Paulo/SP.
Afinal, como já frisado, em 2009, apenas dois anos antes do fato gerador da exação
ora questionada, o doador José Adelmario Pinheiro Filho realizou duas doações ao ora executado,
tendo apresentado declaração de ITCMD indicando como domicílio endereço sito em São
Paulo/SP, mesmo endereço no qual foram localizados o registro de dois veículos em nome do
doador, conforme pesquisa no DETRAN datadas de 27/09/2017.
Tais elementos indicam que não houve, por parte do doador, alteração de domicílio

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civil em referido período, de modo que se concluiu que, na data do fato gerador do ITCMD ora em
cobro, o domicílio civil do doador era, igualmente, em São Paulo/SP.
Por fim, destaco que, nos termos do artigo 74, do Código Civil, tem-se que:
Art. 74. Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a intenção
manifesta de o mudar.
Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que declarar a pessoa
às municipalidades dos lugares, que deixa, e para onde vai, ou, se tais
declarações não fizer, da própria mudança, com as circunstâncias que a

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acompanharem.
No caso dos autos, conforme já destacado, inexiste elemento que demonstre que o
doador tenha transferido sua residência com a intenção manifesta de o mudar após as doações
realizadas em 2009, nas quais, como já asseverado, foi declarado como domicílio endereço situado
em São Paulo/SP.

Ante todo o exposto, portanto, REJEITO a exceção de pré-executividade.


Manifeste-se a Fazenda Estadual em termos de prosseguimento.
Intimem-se.

São Paulo, 03 de fevereiro de 2022.

DOCUMENTO ASSINADO DIGITALMENTE NOS TERMOS DA LEI 11.419/2006, CONFORME


IMPRESSÃO À MARGEM DIREITA

Processo nº 1501032-89.2021.8.26.0014 - p. 6

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