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PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2022.0000327072

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 2049717-78.2022.8.26.0000 e código 19DB0310.
ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo de Instrumento nº


2049717-78.2022.8.26.0000, da Comarca de São Paulo, em que é agravante HÉLIO
MOREIRA DOS SANTOS JUNIOR, é agravado ESTADO DE SÃO PAULO.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 4ª Câmara de Direito


Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram
provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra
este acórdão.

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por PAULO BARCELLOS GATTI, liberado nos autos em 03/05/2022 às 15:10 .
O julgamento teve a participação dos Desembargadores RICARDO
FEITOSA (Presidente sem voto), ANA LIARTE E FERREIRA RODRIGUES.

São Paulo, 3 de maio de 2022.

PAULO BARCELLOS GATTI


Relator(a)
Assinatura Eletrônica
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4ª Câmara

Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 2049717-78.2022.8.26.0000 e código 19DB0310.
AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 2049717-78.2022.8.26.0000
AGRAVANTE: HÉLIO MOREIRA DOS SANTOS JUNIOR
AGRAVADA: FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO
ORIGEM: VARA DAS EXECUÇÕES FISCAIS ESTADUAIS DA
COMARCA DE SÃO PAULO
VOTO Nº 21.750

AGRAVO DE INSTRUMENTO ITCMD - EXECUÇÃO

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por PAULO BARCELLOS GATTI, liberado nos autos em 03/05/2022 às 15:10 .
FISCAL - DOAÇÃO - EXCEÇÃO DE NÃO
EXECUTIVIDADE DOMICÍLIO TRIBUTÁRIO
SUJEITO ATIVO DA OBRIGAÇÃO Exceção de não
executividade oposta pelo executado para fins de reconhecer
o Estado da Bahia como o único competente para ajuizar
execução fiscal, de modo que pleiteou a extinção do feito
com fundamento na incompetência tributária do Fisco
Paulista - inadmissibilidade - decisão agravada que rejeitou
a exceção de não executividade, sob o fundamento de que o
Estado de São Paulo é competente para cobrança do
ITCMD, pois, à época da doação, o domicílio civil do
doador era em São Paulo o domicílio tributário para fins
de determinar a competência para a exação do ITCMD
corresponde ao local da residência habitual do doador
(domicílio civil) na data do fato gerador - inteligência do
art. 155, I, §1º, II, da CF cc. art. 3º, §2º, da LE nº
10.705/2000 e art. 127, I, do CTN cc. arts. 70 e 71 do CC
sendo o caso de multiplicidade de residências e exercício de
profissão, o imposto será devido no endereço constante da
Declaração do Imposto de Renda (item 2, do §2º, do art. 4º,
da mesma legislação estadual) - tributação que,
aparentemente, mostra-se devida ao Estado de São Paulo,
visto que este ente da Federação foi referido pelo próprio
doador como o de sua residência na declaração de duas
doações realizadas ao ora executado, bem como foram
localizados 02 veículos em nome do doador no mesmo
endereço indicado como domicílio pelo doador decisão
mantida. Recurso desprovido.

Vistos.

Trata-se de agravo de instrumento


Agravo de Instrumento nº 2049717-78.2022.8.26.0000 -Voto nº 21750 2
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interposto por HÉLIO MOREIRA DOS SANTOS JUNIOR tirado


contra a r. decisão interlocutória proferida pelo MM.

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Juízo “a quo” (fls. 242/247) que, nos autos da “execução
fiscal” ajuizada pela agravada, FAZENDA DO ESTADO DE SÃO
PAULO, rejeitou a exceção de não executividade oposta
pelo executado-agravante, sob o fundamento de que o
Estado de São Paulo é competente para cobrança do ITCMD,
pois, à época da doação, o domicílio civil do doador era
em São Paulo.

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Em suas razões (fls. 01/14), o executado
sustentou que a r. decisão interlocutória deve ser
reformada, pois o ente Federado competente para proceder
à exação tributária do ITCMD seria o Estado da Bahia,
local do domicílio tributário do doador, e não o Estado
de São Paulo. Acrescentou que o doador divide seu
domicílio e negócios entre o Estado da Bahia e o de São
Paulo. Porém, ao declarar seu imposto de renda referente
ao período da doação, elegeu como seu domicílio
tributário o Estado da Bahia. Requereu, assim, o
provimento do recurso, para que fosse reconhecida a
ilegitimidade ativa do Fisco Paulista para ajuizamento de
execução fiscal, com a consequente extinção do feito.

Preenchidos os requisitos de
admissibilidade recursal, sem que haja necessidade de
requisição de informações ao Juízo singular, o agravo
comporta julgamento direto.

Este é, em síntese, o relatório.

VOTO

Agravo de Instrumento nº 2049717-78.2022.8.26.0000 -Voto nº 21750 3


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Insurge o agravante contra a r. decisão
interlocutória proferida pelo Juízo “a quo” que rejeitou
a exceção de não executividade oposta pelo executado-
agravante, sob o fundamento de que o Estado de São Paulo
é competente para cobrança do ITCMD, pois, à época da
doação, o domicílio civil do doador era em São Paulo.

Porém, pelo que se colhe dos autos, o

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recurso do executado não comporta provimento.

In casu, a FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO


promoveu “execução fiscal” em face de HÉLIO MOREIRA DOS
SANTOS JUNIOR, objetivando cobrar débito de ITCMD não
adimplido referente ao ano de 2011, no valor de
R$444.670,70, já englobando juros, multa e correção
monetária, com base na CDA nº 1.307.898.245 (fls. 01/03 -
processo principal).

Segundo consta, a exação procedida pela


autoridade tributária paulista foi ilegal, considerando-
se o seu domicílio para fins de recolhimento do ITCMD, na
forma do art. 127, I, CTN cc. arts. 70 e 71 do CC, era o
endereço constante no Estado da Bahia (fls. 11 cópia da
declaração IRPF).

Nesta linha, de acordo com o doador, o seu


domicílio tributário corresponderia, em verdade, ao
Estado da Bahia e não ao Estado de São Paulo, tanto que
alega ter cadastrado o endereço “rua avenida Oceânica, nº
1545, apto 204, bairro da Barra, Salvador-BA”, relativo
ao exercício de 2011, na sua declaração de IRPF (fls.
11).

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Aduziu, portanto, que, o simples fato de o


doador possuir múltiplos domicílios não confere direito a

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cada um dos entes federativos quanto à instituição do
imposto aqui debatido, sendo certo que a competência será
daquele Estado no qual restar configurado o domicílio
tributário do doador, o que, no caso em tela, corresponde
unicamente ao Estado da Bahia.

Nesta linha, por considerar ilegal a


postura adotada pela autoridade tributária paulista, opôs

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exceção de não executividade (fls. 06/15 - processo
principal), que, porém, foi rejeitada pelo magistrado
singular (fls. 242/247 - processo principal), dando azo à
interposição do presente recurso pelo executado.

Pois bem.

O cerne da questão sub judice é saber a


definição do correto domicílio tributário do doador como
forma de se averiguar a quem se atribui a legítima
competência para exação do ITCMD referente a doação
realizada em 31.12.2011, ainda que o sujeito ativo da
obrigação seja o donatário (art. 7º, III, da LE nº
10.705/20001).

Ora, o domicílio tributário para fins de


recolhimento do ITCMD, seguindo a inteligência do art.
155, I, §1º, II, da CF cc. art. 3º, §2º, da LE nº
10.705/2000 e art. 127, I, do CTN cc. arts. 70 e 71 do
CC, corresponde a:

Constituição Federal
Art. 155 - Compete aos Estados e ao Distrito
Federal instituir impostos sobre:
1 Artigo 7º - São contribuintes do imposto: (...) III - na doação: o
donatário;
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I - transmissão causa mortis e doação, de


quaisquer bens ou direitos;

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(...)
1º. O imposto previsto no inciso I:
(...)
II - relativamente a bens móveis, títulos e
créditos, compete ao Estado onde se processar
o inventário ou arrolamento, ou tiver
domicílio o doador, ou ao Distrito Federal;

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Lei Estadual nº 10.705/2000
Art. 3º. Também sujeita-se ao imposto a
transmissão de:
I - qualquer titulo ou direito representativo
do patrimônio ou capital de sociedade e
companhia, tais como ação, quota, quinhão,
participação civil ou comercial, nacional ou
estrangeira, bem como, direito societário,
debênture, dividendo e crédito de qualquer
natureza;
II - dinheiro, haver monetário em moeda
nacional ou estrangeira e titulo que o
represente, depósito bancário e crédito em
conta corrente, depósito em caderneta de
poupança e a prazo fixo, quota ou participação
em fundo mútuo de ações, de renda fixa, de
curto prazo, e qualquer outra aplicação
financeira e de risco, seja qual for o prazo e
a forma de garantia;
III - bem incorpóreo em geral, inclusive
título e crédito que o represente, qualquer
direito ou ação que tenha de ser exercido e
direitos autorais.
§ 1º - A transmissão de propriedade ou domínio
útil de bem imóvel e de direito a ele
relativo, situado no Estado, sujeita-se ao
imposto, ainda que o respectivo inventário ou
arrolamento seja processado em outro Estado,
no Distrito Federal ou no exterior; e, no caso
de doação, ainda que doador, donatário ou
ambos não tenham domicílio ou residência neste

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Estado.
§ 2º - O bem móvel, o título e o direito em

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geral, inclusive os que se encontrem em outro
Estado ou no Distrito Federal, também ficam
sujeitos ao imposto de que trata esta lei, no
caso de o inventário ou arrolamento processar-
se neste Estado ou nele tiver domicílio o
doador.

Código Tributário Nacional

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Art. 127. Na falta de eleição, pelo
contribuinte ou responsável, de domicílio
tributário, na forma da legislação aplicável,
considera-se como tal:
I - quanto às pessoas naturais, a sua
residência habitual, ou, sendo esta incerta ou
desconhecida, o centro habitual de sua
atividade;
II - quanto às pessoas jurídicas de direito
privado ou às firmas individuais, o lugar da
sua sede, ou, em relação aos atos ou fatos que
derem origem à obrigação, o de cada
estabelecimento;
III - quanto às pessoas jurídicas de direito
público, qualquer de suas repartições no
território da entidade tributante.
§ 1º Quando não couber a aplicação das regras
fixadas em qualquer dos incisos deste artigo,
considerar-se-á como domicílio tributário do
contribuinte ou responsável o lugar da
situação dos bens ou da ocorrência dos atos ou
fatos que deram origem à obrigação.
§ 2º A autoridade administrativa pode recusar
o domicílio eleito, quando impossibilite ou
dificulte a arrecadação ou a fiscalização do
tributo, aplicando-se então a regra do
parágrafo anterior.

Código Civil

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Art.70. O domicílio da pessoa natural é o


lugar onde ela estabelece a sua residência com

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ânimo definitivo.

Art. 71. Se, porém, a pessoa natural tiver


diversas residências, onde, alternadamente,
viva, considerar-se-á domicílio seu qualquer
delas.

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Conforme se depreende, a regra para
determinação do domicílio tributário, para o CTN, é o
domicílio eleito pelo contribuinte e, somente se não
eleito, nos casos das pessoas naturais, vincula-se
diretamente à residência habitual do contribuinte-pessoa
física.

Não obstante esta situação ordinária, a


própria legislação traz outras balizas excepcionais, na
hipótese de a regra principal se mostrar insuficiente
para definição do domicílio tributário. Assim ocorre se:

A) FOR DESCONHECIDA OU INCERTA A RESIDÊNCIA HABITUAL DO


CONTRIBUINTE: Prevalece, então, o centro habitual de
sua atividade (art. 127, I, segunda parte, CTN).

B) NÃO COUBER A APLICAÇÃO DA REGRA: Prevalece o lugar da


situação dos bens ou da ocorrência dos atos ou fatos
que deram origem à obrigação (art. 127, §1º, CTN).

C) AUTORIDADE ADMINISTRATIVA PODE RECUSAR O DOMICÍLIO


ELEITO: Prevalece o lugar da situação dos bens ou da
ocorrência dos atos ou fatos que deram origem à
obrigação (art. 127, §§1º e 2º, CTN).

Pontuadas estas premissas normativas,

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extrai-se da situação concreta narrada nos autos que o


doador: (i) efetuou uma transferência patrimonial

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(doação) em 31.12.2011 para o executado (donatário) e
registrada em sua Declaração de IRPF no ano-calendário
2011; e (ii) indicou na mesma Declaração de IRPF como sua
residência o endereço constante à rua avenida Oceânica,
nº 1545, apto 204, bairro da Barra, Salvador-BA.

Com isso, a priori, de rigor reconhecer

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como competente para cobrança de débito de ITCMD o Estado
da Bahia, por ser o domicílio eleito pelo doador.

Ocorre que, conforme antecipado, o próprio


doador sugere possuir diversas residências, sem
esclarecer qual delas seria a habitual. E, sendo assim, o
CTN determina que se atente para o local em que o
indivíduo utiliza, habitualmente, para o exercício de
suas atividades. Entretanto, igualmente não há notícia
deste local de exercício habitual da atividade do doador.

Resta, pois, a “regra” de exceção prevista


no art. 127, §§1º e 2º do CTN, que preleciona ser o
domicílio tributário do contribuinte com multiplicidade
de residências e de exercício da atividade o lugar da
ocorrência do fato gerador, ou seja, o real domicílio
civil do doador na data da transferência patrimonial.

Cabível, pois, a aplicação da regra do


domicílio civil prevista nos artigos 70 e 71 do Código
Civil.

Com efeito, na hipótese sub examine, após


análise dos documentos juntados aos autos, inclusive os

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colacionados quando da conversão do feito em diligência


pelo Juízo singular (fls. 103/106 - processo principal),

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observa-se que:

em 31.12.2009 (exatos dois anos antes do fato gerador


referente ao ITCMD ora cobrado), o doador JOSÉ
ADELMARIO PINHEIRO FILHO realizou duas doações ao
ora executado, tendo apresentado declaração de
ITCMD indicando como domicílio o endereço na Rua
Roberto Caldas Kerr, n° 151, 5º andar, Alto de

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Pinheiros, São Paulo/SP (fls. 115/116 e 119/120 -
processo principal);

em pesquisa realizada junto ao DETRAN (datadas de


27.09.2017), foram localizados dois veículos em
nome do doador no mesmo endereço declinado como
domicílio pelo doador nas declarações de ITCMD
referentes às doações de 2009 (fls. 179 e 181 -
processo principal); e

em pesquisa simples realizada no site Google, constatou-se


que o doador é sócio de três empresas, sendo duas
delas sediadas em São Paulo/SP e uma em Salvador/BA
(fls. 121/178 - processo principal).

Ora, no caso dos autos, inexiste elemento


que demonstre que o doador tenha transferido sua
residência com a intenção manifesta de o mudar (nos
termos do art. 74 do CC2) após as doações realizadas em
2009, nas quais, como já asseverado, foi declarado como
domicílio endereço situado em São Paulo/SP.
2
Art. 74. Muda-se o domicílio, transferindo a residência, com a
intenção manifesta de o mudar.
Parágrafo único. A prova da intenção resultará do que declarar a
pessoa às municipalidades dos lugares, que deixa, e para onde vai,
ou, se tais declarações não fizer, da própria mudança, com as
circunstâncias que a acompanharem.
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Em contrapartida, quando da sua


manifestação no processo administrativo, o executado

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apenas reiterou que o domicílio do doador, à época da
transferência patrimonial, era no Estado da Bahia,
tomando por base exclusivamente as declarações de IRPF
apresentadas à Receita Federal.

Com efeito, era ônus probatório do


executado demonstrar qual o real domicílio do doador à
época da doação, comprovando que estava localizado em

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outro lugar que não no Estado de São Paulo, mas não o
fez.

Na verdade, frise-se, os documentos


juntados aos autos, com destaque aos juntados no curso do
processo administrativo (fls. 115/181) indicam que, de
fato, na época do fato gerador (doação), o domicílio
civil do doador era em São Paulo-SP.

Este é o entendimento que tem sido adotado


pelas Câmaras integrantes da Seção de Direito Público
deste Tribunal de Justiça em recentes precedentes,
análogos à hipótese sub judice.

“APELAÇÃO CÍVEL ITCMD Ação anulatória de


débito fiscal Pretensão de anulação de AIIM
- Doação Sentença de procedência decretada
em primeiro grau Pretensão de reforma
Impossibilidade - Domicílio habitual
comprovado em outro Estado (Paraná) -
Inteligência dos arts. 155, inc. I e § 1º, da
CF, c.c. 127, do CTN e 71, do Código Civil -
Ilegitimidade do Estado de São Paulo para
cobrança do tributo Precedentes - Honorários
advocatícios Fixação por equidade, nos
termos do § 8º, do art. 85, do nCPC
Possibilidade - Elevado valor da causa que
resultará em honorários incompatíveis com o
Agravo de Instrumento nº 2049717-78.2022.8.26.0000 -Voto nº 21750 11
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trabalho desenvolvido no processo Sentença


mantida - Recursos desprovidos.” (TJSP;

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Apelação Cível 1002873-98.2017.8.26.0053;
Relator (a): Silvia Meirelles; Órgão Julgador:
6ª Câmara de Direito Público; Foro Central -
Fazenda Pública/Acidentes - 9ª Vara de Fazenda
Pública; Data do Julgamento: 23/08/2021; Data
de Registro: 30/08/2021)

“APELAÇÃO/REMESSA NECESSÁRIA. Ação anulatória


de débito fiscal. ITCMD IMPOSTO SOBRE

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TRANSMISSÃO 'CAUSA MORTIS' E DOAÇÃO DE
QUAISQUER BENS OU DIREITOS. Auto de Infração e
Imposição de Multa AIIM. Doação de
numerário. Sentença de primeiro grau que
julgou procedente o pedido para desconstituir
a autuação. 1. DIREITO TRIBUTÁRIO. Doação de
numerário. Pretensa desconstituição da
autuação. Admissibilidade. O ITCMD IMPOSTO
SOBRE TRANSMISSÃO 'CAUSA MORTIS' E DOAÇÃO DE
QUAISQUER BENS OU DIREITOS -, imposto cuja
competência constitucional foi atribuída aos
Estados (artigo 155, I, da Carta Magna),
incide nas hipóteses em que verificada a
doação de dinheiro, cabendo o gravame ao
Estado no qual ostenta domicílio o doador.
1.1. Em se tratando de incidência do ITCMD em
decorrência de doação de numerário, e não
obstante o quanto reza o artigo 127, do Código
Tributário Nacional, o domicílio do doador a
ser considerado para fins de verificação do
Estado destinatário da exação deve ser o
domicílio civil, observando-se os artigos 70 e
71, do Código Civil. 1.2. Cotejo da prova dos
autos que permite verificar que em 2011, no
qual a genitora do autor realizou as
controversas doações, tinha domicílio civil no
Estado do Mato Grosso do Sul, razão pela qual
o ITCMD que incide nessas operações de doação
cabe mesmo ao Estado do Mato Grosso do Sul,
sendo certo que o requerente efetuou
corretamente o recolhimento do ITCMD para
aquele Estado. 1.3. Desconstituição da

Agravo de Instrumento nº 2049717-78.2022.8.26.0000 -Voto nº 21750 12


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autuação que é medida de rigor. 2. HONORÁRIOS


ADVOCATÍCIOS. Valor dos honorários fixados que

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se mostra vultoso para o caso. Redução da
verba honorária ante a desproporção do quantum
fixado no r. julgado singular. Fixação que
deve ser feita por equidade no caso, nos
termos do § 8º, do artigo 85, da lei adjetiva
de 2015. Sentença reformada no ponto. 3.
Sentença minimamente reformada. Recurso de
apelação não provido e remessa necessária
acolhida em parte.” (TJSP; Apelação/Remessa
Necessária 1054155-44.2018.8.26.0053; Relator

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(a): Oswaldo Luiz Palu; Órgão Julgador: 9ª
Câmara de Direito Público; Foro Central -
Fazenda Pública/Acidentes - 5ª Vara de Fazenda
Pública; Data do Julgamento: 03/03/2020; Data
de Registro: 03/03/2020)

Portanto, correta a postura adotada pelo


Fisco Paulista ao atrair para si a competência para
exação do ITCMD, tendo por fato gerador a doação
realizada em 31.12.2011 pelo doador com mais de uma
residência e local de execução de suas atividades.

Em suma, nos termos da fundamentação, de


rigor a rejeição da exceção de não executividade
apresentada pelo executado, devendo ser mantida a r.
decisão do Juízo singular, tal como lançada.

Ante o exposto, NEGO PROVIMENTO ao agravo


de instrumento interposto pelo executado, de modo a
manter a r. decisão interlocutória proferida pelo Juízo a
quo, por seus próprios e jurídicos fundamentos.

PAULO BARCELLOS GATTI


Agravo de Instrumento nº 2049717-78.2022.8.26.0000 -Voto nº 21750 13
RELATOR
PODER JUDICIÁRIO

Agravo de Instrumento nº 2049717-78.2022.8.26.0000 -Voto nº 21750


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

14
fls. 59

Este documento é cópia do original, assinado digitalmente por PAULO BARCELLOS GATTI, liberado nos autos em 03/05/2022 às 15:10 .
Para conferir o original, acesse o site https://esaj.tjsp.jus.br/pastadigital/sg/abrirConferenciaDocumento.do, informe o processo 2049717-78.2022.8.26.0000 e código 19DB0310.

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