O Tribunal de Justiça concedeu parcialmente o recurso de apelação. Foi determinada a dissolução parcial da sociedade, mas excluindo a prestação de contas devido à inatividade da empresa desde 2001 e ausência de patrimônio. Cada sócio deverá responder pelas dívidas existentes na proporção de sua participação no capital social, observando a responsabilidade solidária prevista em lei.
O Tribunal de Justiça concedeu parcialmente o recurso de apelação. Foi determinada a dissolução parcial da sociedade, mas excluindo a prestação de contas devido à inatividade da empresa desde 2001 e ausência de patrimônio. Cada sócio deverá responder pelas dívidas existentes na proporção de sua participação no capital social, observando a responsabilidade solidária prevista em lei.
O Tribunal de Justiça concedeu parcialmente o recurso de apelação. Foi determinada a dissolução parcial da sociedade, mas excluindo a prestação de contas devido à inatividade da empresa desde 2001 e ausência de patrimônio. Cada sócio deverá responder pelas dívidas existentes na proporção de sua participação no capital social, observando a responsabilidade solidária prevista em lei.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº
0103422-58.2010.8.26.0222, da Comarca de Guariba, em que é apelante NELSON VALENTIN BARANDA, é apelado ROBERTO DA SILVA.
ACORDAM, em 2ª Câmara Reservada de Direito Empresarial do Tribunal
de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento em parte ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores RICARDO
NEGRÃO (Presidente sem voto), SÉRGIO SHIMURA E MAURÍCIO PESSOA.
São Paulo, 18 de outubro de 2022
NATAN ZELINSCHI DE ARRUDA
RELATOR Assinatura Eletrônica TRIBUNAL DE JUSTIÇA PODER JUDICIÁRIO São Paulo
Apelação Cível n.º 0.103.422-58.2010.8.26.0222
Apelante: NELSON VALENTIN BARANDA Apelado: ROBERTO DA SILVA Comarca: GUARIBA
Voto n.º 52.007
Dissolução parcial de sociedade, cumulada com apuração de haveres. Empresa que se encontra inativa desde 2001. Réus ressaltaram inexistência de bens. Número elevadíssimo de demandas em que a empresa figura no polo passivo. Dissolução parcial em condições de sobressair, haja vista o direito potestativo do autor, porém, a responsabilidade pelas dívidas existentes até então, na proporção de suas cotas sociais, deve prevalecer, inclusive no que corresponde ao disposto na obrigação solidária expressa no artigo 1.023 do Código Civil. Prestação de contas se apresenta inócua, pois o próprio autor reconhece a ausência de bens e a inatividade da empresa desde 2001, ou seja, há 21 anos. Formalismo exacerbado não pode ser levado em consideração. Apelo provido em parte.
1. Trata-se de apelação interposta tempestivamente, com
base na r. sentença de fls. 415/421, que julgou procedente ação de dissolução parcial de sociedade, cumulada com apuração de haveres e prestação de
Alega o apelante que a sentença merece reforma, pois a
empresa está com as suas atividades paralisadas há mais de oito anos, conforme propositura da ação em junho de 2010, salientando que a paralisação ocorre desde novembro de 2001. Afirma que a empresa possui diversos débitos de natureza trabalhista, tributária e cível, sendo que em alguns casos já foram realizados acordos, com os pagamentos, inclusive com a montadora Volkswagen, da qual a empresa era concessionária de veículos. Expõe que nenhum dos sócios se retirou da empresa em razão da existência dos débitos e processos pendentes, o que impossibilita o encerramento da sociedade perante os órgãos Jucesp, SEFAZ e SRF, relacionando várias ações, apontando o número do processo e o juízo em que tramita. Argumenta que o autor tenta, por meio desta ação, esquivar-se das responsabilidades empresariais, tanto que os sócios não se comunicam desde novembro de 2001, enquanto que a ação fora proposta em 2010, e a retirada de qualquer sócio não implica na dissolução da sociedade, conforme cláusula 13 do contrato social. Menciona que, mesmo se admitindo a retirada do autor do quadro societário e que responda pelas dívidas pelo período de dois anos, o fato gerador ocorreu na época em que o autor era sócio da empresa, devendo responder pelos débitos na proporção de sua participação societária, destacando, ainda, não haver bens a partilhar, mas somente dívidas. Reforça que não há que se falar em prestação de contas, já que a paralisação das atividades foi motivada por problema de natureza financeira, ressaltando, inclusive, a prescrição decenal. Requer, afinal, o provimento do recurso, para que a ação seja julgada improcedente.
O recurso foi contra-arrazoado, rebatendo integralmente
a pretensão do apelante, fls. 452/459.
É o relatório.
2. A r. sentença apelada merece reforma em parte.
O caso em exame envolve dissolução parcial de
sociedade.
O autor tem o direito potestativo de não mais permanecer
como sócio da empresa, não havendo, assim, óbice para tanto artigo 1.029 do CC.
Por outro lado, o caso em exame apresenta situação
excepcional, pois desde 2001 a empresa não mais exerce regular atividade, observando-se o elevado número de demandas em que figura como ré, como constou das razões do recurso, fls. 427/441, o que não configura óbice para a pretensa retirada do autor do quadro societário.
Ademais, o autor tem obrigação solidária em relação à
fração ideal de seu capital na empresa, não somente pelos dois anos, conforme disposto no artigo 1.003, parágrafo único, mas também a responsabilidade solidária caracterizada no artigo 1.023, ambos do Código Civil, sendo irrelevante o fato da apuração de haveres só envolver dívidas.
De outra banda, a pretensa prestação de contas não tem
consistência, mesmo porque, nas razões do recurso, fora ressaltada a ausência
de bens, e as contrarrazões não impugnaram mencionado tópico, consequentemente, reconhecido.
Deste modo, a apuração de haveres se limita às dívidas
existentes, que deverão ser objeto de liquidação de sentença, impondo a cada um dos sócios a obrigação correspondente, na proporção de sua participação no capital social e, ainda, observando-se o disposto no artigo 1.023 do Código Civil, ante as inúmeras reclamações trabalhistas mencionadas também nas razões do recurso e que não tiveram nenhuma impugnação específica nas contrarrazões respectivas.
Oportunas as transcrições jurisprudenciais:
“Ação de dissolução parcial de sociedade limitada.
Sentença de procedência. Apelação do réu. Art. 1.029 do Código Civil. Direito potestativo do sócio da sociedade por prazo indeterminado. Doutrina de Marcelo Fortes Barbosa. Julgado do STJ: "O direito de retirada imotivada de sócio de sociedade limitada por tempo indeterminado constitui direito potestativo à luz dos princípios da autonomia da vontade e da liberdade de associação" (REsp 1.403.947, Ricardo Villas Bôas Cueva). Jurisprudência das Câmaras de Direito Empresarial deste Tribunal. Manutenção da sentença por seus próprios fundamentos (art. 252 do Regimento Interno deste Tribunal de Justiça). Apelação a que se
1.022.302-02.2020.8.26.0100, Relator Desembargador Cesar Ciampolini, 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial, J.: 25-05-2022)
“Agravo de Instrumento. Ação de dissolução parcial de
sociedade. Pedido liminar para imediata exclusão do sócio agravante e averbação perante a Jucesp. Tutela de urgência deferida apenas para a averbação da ação na Jucesp. Irresignação do autor. Requisitos necessários para concessão da liminar presentes. Direito potestativo do sócio, ressalvando-se direitos de terceiros. Decisão reformada. Tutela provisória de evidência deferida. Recurso provido, com observação.” (Agravo de Instrumento nº 2.105.641-45.2020.8.26.0000, Relator Desembargador Alexandre Lazzarini, 1ª Câmara Reservada de Direito Empresarial, j.: 11-11-2020)
Assim, dá-se provimento em parte ao apelo para que a
dissolução parcial da sociedade ocorra, contudo, excluída a prestação de contas, uma vez que o próprio autor ressaltara que a empresa se encontra inativa desde 2001, e a ação fora proposta em 2010, bem como a ausência de patrimônio líquido, portanto, a situação fática não proporciona embasamento para que referido item sobressaia.
Finalmente, em decorrência do desfecho da demanda, a
sucumbência permanece inalterada, haja vista que o provimento em parte