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Apelação Cível Nº 1.0000.20.

058459-7/001

<CABBCAADDAABCCBAADDADACBABADACACADBAADDADAAAD>
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ANULATÓRIA DE CONTRATO. VÍCIO
DE SENTENÇA ULTRA PETITA. PRELIMINAR ACOLHIDA. DECOTE DA
PARTE EXORBITANTE. CONTRATAÇÃO MEDIANTE ERRO. FRAUDE
PRATICADA POR CORRESPONDENTE BANCÁRIO. NULIDADE DO
CONTRATO. REPETIÇÃO DO INDÉBITO EM DOBRO. MÁ-FÉ.
COMPROVAÇÃO. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO NÃO PROVIDO.
- Ocorre julgamento ultra petita quando a sentença decide além da
pretensão inicial, pelo que deve ser decotado do julgado matéria não
objeto do pedido inicial. Preliminar acolhida.
– O Código de Defesa do Consumidor é aplicável aos contratos
bancários.
– A Instituição financeira que disponibiliza crédito no mercado de
consumo e que, para viabilizar sua atividade e aumentar seus lucros,
outorga a empresas terceirizadas (correspondentes bancários)
permissão para captar clientes, atuar em seu nome e sob sua bandeira,
incute no consumidor a impressão de estar contratando com o próprio
Banco, não podendo eximir-se de responder pelos danos e riscos
decorrentes da atividade, pois se trata de responsabilidade objetiva e
solidária, nos termos do CDC.
- Comprovado que a contratação foi celebrada pelo Autor mediante vício
de consentimento, torna-se imperiosa a declaração de nulidade da
avença.
– Para a restituição em dobro, imprescindível se conjuguem dois
elementos, o pagamento indevido pelo consumidor e a má-fé do credor.
Comprovada a má-fé do correspondente bancário na celebração do
contrato, impõe-se a restituição em dobro das importâncias
indevidamente pagas pelo consumidor.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0000.20.058459-7/001 - COMARCA DE CONSELHEIRO LAFAIETE - APELANTE(S): BANCO


ITAU CONSIGNADO SA - APELADO(A)(S): MARIA ANGELICA FERREIRA HERDEIRO(A)(S) DE EMÍDIO JOSÉ
FERREIRA NETO, LUCILENE APARECIDA FERREIRA VALOIS HERDEIRO(A)(S) DE EMÍDIO JOSÉ FERREIRA NETO,
MARIA GERALDA DO NASCIMENTO FERREIRA HERDEIRO(A)(S) DE EMÍDIO JOSÉ FERREIRA NETO, LUCIANE
CRISTINA FERREIRA DA SILVA HERDEIRO(A)(S) DE EMÍDIO JOSÉ FERREIRA NETO

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ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 16ª CÂMARA CÍVEL do


Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da
ata dos julgamentos, em ACOLHER A PRELIMINAR DE NULIDADE
DA SENTENÇA POR VÍCIO ULTRA PETITA E, NO MÉRITO, NEGAR
PROVIMENTO AO RECURSO.

DES. JOSÉ MARCOS RODRIGUES VIEIRA


RELATOR.

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DES. JOSÉ MARCOS RODRIGUES VIEIRA (RELATOR)

VOTO

Trata-se de Apelação Cível interposta da sentença trasladada


no DE-91 que, nos autos da Ação Anulatória ajuizada por Maria
Angélica Ferreira, Lucilene Aparecida Ferreira, Maria Geralda do
Nascimento Ferreira e Luciane Cristina Ferreira da Silva todas
herdeiras de Emídio José Ferreira Neto, falecido no curso da lide,
contra o Banco Itaú Consignado S.A., julgou procedentes os pedidos
iniciais, para declarar a nulidade do contrato de empréstimo sub judice
e condenar o Réu ao pagamento de indenização por danos morais, no
valor de R$ 10.000,00.
Inconformado, o Réu interpôs Apelação (DE-94), arguindo
preliminar de nulidade da sentença por vício extra petita, sob o
fundamento de que não há na inicial pedido de indenização por danos
morais, mas apenas de anulação do negócio jurídico e a restituição em
dobro dos valores indevidamente descontados de seu benefício.
No mérito, afirma que não pode ser responsabilizado por
eventual erro cometido pelo Autor, falecido no curso da lide,
ressaltando que foram os agentes da empresa Resolve Empréstimos
que ludibriaram o consumidor.
Discorre sobre a culpa exclusiva da vítima, que
espontaneamente contraiu a obrigação e tinha total conhecimento dos
termos do contrato que foi assinado sem qualquer vício de vontade.
Insurge-se contra a restituição em dobro dos valores
descontados do valor do benefício percebido pelo falecido Autor,
Emídio José Ferreira Neto, ressaltando não ter agido de má-fé.

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Com base no princípio da eventualidade, caso não seja acolhida


a preliminar de nulidade da sentença, assevera não ser devida
indenização por danos morais.
Pugna pelo provimento do recurso.
Contrarrazões trasladadas no DE-119.
É o Relatório. Passo a decidir.
Conheço do recurso, presentes os pressupostos de
admissibilidade.

PRELIMINAR - SENTENÇA EXTRA PETITA

Como relatado, a Apelante argui preliminar de sentença extra


petita, sob a alegação de que, não obstante a ausência na inicial de
pedido de indenização por danos morais, o MM. Juiz a quo impos tal
condenação na deferiu tal benesse na sentença apelada.
Neste passo, apesar de nominar a preliminar suscitada de
julgamento extra petita, verifica-se que a Ré, na verdade, insurgiu-se
contra o decisum por ter concedido ao Autor mais do que postulado na
peça inicial. Data venia, decisão que vai além do que foi pretendido
pela parte caracteriza vício ultra petita, o que, contudo, não interfere na
apreciação da preliminar arguida, já que se trata de simples erro de
nominação, ou seja, irregularidade plenamente sanável.
O art. 141 do CPC dispõe que o juiz decidirá o mérito nos limites
propostos pelas partes, sendo-lhe defeso conhecer de questões não
suscitadas a cujo respeito a lei exige a iniciativa da parte.
A sentença que extrapola os pedidos formulados na inicial é
considerada ultra petita:

O limite da sentença é o pedido, porque como ato de


entrega da tutela jurisdicional, deve ficar adstrito aos
limites estabelecidos pela demanda, ou seja, uma

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sentença não pode ficar aquém do que foi pedido, ou


seja, não pode o magistrado sentenciar sem ter
apreciado todos os pedidos em juízo („infra‟ ou „citra
petita‟), superior ao pedido („ultra petita‟) e tampouco
julgar coisa diversa do que foi pedido („extra petita‟).
Mais uma vez percebe-se o silogismo entre a
sentença e o pedido (MARCELO ABELHA
RODRIGUES, “Elementos de direito processual civil”,
Vol. 2, 2ª ed., RT, São Paulo, 2003, pp. 426-7).

No caso dos autos, da leitura da petição inicial verifico que, de


fato, o Autor, que faleceu no curso da lide, não pleiteou indenização
por danos morais, mas apenas a declaração de nulidade do contrato
de empréstimo nº 577164513 e a restituição, em dobro, dos valores
descontados indevidamente do seu benefício previdenciário.
Contudo, o MM. Juiz singular, tanto na fundamentação quanto
na parte dispositiva da sentença, analisou e condenou o Réu ao
pagamento de indenização por danos morais, o que configura nítida
extrapolação dos limites objetivos da demanda.
Assim, mister reconhecer o vício ultra petita da sentença, que,
todavia, não implica em nulidade de todo o decisum, mas apenas no
decote daquilo que não foi objeto de pedido pelas partes.
Sobre o tema, faz-se oportuno trazer à baila a lição de
HUMBERTO THEODORO JÚNIOR:

A sentença „extra petita‟ incide em nulidade porque


soluciona causa diversa da que foi proposta através
do pedido. E há julgamento fora do pedido tanto
quando o juiz defere uma prestação diferente da que
lhe foi postulada, como quando defere a prestação
pedida mas com base em fundamento jurídico não
invocado como causa do pedido na propositura da
ação. Quer isto dizer que não é lícito ao julgador
alterar o pedido, nem tampouco a causa petendi.
(...)
O defeito da sentença „ultra petita‟, por seu turno, não
é totalmente igual ao da “extra petita”. Aqui, o juiz
decide o pedido, mas vai além dele, dando ao autor
mais do que fora pleiteado (art. 460).

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A nulidade, então, é parcial, não indo além do


excesso praticado, de sorte que, ao julgar o recurso
da parte prejudicada, o tribunal não anulará todo o
decisório, mas apenas decotará aquilo que
ultrapassou o pedido (Curso de Direito Processual
Civil, vol. I. 51ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2010. p.
520/521).

Diante do exposto, acolho a preliminar de decisão ultra


petita, para decotar da parte dispositiva da sentença recorrida a
condenação do Réu ao pagamento de indenização por danos morais.

DES. PEDRO ALEIXO - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. RAMOM TÁCIO - De acordo com o(a) Relator(a).

DES. JOSÉ MARCOS RODRIGUES VIEIRA (RELATOR)

MÉRITO

No mérito, a controvérsia cinge-se a verificar a responsabilidade


do Réu/Apelante pela irregularidade da contratação e,
consequentemente, pelos descontos indevidos das prestações no
benefício do Autor, que faleceu após a prolação da sentença, e foi
substituído pelas herdeiras (DE-114).
Na inicial, o Autor afirma ter sido vítima de golpe praticado por
agentes da empresa Resolve Empréstimos, correspondente bancária
do Banco Réu. Narra que os funcionários teriam ido até sua residência
oferecendo-lhe colchão, que teria muitos benefícios para pessoas
idosas, mas, na verdade, o contrato assinado seria de empréstimo.

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Narra que, tão logo tomou conhecimento do golpe, dirigiu-se à


loja do referido correspondente bancário, que o orientou a transferir o
valor do empréstimo para outra conta bancária a fim de quitar o
contrato. Aduz que não obstante os procedimentos adotados, os
descontos do empréstimo persistiram em seu benefício previdenciário,
o que ensejou a propositura da presente ação.
Citada a Ré alega excludente de responsabilidade, ressaltando
que o Autor teria contratado livre e conscientemente o empréstimo.
Após os trâmites legais, o MM. Juiz a quo reconheceu a fraude
praticada pelo correspondente bancário do Réu e, consequentemente,
anulou o contrato de empréstimo e determinou a restituição, em dobro
dos valores indevidamente descontados no benefício do autor, o que
ensejou a interposição de recurso, nos termos já relatados.
De início, impende ressaltar que não há dúvida acerca da
aplicação do Código de Defesa do Consumidor – CDC – ao caso em
debate, pois a atividade bancária foi incluída no conceito de serviço
para fins de incidência do Código do Consumidor, consoante determina
o art. 3º, §2º, da Lei nº 8.078/90, in verbis:

Art. 3º - (...)
§2º - Serviço é qualquer atividade fornecida no
mercado de consumo, mediante remuneração,
inclusive as de natureza bancária, financeira, de
crédito e securitária, salvo as decorrentes das
relações de caráter trabalhista.

Sobre o tema, importante transcrever lição de ARNALDO


RIZZARDO, em sua obra Contratos de Crédito Bancário, 6ª. ed. RT, p.
23, que sustenta a incidência das regras do CDC nos contratos ora
discutidos:
Não há dúvida quanto à aplicação do Código de
Defesa do Consumidor, introduzido pela Lei 8.078, de
11.09.1990, aos contratos bancários. Como é

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bastante comum, as entidades financeiras, cuja


mercadoria é a moeda, usam nas suas atividades
negociais uma série de contratos, em geral de
adesão, a eles aderindo aqueles que necessitam de
crédito para suas atividades. Proliferam as cláusulas
abusivas e leoninas, previamente estabelecidas,
imodificáveis e indiscutíveis quando da assinatura dos
contratos.
Nelson Nery Junior, quanto às operações de crédito,
distingue quais revelam relação de consumo:
„Havendo outorga do dinheiro ou do crédito para que
o devedor o utilize como destinatário final, há a
relação de consumo que enseja a aplicação dos
dispositivos do CDC. Caso o devedor tome dinheiro
ou crédito emprestado do banco para repassá-lo, não
será destinatário final, e portanto não há que se falar
em relação de consumo. Como as regras normais de
experiência nos dão conta de que a pessoa física que
empresta dinheiro ou toma crédito do banco o faz
para sua utilização pessoal, como destinatário final,
existe aqui presunção „hominis‟, „juris tantum‟, de que
se trata de relação de consumo. O ônus de provar o
contrário, ou seja, que o dinheiro ou crédito tomado
pela pessoa física não foi destinado ao uso final do
devedor, é do banco, quer porque se trata de
presunção a favor do mutuário ou creditado, quer
porque poderá incidir o art. 6º, VIII, do CDC, com a
inversão do ônus da prova a favor do consumidor.

Afastando qualquer dúvida sobre o assunto, o Colendo Superior


Tribunal de Justiça editou a Súmula nº 297:

Súmula nº 297 - O Código de Defesa do Consumidor


é aplicável às instituições financeiras.

Desta maneira, aplicável o CDC, não há que se aferir a


ocorrência de culpa do Banco Apelante em qualquer de suas
modalidades, sendo suficiente a constatação do dano e do nexo causal
entre este e a conduta da empresa contratada como correspondente
bancário. O artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor traz o texto:

Art. 14. O fornecedor de serviço responde,


independentemente da existência de culpa, pela

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reparação dos danos causados aos consumidores por


defeitos relativos à prestação de serviços bem como
por informações insuficientes ou inadequadas sobre a
fruição e riscos.

Portanto, resta patente a adoção pelo CDC da teoria da


responsabilidade objetiva do fornecedor.
Neste sentido, a lição de CARLOS ROBERTO GONÇALVES:

O Código de Defesa do Consumidor, atento a esses


novos rumos da responsabilidade civil, também
consagrou a responsabilidade objetiva do fornecedor,
tendo em vista, especialmente, o fato de vivermos,
hoje, em uma sociedade de produção e de consumo
em massa, responsável pela despersonalização ou
desindividualização das relações entre produtores,
comerciantes e prestadores de serviços, em um pólo,
e compradores e usuários do serviço, no outro.
Em face dos grandes centros produtores, o
comerciante perdeu a preeminência de sua função
intermediadora.
No sistema codificado, tanto a responsabilidade pelo
fato do produto ou serviço como a oriunda do vício do
produto ou serviço são de natureza objetiva,
prescindindo do elemento culpa a obrigação de
indenizar atribuída ao fornecedor (Responsabilidade
Civil, 8ª ed., Saraiva, São Paulo, 2003, p. 389).

Assim, ainda que não se configure a conduta negligente culposa


do Banco Apelante, o simples fato de ter escolhido a empresa Resolve
Empréstimos como sua corresponde bancário e de esta ter atuado em
seu nome quando da contratação com o Autor faz com que subsista a
responsabilidade civil solidária do Banco Itaú Consignado S.A.,
porquanto basta a configuração do defeito na prestação do serviço e
dos danos causados ao consumidor em virtude de tal situação.
O art. 2º da Resolução nº 3.954 do Banco Central do Brasil, que
“altera e o solida as or as que disp e so re a o trata o de
orrespo de tes o a s” a i ha nesta mesma linha, ao prescrever:

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rt orrespondente atua por onta e so as


diretri es da instituição ontratante, que assume
inteira responsa i idade pe o atendimento prestado
aos ientes e usu rios por meio do ontratado, qua
cabe garantir a integridade, a confiabilidade, a
segurança e o sigilo das transações realizadas por
meio do contratado, bem como o cumprimento da
legislação e da regulamentação relativa a essas
transações.

Diante do exposto, tendo em vista que o Apelante é Instituição


financeira que disponibiliza crédito no mercado de consumo e que,
para viabilizar sua atividade e aumentar seus lucros, outorga a
empresas terceirizadas (correspondentes bancários) permissão para
captar clientes, atuar em seu nome e sob sua bandeira, incute no
consumidor a impressão de estar contratando com o próprio banco,
não podendo eximir-se de responder pelos danos e pelos riscos
decorrentes da atividade, pois se trata, como dito, de responsabilidade
objetiva e solidária. Portanto, dispensável a configuração de culpa,
bastante a ocorrência de falha na prestação do serviço.
Aliás, no aspecto da solidariedade, o parágrafo único, do art. 7º,
Código de Defesa do Consumidor é suficientemente claro ao
estabelecer que todos os integrantes da cadeia de fornecimento
respondem pela ocorrência dos danos causados aos consumidores:

Art. 7° Os direitos previstos neste código não excluem


outros decorrentes de tratados ou convenções
internacionais de que o Brasil seja signatário, da
legislação interna ordinária, de regulamentos
expedidos pelas autoridades administrativas
competentes, bem como dos que derivem dos
princípios gerais do direito, analogia, costumes e
equidade.

Parágrafo único. Tendo mais de um autor a


ofensa, todos responderão solidariamente pela
reparação dos danos previstos nas normas de
consumo (Destaquei).

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Neste contexto, considerando que a segurança bancária é


inerente à atividade do prestador de serviços, não convence a tese de
independência da atividade do correspondente bancário, porquanto,
ainda que o contrato tenha sido celebrado entre o Autor e a empresa
Resolve Empréstimos estava o pacto, de certa forma, vinculado ao
crédito disponibilizado pelo Banco Itaú Consignado S.A..
Nesta conjuntura fática, a meu sentir, seria impossível ao
consumidor desvincular a atividade de ambas as empresas e
vislumbrar a alegada independência entre as atividades desenvolvidas,
já que, por óbvio, estando o correspondente autorizado a contratar em
nome do Banco que representa, passa ao consumidor a inequívoca
idéia de estar contratando com a própria instituição financeira
representada.
Em casos como o dos autos, o que flagrantemente se percebe,
cada vez com maior frequência, é que as Instituições financeiras, no
afã de aumentar seus lucros e conseguir novos clientes, abrem mão da
qualidade e da segurança nas operações, bem como da cautela e
prudência na escolha e fiscalização de seus representantes, devendo,
em consequência, arcar com os danos decorrentes de sua própria
incúria.
Repita-se que, nos termos do art. 2º da Resolução nº 3.954 do
Banco Central do Brasil, acima citado, dispõe que cabe à instituição
bancária contratante (...) garantir a integridade, a confiabilidade, a
segurança e o sigilo das transações realizadas por meio do
[correspondente bancário] contratado.
In casu, é incontroverso que o Autor, idoso, foi ludibriado por
funcionários da empresa Resolve Empréstimo, correspondente
bancária do Réu, que fingiram oferecer colchão milagroso para pessoa
idosa, quando, na verdade, a contratação corresponderia a empréstimo

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bancário. A versão apresentada pelo Autor encontra respaldo na


confissão do Réu que, na Contestação, não nega o golpe praticado por
seu correspondente bancário, mas apenas que não teria culpa pelos
atos praticados, pois não teria participado das negociações.
Diligentemente, o Autor arrolou como testemunha sua filha e sua
neta que, embora ouvidas como informantes, ratificam a sua
vulnerabilidade – idoso – e o golpe praticado pelo correspondente
bancário do Réu (DE-78 e 79).
Neste contexto, comprovado o nexo de causalidade entre a
conduta dos agentes do correspondente bancário do Réu e o dano ao
consumidor vulnerável, correta a sentença que declarou nulo o
contrato de empréstimo, pois celebrado mediante vício de
consentimento.
Relativamente à determinação do Juízo de restituição, em
dobro, dos valores indevidamente descontados do benefício
previdenciário do Autor, mais uma vez acertada a sentença, eis que a
má-fé dos agentes do correspondente bancário do Réu, necessária
para a aplicação da sanção prevista no parágrafo único, do art. 42, do
Código de Defesa do Consumidor, restou devidamente demonstrada,
in casu.
Referido dispositivo estabelece que “o onsumidor o rado em
quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao
dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e
juros egais, sa vo hipótese de engano justifi ve ”.
Infere-se, portanto, que, para a restituição em dobro, é
imprescindível que se conjuguem dois elementos, o pagamento
indevido pelo consumidor e a má-fé do credor.
Sobre o tema, leciona CLÁUDIA LIMA MARQUES:

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Prevista como uma sanção pedagógica e preventiva,


a evitar que o fornecedor se descuidasse e cobrasse
a mais dos consumidores por engano, que preferisse
a inclusão e aplicação de cláusulas sabiamente
abusivas e nulas, cobrando a mais com base nestas
cláusulas, ou que o fornecedor usasse de métodos
abusivos na cobrança correta do valor, a devolução
em dobro acabou sendo vista pela jurisprudencia, não
como uma punição razoável ao fornecedor negligente
ou que abusou de seu poder na cobrança, mas como
uma fonte de enriquecimento sem causa do
consumidor. Quase que somente em caso de má-fé
subjetiva do fornecedor, há devolução em dobro,
quando o CDC, ao contrário, menciona expressão –
engano justificável como a única exceção. (In
“Co e tários ao Código de Defesa do Co su idor”.
3ª ed., São Paulo: RT, 2010, p. 805).

E, in casu, não há dúvida da má-fé do correspondente bancário


que, aproveitando-se da idade avançada do Autor, tentou ludibriá-lo
com a venda de colchão, quando, na verdade, estariam oferecendo
contrato de empréstimo bancário. No caso dos autos é nítida intenção
do correspondente bancário de aplicar golpe no Autor.
Neste contexto, correta a restituição, em dobro, dos valores
indevidamente descontados no benefício previdenciário do Autor,
relativo a empréstimo que não teria sido conscientemente por ele
contratado.
Forte em tais razões de decidir, acolho a preliminar de
nulidade da sentença por vício ultra petita, para decotar da
sentença recorrida a condenação do Réu ao pagamento de
indenização por danos morais, e, no mérito, nego provimento ao
recurso, para manter in totum a sentença apelada.
Custas recursais pelo Apelante.

DES. PEDRO ALEIXO - De acordo com o(a) Relator(a).

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DES. RAMOM TÁCIO - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "ACOLHERAM A PRELIMINAR DE


NULIDADE DA SENTENÇA ULTRA PETITA, PARA EXCLUIR A
CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS
MORAIS E, NO MÉRITO, NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO."
Documento assinado eletronicamente, Medida Provisória nº 2.200-2/2001 de 24/08/2001.
Signatário: Desembargador JOSE MARCOS RODRIGUES VIEIRA, Certificado:
008D8284A2E3ECEF1BA7D5E973D303AC2A, Belo Horizonte, 30 de junho de 2021 às 18:59:04.
Julgamento concluído em: 02 de junho de 2021.
Verificação da autenticidade deste documento disponível em http://www.tjmg.jus.br - nº verificador:
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