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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2021.0001026929

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


0505551-87.2011.8.26.0075, da Comarca de Bertioga, em que é apelante
MUNICÍPIO DE BERTIOGA, é apelado LUIZ FERNANDO MACEDO
NOGUEIRA (FALECIDO).

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 15ª Câmara de Direito


Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram
provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra
este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores ERBETTA FILHO


(Presidente sem voto), EUTÁLIO PORTO E AMARO THOMÉ.

São Paulo, 16 de dezembro de 2021.

SILVA RUSSO
Relator(a)
Assinatura Eletrônica

Apelação n° 0505551-87.2011.8.26.0075 Voto nº 35018 Des.


SILVA RUSSO
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Voto nº 35018
Apelação nº 0505551-87.2011.8.26.0075
Comarca de Bertioga/SP
Apelante: Prefeitura Municipal de Bertioga
Apelado: Luiz Fernando Macedo Nogueira (falecido)

EXECUÇÃO FISCAL ISS Exercício de 2007


Município de Bertioga Em primeiro grau, julgou extinta a
presente execução fiscal, nos termos do artigo 485, inciso
VI, do CPC/2015, sob o fundamento de não existir título
que obrigue o espólio ou herdeiro a figurar no polo passivo,
reconhecendo-se a ILEGITIMIDADE PASSIVA
Ajuizamento em 06.12.2011 - Ocorrência de óbito posterior
à propositura da ação (em 22.11.2012) Pleito de inclusão
do espólio do 'de cujus' na execução Admissibilidade
Extinção em primeiro grau Sentença que reconheceu a
ilegitimidade de parte Inconformismo Súmula nº 392 do
C. STJ não aplicável, 'in casu' Possibilidade do
redirecionamento aos herdeiros Precedentes do C. STJ e
deste E. Tribunal de Justiça CDA hígida Execução
interposta contra os corretos devedores, não havendo falar em
ilegitimidade de parte Sentença reformada Apelo da
municipalidade provido.

Cuida-se de apelação tirada contra a r.


sentença de fls. 12/13 verso, a qual, de ofício, julgou extinta a
presente execução fiscal, nos termos do artigo 485, inciso VI, do
CPC/2015, sob o fundamento de não existir título que obrigue o
espólio ou herdeiro a figurar no polo passivo, reconhecendo-se a
ILEGITIMIDADE PASSIVA, buscando a municipalidade, nesta sede, a
reforma do julgado, em suma, a pretexto da possibilidade de inclusão
do espólio do devedor no polo passivo, vez que na transferência de
bens causa mortis, a transmissão do ônus recai sobre os
sucessores/herdeiros, com fulcro no artigo 110 do CPC/2015, sendo,
no presente caso, inaplicável a Súmula nº 392 do C. STJ, além de

Apelação n° 0505551-87.2011.8.26.0075 Voto nº 35018 Des.


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dizer que o falecimento (em 2012) ocorreu após a distribuição da ação


(em 2011), daí postulando pelo prosseguimento da ação executiva
(fls. 15/19).

Recurso tempestivo, isento de preparo, sem


resposta e remetido a este E. Tribunal.

É o relatório, adotado, no mais, o da


respeitável sentença.

Como se vê dos autos, a exequente ingressou


com este executivo fiscal em face de LUIZ FERNANDO MACEDO
NOGUEIRA, para receber créditos referentes ao ISS, do exercício de
2007, conforme demonstrado na CDA de fl. 03.

Juntou-se aos autos a Certidão de Óbito do


executado, cujo falecimento ocorreu em 22.11.2012 (fl. 11).

Na sequência, proferida a r. sentença em


31.05.2021 - a qual julgou extinta a execução fiscal, sob o
fundamento de ILEGITIMIDADE DA PARTE (fls. 12/13 verso).

No mérito, o apelo da municipalidade merece


prosperar.

Assim é, porque o ajuizamento desta ação


executiva - em 06.12.2011 - ocorreu antes do óbito do executado e,
portanto, possível o redirecionamento do feito aos seus herdeiros ou
espólio.

Apelação n° 0505551-87.2011.8.26.0075 Voto nº 35018 Des.


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Como já asseverado, o inciso III do artigo 131


do CTN determina a responsabilidade dos tributos devidos pelo 'de
cujus' ao espólio, quando os débitos foram constituídos até a data da
abertura da sucessão, sendo este o caso dos autos.

Nesse contexto, razão assiste à exequente,


isto porque, tanto o espólio quanto os sucessores do devedor, na
hipótese de inexistência de inventário, detêm legitimidade para
figurar no polo passivo da ação executiva.

Então, afasta-se, aqui, a aplicação da Súmula


nª 392 do Colendo Superior Tribunal de Justiça, vez que a executada
era a legítima para ingressar no polo passivo deste executivo fiscal,
vindo a falecer no curso do processo.

Valendo registrar:

C. STJ - “PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. AGRAVO


REGIMENTAL EM AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO
FISCAL. IPTU. CDA EXPEDIDA CONTRA PESSOA FALECIDA
ANTERIORMENTE À CONSTITUIÇÃO DO CRÉDITO. NULIDADE.
REDIRECIONAMENTO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 392/STJ.
MATÉRIA SUBMETIDA AO RITO DO ART. 543-C DO CPC.
OBRIGAÇÃO DOS SUCESSORES DE INFORMAR SOBRE O ÓBITO
DO PROPRIETÁRIO DO IMÓVEL E DE REGISTRAR A PARTILHA.
INOVAÇÃO RECURSAL. IMPOSSIBILIDADE. 1. O redirecionamento
contra o espólio só é admitido quando o falecimento do contribuinte
ocorrer depois de ele ter sido devidamente citado nos autos da
execução fiscal, o que não é o caso dos autos, já que o devedor
apontado pela Fazenda municipal faleceu antes mesmo da
constituição do crédito tributário. Precedentes: REsp 1.222.561/RS,
Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, DJe
25/05/2011; AgRg no REsp 1.218.068/RS, Rel. Ministro Benedito
Gonçalves, Primeira Turma, DJe 08/04/2011; REsp 1.073.494/RJ,
Rel. Ministro Luiz Fux, Primeira Turma, DJe 29/09/2010. 2. Não se

Apelação n° 0505551-87.2011.8.26.0075 Voto nº 35018 Des.


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pode fazer mera emenda do título executivo, a teor da Súmula


392/STJ, que dita: "A Fazenda Pública pode substituir a certidão
de dívida ativa (CDA) até a prolação da sentença de embargos,
quando se tratar de correção de erro material ou formal, vedada a
modificação do sujeito passivo da execução". Matéria já analisada
inclusive sob a sistemática do art. 543-C do CPC (REsp
1.045.472/BA, Rel. Min. Luiz Fux, Primeira Seção, DJe de
18/12/2009). 3. O argumento sobre a obrigação dos sucessores de
informar o Fisco acerca do falecimento do proprietário do imóvel,
bem como de registrar a partilha, configura indevida inovação
recursal, porquanto trazido a lume somente nas razões do presente
recurso. 4. Agravo regimental parcialmente conhecido e, nesta
parte, não provido.” (AgRg nº 2013/0099280-2 DJe 10.09.2013 -
Ministro Relator BENEDITO GONÇALVES).

E. TJRS - “AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROCESSUAL


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PAULO 18ª CÂMARA DE DIREITO PÚBLICO Apelação nº
0003113-55.2010.8.26.0472 6 CIVIL. EXECUÇÃO. MORTE DOS
EXECUTADOS. HABILITAÇÃO DOS SUCESSORES. POSSIBILIDADE.
Os sucessores do devedor detêm legitimidade para figurar no polo
passivo da ação executiva, na hipótese de inexistência de
inventário. Agravo de instrumento a que se nega seguimento,
porque manifestamente improcedente (art. 557, caput, do CPC)” (AI
nº 70060260403 - 19ª Câmara Cível j. 16.06.20104 - Relator
VOLTAIRE DE LIMA MORAES).

Também é este o entendimento deste Egrégio


Tribunal de Justiça de São Paulo, a seguir:

E. TJSP - “Tributário. Tarifa de Água e Esgoto dos


exercícios de 1997 a 1999. Sentença que julgou extinta a execução
fiscal, sem resolução do mérito, ante a ilegitimidade passiva do
executado (art. 267, VI, do CPC/1973). Insurgência da
Municipalidade. Pretensão à reforma. Acolhimento. Executado que
faleceu em 29.12.2007, após o ajuizamento da ação em

Apelação n° 0505551-87.2011.8.26.0075 Voto nº 35018 Des.


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01.12.2004. Redirecionamento contra o espólio ou herdeiros.


Possibilidade. Precedentes desta Corte Estadual e do C. STJ
Inaplicabilidade da Súmula 392 do STJ. Recurso provido.”
(Apelação nº 0005195-69.2004.8.26.0472 18ª Câmara de Direito
Público j. 08.06.2017 - Relator Desembargador RICARDO CHIMENTI)

aqui destacado - .

Desse modo, a r. sentença deve ser


reformada para prosseguimento da execução fiscal, contra o espólio,
ou os herdeiros do executado falecido (apelados) a depender do
encerramento, ou não, do inventário.

Por tais motivos e para os fins supra, dá-se


provimento ao apelo municipal, reformando-se a v. sentença
recorrida.

SILVA RUSSO
RELATOR

Apelação n° 0505551-87.2011.8.26.0075 Voto nº 35018 Des.


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