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Tribunal de Justiça de Minas Gerais

Número do 1.0521.15.004185-8/001 Númeração 0041858-


Relator: Des.(a) Peixoto Henriques
Relator do Acordão: Des.(a) Peixoto Henriques
Data do Julgamento: 18/10/2016
Data da Publicação: 21/10/2016

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - EXECUÇÃO FISCAL - IPTU - ALIENAÇÃO


DE IMÓVEL - SUBSTITUIÇÃO DO POLO PASSIVO - IMPOSSIBILIDADE -
ILEGITIMIDADE PASSIVA. Diante do óbice da alteração da CDA para
substituição do sujeito passivo da execução (Súmula n.º 392 / STJ), indevida
a inclusão, no curso da lide, do real proprietário do imóvel no polo passivo da
execução fiscal concernente ao IPTU, impondo-se a manutenção da
sentença que extinguiu o processo em face da impossibilidade de sanar o
vício quanto à ao polo passivo da demanda.

APELAÇÃO CÍVEL N.º 1.0521.15.004185-8/001 - COMARCA DE PONTE


NOVA - APELANTE: MUNICÍPIO DE PONTE NOVA - APELADO:
FRANCISCO CAETANO BRUM

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 7ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de


Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos,
em DAR PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO.

DES. PEIXOTO HENRIQUES

RELATOR

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DES. PEIXOTO HENRIQUES (RELATOR)

VOTO

Via apelação (fls. 31/40), insurge-se o Município de Ponte Nova contra


sentença (fls. 30/30v) que, prolatada nos autos da execução fiscal por ele
ajuizada em face de Francisco Caetano Brum, extinguiu o processo sem
resolução de mérito, nos termos do art. 485 do CPC/15, assim o fazendo ao
fundamento de que é impossível sanar o vício quanto ao polo passivo da
ação. Ao final, condenou o exequente ao pagamento de honorários
advocatícios sucumbenciais, os quais foram fixados em R$ 300,00, a teor do
art. 85, § 8º, do CPC/15, isentando-o apenas das custas processuais, em
observância ao art. 10, I, da LE n.º 14.939/03.

Em síntese, o apelante aduz: que a obrigação advinda do IPTU possui


natureza propter rem, ou seja, se relaciona com a res, objeto desde imposto,
acompanhando-a para quem quer que ele vá; que havendo responsabilidade
por sucessão na propriedade de um dado bem, móvel ou imóvel, é de se
atentar que essa sucessão dá-se no plano da obrigação tributária por
modificação subjetiva passiva; que o sucessor passa a ocupar a posição do
antigo devedor, no estado em que a obrigação se encontrava na data do
evento que motivou a sucessão; que se quando da sucessão, o crédito já
estava devidamente constituído, não há se falar em nova notificação para
que o responsável pague ou apresente defesa administrativa, ele recebe a
dívida na situação em que ela se encontrava; que a nova proprietária assume
a condição de devedora como única ocupante do polo passivo da obrigação;
que o não conhecimento a respeito da transferência dos bens, na maioria
dos casos, deve-se a omissão dos contribuintes em atualizarem seus dados
cadastrais, bem como na morosidade do trâmite de informação entre os
órgãos responsáveis pelo registro das

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alienações e a administração tributária; e, ainda, que houve um mero


equívoco, devendo ser cassada a sentença, para que o processo tenha
regular andamento com o retorno à instância inferior.

Pede o provimento do recurso, para cassar a sentença, determinando o


regular processamento da execução fiscal.

Dispensável o preparo (art. 1.007, § 1º, CPC/2015).

Sem contrarrazões.

Desnecessária a oitiva da d. PGJ/MG (Súmula n.º 189 / STJ).

Reverenciando o breve, dou por relatado.

Por primeiro, mantendo coerência com o entendimento por mim adotado


nos casos sob minha relatoria e atento aos ditames dos Enunciados n.º's 3
do STJ e 54 deste Tribunal, saliento que, prolatada a sentença e interposto o
recurso sob a vigência do CPC/2015, impõe-se a aplicação da nova
legislação processual civil (Lei n.º 13.105/2015).

Conheço do recurso, presentes os requisitos para superação do juízo de


admissibilidade.

Cuidam os autos de execução fiscal ajuizada pelo Município de Ponte


Nova em face de Francisco Caetano Brum, na qual o exequente sustentou
ser credor da parte executada em face do não recolhimento de IPTU, Taxa
de Conservação de Calçamento (TCC) e Taxa de Coleta de Resíduos
Sólidos (TCRS) nos exercícios de 2002 a 2014, tudo no montante de R$
8.888,77 (valor de março de 2015).

No curso do processo, ao argumento de que o executado Francisco


Caetano Brum não era o proprietário dos imóveis geradores dos tributos (fls.
22/23), o Município de Ponte Nova requereu a substituição do polo passivo
para Thereza Caetana de Souza, tida como a real proprietária.

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Ato contínuo, a d. julgadora de origem, por descortinar a impossibilidade


de sanar o vício quanto ao polo passivo da ação, houve por bem extinguir o
procedimento executivo, nos termos do art. 485 do CPC/15.

Pois bem...

Quanto ao tem principal, incensurável a sentença.

Data venia, o apelante defende tese incompatível com a Súmula n.º 392
do STJ, que apregoa:

A Fazenda Pública pode substituir a certidão de dívida ativa (CDA) até a


prolação da sentença de embargos, quando se tratar de correção de erro
material ou formal, vedada a modificação do sujeito passivo da execução.

A execução fiscal foi ajuizada em decorrência do não recolhimento do


IPTU e outras taxas municipais em face de Francisco Caetano Brum, cuja
ilegitimidade passiva é manifesta.

Por outro lado, há óbice à alteração da CDA para modificação do polo


passivo para inclusão do real proprietário, impondo-se a manutenção da
sentença.

Nesse sentido, o c. Tribunal da Cidadania, em entendimento manifestado


no rito dos recursos repetitivos (art. 543-C, CPC/73), há muito já proclamou:

PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL REPRESENTATIVO DE

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CONTROVÉRSIA. ARTIGO 543-C, DO CPC. PROCESSO JUDICIAL


TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. IPTU. CERTIDÃO DE DÍVIDA ATIVA
(CDA). SUBSTITUIÇÃO, ANTES DA PROLAÇÃO DA SENTENÇA, PARA
INCLUSÃO DO NOVEL PROPRIETÁRIO. IMPOSSIBILIDADE. NÃO
CARACTERIZAÇÃO ERRO FORMAL OU MATERIAL. SÚMULA 392/STJ. 1.
A Fazenda Pública pode substituir a certidão de dívida ativa (CDA) até a
prolação da sentença de embargos, quando se tratar de correção de erro
material ou formal, vedada a modificação do sujeito passivo da execução
(Súmula 392/STJ). 2. É que: "Quando haja equívocos no próprio lançamento
ou na inscrição em dívida, fazendo-se necessária alteração de fundamento
legal ou do sujeito passivo, nova apuração do tributo com aferição de base
de cálculo por outros critérios, imputação de pagamento anterior à inscrição
etc., será indispensável que o próprio lançamento seja revisado, se ainda
viável em face do prazo decadencial, oportunizando-se ao contribuinte o
direito à impugnação, e que seja revisada a inscrição, de modo que não se
viabilizará a correção do vício apenas na certidão de dívida. A certidão é um
espelho da inscrição que, por sua vez, reproduz os termos do lançamento.
Não é possível corrigir, na certidão, vícios do lançamento e/ou da inscrição.
Nestes casos, será inviável simplesmente substituir-se a CDA." (Leandro
Paulsen, René Bergmann Ávila e Ingrid Schroder Sliwka, in "Direito
Processual Tributário: Processo Administrativo Fiscal e Execução Fiscal à luz
da Doutrina e da Jurisprudência", Livraria do Advogado, 5ª ed., Porto Alegre,
2009, pág. 205). (...) 4. Recurso especial desprovido. Acórdão submetido ao
regime do artigo 543-C, do CPC, e da Resolução STJ 08/2008. (REsp n.º
1.045.472/BA, 1ªSeç/STJ, rel. Min. Luiz Fux, DJ 18/12/2009 - ementa parcial)

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. IPTU. EXECUÇÃO FISCAL.


INEXISTÊNCIA DE OFENSA AO ART. 557, CAPUT, DO CPC. ALIENAÇÃO
DO IMÓVEL. REDIRECIONAMENTO DO FEITO EXECUTÓRIO PARA O
ATUAL PROPRIETÁRIO. IMPOSSIBILIDADE. NULIDADE DA CDA. (...) 3. A
substituição da CDA até a sentença só é possível em se tratando de erro
material ou formal. A alteração do pólo passivo, porém, configura
modificação do lançamento, não sendo permitida no curso da execução
fiscal. Tal posicionamento foi reafirmado no julgamento do

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REsp 1.045.472/BA, Rel. Ministro Luiz Fux, DJe 18/12/2009, submetido ao


Colegiado pelo regime da Lei nº 11.672/08 (Lei dos Recursos Repetitivos),
que introduziu o art. 543-C do CPC. 4. Agravo regimental não provido. (AgRg
no REsp n.º 838.380/SP, 2ª T/STJ, rel. Min. Mauro Campbell Marques, DJ
30/3/2010)

A seu turno, esta Suprema Corte Estadual tem vaticinado:

APELAÇÃO CÍVEL - EXECUÇÃO FISCAL - IPTU, TLP E CCIP- MUNICÍPIO


DE CONTAGEM- INCLUSÃO NO POLO PASSIVO DA LIDE DA ATUAL
PROPRIETÁRIA DO IMÓVEL, CUJO NOME NÃO CONSTOU NA CDA -
IMPOSSIBILIDADE - ARTS. 202 E 203 DO CTN - SÚMULA 392 DO STJ -
EXTINÇÃO DO PROCESSO. 1. A regular inscrição do crédito tributário, com
a indicação correta de todos os devedores e corresponsáveis, é condição
inafastável para que o contribuinte seja compelido a pagá-lo em juízo.
Inteligência dos arts. 202 e 203 do CTN. 2. Vedação à substituição da CDA
para fins de inclusão no polo passivo da execução fiscal da atual proprietária
do imóvel que deu origem ao débito tributário, coobrigada pelo seu
pagamento. Súmula 392 do STJ. Jurisprudência pacificada. 3. Recurso não
provido. (AC n.º 1.0079.12.058073-7/001, 5ª CCív/TJMG, rel. Des. Áurea
Brasil, DJ 19/7/2016)

EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL - IPTU - MULTA - ALIENAÇÃO DO


IMÓVEL - INCLUSÃO NO PÓLO PASSIVO - VÍCIO DA CDA -
IMPOSSIBILIDADE DE EMENDA OU SUBSTITUIÇÃO - SÚMULA Nº 392
DO STJ. - A vedação contida na Súmula n° 392, do STJ, não pode ser
olvidada, ainda que a superveniente modificação do responsável pelo crédito
fiscal decorra de sucessão tributária. - Descabe nessa hipótese a
substituição processual pelo atual proprietário do imóvel, pois esse não foi
indicado na certidão de dívida ativa, sendo impossível o saneamento do
vício. - Precedentes e súmula do col. STJ. - Sentença confirmada no
reexame necessário. - Apelo principal prejudicado. -

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Apelo adesivo não provido. (AC n.º 1.0024.10.121635-6/001, 4ª CCív/TJMG,


rel.ª Des.ª Heloisa Combat, DJ 29/1/2015)

Neste sentido, inclusive, já se manifestou esta Câmara:

APELAÇÃO CÍVEL. EXECUÇÃO FISCAL. SUBSTITUIÇÃO DO POLO


PASSIVO. IMPOSSIBILIDADE. ILEGITIMIDADE PASSIVA. SENTENÇA
REFORMADA. Diante do óbice da alteração da CDA para substituição do
sujeito passivo da execução (Súmula nº 392 / STJ), indevida a inclusão, no
curso da lide, do real proprietário do imóvel no polo passivo da execução
fiscal concernente ao IPTU, impondo-se o reconhecimento da carência de
ação por ilegitimidade passiva e, por conseguinte, a extinção do feito sem
resolução do mérito. (AC n.º 1.0024.06.943227-6/001, rel. Des. Peixoto
Henriques, DJ 14/3/2014)

APELAÇÃO CÍVEL. EXECUÇÃO FISCAL. IPTU. PRELIMINAR DE OFÍCIO.


MUDANÇA DA TITULARIDADE DO IMÓVEL. ALTERAÇÃO DO SUJEITO
PASSIVO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO. EXCLUSÃO DO DEVEDOR
INDICADO NA CDA. INCLUSÃO DO PROPRIETÁRIO DO IMÓVEL. CASO
DE MODIFICAÇÃO DO LANÇAMENTO E DA PRÓPRIA CDA.
IMPOSSIBILIDADE. ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. I. Nos termos
da súmula 392 do STJ até a prolação da sentença é vedada a modificação
do sujeito passivo da execução, a não ser para correção de erro material ou
formal. II. Não sendo o devedor originário reconhecidamente o devedor,
impõe-se o reconhecimento da ilegitimidade passiva e a extinção do feito.
(AC n.º 1.0145.98.019319-0/001, 7ª CCív/TJMG, rel. Des. Washington
Ferreira, DJ 11/12/2012)

Logo, forçoso reconhecer que a sentença encontra-se em consonância


com o entendimento do c. Superior Tribunal de Justiça,

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bem como com o deste eg. Tribunal.

Em derradeiro arremate, consigno que, não obstante a magistrada de


origem tenha imposto ao exequente, ora apelante, o pagamento de
honorários advocatícios sucumbenciais, tenho por inaplicável no caso
versado o art. 85, § 11º, do CPC/15, eis que sequer houve a citação do
executado, não tendo sido, pois, instalada a relação jurídica processual, de
modo que se mostra impossível a imposição do ônus em referência.

Nesta ordem de ideias, por considerar que o pedido de cassação do


decidido contempla, ainda que implicitamente, a pretensão de decote dos
honorários sucumbenciais fixados pela d. sentenciante, impõe-se proceder
ao decote da verba equivocadamente imposta ao exequente.

Mediante tais considerações, DOU PARCIAL PROVIMENTO ao recurso,


assim fazendo apenas para proceder ao decote da condenação em
honorários advocatícios sucumbenciais.

Mantida a sentença quanto ao mais.

Sem custas (art. 10, I, LE n.º 14.939/2003).

É como vota a relatoria.

DES. OLIVEIRA FIRMO - De acordo com o Relator.

DES. WILSON BENEVIDES - De acordo com o Relator.

SÚMULA: "DERAM PARCIAL PROVIMENTO AO RECURSO."

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