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TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Apelação Cível Nº 1.0024.11.305127-0/001

<CABBCABCCBBACADDBAACBADCACBAADAABDCAA
DDADAAAD>
EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL – EMBARGOS À EXECUÇÃO
INTEMPESTIVOS – NULIDADE DA CDA – MATÉRIA DE ORDEM
PÚBLICA – PRECLUSÃO – INOCORRÊNCIA – RECEBIMENTO COMO
EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE.
1. A nulidade da CDA é questão cognoscível de ofício pelo julgador,
por se tratar de pressuposto de validade da execução fiscal, motivo
pelo qual não é atingida pela preclusão.
2. Possibilidade de recebimento dos embargos à execução como
exceção de pré-executividade.
NULIDADE DA CDA – REQUISITOS DO ART. 2º, §5º DA LEI 6.830/80 –
OMISSÃO DO NÚMERO DA AUTUAÇÃO DE TRÂNSITO – AUSÊNCIA
DE PREJUÍZO – DADOS DISPONIBILIZADOS NO CURSO DO FEITO.
1. Os requisitos trazidos no art. 2º, §5º da Lei n. 6.830/80 CTN devem
ser interpretados restritivamente, sendo vedada a decretação de
nulidade do título executivo quando não demonstrado prejuízo para o
executado.
2. A juntada de documentos com os números dos autos de infração
omitidos na CDA supre eventual irregularidade.
3. Ausência de prejuízo à defesa do executado, porquanto
identificável a origem da dívida, o montante cobrado, bem como
todos os dados essenciais à impugnação da cobrança.
4. Rejeição da exceção de pré-executividade. Prosseguimento da
execução.
APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0024.11.305127-0/001 - COMARCA DE BELO HORIZONTE - APELANTE(S): MAURÍCIO
ADAUTO MAGALHÃES - APELADO(A)(S): FAZENDA PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 5ª CÂMARA CÍVEL


do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da
ata dos julgamentos, à unanimidade, em RECEBERAM OS
EMBARGOS COMO EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE E
REJEITARAM-NA.

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DESEMBARGADORA ÁUREA BRASIL


RELATORA

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Apelação Cível Nº 1.0024.11.305127-0/001

DESA. ÁUREA BRASIL (RELATORA)

VOTO

Trata-se de apelação cível interposta por MAURÍCIO


ADAUTO MAGALHÃES, em face da r. sentença de f. 165/167,
proferida pelo MM. Juiz Renato Luís Dresch, que julgou extintos os
embargos à execução ajuizados pela ora recorrente contra o
MUNICÍPIO DE BELO HORIZONTE, ante sua intempestividade.

Nas razões recursais de f. 170/172, o apelante alega


que: a) ainda que os presentes embargos sejam reconhecidos como
intempestivos, a nulidade absoluta, vício flagrante existente na
pretensão deduzida no processo de execução, deve ser reconhecida ;
b) não constam os dados necessários na CDA, sobretudo o número do
auto de infração; c) houve violação ao art. 2º, §5º da Lei n. 6.830/80 e,
por se tratar de nulidade absoluta, não há que se falar em preclusão; d)
a execução deve ser extinta por vício na inscrição do crédito tributário.

Contrarrazões às f. 175/182.

Presentes os requisitos de admissibilidade, conheço


do recurso.

Inicialmente, registro que a intempestividade dos


presentes embargos, reconhecida em primeiro grau, não foi impugnada
pelo apelante, que se limitou a levantar a tese de que a matéria ora
discutida é de ordem pública, não se operando a preclusão em relação
à mesma.

De fato, a nulidade da CDA é questão cognoscível de


ofício pelo julgador, por se tratar de pressuposto de validade da
execução fiscal, como já se manifestou em reiteradas oportunidades o
eg. STJ:

“O juízo acerca da higidez da Certidão de Dívida Ativa


constitui matéria de ordem pública, pois a nulidade do título
fulmina pressuposto de validade da correspondente
execução fiscal, motivo pelo qual sobre tal questão não se

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opera a preclusão, devendo, inclusive, ser conhecida de


ofício pelas instâncias ordinárias, nos termos do art. 267, §
3º, do CPC”. (AgRg no REsp 1209061/SC, Rel. Ministro
BENEDITO GONÇALVES, PRIMEIRA TURMA, julgado em
28/02/2012, DJe 09/03/2012).
Destarte, não há de se falar em preclusão quanto à
matéria arguida, que poderia ter sido levantada, inclusive, através de
simples petição.

Todavia, considerando que inicialmente foi deferido o


processamento dos embargos, a análise em questão deve se limitar às
questões que dispensem dilação probatória, verificáveis de plano,
porquanto admissível o recebimento da inicial na qualidade de exceção
de pré-executividade.

Isso posto, em observância aos princípios da


instrumentalidade das formas e da economia processual, analisarei a
petição de f. 02/03 como exceção de pré-executividade.

O executado pugna pelo reconhecimento da


insubsistência das CDA’s de f. 07/34 dos autos em apenso, afirmando
que não há prova de correlação entre o autor da infração de trânsito e
sua responsabilidade e que não foi indicado o número do auto de
infração.

A Lei 6.830/80 enumera em seu art. 2º, §5º, os


requisitos de validade do Termo de Inscrição em Dívida Ativa, in verbis:

Art. 2º - Constitui Dívida Ativa da Fazenda Pública aquela


definida como tributária ou não tributária na Lei nº 4.320, de
17 de março de 1964, com as alterações posteriores, que
estatui normas gerais de direito financeiro para elaboração e
controle dos orçamentos e balanços da União, dos Estados,
dos Municípios e do Distrito Federal.

(...)

§ 5º - O Termo de Inscrição de Dívida Ativa deverá conter:

I - o nome do devedor, dos co-responsáveis e, sempre que


conhecido, o domicílio ou residência de um e de outros;

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II - o valor originário da dívida, bem como o termo inicial e a


forma de calcular os juros de mora e demais encargos
previstos em lei ou contrato;

III - a origem, a natureza e o fundamento legal ou contratual


da dívida;

IV - a indicação, se for o caso, de estar a dívida sujeita à


atualização monetária, bem como o respectivo fundamento
legal e o termo inicial para o cálculo;

V - a data e o número da inscrição, no Registro de Dívida


Ativa; e

VI - o número do processo administrativo ou do auto de


infração, se neles estiver apurado o valor da dívida.
E, o art. 6º complementa:

§ 6º - A Certidão de Dívida Ativa conterá os mesmos


elementos do Termo de Inscrição e será autenticada pela
autoridade competente.
Cediço que a certidão de dívida ativa goza de
presunção de certeza e liquidez e caracteriza título executivo
extrajudicial. Todavia, para tanto, o documento deve atender aos
requisitos legais, acima relacionados, permitindo que o executado
tenha acesso a todas as informações necessárias à apresentação de
eventual defesa.

As exigências do art. 2º da Lei 6.830/80 visam a evitar


execuções arbitrárias, além de resguardar o direito ao contraditório e à
ampla defesa da parte passiva.

Analisando detidamente as CDA’s que embasam a


execução fiscal em apenso, verifica-se que foi indicado o nome do
devedor; a origem da dívida, seu fundamento legal e valor original;
termo inicial e forma de cálculo da correção monetária e juros de mora;
a data e número de inscrição no registro de dívida ativa, não constando
apenas a especificação do número do auto de infração.

Todavia, a omissão constatada não prejudicou a


defesa do devedor, não dando ensejo, portanto, à nulidade do título
executivo, pelos motivos que passo a expor.

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A execução, in casu, é de dívida não tributária,


decorrente de infrações de trânsito, sendo de sabença geral que todos
os proprietários de veículos têm acesso às autuações registradas em
seu nome pelo site do DETRAN.

Como se não bastasse, afastam qualquer prejuízo


os documentos de f. 75/157, que trazem os números dos autos de
infração respectivos, suprindo a omissão do título executivo.

Por fim, consigno que os dados principais da cobrança


constam todos na certidão de dívida ativa, permitindo a plena
identificação da infração, do veículo e do montante cobrado.

Nesse sentido, doutrina Humberto Teodoro Jr.:

As exigências formais que comprometem a validade da


Certidão de Dívida Ativa são aquelas que abrem ensejo a
surpresas ou incertezas para o devedor durante o debate
processual (Lei de Execução Fiscal: comentários e
jurisprudência. 12 ed. São Paulo: Saraiva, 2011. p. 44)
O Supremo Tribunal Federal abrandava as exigências
formais contidas no art. 2º, §5º da Lei n. 6.830/80, bem como as
previstas no CTN (para os casos de débitos tributários), entendendo
que só se justifica o acolhimento da nulidade do título se houver efetivo
prejuízo ao executado:

EXECUÇÃO FISCAL. CERTIDÃO DE INSCRIÇÃO DA


DIVIDA ATIVA. OMISSAO DE REQUISITO. 1)
PERFAZENDO-SE O ATO NA INTEGRAÇÃO DE TODOS
OS ELEMENTOS RECLAMADOS PARA A VALIDADE DA
CERTIDÃO, HÁ QUE ATENTAR-SE PARA A
SUBSTANCIA E NÃO PARA OS DEFEITOS FORMAIS
QUE NÃO COMPROMETEM O ESSENCIAL DO
DOCUMENTO TRIBUTÁRIO. 2) INVOCAÇÃO
IMPERTINENTE DO ART-203 DO CTN, EIS QUE, A PAR
DA COMPLETUDE DO TÍTULO, INEXISTIU PREJUIZO
PARA A DEFESA, QUE SE EXERCITOU PLENAMENTE.
AGRAVO REGIMENTAL DENEGADO. (AI 81681 AgR,
Relator(a): Min. RAFAEL MAYER, Primeira Turma, julgado
em 24/02/1981, DJ 27-03-1981 PP-02535 EMENT VOL-
01205-01 PP-00339)
O mesmo entendimento tem sido adotado pelo STJ:

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EXECUÇÃO FISCAL. CDA. REQUISITOS. ART. 2º, §§ 5º E


6º, DA LEI Nº 6.830/80. AUSÊNCIA DE VÍCIO
SUBSTANCIAL OU PREJUÍZO À DEFESA.

I - Os requisitos legais para a regularidade da certidão


de dívida ativa elencados no artigo 2º, §§ 5º e 6º, da Lei
nº 6.830/80 servem ao exercício da ampla defesa. Desse
modo, a inexatidão ou eventual irregularidade
constante do referido título somente implica sua
nulidade quando privarem o executado da completa
compreensão da dívida cobrada. Precedentes análogos:
AgRg no REsp nº 782075/MG, Rel. Ministro FRANCISCO
FALCÃO, DJ de 06.03.2006; REsp nº 660895/PR, Rel.
Ministro CASTRO MEIRA, DJ de 28.11.2005; REsp nº
660623/RS, Rel. Ministro LUIZ FUX, DJ de DJ 16.05.2005;
REsp nº 485743/ES.

II - Na hipótese, as decisões de primeiro e de segundo


graus deixaram claro que a irregularidade quanto ao valor
original do título não importa qualquer prejuízo à executada,
pois a importância correta pode ser obtida a partir do
montante atualizado. Ademais, consta expressamente na
CDA número do processo administrativo que precedeu a
cobrança, o qual permite aferir a correção dos cálculos
efetuados pelo fisco.

III - Recurso Especial improvido.

(REsp 893.541/RS, Rel. Ministro FRANCISCO FALCÃO,


PRIMEIRA TURMA, julgado em 12/12/2006, DJ 08/03/2007,
p. 182)
Aplica-se, in casu, o princípio “pas de nullités sans
grief”: se o vício não acarreta qualquer prejuízo à parte que o alega,
não há de se falar em nulidade.

Com tais considerações, RECEBO A PETIÇÃO DE F.


02/03 COMO EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE E REJEITO A
TESE DE NULIDADE DA CDA, determinando o prosseguimento da
execução em apenso.

Custas, na forma da lei.

DES. FERNANDO CALDEIRA BRANT (REVISOR) - De acordo com


o(a) Relator(a).

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DES. BARROS LEVENHAGEN - De acordo com o(a) Relator(a).

SÚMULA: "DE OFÍCIO, RECEBERAM OS


EMBARGOS COMO EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE E
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