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Comarca de Goiânia

15ª Vara Cível e Ambiental


Avenida Olinda, QD. 6, LT. 04 - Fórum Cível, Sl. 823, Park Lozandes, Goiânia/GO,
74.884-120
gab15civelgoiania@tjgo.jus.br
DECISÃO
AÇÃO: PROCESSO CÍVEL E DO TRABALHO -> Processo de Conhecimento ->
Procedimento de Cumprimento de Sentença/Decisão -> Cumprimento de sentença
PROCESSO Nº: 0294680-86.2015.8.09.0051
REQUERENTE (S): SANEAMENTO DE GOIAS S/A SANEAGO
REQUERIDO (S): ADALIA DE LIMA NEVES

Cuida-se de PROCESSO CÍVEL E DO TRABALHO -> Processo de


Conhecimento -> Procedimento de Cumprimento de Sentença/Decisão ->
Cumprimento de sentença movida por SANEAMENTO DE GOIAS S/A
SANEAGO em desfavor de ADALIA DE LIMA NEVES, devidamente
qualificadas nos autos, na qual a parte CREDORA requer, em evento n.º 112,
o bloqueio dos cartões de crédito ou débiro de titularidade da parte
EXECUTADA, visando compeli-la a pagar o débito.

É o sucinto relatório. DECIDO.

Nota-se que, com fundamento no art. 139, inciso IV, do Código de


Processo Civil, a parte CREDORA requer o bloqueio de cartões de creditos,
in verbis:

“Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as


disposições deste Código, incumbindo-lhe:

Tribunal de Justiça do Estado de Goiás


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(...)
IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas,
mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para
assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive
nas ações que tenham por objeto prestação
pecuniária;”

Registre-se que a norma supra é genérica e, por si só, não tem o


condão de restringir todo e qualquer direito do(a) DEVEDOR(A) sob o simples
pretexto de assegurar a ordem judicial ou de satisfazer o débito executado.

Além do mais, conforme disposição do próprio texto legal, as medidas


indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias deverão ser utilizadas
apenas quando necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial.

Assim, não restam dúvidas de que as medidas atípicas devem ser


usadas com parcimônia, somente quando necessárias e eficazes ao
cumprimento da ordem judicial, observando os princípios da razoabilidade e
da proporcionalidade.

Analisando o caso concreto, não verifico a possibilidade da satisfação


do débito com o bloqueio de cartões em nome do(a) DEVEDOR(A).

Tais medidas além de não se mostrarem úteis à satisfação de crédito,


ultrapassam a razoabilidade e a proporcionalidade, já que servirão apenas
para penalizar a parte EXECUTADA.

Releva consignar que o crédito buscado não tem natureza alimentar e


não recebe tratamento especial no ordenamento jurídico.

Nesse sentido é o mais recente entendimento do Tribunal de Justiça


do Estado de Goiás sobre o tema:

EMENTA: “AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE COBRANÇA


EM FASE DE CUMPRIMENTO DE SENTENÇA. INDEFERIMENTO
DE PEDIDO DE SUSPENSÃO DA CARTEIRA NACIONAL DE
HABILITAÇÃO (CNH), PASSAPORTE E BLOQUEIO DE CARTÃO
DE CRÉDITO. MEDIDA INEFICAZ PARA A SATISFAÇÃO DO
CRÉDITO. ART. 139, INCISO IV, DO CÓDIGO DE PROCESSO
CIVIL. OFENSA AO PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA.

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AUSÊNCIA DE RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE.
DECISÃO MANTIDA. I – Estando o agravo de instrumento apto
para obter julgamento meritório, ressai prejudicada a análise
dos embargos de declaração. I – Ainda que a execução se
processe em benefício do credor, e que o art. 139, inc. IV, do
CPC preveja que cabe ao juiz determinar medidas atípicas para
compelir o devedor ao pagamento da dívida, tais disposições
submetem-se às garantias constitucionais e aos princípios da
razoabilidade e proporcionalidade. Inadmissibilidade de se
afetar direitos existenciais do executado para forçá-lo ao
cumprimento das obrigações assumidas. II - Logo, em que pese
a execução ser feita no interesse do exequente (CPC, art. 797),
não é com a suspensão da carteira de habilitação, passaporte
ou através do bloqueio do cartão de crédito do devedor que o
crédito reclamado será satisfeito. Na verdade, melhor que se
prossigam as diligências necessárias à busca de bens do
executado (agravado) passíveis de satisfazer a obrigação
exequenda. Assim, cumpre salientar que a norma do inciso IV,
do art. 139, do CPC deve ser interpretada em harmonia com o
disposto no art. 789 do mesmo diploma legal, que consagra o
princípio da responsabilidade patrimonial do devedor,
permitindo-se a utilização dos meios executivos atípicos
somente quando recaírem sobre os bens do executado, não se
admitindo, portanto, a restrição de seus direitos fundamentais
como forma de compeli-lo a quitar o débito. RECURSO
CONHECIDO E DESPROVIDO.” (TJGO, PROCESSO CÍVEL E DO
TRABALHO -> Recursos -> Agravos -> Agravo de Instrumento
5636799-12.2022.8.09.0065, Rel. Des(a). DESEMBARGADOR LUIZ
EDUARDO DE SOUSA, 1ª Câmara Cível, julgado em 06/12/2022,
DJe de 06/12/2022). (grifei).

E M E N T A : “A G R A V O D E I N S T R U M E N T O . A Ç Ã O D
E E X E C U Ç Ã O. BLOQUEIO/SUSPENSÃO DE CNH,
PASSAPORTE E CARTÃO DE CRÉDITO. MEDIDAS EXECUTIVAS
ATÍPICAS INEFICAZES. Incabível a utilização de medidas
executivas atípicas de bloqueio/suspensão da Carteira Nacional
de Habilitação, Passaporte e Cartão de Crédito da parte
devedora, pois referidas medidas têm, na verdade, caráter
punitivo e restringe direitos fundamentais dos devedores (art.
5º, XV, CF), além de mostrarem-se ineficazes para a garantia do
pleno adimplemento do crédito. AGRAVO DE INSTRUMENTO
CONHECIDO E DESPROVIDO. ACÓRDÃO Vistos, relatados e
discutidos os presentes autos de Agravo de Instrumento nº.
5112854-95, acordam os integrantes da 3ª Turma Julgadora da 6ª
Câmara Cível, a unanimidade, em CONHECER E NÃO PROVER o
recurso, nos termos do voto do Relator. Presidiu a sessão o
Desembargador Jeová Sardinha de Moraes. Votaram com o
relator a Desembargadora Sandra Regina Teodoro Reis e o
Desembargador Jairo Ferreira Júnior. Participou da sessão o
excelentíssimo Procurador de Justiça Eliseu José Taveira Vieira.
Desembargador NORIVAL SANTOMÉ Relator (Datado e assinado

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digitalmente conforme arts. 10 e 24 da Resolução nº 59/2016 do
TJGO). (TJGO, PROCESSO CÍVEL E DO TRABALHO -> Recursos -
> Agravos -> Agravo de Instrumento 5112854-95.2022.8.09.0051,
Rel. Des(a). DESEMBARGADOR NORIVAL SANTOMÉ, 6ª Câmara
Cível, julgado em 25/04/2022, DJe de 25/04/2022). (grifei)

Pelo exposto, INDEFIRO o pedido de bloqueio de cartões de créditos


da parte EXECUTADA.

INTIME-SE a PARTE CREDORA para requerer o que entender de


direito em 15 (quinze) dias, sob pena de suspensão e arquivamento.

Em caso de inércia, desde já, determino a SUSPENSÃO do presente


processo pelo prazo de 01 (um) ano, nos termos do art. 921, III e §1º do
CPC, restando suspenso o também o prazo prescricional.

Findo o prazo de um ano, sem nova conclusão, INTIME-SE a parte


EXEQUENTE, na pessoa do seu advogado, para, no prazo de 05 (cinco)
dias, indicar bens penhoráveis e a respectiva localização (e/ou o endereço da
parte EXECUTADA), nos termos do art. 309 do Código de Normas e
Procedimentos do Foro (CNPF), sob pena de arquivamento definitivo - com
baixa e averbação (art. 307, inc. II, do CNPF), estando desde já intimado e
ciente de que após o prazo de suspensão de 01 (um) ano, iniciar-se-á,
automaticamente, o fluxo da prescrição intercorrente (art. 921 §4º CPC),
independentemente de novo despacho ou nova intimação.

Nos termos do §2º do artigo retromencionado, na manifestação, a


parte deverá expressamente indicar a providência requerida para fins de
prosseguimento do feito, sob pena de rejeição liminar e arquivamento
definitivo.

Não havendo manifestação no prazo ou tendo sido rejeitada


liminarmente, sem nova conclusão, EXPEÇA-SE a certidão de crédito,
prevista no art. 310 do CNPF, independentemente de custas (art.311 do
CNPF), anexando-a aos autos e intimando-se a PARTE EXEQUENTE de sua
expedição, na forma do art. 313, parágrafo único, do CNPF.

Após os procedimentos supramencionados, lance-se no sistema de


tramitação o andamento “ARQUIVAMENTO DEFINITIVO/CERTIDÃO DE
CRÉDITO EXPEDIDA” (art.313, CNPF).

Ressalta-se que o arquivamento definitivo e a expedição de certidão

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não implicarão exclusão do nome da parte EXECUTADA do cadastro de
distribuição, sendo vedada a expedição de certidões negativas em seu nome,
posto que ainda pendente a dívida, enquanto não houver a sua quitação
integral (art. 314, CNPF).

Nos termos do que previsto no art. 315 do CNPF, a execução


somente será retomada com efetiva indicação de bens penhoráveis e o local
em que se encontrem. A petição deverá descrever referidos bens e sua
localização, estar acompanhada de certidão atualizada da matrícula
imobiliária (se for o caso), bem como estar instruída com a certidão do crédito
exeqüendo e o demonstrativo atualizado de débito, dentre outros documentos
que o credor reputar necessários.

Em relação a eventual pedido de nova pesquisa de bens aos sistemas


conveniados, deve ser ressaltado que cabe à parte localizar e indicar os bens
do devedor, oportunidade em que a reiteração das pesquisas somente será
deferida após o lapso mínimo de 01 (um) ano contado do último
resultado.

Por fim, havendo pedido de pesquisa via SREI (Sistema de Registro


Eletrônico de Imóveis), sistema esse que consiste em pesquisa nos
Cartórios de Registro de Imóveis, fica desde já INDEFERIDO, uma vez que
pode a parte providenciá-la administrativamente.

Cumpra-se.

Datado e assinado digitalmente.

VANESSA ESTRELA GERTRUDES


Juíza de Direito
T.T.B

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