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PROJUDI - Recurso: 0012292-98.2020.8.16.0000 - Ref. mov. 31.1 - Assinado digitalmente por Juíza Subst.

2ograu Elizabeth de Fatima Nogueira C


almon de Passos
20/07/2020: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Juíza Subst. 2ºGrau Elizabeth de Fátima Nogueira Calmon de Passos - 10ª Câmara Cível)

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
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AGRAVO DE INSTRUMENTO N.º 0012292-98.2020.8.16.0000, DA 9.ª VARA CÍVEL
DE CURITIBA

AGRAVANTES: MARCO ANTÔNIO POLI E OUTRO

AGRAVADO: ESCRITÓRIO CENTRAL DE ARRECADAÇÃO E DISTRIBUIÇÃO - ECAD

RELATORA: ELIZABETH DE FÁTIMA NOGUEIRA (EM SUBSTITUIÇÃO AO EXM.º SR.


DES. DOMINGOS THADEU RIBEIRO DA FONSECA)

AGRAVO DE INSTRUMENTO. 1. DECISÃO QUE DEFERIU PEDIDO DE


BLOQUEIO DE PASSAPORTE, CNH E CARTÕES DE CRÉDITOS DE UM
EXECUTADO. ART. 139, IV, DO CPC. 2. MEDIDAS ATÍPICAS
QUE DEVEM SER ANALISADAS EM CONFORMIDADE COM OS
PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E RAZOABILIDADE. 3.
CABIMENTO NO CASO EM CONCRETO, QUE TRATA DE EXECUÇÃO EM
TRÂMITE DESDE O ANO 2002, OU SEJA, HÁ 18 (DEZOITO)
ANOS, SEM QUE O EXEQUENTE TENHA LOGRADO ÊXITO EM
SATISFAZER SEU CRÉDITO, QUE ATUALMENTE PERFAZ
APROXIMADOS R$533.446,81 (QUINHENTOS E TRINTA E TRÊS
MIL, QUATROCENTOS E QUARENTA E SEIS REAIS E OITENTA E
UM CENTAVOS). 4. PODER GERAL DE EFETIVAÇÃO DA TUTELA
EXECUTIVA. MEDIDAS QUE, POR SI SÓS, NÃO OFENDEM
DIREITOS FUNDAMENTAIS. PRECEDENTES EMANADOS DO E. STJ E
DESTA E. CORTE. MANUTENÇÃO DA DECISÃO AGRAVADA. RECURSO
CONHECIDO E DESPROVIDO.

I. RELATÓRIO:

Trata-se de Agravo de Instrumento interposto contra a r. decisão de


mov. 152.1, que nos autos de “Cumprimento de Sentença” de n.º
0001412-84.1996.8.16.0001, deferiu pedidos de apreensão do passaporte e
da Carteira Nacional de Habilitação do executado Marco Antônio Poli,
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assim como de suspensão de todos os cartões de crédito de que seja
titular, com fulcro no artigo 139, inciso IV do Código de Processo
Civil, “até que se verifique o pagamento da dívida ou a cabal
comprovação da efetiva impossibilidade financeira e da incontestável

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necessidade de exercício dos direitos ora suspensos temporariamente” (
sic).

Inconformado, o agravante pleiteia inicialmente a atribuição de efeito


suspensivo ao recurso, ao argumento de que a manutenção da decisão irá
obstaculizar sua vida pessoal e profissional, pois necessita de sua CNH
para o exercício de sua atividade profissional, sob pena de ausência de
movimentação bancária e de redução à condição de “miserabilidade”. No
mérito, sustenta que não possui condições de arcar com o pagamento da
dívida, nem mesmo possui algum bem que possa ser usado para a quitar,
de modo que se a decisão não for reformada, o agravante ficará sem
emprego e sem renda alguma para o seu sustento, e muito menos para
tentar saldar qualquer dívida. Além disso, o bloqueio de seus cartões
de crédito o deixará em situação desumana, pois não terá como efetuar
operações com qualquer banco, implicando a medida em que nunca possa se
realocar profissionalmente e pessoalmente, na sociedade - na prática,
“estas medidas impostas farão com que o agravante se anule cada vez
mais, nunca conseguindo se reerguer na vida, ficando sem poder dirigir
e sem seu emprego e ainda sem movimentação bancária alguma,
praticamente condenando-o a miserabilidade. (sic)”

O pretendido efeito suspensivo restou indeferido ao mov. 8.1,


sobrevindo Contraminuta ao mov. 18.1, pelo desprovimento da pretensão
recursal.

É o relatório.

II. FUNDAMENTAÇÃO:

Presentes os pressupostos intrínsecos e extrínsecos de admissibilidade,


conhece-se do recurso em epígrafe.

O agravante pretende o desbloqueio de seu passaporte, Carteira Nacional


de Habilitação (CNH) e cartões de crédito, medida ordenada pela i.
Magistrada singular nos seguintes termos (mov. 152.1, dos autos
principais):

“(...) 2. Pleiteia ainda o exequente a suspensão da


carteira nacional de habilitação junto ao DETRAN-PR, a
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apreensão do passaporte e suspensão dos catões de
crédito dos executados até a satisfação integral do
débito em questão.

O Código de Processo Civil de 2015, ciente da


problemática comumente verificada nos processos

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executivos e objetivando evitar práticas ilícitas e
abusivas pelos devedores voluntários, bem como para dar
efetividade ao próprio processo judicial, garantindo o
resultado almejado pelo interessado, trouxe também para
ação de execução a possibilidade de adoção de medidas
atípicas necessárias à consecução do seu fim, veja-se:

"Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as


disposições deste Código, incumbindo-lhe: (...) IV -
determinar todas as medidas indutivas, coercitivas,
mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para
assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive
nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária;
(...)".

A Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de


Magistrados (Enfam), de forma pioneira sobre o tema,
firmou que:

“O art. 139, inciso IV, traduz um poder geral de


efetivação, permitindo a aplicação de medidas atípicas
para garantir o cumprimento de qualquer ordem judicial,
inclusive no âmbito do cumprimento de sentença e no
processo de execução baseado em títulos. ” (Enunciado
nº 48)

Trata-se do poder do Judiciário de adotar as medidas


excepcionais necessárias para forçar o devedor a
cumprir os compromissos financeiros assumidos com o seu
credor, medidas estas denominadas de “atípicas” pelo
Novo Código de Processo Civil, justamente para dar
efetividade às ordens judiciais.

Extrai-se ainda na exposição de motivos do novo CPC, a


seguinte ponderação:

“Um sistema processual civil que não proporcione à


sociedade o reconhecimento e a realização dos direitos,
ameaçados ou violados, que têm cada um dos
jurisdicionados, não se harmoniza com as garantias
constitucionais de um Estado Democrático de Direito”.
E, adiante, desabafou: “Sendo ineficiente o sistema
processual, todo o ordenamento jurídico passa a carecer
de real efetividade. De fato, as normas de direito
material se transformam em pura ilusão, sem a garantia
de sua correlata realização, no mundo empírico, por
meio do processo. Não há fórmulas mágicas”
https://www.senado.gov.br/senado/novocpc/pdf/Anteprojeto.pdf
).
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As medidas eleitas devem ser sempre proporcionais,
observando-se as peculiaridades do caso concreto, a
regra da menor onerosidade ao devedor (CPC, art. 805),
bem assim o comando legal expresso de que, “Ao aplicar
o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins
sociais e às exigências do bem comum, resguardando e

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promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a
proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a
publicidade e a eficiência” (art. 8º).

Da análise detida dos autos, observa-se que a presente


execução prossegue desde 2002, ou seja, já se passaram
18 (dezoito) anos sem que o exequente tenha logrado
êxito em satisfazer o débito, que atualmente perfaz a
importância de aproximadamente 533.446,81 (quinhentos e
trinta e três mil, quatrocentos e quarenta e seis reais
e oitenta e um centavos).

No decorrer desses anos o executado não satisfez a


obrigação, de forma que o deferimento de medidas
executivas atípicas poderá servir como estimulo ao
devedor a pagar a dívida.

É certo que a apreensão do passaporte e o cancelamento


dos cartões de crédito são medidas que impactarão na
vida do executado, impedindo-o de promover gastos com
viagens e compras, forte no raciocínio de que quem não
tem condições financeiras para cumprir as obrigações já
assumidas não pode contrair novas, especialmente com
viagens, lazer e vestuário. O mesmo raciocínio vale
para a manutenção de veículo, considerando o alto valor
do combustível e as demais despesas que decorrem da
propriedade.

Portanto, a medida judicial se mostra proporcional,


adequada e necessária, tendo em vista que as demais
medidas executivas promovidas no curso do feito já se
mostraram ineficazes e porque atende aos objetivos
buscados no processo de execução, sendo capaz de
impelir o devedor ao pagamento da dívida e oportuna.

Acerca do tema, já se posicionou o E. TJPR:

DIREITO PROCESSUAL CIVIL E DIREITO CONSTITUCIONAL.


AGRAVO DE INSTRUMENTO EM CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.
DECISÃO QUE INDEFERIU O PEDIDO DE SUSPENSÃO DA CARTEIRA
NACIONAL DE HABILITAÇÃO (CNH) DOS EXECUTADOS. DÍVIDA
DECORRENTE DE INADIMPLEMENTO DE CONTRATO DE COMPRA E
VENDA DE IMÓVEL. –RECURSO DA EXEQUENTE SUBSISTÊNCIA DA
ALEGAÇÃO DE QUE A PROVIDÊNCIA PLEITEADA, ALÉM DE
ENCONTRAR AMPARO NO ARTIGO 139, INCISO IV, DO CÓDIGO DE
PROCESSO CIVIL, É PROPORCIONAL E RAZOÁVEL À LUZ DO CASO
CONCRETO, SENDO COMPATÍVEL COM O EXERCÍCIO DE DIREITOS
FUNDAMENTAIS – POSSIBILIDADE DE IMPOSIÇÃO DE MEDIDA
EXECUTIVA ATÍPICA PARA ESTIMULAR OS DEVEDORES A
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ADIMPLIR OBRIGAÇÃO DE PAGAR QUANTIA CERTA, QUANDO A
UTILIZAÇÃO DOS MEIOS ORDINÁRIOS SE MOSTRAR
INSUFICIENTE, SENDO ESTA A HIPÓTESE – AUSÊNCIA DE
VIOLAÇÃO A DIREITOS FUNDAMENTAIS, EM ESPECIAL A
LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO – DEVER DO PODER JUDICIÁRIO DE
EFETIVAR SUAS DECISÕES – INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 139,

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IV, DO CPC. .RECURSO CONHECIDO E PROVIDO Agravo de
Instrumento nºVISTOS, relatados e discutidos estes
autos de 0029726-71.2018.8.16.0000, da 2ª Vara Cível do
Foro Central da Comarca da Região Metropolitana de
Curitiba Nelson Kendi Komikawa e Outro e Maria Batista
Galvão e Outro., em que é Agravante Agravado (TJPR - 6ª
C.Cível - 0029726-71.2018.8.16.0000 - Curitiba - Rel.:
Renato Lopes de Paiva - J. 06.11.2018) (grifei).

Ante o exposto, defiro o pedido formulado à seq. 136.1


para o fim de determinar a apreensão do passaporte e da
Carteira Nacional de Habilitação dos executados, bem
como a suspensão de todos os cartões de crédito que é
titular, o que faço com fulcro no disposto pelo art.
139, inc. IV, do Código de Processo Civil, até que se
verifique o pagamento da dívida ou a cabal comprovação
da efetiva impossibilidade financeira e da
incontestável necessidade de exercício dos direitos ora
suspensos temporariamente.

Oficie-se à Polícia Federal (Ministério da Justiça e


Segurança Pública), ao DETRAN/PR requisitando a
apreensão do passaporte e CNH do executado, bem como
aos Bancos Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil,
Itaú, Bradesco, Santander, requisitando a suspensão de
todos os cartões de crédito que a parte executada é
titular até que se verifique o pagamento da dívida ou a
cabal comprovação da efetiva impossibilidade financeira
e da incontestável necessidade de exercício dos
direitos ora suspensos temporariamente. (...).”

In casu, é de se ressaltar que “a presente execução prossegue desde


2002, ou seja, já se passaram 18 (dezoito) anos sem que o exequente
tenha logrado êxito em satisfazer o débito, que atualmente perfaz a
importância de aproximadamente R$533.446,81 (quinhentos e trinta e três
mil, quatrocentos e quarenta e seis reais e oitenta e um centavos)”
[grifou-se], consoante o ponderou a d. Magistrada singular ao mov.
152.1 dos autos principais.

Com efeito, prevê a redação do artigo 139, inciso IV, do Código de


Processo Civil:

“Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as


disposições deste Código, incumbindo-lhe:

(...);
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IV - determinar todas as medidas indutivas,
coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias necessárias
para assegurar o cumprimento de ordem judicial,
inclusive nas ações que tenham por objeto prestação
pecuniária; (...)”

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O e. Superior Tribunal de Justiça se posiciona no sentido de que
possível a promoção de medidas executivas atípicas, tais como as
previstas no art. 139, IV, do CPC, quando exauridas as medidas típicas
sem sucesso (BACENJUD, RENAJUD, INFOJUD etc.) – e no caso em questão -“
todas as diligências para a satisfação do crédito foram requeridas,
porém todas resultaram infrutíferas, tanto em face da empresa, quanto
em face dos sócios” (o que se infere do requerimento ao mov. 136.1 dos
autos principais). Nesse sentido:

“RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE COMPENSAÇÃO POR DANO MORAL E


REPARAÇÃO POR DANO MATERIAL. CUMPRIMENTO DE SENTENÇA.
QUANTIA CERTA. MEDIDAS EXECUTIVAS ATÍPICAS. ART. 139,
IV, DO CPC/15. CABIMENTO. DELINEAMENTO DE DIRETRIZES A
SEREM OBSERVADAS PARA SUA APLICAÇÃO. 1. Ação
distribuída em 10/6/2011. Recurso especial interposto
em 25/5/2018. Autos conclusos à Relatora em 3/12/2018.
2. O propósito recursal é definir se, na fase de
cumprimento de sentença, a suspensão da carteira
nacional de habilitação e a retenção do passaporte do
devedor de obrigação de pagar quantia são medidas
viáveis de serem adotadas pelo juiz condutor do
processo. 3. O Código de Processo Civil de 2015, a fim
de garantir maior celeridade e efetividade ao processo,
positivou regra segundo a qual incumbe ao juiz
determinar todas as medidas indutivas, coercitivas,
mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para
assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive
nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária
(art. 139, IV). 4. A interpretação sistemática do
ordenamento jurídico revela, todavia, que tal previsão
legal não autoriza a adoção indiscriminada de qualquer
medida executiva, independentemente de balizas ou meios
de controle efetivos. 5. De acordo com o entendimento
do STJ, as modernas regras de processo, ainda
respaldadas pela busca da efetividade jurisdicional, em
nenhuma circunstância poderão se distanciar dos ditames
constitucionais, apenas sendo possível a implementação
de comandos não discricionários ou que restrinjam
direitos individuais de forma razoável. Precedente
específico. 6. A adoção de meios executivos atípicos é
cabível desde que, verificando-se a existência de
indícios de que o devedor possua patrimônio
expropriável, tais medidas sejam adotadas de modo
subsidiário, por meio de decisão que contenha
fundamentação adequada às especificidades da hipótese
concreta, com observância do contraditório substancial
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e do postulado da proporcionalidade. 7. Situação
concreta em que o Tribunal a quo indeferiu o pedido do
exequente de adoção de medidas executivas atípicas sob
o singelo fundamento de que a responsabilidade do
devedor por suas dívidas diz respeito apenas ao aspecto
patrimonial, e não pessoal. 8. Como essa circunstância

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não se coaduna com o entendimento propugnado neste
julgamento, é de rigor - à vista da impossibilidade de
esta Corte revolver o conteúdo fático-probatório dos
autos - o retorno dos autos para que se proceda a novo
exame da questão. 9. De se consignar, por derradeiro,
que o STJ tem reconhecido que tanto a medida de
suspensão da Carteira Nacional de Habilitação quanto a
de apreensão do passaporte do devedor recalcitrante não
estão, em abstrato e de modo geral, obstadas de serem
adotadas pelo juiz condutor do processo executivo,
devendo, contudo, observar-se o preenchimento dos
pressupostos ora assentados. Precedentes. RECURSO
ESPECIAL PROVIDO”. (REsp 1782418/RJ, Rel.ª Min.ª Nancy
Andrighi, Terceira Turma, julg. em 23.04.19, DJ-e
26.04.19)

Inclusive, a e. Corte Superior também já se manifestou no sentido de


que as medidas de suspensão da “CNH”, passaporte e cartões de crédito,
por si sós, não ofendem direitos fundamentais, como o de ir e vir (até
porque o interessado pode se valer do transporte público, dentre outros
alternativos, valendo-se de cartões de débito para pagar à vista
conforme a sua condição o permita, senão, de cheques a prazo):

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO EM HABEAS CORPUS. CUMPRIMENTO


DE SENTENÇA. MEDIDAS EXECUTIVAS ATÍPICAS. CABIMENTO.
RESTRIÇÃO DO DIREITO DE DIRIGIR. SUSPENSÃO DA CNH.
LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO. VIOLAÇÃO DIRETA. INOCORRÊNCIA.
PRINCÍPIOS DA RESOLUÇÃO INTEGRAL DO LITÍGIO, DA BOA-FÉ
PROCESSUAL E DA COOPERAÇÃO. ARTS. 4º, 5º E 6º DO
CPC/15. INOVAÇÃO DO NOVO CPC. MEDIDAS EXECUTIVAS
ATÍPICAS. ART. 139, IV, DO CPC/15. COERÇÃO INDIRETA AO
PAGAMENTO. POSSIBILIDADE. SANÇÃO. PRINCÍPIO DA
PATRIMONIALIDADE. DISTINÇÃO. CONTRADITÓRIO PRÉVIO. ART.
9º DO CPC/15. DEVER DE FUNDAMENTAÇÃO. ART. 489, § 1º,
DO CPC/15. COOPERAÇÃO CONCRETA. DEVER. VIOLAÇÃO.
PRINCÍPIO DA MENOR ONEROSIDADE. ART. 805, PARÁGRAFO
ÚNICO, DO CPC/15. ORDEM. DENEGAÇÃO. 1. Cuida-se de
habeas corpus por meio do qual se impugna ato
supostamente coator praticado pelo juízo do primeiro
grau de jurisdição que suspendeu a carteira nacional de
habilitação e condicionou o direito do paciente de
deixar o país ao oferecimento de garantia, como meios
de coerção indireta ao pagamento de dívida executada
nos autos de cumprimento de sentença. 2. O propósito
recursal consiste em determinar se: a) o habeas corpus
é o meio processual adequado para se questionar a
suspensão da carteira nacional de habilitação e o
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condicionamento do direito de deixar o país ao
oferecimento de garantia da dívida exequenda; b) é
possível ao juiz adotar medidas executivas atípicas e
sob quais circunstâncias; e c) se ocorre flagrante
ilegalidade ou abuso de poder aptos a serem corrigidos
nessa via mandamental. 3. Com a previsão expressa e

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subsidiária do remédio constitucional do mandado de
segurança, o habeas corpus se destina à tutela
jurisdicional da imediata liberdade de locomoção física
das pessoas, não se revelando, pois, cabível quando
inexistente situação de dano efetivo ou de risco
potencial ao "jus manendi, ambulandi, eundi ultro
citroque" do paciente. 4. A suspensão da Carteira
Nacional de Habilitação não configura dano ou risco
potencial direto e imediato à liberdade de locomoção do
paciente, devendo a questão ser, pois, enfrentada pelas
vias recursais próprias. Precedentes. 5. A medida de
restrição de saída do país sem prévia garantia da
execução tem o condão, por outro lado, - ainda que de
forma potencial - de ameaçar de forma direta e imediata
o direito de ir e vir do paciente, pois lhe impede,
durante o tempo em que vigente, de se locomover para
onde bem entender. 6. O processo civil moderno é
informado pelo princípio da instrumentalidade das
formas, sendo o processo considerado um meio para a
realização de direitos que deve ser capaz de entregar
às partes resultados idênticos aos que decorreriam do
cumprimento natural e espontâneo das normas jurídicas.
7. O CPC/15 emprestou novas cores ao princípio da
instrumentalidade, ao prever o direito das partes de
obterem, em prazo razoável, a resolução integral do
litígio, inclusive com a atividade satisfativa, o que
foi instrumentalizado por meio dos princípios da boa-fé
processual e da cooperação (arts. 4º, 5º e 6º do CPC),
que também atuam na tutela executiva. 8. O princípio da
boa-fé processual impõe aos envolvidos na relação
jurídica processual deveres de conduta, relacionados à
noção de ordem pública e à de função social de qualquer
bem ou atividade jurídica. 9. O princípio da cooperação
é desdobramento do princípio da boa-fé processual, que
consagrou a superação do modelo adversarial vigente no
modelo do anterior CPC, impondo aos litigantes e ao
juiz a busca da solução integral, harmônica, pacífica e
que melhor atenda aos interesses dos litigantes. 10.
Uma das materializações expressas do dever de
cooperação está no art. 805, parágrafo único, do
CPC/15, a exigir do executado que alegue violação ao
princípio da menor onerosidade a proposta de meio
executivo menos gravoso e mais eficaz à satisfação do
direito do exequente. 11. O juiz também tem atribuições
ativas para a concretização da razoável duração do
processo, a entrega do direito executado àquela parte
cuja titularidade é reconhecida no título executivo e a
garantia do devido processo legal para exequente e o
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executado, pois deve resolver de forma plena o conflito
de interesses. 12. Pode o magistrado, assim, em vista
do princípio da atipicidade dos meios executivos,
adotar medidas coercitivas indiretas para induzir o
executado a, de forma voluntária, ainda que não
espontânea, cumprir com o direito que lhe é exigido.

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13. Não se deve confundir a natureza jurídica das
medidas de coerção psicológica, que são apenas medidas
executivas indiretas, com sanções civis de natureza
material, essas sim capazes de ofender a garantia da
patrimonialidade da execução por configurarem punições
ao não pagamento da dívida. 14. Como forma de resolução
plena do conflito de interesses e do resguardo do
devido processo legal, cabe ao juiz, antes de adotar
medidas atípicas, oferecer a oportunidade de
contraditório prévio ao executado, justificando, na
sequência, se for o caso, a eleição da medida adotada
de acordo com os princípios da proporcionalidade e da
razoabilidade. 15. Na hipótese em exame, embora ausente
o contraditório prévio e a fundamentação para a adoção
da medida impugnada, nem o impetrante nem o paciente
cumpriram com o dever que lhes cabia de indicar meios
executivos menos onerosos e mais eficazes para a
satisfação do direito executado, atraindo, assim, a
consequência prevista no art. 805, parágrafo único, do
CPC/15, de manutenção da medida questionada, ressalvada
alteração posterior. 16. Recurso em habeas corpus
desprovido”. (RHC 99.606/SP, Rel.ª Min.ª Nancy
Andrighi, Terceira Turma, julg. em 13.11.18, DJe
20.11.18).

Outrossim, as medidas atípicas, além de buscarem a efetividade da


prestação jurisdicional, com o adimplemento da dívida, respeitam o
binômio da máxima efetividade, com a menor onerosidade, principalmente
ao se considerar a possibilidade de prescrição intercorrente; demais
disso, nada de concreto aduziu o executado quanto a riscos e eventuais
prejuízos que justifiquem a reforma da decisão agravada, enfatizando-se
que a ilustre Julgadora singular esclareceu que a manutenção das
medidas ocorrerão “até que se verifique o pagamento da dívida ou a
cabal comprovação da efetiva impossibilidade financeira e da
incontestável necessidade de exercício dos direitos ora suspensos
temporariamente” (sic).

Em caso análogo:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO DE TÍTULO


EXTRAJUDICIAL. LOCAÇÃO EM SHOPPING CENTER. SÍNTESE
FÁTICA. DECISÃO QUE DEFERE SUSPENSÃO DE CNH,
RECOLHIMENTO DE PASSAPORTE E BLOQUEIO DE UTILIZAÇÃO DE
CARTÕES DE CRÉDITO DOS EXECUTADOS. DEVEDORES QUE SE
INSURGEM VISANDO AFASTAR AS MEDIDAS. MEDIDAS EXECUTIVAS
PROJUDI - Recurso: 0012292-98.2020.8.16.0000 - Ref. mov. 31.1 - Assinado digitalmente por Juíza Subst. 2ograu Elizabeth de Fatima Nogueira C
almon de Passos
20/07/2020: JUNTADA DE ACÓRDÃO. Arq: Acórdão (Juíza Subst. 2ºGrau Elizabeth de Fátima Nogueira Calmon de Passos - 10ª Câmara Cível)

Documento assinado digitalmente, conforme MP nº 2.200-2/2001, Lei nº 11.419/2006, resolução do Projudi, do TJPR/OE
ATÍPICAS. CABIMENTO. EXAURIMENTO DAS MEDIDAS TÍPICAS.
DEVEDOR CONTUMAZ. PODER GERAL DE EFETIVAÇÃO DA TUTELA
EXECUTIVA. MEDIDAS QUE, POR SI SÓ, NÃO OFENDEM DIREITOS
FUNDAMENTAIS. ENTENDIMENTO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE
JUSTIÇA. PRESTÍGIO A MÁXIMA EFETIVIDADE COM A MENOR

Validação deste em https://projudi.tjpr.jus.br/projudi/ - Identificador: PJ8MZ 8D5CX J24PW MRP6B


ONEROSIDADE. RECURSO CONHECIDO E, POR MAIORIA DE VOTOS,
NÃO PROVIDO . (TJPR, 11.ª Câm. Cív. AI
0013663-34.2019.8.16.0000, Rel.ª Des.ª Lenice Bodstein,
por maioria, julg. em 05.06.19 – grifou-se)

Assim, em sede de cognição sumária não exauriente da matéria, não há


como reformar a decisão agravada, consignando-se nada impede venha o
executado[1] a contatar o exequente a fim de entabular possível acordo
para saldar a dívida conforme as suas possibilidades, o que, ao que
tudo indica, até hoje não fez, atentando-se que se trata de “Ação de
Cobrança” ajuizada em 1996, em que iniciada a fase de “Cumprimento de
Sentença” em 2002 (mov. 1.29), quando o crédito exequendo remontava a
R$46.935,99 (mov. 1.28).

Diante do exposto e pela fundamentação supra, o voto é no sentido de


conhecer e negar provimento ao Agravo de Instrumento, mantendo-se o
inteiro teor da r. decisão agravada.

III - DISPOSITIVO:

Ante o exposto, acordam os Desembargadores da 10.ª Câmara Cível do


TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO PARANÁ, por unanimidade de votos, em julgar
CONHECIDO E NÃO-PROVIDO o recurso de MARCO ANTÔNIO POLI E OUTRO.

O julgamento foi presidido pelo Desembargador Luiz Lopes, com voto, e


dele participaram Juíza Subst. 2.º Grau Elizabeth De Fátima Nogueira
(relatora) e Desembargadora Ângela Khury.

Curitiba, 17 de julho de 2020.

Elizabeth de Fátima Nogueira

Juíza de Direito Substituta em 2.º Grau

[1] Exerce o executado a função de Escrevente do Serviço Distrital de Pinhalão,


conforme Declaração ao mov. 1.3 do procedimento recursal.

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