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Identificador: DB786-6D7B4-FF48D
Processo: 01843/2023-8
Classificação: Controle Externo - Fiscalização - Denúncia
Setor: NPPREV - Núcleo de Controle Externo de Fiscalização de Pessoal e Previdência
Criação: 11/03/2024 17:53
UGs: PGM - Procuradoria Geral do Município de Vila Velha, PMVV - Prefeitura Municipal
de Vila Velha, SEMAD - Secretaria Municipal de Administração de Vila Velha, SEMCONT -
Secretaria Municipal de Controle e Transparência de Vila Velha, SEMFI - Secretaria
Municipal de Finanças de Vila Velha, SEMGOV - Secretaria Municipal de Governo de Vila
Velha
Relator: Rodrigo Flávio Freire Farias Chamoun
Denunciante: Identidade preservada
Responsável: ADINALVA MARIA DA SILVA PRATES, MARIA DO CARMO NEVES
NOVAES, RODRIGO MAGNAGO DE HOLLANDA CAVALCANTE, MENARA RIBEIRO
SANTOS MAGNAGO DE HOLLANDA CAVALCANTE, OTAVIO JUNIOR RODRIGUES
POSTAY, VITOR SOARES SILVARES
Procurador: LUIZ CAMPOS RIBEIRO DIAZ (OAB: 15326-ES)
1. DA SÍNTESE PROCESSUAL
Os autos foram então remetidos ao Conselheiro Relator que, nos termos da Decisão
Monocrática 00822/2023-9, entendeu por conhecer a presente Denúncia; por
indeferir a medida cautelar pleiteada; por determinar que os autos caminhem sob o
rito ordinário; bem como por determinar a oitiva da Sra. Adinalva Maria da Silva Prates
e da Sra. Maria do Carmo Neves Novaes, para esclarecimentos necessários quanto
a execução das despesas relacionadas as verbas de gratificação apontadas nos
autos.
Os autos são então remetidos ao Conselheiro Relator que profere seu voto no sentido
do indeferimento da cautelar sugerida pelo NPPREV, tendo em vista o entendimento
de que as medidas recém comunicadas pelo Município de Vila Velha, dando conta da
reinterpretação da natureza jurídica do jetom objeto dos autos, correspondem aos
efeitos de uma cautelar (evento 46).
SUBITENS/
RESPONSÁVEIS
IRREGULARIDADES
2. ANÁLISE TÉCNICA
Analisando os requerimentos, infere-se que, existe correlação entre uma das causas
de pedir apresentada na Representação do processo TC-5733/2023 em que se requer
apurar possível irregularidade de verba indenizatória do § 5º, art. 30 da lei municipal
serrana nº. 4602/2017, paga a título de jetons a servidores municipais. No entanto,
há, tanto neste como naqueles autos, outros pedidos e causas de pedir, que não
guardam correlação entre si.
(...)
1
Art. 258. Se dois ou mais processos se referirem à matéria conexa serão distribuídos, por prevenção,
a um só Relator. Art. 251. A distribuição por prevenção ocorrerá quando identificada conexão,
continência ou outra hipótese prevista neste Regimento Interno, sendo fixada pela primeira autuação.
(...)
Cumpre apontar ainda que matéria similar à dos autos segue tratada no
âmbito do STF, nos autos, na Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI)
7.402 GOIÁS, proposta pelo Procurador-Geral da República, em face de
diversas disposições legais do Estado de Goiás, que disciplinam o
pagamento de verbas indenizatórias a agentes públicos estaduais. Em 22 de
agosto último, o Plenário do STF referendou a medida cautelar proferida, com
a seguinte ementa:
EMENTA
REFERENDO NA MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE
INCONSTITUCIONALIDADE. ARTS. 92, § 2º, E 94, PARÁGRAFO
ÚNICO, DA LEI ESTADUAL Nº 21.792, DE 2023; LEI ESTADUAL Nº
21.831, DE 2023; ART. 2º DA LEI ESTADUAL Nº 21.832, DE 2023; E
LEI ESTADUAL Nº 21.833, DE 2023; E ART. 2º DA LEI 21.761, DE
2022; TODAS DE GOIÁS. DISCIPLINA DO PAGAMENTO DE
VERBAS INDENIZATÓRIAS A AGENTES PÚBLICOS ESTADUAIS.
POTENCIAL VIOLAÇÃO AOS ARTS. 5º, CAPUT; 24, INC. I E § 1º; 37,
CAPUT E INC. XI; E 151, INC. III, TODOS DA CRFB. FUMUS BONI
IURIS E PERICULUM IN MORA CARACTERIZADOS.
1. O teto constitucional abrange a integralidade das parcelas
remuneratórias percebidas pelo servidor público. A única exceção se
dá em relação às “parcelas de caráter indenizatório previstas em lei”,
nos termos do § 11 do art. 37 da Lei Maior.
2. A verba remuneratória é paga a título de contraprestação pelo
serviço prestado. Já a parcela indenizatória tem por escopo compensar
o gasto dispendido pelo servidor como condição necessária à efetiva
prestação do serviço. Os conceitos são ontologicamente distintos, cuja
diferenciação decorre da própria natureza jurídica particular de cada
um.
3. Nesse sentido, bem pontuou o saudoso Ministro Teori Zavascki, em
seu voto-vista proferido no julgamento paradigma relativo ao Tema RG
nº 484: “(...). Para que se tipifique um gasto como indenizatório, não
basta que a norma assim o considere. É indispensável que a dicção
formal da norma guarde compatibilidade com a real natureza desse
dispêndio. E indenização é conceito jurídico com alcance bem
determinado na sua formulação.” (RE nº 650.898-RG/RS, Tema nº 484
do ementário da Repercussão Geral, Rel. Min. Marco Aurélio, Red. Do
Acórdão Min. Roberto Barroso, j. 1º/02/2017, p. 24/08/2017).
4. Por isso mesmo, não há razão jurídica apta a amparar a
cambialidade de uma dada parcela a partir do atingimento de um
determinado montante, classificando-se a verba como remuneratória
Como ocorre ainda, tendo em vista que a lei considera como indenizatórios
valores decorrentes do trabalho, termina por promover a isenção de tributo,
afastando a incidência do Imposto de Renda sobre tais parcelas, afrontando,
com isso, a competência do ente central da Federação para editar normas
gerais de direito tributário (art. 24, I e § 1º, da Constituição Federal) – quanto
contrariam o princípio da vedação da isenção heterônoma, previsto no art.
151, III, da Constituição Federal.
(...)
• que os Municípios são ente federados autônomos e que lhes compete não só
suplementar legislação federal e estadual, mas, sobretudo de cuidar e legislar
sobre a sua organização político administrativa (art. 18, caput, da CF) e, em
última análise, quando se cria uma gratificação, nada mais se está fazendo do
que organizando e criando mecanismo de gestão.
• E, quando se define a natureza dessa verba, nada mais se está fazendo do que
trazendo clareza, publicidade, transparência e segurança jurídica para os
• cita inúmeros precedentes, dentre eles acórdãos do TJES, STJ, TCU e outros.
ANÁLISE
A clássica doutrina de Hely Lopes Meirelles foi responsável por divulgar esta e outras
nomenclaturas em latim, ao sistematizar as vantagens pecuniárias (adicionais e
gratificações) dos servidores públicos. De forma sintética, o autor visualiza vantagens
que possuem características hábeis a se incorporarem aos vencimentos, preenchidas
condições, (as pro labore facto) e outras que permitem o recebimento de modo
temporário (as pro labore faciendo), encerrando sua fruição quando cessada sua
2
Disponível em
https://aplicativos.tjes.jus.br/sistemaspublicos/consulta_jurisprudencia/temp_pdf_jurisp/14392728297.pdf?CFID
=331821003&CFTOKEN=12786101 (acesso em 23/02/2024)
causa.
Por fim, no que tange ao aludido posicionamento do TCU, que há muito entende ser
o jeton uma gratificação, ostentando natureza remuneratória, os excertos destacados
pelos defendentes dizem respeito à paga destinada a AGENTES HONORÍFICOS3 na
fiscalização dos Conselhos de Fiscalização Profissional.
3
Por todos, atente-se ao item 4.84 do Acórdão TCU 1237/2022 “Além dessa questão, há outras que demonstram
residir, de fato, interesse recursal na discussão do tema da natureza jurídica do jeton. Uma delas é a discussão se
uma verba remuneratória não afastaria per si o caráter honorífico do cargo, como alega um dos recorrentes, o
CONFECI: "Quanto ao reconhecimento da natureza remuneratória do jeton, data máxima vênia, esse
entendimento descaracteriza a gratuidade e honorabilidade do cargo de conselheiro, que, em muitos casos,
vem prevista na respectiva lei de criação."
Por todo o exposto, conclui-se que não há posicionamento para infirmar o consolidado
por esta Corte de Contas no Parecer Consulta 24/2017, em especial, nos seguintes
excertos:
(..)
Por final, deve ser mantido o entendimento da ITI, pois conforme demonstrou e consta
no site da Transparência do Município de Vila Velha as despesas “por favorecido”, na
data de 24/10/2023, a título do jeton previsto no art. 78 da Lei Municipal 6.563/2022,
somam o montante de R$ 359.462,10, no ano de 2023 e foram interrompidos, apesar
da ausência de formalização em decisão administrativa, à espera da solução da
presente fiscalização, conforme informa o Prefeito Municipal no evento 64, mantendo
a norma em vigor.
(...)
Art. 37 (...)
(...)
JUSTIFICATIVAS
(...)
ANÁLISE
Depreende-se que a norma não trata de reajuste, aquele geral para reposição do
poder aquisitivo da moeda, e sim de aumento do benefício atrelado ao índice federal,
travestido de índice municipal, uma vez que a composição do valor de referência do
município é correspondente à apuração de índice federal:
Base legal: Art. 37, caput e inciso XI; art. 151, inciso III; art. 24, I e § 1º,
todos da Constituição Federal, Parecer Consulta 24/2017, art. 110 do
Código Tributário Nacional e art. 4º da Lei Municipal 5.318/2012
(desconcentração administrativa)..
4
É o que se extrai do RE 218874, citado pela ITI.
Em síntese, descreveu:
(...) constatou-se no site da Transparência do Município de Vila Velha, a
execução de despesas a título de participação no COMAFO, com total já
pago neste ano de 2023 de R$ 200.510,40, que equivale a 24 vezes o
montante de R$ 8.354,60, equivalente ainda ao pagamento de 6
integrantes do COMAFO por 4 meses (janeiro a abril):
JUSTIFICATIVAS
Os responsáveis dispõem das mesmas razões de defesa e argumentam, em síntese:
que o jeton em questão, cuja natureza é indenizatória, não está albergado pelo
teto remuneratório constitucional, por força do artigo 37, §11º, da CF e dos
precedentes jurisprudenciais;
não incide imposto de renda sobre verba indenizatória, ante a própria leitura do
artigo 43 do CTN e dos precedentes;
ANÁLISE
Destarte, que com relação a diferença é feito o devido abate teto. Isto é, da
diferença de R$15.743,00 (valor percebido pelas subscritoras) -
R$15.362,73 (subsídio do Prefeito) = R$380,27, este valor é abatido
consoante se comprova pelo contracheque, onde consta desconto para
fins de abate teto na denominação “DESCONTO EC 41/2003: R$380,27”.
5
A Lei Municipal 5.318/2012 dispõe sobre a desconcentração administrativa do Poder Executivo Municipal de
Vila Velha, estabelecendo no art. 4º que são ordenadores de despesa, o Prefeito Municipal, o Procurador Geral,
os Secretários Municipais e o Controlador Geral.
pela Administração. […]" (MS 25.641, rel. Min. Eros Grau, DJe 22.2.2008).
7. Agravo regimental a que se nega provimento.
(MS 32979 AgR, Relator(a): EDSON FACHIN, Segunda Turma, julgado em
29-06-2018, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-153 DIVULG 31-07-2018
PUBLIC 01-08-2018)
Não cabe, assim, alegar existência de julgados para embasar o posicionamento da lei
local pelo pagamento de verba indenizatória, pois já se demonstrou no item referente
à inconstitucionalidade que os precedentes enumerados na defesa se referem a
casos díspares do regido pela norma municipal, deste modo, não podem ser
considerados paradigmas e não são hábeis a demonstrar dúvida plausível ou
divergência jurisprudencial.
Desta forma, fica caracterizada a culpa grave e responsabilidade dos Srs. Maria do
Carmo Neves Novaes; Adinalva Maria da Silva Prates; Rodrigo Magnago de Hollanda
Cavalcante; Menara Cavalcante Ribeiro Santos Magnago de Hollanda Cavalcante;
Otávio Junior Rodrigues Postay, e Vitor Soares Silvares, opinando-se pela
improcedência das razões de defesa e manutenção do entendimento técnico
exarado na ITI, para que essa Corte de Contas reconheça a irregularidade passível
multa e ressarcimento ao erário, nos termos dos arts. 1º, XXXII, 131, 134 e 135, II da
Lei Complementar 621 de 8 de março de 2012.
Identificação:
Maria do Carmo Neves Novaes – Secretária de Governo e Coordenação
Institucional
Tal omissão configura ofensa aos princípios trazidos no art. 3º da Lei Federal 12.527/2011
(Lei da Transparência), em especial: observância da publicidade como preceito geral e do
sigilo como exceção; divulgação de informações de interesse público, independentemente
6Maria do Carmo Neves Novaes; Adinalva Maria da Silva Prates; Rodrigo Magnago de Hollanda
Cavalcante; Menara Cavalcante Ribeiro Santos Magnago de Hollanda Cavalcante; Otávio Junior
Rodrigues Postay, e Vitor Soares Silvares
Configura ainda ofensa Lei Estadual 9.871, de 09 de julho de 2012, que regula o acesso
a informações previsto no inciso II do § 4º do artigo 32 da Constituição do Estado do
Espírito Santo, cujos incisos II e III do § 1º do art. 8º estabelecem como dever dos órgãos
e entidades públicas estaduais promover, independentemente de requerimentos, a
divulgação em local de fácil acesso o registro de quaisquer repasses ou transferências de
recursos financeiros, bem como o registro das despesas:
Art. 8º É dever dos órgãos e entidades públicas estaduais promover,
independentemente de requerimentos, a divulgação em local de fácil
acesso, no âmbito de suas competências, de informações de interesse
coletivo ou geral por eles produzidas ou custodiadas, a título de transparência
ativa.
§ 1º Na divulgação das informações a que se refere o caput, deverão
constar, no mínimo:
(...)
II - registros de quaisquer repasses ou transferências de recursos
financeiros;
III - registros das despesas;
(...)
Conforme apontado no item anterior, o jeton previsto para participação no
COMAFO constitui verba com natureza remuneratória e não indenizatória
(embora previsto em norma tingida de inconstitucionalidade), na medida em
que se justifica em razão da realização de um trabalho adicional, no caso, a
efetiva participação nas reuniões do Comitê.
JUSTIFICATIVA:
o JETON objeto deste feito foi criado por lei formal (Lei 6563/2022, art. 78),
sendo definida a sua natureza jurídica por lei formal (Lei 6615/2022, art. 7º),
ambas devidamente publicadas no Diário Oficial do Município;
ANÁLISE
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https://www.cnmp.mp.br/portal/institucional/comissoes/comissao-de-controle-administrativo-e-
financeiro/atuacao/manual-do-ordenador-de-despesas/recursos-humanos-e-gestao-de-pessoas/folha-de-
Assim, apesar dos responsáveis alegarem que todas as informações foram extraídas
do portal da prefeitura, é certo que foi necessária a consulta à lei instituidora da
vantagem, decreto de nomeação dos membros, busca entre o rol de fornecedores da
rubrica pertinente, divisão do valor global da despesa pelo número localizado de
beneficiários, para se concluir que os Secretários Municipais Maria do Carmo Neves
Novaes; Adinalva Maria da Silva Prates; Rodrigo Magnago de Hollanda Cavalcante;
pagamento-informatizacao-transparencia-contracheque-unico-gratificacoes-por-substituicao-e-remuneracao-
variavel
Desta forma, fica caracterizada a culpa grave e responsabilidade dos Srs. Maria do
Carmo Neves Novaes; Adinalva Maria da Silva Prates; Rodrigo Magnago de Hollanda
Cavalcante; Menara Cavalcante Ribeiro Santos Magnago de Hollanda Cavalcante;
Otávio Junior Rodrigues Postay, e Vitor Soares Silvares, opinando-se pela
improcedência das razões de defesa e manutenção do entendimento técnico
exarado na ITI, para que essa Corte de Contas reconheça a irregularidade passível
multa, nos termos dos arts. 1º, XXXII, 131, 134 e 135, II da Lei Complementar 621 de
8 de março de 2012.
3. PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
Base legal: Art. 37, caput e inciso XI; art. 151, inciso III; art. 24, I e § 1º,
todos da Constituição Federal, Parecer Consulta 24/2017, art. 110 do
Código Tributário Nacional e art. 4º da Lei Municipal 5.318/2012
(desconcentração administrativa).
3.2 Dessa forma, diante do preceituado no art. 3198, da Res. TC 261/2013, conclui-
se opinando pela:
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Art. 319. Na fase final da instrução dos processos, constitui formalidade essencial, além do exame da
unidade competente, a elaboração da instrução técnica conclusiva.
§ 1º A instrução técnica conclusiva conterá, necessariamente:
I - a narrativa dos fatos;
II - os indícios de irregularidades, se existentes, apontados no relatório e na instrução técnica inicial;
III - a análise devidamente fundamentada, com o exame das questões de fato e de direito;
IV - a conclusão, com a proposta de encaminhamento.
3.4. Sugere-se, por fim, que seja determinado ao Município a realização de tomada
de contas especial para apuração do dano e identificação dos responsáveis.