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MINISTÉRIO DA FAZENDA
CONSELHO DE RECURSOS DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL
468ª Sessão
Processo 10372.100089/2021-71
Processo na primeira instância CRSFN-CVM RJ2019/2333
RECURSOS VOLUNTÁRIOS
Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, os membros do Conselho de Recursos do Sistema Financeiro
Nacional decidem conhecer dos recursos e, por unanimidade, nos termos do voto da Relatora:
1. negar provimento ao recurso de ICONIC INTERMEDIAÇÃO DE NEGÓCIOS E SERVIÇOS LTDA., para manter a pena
de multa no valor de R$ 387.934,93 (trezentos e oitenta e sete mil, novecentos e trinta e quatro reais e noventa e
três centavos), correspondendo ao valor da emissão irregular, pela realização de oferta de valores mobiliários sem
a obtenção do registro previsto no artigo 19 da Lei nº 6.385/76 e no artigo 2º da Instrução CVM nº 400/2003, e
sem a dispensa prevista no inciso I do § 5º do artigo 19 da Lei nº 6.385/1976 e no artigo 4º da Instrução CVM nº
400/2003; e
2. dar parcial provimento ao recurso de JONATHAN DOERING DARCIE, para convolar a pena de multa no valor de
R$ 387.934,93 (trezentos e oitenta e sete mil, novecentos e trinta e quatro reais e noventa e três centavos) em
advertência, pela realização de oferta de valores mobiliários sem a obtenção do registro previsto no artigo 19 da
Lei nº 6.385/76 e no artigo 2º da Instrução CVM nº 400/2003, e sem a dispensa prevista no inciso I do § 5º do
artigo 19 da Lei nº 6.385/1976 e no artigo 4º da Instrução CVM nº 400/2003.
Participaram do julgamento os Conselheiros Ilene Patricia de Noronha Najjarian, Valdir Carlos Pereira Filho, Ana
Paula Zanetti de Barros Moreira (art. 19, §3, RICRSFN), Rui Fernando Ramos Alves, Adriana Teixeira de Toledo,
Marcia Gomes Lencastre, Paula Christine Schlee e Igor Muniz. Ausentes, justificadamente, os Conselheiros Pedro
Frade de Andrade e Gyedre Carneiro de Oliveira. Atuou o Procurador da Fazenda Nacional André Alvim de Paula
Rizzo.
MINISTÉRIO DA ECONOMIA
CONSELHO DE RECURSOS DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL
Processo 10372.100089/2021-71
Processo na primeira instância CRSFN-CVM RJ2019/2333
RECURSOS VOLUNTÁRIOS
RECORRENTES: ICONIC INTERMEDIAÇÃO DE NEGÓCIOS E SERVIÇOS LTDA.
JONATHAN DOERING DARCIE
RECORRIDO: COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS
RELATORA: ILENE PATRICIA DE NORONHA NAJJARIAN
Modalidade(s) de Julgamento: (X)Virtual (X)Videoconferência (X)Presencial
RELATÓRIO
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Superintendência de Registros da CVM, que concluiu que a proposta de investimento oferecida pela ICONIC, por
meio de tokens, se enquadraria nos moldes do conceito de valor mobiliário.
3. O Processo Administrativo Sancionador CVM RJ 2019/2333, que gerou o Processo Eletrônico Sancionador em
exame: SEI 19957.003406/2019-91, foi originado do Processo 19957.004215/2018-66. Nesse passo, cabe
descortinar a cronologia dos eventos investigados nos processos administrativos em cotejo. Abaixo, linha do
tempo no Processo 19957.004215/2018-66:
DATA EVENTO
20/04/2018 Ofício nº 119/2018/CVM/SRE/GER-3 - solicitações de informações
02/05/2018 AR do ofício nº 119/2018/CVM/SRE/GER-3
13/08/2018 Ofício nº 295/2018/CVM/SRE/GER-3 - Solicitações de informações
Relatório de investigação Nº 44/2019-CVM/SRE/GER-3 com a proposta de abertura do processo
27/03/2019
administrativo sancionador nº 19957.003406/2019-91
27/03/2019 Termo de encerramento do PAS 19957.004215/2018-66
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b) A definição de valor mobiliário da Lei nº 6.385/1976 não poderia ser aplicada ao caso;
f) Por fim, a defesa solicitou as seguintes providências: (a) que fosse certificada a existência ou não de
denúncias realizadas por particulares, no âmbito da CVM, envolvendo os acusados; e (b) que fosse
promovida a juntada aos autos de todos os atos e regulamentos públicos oficiais da CVM relativos a
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9. O Colegiado decidiu, também, que o resultado do julgamento fosse comunicado ao Ministério Público Federal,
à Procuradoria Federal do Estado do Rio Grande do Sul, nos termos da Lei Complementar nº 105/2001, em
complemento ao OFÍCIO nº 190/2019/CVM/SGE, para que fossem adotadas eventuais providências julgadas
cabíveis no âmbito de suas competências. Conforme processo 10372.100049/2022-19, processamento de
demanda externa, ofício 1156696/2022, referente ao Processo n. 2020.0000449-SR/PF/RS. Doc. SEI.23708311.
10. Proferida em 27/10/2020, a decisão unânime, (Doc. SEI nº 15652004 fls. 195 e ss.), do Colegiado da Comissão
de Valores Mobiliários, entendeu, portanto, pela responsabilidade administrativa dos recorrentes, nos termos
acima apontados. Os interessados foram intimados do resultado do julgamento, a saber:
V. Recurso
11. Conforme consta na Certidão de Intimação Cumprida (12244875 do Doc. SEI 15652004), as intimações foram
cumpridas em 24/03/2021. O prazo para a interposição de Recurso: 30 (trinta) dias a contar do recebimento, nos
termos do artigo 24 da Instrução CVM 607/2019, vigente à época dos fatos. Nestes termos, a contagem foi
iniciada em 25/03/2021 e finalizada em 24/04/2001, sendo certo que a peça recursal foi protocolada, na CVM, em
23/04/2021, (Doc. SEI nº15652004, fls. 212).
12. O recurso pleiteia a reforma da decisão, com o pedido de improcedência do Termo de Acusação e redução das
penalidades, haja vista que o recurso assevera que a oferta do token NIC realizada pelos ora recorrentes não
configuraria um contrato de investimento coletivo, portanto não seria necessária a obtenção do registro previsto
no art. 19 da Lei 6.385/76 e no art. 2º da Instrução CVM 400/03, ou mesmo a dispensa prevista no inciso I do § 5º
do art. 19 da Lei 6.385/76 e no art. 4º da Instrução CVM 400/2003 vigentes à época dos fatos. Formulado em
petição conjunta, o recurso de ICONIC Intermediação de Negócios e Serviços Ltda., bem como de Jonathan
Doering Darcie, foi dividido em três partes:
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1º) Histórico detalhado das situações prévias e posteriores à emissão do token NIC pela ICONIC, com a (i)
apresentação minuciosa acerca do projeto da ICONIC ecosystem, bem como a (ii) análise contextualizada
da expressão de “fundo de lastro” e da (iii) decisão recorrida.
2º) Análise da emissão do token NIC por uma perspectiva fática-jurídica, demonstrando-se os porquês
de o token não poder configurar oferta dos chamados contratos de investimento coletivo.
- Assim, foram apresentadas três principais razões de direito positivo, decorrentes de definições
legais e dos conceitos que permeiam o arcabouço regulatório do mercado de capitais, que
justificam a não configuração:
ii. A ICONIC realizou o seu ICO inteiramente com Ether (criptomoeda), sem o trânsito de
sequer 1,00 na oferta de token NIC;
- Também foram apresentadas duas razões de segurança jurídica para a não configuração da oferta
como contratos de investimento coletivo:
ii. A liberdade econômica do empreendedor e o seu direito de ver seus modelos de negócio
interpretados de modo não restritivo
3º) Evidência do caráter excessivo da dosimetria da pena realizada no caso concreto, na medida em que
os recorrentes não teriam praticado em nenhum momento ato de má-fé em relação à oferta do token NIC
e a primeira manifestação da CVM sobre entidade autônoma descentralizada ocorre no presente processo,
configurando desproporcionalidade na aplicação das penalidades.
13. Por fim, pediu-se o recebimento e o provimento do recurso para que se considere inexistente na emissão do
token NIC, e sua venda a configuração da sua venda como contrato de investimento coletivo, para fim de absolver
a empresa e seu administrador. Alternativamente, requer que, diante das circunstâncias e dos padrões praticados
pela CVM em casos de gravidade muito maior e envolvendo empresas de porte elevado, que, entendendo-se pela
configuração do CIC, que seja readequada a penalidade aplicada à empresa e ao administrador para advertências.
Manifestou-se, na peça recursal, pela intenção de sustentação oral no momento do julgamento perante o CRSFN.
15. Foi solicitado Parecer da r. PGFN. Doc. SEI 25398692, com base no inciso I do art. 15 do Regimento Interno do
CRSFN, em 06/06/2022, quanto: 1º. Definir se a oferta de tokens realizada pela ICONIC se enquadraria no tipo
legal previsto no inciso IX, ou até mesmo em outro inciso, do artigo 2º da Lei 6.385/76, ou melhor, se o
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“criptoativo” que estava sendo ofertado se subsumiria no rol dos valores mobiliários sujeitos à jurisdição da CVM;
e, 2º. Quaisquer outras questões jurídicas compreendidas como pertinentes ao exame da questão.
17. Por fim, entendeu a PGFN que o valor da multa fixada estaria em conformidade com o artigo 11, parágrafo 1º,
da Lei nº 6.385/76. O Parecer PGFN-CAF-NUCAF 387/2022 foi acostado aos autos: Doc. SEI 26419165.
É o relatório.
MINISTÉRIO DA ECONOMIA
CONSELHO DE RECURSOS DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL
Processo nº 10372.100089/2021-71
RECURSOS VOLUNTÁRIOS
RECORRENTES: ICONIC INTERMEDIAÇÃO DE NEGÓCIOS E SERVIÇOS LTDA.
JONATHAN DOERING DARCIE
RECORRIDO: COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS
RELATORA: ILENE PATRICIA DE NORONHA NAJJARIAN
EMENTA: RECURSOS ADMINISTRATIVOS VOLUNTÁRIOS. CVM. OFERTA PÚBLICA IRREGULAR DE VALORES
MOBILIÁRIOS. CRIPTOATIVOS. I.C.O. Howey Test. BLOCKCHAIN. Recursos conhecidos. Recurso da pessoa
física parcialmente provido.
VOTO DA RELATORA
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6. Na decisão de primeiro grau, foram ponderadas decisões anteriores do Colegiado da CVM. Ao analisar as
informações relativas a emissões e distribuições de tokens, da ICONIC, realizadas em "pré-ICO" (Initial Coin
Offering), entre fevereiro e março de 2018, e em "ICO" (Initial Coin Offering), em maio de 2018, o Relator de
primeira instância deu provimento ao Termo de Acusação formulado pela SRE - Superintendência de Registros da
CVM, acompanhado pelos demais Diretores, concluindo que a proposta de investimento oferecida pela ICONIC,
por meio de tokens, se enquadraria nos moldes do conceito de valor mobiliário sujeito à competência da CVM.
(Doc. SEI 15652013).
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9. O recurso em questão trouxe argumentos que se destinam, em síntese, a demonstrar que a oferta do token NIC
realizada pelos ora recorrentes não configuraria um contrato de investimento coletivo. Portanto, frise-se, na visão
dos recorrentes não seria necessária a obtenção do registro previsto no art. 19 da Lei 6.385/76 e no art. 2º da
Instrução CVM 400/03, ou mesmo a dispensa prevista no inciso I do § 5º do art. 19 da Lei 6.385/76 e no art. 4º da
Instrução CVM 400/2003 e foi apresentado compartimentado em três partes, a saber:
1º) Histórico detalhado das situações prévias e posteriores à emissão do token NIC pela ICONIC, com a (i)
apresentação minuciosa acerca do projeto da ICONIC ecosystem, bem como a (ii) análise contextualizada da
expressão de “fundo de lastro” e da (iii) decisão recorrida.
2º) Análise da emissão do token NIC por uma perspectiva fática-jurídica, demonstrando-se os porquês de o
token não poder configurar oferta dos chamados contratos de investimento coletivo.
a) Assim, foram apresentadas três principais razões de direito positivo, decorrentes de definições legais e dos
conceitos que permeiam o arcabouço regulatório do mercado de capitais, que justificam a não configuração:
i. O “DAO de lastro” não constituiria, em seus resultados potenciais (positivos ou negativos), esforço do
empreendedor nem de terceiro;
ii. A ICONIC realizou o seu ICO inteiramente com Ether (criptomoeda, também conhecida por Ethereum), sem o
trânsito de sequer 1,00 na oferta de token NIC;
iii. O token da ICONIC seria um utility token.
b) Também foram apresentadas duas razões de segurança jurídica para a não configuração da oferta como
contratos de investimento coletivo:
i. Inexistência de definições claras sobre criptoativos até hoje no âmbito da atuação do regulador;
ii. A liberdade econômica do empreendedor e o seu direito de ver seus modelos de negócio interpretados de
modo não restritivo
3º) Evidência do caráter excessivo da dosimetria da pena realizada no caso concreto, na medida em que os
recorrentes não teriam praticado em nenhum momento ato de má-fé em relação à oferta do token NIC e a
primeira manifestação da CVM sobre entidade autônoma descentralizada ocorreria a no presente processo,
configurando desproporcionalidade na aplicação das penalidades.
10. Por consequência, ficariam liberados das penas pecuniárias impostas ou contariam com um abrandamento
das sanções, caso admitida seja a redução da pena aplicada. Nesse passo, as razões do presente voto enfrentam
os pontos trazidos no recurso, com as considerações de fato e direito cabíveis no caso em tela.
11. Inicia-se destacando o quão positiva é a inovação trazida pela tecnologia da contabilidade distribuída em rede,
denominada D.L.T. (Distributed Ledger Technology), comumente chamada de "Blockchain" e uma vasta gama de
oportunidades de negócio que vêm a reboque. Porém, é bom que se diga que todo Blockchain é um D.L.T, mas
nem todo D.L.T é um Blockchain. O sistema da contabilidade distribuída em redes tem o condão de fazer as
relações entre partes mais céleres, claras e seguras, se empregado com respeito às legislações dos países, ao
equilíbrio contratual e à justiça entre as partes. É a aplicação positiva desta tecnologia, fazendo a circulação de
riquezas mais acessível a todos, dado o caráter democrático deste meio de acesso.
12. Do outro lado, pode haver, em tese, o mau uso deste instituto inovador virtuoso, com seu emprego de forma a
burlar a regulação dos órgãos oficiais, obter ganhos indevidos sobre terceiros, ocultar a realização de negócios de
finalidade e origens ignoradas ou duvidosas, entre outros. Neste sentido, no que importa para o deslinde é
detectar, evidenciar, se a tecnologia D.L.T ou "Blockchain", que apregoa ter a plataforma da ICONIC, com "fork"
(cisão) nos blocos, rastreado ou evidenciado, significou, data máxima vênia, uma forma, ainda que sem intenção,
de escamotear uma emissão e oferta de investimento irregular, sem o devido registro ou a sua dispensa, sob a
maquiagem de um projeto tecnológico colaborativo e disruptivo.
13. Posto isso, cumpre trazer a lume e, enfrentar, os argumentos recursais, conforme apresentados. No que tange
à Primeira parte do Recurso, no caso concreto, verifica-se, de pronto, que a Acusação logrou reunir um vasto
conjunto probatório, composto não apenas por fortes indícios, capazes de formar a chamada prova de oferta
pública irregular por meio do "Howey Test", mas também possuem a capacidade de rechaçar alegações da peça
recursal.
14. De início cabe lembrar ainda que, no bojo de outro processo analisado neste r. Conselho de Recursos na
sessão 466, recurso 10372.100011/2021-57, estão inseridas palavras do relator do voto condutor, o Diretor da
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CVM, Relator Gustavo Gonzalez, em outro processo, também de sua relatoria, em que analisou caso envolvendo o
uso intenso de novas tecnologias: PAS CVM 19957.000592/2019-15, em 02.07.2020, a saber: “Novas tecnologias
são meios e não fins em si mesmas. Em muitos casos, a novidade consiste em uma nova roupagem para algo que,
em essência, já existia no mercado. Esse fato não desmerece a tecnologia – que, dentre outros benefícios,
indiscutivelmente ampliou o acesso dos investidores a produtos e permitiu que muitos serviços passassem a ser
prestados de modo melhor ou menos custoso – mas recomenda cautela ao regulador. Muitos dos conceitos-chave
da regulação do mercado de capitais foram concebidos de modo propositadamente aberto e, por isso, servem,
também, para os produtos e serviços que surgem junto com as novas tecnologias.” (Grifou-se).
15. Posto isto, o cerne da análise reside em detectar se operações de capitalização via emissão de ativos virtuais
(tokens) se consubstanciariam em verdadeiras emissões de valores mobiliários (denominados securities no direito
norte americano, cujo estudo é de suma importância para o deslinde do problema ora posto). Portanto, sujeitas à
fiscalização da CVM. Ressalte-se que este caso é de extremo significado para este Conselho, já que é a primeira
vez que analisa, sem qualquer precedente, a matéria: ICO (Initial Coin Offering). As vendas de tokens pela ICONIC
ocorreram pela internet, para destinatários incertos, em dois momentos, Pre ICO e ICO. No Pre-ICO, realizado em
fevereiro e março de 2018, (item c do Índice de Documentos e Anexos - 0583474 ) "o participante deveria efetuar
contribuição de pelo menos 5 ETH para que fosse qualificado à aquisição nas condições de então. Foram
arrecadados, nessa condição, o equivalente a 164,699006540000000000 em depósitos qualificados, com o
equivalente a 19,56749463 ETH em depósitos inferiores a 5 ETH.
16. Para os remetentes de valores inferiores a 5 ETH, teria sido realizada, através da plataforma, "consulta" para
fins de opção seja pela manutenção dos depósitos, para aquisição de tokens em condição de ICO, ou pela sua
devolução. Todos os depositantes optaram pela manutenção para fins de ICO, com exceção de um adquirente (1
ETH), que optou pela devolução. (conforme consta dos autos e do Libelo administrativo da CVM. p. 9 da resposta
ao Ofício CVM 295/2018 - 0583470) - wallet :
https://etherscan.io/address/0xDB892d3a39749036d8ad32B20526047197DEbBd2 (docs. 0711175 e 0711180 dos
autos de origem e mencionados no Termo de Acusação).
17. No ICO, realizado em maio de 2018, (item c do Índice de Documentos e Anexos - 0583474 ) "com contribuição
mínima de 0,1 ETH por usuário, houve a arrecadação do equivalente a 49,0087156544 ETH. A wallet do ICO e os
recursos respectivos, diferentemente da wallet do Pre-ICO, não esteve aos cuidados da ICONIC, mas aos cuidados
de um "terceiro de confiança", trazido à participação no ICO para fins de controle, em prol da comunidade de
adquirentes, das entregas realizadas pela ICONIC. Além do 1 ETH devolvido por solicitação do adquirente, existem
remanescentes 0,23718 ETH de depósitos inferiores ao mínimo de 0,1 ETH, a serem devolvidos aos seus
remetentes, bem como 1,43567 ETH em depósitos de adquirentes não identificados. Para atender aos não
identificados que porventura se identifiquem posteriormente, foi realizada uma provisão de tokens NIC em uma
carteira específica, (0x7780112500ad30fb9b8d87e74e26ded1a992228c), conforme consta dos autos de origem,
para distribuição ao tempo em que os seus titulares assim o reivindiquem.
18. Com a provisão que teria sido feita, a ICONIC teria realizado a queima (burn) de todos os tokens não vendidos
ou distribuídos a sócios/advisors, de modo que não mais possuiria nenhum token à venda ou à sua disposição,
com exceção da provisão, feita em valor de 5 ETH." (Conforme consta do bojo dos autos: wallet :
https://etherscan.io/address/0x4c92ca7e1b2d89a3c97295ffc686cfd894abfa28. Doc. 0711182 dos autos de
origem).
19. Considerando os valores para o dia 31 de março de 2018, o total de 184,266... ETH arrecadados no Pre-ICO
seria equivalente a aproximadamente US$ 75.737,00 (cotação da moeda ETH = US$ 411,02) e R$ 250.689,47
(segundo site https://www.neocambio.io/cotacao/dolar/, a cotação do dólar comercial era US$ 1,00 = R$ 3,31,
conforme consta do Termo de Acusação GER-3 0711670 SEI 19957.003406/2019-91 / pg. 6 Doc. SEI 15652004).
Considerando os valores para o dia 31 de maio de 2018, o total de 49,008... ETH arrecadados no ICO é equivalente
a aproximadamente US$ 27.977,19 (cotação da moeda ETH = US$ 570,87) e R$ 104.075,17 (cotação do dólar
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comercial em US$ 1,00 = R$ 3,72). Insofismáveis, portanto, os seguintes pontos: a) Houve a oferta pública
irregular na internet de tokens com características evidentes de um valor mobiliário para destinatários incertos; b)
Foram realizadas duas ofertas de tokens pela ICONIC no Brasil, em Pre-ICO e em ICO, que, no total, somam 136
adquirentes únicos de tokens da ICONIC; c) Não houve consulta prévia ao órgão regulador de ofertas públicas para
captação de poupança popular. Esse é o histórico dos dados e fatos constantes dos autos, que não condiz com o
histórico trazido na peça recursal.
20. No que toca à segunda parte do Recurso, a despeito da aparente novidade, o modelo de negócios da ICONIC
não é inédito no mundo. Em julho de 2017 a Securities and Exchange Commission (SEC) emitiu um report[1],
analisando, de forma retrospectiva, uma venda de tokens protagonizada por uma “organização autônoma
descentralizada” (Decentralized Autonomous Organization), conhecida como “The DAO”, assim como feito aqui. A
conclusão do documento foi que os tokens eram, de fato, valores mobiliários pelos parâmetros daquela legislação.
Veja-se que a inovação no presente caso em casos correlatos carrega consigo a característica da disrupção, mas
não temo condão de alterar as regras de ofertas públicas para captação de poupança popular, de vez que trata-se
de mercado regulado, em todo o mundo.
21. Posteriormente, naquele ano, a SEC voltou a aplicar o Howey test em uma pretensa captação de recursos via
emissão de tokens da Munchee Inc., que resultou, em dezembro de 2017, na emissão de uma cease-and-desist
order[2], que efetivamente impediu a consolidação da operação, entendendo que os requisitos para a
caracterização de uma emissão de valores mobiliários estavam preenchidos, notadamente em virtude dos
métodos de divulgação e venda empregados pela Munchee Inc. (“manner of sale”). Determinou-se que não basta
a análise dos aspectos intrínsecos ao token para descaracterizar uma oferta pública regulada, pois a mera
interposição daquele como meio de aquisição de direitos de participação não desfigura a operação subjacente.
22. Nesta esteira – e na contramão do que afirmam os Recorrentes, como se discorrerá a seguir - a aplicação do
conhecido Howey test em operação semelhante à presente acusou estar-se diante de um contrato de
investimento coletivo, nos termos da legislação norte americana. Caso analisado no Brasil, a CVM brasileira,
também em 2017, entendeu que estaria configurada uma operação sujeita à registro na CVM, de acordo com a
norma contida nos artigos 2º, IX c/c 19, da Lei 6385 de 1976, caso denominado de HashCoin Brasil, disponível
em: https://conteudo.cvm.gov.br/decisoes/2017/20171219_R1/20171219_D0882.html.
23. Nota-se que a discussão do exterior aqui se reproduz perfeitamente: se seria possível subsumir, nos conceitos
legais de “participação”, “parceria” ou, mais amplamente, “remuneração”, às “retribuições” (artigo 2º, IX, Lei
6.385/76) conferidas aos titulares dos chamados network tokens ou utility tokens, que permitiriam ao seu titular o
acesso à uma plataforma, D.A.O (Decentralized Autonomous Organization), a common enterprise, (um
empreendimento comum e continuado), ou, sua conversão posterior em determinado ativo ou commodity digital.
24. Em julgamento recente e unânime perante este CRSFN, no Processo CRSFN n. 10372.100092/2022-76, foi
analisado um caso em que o Howey Test foi enfrentado. Esclareça-se que o mencionado Howey test é uma
inspiração da qual doutrina e legislador brasileiro se utilizam, tanto para promover alteração legislativa: como
ocorreu por meio da Medida Provisória 1.637/98 (posteriormente convertida na Lei 10.198/01), que alterou, o rol
até então taxativo, "numerus clausus", para a CVM, dos valores mobiliários inserido no artigo 2º da Lei 6.385/76,
com a inclusão do inciso IX, quanto para analisar os casos apresentado à CVM, tornando-o, "numerus apertus"
para a própria CVM, sem que houvesse a necessidade de emissão por Sociedades Anônimas e de posicionamento
do Conselho Monetário Nacional no que tange a um contrato ou título ser considerado um valor mobiliário, como
constava da redação original do inciso III, do artigo 2º da Lei 6.385 de 1976.
25. Reinaldo Rabelo, [3] em artigo intitulado: "NON-SECURITY TOKENS (NST): Blockchain como infraestrutura do
mercado de investimentos alternativos", ao tratar das ICOs, nos explica o seguinte:
"Os Initial Coin Offers (ICOs) surgiram com a segunda geração de Blockchain, que foram protocolos gerados para
permitir que, além dos criptoativos decorrentes da rede, plataformas pudessem ser construídas a partir
dela. Nessa vertente, o Ethereum foi a mais bem sucedida iniciativa, por facilitar a emissão de tokens (criptoativos
de aplicação específica) que representariam utilidade ou direitos vinculados a uma iniciativa.
A partir do Ethereum, qualquer um poderia criar sua criptomoeda, por assim dizer, e não demorou muito para que
surgissem milhares de projetos que iriam resolver todos os problemas do mundo. Para investir neles, bastava ler o
white paper (prospecto resumido do projeto), enviar Ethereum para as carteiras indicadas pelos empreendedores
e aguardar a execução para multiplicar os recursos oferecidos.
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Esses processos, que se assemelhariam aos Initial Public Offering (IPOs) do mercado de capitais tradicional,
acabaram abusando de investidores empolgados com altos retornos prometidos, e, na sua maioria, não passaram
de fraudes...
Os reguladores de mercados de valores mobiliários, então, foram instados a se manifestar sobre tais processos e,
de forma coordenada, passaram a aplicar testes nos casos reais para entender se o token deveria ser considerado
security. O mais utilizado, o Howey Test, classifica como valor mobiliário um investimento que contenha todos os
quatro elementos a seguir:
. investimento de recursos por uma pessoa (investment of money);
. em empreendimento coletivo (common enterprise);
. com expectativa de obter lucro (expectation of profits); e
. cujos esforços advêm daqueles que lançaram o título ou de terceiros (solely from the efforts of others) (Securities
& Exchange Commission v. W. J. Howey Co.)."
26. Adiante, complementa o Autor em tela: "Alguns empreendedores tentaram encontrar uma saída com
enquadramento dos tokens como de utilidade". Insere em nota de rodapé número 8, do artigo em exame, a
seguinte definição para o token de utilidade, "utility token":
"O token de utilidade seria aquele comparável a uma "ficha de quermesse", em que você tem uma representação
digital de um direito de uso específico e disponível - não fazendo sentido para fins de investimento de médio-
longo prazo na realização de projetos ou de constituição de empresas". (Grifou-se).
27. No que tange ainda à segunda parte do recurso, cumpre recordar que, sem dúvida, o legislador ofereceu uma
abordagem principiológica ao instituto do valor mobiliário, no sentido de que cabe hoje à CVM e não mais ao
Conselho Monetário Nacional, como na gênese da Lei 6.385 de 1976, avaliar a subsunção dos casos à norma,
baseando-se nos princípios do mencionado teste ou em modelos de testes a ele correlatos, conjuntamente ao seu
próprio entendimento e à construção jurisprudencial. Não se trata de uma importação acrítica do direito
estrangeiro, mas a utilização de seus fundamentos como um norte no trato de problemas similares em terras
brasileiras.
28. Com a citada alteração legislativa, houve a inclusão do inciso IX na Lei de 1976, que criou a CVM, número
6.385, houve, no início dos anos 2000, no julgamento do PAS CVM RJ 2003/0499, uma mudança: “o abandono de
uma concepção fechada de valor mobiliário, para a adoção de uma concepção funcional-instrumental do que
seria valor mobiliário, acabando por alargar sobremaneira sua definição, bem como a competência da CVM”.
(Grifou-se). A substância deve prevalecer sobre a forma, seja qual for a técnica que a Autarquia entender mais
adequada para tal conclusão. Em Memorias apresentados nos autos, no item 8, a parte Recorrente reforça que o
Howey Test não teria resultado positivo em dois pontos:
1º) Expectativa de Lucros e,
2º) Esforços preponderantes de terceiros. No entanto, tal assertiva não socorre aos recorrentes e entra em rota
de contradição com as evidências escancaradas pelo conjunto probatório carreado aos autos, conforme
descortinado a seguir em capítulo acerca do "ICONIC Ecosystem". Ademais, a redação do inciso IX do artigo 2º da
Lei 6.385 de 76 é clara ao dispor, desde a alteração legislativa de 2001 supra citada que os esforços podem advir
do próprio empreendedor ou de terceiros: "IX - quando ofertados publicamente, quaisquer outros títulos ou contratos de
investimento coletivo, que gerem direito de participação, de parceria ou de remuneração, inclusive resultante de prestação de
serviços, cujos rendimentos advêm do esforço do empreendedor ou de terceiros" .
29. Sob esta perspectiva, oportunidades de investimento em tokens criptografados, que não são valores
mobiliários propriamente ditos, como ações e debêntures, podem, a depender de suas características, se
subsumir em contratos de investimento coletivo, se presentes os elementos que detectam sua configuração, em
conformidade com os julgamentos proferidos nos PAS CVM 19957.007994/2018-51 e 19957.003406/2019-91[4].
30. Assim, de acordo com a jurisprudência da CVM, aplicando o Howey test em uma oferta de criptoativos ou
tokens, busca-se identificar:
1º Elemento: Oferta Pública. Normalmente, o criptoativo é objeto de oferta pública – sites na internet, ampla
disseminação do whitepaper e de material publicitário, entrevistas etc.
2º Elemento: Meios de pagamentos que possam significar aporte de dinheiro. Outro requisito que costuma a ser
facilmente verificado. O fato de que o token ofertado deve ser pago com uma criptomoeda ou outro criptoativo
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não altera a conclusão. Trata-se, afinal de contas, de um bem suscetível de avaliação econômica, servindo como
meio de pagamento.
3º Elemento: Empreendimento Coletivo. Cumpre verificar se existe um empreendimento comum que será
partilhado pelos titulares dos tokens. Ex. existência de fundo de lastro, D.A.O, direito a um percentual dos
resultados oriundo de esforços do empreendedor ofertante ou de terceiros, etc.
4º Elemento: Expectativa de lucro. O promotor do CIC invariavelmente vai alegar que se trata de um utility token,
não estando, portanto, sujeito ao regime da Lei nº 6.385/76. A Classificação do token como de pagamento
(payment token), de utilidade (utility token) ou representativo de um valor mobiliário (security token) decorre da
função que ele desempenha e não do rótulo que lhe foi atribuído pelo seu desenvolvedor ou pelos seus
promotores. As três categorias não são excludentes, ou seja, é possível até que um token se enquadre em mais de
uma das categorias a depender das suas funções. É importante analisar se o whitepaper e outros materiais
utilizados na oferta respondem às seguintes questões: Há ênfase na utilidade do token? Há venda direcionada
para possíveis usuários ou qualquer usuário (pessoas incertas)? Como se forma o preço do ativo distribuído pela
internet?
5º Elemento: Resultados do empreendimento comum (common entreprise) advindos exclusiva ou
preponderantemente dos esforços do empreendedor ou de terceiros. Lembre-se aqui que investidores muitas
vezes tem um papel a desempenhar, tal qual um acionista ordinarista, que, ao contrário do preferencialista, sem
direito a voto, cumpre votar, deliberar, nas assembleias, acerca de: contas, futuros arranjos, negócios, etc. É
importante analisar se existe um participante ativo e examinar a relevância do papel por esse desempenhado,
como o direito de voto existente para os tomadores do NIC Token, por exemplo.
32. O voto condutor da decisão atacada foi bem minudente ao debelar as alegações iniciais do recorrente,
enfrentando-as uma a uma. As mesmas teses e argumentos foram em parte replicados no recurso ora examinado.
Assim, remonta-se à extensa fundamentação da decisão nos pontos comuns das manifestações dos recorrentes,
tanto no processo em primeira instância quanto no recurso, cabendo a esta relatoria tecer considerações
complementares à r. decisão de primeiro grau. Adentrando nesta seara, o fato do ingresso no sistema da ICONIC
se dar através da interposição de um meio de pagamento – o ETHER, oriundo da plataforma/rede
descentralizada Ethereum – em nada desfigura seu caráter eminentemente oneroso e contraprestacional. Isto
porque o conceito de “Contrato de investimento coletivo” não exige que a forma de acesso seja necessariamente
em moeda soberana de curso corrente, mas sim, qualquer ativo que possa ser cotado, valorado. A interposição do
Ether, frise-se, não altera fato que este seria o "meio de pagamento" escolhido para o ingresso no "ecossistema"
dos tokens.
33. Até mesmo porque as I.C.O.s são uma nova forma de ofertar ativos financeiros eletrônicos (financial digital
assets), também conhecidos, lembre-se, como tokens de investimento. Em outras palavras, seriam, na sua
maioria, valores mobiliários tradicionais ou contratos de investimento coletivo. Os tokens ofertados se relacionam
ao financiamento de negócios da plataforma "ecossistema", visam o retorno financeiro ou à negociação de
produtos e serviços da sociedade empresária que está emitindo esses ativos financeiros e têm uso geralmente
restrito[6].
34. Ou seja, os tokens de acesso têm expressão econômica apesar de não se subsumirem ao tradicional conceito
de moeda. Doutrinariamente, são chamados, quando criptografados, de cryptoassets, pois situam-se em uma
zona cinzenta entre o valor mobiliário e a moeda em si. Segundo o NEASF: “por fim, é preciso debater o conteúdo
semântico do que se tem denominado crypto-assets, que não têm a pretensão de ser e não são - moedas? Porque
eles não preenchem os pré-requisitos fundamentais para ser uma moeda – meio de troca, unidade de conta e
reserva de valor – e muito menos são respaldados pelas legislações locais ou mesmo internacionais, como uma
moeda[7]. (Grifou-se).
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35. O ponto é que: o estabelecimento da barreira de entrada por meio do uso de um criptoativo, Ether/
Ethereum, em nada altera o caráter lucrativo e especulativo do mesmo e, o fato de a oferta estar direcionada ao
público, a pessoas indeterminadas, captando poupança popular. Dizer que o token não confere remuneração
direta a seus titulares também não afasta o fato de que há um benefício economicamente apreciável nessa
relação, tanto para aqueles tomadores do NIC TOKEN quanto para a Iconic, que não teve todo este trabalho "de
graça", mas auferindo benefícios do fundo de lastro, diretamente ligado aos resultados positivos da operação.
36. Nesse sentido, foi a decisão da CVM estadunidense [8], em caso denominado: "the DAO" (25 de julho de
2017. Release n. 81207), assemelhando o veículo "DAO" a um empreendimento comum ("common
enterprise"), sendo certo que a moeda utilizada também foi a Ether.
37. Doutrina consistente editada próxima à época dos fatos aqui analisados, a qual comenta o caso julgado pela
SEC acima mencionado,[9] intitulada: Regulating Blockchain, os autores Philipp Hacker e Chris Thomale, no
capítulo: The Crypto-Securit. Initial Coin Offerings and EU Securities Regulation, nas páginas 240 a 243 tratam com
maestria dos temas: "utility tokens" e "security as defined by the Howey test" . Tais textos, dentre outros,
explicaram e, orientaram, estudiosos e empresários do setor da tecnologia a agir em conformidade no que tange
ao regime jurídico de ofertas públicas de valores mobiliários em todo o mundo.
38. Com efeito, nesse passo, justamente na distinção entre os utilities tokens e securities tokens, criptografados ou
não, os recorrentes não foram capazes de em sua argumentação afastar a percepção de que a ICONIC se beneficia
e se financia com parcela denominada “fundo de lastro” e que esta teria uma natureza outra que uma parcela dos
lucros de cada operação, a qual vai para a administradora da plataforma (a ICONIC). A respeito do fundo de
lastro, o voto condutor de primeiro grau, na nota de rodapé numero 9, assim revelou: "O fundo de lastro é
composto por outros criptoativos. Nesse exemplo, fornecido no whitepaper do NIC, é considerada uma
composição de 50 mil BTC e 500 mil ETH. Esse saldo decorre dos aportes realizados pela ICONIC e dos resultados
das operações que foram decididas coletivamente pelos titulares de NIC. Para se obter o valor de um NIC em
dólares, seria necessário converter os saldos em BTC e ETH em dólar e, em seguida, dividir pelo total de NICs em
circulação. Assim, os criptoativos que compõem o fundo de lastro servem de referência para a determinação do
preço do NIC". Obviamente, o investidor/tomador do NIC Token corre o risco para auferir benefícios
(dividendos) desse fundo de lastro a depender da performance dos resultados das operações. Aliás, exatamente
como ocorre com qualquer acionista de sociedade anônima ou de qualquer investidor em contrato de
investimento coletivo.
39. Afirmava, então, essa relatora, em Revista do Advogado da Associação dos Advogados de São Paulo, AASP, Nº
152[10] de dezembro de 2021, acerca do Sandbox no Marco Legal das Startups, entendimento próprio, acerca de
uma possível classificação para tokens, a saber: “Os tokens são classificados consoante a natureza da situação
jurídica apresentada: (i) utility tokens: direitos a determinados produtos ou serviços; (ii) currency tokens:
consubstanciam meios de pagamentos; (iii) investment tokens: direitos sobre projeto de investimento; p. ex.:
direitos sobre os lucros do projeto”. Algoritmos em sobreposição e sincronização de informações disponíveis em
redes permitem não somente uma análise de previsão de mercado, como também a automação de operações
financeiras com objetivos diversos, maximizar lucros e otimizar as mais variadas hipóteses para uma gama
enorme de possíveis decisões negociais". (Grifou-se). Portanto, a depender dos negócios e da realização de uma
oferta pública, um investment token pode ser considerado um security token.
40. Destaque-se que para reforçar a defesa, os Recorrentes, data vênia, procuram, sem observar o contexto fático
probatório, descaracterizar o NIC como um contrato de investimento coletivo ao traçarem um paralelismo com os
“tokens do Vasco”, que é, frise-se: um caso bem diferente do que este em análise. De início, na contramão do que
defendem, já indicam o principal ponto de distinção entre ambas as operações ao informar que nos tokens do
Clube empresa Vasco: “Não há direito de participação ou parceria. Contudo, existe uma expectativa de
remuneração por parte do investidor consubstanciada no ganho proveniente do recebimento, pelo Vasco, dos
Direitos Creditórios que, por sua vez, depende de diversos fatores como, por exemplo, o desempenho dos
jogadores escolhidos e a eventual negociação desses jogadores no futuro”. (Grifou-se).
41. Ali, em suma, se trata de um instrumento de capitalização do clube, que ao invés de contrair um mútuo ou
mesmo emitir títulos de dívida clássicos como debêntures, lança ativos digitais de dívida, tokens no mercado, cujo
retorno do investimento se dá em parâmetros pré-determinados, referenciados no desempenho da geração de
recebíveis oriundos da atividade principal do time já constituído. Aqui, a configuração revela-se diametralmente
oposta; diferente. É o financiamento inicial de um projeto, no qual os participantes investem comprando NIC
tokens, em que parte dos recursos arrecadados vai diretamente para os responsáveis pelo projeto na forma de
lucro, mas, a título de um interposto ‘fundo de lastro”. O lucro dos investidores, por sua vez é aferido pelo
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contratos de investimento coletivo, que gerem direito de participação, de parceria ou de remuneração, inclusive
resultante de prestação de serviços, cujos rendimentos advêm do esforço do empreendedor ou de terceiros. Pela
importância aqui do tema, vale análise item a item da definição legal.
46.1. O “DAO de Lastro” do token NIC foi ofertado publicamente? Sim
46. 2. O “DAO de Lastro” token NIC gera direito de participação, de parceria ou remuneração? Em determinadas
circunstâncias, sim
46.3. Eventuais rendimentos são decorrentes do esforço do empreendedor ou de terceiros? Não!". (Grifou-se).
47. A despeito da contradição das próprias afirmações do recurso, data vênia, não é factível dizer que uma oferta
de investimento não prometa ao público expectativa de retorno financeiro ou vantagem equivalente, pois este
fator é intrínseco ao próprio conceito. Nesta esteira também não se sustenta a tese que os tokens da ICONIC não
seriam um valor representativo do investimento, mas um “instrumento de coesão” do sistema, utilizado como
instrumento de troca, seja qual significado pretendeu se dar a isso. As trocas têm um conteúdo valorativo
inerente, e aqui se negocia ativos que são precificáveis em dinheiro, moeda soberana. Dizer que estes ativos são
meros instrumentos de troca, sem valor seria equiparar toda a operação a um jogo, o que não parece ser o caso.
48. No tópico do recurso que trata da "segurança jurídica", alega-se que há uma deficiência informacional da CVM
sobre os criptoativos, a qual deixariam o idealizador de projetos em uma zona de insegurança, por não ter como
se certificar da posição da autarquia ao conduzir suas ofertas perante ao público. Diversos questionamentos são
levantados no recurso, indagando como poderia a ICONIC operar com segurança, diante de um vácuo regulatório
da Comissão. Tais questionamentos, permissa vênia, estão preclusos pois foram um pouco tardios e se fazem em
uma esfera inadequada. Eventual dúvida a respeito da legislação e regulamentação de ofertas públicas de valores
mobiliários deve ser endereçada diretamente à autarquia, sob a forma de consulta. Mais especificamente à
Superintendência de Registros de Valores Mobiliários - SRE – órgão competente para promover o registro de
empreendimentos como este em debate.
49. Se pairava alguma obscuridade sobre a matéria à época do investimento, a formulação de uma consulta prévia
seria uma medida fundamental de diligência, especialmente frente às altas cifras envolvidas e o manejo de
recursos de terceiros. Esta ferramenta é de fácil acesso encontra-se de longa data disponível em
https://www.gov.br/pt-br/servicos/solicitar-consultas-a-superintendencia-de-registro-de-valores-mobiliarios-da-
cvm-exclusivo-para-participantes-do-mercado-de-valores-mobiliarios. Até porque havia tido uma decisão e uma
importante Deliberação, em 2017, de I.C.O, sem registro, que estava disponível no site da autarquia na época do
lançamento do NIC TOKEN em cotejo já citado no bojo do presente voto: Caso denominado de HashCoin Brasil,
disponível em https://conteudo.cvm.gov.br/decisoes/2017/20171219_R1/20171219_D0882.html.
50. Os recorrentes, no momento de origem do problema poderiam, aliás, deveriam ter formalmente
encaminhado suas dúvidas ao regulador, para a conformidade da oferta, mas, optaram por não o fazer. Assim,
assumiram o risco de suas ações. Na dúvida do enquadramento do Token a ser ofertado (se seria moeda privada,
valor mobiliário, ou ficha de utilidade) devem ser consultados os órgãos de controle. Inclusive, os Recorrentes
citam o Ofício Circular nº 1/2018/CVM/SIN, em que a CVM se manifesta sobre o tema, meses antes do
lançamento da plataforma da ICONIC. Caso considerassem seu conteúdo insuficiente poderiam ter efetuado a
referida consulta como integração do ato administrativo, porém mais uma vez mantiveram-se inertes.
52. Vale trazer à baila que, mais uma vez, comparações indevidas foram feitas, agora entre operações com
criptoativos e empreendimentos do setor hoteleiro, em função de uma suposta “disparidade de tratamento”. De
uma forma reducionista, busca-se equiparar dois casos completamente distintos, com circunstâncias de fato e
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direito diversas. Basta dizer que as ofertas dos chamados “condohotéis” constituem um caso em que foram
identificados todos os elementos de um contrato de investimento coletivo. Já os criptoativos não são uma
operação em si, mas um ativo tecnológico a ser utilizado em operações de ICO, também denominadas de STO
(Security Token Offering), como no caso em cotejo. Leandro Sarai e Marcel Mascarenhas dos Santos, em artigo
acerca das inovações regulatórias do Sistema Financeiro Nacional[10], deixam clara a razão do nascimento de
moedas "privadas virtuais": "Muitos já ouviram falar em bitcoins, altcoins ou cryptocurrencies, popularmente
denominadas moedas virtuais ou criptomoedas. Essas tecnologias nasceram como alternativa à moeda estatal e
com a pretensão de se tornarem moeda". (Grifou-se).
53. Assim, não há como a CVM, a priori, definir todas as hipóteses em abstrato de uso de tokens privados
criptografados em oferta deste jaez. Ressalte-se que a autarquia foi coerente com o atual estado da regulação, à
época dos fatos, e pronunciou-se no sentido de todo um contexto que devesse ser objeto de análise antes de
poder se afirmar que uma operação com criptoativos se enquadraria no conceito de oferta pública para os fins do
art. 1º, I, da Lei 6385/76. Portanto, não tem cabida as alegações no sentido de que não havia segurança jurídica à
época, bem como de que a Lei de Liberdade Econômica possibilitaria aventuras com a captação de poupança
popular. Lembre-se por fim que a captação de poupança popular, de fato, ocorreu, conforme a farta prova
amealhada ao bojo dos presentes autos.
54. Constatou-se, diante da prova produzida nos autos que a realização de pre-oferta e de oferta do NIC TOKEN
foi perpetrada por meio da internet, para pessoas incertas, alcançando outros países, segundo informações da
própria parte recorrente, com características evidenciadas pelo teste "Howey", sem a chancela da CVM, o que
teve o condão de caracterizar infração à legislação de regência, sendo adequada a aplicação de sanção. No
entanto, no que tange à terceira parte do Recurso, que trata da dosimetria, cabe reconhecer, em parte, o acerto
da peça recursal.
V - DOSIMETRIA
55. Quanto à dosimetria, objeto da terceira parte do Recurso, em que pese o r. entendimento da PGFN bem
como da v. decisão de primeira instância administrativa, revela-se necessário um exame mais acurado. Cumpre
ressalvar, nesse contexto, que as comparações trazidas com os casos apresentados no recurso não traduzem com
exatidão todo o cenário do presente caso. Isto porque são apresentados casos envolvendo empreendimentos
diferentes, com sanções aplicadas em contexto próprio – cada um tem uma situação de mercado em que se
considerava recorrência, fatores multiplicativos de casos, potencial lesivo, prejuízos, etc..
56. Os Recorrentes reafirmam o fato de o empreendimento ser único, pioneiro, de características singulares e
merecer um tratamento (benéfico) de acordo, por conta dessas características. Contudo, quando sancionados,
invocam em seu favor paridade de tratamento com casos diversos, nos quais foram levadas em consideração as
características individualizadas de cada um na fundamentação dos acórdãos condenatórios.
57. E assim foi feito neste caso. A decisão condenatória do Processo Administrativo Sancionador CVM nº
19957.003406/2019-91 - Reg. Col. nº 1629/2019 (Doc. SEI 15652013) teve robusta fundamentação,
individualizando de forma parametrizada as condutas dos Recorrentes e lhes impondo sanções. O requisito da
motivação foi cumprido, sendo expostas adequadamente as razões de fato e direito que levaram o Colegiado da
CVM a responsabilizá-los. Entretanto, adentro no tópico da sanção para exercer julgamento no que tange ao
quantum de pena aplicada.
58. A realização de oferta de valores mobiliários sem a obtenção do devido registro ou de dispensa configura
infração de natureza grave conforme o disposto no artigo 59, II, da Instrução CVM nº 400/2003, vigente à época
dos fatos. Como exposto acima, não convence a tese da ICONIC de que, ao efetuar o lançamento de sua
plataforma, não tinha como ter sequer um potencial sinal de ciência da irregularidade da falta de registro. Na
dúvida, o instrumento da consulta à CVM. O que houve foi um empreendimento em mercado de valores
mobiliários, de risco, inadequado às conformidades da regulação, o que resultou em sanções.
59. Neste ponto, o voto condutor do acórdão entendeu que: “Considerando a gravidade da infração e os
precedentes desta CVM, em conjunto com a circunstância atenuante, concluo que, sem distinção entre pessoa
jurídica e pessoa física e, em razão das circunstâncias do caso, sem distinção entre a participação no capital social
da pessoa jurídica, devem os acusados ser condenados à pena de multa pecuniária calculada com base no valor
da emissão irregular. Os fatos objeto deste PAS ocorreram já sob a vigência da nova redação do dispositivo, dada
pela Lei nº 13.506/2017, publicada em 13.11.2017.”Aqui divirjo, data máxima vênia, do voto, no sentido que deva
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ser feita uma distinção na conduta das pessoas físicas e jurídicas envolvidas, em que pese a aplicabilidade da Lei
13.506 de 2017.
60. A personalidade jurídica é o atributo pelo se confere a um ente abstrato a capacidade de contrair direitos e
obrigações em nome próprio, distintamente das pessoas naturais envolvidas, que não podem figurar nas relações
jurídicas em nome da sua sociedade.
61. Segundo Fábio Ulhoa Coelho: “Pessoa jurídica é o sujeito de direito personificado não humano. É também
chamada de pessoa moral. Como sujeito de direito, tem aptidão para titularizar direitos e obrigações. Por ser
personificada, está autorizada a praticar os atos em geral da vida civil — comprar, vender, tomar emprestado, dar
em locação etc. —, independentemente de específicas autorizações da lei. Finalmente, como entidade não
humana, está excluída da prática dos atos para os quais o atributo da humanidade é pressuposto, como casar,
adotar, doar órgãos e outros.”[11]. (Grifou-se).
62. Então, em regra os riscos da atividade econômica são assumidos pela pessoa jurídica, não se podendo,
necessariamente, responsabilizar, as pessoas físicas por detrás dos atos praticados, a priori. Há exceções,
naturalmente, como as hipóteses de desconsideração da personalidade jurídica descritas no art. 50 do Código
Civil - e outros diplomas, como por exemplo, a responsabilização tributária por infração à lei, como dita o art. 135,
CTN. Nenhuma destas hipóteses se aplica ao caso em exame.
63. Posto isso, entendo que pela realização da oferta em estudo, deve responder pela pena de multa apenas a
ICONIC, que é a real responsável pelo empreendimento e destinatária dos benefícios diretos de eventual sucesso
da captação de poupança popular irregular, em fiel observância à proteção que a pessoa jurídica confere às
pessoas físicas envolvidas.
64. Entendo que deva ser mantido o valor da multa pecuniária por considerar o valor da emissão irregular
proporcional à reprovabilidade do caso e servir como desestímulo a outras iniciativas em como esta - em
desconformidade com a legislação - na feição preventiva da pena.
65. Já para Jonathan Doering Darcie, na condição de administrador da ICONIC, entendo que deva ser feita uma
análise subjetiva da sua conduta, aferindo-se a conduta do administrador da pessoa jurídica para se chegar à uma
resposta estatal adequada.
66. Frise-se que: todo o problema aqui analisado poderia ter sido evitado com uma consulta à CVM sobre a
necessidade de registro.
67. Contudo, essa falta isoladamente, ainda não é suficiente para desvanecer por completo a presunção de boa-fé
que permeia os negócios jurídicos, apesar desta falta de diligência ser valorada negativamente na conduta do
administrador, responsável legal.
68. Ainda assim, não há como equiparar os parâmetros de culpabilidade que uma pessoa jurídica está sujeita aos
de seu administrador. Isto porque apesar de ser um empreendimento de risco, como destacado supra, houve o
descumprimento frontal e claro das normas do ordenamento, porém trata-se de uma conduta que poderia ter
sido mais cuidadosa, o que evitaria a irregularidade das atividades da ICONIC.
69. Entra nesta equação, em conjunto com os fatores acima expostos, os valores captados e os prejuízos a
terceiros e ao próprio mercado, em seus variados níveis.
70. Que fique claro que não se está aqui se tratando de responsabilidade conjunta – ou mesmo solidária – como
na reparação civil. A responsabilização administrativa do dirigente da empresa também passa por uma análise do
aspecto volitivo, de inobservância de deveres de cuidado e de exame das suas atribuições, de centro de
imputação - gatekeeper, e de outros elementos a esses correlatos.
71. Ou seja, trata-se de uma atuação profissional sem que fossem tomados os devidos cuidados, que acabou
infringindo requisitos da legislação em vigor.
72. Não houve reclamações de prejuízos, pelo menos não constam dos autos, nem o empreendimento teve o
condão de gerar algum abalo no mercado. Isto pesa positivamente quando se pretende imputar uma
responsabilidade igual à da empresa a seu administrador.
73. Com efeito, respeitosamente, divirjo, apenas neste tópico, do r. parecer da PFGN que entendeu pela
adequação da penalidade imposta aos Recorrentes e dos julgadores de primeira instância, pois entendo que seja
mais adequada uma reprimenda a pessoa física do Sr. Jonathan Doering Darcie em um patamar mais brando, face
aos seguintes fatores: (a) o Recorrente, pessoa física, é sócio e participa do capital social da ICONIC (fls.133. Doc.
SEI 15652004) apenada em cem por cento (100%) do valor da emissão-oferta; (b) não possui antecedentes; (c) a
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oferta irregular ocorreu entre fevereiro e maio de 2018, contexto de ICOs em fase embrionária e (d) ausência de
reclamações de investidores nos autos em exames.
74. No estado atual, além de se multar a ICONIC em 100% do total da emissão irregular, se aplicou igual
reprimenda àquele, implicando, na prática, em dupla aplicação de multa considerando-se o total arrecadado, em
um contexto de ausência de prejuízos significativos ao mercado e a terceiros e, de uso de um novo formato para
os valores mobiliários, o de token com lastro em esforços oriundos da conjunção de ativos virtuais
descentralizados ou centralizados do próprio empreendedor ou de terceiros, formato inovador .
75. Isso extrapolaria, a nosso sentir, a justa medida da resposta estatal aos atos cometidos. Ressalte-se, como já
destacado em outras oportunidades, a pena de advertência é aquela que traz menor grau de restrição, é a mais
branda, devendo ser reservada para as infrações mais leves, que não acarretam prejuízo de monta ao mercado de
capitais”; segundo a doutrina, esta sanção possui um caráter mais educativo, devendo produzir um efeito
pedagógico junto ao penalizado, cujo objetivo é que surta um efeito positivo na qualidade da conduta futura, vale
salientar que não se deve utilizar a advertência como substitutivo da notificação ou aviso de descumprimento de
preceito legal ou contratual.
76. A advertência, lembre-se, é um tipo de penalidade a ser aplicada oficialmente ao final de um procedimento
administrativo regular, em detrimento da aplicação direta de multa cominatória, principalmente tratando-se o
Recorrente de responsável por empresa sem histórico em mercado de capitais, razão pela qual apresenta-se por
demasiada a multa cominatória aplicada de plano numa condição de evidente primariedade de administrador.
Nesse passo, verifica-se mais bem adequada a imposição de advertência ao Recorrente Jonathan Doering Darcie,
face à ausência de antecedentes, por revelar-se proporcional a sua participação na cadeia de eventos que
configurou a oferta irregular de valores mobiliários da ICONIC. Esta dosimetria atende ao caráter repressivo e
educativo que uma sanção efetiva, a nosso ver, deve primar.
VI - CONCLUSÃO
77. Diante do exposto, conheço dos recursos voluntários interpostos, posto que tempestivos e concluo pela
regularidade do processo, verificando terem sido asseguradas as garantias processuais, notadamente o
contraditório e a ampla defesa.
78. No mérito, por todo o exposto e pelos demais fundamentos em conformidade com aqueles contidos na r.
decisão de primeira instância, os quais adoto também como motivação para as razões de decidir, nos termos do §
1º do art. 50 da Lei nº 9.784, de 1999, concluo que ficou devidamente comprovada a materialidade das infrações
imputadas, assim como as autorias apontadas, considerando para tanto a cronologia e o contexto dos fatos, bem
como o robusto conjunto probatório constante do processo administrativo em cotejo, a evidenciar a solidez da
fundamentação da r. Decisão de primeira instância.
79. Lembre-se, finalmente, que o desconhecimento da lei não é escusa ao seu descumprimento, conforme aduz o
art. 3° da Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro, e para que não pairem dúvidas sobre o ponto da
segurança jurídica, trago à baila o art. 3º do Decreto-Lei 4657/42, que positiva uma regra importantíssima para o
direito brasileiro: Art. 3o Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece. Portanto, a Lei de
1976, com suas alterações posteriores, Lei nº 6.385, que regula ofertas públicas para captação de poupança
popular, não poderia ter sido ignorada.
80. Posto isso, concluo pelo desprovimento do recurso da pessoa jurídica, mantendo a r. decisão de primeira
instância que decidiu pela aplicação de pena de multa à ICONIC Intermediação de Negócios e Serviços Ltda. no
valor de R$387.934,93, correspondendo ao valor da emissão irregular, pela realização de oferta de valores
mobiliários sem a obtenção do registro previsto no artigo 19 da Lei nº 6.385/76 e no artigo 2º da Instrução CVM
nº 400/2003, e sem a dispensa prevista no inciso I do § 5º do artigo 19 da Lei nº 6.385/1976 e no artigo 4º da
Instrução CVM nº 400/2003; e pelo provimento parcial ao recurso de Jonathan Doering Darcie para converter a
penalidade de multa em advertência pela realização de oferta de valores mobiliários sem a obtenção do registro
previsto no artigo 19 da Lei nº 6.385/76 e no artigo 2º da Instrução CVM nº 400/2003, e sem a dispensa prevista
no inciso I do § 5º do artigo 19 da Lei nº 6.385/1976 e no artigo 4º da Instrução CVM nº 400/2003.
É o voto.
Ilene Patrícia de Noronha Najjarian – Conselheira Relatora.
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MINISTÉRIO DA ECONOMIA
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Processo 10372.100089/2021-71
Processo na primeira instância CRSFN-CVM RJ2019/2333
Relator: ILENE PATRICIA DE NORONHA NAJJARIAN
Ementa: RECURSOS ADMINISTRATIVOS VOLUNTÁRIOS. CVM. oferta pública irregular de valores mobiliários.
criptoativos. i.c.o. Howey test. blockchain. Recursos conhecidos e parcialmente provido.
2. Devido à relevância do tema, como foi também destacado pelo douto representante da PGFN,
entendo pertinente trazer alguns pontos para a compreensão do tema, visando auxiliar o
exame da matéria devido ao seu ineditismo no presente Conselho e sua atualidade.
3. Antes de mais nada, necessário registrar que o voto da Conselheira Relatora é irreparável,
preciso e didático. Desta forma, o objetivo dessas breves considerações, além de manifestar
minha concordância com o teor do voto apresentado pela Relatora, é apenas contribuir para o
estudo e análise do tema no CRSFN e a quem interessar, pois, a meu ver, casos com elementos
como este devem surgir novamente doravante.
4. Analisando o exposto no Voto do Relator na CVM, Diretor Gustavo Gonzalez, pode-se afirmar,
com segurança, que o caso envolve oferta pública irregular de valor mobiliário na modalidade
de contrato de investimento coletivo (CIC). Assim, de plano, já manifesto minha integral
concordância com os fundamentos da decisão de primeiro grau.
5. Ao analisar o voto do diretor relator na CVM, entendo pertinente destacar que os chamados
tokens podem ser de diversos tipos, quais sejam, utility tokens, payment tokens, securities
[1]
tokens , sendo estes últimos os que atraem a regulação do mercado de valores mobiliários.
Ocorre que esta classificação reflete a função desempenhada pelo token e as funções não são
excludentes entre si, ou seja, um token pode desempenhar diferentes funções e, assim, ser
classificado em mais de uma categoria. Neste sentido, merece destaque o parágrafo 16 do
voto do diretor Gustavo Gonzalez, relator do processo na CVM:
“16. A classificação de um ativo digital como um payment token, um utility token ou um security token,
dependerá não do seu rótulo, mas de sua função. Essas categorias, cabe ressaltar, não são estanques,
de modo que um único criptoativo pode se enquadrar em uma ou mais modalidades, a depender das
funções que desempenha e dos direitos a ele associados.” (grifo nosso)
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Desta forma, a alegação dos Recorrentes de que o caso envolve um utility token e, portanto,
estaria fora da competência regulatória da CVM não procede, pois o token em questão é um
security token, sem prejuízo de poder desempenhar outras funções que permitam classificá-lo
também como utility ou até payment token. Logo, trata-se de security token que, ao ser objeto
de oferta pública - isto incontroverso já que a internet é meio objetivo de caracterizar oferta
pública e veículo para se atingir público indeterminado e, portanto, acessar a poupança
popular - preenche todos os elementos caracterizadores de um contrato de investimento
coletivo descritos no inciso IX doa artigo 2º da Lei 6.385/76. Dito de outra forma, se aplicarmos
o chamado Howey Test, como demonstrado tanto na primeira instância como no voto da
Conselheira-relatora, fica caracterizado que o token NIC é um valor mobiliário. No voto da
CVM, este ponto está exposto com maestria e clareza nos parágrafos 55 a 67.
6. A constatação de que o token NIC é um valor mobiliário, por ser um contrato de investimento
coletivo, atrai a regulação da CVM cuja manifestação primária é a incidência do regime de
registros previstos na Lei 6.385/76, ou seja, exceto se disposto de modo diverso pela CVM, a
regra é que a emissão de valor mobiliário requer o registro de seu emissor e sua oferta implica
em prévio registro da oferta pública.
7. No caso em questão, houve oferta irregular por falta dos registros pertinentes (ou sua isenção
ou dispensa) concedidos pela CVM, que é a administradora de tais registros nos termos da Lei
6.385/76. A realização de oferta irregular de valores mobiliários, que é o caso de oferta sem
registro, constitui infração sancionada pela CVM e considerada grave.
8. Chama a atenção o teor dos parágrafos 5 e 6 do Memorial apresentado pelos Recorrentes com
a seguinte redação:
6. A IMPORTÂNCIA DO ASSUNTO. Como demonstra o histórico fático aqui apresentado, a decisão a ser
proferida neste caso representará o primeiro precedente aplicável às ofertas de criptoativos no Brasil
em sede de processo administrativo sancionador após a CVM editar o Parecer de Orientação nº
40/2022. Qualquer que seja o entendimento final sobre o caso, ele servirá de referência para o mercado
em geral e, portanto, nosso esforço aqui é garantir que esse entendimento reflita os objetivos
apontados pelas própria CVM no Parecer de Orientação nº 40/2022, em especial, o “de garantir maior
previsibilidade e segurança, bem como de fomentar ambiente favorável ao desenvolvimento dos
criptoativos, com integridade e com aderência a princípios constitucionais e legais relevantes”. Com
isso, espera-se contribuir para garantir maior segurança jurídica ao mercado de criptoativos no Brasil.”
(grifo nosso)
Entendo que as afirmações acima, em especial os trechos destacados, devem ser analisados
considerando o contexto, o histórico da CVM na condução de casos pregressos e a regulação
do mercado de valores mobiliários de forma completa, sistêmica e sopesando a finalidade de
um parecer de orientação.
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9. O fato de a CVM ter divulgado o Parecer de Orientação nº 40 no fim do ano de 2022 não
implica que a caracterização de valor mobiliário envolvendo criptoativos fosse, até então, algo
obscuro, nebuloso ou fonte de insegurança jurídica. Na verdade, a CVM passou a ter
competência para regular os “contratos de investimento coletivo” desde a edição da Media
Provisória 1.637/98, editada como resposta ao caso conhecido como escândalo “Boi Gordo”.
Esta Medida Provisória, posteriormente convertida na Lei 10.198/01 e, por fim, a descrição de
contrato de investimento coletivo originariamente prevista na Medida Provisória 1.637/98 foi
incluída no artigo 2º da Lei 6.385/76 como seu inciso IX. O fato é que, desde que a CVM
passou a ter competência sobre este tipo de valor mobiliário, a saber o contrato de
investimento coletivo, a autarquia, em diversas vezes, se debruçou sobre casos em que era
necessário verificar a caracterização de contrato de investimento coletivo para, então, a CVM,
em caso positivo, atuar dentro de sua competência. É evidente, no meu entender, que há
consolidado histórico de decisões da CVM em processos administrativos acerca da
caracterização de contrato de investimento coletivo e, também, a autarquia se manifestou
[2]
várias vezes por meio de deliberações com o intuito de alertar o mercado (“stop orders”) e
em resposta a questionamentos formulados por interessados. Ao longo do tempo, a CVM se
deparou com diversos “casos” em que teve que analisar se estaria ou não caracterizado valor
[3] [4]
mobiliário, como exemplos, houve casos envolvendo avestruz , cestas de atletas ,
[5] [6] [7]
condomínio-hotel e, até mesmo, criptomoedas e criptoativos . Não entendo que haja
qualquer dúvida sobre temas como aplicação de Howey Test e incidência do inciso IX do artigo
2º da Lei 6.385/76.
10. As decisões da CVM, desde a edição da Medida Provisória 1637/98, servem de orientação ao
mercado por constituírem jurisprudência administrativa com histórico de interpretação
coerente e que acompanha a evolução do mercado e seus produtos. Desta forma, ao contrário
do alegado, há clareza e segurança sobre o tema, qual seja, caracterização de contratos de
investimento coletivo.
12. Especificamente sobre o Parecer de Orientação CVM Nº 40/22, na forma como alegado pela
defesa do Recorrente, me causa preocupação o risco de interpretação equivocada que
eventuais processos envolvendo criptoativos com eventos de data anterior ao referido parecer
deveriam ser tratados de forma mais branda ou favorável em decorrência de alegada
insegurança ou falta de clareza. Ao contrário, o Parecer de Orientação CVM Nº 40/22 não
inova a interpretação e caracterização de valor mobiliário do tipo contrato de investimento
coletivo, sendo tal parecer coerente com todo o histórico de decisões e manifestações da CVM
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sobre o tema. Na verdade, o Parecer de Orientação CVM Nº 40/22 apenas reitera o que a
CVM, por meio de suas áreas técnicas e Colegiado, já vem se manifestando e decidindo. Em
suma, o Parecer de Orientação CVM Nº 40/22 é útil ao mercado, mas não tem o condão de
definir ou ser considerado um marco temporal a partir do qual se saberia como as estruturas
com criptoativos podem ser consideradas valores mobiliários. Desde a edição da Medida
Provisória 1637/98, qualquer produto, estrutura ou combinação que surja com ativos de
qualquer natureza, seja cripto ou não, pode ser considerado valor mobiliário se preencher os
requisitos contidos no inciso IX do artigo 2º da Lei 6.385/76, conhecido Howey Test. Um
parecer de orientação apenas expõe o histórico ou o entendimento consolidado em
decorrência de reiteradas decisões.
14. Como conclusão, no mérito, concordo integralmente com o voto da Conselheira Relatora. Da
mesma forma, sigo a Conselheira no que se refere a convolação da multa do Recorrente
pessoa física em advertência.
15. Com as considerações acima e pelos motivos expostos, com o intuito de complementar o
tratamento do tema, sigo o voto da Relatora no mérito e concordo com sua conclusão.
É o voto.
[1]
Vide trecho do item 14 do voto do diretor relator na CVM “... Já os criptoativos são ativos digitais baseados em DLT e costumam ser
classificados conforme a função que desempenham como (i) as criptomoedas (ou payment tokens), que buscam emular as funções de
moeda; (ii) os tokens de utilidade (utility tokens), que representam direitos de aquisição de produtos e serviços; e, por fim, (iii) os valores
mobiliários criptográficos (security tokens), que representam direitos de participação em resultados de um empreendimento ou mesmo
direitos de voto.”
[2]
https://www.gov.br/investidor/pt-br/investir/cuidados-ao-investir/stop-orders-e-alertas-ao-mercado (acesso em 13/02/2023)
[3]
Deliberação CVM nº 474/04 e Processo Administrativo Sancionador CVM Nº 09/05
[4]
https://www.gov.br/cvm/pt-br/assuntos/noticias/cvm-alerta-investidores-para-riscos-de-investimento-em-participacao-em-direitos-
federativos-de-jogadores-de-futebol-d68350547cad4964b7bd604f18a74a6b (acesso em 13/02/2023)
[5]
Processos Administrativos Sancionadores CVM Nº 09/2014, RJ2018/324, RJ2016/8501 e Memorando CVM/SRE/Nº 49/2014:
https://conteudo.cvm.gov.br/export/sites/cvm/decisoes/anexos/2014/9218-0.pdf
[6]
Deliberação CVM Nº 826/19
[7]
Deliberação CVM Nº 785/17
Documento assinado eletronicamente por Valdir Carlos Pereira Filho, Conselheiro(a), em 17/02/2023, às
20:03, conforme horário oficial de Brasília, com fundamento no § 3º do art. 4º do Decreto nº 10.543, de 13
de novembro de 2020.
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