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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 006.

943/2019-5

GRUPO I – CLASSE VII – PLENÁRIO


TC 006.943/2019-5
Natureza: Denúncia
Órgãos/Entidades: Caixa Econômica Federal; Ministério do Turismo;
Prefeitura Municipal de Boa Vista - RR
Responsáveis: Identidade preservada (art. 55, caput, da Lei n. 8.443/1992).
Interessados: Identidade preservada (art. 55, caput, da Lei n. 8.443/1992).
Representação legal: Bruna Wills (OAB-DF 46082); Paulo Francisco
Tripoloni, João Sanchez Junqueira e outros; Murilo Muraro Fracari (OAB-DF
22.934) e Gryecos Attom Valente Loureiro (OAB-DF 54.459); e Marcela
Medeiros Queiroz Franco Santos.

SUMÁRIO: DENÚNCIA. POSSÍVEIS IRREGULARIDADES OCORRIDAS


NA CONCORRÊNCIA 47/2018, DA PREFEITURA MUNICIPAL DE BOA
VISTA - RORAIMA COM VISTAS À CONTRATAÇÃO DE EMPRESA
ESPECIALIZADA EM OBRAS E SERVIÇOS DE ENGENHARIA PARA
EXECUÇÃO DA REQUALIFICAÇÃO DA ORLA DO RIO
BRANCO/BACIA DO CAXANGÁ EM BOA VISTA/RR. AUDIÊNCIAS.
REVELIA DE UM GESTOR. RAZÕES DE JUSTIFICATIVAS REJEITADAS
DE OUTRO GESTOR. MULTA.

RELATÓRIO

Adoto, como relatório, a instrução elaborada à peça 349 dos autos, anuída pelos dirigentes
da Secretaria de Fiscalização de Infraestrutura Urbana - SeinfraUrbana (peças 350 e 351):

“INTRODUÇÃO
1. Trata-se de denúncia, com pedido de cautelar inaudita altera parte, a respeito de possíveis
irregularidades ocorridas na Concorrência 47/2018 (Processo 434956/2018-SMO), de 17/12/2018,
da Prefeitura Municipal de Boa Vista - Roraima com vistas à contratação de empresa especializada
em obras e serviços de engenharia para execução da requalificação da orla do Rio Branco/Bacia do
Caxangá em Boa Vista/RR. A intervenção contempla serviços de paisagismo, iluminação e
drenagem, bem como se destina prover a orla de equipamentos urbanos como mirante, atracadouro,
posto de observação e espelho d’água.
2. Entre as intervenções previstas, destaca-se o mirante, projetado para ter uma altura de
100 m, equivalente a um prédio de 30 andares. O mirante ficará no leito do Rio Branco
possibilitando ampla visão da capital de Roraima (Figura 1).

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Figura 1. Projeção do Parque do Rio Branco. Fonte: Relatório de


auditoria do TCU (TC 037.720/2019-8).
3. O empreendimento encontra-se dividido em dois lotes. Lote I (relativo à contratação de
empresa para o gerenciamento e supervisão da obra), financiado com recursos próprios da
Prefeitura e estimado em R$ 3.069.215,75 e Lote II (contratação de empresa executora da obra da
requalificação da orla), financiado com recursos Federais por meio do Contrato de Repasse
521.695-33/2018, firmado entre o Ministério do Turismo, a Caixa Econômica Federal e o
Município de Boa Vista/RR (peça 4, pg. 48-57), estimado em R$ 58.461.282,32. A denúncia trata
especificamente do Lote II.
HISTÓRICO
4. Esta denúncia já recebeu as instruções às peças 23, 276 e 311. Histórico mais
pormenorizado das etapas processuais já percorridas pode ser visto na instrução de peça 311, cuja
transcrição neste momento reputa-se perfeitamente dispensável, porque suficientemente conhecida
de todas as partes envolvidas.
5. Em síntese, o denunciante alegou que a comissão permanente de licitação condutora dos
trabalhos da Concorrência 47/2018 não dera tratamento isonômico às concorrentes Andrade Galvão
Engenharia Ltda. (CNPJ 13.558.309/0001-43) e consórcio Sanches Tripoloni - Coema
(CNPJ 33.295.310/0001-30), formado pela Construtora Sanches Tripoloni Ltda. e Coema
Paisagismo Urbanização e Serviços, ao valer-se de critérios de julgamento distintos para
desclassificar a proposta de preços daquela e classificar a proposta de preços desta, além de –
segundo o denunciante – habilitar indevidamente o Consórcio Sanches Tripoloni - Coema.
6. Como resultado – ainda de acordo com a denúncia – a administração selecionou proposta
financeiramente menos vantajosa ao adjudicar e homologar o objeto da Concorrência 47/2018 em
favor do Consórcio Sanches Tripoloni – Coema, no valor de R$ 52.605.127,90, em contraposição à
proposta oferecida pela empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda., no montante de
R$ 52.035.061,50.
7. Após a análise de todas as informações coligidas aos autos, a unidade instrutora propôs a
procedência parcial das alegações formuladas pelo denunciante, no que se refere à desclassificação
indevida da proposta de preços da Andrade Galvão Engenharia Ltda. e à ausência de tratamento
isonômico no julgamento das propostas. A unidade instrutora concluiu, também, inexistir qualquer
falha que pudesse macular a habilitação do Consórcio Sanches Tripoloni – Coema, tal como
apontada pela empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda.
8. Nas intervenções precedentes, não obstante, a unidade técnica ponderou que a
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continuidade da obra e do contrato firmado como o Consórcio Sanches Tripoloni – Coema seriam
mais aderentes ao interesse público, motivo pelo qual propôs indeferir o pedido de cautelar
requerido pelo denunciante e recomendou não acatar o pedido de anulação do certame e do contrato
decorrente.
9. Entretanto, as irregularidades denunciadas, a materialidade do empreendimento, a
relevância e impacto social da obra, o risco identificado por meio de inconsistências no edital,
mostravam-se fatores que justificavam uma ação fiscalizadora no empreendimento por parte do
TCU.
10. Dessa feita, a unidade instrutora, em posição unânime (peça 311, p. 30 e peças 312 e 313)
propôs conhecer da denúncia, indeferir o pedido de medida cautelar, ouvir em audiência o
Presidente da Comissão Permanente de Licitação da Prefeitura Municipal de Boa Vista/RR e o
Secretário Municipal de Obras Adjunto do Município de Boa Vista/RR, para apresentarem razões de
justificativa pelas irregularidades discutidas nos autos e, além de outras medidas, a realização de
uma auditoria no âmbito do Fiscobras 2020, nos atos e contratos relacionados à obra de
requalificação da orla do Rio Branco/bacia do Caxangá em Boa Vista/RR – Parque do Rio Branco.
11. No interregno entre a subida dos autos ao gabinete do relator, 14/10/2019, e a inclusão do
processo na pauta da Sessão do Plenário, que se realizaria no dia 10/12/2019, a empresa Andrade
Galvão Engenharia Ltda. protocolou novos elementos à peça 316 que tratam, em resumo, da
execução, por parte do Consórcio Sanches Tripoloni – Coema, das fundações por meio de estacas
hélice, em desconformidade à estaca tubada de DM 600 mm, cravada em 1,0 m de rocha prevista no
projeto. Afirmou que tal alteração construtiva resultaria em risco à estabilidade e à segurança da
obra e oneraria a administração, por se tratar de fundação de menor custo que a estabelecida no
projeto.
12. Além disso, a empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda. argumentou que essa alteração
construtiva serviria para encobrir os erros cometidos na fase de licitação na composição de preços
dos serviços de fundação da proposta do Consórcio e ignorados pela comissão de licitação.
13. Ao recepcionar o processo para formular o seu voto, o relator, Ministro Augusto Sherman
Cavalcanti, considerou que a unidade técnica já estava atenta à alteração construtiva e que esse
tópico específico seria alvo de investigação quando da fiscalização das obras no âmbito do
Fiscobras 2020, com especial destaque para a verificação da possibilidade de risco à segurança da
estrutura do empreendimento.
14. Diante de todos esses fatos, considerando que a fase de planejamento da mencionada
fiscalização se encontrava em curso (TC 037.720/2019-8), na Sessão do Plenário ocorrida no dia
10/12/2019, os Ministros do TCU proferiram o Acórdão 3.062/2019 nos seguintes termos (peça
319):
9.1. conhecer da presente denúncia, satisfeitos os requisitos de admissibilidade previstos nos arts.
234 e 235 do Regimento Interno deste Tribunal, e no art. 103, § 1º, da Resolução - TCU 259/2014,
para, no mérito, considerá-la parcialmente procedente;
9.2. indeferir o pedido de medida cautelar formulado pelo denunciante, uma vez ausentes os
requisitos para adoção de tal medida, conforme art. 276, caput, do Regimento Interno do TCU, e
nos termos do art. 276, § 6º, in fine, do Regimento Interno do TCU, bem como tendo em vista os
princípios da economicidade processual e da racionalidade administrativa;
9.3. realizar, com fundamento no art. 250, inciso IV, c/c o art. 237, parágrafo único, do RI/TCU, a
audiência dos responsáveis Sr. Artur José Lima Cavalcante Filho, CPF 684.878.942-91, Presidente
da Comissão Permanente de Licitação da Prefeitura Municipal de Boa Vista/RR, e Sr. Ramildo
Cavalcante Costa, CPF 709.349.672-53, Secretário Municipal de Obras Adjunto do Município de
Boa Vista/RR, para que, no prazo de quinze dias, apresentem razões de justificativa pelas seguintes
irregularidades:

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9.3.1. procedimento de análise e julgamento indevido das propostas dos licitantes, em desacordo
com jurisprudência do TCU, a exemplo do Acórdão 1487/2019-Plenário;
9.3.2. inobservância dos princípios da seleção da proposta mais vantajosa para administração e da
isonomia, em desacordo com o art. 3º da Lei 8.666/93;
9.4. retirar a chancela de sigilo que recai sobre estes autos, com fundamento no §1º do art. 236 do
RITCU;
9.5. determinar à SeinfraUrbana que remeta cópia do documento juntado à peça 316 do presente
processo ao processo TC 037.720/2019-8 a fim de subsidiar as análises a serem empreendidas pela
unidade técnica no âmbito da auditoria de conformidade (Fiscalis 266/2019), nos atos e contratos
relacionados à obra de requalificação da orla do Rio Branco/bacia do Caxangá em Boa Vista/RR –
Parque do Rio Branco;
9.6. dar ciência deste Acórdão ao denunciante e à Prefeitura Municipal de Boa Vista/RR;
9.7. autorizar o apensamento destes autos aos do processo TC 037.720/2019-8, com fundamento no
art. 169, § 1º, do Regimento Interno.
15. Em cumprimento ao item 9.3 do Acórdão 3.062/2019-TCU-Plenário, expediu-se o ofício
de peça 323 ao Sr. Artur José Lima Cavalcante Filho que, em resposta, ofereceu razões de
justificativa à peça 327. Por sua vez, após seis tentativas infrutíferas de ouvir em audiência o Sr.
Ramildo Cavalcante Costa (peças 324, 332, 333, 334, 339 e 340) o TCU publicou o edital à peça
344. O Sr. Ramildo Cavalcante Costa não se manifestou no prazo concedido, dia 5/6/2020, nem
posteriormente.
16. Embora o documento de peça 327 mencione em sua epígrafe o nome dos dois responsáveis
chamados em audiência, apenas o Sr. Artur José Lima Cavalcante Filho o assinara. Dessa forma,
nos termos do art. 161 do Regimento Interno do TCU, a defesa do Sr. Artur José Lima Cavalcante
Filho poderá ser aproveitado ao responsável revel, Sr. Ramildo Cavalcante Costa, no que concerne
às circunstâncias objetivas e não aproveitará no tocante aos fundamentos de natureza
exclusivamente pessoal.
17. Analisam-se a seguir as razões de justificativa do Sr. Artur José Lima Cavalcante Filho
acerca dos subitens 9.3.1 e 9.3.2 da audiência de que trata o Acórdão 3.062/2019-TCU-Plenário.
EXAME TÉCNICO
JULGAMENTO INDEVIDO DAS PROPOSTAS DOS LICITANTES (ITEM 9.3.1 DO ACÓRDÃO
3.062/2019-TCU-PLENÁRIO)
18. Por julgamento indevido das propostas dos licitantes compreende-se fundamentalmente
que o órgão de apoio técnico, Secretaria Municipal de Obras de Boa Vista/RR, representado pelo
seu Secretário Adjunto, Sr. Ramildo Cavalcante Costa e a comissão de licitação, na pessoa do seu
Presidente, Sr. Artur José Lima Cavalcante Filho:
a) deixaram de valer-se da prerrogativa contida no art. 43, § 3º da Lei 8.666/93, com o
objetivo de diligenciar os licitantes para prestar os esclarecimentos necessários à elucidação das
suas propostas de preços;
b) utilizaram critério não previsto na legislação que rege a matéria para desclassificar
proposta de preços de licitante. Especificamente, no lugar de comparar os preços unitários dos
serviços constantes nas propostas com aqueles do orçamento da licitação, os julgadores adotaram
como critério de desclassificação as situações em que os preços unitários e coeficientes das parcelas
presentes na composição de custos unitários de determinado serviço da proposta divergiam dos
correspondentes aos do orçamento.

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Julgamento da proposta de preços da empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda.


(situação encontrada)
Serviços referentes a concreto usinado bombeável
19. No entendimento do Secretário Adjunto da Secretaria Municipal de Obras de Boa
Vista/RR, Sr. Ramildo Cavalcante Costa, a empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda. apresentou
para os serviços de itens 5.4.2, 5.8.2, 6.3.2, 6.4.2, 7.4.2, 8.3.3, 8.4.1, 11.1.4, 11.2.4 e 12.13.11
preços unitários superiores aos do orçamento de referência. Considerou que tal prática caracterizaria
sobrepreço (peça 58, p. 12-13). Os serviços referem-se a concreto usinado bombeável, classe de
resistência C30, com brita 1, slump 100 +/- 20 mm, inclui serviço de bombeamento (NBR 8953),
com aditivo impermeabilizante. O “slump” é uma medida da trabalhabilidade do concreto fresco.
20. Ainda em relação ao serviço de concreto usinado mencionado acima, o Sr. Ramildo
Cavalcante Costa consignou a existência de três preços unitários diferentes na proposta da empresa
Andrade Galvão Engenharia Ltda.: R$ 1.293,55/m3 para os itens citados no parágrafo anterior;
R$ 1.331,81/m3 para o item 12.2.12 e R$ 1.345,20/m3 para o item 12.3.2. Não estão incluídos
nesses preços o BDI.
21. Adicionalmente, constatou que a empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda. havia alterado
a especificação dos serviços de itens 12.2.12 e 12.3.2 de modo a substituir o concreto da
composição referencial por concreto de alta resistência inicial cujos valores unitários, R$ 855,24 e
R$ 862,44, respectivamente se mostraram superiores ao valor de referência, R$ 838,59, todos sem
BDI (cf. peça 272, p. 1 e peça 86, p. 731 e 732). Considerou que a redução de 75% na quantidade
de aditivo impermeabilizante na composição do concreto (5 kg contra 20 kg da composição de
referência), implicaria na menor vida útil da obra e na formação de patologias precoces.
22. Ainda em relação aos dois serviços acima, o Secretário Adjunto da Secretaria Municipal de
Obras de Boa Vista/RR compreendeu que as alterações nas suas especificações sem a devida
anuência prévia do órgão contratante poderiam ocasionar superfaturamento da obra, visto tratar-se
de insumo relevante no preço global da obra (peça 67, p. 14). Por fim, defendeu a desclassificação
da proposta de preços da Andrade Galvão Engenharia Ltda. em virtude da situação relatada neste
tópico.
23. O serviço de concreto usinado bombeável é o segundo mais representativo da curva ABC
do empreendimento, R$ 3.583.846,08 (cerca de 6% do total orçado), para o qual a empresa Andrade
Galvão Engenharia Ltda. propôs o preço de R$ 3.372.032,60.
Serviços referentes à escada em concreto armado
24. Ao analisar a composição de preços unitários do seguinte serviço proposto pela empresa
Andrade Galvão Engenharia Ltda.:
- Itens 4.3.9 e 5.8.5: Escada em concreto armado, FCK = 15 MPA, moldada in loco (inclusa fôrma,
armação e lançamento). Total orçado para os itens: R$ 924.562,35. Total oferecido na proposta
R$ 667.212,97.
25. O Secretário Adjunto da Secretaria Municipal de Obras de Boa Vista/RR, Sr. Ramildo
Cavalcante Costa, percebeu que aquela concorrente se desviara da composição de preços do
orçamento da licitação, ao alterar os coeficientes de dois dos subitens (montagem e desmontagem
de forma de madeira serrada e armação de estruturas de concreto armado, conforme mostrado na
peça 348, p. 2, que contém os detalhes da composição correspondente aos serviços de escada em
concreto armado).
26. Considerou que tais alterações dos coeficientes quebraram a isonomia do processo
licitatório, dado que as demais licitantes assim não procederam. Que, ao se utilizar os coeficientes
do orçamento na proposta, o valor final dos serviços de escada em concreto armado (na proposta da
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empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda.) sofreria um acréscimo de aproximadamente R$ 251


mil. A peça 348, p. 6 contém a memória de cálculo do procedimento que resultou nesse acréscimo
(observação: na verdade, de acordo com essa metodologia, o acréscimo devido à escada em
concreto deveria ser ligeiramente superior, uma vez que o parecerista deixou de incluir no cálculo a
quantidade presente no item 5.8.5 do orçamento de referência).
27. As razões alegadas pela empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda. que a levaram a
reduzir os insumos encontram-se no parágrafo 78..
28. Posteriormente, ao debruçar-se sobre o recurso da empresa Andrade Galvão Engenharia
Ltda. contra a decisão que desclassificara sua proposta, o Sr. Ramildo Cavalcante Costa teceu
considerações adicionais sobre o caso (peça 21, p. 29). Considerou que a redução de 50% da
quantidade de aço utilizada no serviço da escada em concreto armado, bem como a redução da área
da seção transversal da estrutura da escada (devido à redução no material empregado nas formas)
reduziriam significativamente a sua resistência estrutural. Reiterou que caberia à Andrade Galvão
ter consultado previamente a Secretaria Municipal de Obras de Boa Vista/RR antes de promover as
alterações que fez e que a proposta, tal como apresentada, poderia resultar em superfaturamento
devido à deficiência na execução do serviço e/ou pela alteração da metodologia executiva
empregada:
Ora, vejamos, quando passamos a ter uma peça de concreto armado com seção transversal (...)
reduzida em 50%, a mesma terá qualidade inferior ao estabelecido no projeto e orçamento básico da
SMO/PMBV, além de alterar a metodologia executiva.
Estas observações são óbvias, esclarecedoras, demonstrando que as modificações feitas pela
empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda foram significativas e não meramente ajustes para melhor
execução. Detalhamos o item mais evidente (...) mas não menos importante foi a retirada de insumos
importantes da forma trepante, bem como a redução da área de forma em 33% sem o prévio conhecimento
do projeto estrutural. É evidente que as modificações quantitativas e qualitativas efetuadas pela empresa
Andrade Galvão Engenharia Ltda. deixam indícios de superfaturamento.
29. Por fim, defendeu a desclassificação da proposta de preços da Andrade Galvão Engenharia
Ltda. em virtude da situação relatada neste tópico.
Serviço referente a fôrma trepante
30. Ao analisar a composição de preços unitários do seguinte serviço proposto pela empresa
Andrade Galvão Engenharia Ltda.:
- Item 12.3.3: Fôrma trepante. Total orçado para o item: R$ 2.615.679,66. Total oferecido
na proposta R$ 1.842.241,82.
31. O Secretário Adjunto da Secretaria Municipal de Obras de Boa Vista/RR, Sr. Ramildo
Cavalcante Costa, percebeu que aquela concorrente não observara a composição de preços do
orçamento da licitação, ao suprimir insumos/composições ali presentes (barra roscada zincada de
3/4" e formas em chapa de madeira compensada plastificada com 18 mm de espessura). A peça 348,
p. 1 contém os detalhes das composições correspondentes.
32. Reputou que “quando a empresa retirou os índices de consumo (...) prejudicou a isonomia
do procedimento licitatório, uma vez que as demais licitantes em tese assim não fizeram a supressão
dos dois itens citados” (peça 4, p. 16).
33. Afirmou que os dois subitens excluídos da composição seriam imprescindíveis à execução
do serviço de fôrma trepante e que a sua supressão implicou na redução brusca do valor final do
serviço e, consequentemente, da proposta da empresa. Acrescentou que, ao se considerar para esse
serviço a utilização dos coeficientes do orçamento, o valor final (na proposta da empresa Andrade
Galvão Engenharia Ltda.) sofreria um acréscimo de aproximadamente R$ 458 mil. A peça 348, p. 5
contém a memória de cálculo do procedimento que resultou nesse acréscimo.
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34. Por consequência, o Sr. Ramildo Cavalcante Costa concluiu que o valor global da proposta
de preços da empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda. deveria ser, na verdade, acrescentado das
quantias acima mencionadas, que juntas totalizam cerca de R$ 709 mil.
35. Em resumo, o órgão de apoio técnico à licitação considerou que a empresa Andrade Galvão
Engenharia Ltda. quebrou a isonomia do certame ao alterar as composições de custos unitários dos
serviços aqui examinados (concreto usinado, escada em concreto armado e fôrma trepante),
beneficiando-se com isso com a apresentação de uma proposta de menor valor que aquela que seria
ofertada, caso tivesse se atido às respectivas composições de custos do orçamento da licitação. A
comissão de licitação acolheu esse entendimento e desclassificou a proposta da empresa.
Julgamento da proposta de preços do Consórcio Sanches Tripoloni – Coema por parte
da comissão de licitação (situação encontrada)
36. Ao analisar a composição de preços unitários do seguinte serviço proposto pelo Consórcio
Sanches Tripoloni – Coema:
12.2.2 – Execução de fundação indireta do tipo estacas d = 60 cm. Total orçado para o
item: R$ 7.012.583,42. Total oferecido na proposta: R$ 5.426.626,90.
37. O serviço de execução de fundação indireta é o mais representativo da curva ABC do
empreendimento, cerca de 12% do total orçado.
38. Num primeiro momento o Sr. Ramildo Cavalcante Costa acolheu, sem qualquer ressalva, a
composição elaborada por aquele concorrente, a despeito da inclusão de duas parcelas não presentes
na composição de referência e sem aderência ao serviço correspondente (aluguel de república para
engenheiros e chave boia para estação elevatória) e da exclusão de duas parcelas constantes da
composição de referência e cruciais para a execução da fundação (serviço de cravação metálica e
execução de estaca encamisada). A comissão de licitação seguiu o entendimento do órgão de apoio
técnico. A peça 348, p. 3 contém os detalhes das composições correspondentes.
39. Em relação à composição de preços do seguinte serviço proposto pelo Consórcio Sanches
Tripoloni – Coema:
3.1.1 – Administração local da obra com encargos complementares. Total orçado para o
item: R$ 2.761.347,88. Total oferecido na proposta: R$ 2.486.929,64.
40. Novamente o Sr. Ramildo Cavalcante Costa acolheu in totum a composição elaborada por
aquele concorrente, a despeito de a concorrente ter excluído em sua composição quatro itens
presentes na composição de referência e do uso de unidade de medida incompatível com a do
orçamento da licitação para três itens. A peça 348, p. 4 contém os detalhes das composições
correspondentes.
41. Ao apresentar contrarrazões ao recurso da empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda.
contra a decisão que desclassificara sua proposta de preços, o Consórcio Sanches Tripoloni –
Coema justificou não ter incluído encarregado administrativo financeiro, encarregado de pessoal,
auxiliar de enfermagem do trabalho e vigia diurno na composição de custos do serviço de
administração local, porque já dispunha dessa mão-de-obra (peça 61, p. 22). Justificou também que
o uso de unidade de medida “hora”, no lugar de “mês”, para os serviços de copeira, vigia noturno e
técnico em segurança decorreria do fato de possuir essa mão-de-obra.
42. Ao não ver qualquer anormalidade na proposta de preços do Consórcio Sanches Tripoloni
– Coema, o Sr. Ramildo Cavalcante Costa a considerou válida e que ela atenderia a todas as
exigências do edital. A comissão de licitação endossou esse posicionamento.
Manifestação do sr. Artur José Lima Cavalcante filho em resposta à audiência (peça 327)
43. Nas suas razões de justificativas o Sr. Artur José Lima Cavalcante Filho, então Presidente
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da comissão permanente de licitação de Boa Vista/RR, afirmou que o parecer técnico produzido
pela Secretaria Municipal de Obras de Boa Vista/RR demonstrou a inexequibilidade da proposta
apresentada pela empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda. e que, ao ser corrigida, resultaria num
valor global superior ao originalmente ofertado.
44. Afirmou que, ao utilizar os mesmos critérios tanto no julgamento da proposta de preços da
Andrade Galvão Engenharia Ltda., quanto no julgamento da proposta de preços do Consórcio
Sanches Tripoloni – Coema, verificou que apenas a proposta dessa última atendia as exigências do
instrumento convocatório à Concorrência 47/2018 (Lote II).
45. Sustentou que, após exaustivo debate técnico, a proposta da Andrade Galvão Engenharia
Ltda. foi desclassificada pelos seguintes motivos: a) conter preço unitário superior ao do orçamento
básico da administração (sobrepreço); b) suprimir índices de consumo de materiais imprescindíveis
à execução da obra, que também resultou na falta de isonomia entre as propostas das licitantes.
46. O então Presidente da comissão permanente de licitação de Boa Vista/RR indicou que, em
sua proposta, a empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda., substituiu insumos por outros de
qualidade inferior e apresentou metodologia de execução que poderia resultar em diminuição da
qualidade, vida útil ou segurança da obra.
47. Que, além disso, as modificações nas composições de custos unitários dos serviços de
escada em concreto, fôrma trepante e do concreto classe de resistência C30, para concreto com
cimento de alta resistência inicial (ARI) acarretariam sobrepreços indevidos na proposta de preços
da empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda.
48. Arguiu que a empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda., não procurou a Secretaria
Municipal de Obras para prestar, no momento oportuno, os esclarecimentos das razões que a
levaram a promover as alterações nas composições de custos unitários dos serviços aqui
examinados. Que a eventual classificação da proposta da empresa poderia ocasionar na celebração
de aditivos durante a execução da obra, no sentido de readequá-la.
49. Afirmou ter fundamentado sua decisão de desclassificar a proposta da empresa Andrade
Galvão Engenharia Ltda. no art. 40, inciso X, art. 44, § 3º e art. 48, inciso II, §§ 1º e 2º, todos da Lei
8666/93 e na Súmula 259 do TCU.
50. Em relação à proposta do Consórcio Sanches Tripoloni – Coema, o responsável alegou que
esta concorrente considerou em sua composição de preços os subitens e insumos imprescindíveis à
execução da obra. Que os pontos questionados sobre a proposta do consórcio, em sede de recurso
apresentado pela Andrade Galvão, não mereceram prosperar e que foram atentamente respondidos.
51. Afirmou não ter havido descumprimento ao Acórdão 1.487/2019-TCU-Plenário, uma vez
que a Secretaria Municipal de Obras examinou detidamente as propostas, por meio de relatório
técnico, tendo concluído que apenas a proposta do Consórcio Sanches Tripoloni – Coema atenderia
a todas as exigências do edital e que essa proposta se mostrara a mais vantajosa para administração,
conforme relatório da Controladoria Geral da União (CGU).
Manifestação do sr. Ramildo Cavalcante Costa em resposta à audiência
52. Conforme já mencionado no parágrafo 16. desta instrução, o então Secretário Municipal de
Obras Adjunto do Município de Boa Vista/RR não se manifestou no prazo concedido.
Análise das manifestações
53. As razões de justificativa do Sr. Artur José Lima Cavalcante Filho, então Presidente da
comissão permanente de licitação de Boa Vista/RR, não trouxeram fatos novos, além dos já
relatados nos autos, concernente às condutas dos responsáveis na condução dos trabalhos da

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 006.943/2019-5

Concorrência 47/2018. Por isso mesmo, não se mostram capazes de alterar o entendimento do TCU
sobre as questões discutidas neste processo de denúncia.
Considerações preliminares
54. Diante da possibilidade de existirem lacunas, omissões, inclusões, falhas ou informações
nas propostas de preços oferecidas pelos licitantes e destoantes do orçamento base da licitação e
que, pela sua materialidade e relevância necessitem ser elucidadas, a comissão de licitação pode
valer-se da prerrogativa estabelecida no art. 43, § 3º da Lei 8.666/93, com o objetivo de obter junto
aos participantes os esclarecimentos necessários:
art. 43. A licitação será processada e julgada com observância dos seguintes procedimentos:
(...)
IV – verificação da conformidade de cada proposta com os requisitos do edital e, conforme o caso,
com os preços correntes de mercado ou fixados por órgão oficial competente (...)
(...)
§ 3º É facultada à Comissão ou autoridade superior, em qualquer fase da licitação, a promoção de
diligência destinada a esclarecer ou a complementar a instrução do processo, vedada a inclusão posterior de
documento ou informação que deveria constar originalmente da proposta.
(...)
55. A posse desses detalhamentos adicionais permitirá à comissão de licitação e aos órgãos de
apoio a formulação de um melhor juízo sobre a consistência técnica e factibilidade das propostas de
preços ofertadas e uma maior garantia de que se está selecionando a melhor proposta para atender
ao interesse público, fim último buscado numa licitação pública.
56. Sem dispor desses elementos adicionais, a deliberação sobre as propostas de preços é
ilegal, deficiente, imprecisa, imotivada, subjetiva e destituída de elementos de convicção que lhe
garanta legitimidade. O próprio instrumento convocatório da Concorrência 47/2018 previra, em sua
cláusula 8.13-e.3 (peça 71, p. 12) a possibilidade de o licitante comprovar a viabilidade dos preços
constantes em sua proposta.
57. A correção da planilha após a fase de lances ou abertura dos envelopes apresentados em
uma licitação é tema recorrente nesta Casa. O Tribunal de Contas da União já firmou entendimento
de ser possível à empresa ofertante da melhor proposta corrigir a planilha apresentada durante o
certame, desde que essa possibilidade não resulte em aumento do valor total já registrado. Nessa
linha são os seguintes julgados:
A existência de erros materiais ou omissões nas planilhas de custos e preços das licitantes não
enseja a desclassificação antecipada das respectivas propostas, devendo a Administração contratante realizar
diligências junto às licitantes para a devida correção das falhas, desde que não seja alterado o valor global
proposto.
(Acórdão 2.546/2015 TCU-Plenário, relator Ministro André de Carvalho)
Erro no preenchimento da planilha de formação de preço do licitante não constitui motivo
suficiente para a desclassificação da proposta, quando a planilha puder ser ajustada sem a necessidade de
majoração do preço ofertado.
(Acórdão 1.811/2014 TCU-Plenário, relator Ministro Augusto Sherman)
Ao indicar propostas como presumidamente inexequíveis, a Administração deve abrir às
respectivas empresas a possibilidade de comprovação da viabilidade de suas propostas, com a apresentação
de documentação que comprove que os custos dos insumos são coerentes com os de mercado e que os
coeficientes de produtividade são compatíveis com a execução do objeto do contrato.
(Acórdão 1.426/2010-TCU-Plenário, de relatoria do Min. Aroldo Cedraz)

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 006.943/2019-5

58. O TCU também entende que a correção que não altere o valor global da proposta não
configura apresentação de informações ou documentos novos vedados pela lei, mas apenas o
detalhamento do preço já fixado na disputa de lances ou comparação de propostas. Nessa linha:
Não cabe a inabilitação de licitante em razão de ausência de informações que possam ser supridas
por meio de diligência, facultada pelo art. 43, § 3º, da Lei 8.666/93, desde que não resulte inserção de
documento novo ou afronta à isonomia entre os participantes.
(Acórdão 2.873/2014 TCU-Plenário, relator Ministro Augusto Sherman)
59. Obviamente que os esclarecimentos adicionais aqui tratados podem ser acolhidos ou
rejeitados pela comissão. Tudo dependerá dos argumentos técnicos apresentados pelo licitante sobre
a consistência técnica ou não da sua proposta.
60. O art. 2º, inciso II, do Decreto 7.983/2013 – que trata das regras e critérios para elaboração
do orçamento de referência de obras e serviços de engenharia, contratados e executados com
recursos dos orçamentos da União – definiu composição de custo unitário como sendo o
detalhamento do custo unitário do serviço, que expresse a descrição, quantidades, produtividades e
custos unitários dos materiais, mão de obra e equipamentos necessários à execução de uma unidade
de medida.
61. Por ser baseado em previsões, todo o orçamento de obra de engenharia é sempre
aproximado, embora necessite ser tão preciso quanto possível. Uma das fontes de imprecisão é
justamente a estimativa dos custos unitários, porque se baseia numa média. A outra é na estimativa
dos quantitativos do serviço. Assim, quando se diz que determinada quantidade X de um serviço
será executada a um custo Y, a rigor isso jamais ocorre na prática. O mais correto é afirmar que
determinada quantidade X ± ΔX de um serviço será executada a um custo Y ± ΔX com certa
margem de confiança.
62. Empresas distintas, com experiências diversas, oferecem nas suas composições de custos
unitários coeficientes de produtividades compatíveis com a sua realidade. Treinamentos das
equipes, capacitação e metodologias mais eficientes de execução dos serviços possibilitam que
ofereçam coeficientes mais vantajosos que os constantes do orçamento da licitação. Empresas mais
eficientes conseguirão, na prática, apresentar coeficientes melhores do que os dos referenciais,
enquanto empresas menos eficientes provavelmente utilizarão coeficientes maiores que os
referenciais. Poderão, inclusive, modificar a própria composição de custos de determinado serviço
que se lhe afigure mais favorável à disputa, desde que não prejudique a execução do serviço e
atenda às necessidades da administração. Daí a obrigatoriedade de competição em contratações
públicas.
63. Em resumo, ao elaborar sua proposta, é possível ao licitante realizar os seguintes ajustes
nas composições referenciais de determinado serviço, lembrando que uma composição também
pode ter como parcela uma composição auxiliar: a) incluir, excluir ou alterar insumos/composições
auxiliares; b) alterar os coeficientes de produtividade e custos unitários.
64. Não se está defendendo alterações indiscriminadas, mas somente aquelas que possam ser
justificadas tecnicamente. Se um licitante apresenta serviço evidentemente inexequível, ele deve ser
questionado (ou até mesmo desclassificado prontamente, desde que haja motivação suficiente para
tanto).
65. Certamente há determinados tipos de alterações nas composições de custos unitários de um
serviço qualquer que implicam na absoluta inviabilidade de execução. Nesses casos, a comissão
deve fundamentar muito bem sua decisão e desclassificar a proposta. Caso persista alguma dúvida
sobre a proposta, a comissão de licitação não deve desclassificá-la sumariamente, mas antes usar a
prerrogativa do art. 43, § 3º da Lei 8.666/93. Dois exemplos talvez ajudem a esclarecer o que se está
afirmando.
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 006.943/2019-5

66. A Tabela 1, extraída do Sinapi para uma determinada localidade e data-base, contém a
composição dos custos unitários para a execução de 1,00 m de meio-fio feito em concreto pré-
fabricado. O coeficiente de 1,005 utilizado para o item de meio-fio de concreto pré-moldado
considera que, para a execução de 1,00 m de meio-fio, existirá uma perda de 0,005 m/m, ou 0,5%
de perda devida ao processo construtivo. Esse percentual de perdas, em outras palavras, coeficiente,
pode variar de empreiteira de acordo com a expertise do pessoal de campo, dos métodos
construtivos utilizados, etc.
67. Na mesma composição, são necessários, em média, 0,007 m 3 de areia e 0,002 m3 de
argamassa, traço 1:3, para executar 1,00 m de meio-fio. Certamente como, já se encontra incluída
nessas quantidades alguma fração devida a perdas naturais do processo construtivo, caso
determinada licitante acredite poder executar o serviço com menos ou mais perda de material,
poderá apresentar coeficientes distintos dos de referência.
Tabela 1. Composição paradigma do serviço 94273 do Sinapi (meio-fio).
94273 – Assentamento de guia (meio-fio) em trecho reto, confeccionada em concreto pré-fabricado,
dimensões de 100X15X13X30cm (comprimento X base inferior X base superior X altura) para vias
urbanas (uso viário) AF 6/2016
Preço Total
Código Descrição Unid. Coef.
(R$/Unid./m) (R$/m)
Areia média – posto/jazida/fornecedor (retirado na
370 m3 0,007 38,50 0,27
jazida, sem transporte)
Meio-fio ou guia de concreto, pré-moldado, comp. 1 m,
4059 m 1,005 16,00 16,08
30 cm X 15/12 cm (H X L1/L2)
88309 Pedreiro com encargos complementares h 0,394 17,29 6,81
88316 Servente com encargos complementares h 0,394 12,95 5,10
Argamassa traço 1:3 (cimento e areia média), preparo
88629 m3 0,002 352,75 0,71
manual AF 08/2014
28,97
68. Dessa forma, ainda no exemplo citado, pode-se esperar, por parte dos licitantes, alguma
variação no coeficiente paradigma de 1,005 para o item de meio-fio de concreto pré-moldado, bem
como para os demais coeficientes.
69. Mas, se determinado participante “A” considerar, na sua composição de custos (Tabela 2),
por exemplo, o coeficiente de 0,650 m para o insumo de meio-fio (cód. 4059), então ou ele será
capaz de criar do nada 0,350 m de meio-fio (diferença entre 1,000 m e 0,650 m) ou, o que é mais
coerente, que executará o serviço com dimensão inferior à esperada.
70. Ainda em relação à Tabela 2, ao utilizar quantidade muito menor de areia média e
argamassa que a especificada na composição paradigma, tal licitante está implicitamente afirmando
que executará o serviço em total desacordo com o estipulado. Significa dizer que o serviço não terá
a mesma qualidade, resistência mecânica nem a durabilidade pretendida na licitação.
71. Dessa forma, as próprias considerações acima poderiam ser utilizadas pela comissão de
licitação como argumento técnico para não aceitar a proposta dessa licitante fictícia, no tocante ao
serviço de meio-fio, porque não se trata de mera correção ou falha de pequena monta, mas de erro
de ordem técnica indefensável, que escapa às circunstâncias do art. art. 43, § 3º da Lei 8.666/93.
Não obstante, a desclassificação da proposta como um todo dependerá do quanto o serviço é
relevante na obra licitada.
Tabela 2. Composição de licitante fictício “A” para o serviço de meio-fio.
94273 – Assentamento de guia (meio-fio) em trecho reto, confeccionada em concreto pré-fabricado,
dimensões de 100X15X13X30cm (comprimento X base inferior X base superior X altura) para vias
urbanas (uso viário) AF 6/2016
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 006.943/2019-5

Preço Total
Código Descrição Unid. Coef.
(R$/Unid./m) (R$/m)
Areia média – posto/jazida/fornecedor (retirado
370 m3 0,004 38,50 0,15
na jazida, sem transporte)
Meio-fio ou guia de concreto, pré-moldado,
4059 m 0,650 16,00 10,40
comp. 1 m, *30 X 15/12 * cm (H X L1/L2)
88309 Pedreiro com encargos complementares h 0,394 11,42 4,50
88316 Servente com encargos complementares h 0,394 9,12 3,59
Argamassa traço 1:3 (cimento e areia média),
88629 m3 0,001 320,30 0,32
preparo manual AF 08/2014
18,96
72. Ainda em relação ao exemplo citado, não parece sensato desclassificar sumariamente a
composição oferecida por um licitante fictício “B” somente porque alterou ligeiramente alguns
coeficientes e suprimiu outro. Diferentemente da situação anterior, o mais adequado, neste caso,
seria a comissão diligenciar o participante, conforme orienta o já citado art. 43, § 3º da Lei
8.666/93.
Tabela 3. Composição de licitante fictício “B” para o serviço de meio-fio.
94273 – Assentamento de guia (meio-fio) em trecho reto, confeccionada em concreto pré-fabricado,
dimensões de 100X15X13X30cm (comprimento X base inferior X base superior X altura) para vias
urbanas (uso viário) AF 6/2016
Preço Total
Código Descrição Unid. Coef.
(R$/Unid./m) (R$/m)
Areia média – posto/jazida/fornecedor (retirado na
370 m3 0,008 42,00 0,34
jazida, sem transporte)
Meio-fio ou guia de concreto, pré-moldado, comp.
4059 m 1,010 18,20 18,38
1 m, 30 cm X 15/12 cm (H X L1/L2)
88309 Pedreiro com encargos complementares h 0,333 17,29 5,76
88316 Servente com encargos complementares h 0,000 12,95 0,00
Argamassa traço 1:3 (cimento e areia média),
88629 m3 0,003 362,75 1,09
preparo manual AF 08/2014
25,57
73. Mesmo quando o preço unitário do serviço se mostrar superior ao do referencial, não há
que se falar em sobrepreço, sem uma análise mais pormenorizada. Muito menos quando se trata do
custo unitário da composição de um serviço. Segundo a p. 73 do manual do TCU denominado
“Orientações para elaboração de planilhas orçamentárias de obras públicas”, elaborado em 2014 e
disponível na página do órgão na internet:
(...) tais valores podem ser compensados por outros preços unitários que estão com desconto em relação ao
Sinapi, de forma que não haja sobrepreço global no contrato. O TCU tem entendido [Acórdãos 798/2008, rel.
Min. Augusto Nardes, 1.414/2003, rel. Min. Marcos Vilaça, 388/2004, rel. Min. Walton Alencar e
1.746/2003, rel. Min. Humberto Souto, todos do Plenário] que na avaliação econômica do contrato, o
eventual sobrepreço existente deve ser apurado de forma global, isto é, fazendo-se as compensações dos
preços excessivos de alguns itens com os descontos verificados em outros.
(...)
É necessário observar, ainda, se a existência de sobrepreços unitários em determinados itens não causaria o
chamado “superfaturamento de cronograma”, em que o licitante eleva artificialmente os preços dos serviços
a serem executados no início do contrato para abandoná-lo assim que ele não mais se mostrar vantajoso.
(...) as discrepâncias dos preços existentes (...) apenas causam prejuízos quando se realizam aditivos em que
são acrescidos quantitativos para itens de serviço cujos valores eram excessivos em relação aos demais
licitantes, ou, ainda, quando suprimidas as quantidades daqueles itens cujos preços eram vantajosos para a
administração contratante.

12
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 006.943/2019-5

74. Em síntese, todo licitante dispõe de certa flexibilidade no momento de elaborar as suas
composições de custos unitários, desde que adequadas e pertinentes à execução dos serviços e desde
que atendam ao critério de aceitabilidade das propostas.
Do serviço de fôrma trepante
75. A empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda. alegou, em sede de recurso contra a decisão
que desclassificara sua proposta de preços que, em relação ao serviço 12.3.3 - Fôrma trepante, que a
supressão do subitem de fabricação de fôrma em chapa de madeira compensada decorrera do fato
de já estar contemplado no subitem de fôrma trepante com console e que a exclusão da barra
roscada de 3/4" decorreu da metodologia construtiva por ela empregada, que previa, no subitem de
barra de ancoragem com rosca de 5/8", aprumador metálico para garantir o alinhamento vertical
entre outros, tornando desnecessária a utilização da barra roscada de 3/4" (peça 2, p. 81).
76. Essas explicações, ainda que carentes de maior detalhamento, deixaram de ser examinadas
com a profundidade devida, tanto pelo órgão de apoio técnico, quanto pela comissão de licitação no
sentido de acatá-las ou refutá-la.
77. Consequentemente, não há como afirmar se são pertinentes ou não tais modificações de
modo a demonstrar ou não sua viabilidade. Ainda que o preço unitário do serviço de forma trepante
oferecido pela empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda. seja inferior ao de referência, as
alterações que promoveu na composição de custos unitários desse serviço podem ser de tal monta
que realmente impliquem na inviabilidade de sua execução com a qualidade almejada pelo órgão
contratante.
Dos serviços de escada em concreto
78. Relativamente às alterações de coeficientes observadas no serviço de escada em concreto
armado, a empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda. argumentou que, como a escada seria
inteiramente apoiada nos taludes, seria possível reduzir o coeficiente do subitem de
montagem/desmontagem de fôrma em madeira serrada e do subitem de armação de estruturas de
concreto armado. Considerou que os coeficientes presentes no orçamento para esse serviço se
aplicariam ao caso de a escada ser flutuante (peça 2, p. 83).
79. Novamente, tanto o órgão de apoio técnico quanto a comissão de licitação, ao se
depararem com essas explicações, deixaram de examiná-las apropriadamente.
80. Consequentemente, não há como afirmar se são pertinentes ou não tais modificações de
modo a demonstrar ou não sua viabilidade. Ainda que o preço unitário do serviço de forma trepante
oferecido pela empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda. seja inferior ao de referência, as
alterações que promoveu na composição de custos unitários desse serviço podem ser de tal monta
que realmente impliquem na inviabilidade de sua execução com a qualidade pretendida pelo órgão
contratante.
81. A Secretaria Municipal de Obras de Boa Vista/RR compreendeu que, antes da sessão de
abertura dos trabalhos, a empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda. deveria tê-la procurado para
saber se poderia apresentar sua proposta com as alterações que pretendia fazer, de modo a permitir a
avaliação prévia do órgão contratante e, caso recepcionada, dar amplo conhecimento aos demais
licitantes de modo a manter o tratamento isonômico entre os licitantes (peça 19, p. 16).
82. É parcialmente correto esse entendimento do Secretário Municipal de Obras Adjunto,
porque encontra amparo no art. 40, inciso VIII da Lei 8.666/93. É prática bastante usual em
licitações a troca de mensagens entre as participantes e a comissão de licitação, previamente à
sessão de abertura dos trabalhos, com o propósito de dirimir dúvidas de toda ordem a respeito do
certame. Entretanto, esse expediente não substitui nem elimina a já citada prerrogativa contida no
art. 43, § 3º da Lei 8.666/93.
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 006.943/2019-5

Dos serviços referentes a concreto usinado bombeável


83. Na instrução de peça 276, p. 7 constatou-se que o preço unitário (sem BDI) de
R$ 1.293,55/m3 oferecido pela empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda. para os itens 5.4.2, 5.8.2,
6.3.2, 6.4.2, 7.4.2, 8.3.3, 8.4.1, 11.1.4, 11.2.4 e 12.13.11, de R$ 1.331,81 para o item 12.2.12 e de
R$ 1.345,20 para o item 12.3.2 são todos inferiores ao preço unitário do orçamento de referência,
R$ 1.359,00/m3. Dessa forma, não procede o apontamento de sobrepreço alegado pelo órgão
contratante.
84. Não há objeções ao fato de a empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda. ter apresentado
composição de custos para o serviço de concreto usinado bombeável distinta da composição de
referência. Esse não pode ser um motivo para desclassificar sua proposta, a menos que fique
demonstrado que as alterações que promoveu comprometem ou mesmo inviabilizam a própria
execução do serviço.
85. No presente caso, ao reduzir substancialmente a quantidade estipulada em projeto de
aditivo impermeabilizante na composição do concreto usinado bombeável (5 kg contra 20 kg da
composição de referência), é plausível a alegação do órgão contratante de que tal supressão poderá
implicar na menor vida útil da obra e na formação de patologias precoces, porque o uso de aditivos
se destina a melhorar a característica do concreto ao modificar a resistência ao impacto, melhorar o
acabamento superficial e aumentar a sua dureza. Por outro lado, o aditivo pode servir também para
reduzir o custo do material.
86. Assim, para o caso específico dos serviços envolvendo concreto usinado bombeável (que
isoladamente representam algo em torno de 6% do total orçado, cf. peça 109), procede a crítica do
órgão contratante. Ao modificar as especificações do serviço no nível em que foram feitas, sem o
prévio questionamento na fase de abertura, o licitante provocou alterações no projeto no mínimo
temerosas. Relembre-se que além da alteração da quantidade de aditivos, a empreiteira também
alterou o tipo de cimento empregado na composição.
87. Ainda que o preço unitário do serviço de concreto usinado bombeável oferecido pela
empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda. seja inferior ao de referência, as alterações que
promoveu na composição de custos unitários desse serviço podem ser de tal monta que realmente
impliquem na inviabilidade de sua execução com a qualidade pretendida pelo órgão contratante.
Do critério de desclassificação baseado no preço unitário de insumo ou de composição auxiliar
pertencentes a composição de custos de serviços
88. O órgão de apoio técnico e a comissão de licitação erraram ao confundirem preço unitário
de serviço com preço unitário de parcela (insumo ou composição auxiliar) presente na composição
de custos de determinado serviço. Dessa maneira, no lugar de comparar os preços unitários dos
serviços das propostas com aqueles do orçamento da licitação, os responsáveis adotaram como
critério de desclassificação as situações em que os preços unitários das parcelas que compunham o
serviço da proposta situavam-se acima dos correspondentes aos do orçamento. Como agravante,
como será visto no tópico referente ao item 9.3.2 do Acórdão 3.062/2019, adotou-se esse tipo de
critério exclusivamente para a empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda.
89. Não há previsão nas normas que regem a matéria de se utilizar esse tipo de critério como
medida para classificar ou desclassificar a proposta de preços. O detalhamento de preços de que
trata a composição de custos unitários de determinado serviço serve para motivar o preço
referencial resultante, instigar a competitividade e permitir ao particular conhecer todas as nuanças
da contratação e com isso formular sua proposta com base nas metodologias construtivas sobre as
quais detém know-how e usar coeficientes de produtividade de acordo sua experiência acumulada
anterior.

14
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 006.943/2019-5

90. Jamais os preços das parcelas presentes na composição de custos unitários de certo serviço
de determinada proposta, bem como a substituição, supressão, inclusão ou modificação de
coeficientes, em relação à composição referencial, podem ser empregados, de per si, como critérios
eliminatórios de proposta, a menos que flagrantemente absurdas.
91. A desclassificação de uma proposta somente pode ser arguida se, cumulativamente, a
composição de custos unitários apresentada pela licitante se refira a um serviço relevante da obra e
as modificações que promovera em relação à composição de referência sejam da tal ordem que não
restem dúvidas a respeito da impossibilidade de sua execução.
92. Na lição de Campelo & Jardim (Campelo, Valmir & Jardim, Rafael, in Obras Públicas:
comentários à jurisprudência do TCU. 4ª ed. Fórum, 2018, p. 146) o detalhamento de preços da
proposta:
Não se destina a desclassificar concorrente por sobrestimativa de eventual insumo, posto que tal rigorismo
em nada contribui para a obtenção da “melhor proposta”. A demonstração objetiva de todos os custos do
empreendimento subsidia a Administração em eventuais análises de exequibilidade da oferta. Também evita
a ocorrência de duplicidades de encargos dispostos no orçamento e serve de lastro probatório para o
discernimento de futuros pleitos de reequilíbrio econômico-financeiro. Trata-se, finalmente, da necessária
motivação do preço ofertado, supedâneo do julgamento e da avaliação da real vantagem do preço oferecido
pelo particular.
93. A comparação, para efeitos de classificação ou desclassificação de proposta, deve ser
obrigatoriamente feita em relação ao preço global e aos preços unitários, esses últimos
compreendidos como aqueles que se fazem presentes na planilha de quantitativos físico-financeiros.
Na Lei 8.666/93, o art. 40, inciso X, estabelece que o edital deverá conter critério para
aceitabilidade dos preços unitário e global, permitida a fixação de preços máximos e vedados a
fixação de preços mínimos. Por sua vez, o Decreto 7.983/2013 assim prevê (grifos ausentes do texto
original):
art. 11. Os critérios de aceitabilidade de preços deverão constar do edital de licitação para
contratação de obras e serviços de engenharia;
(...)
art. 13. Em caso de adoção dos regimes de empreitada por preço global e de empreitada integral,
deverão ser observadas as seguintes disposições para a formação e aceitabilidade dos preços:
I – na formação do preço que constará das propostas dos licitantes, poderão ser utilizados custos
unitários diferentes daqueles obtidos a partir dos sistemas de custos de referência previstos neste Decreto,
desde que o preço global orçado e o de cada uma das etapas previstas no cronograma físico-financeiro do
contrato, observado o art. 9º, fiquem iguais ou abaixo dos preços de referência da administração pública
obtidos na forma do Capítulo II, assegurado aos órgãos de controle o acesso irrestrito a essas informações;
(...)
Parágrafo único. Para o atendimento do art. 11, os critérios de aceitabilidade de preços serão
definidos em relação ao preço global e de cada uma das etapas previstas no cronograma físico-
financeiro do contrato, que deverão constar do edital de licitação.
94. A comissão de licitação também deveria ter diligenciado o Consórcio Sanches Tripoloni –
Coema, nos termos do já comentado art. 43, § 3º da Lei 8.666/93, com vistas a obter
esclarecimentos que a levaram a suprimir, na composição dos custos unitários do serviço de
fundação indireta (cf. peça 348, p. 3 e 4), parcelas essenciais e indispensáveis para sua execução.
95. De fato, na composição de custos do serviço 12.2.2 – Execução de fundação indireta tipo
estacas d = 60 cm, o Consórcio Sanches Tripoloni – Coema retirou da sua proposta justamente as
parcelas mais significativas sem as quais parece ser impossível executar tal serviço: cravação
metálica d = 60 cm e estaca tubada. Essa afirmação foi confirmada posteriormente, já durante a

15
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 006.943/2019-5

execução das obras, as se constatar que a contratada substituiu o serviço de fundação do orçamento
por outro mais econômico, conforme relatado no parágrafo 11. desta instrução.
96. A respeito da alteração do tipo de fundação utilizada na obra, a equipe de auditoria do TCU
que a fiscalizou se manifestou nos seguintes termos, endossados nesta instrução:
Também é necessário salientar que durante a visita à obra foi informado que a alteração de
metodologia de execução das fundações foi bem recebida pelos envolvidos, pois, por se tratar de uma
solução comumente utilizada no mercado e de fácil execução, possibilitaria o adiantamento do cronograma
da obra. Fato que causa interesse à Prefeitura e à Contratada, uma vez que o município e executora
pretendem antecipar a entrega da obra para dezembro de 2020, embora o cronograma físico financeiro
vigente preveja a conclusão em abril de 2021.
Nesse ponto importa registrar que o item 9.5 do Acórdão 3.062/2019-TCU-Plenário determinou
que cópia da peça 316 do TC 006.943/2019-8 fosse analisada no âmbito dessa auditoria. A citada peça é uma
petição do denunciante questionando as implicações econômicas e técnicas da alteração do projeto de
fundação.
Em relação às implicações econômicas, saliente-se que inicialmente a alteração promovida
diminuiu o valor do contrato, trazendo economia aos cofres públicos. Além do mais, mitigando o risco de
haver qualquer impacto financeiro futuro, a planilha orçamentária vigente, a qual já contempla as alterações
ocasionadas pela substituição do projeto de fundação, foi devidamente analisada juntamente com os demais
serviços do contrato.
A alteração do projeto de fundação se embasou na proposição, pelo Consórcio vencedor, de nova
solução para a execução das fundações, a qual foi acatada pela fiscalizadora e pela prefeitura como uma
melhor alternativa técnica e financeira.
Destaca-se que o projeto executivo licitado, apresentou relatório técnico especificando que a
infraestrutura fosse executada com as técnicas de fundação em estacas metálicas ou fundação em tubulões de
ar comprimido.
Contudo, embasado em novos estudos e sondagens (...) e na necessidade de se executar a fundação
em época de cheia do Rio Branco (caracterizando a necessidade de elevação do nível de implantação do
bloco de implantação por meio de aterro), foi apresentada a solução de execução da fundação utilizando a
técnica hélice contínua, uma vez que a solução anterior poderia impactar o cronograma já que o início da
obra se daria durante a época de cheia do Rio Branco e as fundações apenas poderiam ser executadas durante
o período de baixa do rio.
A equipe verificou que a alteração não prejudicou a fase de habilitação da licitação que deu origem
ao contrato, uma vez que o edital previa como critério de habilitação técnica a “Execução de fundação
indireta tipo estaca” (evidência 2, p. 25), não havendo especificação do tipo de estaca a ser comprovado.
97. Da mesma maneira, a comissão de licitação também deveria ter diligenciado o Consórcio
Sanches Tripoloni – Coema para obter esclarecimentos em relação as alterações que promovera no
serviço 3.1.1 – Administração local da obra com encargos complementares, especialmente quanto
ao emprego de unidade de medida incompatível para a caracterização das parcelas relativas a
serviço de copeira, vigia noturno e técnico em segurança, a exclusão de quatro profissionais que
compõem o orçamento referencial e aos preços unitários bastante superiores ao de referência para o
engenheiro geral do contrato, apontador, almoxarife e auxiliar administrativo.
98. É oportuno mencionar que a CGU detectara superestimativa do orçamento do serviço de
administração local da obra no valor de R$ 5.138.447,23 (peça 347, p. 25).
99. Não podem ser acolhidas as justificativas do consórcio acerca do uso de “hora” no lugar de
“mês”, descritas no parágrafo 41. por mera distorção matemática (não é possível admitir que um
mês equivalha a 24 horas) e por absoluta incoerência ao vincular a alteração da unidade de medida
de tempo à disponibilidade de mão-de-obra. Dessa feita, persiste a deficiência na composição de
custos unitários do serviço de administração local oferecida pelo consórcio vencedor da
Concorrência 47/2018.

16
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 006.943/2019-5

100. É significativo destacar que o serviço de fundação e o serviço de administração local são,
respectivamente, o mais importante e o terceiro da curva ABC do empreendimento.
Inobservância dos Princípios da seleção da proposta mais vantajosa para a Administração e da
Isonomia (Item 9.3.2 Do Acórdão 3.062/2019-Tcu-Plenário)
101. Por inobservância dos princípios da seleção da proposta mais vantajosa para a
administração e da isonomia compreende-se fundamentalmente que o órgão de apoio técnico,
Secretaria Municipal de Obras de Boa Vista/RR, representado pelo seu Secretário Adjunto,
Sr. Ramildo Cavalcante Costa e a comissão de licitação, na pessoa do seu Presidente, Sr. Artur José
Lima Cavalcante Filho:
a) deixaram de contratar injustificadamente proposta no valor de R$ 52.035.061,50,
oferecida pela empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda. para contratar proposta menos
econômica, R$ 52.605.127,90, oferecida pelo Consórcio Sanches Tripoloni – Coema;
b) não utilizaram os mesmos critérios ao analisar a proposta da empresa Andrade
Galvão Engenharia Ltda. e a proposta do Consórcio Sanches Tripoloni – Coema.
Sistemática utilizada pelo Secretário Adjunto da Secretaria Municipal de Obras de Boa
Vista/RR na análise da proposta da empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda.
102. Ao analisar a proposta de preços da empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda., o
Secretário Adjunto do órgão de apoio técnico à licitação alterou as composições de preços
relativamente aos serviços de itens 4.3.9 e 5.8.5, escada em concreto armado, FCK = 15 MPA,
moldada in loco (inclusos fôrma, armação e lançamento) e item 12.3.3, fôrma trepante, de modo a
substituir os coeficientes utilizados pela licitante por aqueles do orçamento de referência, mantendo
os preços unitários da proposta. A peça 348, p. 5-6 contém os detalhes desse procedimento que
resultou num acréscimo de R$ 251.511,26 e R$ 457.733,90, respectivamente, ao valor da proposta
original. Na verdade, de acordo com essa metodologia, o acréscimo devido à escada em concreto
deveria ser ligeiramente superior, uma vez que o parecerista deixou de incluir no cálculo a
quantidade presente no item 5.8.5 do orçamento de referência.
103. O Sr. Ramildo Cavalcante Costa considerou que as modificações promovidas nas
composições de custos unitários levadas a efeito pela empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda.
tinham o objetivo de camuflar tais acréscimos e implicariam em falta de isonomia dessa concorrente
em relação aos outros licitantes. Por tais razões decidiu por desclassificá-la do certame,
posicionamento acolhido pelo Presidente da comissão de licitação.
Sistemática utilizada pelo Secretário Adjunto da Secretaria Municipal de Obras de Boa
Vista/RR na análise da proposta do Consórcio Sanches Tripoloni - Coema
104. Apesar de o Consórcio Sanches Tripoloni – Coema também ter modificado as composições
de custos unitários dos serviços de fundação e administração local das obras, conforme já discorrido
nos parágrafos 36. a 42. desta instrução, não se dispensou a esse concorrente o mesmo tratamento
dado à empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda.
105. Mais tarde, em decorrência de recurso e de contrarrazões, o Sr. Ramildo Cavalcante Costa
reanalisou a proposta do consórcio de modo a, baseado no desconto oferecido pela empresa em
relação ao valor do orçamento da licitação, corrigir o serviço de fundação para concluir que a
proposta da empresa implicaria, se submetida ao tipo de correção por ele imaginada, numa redução
de R$ 1.051.627,70 (peça 67, p. 24):
Logo a razão entre [o valor do orçamento e o da proposta do consórcio] representa o desconto dado
pelo Consórcio Sanches Tripoloni - Coema que foi de aproximadamente 0,899828284987. Este valor
representa o quanto a proposta apresentada reduziu seu valor em relação à Administração, mantendo a
relação de desconto, que é imprescindível neste tipo de avaliação, logo todos os preços de serviços e de

17
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 006.943/2019-5

insumos a serem corrigidos deverão ter este valor como fator de multiplicação.
Não é possível utilizar o critério proposto pela recorrente Andrade Galvão Engenharia Ltda., que
fez uso do "preço cheio" sem considerar o desconto necessário acima exposto. Ademais, realiza-se a
demonstração dos cálculos com a utilização do desconto devido
106. O procedimento adotado pelo Sr. Ramildo Costa relativamente às falhas observadas na
proposta do Consórcio Sanches Tripoloni – Coema foi essencialmente o seguinte:
I. calcular o desconto oferecido pelo consórcio, relação entre o valor de sua proposta e o
do orçamento da licitação: R$ 52.605.127,90/R$ 58.461.282,32 = 0,89982849867;
II. aplicar o coeficiente obtido acima sobre os preços das parcelas da composição
referencial dos custos unitários do serviço de fundação indireta para obter o preço unitário do
serviço igual a R$ 2.138,86/m;
III. atribuir ao Consórcio Sanches Tripoloni – Coema não o preço unitário desse serviço
oferecido na sua proposta, R$ 2.652,98/m, mas o preço unitário obtido do procedimento descrito no
item acima, R$ 2.138,86/m;
IV. aplicar sobre o valor de R$ 2.138,86 o BDI 27,54% de modo a obter o preço unitário
final de R$ 2.727,90/m e atribui-lo ao Consórcio Sanches Tripoloni – Coema;
V. como a quantidade prevista do serviço corresponde a 1.603,80 m, o preço do serviço a
ser atribuído ao Consórcio Sanches Tripoloni – Coema será igual a 1.603,80 m × R$ 2.727,90/m ou
R$ 4.375.006,02;
VI. subtrair o valor proposto pelo consórcio para esse serviço (peça 273, p. 10),
R$ 5.426.626,90, do valor obtido no item V acima, R$ 4.375.006,02 de modo a obter
R$ 1.051.620,88;
VII. o valor obtido no item anterior, R$ 1.051.620,88 pode ser compreendido como um
desconto oferecido pelo consórcio em relação ao valor orçado.
107. A peça 348, p. 7 contém a memória de cálculo do procedimento descrito no item II. acima.
108. Procedimento semelhante ao descrito no parágrafo 106., foi empregado pelo Sr. Ramildo
Cavalcante Costa relativamente ao serviço de administração local, de modo a concluir que, embora
ele passasse de R$ 2.486.929,64 (peça 273, p. 1) para R$ 2.746.437,60 (peça 67, p. 26), ainda assim
seria inferior ao valor previsto no orçamento da licitação, R$ 2.761.347,88 (peça 271, p. 1).
Manifestação do sr. Artur José Lima Cavalcante filho em resposta à audiência (peça 327)
109. O responsável afirmou que a administração analisou detalhadamente os preços unitários
que compõem a planilha orçamentária dos concorrentes, à luz da jurisprudência do TCU, da
literatura aplicável e do disposto na Súmula 259/2010 do TCU, a qual determina que nas
contratações de obras e serviços de engenharia, a definição do critério de aceitabilidade dos preços
unitários e global, com fixação de preços máximos para ambos, é obrigação e não faculdade do
gestor.
110. Asseverou que a decisão de desclassificar a proposta da empresa Andrade Galvão
Engenharia Ltda. e de classificar a do Consórcio ocorreu em perfeita legalidade e em atendimento
ao interesse público. Afirmou não ter havido ofensa aos princípios da seleção da proposta mais
vantajosa para administração e da isonomia no certame.
111. O responsável reportou-se ao Relatório 201902258 da Controladoria-Geral da União
(CGU), o qual teve como objetivo avaliar a regularidade do processo de planejamento da
contratação e de seleção do contratado da obra de requalificação da orla do Rio Branco/Bacia de
Caxangá, apontando o seguinte trecho das conclusões do relatório:
18
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 006.943/2019-5

Análise das principais composições unitárias das propostas das empresas habilitadas: verificaram-se que três
CPU's da empresa Andrade Galvão apresentaram falhas que são motivos de desclassificação da proposta,
conforme Quadro 03, resumo da Parte B deste relatório. Cálculo hipotético da proposta mais vantajosa para
Administração: verificou-se que a empresa contratada apresentará a melhor proposta após as hipotéticas
correções no orçamento proposto, conforme Tabela 37, resumo da Parte C deste relatório.
112. Alegou que, acerca da desclassificação da empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda., a
CGU concluiu que a comissão de licitação agira corretamente, mas pelos motivos errados, ou seja,
os motivos expostos pela comissão, por si sós, não ensejariam a desclassificação da proposta, dado
que existiriam outros que levariam ao mesmo resultado. Dessa forma, ocorreu a seleção da proposta
mais vantajosa para a administração, sem ofensa ao princípio da isonomia, bem como não houve
prejuízo ao erário.
Manifestação do sr. Ramildo Cavalcante Costa em resposta à audiência
113. Conforme já mencionado no parágrafo 16. desta instrução, o então Secretário Municipal de
Obras Adjunto do Município de Boa Vista/RR não se manifestou no prazo concedido.
Análise
114. As razões de justificativa do Sr. Artur José Lima Cavalcante Filho, então Presidente da
comissão permanente de licitação de Boa Vista/RR, não são capazes de elidir as irregularidades de
que trata o item 9.3.2 do Acórdão 3.062/2019.
115. Não existe nas normas sobre licitações, qualquer orientação que se assemelhe aos
procedimentos utilizados pelo Sr. Ramildo Cavalcante Costa ao analisar as propostas das licitantes.
116. Conforme reiteradamente mencionado nesta instrução, a jurisprudência do TCU é no
sentido de que se forem identificadas impropriedades nas propostas de preço das licitantes, deve-se
oportunizar a elas que as corrijam ou as justifiquem, desde que mantidos os preços inicialmente
propostos, a exemplo dos Acórdãos 898/2019-TCU-Plenário e 1.487/2019-TCU-Plenário. De forma
alguma cabe ao órgão contratante alterar unilateralmente a proposta de licitante para daí concluir
pela sua classificação ou desclassificação. Caso se suspeite que há algo indevido na proposta,
compete chamar quem a elaborou para prestar os esclarecimentos necessários de modo a permitir
um juízo de valor mais consistente e legítimo.
117. O exercício ficcional do órgão contratante de alterar unilateralmente a proposta de
determinada empresa oferecida em um certame licitatório e sem a anuência dessa, qualquer que seja
o seu resultado, é inteiramente destituído de legalidade e não constitui demonstração hábil no
sentido de validá-la ou invalidá-la.
118. Não prospera, também, a alegação de que a proposta de preço do consórcio não apresenta
sobrepreço, porque a própria CGU apontou ali um sobrepreço de R$ 5.051.909,61 (peça 347, p. 48).
119. A CGU também recomendou a correção dos itens apontados na planilha orçamentária do
contrato, bem como a retenção de qualquer pagamento dos serviços considerados com sobrepreço
até a devida correção.
120. De acordo com a equipe de auditoria do TCU, a Prefeitura de Boa Vista acatou
integralmente os apontamentos da CGU, por meio do terceiro aditivo contratual, de modo a reduzir
o valor do contrato 179/SMO/PMBV/2019 para R$ 46.390.000,47.
121. Ainda de acordo com a equipe de auditoria, o primeiro Aditivo contratual, publicado em
26/6/2019, suprimiu, em decorrência da atuação da CGU, o montante de R$ 1.794.941,84 do
contrato. Esse valor corresponde a exclusão do insumo “serviço de aluguel de república para
engenheiros”, da composição de preço unitária 12.2.2 - Execução de fundação indireta do tipo
estacas d=60cm, bem como a exclusão das seguintes composições 1.1.16 - Aluguel de república

19
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 006.943/2019-5

para engenheiros, 1.1.17 - Aluguel de república para encarregados e 4.1.3 - Locação da obra, com
uso de equipamentos topográficos, inclusive nivelador, da planilha orçamentária do Contrato.
122. O segundo Aditivo contratual, publicado em 9/9/2019, suprimiu o montante de
R$ 5.646.888,89 e acrescentou o valor de R$ 2.531.066,48 ao contrato. Essa alteração teve como
justificativa a alteração do projeto de fundações apresentado no projeto executivo licitado, alterando
os seguintes serviços: infraestrutura do mirante, da ponte metálica, e do posto de observação, bem
como adequações nos serviços de administração local da obra, aterro com material importado e
movimentação de terra
123. Não há sentido em afirmar que a empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda. faltou com a
isonomia em relação às outras licitantes, meramente por ter modificado as composições de custos
unitários dos serviços examinados nestes autos. Conforme já relatado nos parágrafos 61. a 65., é
legítimo e legal a todo licitante apresentar em sua proposta composições de custos unitários
adequadas à sua expertise e tal conduta de modo algum significa ato anti-isonômico.
124. O princípio da isonomia de que trata o art. 3º da Lei 8.666/93 tem a ver com tratamento
igualitário a ser dispensado aos licitantes pela comissão de licitação. Na observância desse
princípio, a comissão de licitação encontra-se impedida de dar tratamento diferenciado não previsto
em lei a uma ou outra.
125. Conforme relatado neste processo, tanto o órgão de apoio técnico, Secretaria Municipal de
Obras de Boa Vista/RR, representada pelo seu Secretário Adjunto, Sr.  Ramildo Cavalcante Costa
quanto a comissão de licitação, na pessoa do seu Presidente, Sr. Artur José Lima Cavalcante Filho,
empregaram tratamento diferenciado e não previsto em lei à empresa Andrade Galvão Engenharia
Ltda. em relação ao Consórcio Sanches Tripoloni – Coema.
126. Resumidamente, o órgão de apoio técnico e a comissão de licitação desclassificaram a
proposta da empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda. por oferecer composições de custos
unitários de alguns serviços distintas das composições de referência (sobretudo por conterem preços
de insumos ou de composições auxiliares superiores às previstas nas composições de custos
unitários de referência; apresentarem coeficientes nulos ou diferentes das composições de custos de
referência; por incluírem parcelas não presentes nas composições de referência; por excluírem
parcelas presentes nas composições de referência). Diante da magnitude das alterações (e não pelo
fatos de existirem nas composições dos serviços preços superiores aos das composições de
referência) a proposta da empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda. não poderia ser aceita. Da
mesma maneira, a proposta do Consórcio Sanches Tripoloni – Coema, que igualmente apresentara
os mesmos tipos de alterações nas composições de custos unitários de alguns serviços.
127. Na verdade, os problemas observados na composição de custos do serviço 12.2.2 –
Execução de fundação indireta tipos estacas d = 60 cm, do Consórcio Sanches Tripoloni – Coema
ensejariam até mesmo a desclassificação da proposta. O próprio tratamento (equivocado) dado na
análise da proposta do Consórcio Sanches Tripoloni – Coema, que considerou o desconto oferecido
em relação ao preço do orçamento, deixou de ser aplicado à proposta da empresa Andrade Galvão
Engenharia Ltda.
CONCLUSÃO
128. Nesta instrução examinaram-se as respostas às audiências determinadas no Acórdão
3.062/2019-TCU-Plenário e dirigidas ao Sr. Artur José Lima Cavalcante Filho, Presidente da
Comissão Permanente de Licitação da Prefeitura Municipal de Boa Vista/RR, e Sr. Ramildo
Cavalcante Costa, Secretário Municipal de Obras Adjunto do Município de Boa Vista/RR, ambos
titulares dos cargos à época dos fatos, acerca de procedimento de análise e julgamento indevido das
propostas dos licitantes, em desacordo com jurisprudência do TCU e acerca de inobservância dos
princípios da seleção da proposta mais vantajosa para administração e da isonomia, em desacordo
20
TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 006.943/2019-5

com o art. 3º da Lei 8.666/93.


129. As alegações fornecidas pelo Sr. Artur José Lima Cavalcante Filho, essencialmente
reproduções de justificativas já apresentadas em outras oportunidades pela Prefeitura de Boa
Vista/RR, não foram capazes de demover as irregularidades relatadas no Acórdão 3.062/2019-TCU-
Plenário, principalmente em relação a ausência de tratamento isonômico entre as licitantes
habilitadas na Concorrência 47/2018 e a utilização de procedimentos de análise das propostas de
preços sem amparo na legislação que rege a matéria.
130. Embora comunicado da audiência por edital, em razão da impossibilidade de o fazê-lo
pelos meios habituais, o Sr. Ramildo Cavalcante Costa não compareceu ao processo e será julgado à
revelia, sem prejuízo do disposto no art. 161 do Regimento Interno do TCU.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
131. Diante do exposto, propõe-se:
a) considerar, para todos os efeitos, revel o Sr. Ramildo Cavalcante Costa
(CPF 709.349.672-53), Secretário Municipal de Obras Adjunto do Município de Boa Vista/RR à
época dos fatos, dando-se prosseguimento ao processo, conforme preceitua o art. 12, § 3º da Lei
8.443/1992 c/c o art. 202, § 8º do Regimento Interno do TCU;
b) rejeitar as razões de justificativa do Sr. Artur José Lima Cavalcante Filho
(CPF 684.878.942-91), Presidente da Comissão Permanente de Licitação da Prefeitura Municipal
de Boa Vista/RR à época dos fatos;
c) rejeitar as razões de justificativa (sob a égide do art. art. 161 do RI/TCU) do
Sr. Ramildo Cavalcante Costa (CPF 709.349.672-53), Secretário Municipal de Obras Adjunto do
Município de Boa Vista/RR à época dos fatos;
d) aplicar, com fundamento no art. 58, inciso II, da Lei 8.443/1992 c/c o art. 268, inciso
III, do Regimento Interno do TCU, multa individual aos Srs. Artur José Lima Cavalcante Filho
(CPF 684.878.942-91) e Ramildo Cavalcante Costa (CPF 709.349.672-53), fixando o prazo de 15
dias, a partir da notificação, para que, nos termos do art. 216 do Regimento Interno do TCU,
comprovem perante este Tribunal o recolhimento aos cofres do Tesouro Nacional do valor
atualizado monetariamente desde a data do acórdão até a data do efetivo recolhimento, se for pago
após o vencimento, na forma da legislação em vigor;
e) autorizar, desde logo, com fundamento no art. 26 da Lei 8.443/1992 c/c o art. 217 do
Regimento Interno do TCU, caso seja do interesse dos responsáveis, o parcelamento da dívida em
até 36 (trinta e seis) parcelas, incidindo sobre cada uma os encargos legais devidos, sem prejuízo de
alertá-los de que, caso optem por essa forma de pagamento, a falta de comprovação do
recolhimento de qualquer parcela implicará o vencimento antecipado do saldo devedor, nos termos
do art. 26, parágrafo único, da Lei 8.443/1992 c/c o art. 217, § 2º, do Regimento Interno do TCU;
f) autorizar, desde logo, a cobrança judicial das dívidas nos termos do art. 28, inciso II, da
Lei 8.443/1992 c/c o art. 219, inciso II, do RI/TCU, caso não atendidas as notificações;
g) em cumprimento ao item 9.7 do Acórdão 3.062/2019-TCU-Plenário autorizar o
apensamento destes autos aos do processo TC 037.720/2019-8.”

É o relatório.

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 006.943/2019-5

VOTO

Cuidam os autos de denúncia, com pedido de medida cautelar, protocolada em 4/4/2019, a


respeito de possíveis irregularidades na condução da Concorrência Pública 47/2018 (Processo
434956/2018-SMO), da Prefeitura Municipal de Boa Vista/RR com vistas à contratação de empresa
especializada em obras e serviços de engenharia para execução da requalificação da orla do Rio
Branco/Bacia do Caxangá em Boa Vista/RR - Parque do Rio Branco.
2. O empreendimento foi dividido em dois lotes: Lote I (relativo à contratação de
empresa para o gerenciamento e supervisão da obra) financiado com recursos
próprios da Prefeitura e estimado em R$ 3.069.215,75; e Lote II (contratação de
empresa executora da obra da requalificação da orla) financiado com recursos
Federais por meio do Contrato de Repasse 521.695-33/2018, firmado entre o
Ministério do Turismo, a Caixa Econômica Federal e o Município de Boa Vista/RR
(peça 4, pg. 48-57), estimado em R$ 58.461.282,32. A presente denúncia trata
especificamente do Lote II.
3. Em síntese, o denunciante alegou que a comissão permanente de licitação
condutora dos trabalhos da Concorrência 47/2018 não dera tratamento isonômico às
concorrentes Andrade Galvão Engenharia Ltda. e Consórcio Sanches Tripoloni -
Coema, ao valer-se de critérios de julgamento distintos para desclassificar a
proposta de preços daquela e classificar a proposta de preços desta, além de –
segundo o denunciante – habilitar indevidamente o Consórcio Sanches Tripoloni -
Coema.
4. Como resultado – ainda de acordo com a denúncia – a administração teria
selecionado proposta financeiramente menos vantajosa ao adjudicar e homologar o
objeto da licitação em favor do Consórcio Sanches Tripoloni – Coema, no valor de
R$ 52.605.127,90, em contraposição à proposta oferecida pela empresa Andrade
Galvão Engenharia Ltda., no montante de R$ 52.035.061,50.
5. As análises das informações coligidas aos autos resultaram no Acórdão 3.062/2019-
TCU-Plenário, de minha relatoria, que considerou a presente denúncia parcialmente
procedente e, entre outras medidas, determinou a audiência do Secretário Adjunto
da Secretaria Municipal de Obras de Boa Vista/RR, Sr. Ramildo Cavalcante Costa,
e do Presidente da comissão de licitação, Sr. Artur José Lima Cavalcante Filho,
acerca do procedimento de análise e julgamento indevido das propostas dos
licitantes, bem como em razão da inobservância dos princípios da seleção da
proposta mais vantajosa para administração e da isonomia.
6. Importa mencionar que, paralelamente à apuração da presente denúncia, este
Tribunal promoveu a fiscalização da obra no âmbito do Fiscobras 2020
(TC 037.720/2019-8).
7. Nesta etapa processual ocupa-se da análise das respostas às audiências
determinadas no aresto supramencionado.
8. Devidamente notificados, somente o Sr. Artur José Lima Cavalcante Filho
compareceu aos autos.
9. Em seu exame (peças 349-351), a Secretaria de Fiscalização de Infraestrutura
Urbana (SeinfraUrbana) considerou que as razões de justificativas apresentadas não
foram capazes de demover as irregularidades relatadas no Acórdão 3.062/2019-
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 006.943/2019-5

TCU-Plenário, principalmente em relação a ausência de tratamento isonômico entre


as licitantes habilitadas na Concorrência 47/2018 e a utilização de procedimentos
de análise das propostas de preços sem amparo na legislação que rege a matéria.
Assim, a unidade técnica propõe aplicar aos responsáveis a multa prevista no art.
58, inciso II, da Lei 8.443/1992.
10. Concordo com a análise empreendida pela SeinfraUrbana, cujos fundamentos
incorporo às minhas razões de decidir.
11. Considero que o exame realizado pela unidade técnica abordou com propriedade os
argumentos apresentados pelo então Presidente da comissão permanente de
licitação.
12. As irregularidades cometidas pelos responsáveis podem ser assim sintetizadas:
a) deixaram de valer-se da prerrogativa contida no art. 43, § 3º, da Lei 8.666/93,
com o objetivo de diligenciar os licitantes para prestar os esclarecimentos necessários à
elucidação das suas propostas de preços;
b) utilizaram critério não previsto na legislação que rege a matéria para
desclassificar proposta de preços de licitante. Especificamente, no lugar de comparar os preços
unitários dos serviços constantes nas propostas com aqueles do orçamento da licitação, os
julgadores adotaram como critério de desclassificação as situações em que os preços unitários e
coeficientes das parcelas presentes na composição de custos unitários de determinado serviço
da proposta divergiam dos correspondentes aos do orçamento;
c) não utilizaram os mesmos critérios ao analisar a proposta da empresa Andrade
Galvão Engenharia Ltda. e a proposta do Consórcio Sanches Tripoloni – Coema; e
d) deixaram de contratar injustificadamente proposta no valor de R$ 52.035.061,50,
oferecida pela empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda. para contratar proposta menos
econômica, R$ 52.605.127,90, oferecida pelo Consórcio Sanches Tripoloni – Coema.
13. Quanto à desclassificação indevida da empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda.
em razão das impropriedades verificadas nas composições de preços unitários dos
serviços de concreto usinado, escada em concreto armado e fôrma trepante, entendo
que o licitante tem a liberdade de elaborar a composição de preço, desde que
adequada e completa para confecção dos serviços, de forma que o preço unitário
(do serviço) da planilha orçamentária não ultrapasse o orçamento base em
atendimento ao critério de aceitabilidade das propostas.
14. No presente caso, ante ao entendimento da comissão de licitação e do órgão de
apoio técnico de que a proposta da licitante continha informações destoantes do
orçamento base da licitação, considero que deveria ter sido dado à licitante a
oportunidade de manifestação quanto à exequibilidade de sua proposta.
15. Ressalta-se que o próprio instrumento convocatório da Concorrência 47/2018
previra, em sua cláusula 8.13-e.3 (peça 71, p. 12), a possibilidade de o licitante
comprovar a viabilidade dos preços constantes em sua proposta.
16. Conforme mencionado pela unidade técnica, a correção da planilha após a fase de
lances ou abertura dos envelopes apresentados em uma licitação é tema recorrente
nesta Casa. O Tribunal de Contas da União já firmou entendimento de ser possível
à empresa ofertante da melhor proposta corrigir a planilha apresentada durante o
certame, desde que essa possibilidade não resulte em aumento do valor total já
registrado. Nessa linha são os seguintes julgados:

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As omissões nas planilhas de custos e preços das licitantes não ensejam necessariamente a
antecipada desclassificação das respectivas propostas, devendo a administração pública promover as
adequadas diligências junto às licitantes para a devida correção das eventuais falhas, sem a alteração,
contudo, do valor global originalmente proposto, em consonância, por exemplo, com os Acórdãos
2.546/2015, 1811/2014 e 187/2014, do Plenário do TCU; (Acórdão 830/2018-Plenário, relatoria do Ministro
André Luís de Carvalho)
Erro no preenchimento da planilha de formação de preço do licitante não constitui motivo
suficiente para a desclassificação da proposta, quando a planilha puder ser ajustada sem a necessidade de
majoração do preço ofertado. (Acórdão 1.811/2014 TCU-Plenário, de minha relatoria)
Ao indicar propostas como presumidamente inexequíveis, a Administração deve abrir às
respectivas empresas a possibilidade de comprovação da viabilidade de suas propostas, com a apresentação
de documentação que comprove que os custos dos insumos são coerentes com os de mercado e que os
coeficientes de produtividade são compatíveis com a execução do objeto do contrato. (Acórdão 1.426/2010-
TCU-Plenário, de relatoria do Ministro Aroldo Cedraz)
17. Nesse sentido, o TCU também entende que a correção que não altere o valor global
da proposta não configura apresentação de informações ou documentos novos
vedados pela lei, mas apenas o detalhamento do preço já fixado na disputa de
lances ou comparação de propostas:
Não cabe a inabilitação de licitante em razão de ausência de informações que possam ser supridas
por meio de diligência, facultada pelo art. 43, § 3º, da Lei 8.666/93, desde que não resulte inserção de
documento novo ou afronta à isonomia entre os participantes. (Acórdão 2.873/2014 TCU-Plenário, de minha
relatoria)
18. Em síntese, todo licitante dispõe de certa flexibilidade no momento de elaborar as
suas composições de custos unitários, desde que adequadas e pertinentes à
execução dos serviços e desde que atendam ao critério de aceitabilidade das
propostas.
19. Dessa maneira, avalio que os responsáveis, ao deixarem de diligenciar a licitante
para prestar os esclarecimentos necessários à elucidação da sua proposta de preços,
agiram em desacordo com a prerrogativa contida no art. 43, § 3º, da Lei 8.666/93,
desclassificando antecipadamente de maneira indevida a empresa Andrade Galvão,
sem que fosse oportunizada a essa licitante a comprovação da viabilidade de sua
proposta.
20. Por outro lado, observa-se que em relação aos serviços de fundação, o Consórcio
Sanches Tripoloni – Coema retirou da sua proposta justamente as parcelas mais
significativas sem as quais parece ser impossível executar tal serviço: cravação
metálica d = 60 cm e estaca tubada.
21. Desse modo, a comissão de licitação também deveria ter diligenciado o Consórcio
Sanches Tripoloni – Coema, nos termos do já comentado art. 43, § 3º, da Lei
8.666/93, com vistas a obter esclarecimentos que a levaram a suprimir, na
composição dos custos unitários do serviço de fundação indireta (peça 348, p. 3 e
4), parcelas essenciais e indispensáveis para sua execução.
22. Importa mencionar que o Consórcio foi o vencedor da licitação em exame e que
após a contratação da obra, a contratada substituiu o serviço de fundação do
orçamento por outro mais econômico. Essa questão foi analisada pelo Tribunal no
âmbito do TC 037.720/2019-8.
23. De igual modo, a comissão de licitação também deveria ter diligenciado o
Consórcio Sanches Tripoloni – Coema para obter esclarecimentos em relação as

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 006.943/2019-5

alterações que promovera no serviço 3.1.1 – Administração local da obra com


encargos complementares, especialmente quanto ao emprego de unidade de medida
incompatível para a caracterização das parcelas relativas a serviço de copeira, vigia
noturno e técnico em segurança, a exclusão de quatro profissionais que compõem o
orçamento referencial e aos preços unitários bastante superiores aos de referência
para o engenheiro geral do contrato, apontador, almoxarife e auxiliar
administrativo.
24. É oportuno mencionar que a CGU detectara superestimativa do orçamento do
serviço de administração local da obra no valor de R$ 5.138.447,23 (peça 347, p.
25).
25. Também cabe destacar que o serviço de fundação e o serviço de administração local
são, respectivamente, o mais materialmente relevante e o terceiro mais significativo
do orçamento do empreendimento.
26. Resumidamente, o órgão de apoio técnico e a comissão de licitação
desclassificaram a proposta da empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda. por
oferecer composições de custos unitários de alguns serviços distintas das
composições de referência, porém mantiveram a proposta do Consórcio Sanches
Tripoloni – Coema, que igualmente apresentara os mesmos tipos de alterações nas
composições de custos unitários de alguns serviços.
27. Nesse esteio, observa-se que os responsáveis não utilizaram os mesmos critérios ao
analisar as propostas desses dois licitantes.
28. Além disso, verifica-se que o órgão de apoio técnico e a comissão de licitação
erraram ao confundirem preço unitário de serviço com preço unitário de parcela
(insumo ou composição auxiliar) presente na composição de custos de determinado
serviço. Dessa maneira, no lugar de comparar os preços unitários dos serviços das
propostas com aqueles do orçamento da licitação, os responsáveis adotaram como
critério de desclassificação as situações em que os preços unitários das parcelas que
compunham o serviço da proposta situavam-se acima dos correspondentes aos do
orçamento. Como agravante, adotou-se esse tipo de critério exclusivamente para a
empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda.
29. Não há previsão nas normas que regem a matéria de se utilizar esse tipo de critério
como medida para classificar ou desclassificar a proposta de preços.
30. A comparação, para efeitos de classificação ou desclassificação de proposta, deve
ser obrigatoriamente feita em relação ao preço global e aos preços unitários, esses
últimos compreendidos como aqueles que se fazem presentes na planilha de
quantitativos físico-financeiros. Na Lei 8.666/93, o art. 40, inciso X, estabelece que
o edital deverá conter critério para aceitabilidade dos preços unitário e global,
permitida a fixação de preços máximos e vedados a fixação de preços mínimos.
31. Assim, observa-se que os responsáveis utilizaram indevidamente de critério não
previsto para desclassificar proposta de preços da licitante.
32. Também se verificou que ao analisar a proposta de preços da empresa Andrade
Galvão Engenharia Ltda., o Secretário Adjunto do órgão de apoio técnico à
licitação alterou as composições de preços relativamente aos serviços de itens 4.3.9
e 5.8.5, escada em concreto armado, FCK = 15 MPA, moldada in loco (inclusos
fôrma, armação e lançamento) e item 12.3.3, fôrma trepante, de modo a substituir
os coeficientes utilizados pela licitante por aqueles do orçamento de referência,

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mantendo os preços unitários da proposta. Esse procedimento resultou num


acréscimo de R$ 251.511,26 e R$ 457.733,90, respectivamente, ao valor da
proposta original da licitante.
33. Em vista disso, o Sr. Ramildo Cavalcante Costa considerou que as modificações
promovidas nas composições de custos unitários levadas a efeito pela empresa
Andrade Galvão tinham o objetivo de camuflar tais acréscimos e implicariam em
falta de isonomia dessa concorrente em relação aos outros licitantes. Por tais razões
decidiu por desclassificá-la do certame, posicionamento acolhido pelo Presidente
da comissão de licitação.
34. Entretanto, apesar de o Consórcio Sanches Tripoloni – Coema também ter
modificado as composições de custos unitários dos serviços de fundação e
administração local das obras, conforme mencionado alhures, não se dispensou a
esse concorrente o mesmo tratamento dado à empresa Andrade Galvão.
35. Posteriormente, em decorrência de recurso e de contrarrazões, o Sr. Ramildo
Cavalcante Costa reanalisou a proposta do Consórcio de modo a, baseado no
desconto oferecido pela empresa em relação ao valor do orçamento da licitação,
corrigir os serviços de fundação e administração local para concluir que o serviço
de fundação apresentaria uma redução de valor e que o item administração local,
embora passasse de R$ 2.486.929,64 para R$ 2.746.437,60, ainda assim seria
inferior ao valor previsto no orçamento da licitação, R$ 2.761.347,88.
36. Nesse caso, verifica-se que o tratamento (equivocado) dado na análise da proposta
do Consórcio Sanches Tripoloni – Coema, que considerou o desconto oferecido em
relação ao preço do orçamento, deixou de ser aplicado à proposta da empresa
Andrade Galvão.
37. Dessa forma, manteve a desclassificação apenas da empresa Andrade Galvão
Engenharia Ltda.
38. Mais uma vez, observa-se que fora utilizado procedimento inexistente nas normas
sobre licitações para desclassificar a proposta da empresa que havia ofertado o
menor valor.
39. Com relação a esse ponto, considero que não cabe ao órgão contratante alterar
unilateralmente a proposta de licitante para daí concluir pela sua classificação ou
desclassificação. Caso se suspeite que há algo indevido na proposta, compete
chamar quem a elaborou para prestar os esclarecimentos necessários de modo a
permitir um juízo de valor mais consistente e legítimo.
40. Conforme bem destacado pela unidade técnica, o exercício ficcional do órgão
contratante de alterar unilateralmente a proposta de determinada empresa oferecida
em um certame licitatório e sem a anuência dessa, qualquer que seja o seu
resultado, é inteiramente destituído de legalidade e não constitui demonstração
hábil no sentido de validá-la ou invalidá-la.
41. Em resumo, tanto o órgão de apoio técnico, Secretaria Municipal de Obras de Boa
Vista/RR, representada pelo seu Secretário Adjunto, Sr. Ramildo Cavalcante Costa,
quanto a comissão de licitação, na pessoa do seu Presidente, Sr. Artur José Lima
Cavalcante Filho, empregaram tratamento diferenciado e não previsto em lei à
empresa Andrade Galvão Engenharia Ltda. em relação ao Consórcio Sanches
Tripoloni – Coema.

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42. Assim, concordo com a SeinfraUrbana no sentido de que a manifestação do então


Presidente da CPL não foi capaz de elidir as irregularidades relatadas no Acórdão
3.062/2019-TCU-Plenário, especialmente em relação a ausência de tratamento
isonômico entre as licitantes habilitadas na Concorrência 47/2018 e a utilização de
procedimentos de análise das propostas de preços sem amparo na legislação que
rege a matéria.
43. Destarte, as razões de justificativa do Sr. Artur José Lima Cavalcante Filho devem
ser rejeitadas, ao passo que o Sr. Ramildo Cavalcante Costa deve ser considerado
revel, com a aplicação da multa legal a esses gestores.
44. Por fim, deixo de acolher a proposta da unidade instrutiva de, desde já, autorizar o
parcelamento das dívidas, por entender que essa medida somente deve ser adotada
mediante solicitação das partes.
Ante o exposto, manifesto-me por que o Tribunal aprove o acórdão que ora submeto à
deliberação deste Colegiado.

TCU, Sala das Sessões, em 19 de outubro de 2022.

AUGUSTO SHERMAN CAVALCANTI


Relator

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ACÓRDÃO Nº 2311/2022 – TCU – Plenário

1. Processo TC 006.943/2019-5.
2. Grupo I – Classe de Assunto: VII - Denúncia
3. Interessados/Responsáveis:
3.1. Interessados: Identidade preservada (art. 55, caput, da Lei n. 8.443/1992).
3.2. Responsáveis: Identidade preservada (art. 55, caput, da Lei n. 8.443/1992).
4. Órgãos/Entidades: Caixa Econômica Federal; Ministério do Turismo; Prefeitura Municipal de Boa
Vista - RR.
5. Relator: Ministro-Substituto Augusto Sherman Cavalcanti.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade Técnica: Secretaria de Fiscalização de Infraestrutura Urbana (SeinfraUrb).
8. Representação legal: Bruna Wills (OAB-DF 46082); Paulo Francisco Tripoloni, João Sanchez
Junqueira e outros; Murilo Muraro Fracari (OAB-DF 22.934) e Gryecos Attom Valente Loureiro
(OAB-DF 54.459); e Marcela Medeiros Queiroz Franco Santos.

9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de denúncia, com pedido de medida cautelar,
protocolada em 4/4/2019, a respeito de possíveis irregularidades na condução da Concorrência Pública
47/2018, da Prefeitura Municipal de Boa Vista/RR com vistas à contratação de empresa especializada
em obras e serviços de engenharia para execução da requalificação da orla do Rio Branco/Bacia do
Caxangá em Boa Vista/RR - Parque do Rio Branco,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão Plenária,
ante as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. considerar revel, para todos os efeitos, o Sr. Ramildo Cavalcante Costa
(CPF 709.349.672-53), Secretário Municipal de Obras Adjunto do Município de Boa Vista/RR à época
dos fatos, dando-se prosseguimento ao processo, conforme preceitua o art. 12, § 3º, da Lei 8.443/1992
c/c o art. 202, § 8º, do Regimento Interno do TCU;
9.2. rejeitar as razões de justificativa apresentadas pelo Sr. Artur José Lima Cavalcante
Filho (CPF 684.878.942-91), Presidente da Comissão Permanente de Licitação da Prefeitura Municipal
de Boa Vista/RR à época dos fatos;
9.3. aplicar, com fundamento no art. 58, inciso II, da Lei 8.443/1992 c/c o art. 268, inciso
III, do Regimento Interno do TCU, multa individual aos Srs. Artur José Lima Cavalcante Filho
(CPF 684.878.942-91) e Ramildo Cavalcante Costa (CPF 709.349.672-53), no valor de R$ 40.000,00,
fixando o prazo de 15 dias, a partir da notificação, para que, nos termos do art. 216 do Regimento
Interno do TCU, comprovem perante este Tribunal o recolhimento aos cofres do Tesouro Nacional do
valor atualizado monetariamente desde a data deste acórdão até a data do efetivo recolhimento, se for
pago após o vencimento, na forma da legislação em vigor;
9.4. autorizar, desde logo, a cobrança judicial das dívidas nos termos do art. 28, inciso II,
da Lei 8.443/1992 c/c o art. 219, inciso II, do RI/TCU, caso não atendidas as notificações;
9.5. em cumprimento ao item 9.7 do Acórdão 3.062/2019-TCU-Plenário, autorizar o
apensamento destes autos ao processo TC 037.720/2019-8; e
9.6. dar ciência desta deliberação à Prefeitura Municipal de Boa Vista/RR, aos
responsáveis e ao denunciante.

10. Ata n° 40/2022 – Plenário.


11. Data da Sessão: 19/10/2022 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-2311-40/22-P.
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13. Especificação do quórum:


13.1. Ministros presentes: Vital do Rêgo (na Presidência), Walton Alencar Rodrigues, Benjamin
Zymler, Augusto Nardes, Jorge Oliveira e Antonio Anastasia.
13.2. Ministros-Substitutos convocados: Augusto Sherman Cavalcanti (Relator) e Marcos Bemquerer
Costa.
13.3. Ministro-Substituto presente: Weder de Oliveira.

(Assinado Eletronicamente) (Assinado Eletronicamente)


VITAL DO RÊGO AUGUSTO SHERMAN CAVALCANTI
na Presidência Relator

Fui presente:

(Assinado Eletronicamente)
CRISTINA MACHADO DA COSTA E SILVA
Procuradora-Geral

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