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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS

REPRESENTAÇÃO N. 959061
Representante: Ministério Público de Contas do Estado de Minas Gerais
Procedência: Prefeitura Municipal de Itabirito
Responsáveis: Alexander Silva Salvador de Oliveira, Valdir José de Morais e Josiane
Braga Ribeiro Barbosa
Procuradora: Mariane de Oliveira Braga Santos – OAB/MG 119.351
MPTC: Cristina Andrade Melo
RELATOR: CONSELHEIRO WANDERLEY ÁVILA

EMENTA
REPRESENTAÇÃO. PREFEITURA MUNICIPAL. PREGÃO PRESENCIAL.
EXIGÊNCIA DE VÍNCULO ENTRE A LICITANTE E O RESPONSÁVEL TÉCNICO.
EXIGÊNCIAS DE CERTIFICAÇÕES E TEMPO DE EXPERIÊNCIA PARA
HABILITAÇÃO. AUSÊNCIA DE PARCELAMENTO DO OBJETO. ADOÇÃO DO
CRITÉRIO DE JULGAMENTO MENOR PREÇO GLOBAL EM REGISTRO DE PREÇOS.
IRREGULARIDADES. PROCEDÊNCIA PARCIAL. APLICAÇÃO DE MULTA.
RECOMENDAÇÕES. ARQUIVAMENTO.
1. A interpretação do art. 30, § 1º, I, da Lei n. 8.666/93 deve ser no sentido de que o
profissional deve apresentar os requisitos necessários para executar a obra ou serviço, e que
esteja disponível no momento da contratação, não se devendo exigir a comprovação do
vínculo trabalhista por Cópia da Carteira de Trabalho e Previdência Social ou o vínculo por
contrato de prestação de serviço no momento da licitação, por impor um ônus prévio ao
licitante.
2. É irregular a exigência de documentos de habilitação que extrapola a previsão dos artigos
27 a 31 da Lei n. 8.666/93.
3. Exigência de comprovação da capacidade técnico-profissional, delimitando tempo de
experiência, infringe o inciso I do § 1º do art. 30 da Lei n. 8.666/93.
4. Ocorre a violação ao § 1º do art. 23 da Lei n. 8.666/93 e à Súmula n. 114 desta Corte, pela
ausência de parcelamento do objeto licitado, em itens ou lotes, e pelo julgamento pelo critério
de menor preço global em licitação para registro de preços, restringindo a ampla participação.
Na eventual impossibilidade técnica do parcelamento, torna-se obrigatória a apresentação de
elementos técnicos e sua comprovação.

NOTAS TAQUIGRÁFICAS
15ª Sessão Ordinária da Segunda Câmara – 07/06/2018

CONSELHEIRO PRESIDENTE WANDERLEY ÁVILA:

I – RELATÓRIO

Trata-se de Representação formulada pelo Ministério Público junto ao Tribunal de Contas, em


face do edital do Processo Licitatório n. 361/2013, Pregão Presencial n. 240/2013, deflagrado
pela Prefeitura Municipal de Itabirito, que fora objeto de investigação no Procedimento
Preparatório n. 05/2014, nos termos da Portaria n. 02/2014, constituído a partir de denúncia

Documento assinado por meio de certificado digital, conforme disposições contidas na Medida Provisória 2200-2/2001, na Resolução n.02/2012 e na Decisão Normativa
n.05/2013. Os normativos mencionados e a validade das assinaturas poderão ser verificados no endereço www.tce.mg.gov.br, código verificador n. 1510982
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encaminhada àquele Órgão, pela empresa Reprocópia Comércio, Representações e


Assistência Técnica Ltda. – EPP.
O certame teve como objeto o “registro de preços para eventual contratação de pessoa jurídica
especializada em serviços de implantação de gerenciamento de conteúdo, digitalização com
certificação digital, registro público RTD e treinamento, mediante disponibilização de
equipamentos para impressão/cópia/digitalização com fornecimento de todos os insumos
(excetuando-se papel e grampo), solução de desenvolvimento de documentos gráficos e
assistência técnica durante o período da execução dos serviços, conforme especificações
contidas nos anexos I e VII deste edital.” (fls. 56/57, volume 1).
A Representação foi protocolizada neste Tribunal em 30/09/2015 (fls. 01/15, volume 1),
acompanhada da documentação de fls. 16/1084, volumes 1 a 5, tendo sido determinada sua
autuação pelo Conselheiro Presidente em 02/10/2015 (fl. 1088, volume 5), sendo distribuída à
minha relatoria em 05/10/2015 (fl. 1090, volume 5), tendo ocorrido a abertura do certame em
29/11/2013 (fl. 56, volume 1).
O Representante alegou os seguintes vícios de legalidade (fls. 01/15, volume 1):
a) ausência de ampla e representativa pesquisa de preços e dos orçamentos que
embasaram a definição do valor estimado da contratação;
b) ausência de discriminação dos quantitativos e custos unitários do serviço de
digitalização de documentos na fase interna do certame;
c) não divulgação do certame no sítio da Prefeitura Municipal de Itabirito na rede
mundial de computadores, configurando ausência de ampla publicidade, com violação
ao art. 8º, §1º, inciso IV, da Lei de Acesso à Informação (Lei n. 12.527/11);
d) ausência do orçamento estimado em planilhas de quantitativos e custos unitários entre
os anexos do edital;
e) irregularidade relacionada aos meios de impugnação ao edital e interposição de
recursos, itens 3.2.1 e 11.9 do instrumento convocatório, estabelecendo que as
impugnações e recursos somente deveriam ser protocolizados no setor específico da
Prefeitura, sob pena de não acolhimento;
f) exigência de certidão negativa de débitos previdenciários e trabalhistas;
g) irregularidade relacionada ao item 12.40 do edital, por ausência de definição de limites
objetivos para a subcontratação e por prever a possibilidade de cessão do contrato
mediante prévia autorização da Prefeitura;
h) previsão de exigência de vínculo entre a licitante e o responsável técnico;
i) irregularidade acerca da exigência das certificações descritas nas alíneas “a”, “b” e
“c”, do item 9.1.14 do edital, contrariando os arts. 27 a 31 da Lei de Licitações;
j) irregularidade relacionada à exigência de prazo de experiência dos responsáveis
técnicos que executarão os serviços licitados, prevista nas alíneas “d” e “e”, do item n.
9.1.14, do edital, como qualificação técnica profissional, extrapolando a
documentação de habilitação especificada nos arts. 27 a 31, da Lei de Licitações;
k) irregularidade relativa à ausência de parcelamento do objeto e adoção do critério de
julgamento menor preço global, violando os arts. 23, § 1º e 3º, da Lei de Licitações.
Em atendimento ao despacho de fls. 1091/1091-v, volume 5, o Órgão Técnico realizou análise
da documentação (fls. 1092/1097, volume 5), concluindo que as irregularidades apontadas

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pelo Ministério Público junto ao Tribunal de Contas, em sua Representação, são meramente
formais, ensejando a aplicação de multa aos responsáveis.
Determinada a citação dos responsáveis, fl. 1099, volume 5, foi apresentada defesa conjunta
de fls. 1106/1121, volume 6, e documentos de fls. 1122/1148, volume 6.
O Órgão Técnico considerou sanadas, parcialmente, as irregularidades relativas a: (i) juntada
dos orçamentos que embasaram a definição do valor estimado da contratação, após envio da
documentação de fls. 1123/1145, volume 6; (ii) ausência do orçamento estimado em planilhas
de quantitativos e custos unitários entre os anexos do edital; (iii) ausência de ampla e
representativa pesquisa de preços de mercado; (iv) ausência de definição de limites objetivos
para a subcontratação e previsão quanto à possibilidade de cessão do contrato mediante prévia
autorização da Prefeitura (fls. 1150/1161, volume 6).
A Unidade Técnica considerou as demais irregularidades sanadas.
Às fls. 1163/1164-v, volume 6, o Parquet juntou parecer conclusivo reiterando toda a
argumentação deduzida na inicial, pugnando pela aplicação de multa aos responsáveis.
É o relatório.

II – FUNDAMENTAÇÃO

Passo à análise das irregularidades elencadas na Representação e na análise técnica, relativas


ao edital do Processo Licitatório n. 361/2013, Pregão Presencial n. 240/2013, considerando a
defesa e documentação apresentadas.

II.1. Pesquisa de preços

II.1.1. Ausência de ampla e representativa pesquisa de preços:

Alegou o Representante (fls. 01/03, volume 1) “ [...] que se tornou praxe entre os membros de
comissões de licitação e pregoeiros dos mais diversos entes da Administração realizar a
cotação de preços em três fornecedores distintos como forma de atender à exigência legal de
realização de pesquisa de mercado. ” E que, “[...] a simples juntada de três orçamentos nem
sempre será capaz de demonstrar o preço médio de determinado item ou serviço no mercado.

Complementou, aduzindo que “Devem os responsáveis, além da consulta direta a quantidade
significativa de fornecedores, efetuar uma ampla e representativa pesquisa de mercado
valendo-se das demais fontes de informação à disposição para consulta, tais como: (i) Portal
de Compras Governamentais; (II) pesquisa publicada em mídia especializada, sítios
eletrônicos especializados ou de domínio amplo; (III) contratações similares de outros entes
públicos, etc.”
Citou o Acórdão n. 2816/2014, do Tribunal de Contas da União, que dispõe nesse sentido.
Em sua análise, o Órgão Técnico (fls. 1096/1097, volume 5) corroborou o entendimento do
Representante concluindo que “ocorreram certas imperfeições de natureza formal que, a juízo
desta unidade técnica, não comprometeram as finanças públicas nem ensejaram danos ao
erário daquele município, mas que constituem efetivamente irregularidades aptas à imposição
de multa aos responsáveis. ”
Em sua defesa (fls. 1107/1108, volume 6), os responsáveis alegaram que os gestores
envidaram os “esforços possíveis, dentro do razoável, para obter as cotações e outros
documentos” [...] “prezando pela eficiência e economicidade, a Prefeitura de Itabirito sempre

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se pautou em processos licitatórios benéficos à sua administração, motivo pelo qual se esmera
em realizar orçamentos com o maior número de fornecedores possível. ”
Em sede de reexame (fls. 1153-v/1154-v, volume 6), o Órgão Técnico corroborou o
entendimento do Representante quanto a este apontamento, no sentido de que a pesquisa de
preços não deve se restringir a eventuais fornecedores, mas adotando-se outros parâmetros.
Cita o art. 15 da Lei n. 8.666/93, que dispõe acerca das compras, devendo, sempre que
possível, balizar-se pelos preços praticados no âmbito dos órgãos e entidades da
Administração Pública, citando, também, a Instrução Normativa n. 5, de 27/06/14, da
Secretaria de Logística e Tecnologia de Informação do Ministério do Planejamento,
Orçamento e Gestão do Governo Federal.
O Parquet, à fl. 1164-v, volume 6, concluiu que a defesa apresentada não trouxe aos autos
fatos novos capazes de alterar o entendimento ministerial já manifestado quando da
propositura da Representação, e pugnou pela sua procedência e aplicação de multa aos
responsáveis.
Pois bem, data venia, discordo do entendimento do Ministério Público junto ao Tribunal de
Contas e do Órgão Técnico desta Corte pelos motivos que passo a expor.
O Estatuto das Licitações não trouxe previsão acerca de quantos meios de pesquisa de preços
devem ser utilizados, ou quantos orçamentos devem balizar a estimativa do preço para a
futura contratação, mas registrou nos artigos 15, V, § 1º e 43, IV, quais meios poderão ser
utilizados.
Aqui, por óbvio, deve-se levar em conta os meios disponíveis ao Administrador quando da
promulgação da Lei, 1993, já passados 24 anos.
Assim, não se pode impor, com espeque no Estatuto das Licitações, a obrigatoriedade de
utilização de todos os meios existentes, atualmente, à disposição do Administrador para
realizar a pesquisa de preços. Tampouco se pode impor um quantitativo de orçamentos que
deve ser buscado junto ao mercado, com o objetivo de mensurar o valor do dispêndio para a
Administração, para fins de reserva orçamentária e financeira, e, também, como supedâneo
para o julgamento das propostas de preço para a Comissão de Licitação ou Pregoeiro,
tornando possível julgar preços inexequíveis ou superestimados.
Veja-se que, sobre o tema, a Lei n. 8.666/93, em seu artigo 15, dispõe como as compras
deverão ser processadas, sempre que possível, vejamos:
Art. 15. As compras, sempre que possível, deverão:
I - atender ao princípio da padronização, que imponha compatibilidade de especificações
técnicas e de desempenho, observadas, quando for o caso, as condições de manutenção,
assistência técnica e garantia oferecidas;
II - ser processadas através de sistema de registro de preços;
III - submeter-se às condições de aquisição e pagamento semelhantes às do setor privado;
IV - ser subdivididas em tantas parcelas quantas necessárias para aproveitar as
peculiaridades do mercado, visando economicidade;
V - balizar-se pelos preços praticados no âmbito dos órgãos e entidades da Administração
Pública.
O artigo deixa claro, no inciso V, que um dos meios a balizar as pesquisas de preços é a
utilização dos preços praticados no âmbito dos órgãos e entidades da administração pública,
quando for possível a sua utilização, não se devendo tomar, dessa forma, como imposição o
inciso V.

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Os incisos supra, II e IV, da mesma forma, não foram imperativos em relação à realização de
compras pelo sistema de registro de preços, bem como quanto ao parcelamento do objeto,
prevendo que assim seja “sempre que possível”, a depender do caso concreto.
Nessa esteira, a consulta aos preços praticados em outros órgãos e entidades da Administração
Pública, para determinado produto ou serviço deve ser realizada, não restando maculado o
procedimento na hipótese de não se ter aferido os preços por esse meio.
No entanto, esse não é o único parâmetro citado pela Lei. Vejamos.
O § 1º do mesmo artigo 15 dispõe que o registro de preços será precedido de ampla pesquisa
de mercado, não se utilizando da mesma redação do seu inciso V, “preços praticados no
âmbito dos órgãos e entidades da Administração Pública”, o que torna facultativa a forma da
pesquisa, podendo ser realizada de uma forma ou de outra, mas constituindo uma obrigação
legal.
O inciso IV do art. 43 dispõe sobre o processamento e julgamento da licitação, e, também,
menciona a pesquisa de preços, verbis:
Art. 43. A licitação será processada e julgada com observância dos seguintes
procedimentos:
[...]
IV - verificação da conformidade de cada proposta com os requisitos do edital e,
conforme o caso, com os preços correntes no mercado ou fixados por órgão oficial
competente, ou ainda com os constantes do sistema de registro de preços, os quais
deverão ser devidamente registrados na ata de julgamento, promovendo-se a
desclassificação das propostas desconformes ou incompatíveis;
Assim, verifica-se o comando da pesquisa de preços de mercado, mas acrescentou o inciso IV
outras três formas para a sua realização, utilizando, inclusive, a conjunção “ou”: (i) os preços
correntes no mercado; ou (ii) os preços fixados por órgão oficial competente; ou (iii) os
preços constantes do sistema de registro de preços.
Dessa forma, aliado à previsão do art. 15, inciso V, alhures citado, tem-se a quarta forma
prevista em Lei, (iv) preços praticados no âmbito dos órgãos e entidades da Administração
Pública.
Diante do exposto, entendo que não se pode penalizar o gestor por não ter utilizado esse ou
aquele meio de pesquisa, haja vista que a Lei n. 8.666/93 previu obviamente a obrigatoriedade
da realização da pesquisa de preços, citando alguns meios para a sua obtenção, mas não
impondo quais e quantos meios devem ser utilizados.
E, quanto ao Pregão, veja-se que a legislação específica, Lei n. 10.520/2002, mencionou, no
inciso III, do art. 3º, que dos autos do procedimento constarão, entre outros requisitos, o
orçamento dos bens ou serviços a serem licitados, elaborado pelo órgão ou entidade
promotora da licitação, não especificando os meios de pesquisa de preços.
O Decreto Federal n. 3.555/00, regulamentador da Lei na esfera federal, menciona, no inciso
II do art. 8º, que o Termo de Referência deve conter elementos capazes de propiciar a
avaliação do custo pela Administração, diante de orçamento detalhado, considerando os
preços praticados no mercado. Da mesma forma, o § 2º do art. 9º do Decreto Federal n.
5.450/05, que regulamentou a forma eletrônica do pregão.
Já a Instrução Normativa n. 05, de 27/06/2014, válida para a Administração Pública Federal,
como citado no reexame do Órgão Técnico (fl. 1154, volume 6), regulamentou os

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procedimentos acerca da pesquisa de preços de mercado de forma detalhada, pormenorizando


as formas de sua realização e parâmetros, nos seguintes termos:
Art. 2º A pesquisa de preços será realizada mediante a utilização dos seguintes
parâmetros: (Alterado pela Instrução Normativa n. 3, de 20 de abril de 2017)
I- Painel de Preços disponível no endereço eletrônico
http://paineldeprecos.planejamento.gov.br; (Alterado pela Instrução Normativa n. 3, de 20
de abril de 2017)
II - contratações similares de outros entes públicos, em execução ou concluídos nos 180
(cento e oitenta) dias anteriores à data da pesquisa de preços; (Alterado pela Instrução
Normativa n. 3, de 20 de abril de 2017)
III - pesquisa publicada em mídia especializada, sítios eletrônicos especializados ou de
domínio amplo, desde que contenha a data e hora de acesso; ou (Alterado pela Instrução
Normativa n. 3, de 20 de abril de 2017)
IV - pesquisa com os fornecedores, desde que as datas das pesquisas não se diferenciem
em mais de 180 (cento e oitenta) dias. (Alterado pela Instrução Normativa n. 3, de 20 de
abril de 2017)
§1º Os parâmetros previstos nos incisos deste artigo poderão ser utilizados de forma
combinada ou não, devendo ser priorizados os previstos nos incisos I e II e demonstrado
no processo administrativo a metodologia utilizada para obtenção do preço de referência.
(Alterado pela Instrução Normativa n. 3, de 20 de abril de 2017)
§2º Serão utilizados, como metodologia para obtenção do preço de referência para a
contratação, a média, a mediana ou o menor dos valores obtidos na pesquisa de preços,
desde que o cálculo incida sobre um conjunto de três ou mais preços, oriundos de um ou
mais dos parâmetros adotados neste artigo, desconsiderados os valores inexequíveis e os
excessivamente elevados. (Alterado pela Instrução Normativa n. 3, de 20 de abril de
2017)
§3º Poderão ser utilizados outros critérios ou metodologias, desde que devidamente
justificados pela autoridade competente. (Alterado pela Instrução Normativa n. 3, de 20
de abril de 2017)
[...] (g.n.)
Art. 3º Quando a pesquisa de preços for realizada com os fornecedores, estes deverão
receber solicitação formal para apresentação de cotação.
Parágrafo único. Deverá ser conferido aos fornecedores prazo de resposta compatível
com a complexidade do objeto a ser licitado, o qual não será inferior a cinco dias úteis.
Nessa esteira, para os órgãos ou entidades da Administração Federal, os critérios e parâmetros
utilizados para a pesquisa de preços foram definidos e especificados na Instrução Normativa
supracitada, constando do parágrafo único do art. 1º, que se subordinam ao disposto naquela
Instrução os órgãos e entidades integrantes do Sistema de Serviços Gerais (SISG).
Veja-se que a Instrução Normativa supra, acompanhando a evolução tecnológica, incluiu,
entre as formas de pesquisa de preços, a consulta a painel de preços publicados em sítios
eletrônicos, bem como na rede mundial de computadores. Dispôs, inclusive, que os
parâmetros de pesquisa poderão ser utilizados de forma combinada ou não, isto é, deve-se
eleger um ou mais meios de pesquisa entre aqueles citados nos incisos de I a IV do art. 2º,
priorizando aqueles dos incisos I e II; podendo, ainda, ser utilizados outros critérios ou
metodologias (mediante justificativa) prevendo, inclusive, a obtenção do preço de referência
por média aritmética, mediana ou o menor valor apurado, incidindo sobre 3 (três) ou mais
preços.

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O Representante (fl. 02, volume 1) citou o Acórdão n. 2816, do Tribunal de Contas da União,
em que aquela Egrégia Corte recomenda que a pesquisa de preços não se restrinja a consultas,
somente, junto a potenciais fornecedores, mas adotando-se, também, outras fontes de
pesquisa, uma vez que observado, de forma recorrente, a inconsistência das pesquisas
realizadas, retirando desse instrumento a confiabilidade necessária. E, ao final, expede
recomendação pela observância do artigo 2º da IN n. 05/14, citada alhures, bem como o
treinamento e capacitação dos servidores em formação e estimativa de preços, aperfeiçoando
as diretrizes constantes da Instrução.
O TCU, no voto citado, recomenda que não sejam realizadas somente consultas a potenciais
fornecedores, mas a observância da IN n. 05/14, que, em esfera federal, é norma cogente.
Evidentemente, a instrução normativa mencionada não vincula entidades e órgãos outros que
não os da Administração Federal, direta e autárquica, podendo ser aproveitada, nas esferas
estaduais e municipais, como elemento informativo, referência de instrumentos utilizáveis
para a pesquisa de preços em contratações públicas.
Registro, ainda, que, após a promulgação do Estatuto das Licitações, diante da evolução
tecnológica, tornou-se possível, embora não previsto na Lei, a consulta de preços para a
composição da pesquisa, aos bancos de preços (incisos I e II do art. 2º da IN n. 05/2014),
criados e mantidos por empresas que comercializam seu uso.
Quanto às consultas aos bancos de preços, esta Corte de Contas já se manifestou, inclusive,
sobre a possibilidade de sua utilização, nos termos da Consulta n. 924244, concluindo:
a) na contratação pública, com ou sem certame licitatório, é imprescindível a pesquisa de
preços;
b) a pesquisa de preços deve basear-se em instrumento – ou instrumentos – de
reconhecida idoneidade para evidenciar os preços que estão sendo efetivamente
praticados no mercado;
c) banco de preços mantido por prestador de serviços especializados constitui, em
princípio, instrumento idôneo para a pesquisa de preços na contratação pública;
d) o agente público responsável pela contratação deve avaliar os instrumentos idôneos
disponíveis para a pesquisa de mercado, a fim de selecionar qual deles – ou qual conjunto
deles – é o mais adequado, no caso concreto;
e) a pesquisa de preços deve ser documentada nos autos do processo de contratação
pública, até mesmo para viabilizar o exercício dos controles interno e externo;
f) na contratação, pelo Poder Público, de prestador de serviços especializados de banco
de preços, devem ser obedecidas todas as normas aplicáveis sobre orçamento, finanças e
contratação pública, particularmente as da Lei n. 8.666, de 1993.
De todo o exposto, discordo do Representante, uma vez que a pesquisa realizada junto ao
mercado de potenciais fornecedores é meio válido e eficaz, nos termos do inciso IV do art. 43
da Lei n. 8.666/93, não se podendo impor, aos munícipes, a realização da pesquisa de preços
por outros meios que não sejam aqueles previstos na Lei de Licitações, que dispõe sobre
instrumentos de pesquisa no citado artigo e, também, em seu art. 15, V e § 1º.
Todavia, recomendo aos responsáveis que ampliem as formas de pesquisa de preços nos
procedimentos licitatórios, não se restringindo, somente, à consulta aos fornecedores como
forma de aferição das condições de mercado, utilizando o maior número possível de meios de
pesquisa (internet, preços praticados por outros órgãos públicos e entidades, preços
registrados em atas de registro de preços, bancos de preços, preços contratados pelo próprio
órgão promotor da licitação). Somente assim o orçamento estimado da contratação traduzirá,

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de fato, a real estimativa de preço de mercado, servindo como parâmetro para que o gestor
público realize uma contratação vantajosa.

II.1.2. Pesquisa realizada junto a 3 fornecedores:

O Representante insurgiu-se contra o fato de que, na fase interna do certame foi realizada a
pesquisa de preços com apenas 3 (três) fornecedores (fls. 01/15, volume 1).
Alegou ter se tornado “praxe entre os membros de comissões de licitação e pregoeiros dos
mais diversos entes da Administração realizar a cotação de preços em três fornecedores
distintos como forma de atender à exigência legal de realização de pesquisa de mercado. No
entanto, a simples juntada de três orçamentos nem sempre será capaz de demonstrar o preço
médio de determinado item ou serviço no mercado. ”
Em sua análise, o Órgão Técnico (fls. 1096/1097, volume 5) corroborou o entendimento do
Representante concluindo por “irregularidades formais que ensejam a aplicação de multa aos
responsáveis”.
Os Representados alegaram, em defesa (fls. 1106/1108, volume 6), dificuldades na realização
da pesquisa de preços, em razão da recusa de muitos fornecedores em ofertar preços, e, assim,
o Departamento de Compras se valeu de 3 (três) orçamentos para a definição do valor médio
de mercado (orçamentos juntados às fls. 1128/1145, volume 6).
Embasaram seu posicionamento quanto ao quantitativo mínimo de 3 (três) orçamentos nos
Acórdãos n. 3.026/2010, 4.013/2008 e 1.547/2007, do Tribunal de Contas da União.
Em reexame, o Órgão Técnico (fls. 1180/1161, volume 6) entendeu que mantém a
irregularidade da ausência de ampla e representativa pesquisa de preços.
O Parquet, fls. 1163/1164-v, volume 6, reiterou os apontamentos da Representação,
concluindo que a defesa apresentada não apresentou fatos novos capazes de alterar o
entendimento ministerial já manifestado na inicial.
Coaduno-me ao entendimento do Representante no sentido de que nem sempre a consulta a
três fornecedores é capaz de demonstrar o preço médio praticado no mercado.
Essa situação ocorre, sobretudo, quando a pesquisa afere preços díspares. Evidente que uma
pesquisa que apresenta grande variação entre os preços deve ser ampliada, haja vista que uma
diferença percentual representativa não pode expressar corretamente o preço médio praticado
no mercado. O resultado, nesses casos, é a estimativa do valor da contratação superestimado,
antieconômico, ferindo o princípio da vantajosidade.
Mas, por que a praxe é a pesquisa de preços junto a, no mínimo, três fornecedores?
A Lei de Licitações e, também a Lei do Pregão, não trazem previsão nesse sentido, ou seja,
quantos orçamentos devem compor a pesquisa de preços. Mas, pela praxe administrativa,
acatada pelos órgãos de controle, admite-se o mínimo de três preços.
Essa posição, aliás, é pacífica na jurisprudência do Tribunal de Contas da União, consoante se
vislumbra do Acórdão n. 2531/2011, do qual transcrevo excerto:
No caso de não ser possível obter preços referenciais nos sistemas oficiais para a
estimativa de custos em processos licitatórios, deve ser realizada pesquisa de preços
contendo o mínimo de três cotações de empresas/fornecedores distintos, fazendo constar
do respectivo processo a documentação comprobatória pertinente aos levantamentos e
estudos que fundamentaram o preço estimado. Caso não seja possível obter esse número
de cotações, deve ser elaborada justificativa circunstanciada. (g.n.)

Documento assinado por meio de certificado digital, conforme disposições contidas na Medida Provisória 2200-2/2001, na Resolução n.02/2012 e na Decisão Normativa
n.05/2013. Os normativos mencionados e a validade das assinaturas poderão ser verificados no endereço www.tce.mg.gov.br, código verificador n. 1510982
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Na mesma esteira, o Acórdão n. 3.219/2010:


A jurisprudência do TCU, a exemplo dos Acórdãos 3.506/2009-1ª Câmara,
1.379/2007Plenário, 568/2008-1ª Câmara, 1.378/2008-1ª Câmara, 2.809/2008-2ª Câmara,
5.262/2008-1ª Câmara, 4.013/2008-1ª Câmara, 1.344/2009-2ª Câmara, 837/2008-Plenário
e 3.667/2009-2ª Câmara, é no sentido de que a realização de pesquisa de preços de
mercado, previamente à fase externa da licitação, é uma exigência legal para todos os
processos licitatórios, inclusive para os casos de dispensa e inexigibilidade, consistindo
essa pesquisa em ter um mínimo de três orçamentos de fornecedores distintos. Se não for
possível obter o número razoável de cotações, faz-se necessária a apresentação de
justificativa. (g.n.)
Assim, verifica-se que aquela Corte aceita o mínimo de três preços na composição da
pesquisa. Destarte, atualmente, vem recomendando a ampliação das formas de pesquisa, não
devendo restringir, apenas, aos potenciais fornecedores, mas observando as disposições da IN
n. 05/2014, que, inclusive, prevê a obrigatoriedade de um mínimo de três ou mais preços,
obtidos por meio de um ou mais parâmetros entre aqueles previstos nos incisos I a IV, do art.
2º, exigível na esfera federal.
Vejamos a redação do § 2º do art. 2º da IN n. 05/2014:
Art. 2º A pesquisa de preços será realizada mediante a utilização dos seguintes
parâmetros: (Alterado pela Instrução Normativa n. 3, de 20 de abril de 2017)
[...]
§2º Serão utilizados, como metodologia para obtenção do preço de referência para a
contratação, a média, a mediana ou o menor dos valores obtidos na pesquisa de preços,
desde que o cálculo incida sobre um conjunto de três ou mais preços, oriundos de um ou
mais dos parâmetros adotados neste artigo, desconsiderados os valores inexequíveis e os
excessivamente elevados. (Alterado pela Instrução Normativa n. 3, de 20 de abril de
2017) (g.n.).
Nesta Corte de Contas mineira, foram no mesmo sentido as decisões prolatadas pelo
Conselheiro Substituto Hamilton Coelho, nas Denúncias n. 912168 e 932725.
In casu, verifica-se que, embora tenham sido consultados somente três fornecedores, o valor
global estimado da contratação foi de R$ 7.127.164,74 (sete milhões, cento e vinte e sete mil,
cento e sessenta e quatro reais e setenta e quatro centavos) (fl. 46, volume 1), e o valor global
registrado em ata foi de R$ 6.203.730,00 (seis milhões, duzentos e três mil, setecentos e trinta
reais) (fl. 644/648, volume 3).
De todo o exposto, considerando as disposições legais, não se pode exigir um quantitativo
mínimo de orçamentos para compor a pesquisa de mercado, na medida em que o Estatuto das
Licitações não o definiu, e, tampouco podemos impor aos jurisdicionados municipais o
cumprimento da IN n. 05/2014, de observância obrigatória na esfera federal.
Não obstante, recomento aos responsáveis que, em futuros procedimentos licitatórios,
busquem um quantitativo maior de orçamentos, buscando traduzir melhor a real estimativa de
preços de mercado.

II.1.3. Ausência da pesquisa de preços nos autos:

O Representante apontou ausência dos orçamentos que embasaram a formulação do mapa de


valores a partir do qual foi obtido o valor estimado da contratação (fls. 169/172, volume 1),
não tendo sido demonstrada e comprovada a realização da pesquisa de preços (fl. 02-v,
volume 1).

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Em análise, o Órgão Técnico (fls. 1092/1097, volume 5) concluiu por “irregularidades


formais que ensejam a aplicação de multa aos responsáveis já que, em tese, poderiam ser
consideradas como prática de ato antieconômico de gestão”.
Em sede de defesa (fls. 1107/1108, volume 6), os Representados alegaram que, não obstante a
pesquisa de preços não ter sido juntada aos autos do processo licitatório, foi realizada e
arquivada no Departamento de Compras da Prefeitura, conforme documentos comprobatórios
juntados às fls. 1127/1145, volume 6.
Em reexame, o Órgão Técnico (fls. 1154/1154-v, volume 6) concluiu que restou parcialmente
sanado o apontamento, diante do encaminhamento da documentação representativa do mapa
de valores a partir do qual seria obtido o valor estimado da contratação (fls. 1123/1145,
volume 6). Embora seja necessário, conforme o caso, não apenas a consulta aos fornecedores,
mas a verificação dos preços fixados por órgão oficial competente ou os constantes do sistema
de registro de preços, os quais deverão ser devidamente registrados na ata de julgamento,
promovendo-se a desclassificação das propostas desconformes ou incompatíveis.
O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas, em parecer conclusivo (fl. 1164-v, volume
6), entendeu que os responsáveis não trouxeram aos autos fatos novos capazes de alterar o
entendimento ministerial já manifestado quando da propositura da Representação.
Analisando a documentação juntada à defesa (fls. 1127/1145, volume 6), constam 3 (três)
propostas comerciais apresentadas pelas empresas Flexprint Tecnologia e Suprimentos Ltda.,
DOC Print Service Tecnologia Ltda., e Stoque Soluções Tecnológicas Ltda. Os dois primeiros
orçamentos datam de 09/07/2013 e o último de 05/08/2013, demonstrando que, de fato, a
pesquisa foi realizada pela Administração em data anterior à data da sessão do Pregão, qual
seja, 29/11/2013 (fl. 56, volume 1).
Às fls. 1142/1145, volume 6, verifica-se relatório contendo a média aritmética dos preços
ofertados pelas 3 (três) empresas que participaram da pesquisa, constando os preços totais e a
média, por item. O relatório encontra-se assinado por responsável e datado de 11/09/2013.
Assim, ainda que a pesquisa de preços tenha sido realizada, conforme comprovado,
cumprindo-se o disposto na Lei n. 8.666/93, para fins de estimativa do valor da futura
contratação, verificação de disponibilidade orçamentária e financeira, e parâmetro para o
julgamento da licitação, é necessário que tais documentos comprobatórios sejam juntados aos
autos do processo licitatório, não bastando que seja realizada e arquivada no setor
responsável.
A necessidade da pesquisa de preços de mercado decorre de imposição legal, conforme art.
43, IV, art. 15, V e § 1º, art. 24, VIII, XX e XXIII, todos da Lei n. 8.666/93, dispositivos que
determinam que a Administração deve realizar licitações balizadas pelos preços praticados no
âmbito dos órgãos e entidades da Administração Pública ou do mercado, mediante ampla
pesquisa. Daí decorre que a realização de licitação sem a realização de pesquisa de preços
constitui ilegalidade.
O Tribunal de Contas da União, em seu Acórdão n. 1.616/2003, mencionou a necessidade de
anexação da pesquisa aos autos do processo licitatório, vejamos:
[...] proceda, quando da realização de licitação, à consulta de preços correntes no
mercado, ou fixados por órgão oficial competente ou, ainda, constantes do sistema de
registro de preços, em cumprimento ao disposto art. 43, inc. IV, da Lei 8.666/93,
consubstanciando a pesquisa no mercado em, pelo menos, três orçamentos de
fornecedores distintos, os quais devem ser anexados ao procedimento licitatório (itens 12
a 15 do relatório de auditoria e item 33 desta instrução); [...] (g.n.)

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Desse modo, ainda que os responsáveis tenham alegado e comprovado a realização da


pesquisa de preços, não juntada aos autos do processo licitatório, mas arquivada no
Departamento de Compras da Prefeitura, restou configurada a irregularidade aduzida pelo
Representante.
Destarte, deixo de apenar os Representados, tendo em vista que o valor dos itens registrados
na Ata de Registro de Preços (fls. 645/646, volume 3), comparados aos valores apurados na
pesquisa realizada, conforme relatório em que se verifica os valores médios de mercado (fls.
1142/1145, volume 6), comprovam que os preços vencedores da licitação em tela foram
vantajosos para a Administração.
Recomendo aos atuais gestores que a documentação comprobatória da pesquisa de preços de
mercado seja juntada, obrigatoriamente, aos autos dos processos licitatórios, permitindo a
consulta pelos interessados, tornando eficiente e eficaz o controle interno e externo,
observando-se os princípios da transparência e da publicidade. E, considerando, ainda, que,
nas modalidades licitatórias da Lei n. 8.666/93, o orçamento estimado em planilhas de
quantitativos e preços unitários constitui anexo do edital, não devendo, apenas, ser juntado
aos autos, nos termos do inciso II, § 2º, do art. 40, do mesmo diploma legal.

II.1.4. Ausência de discriminação de quantitativos e custos unitários para o


item 004, serviço de digitalização de documentos (produto 050 -01-4632-0):

O Representante defendeu (fls. 02-v/03, volume 1) irregularidade quanto ao item 004, produto
050-01-4632-0, do mapa de preços juntado à fl. 169 (fl. 48 dos presentes autos, volume 1),
serviço de “digitalização de documentos incluindo assinatura digital nas imagens”, com preço
estimado em R$5.701.430,60, (cinco milhões, setecentos e um mil, quatrocentos e trinta reais,
sessenta centavos), não possuindo registro de seus quantitativos e custos unitários, e que essa
parcela do objeto representou, aproximadamente, 80% do valor total estimado da contratação.
Informou que, ainda que se entenda não ser irregular a ausência do orçamento estimado em
planilhas de quantitativos e custos unitários como anexo ao edital, há que ser considerada
irregular a apresentação, na fase interna do certame, apenas do valor total para o serviço de
“digitalização de documentos incluindo assinatura digital nas imagens”, sem discriminação
dos quantitativos e custos unitários que o compõem.
Pugnou pela irregularidade do procedimento licitatório nesse item.
O Órgão Técnico, em análise de fls. 1092/1097, volume 5, não se manifestou quanto a esse
item específico, mas de forma genérica sobre todas as questões que envolvem a pesquisa de
preços de mercado, concluindo por “irregularidades formais que ensejam a aplicação de multa
aos responsáveis já que, em tese, poderiam ser consideradas como prática de ato
antieconômico de gestão”.
Defenderam-se os Responsáveis (fl. 1108, volume 6), informando que houve a discriminação
dos quantitativos à fl. 29 do processo licitatório (fl. 47 dos presentes autos, volume 1), que
foram utilizados na pesquisa de preços de mercado.
Em sede de reexame, o Órgão Técnico (fls. 1154/1154-v, volume 6) concluiu que, “[...] em
que pese o encaminhamento da documentação representativa de mapa de valores a partir do
qual seria obtido o valor estimado da contratação (fls. 1123/1145, volume 6), sanando em
parte o apontamento narrado no item n. 16 da representação ministerial [...]”.
O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas, em parecer conclusivo (fl. 1164-v, volume
6), entendeu que os responsáveis não trouxeram aos autos fatos novos capazes de alterar o
entendimento ministerial já manifestado quando da propositura da Representação.

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Pois bem, de fato os responsáveis juntaram à defesa os documentos relativos à pesquisa de


preços (fls. 1127/1145, volume 6), e percebe-se, naqueles orçamentos apresentados pelas três
empresas consultadas, a discriminação dos 4 (quatro) itens de serviços, sendo o item 3 o
serviço de digitalização de documentos: “item 3 – Digitalização incluindo assinatura digital
nas imagens e fé pública”. Esse item possui 4 (quatro) subitens (papel A4, papel A3, papel A0
e A1 e registro eletrônico em cartório RTD), cada item possuindo valor unitário, a quantidade
estimada de imagens e o valor total do item.
Verifica-se que as propostas das três empresas apresentam a discriminação de todos os itens
de forma igual, ou seja, com as mesmas especificações e quantitativos, cada qual com preços
unitários, total por item e global da proposta diferenciados (fls. 1127/1145, volume 6).
Conforme alegado na defesa (fl. 1108, volume 6), as especificações do indigitado item estão
de acordo com o “Detalhamento dos Itens”, que faz parte integrante do memorando que
especificou o objeto a ser contratado, elaborado pela Secretaria Municipal de Administração
(fls. 20/47, volume 1). E naquele detalhamento, o citado item 3, digitalização de documentos,
está especificado tal qual foi apresentado pelas 3 (três) empresas que apresentaram
orçamentos na pesquisa de preços.
Às fls. 49/52, volume 1, consta, também, um relatório extraído do “Sistema de Controle de
Compras – Registro de Termos de Referência”, o que demonstra ser um registro realizado no
sistema de compras da Prefeitura, item a item, os valores apurados na pesquisa de preços. E,
ali, além do registro dos demais itens do objeto a ser licitado, verifica-se o item 4 –
Digitalização de Documentos, com os valores ofertados em pesquisa pelas 3 (três) empresas,
em conformidade com os orçamentos da pesquisa de fls. 1130, 1133 e 1139, volume 6.
Consta, também, o valor médio aritmético extraído da pesquisa realizada para todos os itens,
inclusive para o item “Digitalização de documentos”, qual seja, R$ 5.701.430,60 (cinco
milhões, setecentos e um mil, quatrocentos e trinta reais e sessenta centavos), fl. 50, volume 1.
No Termo de Referência, anexo do edital, fls. 96/121, volume 1, não localizamos a
especificação do citado lote de serviços, e seus quantitativos. No entanto, no modelo de
“Proposta Comercial”, Anexo VII, do edital, fls. 127/128, volume 1, a ser preenchido pelos
licitantes, consta o item “Digitalização de documentos”, com seus subitens e quantitativos,
com o campo “Valor por imagem”, “Valor total” e “Total do item 03”.
Assim, de toda a análise, verifico que houve a especificação e definição dos quantitativos do
item na fase interna do certame, bem como na pesquisa de preços de mercado. Assim, entendo
que não restou prejudicada a especificação do item e seus subitens, como aduzido pelo
Representante, bem como a informação dos quantitativos, comportando o registro dos preços
unitários, totais e global do item pelos licitantes em suas propostas.
Registro, também, que o edital não fora impugnado em relação à falta de especificação de
quantitativos para esse item, conforme se verifica da documentação juntada aos autos, e que,
caso não fosse possível aos licitantes ofertarem suas propostas por falta de dados relativos a
quantitativos do item esses não teriam como ofertar suas propostas de preço e lances no
certame.
Do exposto, comprova-se que houve uma estimativa do objeto para esse item, com seus
quantitativos, tendo sido compreendido pelas empresas que ofertaram suas propostas de preço
na pesquisa realizada, registrando os preços unitários e totais para os 4 (quatro) subitens e o
preço global para o item.
Nessa esteira, desconsidero o presente apontamento da Representação, considerando regular o
edital em relação ao item 004, “digitalização de documentos incluindo assinatura digital nas

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imagens”, por ter constado na especificação do objeto (fl. 47, volume 1) o item, seus subitens
e quantitativos estimados de imagens, apurado, corretamente na pesquisa de preços (fls. 1130,
1133 e 1139, volume 6).

II.2. Ausência de publicidade do certame no site da Prefeitura:

Alegou o Representante, fls. 03/03-v, volume 1, que a Prefeitura do Município de Itabirito


possui página na internet, acessível no endereço eletrônico “http://www.itabirito.mg.gov.br”,
e, assim sendo, nesta deveria ter feito publicar o aviso de licitação, disponibilizando o inteiro
teor do edital e seus anexos para consulta de todos os eventuais interessados em participar do
certame.
Porém, desta forma não procederam os responsáveis, infringindo o art. 8º, § 1º, inciso IV, da
Lei de Acesso à informação, que assim prescreve:
Art. 8º É dever dos órgãos e entidades públicas promover, independentemente de
requerimentos, a divulgação em local de fácil acesso, no âmbito de suas competências, de
informações de interesse coletivo ou geral por eles produzidas ou custodiadas.
§ 1º Na divulgação das informações a que se refere o caput, deverão constar, no mínimo:
[...]
IV - informações concernentes a procedimentos licitatórios, inclusive os respectivos
editais e resultados, bem como a todos os contratos celebrados;
§ 2º Para cumprimento do disposto no caput, os órgãos e entidades públicas deverão
utilizar todos os meios e instrumentos legítimos de que dispuserem, sendo obrigatória a
divulgação em sítios oficiais da rede mundial de computadores (internet).
O Órgão Técnico, em relatório de fls. 1096-v/1097, volume 5, concluiu por “irregularidades
formais que ensejam a aplicação de multa aos responsáveis já que, em tese, poderiam ser
consideradas como prática de ato antieconômico de gestão”.
Em defesa, os Representados alegaram (fl. 1108, volume 6) que o “edital em tela foi
devidamente publicado no Diário Oficial do Estado de Minas Gerais, bem como, atendeu os
requisitos de divulgação dispostos no art. 8º, § 1º, IV, da Lei n. 12.527/11, uma vez que a
respectiva publicação fora realizada no painel de publicação da sede da Prefeitura. ” E que,
“quanto a divulgação do edital no sítio da Prefeitura, esta não fora realizada à época, vez que
o mesmo estava em desenvolvimento, motivo pelo qual foi firmado TAC com o Ministério
Público. ”
A esse respeito não juntaram documentação comprobatória.
Em reexame da defesa o Órgão Técnico (fl. 1154-v, volume 6) entendeu que permaneceu
irregular a ausência de publicidade do edital no sítio oficial da Prefeitura, não sendo suficiente
a alegação dos responsáveis, uma vez que a Lei de Acesso à Informação é de 2011 e a
licitação realizada ocorrera no exercício de 2013.
O Parquet, em parecer conclusivo (fl. 1164-v, volume 6), entendeu que a defesa não trouxe
fatos novos capazes de alterar o entendimento ministerial já manifestado na inicial.
Pois bem, assiste razão ao Representante, nos termos dispostos na Lei n. 12.527/2011, art. 8º
supratranscrito.
Vejamos, também, o § 4º do mesmo artigo:
[...]

Documento assinado por meio de certificado digital, conforme disposições contidas na Medida Provisória 2200-2/2001, na Resolução n.02/2012 e na Decisão Normativa
n.05/2013. Os normativos mencionados e a validade das assinaturas poderão ser verificados no endereço www.tce.mg.gov.br, código verificador n. 1510982
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§ 4o Os Municípios com população de até 10.000 (dez mil) habitantes ficam dispensados
da divulgação obrigatória na internet a que se refere o § 2 o, mantida a obrigatoriedade de
divulgação, em tempo real, de informações relativas à execução orçamentária e
financeira, nos critérios e prazos previstos no art. 73-B da Lei Complementar n. 101, de 4
de maio de 2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal).
Dessa forma, em 2013, quando o certame sub examine foi deflagrado, a Lei de Acesso à
Informação, publicada em 18/11/2011 (entrou em vigor em 16/05/12), já era de observância
obrigatória para a Administração de Itabirito, pois verifica-se no site do IBGE1 que, em 2010
(última atualização encontrada), aquele município já contava com 45.449 habitantes.
Dessa forma, a veiculação das informações concernentes a procedimentos licitatórios,
inclusive os respectivos editais e resultados, bem como dos contratos celebrados, é obrigação
imposta pela Lei n. 12.527/11 a todos os municípios com população acima de 10.000 (dez
mil) habitantes em sítios oficiais da rede mundial de computadores.
Nessa esteira, considero irregular o presente apontamento, no entanto, deixo de multar os
responsáveis, uma vez que, embora a publicidade do certame não tenha atendido ao disposto
na Lei de Acesso à Informação, houve divulgação da licitação em tela, atendendo-se ao
disposto no inciso II do art. 21 da Lei n. 8.666/93 e inciso I do art. 4º da Lei n. 10.520/02, de
sorte que empresas de outro município, Belo Horizonte, e de outro Estado, São Paulo,
compareceram ao certame.
E, ainda, por verificarmos que os gestores municipais passaram a cumprir as disposições da
Lei n. 12.527/11, art. 8º, § 1º, IV, e § 4º, divulgando no site da Prefeitura os editais de
licitação, conforme acesso em 28/08/20172.

II.3. Ausência do orçamento estimado em planilha de quantitativos e custos


unitários entre os anexos do edital:

O Representante insurgiu-se (fls. 03-v/06, volume 1) contra a ausência do orçamento


estimado em planilha de quantitativos e custos unitários entre os anexos do Edital do Pregão
Presencial n. 240/2013, em ofensa ao art. 7º, § 2º, inciso II, e art. 40, § 2º, inciso II, ambos da
Lei Federal n. 8.666/93.
Defendeu que a ausência do orçamento estimado em planilhas constitui irregularidade grave,
que não comporta argumentação no sentido de que bastaria tal orçamento estar presente no
bojo do processo licitatório, pois a redação dos dispositivos legais é clara quanto à sua
anexação ao instrumento convocatório. E que a Lei n. 8.666/93 possui aplicação subsidiária
ao Pregão, por força do art. 9º, da Lei n. 10.520/02.
Citou Acórdãos do Tribunal de Contas da União, n. 0792-15/08-P e 2740-30/08-1, bem como
decisões desta Corte Mineira, Denúncia n. 838976, da Relatoria do Conselheiro José Alves
Viana, Denúncias n. 839476 e 862128, ambas da Relatoria do Conselheiro Cláudio Couto
Terrão.
Alegou que o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas não desconhece a recente
jurisprudência do TCU e desta Corte quanto à matéria, oscilante em suas últimas decisões,
caminhando no sentido de que, na modalidade de pregão, a anexação do orçamento ao edital

1
https://cidades.ibge.gov.br/v4/brasil/mg/itabirito/panorama
2
http://www.itabirito.mg.gov.br/a-prefeitura/licitacoes-e-contratos/page/7/?licitacoes&modalidade=pregao-
presencial&inicio=2013&ordem=asc

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n.05/2013. Os normativos mencionados e a validade das assinaturas poderão ser verificados no endereço www.tce.mg.gov.br, código verificador n. 1510982
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não seria obrigatória diante da falta de previsão expressa no art. 3º, I e III, e art. 4º, III, ambos
da Lei n. 10.520/02, bastando a sua inclusão no respectivo procedimento administrativo.
No entanto, defendeu que, obrigatoriamente, o orçamento estimado em planilhas de
quantitativos e preços unitários deve figurar entre os anexos do edital, em observância não só
ao art. 40, § 2º, II, da Lei n. 8.666/93, mas também em respeito aos princípios da publicidade
e da isonomia.
O Órgão Técnico, em análise inicial concluiu, fl. 1097, volume 5, que procedem as
irregularidades apontadas no parecer ministerial, constituindo irregularidades formais que
ensejam a aplicação de multa aos Responsáveis, uma vez que podem ser consideradas como
prática de ato antieconômico de gestão.
Em defesa (fls. 1108/1111, volume 6), os Representados alegaram que “[...] tal exigência não
é obrigatória na modalidade pregão. Tal exigência apenas se faz obrigatória nas
modalidades regidas pela lei 8.666/93. ”
Citaram os Acórdãos n. 0531-13/2007, 114/2007, 392/2011, 2.166/2014, 2080/2012, todos do
Tribunal de Contas da União, e doutrina de Jorge Ulysses Jacoby Fernandes, no sentido de
que a Lei do Pregão “não exige o detalhamento do orçamento em planilha de custos unitários,
como faz a lei n. 8.666/93”, e que o procedimento “não contraria a literalidade da lei e
apresenta algumas vantagens”.
Diante dos argumentos trazidos na defesa, o Órgão Técnico, em reexame (fls. 1154-v/1155-v,
volume 6) entendeu sanada a irregularidade.
O Parquet, em parecer conclusivo (fl. 1164-v, volume 6), afirmou que a defesa não trouxe
fatos novos capazes de alterar o entendimento ministerial já manifestado na inicial.
Pois bem, quanto à citada matéria, apontada pelo Representante como irregularidade, venho
proferindo votos em sentido contrário, em relação a editais na modalidade de pregão, a
exemplo dos processos de Denúncia n. 879876 e 862739, e Edital de Licitação n. 898642, na
mesma linha de entendimento de outros Conselheiros desta Corte, como na Denúncia n.
977647, da Relatoria do Conselheiro Gilberto Diniz, Recurso Ordinário n. 887858, da
Relatoria do Conselheiro Mauri Torres, aprovado por maioria em sessão do dia 27/08/2014.
A questão deve ser analisada à luz da Lei n. 8.666/93 e da Lei n. 10.520/02, específica para a
modalidade de pregão.
Nesse sentido, no julgamento do Recurso Ordinário n. 876182, diante da decisão proferida na
Denúncia n. 838976, da relatoria do Conselheiro José Alves Viana, em sessão do dia
04/03/2015, acompanhado pela maioria, passei a não mais cominar multa diante da ausência
da planilha de quantitativos e preços unitários como anexo do instrumento convocatório de
pregão. Vejamos excerto daquele voto:
Nesses termos, em que pese, de fato, ser recomendável que a planilha estimada em preços
unitários e o valor estimado da contratação constem da fase externa da licitação,
necessário que se avalie se sua ausência é suficiente para ensejar a responsabilização do
gestor.
(...)
Ademais, a evolução da jurisprudência desta Corte é no sentido de não se aplicar multa ao
gestor pela ausência de planilha na fase externa, como se infere da recente decisão no
Recurso Ordinário 887.858, julgado em 27/08/2014, segundo a qual, nos procedimentos
licitatórios da modalidade pregão, o orçamento estimado em planilha pode constar,
apenas, da fase interna, não necessitando estar publicado como anexo do edital, in verbis:

Documento assinado por meio de certificado digital, conforme disposições contidas na Medida Provisória 2200-2/2001, na Resolução n.02/2012 e na Decisão Normativa
n.05/2013. Os normativos mencionados e a validade das assinaturas poderão ser verificados no endereço www.tce.mg.gov.br, código verificador n. 1510982
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Conforme já me manifestei em outras deliberações, entendo que, nos procedimentos


licitatórios da modalidade pregão, o orçamento estimado em planilha pode constar,
apenas, da fase interna, não necessitando estar publicado como anexo do edital, nos
termos do art.3º, III, da Lei 10520/02, que assim dispõe:
Art. 3º A fase preparatória do pregão observará o seguinte:
III - dos autos do procedimento constarão a justificativa das definições referidas no
inciso I deste artigo e os indispensáveis elementos técnicos sobre os quais estiverem
apoiados, bem como o orçamento, elaborado pelo órgão ou entidade promotora da
licitação, dos bens ou serviços a serem licitados (destaquei)
Em acréscimo, vale dizer que este também é o entendimento assente no TCU, que
hodiernamente, vem apontando pela não obrigatoriedade de anexação ao edital de pregão
do orçamento estimado em planilhas de quantitativos e preços unitários, e pela
arbitrariedade da divulgação do valor orçado no pregão. Senão vejamos:
REPRESENTAÇÃO COM PEDIDO DE MEDIDA CAUTELAR. OITIVA PRÉVIA DO
REPRESENTADO. APRESENTAÇÃO DE JUSTIFICATIVAS. LICITAÇÃO
SUSPENSA POR INICIATIVA DO PRÓPRIO ÓRGÃO. NEGATIVA DO
PROVIMENTO CAUTELAR. EXAME DO MÉRITO. PROCEDÊNCIA PARCIAL.
EXPEDIÇÃO DE DETERMINAÇÕES E RECOMENDAÇÃO. ARQUIVAMENTO.
[...]
2. O art. 30 da Lei n. 8.666/93 enumera os documentos que podem ser exigidos para fim
de comprovação da qualificação técnica das licitantes, entre os quais não se incluem
certificados de qualidade.
3. "Orçamento" ou "valor orçado" ou "valor de referência" ou simplesmente "valor
estimado" não se confunde com "preço máximo". O "valor orçado", a depender de
previsão editalícia, pode eventualmente ser definido como o "preço máximo" a ser
praticado em determinada licitação, mas não necessariamente.
4. Nas modalidades licitatórias tradicionais, de acordo com o art. 40, § 2º, II, da Lei n.
8.666/93, o orçamento estimado deve figurar como anexo do edital, contemplando o
preço de referência e, se for o caso, o preço máximo que a Administração se dispõe a
pagar. No caso do pregão, a jurisprudência do TCU é no sentido de que a divulgação
do valor orçado e, se for o caso, do preço máximo, caso este tenha sido fixado, é
meramente facultativa. (TCU – Acórdão 392/2011. Relator: Min. José Jorge,
publicado em 23/02/2011.) (Grifo nosso)
[...]
A Lei n. 10.520/2002, que instituiu a modalidade de licitação denominada pregão no
âmbito da Administração Pública, dispõe em seu art. 3º sobre as exigências na fase
preparatória do pregão, dentre elas a elaboração, pela entidade promotora da licitação, do
orçamento dos bens e serviços a serem licitados. O Decreto n. 3.555/2000, que
regulamenta a modalidade na esfera federal, ao dispor sobre a fase preparatória do
pregão, exige em seu art. 8º a elaboração de um documento chamado termo de referência,
que indica "os elementos capazes de propiciar a avaliação do custo pela Administração,
diante de orçamento detalhado, considerando os preços praticados no mercado, a
definição dos métodos, a estratégia de suprimento e o prazo de execução do contrato".
Tanto a lei quanto o decreto citados não exigem que o edital de licitação na modalidade
pregão apresente, obrigatoriamente, o orçamento estimado em planilhas e preços
unitários.
4. Nesse sentido, a recente jurisprudência desta Casa aponta que a não inserção, em
editais da espécie, do orçamento detalhado e suas planilhas de custo, não viola os
dispositivos legais e regulamentares sobre a matéria (Lei n. 10.520/2002 e Decreto n.
3.555/2000), não sendo o caso de se buscar, subsidiariamente, a aplicação da Lei n.

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8.666/93 (Acórdãos n. 1925/2006 e 117/2007-Plenário). (TCU – Acórdão 517/2009.


Relator: Min. Raimundo Carreiro, publicado em 26/03/2009) (Grifo nosso)
Em síntese, tendo em vista que a Lei que rege o pregão é omissa em relação às exigências
sobreditas, assim como a existência de divergência jurisprudencial acerca da
obrigatoriedade do orçamento estimado em planilha e do valor estimado da contratação
constituir anexo do edital nas licitações na modalidade “pregão” – valendo mencionar
que, no âmbito do Tribunal de Contas da União restou pacificado o entendimento de que,
“nos termos do art. 3º da Lei n. 10.520/02, a Administração não está obrigada a anexar ao
edital o orçamento de referência que elaborou na fase interna da licitação (...) [devendo]
constar, obrigatoriamente, apenas dos autos do processo administrativo referente à
licitação” (acórdão 2080/2012), entendo que assiste razão ao recorrente no caso em
exame.
Do exposto, inexistente imposição legal na regulamentação específica da modalidade de
pregão, Lei n. 10.520/02, sobre a obrigatória anexação de planilhas de quantitativos e preços
unitários ao edital, mas, ao contrário, restando previsto em seu art. 3º, supratranscrito, que o
orçamento estimado da licitação deve constar da fase preparatória do pregão, não há que se
falar em aplicação subsidiária da Lei n. 8.666/93, in casu.
Lado outro, para os órgãos da Administração dos Poderes do Estado de Minas Gerais, por
força do art. 6º, I, “e”, e art. 7º, § 10, I, do Decreto n. 44.786/083, que regulamentou a Lei do
Pregão n. 14.167/02, o orçamento estimado da contratação deve constar do Termo de
Referência, que deve ser anexo do instrumento convocatório.
O TCU vem proferindo julgados no mesmo sentido, a exemplo dos Acórdãos n. 1925/2006,
117/2007, 517/2009, 392/2011, 2080/2012.
Posto isto, passei a decidir no sentido de que a planilha de quantitativos e preços unitários é
anexo obrigatório dos editais de licitação nas modalidades da Lei n. 8.666/93, e não para a
modalidade de pregão, uma vez que aplicável a esta modalidade licitatória a Lei especial, nos
termos expostos acima.
Ademais, considerando que houve o cumprimento da legislação, realizando a pesquisa de
preços na fase interna do certame, junto a 3 (três) fornecedores (Flexprint Tecnologia e
Suprimentos Ltda., DOCPRINT Service Tecnologia Ltda. e STOQUE Soluções Tecnológicas
Ltda.), buscando-se o orçamento estimado da contratação, nos termos da documentação
anexada à defesa (fls. 1126/1145, volume 6), entendo que restou cumprido o disposto no
inciso III do art. 3º da Lei n. 10.520/02.
Assim, desconsidero o presente apontamento.

3
Art. 6º A fase preparatória do pregão observará as seguintes regras:
I - caberá à unidade solicitante, que em caso de necessidade será auxiliada pela área de suprimento, elaborar o termo de
referência e iniciar o processo, com as seguintes especificações:
[...]
e) preços unitário e global estimados para cada item, mesmo quando se tratar de julgamento pelo valor global do lote, como
referência para o julgamento do pregoeiro, mesmo que não constem do edital respectivo;
Art. 7º A elaboração do edital de pregão deverá observar, no que couber, o disposto no art. 40 da Lei Federal nº 8.666, de
1993.
[...]
§ 10. Constitui anexo do edital, dele fazendo parte integrante:
I - Termo de Referência; e
[...]

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Ademais, não se está a contrariar a legislação do Pregão a divulgação das planilhas de


quantitativos e custos unitários, por isso, esse documento, fruto da pesquisa de preços, pode
ser parte integrante do edital de pregão. Caso contrário, quando juntado aos autos, deve-se
informar no instrumento convocatório, impreterivelmente, o local de acesso para
conhecimento pelos interessados, devendo ser irrestritamente divulgado e franqueado pela
Administração licitadora, em decorrência da aplicação do princípio da publicidade e da
transparência, efetivando-se a ampla competitividade e isonomia que proporcionarão a
vantajosidade da contratação, permitindo a promoção do controle social sobre os atos da
administração pública.

II. 4. Impugnação e recursos unicamente por protocolo:

O Representante alegou que os itens 3.2.1 e 11.9 do edital dispõem que as impugnações e os
recursos deverão ser protocolizados no setor de protocolo da Prefeitura, de segunda à sexta-
feira, no horário de 08:30 às 16:30, sob pena de não acolhimento.
Entendeu desarrazoada a exigência do protocolo por meio presencial, na sede da Prefeitura,
pois, dado o valor estimado da contratação, R$7.127.164,74 (sete milhões, cento e vinte e sete
mil, cento e sessenta e quatro reais, setenta e quatro centavos), e a qualificação técnica exigida
no edital, pressupõe-se que o certame atrairia a participação de empresas sediadas fora do
Município de Itabirito.
E que, limitar apenas ao meio presencial a possibilidade de impugnar o edital ou oferecer
recurso contra as decisões do pregoeiro, constitui flagrante violação aos princípios do
contraditório e da ampla defesa, previstos no art. 5º, inciso LV, da Constituição da República.
O “controle de legalidade sobre os procedimentos licitatórios deve ser o mais amplo possível,
não existindo óbice para que as diversas formas de impugnação e interposição de recursos
(presencial, via fac-símile e virtual) coexistam. Isso importa na conclusão de que, em todos os
certames, devem ser admitidas variadas formas de impugnação ao edital e interposição de
recursos. ” [...] “no Poder Judiciário não é novidade a prática de atos processuais via fac-
símile, conforme previsto na Lei Federal n. 9.800, de 26 de maio de 1999. ”
Pugnou pela irregularidade do edital, também, quanto a este ponto.
Em análise (fls. 1096-v/1097, volume 5), o Órgão Técnico concordou com os fatos e
argumentos apresentados pelo Representante.
Em defesa (fls. 1111/1115, volume 6), alegaram os Representados que, não obstante a
previsão contida no edital, a impugnação apresentada, ainda que intempestiva, foi analisada e
respondida pela pregoeira, como já ocorrera em outras situações, privilegiando os princípios
basilares da licitação.
Alegaram, ainda, que os atuais editais de licitação tiveram sua redação alterada, com o
propósito de permitir a apresentação de impugnações e recursos por meio eletrônico ou
protocolizados no Setor de Protocolo da Prefeitura, vejamos:
3.2.1 – A impugnação deverá ser interposta no prazo legal, mediante petição a ser
enviada, preferencialmente, para o endereço eletrônico licitacao@pmi.mg.gov.br ou
protocolizada no Setor de Protocolo da Prefeitura, localizado na Avenida Queiroz Junior,
n.. 635, Bairro Praia, Itabirito/MG, sob pena de não acolhimento.
11.8 – Os recursos deverão ser interpostos no prazo legal, mediante petição a ser enviada,
preferencialmente para o endereço eletrônico licitacao@pmi.mg.gov.br ou protocolizada
no Setor de Protocolo da Prefeitura, localizado na Avenida Queiroz Junior, n.. 635, Bairro
Praia, Itabirito/MG, sob pena de não acolhimento. (g.n.)

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Em sede de reexame, 1155-v, volume 6, o Órgão Técnico ratificou o apontamento pela


irregularidade.
Em parecer conclusivo, o Parquet (fls. 1163/1164-v, volume 6) concluiu que a defesa
apresentada não trouxe aos autos fatos novos capazes de alterar o entendimento ministerial já
manifestado quando da propositura da Representação.
Coaduno-me ao entendimento do Representante, conforme votos por mim já proferidos, no
sentido de que constitui exigência desarrazoada, inadmissível e restritiva, a regulação de uma
licitação que admita a propositura de impugnações e recursos somente por meio presencial –
protocolo no setor da Prefeitura.
A exigência constitui restrição injustificável ao caráter competitivo do certame, e, nesse
sentido, passo a utilizar os mesmos fundamentos constantes do voto proferido nos autos da
Denúncia n. 879876, aprovado à unanimidade desta Segunda Câmara.
É fato que, diante do grande desenvolvimento da informática na última década do século
passado, em contínua e veloz evolução, os Tribunais também se viram necessitados de
acompanhar e aplicar a evolução tecnológica à prestação judicial, o que amplia, sem dúvida, o
direito ao contraditório e ampla defesa, corolário constitucional, e, também, o princípio da
duração razoável do processo, inserto no inciso LXXVIII do art. 5º, e efetivação do princípio
da eficiência.
Assim, a Lei 9.800/99 instituiu a possibilidade da prática de atos processuais pelas partes, no
âmbito do processo civil, por meio de aparelhos de transmissão de dados e imagens, “tipo fac-
símile ou outro similar”.
Vejamos as disposições desse diploma legal que ainda se apresenta incipiente, não
pretendendo atender as necessidades fáticas e tecnológicas desta década:
Art. 1º É permitida às partes a utilização de sistema de transmissão de dados e imagens
tipo fac-símile ou outro similar, para a prática de atos processuais que dependam de
petição escrita.
Art. 2º A utilização de sistema de transmissão de dados e imagens não prejudica o
cumprimento dos prazos, devendo os originais ser entregues em juízo, necessariamente,
até cinco dias da data de seu término.
Parágrafo único. Nos atos não sujeitos a prazo, os originais deverão ser entregues,
necessariamente, até cinco dias da data da recepção do material.
A citada Lei passou a permitir a prática de atos processuais por advogados e juízes, também
por sistema de transmissão de dados e imagens tipo fac-símile ou outros, em que se inclui o
correio eletrônico – e-mail –, agilizando muito os procedimentos, uma vez que a
protocolização presencial, única forma que existia, trazia, certamente, entraves, na medida em
que restringia o exercício do direito em razão da distância geográfica, causando não raras
vezes a perda dos prazos pelas partes.
Não temos dúvida de que a expressão “ou outro similar”, contida no art. 1º citado,
compreende a transmissão de dados e imagens via e-mail, entre outros. O correio eletrônico
ou ‘e-mail’ é, atualmente, uma maneira extremamente fácil e rápida, podemos dizer mesmo
instantânea, de transmissão de dados e imagens. Há que se referenciar, também, a
digitalização de documentos, que hoje é facilmente realizada por aparelhos
microcomputadores ou ‘laptops’ e, também, mais recentemente, por aparelhos smartphones.
Assim, muitos órgãos judiciários disciplinaram internamente os procedimentos que viabilizam
a utilização do que se convencionou denominar como “peticionamento eletrônico”.

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Nesse tema de ampliação das formas de peticionamento e transmissão de dados, também deve
ser citada como forma de modernização e adequação à evolução tecnológica a favor da
atividade jurisdicional, a videoconferência.
Nessa esteira, o Superior Tribunal de Justiça posicionou-se favorável a utilização da
videoconferência para realização de interrogatório, uma vez que não fique demonstrado
prejuízo ao réu (STJ, RHC n. 6272/SP, 5ª Turma, rel. Min. Félix Fisher, j. 03.04.97). Vale a
pena destacar ainda a M.P. n. 28/2002, que veio a autorizar a inquirição de presidiários pela
autoridade judiciária, com o intento de evitar o deslocamento dos presos dos estabelecimentos
prisionais até as instalações dos tribunais. O que é não só recomendável, como primordial em
tratando-se de entes do crime organizado4.
Trazemos a lume, também, a previsão contida no § 2º do art. 65 da Lei n. 9.099/95:
Art. 65. Os atos processuais serão válidos sempre que preencherem as finalidades para as
quais foram realizados, atendidos os critérios indicados no art. 62 desta Lei.
[...]
§ 2º A prática de atos processuais em outras comarcas poderá ser solicitada por qualquer
meio hábil de comunicação.
[...] (grifamos)
Registramos, ainda, a existência da possibilidade de assinatura com chancela eletrônica, que
já é realidade para os processos judiciais na esfera civil, penal e trabalhista, bem como nos
juizados especiais, em qualquer grau de jurisdição, podendo ser utilizada pelas partes e pelo
magistrado para dar ciência das decisões, sem prejuízo dos prazos recursais.
Ainda a Lei n. 11.419/06, que dispõe sobre a informatização do processo judicial e o uso de
meio eletrônico em sua tramitação, comunicação de atos e transmissão de peças processuais,
assim dispõe:
Art. 1º O uso de meio eletrônico na tramitação de processos judiciais, comunicação de
atos e transmissão de peças processuais será admitido nos termos desta Lei.
§ 1º Aplica-se o disposto nesta Lei, indistintamente, aos processos civil, penal e
trabalhista, bem como aos juizados especiais, em qualquer grau de jurisdição.
§ 2º Para o disposto nesta Lei, considera-se:
I - meio eletrônico qualquer forma de armazenamento ou tráfego de documentos e
arquivos digitais;
II - transmissão eletrônica toda forma de comunicação a distância com a utilização de
redes de comunicação, preferencialmente a rede mundial de computadores;
III - assinatura eletrônica as seguintes formas de identificação inequívoca do signatário:
a) assinatura digital baseada em certificado digital emitido por Autoridade Certificadora
credenciada, na forma de lei específica;
b) mediante cadastro de usuário no Poder Judiciário, conforme disciplinado pelos órgãos
respectivos.

4
http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=4082. Consultado
em 27/05/15.

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Art. 2º O envio de petições, de recursos e a prática de atos processuais em geral por meio
eletrônico serão admitidos mediante uso de assinatura eletrônica, na forma do art. 1o
desta Lei, sendo obrigatório o credenciamento prévio no Poder Judiciário, conforme
disciplinado pelos órgãos respectivos.
No Supremo Tribunal Federal, já se encontra regulamentada a possibilidade dos procuradores
jurídicos das partes a interposição de petição mediante correio eletrônico, nos termos da
Resolução n. 287, de 14 de abril de 2004, que instituiu o e-STF, sistema que permite o uso de
correio eletrônico para a prática de atos processuais, no âmbito daquela Corte Suprema.
No Superior Tribunal de Justiça, tem-se a Resolução STJ n. 14, de 28 de junho de 2013, que
instituiu o processo judicial eletrônico no âmbito daquele Tribunal – e-STJ, nos termos da Lei
n. 11.419/06.
Assim, diante da evolução tecnológica, carece que o intérprete da lei amplie o seu sentido
trazendo aquela regulação para a sociedade atual, altamente adaptada e usuária de tais
recursos tecnológicos, em constante evolução, devendo o direito servir essa sociedade.
Pois bem, de todo o exposto, voltando à realidade do Estado, que também se inclui na
conjuntura traçada, o mínimo que se pode concluir é que é desarrazoada, inadmissível e
restritiva a regulação de uma licitação que admita a apresentação de impugnações e recursos
somente por meio de protocolo na Prefeitura.
Assim, julgo irregular o presente apontamento, por se constituir em restrição injustificável ao
caráter competitivo do certame, ferindo os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade,
e inciso I do § 1º do art. 3º da Lei n. 8.666/93.
Destarte, deixo de apenar os Representados, em razão de não constar dos autos prova de que
houve restrição à apresentação de impugnações ou recursos por outros meios que não tenha
sido por protocolo, e, também, por verificar que os responsáveis providenciaram a alteração
da redação de seus editais, conforme demonstrado em sede de defesa (fls. 1112/1115), e
conforme se verifica nos editais constantes no site da Prefeitura.
Em consulta promovida5 no edital do Pregão Presencial n. 089/2017, Registro de Preços n.
052/2017, itens 3.2.1 e 11.8, consta alteração na indigitada previsão, passando a permitir a
apresentação de impugnações e recursos por correio eletrônico, ou por protocolo, na sede da
Prefeitura, privilegiando os princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa, art.
5º, inciso LV, da CR/88.

II.5. Certidão negativa para comprovação de regularidade fiscal junto ao


INSS e à Justiça do Trabalho:

Insurgiu-se o Representante contra os itens 9.1.3 e 9.1.7 do edital (fls. 06-v/07-v), por
exigirem a apresentação de certidão negativa de débitos com o INSS e certidão negativa de
débitos trabalhistas, contrariando os arts. 27 a 29, da Lei n. 8.666/93, que exigem “prova de
regularidade” ao invés de especificar o tipo de certidão que deve ser apresentada pelos
licitantes.
Alegou que os itens 9.1.4 a 9.1.6 do edital dispõem, expressamente, que será aceita a certidão
positiva com efeito de negativa de débitos com o município sede da licitante, e as Fazendas

5
http://www.itabirito.mg.gov.br/a-prefeitura/licitacoes-e-contratos/page/7/?licitacoes&modalidade=pregao-presencial&inicio=2013&ordem=asc

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Estadual e Federal, mas tal previsão não se repetiu nos itens 9.1.3 e 9.1.7 em relação ao INSS
e à Justiça do Trabalho.
Concluiu ser irregular a ausência de expressa previsão no edital sobre a regularidade dos
licitantes junto ao INSS poder ser demonstrada, também, por meio de certidão positiva com
efeito de negativa, e não apenas com a própria certidão negativa.
Em relação à Justiça do Trabalho, expôs que o entendimento não é diferente e, “Não obstante
o inciso V do art. 29 da Lei Federal n. 8.666/93 fazer alusão à certidão negativa, deve-se
considerar a prova de “regularidade trabalhista”, o que comporta a exigência de certidão
positiva com efeito de negativa, sendo esta tida como prova equivalente a comprovar a
regularidade da situação para com a Justiça do Trabalho, que abrange a existência de débito
consentido e sob controle do credor, e não somente a “quitação”, que é a “ausência de débito.”
Nessa esteira, concluiu que a exigência restringiu a habilitação somente àqueles interessados
que possuíssem certidão negativa de débito, ferindo o princípio da isonomia, privando os
licitantes que se encontram em situação de regularidade trabalhista de participarem da
licitação.
O Órgão Técnico, em análise de fls. 1096-v/1097, volume 5, corroborou o apontamento.
Em defesa os Representados alegaram (fl. 1115/1116, volume 6) que a Administração,
“prezando sempre pelos princípios da razoabilidade e legalidade, observa quanto a
apresentação das certidões fiscais e trabalhistas das empresas licitantes tão somente sua
regularidade. Isso se mostra inclusive no processo ora denunciado, uma vez que a Pregoeira
declarou habilitada a empresa que apresentou sua certidão para com o INSS positiva com
efeito negativo. ”
Em reexame o Órgão Técnico ratificou seu entendimento inicial (fls. 1155-v/1156-v, volume
6).
Em parecer conclusivo o Parquet (fls. 1163/1164-v, volume 6) posicionou-se no sentido de
que a defesa apresentada não trouxe aos autos fatos novos capazes de alterar o entendimento
ministerial já manifestado quando da propositura da Representação.
Coaduno-me ao entendimento Ministerial e, perfilhando com os mesmos fundamentos das
decisões já proferidas por esta Corte, entre as quais Representação n. 716394, Denúncia n.
811882, Edital de Licitação n. 876054 e demais votos por mim proferidos, julgo irregular a
exigência contida nos subitens 9.1.3 e 9.1.7 do edital, por restar incorreta a exigência de
“quitação” junto à seguridade social e às obrigações trabalhistas, sendo legalmente correto
exigir a “regularidade”, que pode ser comprovada por meio de certidão negativa ou positiva
com efeito de negativa.
A regularidade perante o INSS é verificada conjuntamente com a regularidade perante a
Fazenda Federal, e para tal comprovação pode ser apresentada tanto a certidão negativa
quanto a positiva com efeitos de negativa, sendo essa a disposição insculpida no art. 205 c/c
art. 206, ambos do Código Tributário Nacional – CTN, que tratam das certidões negativas, a
conferir:
Art. 205. A lei poderá exigir que a prova da quitação de determinado tributo, quando
exigível, seja feita por certidão negativa, expedida à vista de requerimento do
interessado, que contenha todas as informações necessárias à identificação de sua pessoa,
domicílio fiscal e ramo de negócio ou atividade e indique o período a que se refere o
pedido.

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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Parágrafo único. A certidão negativa será sempre expedida nos termos em que tenha sido
requerida e será fornecida dentro de 10 (dez) dias da data da entrada do requerimento na
repartição.
Art. 206. Tem os mesmos efeitos previstos no artigo anterior a certidão de que conste a
existência de créditos não vencidos, em curso de cobrança executiva em que tenha sido
efetivada a penhora, ou cuja exigibilidade esteja suspensa. (g.n.)
Verifica-se dos dispositivos legais transcritos, a possibilidade de expedição de certidão
negativa de débito ou de certidão positiva com efeitos de negativa nos seguintes casos: a)
existência de créditos não vencidos; b) quando o processo de execução estiver garantido pela
penhora; c) quando a exigibilidade do crédito estiver suspensa.
A legislação tributária equiparou a certidão positiva com efeitos de negativa, quanto aos seus
efeitos, à certidão negativa, constituindo, ambas, instrumentos aptos para a comprovação da
regularidade fiscal.
No mesmo sentido, quanto à regularidade trabalhista perante a Justiça de Trabalho, ainda que
no art. 29, V, a Lei n. 8.666/93 indique a apresentação de “prova de inexistência de débitos
inadimplidos perante a Justiça do Trabalho”, a CLT, em seu art. 642-A, §2º, determina que
“os efeitos da certidão positiva com efeito de negativa se equiparam aos das certidões
negativas”. Assim, prevalece a regra contida no art. 27, IV, da Lei n. 8.666/93, “regularidade
fiscal e trabalhista”.
De todo exposto, considerando que o edital em tela exigiu nos itens 9.1.3 e 9.1.7 a
apresentação de certidão negativa de débitos junto ao INSS e certidão negativa de débitos
trabalhistas, mas, lado outro, considerando, nos termos da defesa dos Representados (fls.
1115/1116, volume 6), que a Pregoeira agiu corretamente, declarando habilitada a empresa
que ofertou o menor preço e que apresentou a certidão junto ao INSS positiva com efeito de
negativa, deixo de aplicar multa aos responsáveis.
Outrossim, recomendo aos gestores municipais que atentem para não repetir a referida falha
em procedimentos licitatórios futuros, devendo ser alterada a redação de seus editais,
exigindo, tão-somente, documentos comprobatórios da regularidade fiscal e à Justiça do
Trabalho, o que permite a apresentação de certidões negativas e positivas com efeito de
negativas, nos termos do art. 29 da Lei n. 8.666/93.

II.6. Ausência de definição de limites objetivos para a subcontratação,


ausência de previsão de apresentação da documentação de habilitação pelo
subcontratado, previsão de cessão:

Insurgiu-se o Representante contra o subitem 12.40 do edital, que dispõe acerca da


possibilidade da cessão, transferência ou subcontratação mediante autorização do contratante,
por escrito (fls. 07-v/08-v, volume 1), ou seja, prevê a possibilidade de cessão do contrato, o
que é inadmissível, nos termos da jurisprudência, e deixa de definir os limites para a
subcontratação de parte do contrato, restando condicionado, apenas, à autorização prévia.
Defendeu que o art. 72, da Lei n. 8.666/93, dispõe que o “contratado, na execução do
contrato, sem prejuízo das responsabilidades contratuais e legais, poderá subcontratar partes
da obra, serviço ou fornecimento, até o limite admitido, em cada caso, pela Administração”, e
que, por isso, é necessário que o edital estabeleça parâmetros objetivos para eventual
subcontratação, não bastando mera disposição editalícia condicionando a subcontratação à
prévia concordância da Prefeitura.
Concluiu que a regra padece de delimitação, clara, sobre quais são os limites para a
subcontratação, deixando incontroversa a necessidade de o subcontratado apresentar à

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Administração todos os documentos de habilitação exigidos na licitação que precedeu o


contrato, especialmente quanto à regularidade jurídica e fiscal, qualificação técnica e
econômico-financeira, além do cumprimento do disposto no art. 7º, inciso XXXIII, da
Constituição da República.
Citou o Acórdão n. 265/2010, do Tribunal de Contas da União, no sentido da necessária
delimitação dos parâmetros objetivos para eventual subcontratação, e o Acórdão n.
2.406/2010, acerca do posicionamento do TCU, desde o Decreto-Lei n. 2.300/1986, julgando
ilegal a cessão/sub-rogação total do contrato administrativo, não se podendo substituir a
empresa contratada, via procedimento licitatório, por outra que não logrou êxito no certame,
constituindo manobra, burla ao dever de licitar, obrigação insculpida no art. 37, XXI, da
CR/88.
O Órgão Técnico corroborou a irregularidade (fls. 1092/1097, volume 5).
Em sede de defesa (fls. 1116/1120, volume 6), os responsáveis alegaram que a Administração
cumpre os comandos legais, inspirando-se nos editais deste Tribunal de Contas de Minas
Gerais, que possuem a mesma redação, a exemplo dos Processos Licitatórios n. 17/20156,
01/2015, 01/2013, 35/2013, 15/2012 e 54/2011.
Em análise da defesa, o Órgão Técnico acolheu a alegação dos Representados (fls. 1156-
v/1157, volume 6), no sentido de que o contrato administrativo deve ser executado fielmente
pelas partes, respondendo cada uma pelas consequências de sua inexecução total ou parcial,
estando obrigado a reparar, corrigir, refazer, remover, reconstruir ou substituir, às suas
expensas, vícios, defeitos e incorreções resultantes da má execução dos serviços ou dos
materiais empregados.
Prosseguiu, informando que, a par dessa responsabilização integral do contratado
responsabiliza-se, também pelos serviços do subcontratado, uma vez que eventual prejuízo
decorrente da subcontratação não exonera a contratada da obrigação de indenizar a
Administração. Dessa forma, a subcontratação não constitui fuga ao dever de licitar, uma vez
que o limite da parcela a ser subcontratada depende de autorização e definição pelo
contratante.
Em parecer conclusivo, o Parquet (fls. 1163/1164-v, volume 6) aduziu que a defesa
apresentada não trouxe aos autos fatos novos capazes de alterar o entendimento ministerial já
manifestado quando da propositura da Representação, e acrescentou que, ao contrário do que
fez transparecer o Órgão Técnico, a Representação não questionou a possibilidade de
subcontratação do objeto, mas a ausência de limites objetivos no edital.
Concluiu no sentido de que o subitem 12.40 do edital não estabelece quais são os limites para
a subcontratação do objeto, condicionando-a, apenas, à autorização da Administração, e
reiterou a irregularidade da previsão de cessão do objeto contratual.
Vejamos a redação do subitem 12.40 do edital sub examine (fl. 87, volume 1):
O Contrato firmado com o Município não poderá ser objeto de cessão, transferência ou
subcontratação sem autorização da Contratante, por escrito, sob pena de aplicação de
sanção, inclusive rescisão.

6
“Este Contrato, bem como os direitos e obrigações dele decorrentes, não poderá ser subcontratado, cedido ou transferido,
total ou parcialmente, nem ser executado em associação da CONTRATADA com terceiros, sem autorização prévia da
Diretoria de Administração do TRIBUNAL, por escrito, sob pena de aplicação de sanção, inclusive rescisão contratual. (fls.
34).”

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Pois bem, a Lei de Licitações autoriza que a Administração, em cada caso, avalie a
conveniência de permitir a subcontratação do objeto, delimitando um limite para tal. Dessa
forma, a subcontratação só é admitida se autorizada no edital de licitação ou no contrato. Essa
é a redação do art. 72, verbis:
Art. 72. O contratado, na execução do contrato, sem prejuízo das responsabilidades
contratuais e legais, poderá subcontratar partes da obra, serviço ou fornecimento, até o
limite admitido, em cada caso, pela Administração.
O inciso VI, do art. 78 da referida Lei inclui a ocorrência de subcontratação não admitida
como um dos motivos para a rescisão contratual, nos seguintes termos:
Art. 78. Constituem motivo para rescisão do contrato:
(…)
VI - a subcontratação total ou parcial do seu objeto, a associação do contratado com
outrem, a cessão ou transferência, total ou parcial, bem como a fusão, cisão ou
incorporação, não admitidas no edital e no contrato;
Da leitura dos dispositivos acima depreende-se que o contrato administrativo, é, em regra,
intuitu personae, cabendo à contratada executar o objeto, não se podendo transferir as
responsabilidades ou subcontratar. No entanto, embora o contrato administrativo seja pessoal,
ele não é necessariamente personalíssimo e, assim, pode ocorrer a subcontratação, total ou
parcial do objeto, a associação do contratado com outrem ou a transferência, total ou parcial,
bem como a fusão, cisão ou incorporação, desde que esta condição esteja prevista no edital e
no contrato.
Compete à Administração verificar, em cada caso, a possibilidade de permitir a
subcontratação de parte dos serviços, fornecimento ou obra, devendo, se entender possível ou
necessário, definir o limite permitido, e quando não permitido, descumprida a regra editalícia,
promover a rescisão contratual, conforme permissivo legal.
Na lição de Orlando Gomes7,
Há de ter-se em conta, primeiramente, que a cessão não implica na formação de novo
contrato, mas substituição de um contratante por outro, enquanto o subcontrato é outro
contrato que uma das partes do contrato principal estipula com terceiro. Em
consequência, a cessão implica substituição da posição contratual, enquanto, no
subcontrato, permanece o vínculo, não obstante a transferência.
Consultando o Manual de Licitação e Contratos do TCU8, verificamos a seguinte orientação:
Deve o contratado observar, durante a vigência do contrato, de que é vedado:
• contratação de servidor pertencente ao quadro de pessoal da Administração;
• veiculação de publicidade acerca da contratação, salvo se houver prévia autorização da
Administração;
• subcontratação de outra empresa para fornecimento do bem ou execução da obra ou
prestação do serviço contratado, salvo se previamente admitida no ato convocatório e/ou
contrato até o limite aceito pela Administração em procedimento administrativo próprio.
(g.n.)

7
GOMES, Orlando. “Contratos”. 12. ed., Rio de Janeiro: Forense, 1987, p. 158.
8
http://portal.tcu.gov.br/lumis/portal/file/fileDownload.jsp?inline=1&fileId=8A8182A24D6E86A4014D72AC81CA540A. P.
742.

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Verifica-se a recomendação acerca da definição dos limites à subcontratação em


procedimento administrativo próprio, não se exigindo que os limites tenham sido previamente
definidos no edital.
Não há na Lei uma referência objetiva em forma de percentual, por exemplo, estabelecendo
limites para a subcontratação. Importa verificar que a parte a ser subcontratada não desnature
o objeto contratado, devendo constituir as partes de menor relevância. É nesse sentido o
entendimento do Tribunal de Contas da União (Acórdãos n. 3.144/2011 e 954/2012), que
julga ilegal, inclusive, a subcontratação total do objeto, consoante entendimento adotado no
Acórdão n. 2.189/2011.
É pacífico na doutrina e jurisprudência do TCU que a subcontratação não transfere ao
subcontratado as responsabilidade e obrigações avençadas, pois a contratada é que se
responsabiliza pela execução contratual, respondendo em todos os níveis. Assim, entendo que
a possibilidade de subcontratação de partes do objeto deve, de fato estar prevista no
instrumento convocatório ou minuta contratual, em razão do princípio da segurança jurídica.
A licitante deve, de antemão, ter conhecimento das regras para a execução do serviço, e se
poderá executar por meios próprios ou não.
No entanto, não vislumbro impossibilidade, acerca da não definição do percentual possível de
subcontratação, previamente no edital. Havendo necessidade a contratada poderá apresentar a
demanda à Administração, que avaliará, em conjunto com a contratada, esta que continua
sendo a única responsável pelo contrato, conforme expusemos acima.
Assim, sendo possível prever no instrumento convocatório os limites das parcelas do objeto
que poderão ser subcontratados, maior segurança e planejamento terá o proponente ao realizar
a sua proposta. Lado outro, não estando previsto no edital, durante a execução contratual a
contratada deve apresentar a demanda à Administração, na forma prevista no art. 72 da Lei n.
8.666/93, para que esta autorize, até por que, diante da responsabilidade que não se transfere
da contratada para a subcontratada, e do preço ajustado em contrato, nenhum prejuízo a
subcontratação traz ao interesse público.
Quanto à impossibilidade de cessão e transferência do contrato, concordo com o entendimento
do Representante, por caracterizar ofensa às normas regentes dos contratos administrativos.
A faculdade conferida à contratada pelo art. 72 da Lei n. 8.666/93 para subcontratar parte do
objeto evita que a Administração venha a ter de promover diversas licitações como forma de
executar o contrato em sua totalidade. No entanto, a faculdade ali conferida não deve servir à
burla da obrigação constitucional da licitação, e, assim, permitida é a subcontratação, e não a
cessão, a sub-rogação, nos termos das premissas estabelecidas pelos arts. 72 e 78, inciso VI,
daquela Lei, afinal, o art. 72 não permite a subcontratação com a transferência das
responsabilidades contratuais e legais, e assim, acaba por vedar a cessão.
Admitir a transferência de parte do objeto inicialmente contratado, juntamente com as
responsabilidades contratuais, direitos e obrigações, ou admitir a transferência total da avença
a outrem, alheio ao procedimento de escolha – licitação –, seria transformar todo o
procedimento licitatório em contratação direta, isto é, em ilegal afronta à ordem constitucional
vigente.
Na mesma esteira é o entendimento do TCU, exarado no Acórdão n. 2406/2010, verbis:
5.2.16. Ocorre que o referido tema (cessão de direitos e obrigações, com a consequente
sub-rogação da contratada original) já foi objeto de diversas apreciações no âmbito desta
Corte, que tem pacificamente se posicionado no sentido de sua inconstitucionalidade e
ilegalidade (por exemplo, Decisão n. 375/2002 e Acórdãos n. 153/2002, 909/2003,
2002/2005 e 2520/2008, todos do Plenário).

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5.2.17. A respeito do tema, é conveniente transcrever parte do parecer do Ministério


Público junto ao TCU – MP/TCU lavrado nos autos do TC n. 007.045/2001-2, que, por
tratar da questão em tese, pode ser aplicado ao presente caso:
‘Analisando-se de uma forma ampla os institutos da subcontratação e da sub-rogação, no
âmbito dos contratos administrativos, deve-se, antes de mais nada, esclarecer que o termo
sub-rogação é termo emprestado do Código Civil (cf. artigos 985/990) ao Direito
Administrativo, em nenhum momento dele se utilizando a Lei n. 8.666/1993 (Lei das
Licitações).
Sendo assim, prestar-se-ia a definir genericamente situação contratual em que se verifique
a substituição do objeto ou da pessoa do contrato, como no caso da cessão ou da
transferência das obras, serviços e fornecimentos a outrem. Cumpre observar que a
principal característica de uma sub-rogação diz respeito à completa eliminação das
responsabilidades contratuais e legais do contratado perante a Administração Pública.
[...]
A nosso ver, a Lei n. 8.666/1993, em seus artigos 72 e 78, inciso VI, ao prever a
possibilidade de subcontratação, reflete, entre outras coisas, preocupação do legislador
em garantir a viabilidade de execução do contrato administrativo mesmo ante a eventuais
circunstâncias que impeçam o contratado de executar a totalidade de obra, serviço ou
fornecimento.
É regra de exceção, visto que o interesse da Administração é pelo cumprimento do
contrato na forma originalmente avençada. Não é útil à Administração promover
licitações em quantidade que extrapole ou que fique aquém daquilo que julga ideal para
manter assegurado o interesse público, mas, também, não lhe é proveitoso permitir que a
ausência de licitação comprometa a igualdade entre os potenciais concorrentes, sob pena
de prejuízo de seus próprios interesses. Em outras palavras, a faculdade conferida à
Contratada pelo artigo 72 da Lei n. 8.666/93 para subcontratar parte do objeto evita que a
Administração venha a ter de promover outras tantas licitações como forma de
complementar a execução do contrato. Por outro lado, a faculdade ali conferida também
não deve servir à burla dos princípios inerentes a qualquer processo licitatório. Por isso
mesmo, o legislador condicionou a prática da subcontratação a três critérios básicos, de
acordo com o que se pode depreender da interpretação sistemática das normas contidas
nos referidos artigos 72 e 78, inciso VI, daquela Lei, critérios esses admitidos pela
maioria dos doutrinadores do Direito Administrativo.
[...]
Ocorre que todos os demais institutos ou sub-rogam, ou seja, substituem a figura da
contratada, como no caso da cessão, da transferência e, de certa forma, da cisão (na cisão
a pessoa jurídica resultante do ato resta descaracterizada ou extinta), ou, senão, dividem,
se não na teoria, na prática, de forma solidária e indevida, a responsabilidade pelos atos
ou omissões de terceiro que adentre relação contratual já estabelecida, como nos casos da
fusão e da incorporação.’
5.2.18. Vale mencionar ainda que, no bojo do Voto que antecedeu o Acórdão n. 153/2002
– Plenário, restou consignado, na mesma linha da opinião do MP/TCU, que à exceção da
subcontratação, os demais movimentos contratuais indicados no inciso VI do art. 78
(cessão, transferência, fusão, cisão e incorporação) não podem ser adotados, eis que
isentam a contratada da sua posição de única e plena responsável perante a administração
quanto às relações jurídicas emergentes do contrato.
5.2.19. Conforme salientado nos fundamentos daquela Deliberação, qualquer
entendimento contrário – admitir-se a transferência de parte do objeto inicialmente
contratado juntamente com as responsabilidades contratuais, direitos e obrigações –
cederia espaço à contratação direta. E esse movimento representa inequívoca fraude à

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ordem constitucional positiva e à legislação infraconstitucional no que toca ao inafastável


dever de licitar.
5.2.20. É de se observar, também, que essa situação seria veiculadora, ainda, de iminente
risco para a Administração, uma vez que a empresa sub-rogada, por ser escolhida pela
contratada, não sofreria, necessariamente, análise dos critérios exigidos para contratação
com o Poder Público, como idoneidade, qualificações técnica e econômico-financeira,
habilitação jurídica e regularidade fiscal, entre outros.
5.2.21. De fato, como se observa no caso concreto, a empresa sub-rogada foi escolhida
pela própria contratada (Cobrasma), sem que tenha sido realizada qualquer avaliação de
sua capacidade operacional, o que pode ter contribuído, como se verá adiante na presente
instrução, para a inexecução parcial do objeto pactuado.
Nesse diapasão, verifica-se que a redação constante do item 12.40, do edital (fl. 87, volume
1), em face da qual insurge-se o Representante, e sobre a qual defendem-se os Representados,
no sentido de que é a mesma redação de editais de licitação desta Corte de Contas, constitui a
junção da redação dos arts. 72 e 78 do Estatuto de Licitações. No entanto, como bem visto no
Acórdão supratranscrito do TCU, n. 2406/2010, a previsão de causa de rescisão contratual
constante do inciso VI, do art. 78, por cessão ou transferência do contrato, total ou parcial,
não admitida no edital e no contrato, não possui possibilidade jurídica de efetivação. Isso em
razão do já exposto, ou seja, decorre da previsão constante do art. 72 da mesma Lei, que
vedada a subcontratação de partes da obra, serviço ou fornecimento com transferência das
responsabilidades contratuais e legais.
Assim, se há essa vedação, não há que se falar em possibilidade de cessão ou transferência,
mediante substituição do objeto ou da pessoa contratada, ainda que mediante autorização do
contratante, haja vista que, como visto, a principal característica de uma cessão diz respeito à
completa eliminação das responsabilidades contratuais e legais do contratado perante o
contratante.
Quanto à alegação do Representante acerca da necessidade de o subcontratado apresentar à
Administração todos os documentos de habilitação exigidos na licitação que precedeu o
contrato, especialmente quanto à regularidade jurídica e fiscal, qualificação técnica e
econômico-financeira, além do cumprimento do disposto no art. 7º, inciso XXXIII, da
Constituição da República, coaduno-me ao entendimento exarado no Acórdão n. 1312/2008,
Plenário, do Tribunal de Contas da União, no seguinte sentido:
Por fim, é oportuno anotar que o edital possibilita a subcontratação de 40% da obra,
sendo permitida para qualquer atividade, inclusive para aquelas consideradas relevantes.
Ao contrário do que afirma a unidade técnica, existe previsão para a avaliação da
capacidade técnica da subcontratada. O item 5.3 exige que a consulta quanto à
subcontratação seja acompanhada de qualificação e processo de seleção da sociedade
empresária escolhida. Além disso, a Lei n. 8.666/1993, (art. 72) nem mesmo requer essa
demonstração de qualificação, uma vez que não isenta a contratada original das
responsabilidades contratuais e legais. (g.n.)
Do exposto, entendo que a subcontratada não participa do processo seletivo, não celebrando
contrato com a Administração, mas a contratada, sendo dessa a inteira responsabilidade pelo
compromisso firmado, mesmo na hipótese de subcontratar partes do serviço, e, por isso, não
há que se exigir da subcontratada as condições de habilitação exigidas na licitação, motivo
pelo qual afasto a irregularidade apontada.
Destarte, recomendo aos atuais gestores municipais que atentem para as questões tratadas
neste tópico do presente voto, e promovam a alteração da redação dos seus editais de
licitação, inserindo, quando possível os limites do objeto contratual que poderá ser

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subcontratado, e retirando a possibilidade de cessão ou transferência, total ou parcial do


contrato a outrem.

II.7. Exigência de vínculo entre a licitante e o responsável técnico:

O Representante alegou que o item 9.1.14.2 do edital exigiu que o responsável técnico pela
execução dos serviços tenha vínculo societário, empregatício ou contratual com a licitante,
exigindo, para a comprovação do vínculo contratual, a apresentação de “contrato de prestação
de serviços do(s) profissional(ais) com a licitante, com prazo superior ao período de
experiência previsto na legislação trabalhista” (fls. 01/15, volume 1).
Alegou que a Lei n. 8.666/93 autoriza a exigência editalícia, no sentido de que as empresas
participantes do certame comprovem possuir, em seus quadros permanentes, profissional de
nível superior ou equivalente na qualidade de responsável técnico. No entanto, deixou o
legislador de definir o conceito de “quadros permanentes”, citado em seu art. 30, § 1º, I, tarefa
que ficou a cargo da doutrina e jurisprudência.
Citou os ensinamentos de Marçal Justen Filho no seguinte sentido:
Não é possível, enfim, transformar a exigência de qualificação técnica profissional em
uma oportunidade para garantir “emprego” para certos profissionais. Não se pode
conceber que as empresas sejam obrigadas a contratar, sob vínculo empregatício, alguns
profissionais apenas para participar da licitação. A interpretação ampliativa e rigorosa da
exigência de vínculo trabalhista se configura como uma modalidade de distorção: o
fundamental, para a Administração Pública, é que o profissional esteja em condições de
efetivamente desempenhar seus trabalhos por ocasião da execução do futuro contrato. (...)
É suficiente, então, a existência de contrato de prestação de serviços, sem vínculo
trabalhista e regido pela legislação civil comum.
Assim, concluiu o Representante pela irregularidade da exigência.
O Órgão Técnico, em relatório (fls. 1092/1097, volume 5) considerou irregular a exigência.
Em defesa (fls. 1120, volume 6), os Responsáveis alegaram que a “documentação exigida no
edital [...] teve como objetivo resguardar a Administração e garantir que a empresa a ser
contratada tivesse condições técnicas de adimplir com as obrigações acordadas. ”
Citou o Acórdão n. 285/2000, do Tribunal de Contas da União.
O Órgão Técnico ratificou a irregularidade após exame da defesa apresentada (fl. 1152/1152-
v, volume 6).
Em parecer conclusivo o Parquet (fls. 1163/1164-v, volume 6) aduziu que a defesa
apresentada não trouxe aos autos fatos novos capazes de alterar o entendimento ministerial já
manifestado quando da propositura da Representação.
Vejamos a previsão do item 9.1.14.2 do edital:
9.1.14.2- A licitante deverá comprovar o vínculo societário, empregatício ou contratual
dos profissionais que fazem parte da equipe técnica mediante uma das seguintes formas:
a) Cópia da Carteira de Trabalho e Previdência Social – CTPS;
b) contrato de prestação de serviços do(s) profissional(ais) com a licitante, com prazo
superior ao período de experiência previsto na legislação trabalhista;
c) cópia do contrato social da empresa em que conste o profissional, se integrante da
sociedade.

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Em relação à comprovação da capacidade técnica da licitante permite o art. 30, § 1º, I, da Lei
n. 8.666/93, verbis:
Art. 30. A documentação relativa à qualificação técnica limitar-se-á a:
[...]
§ 1o A comprovação de aptidão referida no inciso II do "caput" deste artigo, no caso das
licitações pertinentes a obras e serviços, será feita por atestados fornecidos por pessoas
jurídicas de direito público ou privado, devidamente registrados nas entidades
profissionais competentes, limitadas as exigências a:
I - capacitação técnico-profissional: comprovação do licitante de possuir em seu quadro
permanente, na data prevista para entrega da proposta, profissional de nível superior ou
outro devidamente reconhecido pela entidade competente, detentor de atestado de
responsabilidade técnica por execução de obra ou serviço de características semelhantes,
limitadas estas exclusivamente às parcelas de maior relevância e valor significativo do
objeto da licitação, vedadas as exigências de quantidades mínimas ou prazos
máximos; (g.n).
[...]
Esta Corte de Contas já se manifestou nas seguintes oportunidades a respeito da exigência
legal supratranscrita, relativa ao profissional pertencente ao “quadro permanente” da licitante
e que enseja, ainda, irregularidades em editais:
Representação. Profissional em quadro permanente. “É necessário que o profissional
indicado para acompanhar a execução de objeto da complexidade do ora licitado tenha
algum tipo de vínculo com a empresa. Tal vínculo não se restringe ao empregatício ou
societário, podendo abranger também profissionais que estejam contratados pela empresa
para desempenhar serviços específicos. Seguindo esta linha de raciocínio, colaciono o
entendimento do parecerista Paulo Antônio Neder, in verbis: Inicialmente, chama-se a
atenção para o fato de não se poder confundir ‘quadro funcional’ com ‘quadro
permanente’. Os prestadores de serviços que constituem o quadro permanente de uma
empresa não são, necessariamente, empregados. Podem pertencer de numerosas maneiras
ao quadro permanente: como sócios, diretores, profissionais, autônomos, etc. A expressão
‘permanente’ não quer dizer outra coisa senão ‘constante’, ‘duradouro’, ‘estável’. (citado
no Processo n. 48500.001181/04-11 – Tomada de Preços n. 07/2004 – ANEEL)”.
(Representação n. 712424. Rel. Conselheira Adriene Andrade. Sessão do dia 13/05/2008)
(g.n.)
Representação. Definição de ‘quadro permanente’. “Relativamente à matéria, Marçal
Justen Filho tem o seguinte entendimento: ‘A autonomia no exercício da profissão
descaracteriza o vínculo empregatício, mas não afasta a qualificação do sujeito como
integrante do quadro permanente. O sujeito não compõe o quadro permanente quando não
estiver disponível para prestar seus serviços de modo permanente, durante a execução do
objeto licitado’. (JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratos
Administrativos. São Paulo: Dialética, 2004, p.327). Deste modo, a interpretação do
dispositivo legal deve ser no sentido de que o profissional deve apresentar os requisitos
necessários para executar uma obra ou serviço, e que esteja disponível nos momentos da
contratação e da execução do objeto contratado. De acordo com Marçal Justen Filho,
supre a exigência legal ‘a existência de contrato de prestação de serviços, sem vínculo
trabalhista e regido pela legislação civil comum’ (op. cit. p. 327)”. (Representação n.
719647. Rel. Conselheiro Antônio Carlos Andrada. Sessão do dia 19/12/2006) (g.n.)
Na mesma linha é a jurisprudência do TCU, conforme se verifica do trecho do Acórdão n.
80/2010 - Plenário:
(...)

Documento assinado por meio de certificado digital, conforme disposições contidas na Medida Provisória 2200-2/2001, na Resolução n.02/2012 e na Decisão Normativa
n.05/2013. Os normativos mencionados e a validade das assinaturas poderão ser verificados no endereço www.tce.mg.gov.br, código verificador n. 1510982
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS

Noutro giro, o edital em análise exige como requisito de qualificação técnica, que a
empresa possua, em seu quadro permanente, na data da licitação, profissional de nível
superior em Engenharia Civil detentor de atestado de responsabilidade técnica ou Acervo
Técnico por execução de obras/serviços com as características técnicas especificadas no
Projeto Básico (...).
(...)
Transcrevo, por oportuno, excerto do Voto condutor daquele decisum, da lavra do Exmo.
Ministro Benjamin Zymler:
“7. Conforme ressaltei na oportunidade em que apreciei a medida cautelar, a Lei n.
8.666/1993 disciplinou de modo minucioso a matéria referente à qualificação técnica e
uma das características mais marcantes dessa norma foi a redução da margem de
liberdade da Administração Pública nesse campo e a limitação do âmbito das exigências.
Com isso, buscou-se evitar que exigências formais e desnecessárias acerca da
qualificação técnica se tornassem instrumento de restrição indevida à liberdade de
participação em procedimentos licitatórios.
O artigo 30, § 1º, inciso I, da Lei n. 8.666/1993, utiliza a expressão “qualificação técnico-
profissional” para indicar a existência, nos quadros permanentes de uma empresa, de
profissionais em cujo acervo técnico conste a responsabilidade pela execução de obras ou
serviços similares àqueles aspirados pelo órgão ou entidade da Administração.
Todavia, há que se atentar para o fato de que a Lei n. 8.666/1993 não define o que seja
“quadro permanente”. Assim, essa expressão poderia ser compreendida como o conjunto
de pessoas ligadas à empresa de modo permanente, sem natureza eventual, por meio de
vínculos de natureza trabalhista e/ou societária. Esse conceito, entretanto, reclama certa
ampliação nas hipóteses em que a autonomia no exercício da profissão descaracteriza o
vínculo empregatício sem afastar a qualificação do sujeito como integrante do quadro
permanente, como é o caso dos profissionais da área de engenharia.
A exigência de que as empresas concorrentes possuam vínculo empregatício, por meio de
carteira de trabalho assinada, com o profissional técnico qualificado mostra-se, ao meu
ver, excessiva e limitadora à participação de eventuais interessados no certame, uma vez
que o essencial, para a Administração, é que o profissional esteja em condições de
efetivamente desempenhar seus serviços no momento da execução de um possível
contrato. Em outros termos, o sujeito não integrará o quadro permanente quando não
estiver disponível para prestar seus serviços de modo permanente durante a execução do
objeto do licitado.
A regra contida no artigo 30, § 1º, inciso I, da Lei n. 8.666/1993, não pode ser tomada em
caráter absoluto, devendo-se sopesá-la diante dos objetivos que se busca alcançar com a
realização das licitações, quais sejam, a garantia de observância ao princípio da isonomia
e a seleção da proposta mais vantajosa para a Administração.
Assim, se o profissional assume os deveres de desempenhar suas atividades de modo a
assegurar a execução satisfatória do objeto licitado, o correto é entender que os requisitos
de qualificação profissional foram atendidos.
Não se pode conceber que as empresas licitantes sejam obrigadas a manter profissionais
de alta qualificação, sob vínculo empregatício, apenas para participar da licitação, pois a
interpretação ampliativa e rigorosa da exigência de vínculo trabalhista se configuraria
como uma modalidade de distorção.
Atender, no caso em tela, à letra fria desse dispositivo, sem considerar os objetivos da
Administração e os limites de exigência de qualificação técnica, suficientes para a
garantia do cumprimento das obrigações, seria desbordar para o formalismo que se basta
em si mesmo, sem ter em vista qualquer outro objetivo consentâneo com o interesse
público.

Documento assinado por meio de certificado digital, conforme disposições contidas na Medida Provisória 2200-2/2001, na Resolução n.02/2012 e na Decisão Normativa
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As exigências de qualificação técnica sejam elas de caráter técnico profissional ou técnico


operacional, portanto, não devem ser desarrazoadas a ponto de comprometer a natureza
de competição que deve permear os processos licitatórios realizados pela Administração
Pública. Devem constituir tão somente garantia mínima suficiente para que o futuro
contratado demonstre, previamente, capacidade para cumprir as obrigações contratuais.
Nesse sentido, entendo que seria suficiente segundo alega a representante, a comprovação
da existência de um contrato de prestação de serviços, sem vínculo trabalhista e regido
pela legislação civil comum.
Esse posicionamento encontra guarida no entendimento segundo o qual a Constituição
Federal somente autoriza exigências que configurem um mínimo de segurança. Portanto,
não há de se admitir exigências que vão além disso com base no argumento de que a
segurança da Administração restaria ampliada, na medida em que o máximo de segurança
corresponderia, inequivocamente, ao máximo da restrição. E essa não é a solução
proclamada pela Carta Magna. (...)” Acórdão 80/2010 Plenário (Voto do Ministro
Relator).
Conforme visto nos Acórdãos transcritos acima, e na doutrina do Prof. Marçal Justen Filho,
não se pode conceber que as empresas licitantes sejam obrigadas a manter profissionais de
alta qualificação, sob vínculo empregatício, apenas para participar da licitação, e mais,
exigindo-se período mínimo de contratação, pois a interpretação ampliativa e rigorosa da
exigência de vínculo trabalhista configura distorção, impondo, inclusive, ônus aos licitantes
que deveriam, assim, contratar profissionais para poderem participar dos procedimentos
licitatórios, sem garantia do sucesso da contratação.
Desse modo, a interpretação do art. 30, § 1º, I, da Lei n. 8.666/93, deve ser no sentido de que
o profissional deve apresentar os requisitos necessários para executar uma obra ou serviço, e
que esteja disponível no momento da contratação e da execução do objeto contratado, não se
devendo exigir a comprovação do vínculo trabalhista por Cópia da Carteira de Trabalho e
Previdência Social ou o vínculo por contrato de prestação de serviço no momento da licitação,
o que impõe um ônus prévio ao licitante.
De todo o exposto, considero irregular a exigência editalícia constante do subitem 9.1.14.2, do
edital, por extrapolar os ditamos do art. 30, § 1º, I, da Lei n. 8.666/93.

II.8. Irregularidade da exigência das certificações descritas nas alíneas “A”,


“B” e “C”, do item 9.1.14 do edital:

Insurgiu-se o Representante contra o item 9.1.14 do edital (fls. 09/10-v, volume 1):
9.1.14 – Indicar profissional(ais) responsável(eis) técnico(s) pela execução dos serviços
com experiência comprovada na realização de serviços compatíveis e semelhantes ao
objeto desta licitação (Art. 30, Inciso I, §1º, Lei 8.666/93)
a) 01(um) profissional com certificação CDIA+ (Certified Ducument Imaging Architect);
b) 01(um) profissional com Capacitação ECMp (Enterprise Content Management
Practioner) ou similar;
c) 02(dois) profissionais com certificação PMP (Project Manager Professional);
d) 01(um) técnico com experiência de no mínimo 02 (dois) anos em gerenciamento de
operação e logística de serviços de impressão e digitalização;
e) 01(um) Analista de sistemas, graduado e com experiência de no mínimo 02 (dois) anos
na operação de Workflow.
9.1.14.1 – A comprovação da capacitação dos profissionais se dará mediante a
apresentação dos certificados acima.

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Assim, as alíneas “a”, “b” e “c” acima transcritas exigiram para habilitação, como requisito de
capacitação técnico profissional, que os responsáveis técnicos da licitante possuíssem
certificação CDIA+, ECMp e PMP.
Informou o Representante que se trata de “certificações fornecidas por entidades privadas,
como a CompTIA Computing Technology Industry Association (Associação da Indústria de
Tecnologia da Computação)9, a AIIM – Association for Information and Image
Management10 e, no caso da certificação PMP, por Instituições de Ensino diversas na área de
gerenciamento de projetos11”. E que “tais certificações atestam que o profissional é capacitado
em métodos e técnicas relativas a planejamento, análise, projeto e implementação de
aplicações de gerenciamento de documentos e gerenciamento de projetos. ”
E, ainda, que tais certificações não são obrigatórias para o exercício de qualquer profissão e a
exigência desses documentos não encontra amparo nos arts. 27 a 31 da Lei n. 8.666/93,
motivo pelo qual torna a exigência como requisito de habilitação técnica ilegal.
O Órgão Técnico corroborou o apontamento pela irregularidade da exigência (fls. 1092/1097,
volume 5).
Em defesa (fl. 1120, volume 6), os Responsáveis alegaram que a “documentação exigida no
edital [...] teve como objetivo resguardar a Administração e garantir que a empresa a ser
contratada tivesse condições técnicas de adimplir com as obrigações acordadas. ”
O Órgão Técnico ratificou a irregularidade após exame da defesa apresentada (fls. 1157v-
1161, volume 6).
Em parecer conclusivo, o Parquet (fls. 1163/1164-v, volume 6) afirmou que a defesa
apresentada não trouxe aos autos fatos novos capazes de alterar o entendimento ministerial já
manifestado quando da propositura da Representação.
Pois bem, em pesquisa na rede mundial de computadores, verifica-se que a CDIA+ é uma
certificação da CompTIA, que “permite que os profissionais de TI validem seu conhecimento
nas imagens de documentos e gerenciamento de documentos. A certificação garante que os
profissionais de TI usem melhores práticas para planejamento, concepção, implementação e
manutenção da infraestrutura de imagens de documentos.”12
A Certificação AIIM ECM Practitioner (ECMp) tem o objetivo de fornecer formação sobre
estratégias, métodos e ferramentas para a gestão de conteúdo. Inclui tecnologias e as melhores
práticas globais para arquitetar informação, digitalização de imagens, metadados, taxonomias,
segurança do conteúdo, gestão de processos e automação, localização, entrega e apresentação
da informação.13
A PMP é uma certificação emitida pelo Project Management Institute (PMI®), com base em
um exame, visando o avanço da profissão de Gerenciamento de Projetos e o reconhecimento
das conquistas individuais nesta área. É a credencial profissional mais reconhecida e
respeitada mundialmente no que tange ao Gerenciamento de Projetos. No ano de 1999, o

9
Informação obtida no site: http://www.arquivar.com.br/sala-de-leitura/dicionario-arquivar/cdia-certifieddocument-imaging-
architect/
10
Informação obtida no site: http://www.imageware.com.br/down/O_programa_ECM_Certificate_da_AIIM.pdf
11
Informação obtida no site: http://pmisp.org.br/certificacao/pmp
12
https://certification.comptia.org/pt/certifica%C3%A7%C3%B5es/cdia
13
https://alunadearquivo.blogspot.com.br/2010/03/voce-possui-certificacao-ecmp.html

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PMI® foi pioneiro no reconhecimento de seu programa de certificação pela International


Organization for Standardization (ISO) 9001.
Verifica-se, de fato, como bem exposto pelo Representante, que as certificações exigidas no
edital em análise não encontram suporte na Lei de Licitações, não podendo ser inseridas no
rol de documentos de habilitação uma vez que não constam como documentos de avaliação da
capacidade técnica, elencados no art. 30.
Às fls. 573/601, volume 3, consta, inclusive, recurso interposto pela licitante Printec
Tecnologia da Impressão Ltda., arguindo exatamente a ilegalidade das exigências em
comento, muito embora o momento oportuno para a discussão, com vistas à alteração das
exigências habilitatórias fosse anterior à fase de lances, isto é, por meio de impugnação ao
instrumento convocatório. Destarte, o recurso não fora conhecido, em razão de “retificação do
ato de credenciamento” da Recorrente, em razão de vício (fl. 638, volume 3).
Assim, as certificações em comento poderiam ser incluídas em edital de licitação para ser
avaliadas por pontuação técnica, e, nesse caso, a Administração teria que utilizar o tipo de
julgamento técnica e preço ou melhor técnica, jamais o pregão, que só admite o critério de
julgamento do menor preço.
Por esse motivo, considero irregular a exigência do item 9.1.14, alíneas “a”, “b” e “c” do
edital, por extrapolar a documentação de habilitação permitida pelos arts. 27 a 31 da Lei n.
8.666/93.

II.9. Irregularidade da exigência do prazo de experiência previsto nas alíneas


“D”, e “E” do item 9.1.14 do edital.

Insurgiu-se o Representante (fls. 11/11-v, volume 1), em face do item 9.1.14, alíneas “d” e
“e”, do edital, a respeito do tempo de experiência dos profissionais, vejamos:
9.1.14 – Indicar profissional(ais) responsável(eis) técnico(s) pela execução dos serviços
com experiência comprovada na realização de serviços compatíveis e semelhantes ao
objeto desta licitação (Art. 30, Inciso I, §1º, Lei 8.666/93)
[...]
d) 01 (um) Técnico com experiência de no mínimo 02(dois) anos em gerenciamento de
operação e logística de serviços de impressão e digitalização;
e) 01 (um) Analista de sistemas, graduado e com experiência de no mínimo 02 (dois)
anos na operação de Workflow.
Arguiu que não se pode exigir tempo de experiência profissional dos responsáveis técnicos
que irão executar os serviços como requisito de qualificação técnica profissional,
reafirmando-se neste item a mesma fundamentação já invocada em relação às alíneas “a”, “b”
e “c” do mesmo item 9.1.14 do edital, ou seja, só se pode exigir como condição de habilitação
a documentação especificada nos arts. 27 a 31 da Lei n. 8.666/93.
E, ainda, que o art. 30, § 5º, do mesmo diploma legal dispõe expressamente que,
§ 5º É vedada a exigência de comprovação de atividade ou de aptidão com limitações de
tempo ou de época ou ainda em locais específicos, ou quaisquer outras não previstas nesta
Lei, que inibam a participação na licitação.
Concluiu ser ilegal para fins de qualificação técnica profissional, a exigência do prazo de
experiência previsto nas alíneas “d” e “e”, do item 9.1.14 do edital.
O Órgão Técnico, em análise, considerou o apontamento irregular (fls. 1092/1097).

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Em defesa (fl. 1120), os Responsáveis alegaram que a “documentação exigida no edital [...]
teve como objetivo resguardar a Administração e garantir que a empresa a ser contratada
tivesse condições técnicas de adimplir com as obrigações acordadas. ”
O Órgão Técnico ratificou a irregularidade após exame da defesa apresentada (fl. 1160/1161,
volume 6).
Em parecer o Parquet (fls. 1163/1164-v, volume 6) concluiu que a defesa apresentada não
trouxe aos autos fatos novos capazes de alterar o entendimento ministerial já manifestado
quando da propositura da Representação.
Vejamos a redação constante do Estatuto de Licitações, a respeito da capacidade técnico-
profissional:
Art. 30. A documentação relativa à qualificação técnica limitar-se-á a:
[...]
II - comprovação de aptidão para desempenho de atividade pertinente e compatível em
características, quantidades e prazos com o objeto da licitação, e indicação das instalações
e do aparelhamento e do pessoal técnico adequados e disponíveis para a realização do
objeto da licitação, bem como da qualificação de cada um dos membros da equipe técnica
que se responsabilizará pelos trabalhos;
[...]
§ 1o A comprovação de aptidão referida no inciso II do "caput" deste artigo, no caso das
licitações pertinentes a obras e serviços, será feita por atestados fornecidos por pessoas
jurídicas de direito público ou privado, devidamente registrados nas entidades
profissionais competentes, limitadas as exigências a:
I - capacitação técnico-profissional: comprovação do licitante de possuir em seu quadro
permanente, na data prevista para entrega da proposta, profissional de nível superior ou
outro devidamente reconhecido pela entidade competente, detentor de atestado de
responsabilidade técnica por execução de obra ou serviço de características semelhantes,
limitadas estas exclusivamente às parcelas de maior relevância e valor significativo do
objeto da licitação, vedadas as exigências de quantidades mínimas ou prazos máximos;
(g.n.).
[...]
Pois bem, valho-me dos ensinamentos de Marçal Justen Filho que leciona, a respeito do §1º,
I, do art. 30, concluindo no sentido de que o mesmo refere-se, exclusivamente, à capacitação
técnico profissional, diferenciando-se da capacitação técnico operacional, pois a confusão
entre os dois termos aconteceu em razão da revogação da alínea “b” (do § 1º do art. 30 da Lei
n. 8.666/93), e posteriormente do inciso II (que seria incluído no § 1º do art. 30 da Lei n.
8.666/93, pela Lei n. 8.883), que tratavam justamente da capacitação técnico operacional.
São esses os dizeres de Marçal Justen Filho14:
Uma interpretação que se afigura excessiva é aquela de que a capacitação técnica
operacional não pode envolver quantitativos mínimos, locais ou prazos máximos. Ou
seja, admite-se a exigência de comprovação de experiência anterior, mas se proíbe que o

14
JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos. 11. ed. Dialética, p.
330/331.

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edital condicione a experiência anterior relativamente a dados quantitativos, geográficos


ou de natureza similar.
Esse entendimento deriva da aplicação da parte final do inc. I do § 1º, que explicitamente
estabelece tal vedação. Ocorre que esse dispositivo disciplina específica e exclusivamente
a capacitação técnica profissional. Ou seja, proíbe que a experiência anterior exigida dos
profissionais seja restringida através de quantitativos, prazos e assim por diante. O inc. I
do § 1º não se refere nem atinge a disciplina da qualificação técnica operacional. Logo,
dele apenas se podem extrair regras acerca da qualificação técnica profissional. (g.n.)
Na hipótese de exigência de capacidade técnico operacional o inciso II do art. 30 da Lei n.
8.666/93, permite para a comprovação da compatibilidade de aptidão para desempenho de
serviços equivalentes, a definição de quantidades, características e prazos relacionados com o
objeto da licitação.
No entanto, o edital sub examine exigiu a comprovação da capacitação técnico profissional,
delimitando 2 (dois) anos de experiência para os técnicos, conforme subitem 9.1.14, alíneas
“d” e “e”, infringindo exatamente a parte final do dispositivo, inciso I do § 1º do art. 30, que
não permite limitações de quantidades mínimas ou prazos máximos.
De todo o exposto, considero irregular a exigência editalícia, por extrapolar os ditames do
inciso I do § 1º do art. 30 da Lei n. 8.666/93.

II.10. Ausência de parcelamento d o objeto, adoção do critério de julgamento


menor preço global e contratação isolada do item descrito no item 02 da ata
de registro de preços:

Na peça exordial (fls. 11-v/14, volume 1), o Representante alegou ausência do parcelamento
do objeto, citando que o modelo de proposta comercial, Anexo VII do edital (fls. 249), traz o
objeto licitado decomposto em 4 itens: (i) item 01 - software de gestão de documentos
eletrônicos; (ii) item 02 - equipamentos de impressão; (iii) item 03 - digitalização incluindo
assinatura digital nas imagens e fé pública; e (iv) item 04 - customização, implantação e
desenvolvimento.
Muito embora o objeto esteja dividido em quatro itens, alegou que o instrumento
convocatório adotou o critério de julgamento do tipo “menor preço global”.
Citou a Súmula n. 114 desta Corte de Contas que dispõe:
É obrigatória a realização de licitação por itens ou por lotes, com exigências de
habilitação proporcionais à dimensão de cada parcela, quando o objeto da contratação for
divisível e a medida propiciar melhor aproveitamento dos recursos disponíveis no
mercado e a ampla participação de licitantes, sem perda da economia de escala, adotando-
se, em cada certame, a modalidade licitatória compatível com o valor global das
contratações.
Ressaltou que a possibilidade de divisibilidade do objeto licitado, in casu, pode ser
comprovada mediante o exame dos Contratos n. 042/2014 (fls. 662/671, volume 3) e
060/2014 (fls. 680/689, volume 3), bem como do aditivo n. 029/2014 (1º termo aditivo ao
contrato n. 060/2014, fls. 979/980, volume 5), uma vez que na cláusula que estabelece o
objeto dos contratos encontram-se descritos apenas os itens constantes nos itens 2.1 a 2.8 da
Ata de Registro de Preços (fls. 644/648, volume 3), que correspondem exclusivamente à
locação e manutenção de equipamentos de impressão.
E citou, ainda, o depoimento prestado nos autos do Inquérito Civil n. 0319.14.00005-4, que
tramita na 2ª Promotoria de Justiça da Comarca de Itabirito, em que a Sra. Josiane Braga
Ribeiro Barbosa, Pregoeira à época do certame, declarou o seguinte (fls. 1080/1081, volume

Documento assinado por meio de certificado digital, conforme disposições contidas na Medida Provisória 2200-2/2001, na Resolução n.02/2012 e na Decisão Normativa
n.05/2013. Os normativos mencionados e a validade das assinaturas poderão ser verificados no endereço www.tce.mg.gov.br, código verificador n. 1510982
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5): “Que as máquinas locadas atualmente são da STOQUE; Que apenas esta parte dos
serviços registrados foi contratada; Que somente foi contratado o lote alusivo à locação de
máquinas; Que serviços de digitalização e outros não restaram contratados pelo Município;
Que somente foi realizado um Registro de Preço; Que a necessidade atual do Município
concerne apenas à locação de máquinas. ”
Concluiu que inúmeras empresas no mercado atuam na locação de impressoras
multifuncionais, e a licitação de tal serviço em item isolado promoveria maior
competitividade no certame. A adoção do tipo menor preço global acarretou a elevação do
valor total estimado dos serviços, e das exigências de habilitação técnica e financeira,
afastando do certame empresas que poderiam executar isoladamente um dos serviços
licitados.
E, assim, pugnou pela irregularidade do não parcelamento do objeto do certame sem robusta
justificativa técnica e econômica, em afronta ao art. 23, §1º, da Lei n. 8.666/93.
O Órgão Técnico corroborou o apontamento pela irregularidade da exigência (fls. 1092/1097,
volume 5).
Em sua defesa os Representados (fls. 1120/1121, volume 6) alegaram que a Administração
optou pelo critério de julgamento do menor preço global para melhor atendimento e eficácia
na prestação dos serviços, e que, para essa opção fora analisado o mercado, de forma a não
restringir a competição, e que os itens agrupados guardam similaridade e relação entre si, com
características de mesma natureza, não comprometendo a competitividade do certame.
O Órgão Técnico ratificou a irregularidade em exame da defesa (fl. 1160/1161-v, volume 6).
Em parecer conclusivo (fls. 1163/1164-v, volume 6) o Parquet aduziu que a defesa
apresentada não trouxe aos autos fatos novos capazes de alterar o entendimento ministerial já
manifestado quando da propositura da Representação.
Corroboro o entendimento do Representante e do Órgão Técnico.
Verifica-se que o instrumento convocatório não dividiu o objeto em itens ou lotes, em seu
título I, “Do Objeto”, tampouco o Anexo I do edital, Termo de Referência. No entanto, de
fato, como alegou o Representante, o Anexo VII, modelo de “Proposta Comercial” registra o
objeto dividido em 4 (quatro) itens, com campos para os valores totais por item, e valor
global.
Também o item 8.1 do edital, título VIII, “Do Julgamento das Propostas”, informa que o
julgamento será “MENOR PREÇO GLOBAL”, não deixando dúvida acerca da
indivisibilidade do objeto. Dessa forma, a empresa Stoque Soluções Tecnológicas Ltda. foi a
adjudicatária dos quatro itens conforme verifica-se na ata de registro de preços às fls.
644/646, volume 3, ao valor global de R$ 6.203.730,00 (seis milhões, duzentos e três mil,
setecentos e trinta reais).
E, em relação ao parcelamento do objeto, prevê o § 1º, do art. 23, da Lei n. 8.666/93,
§ 1º As obras, serviços e compras efetuadas pela Administração serão divididas em tantas
parcelas quantas se comprovarem técnica e economicamente viáveis, procedendo-se à
licitação com vistas ao melhor aproveitamento dos recursos disponíveis no mercado e à
ampliação da competitividade sem perda da economia de escala. (g.n.)
À luz do artigo mencionado, o parcelamento do objeto, traduzido na contratação de mais de
uma empresa, indica o atendimento a dois fatores cumulativos: o melhor aproveitamento dos
recursos disponíveis no mercado e a ampliação da competitividade. Ambos estando presentes

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impera a necessidade de atender ao interesse público parcelando a execução do objeto, que


constituirá uma vantagem para a Administração.
O administrativista Jessé Torres Pereira Júnior tem o seguinte posicionamento sobre o tema:
Por conseguinte, parcelar a execução, nessas circunstâncias, é dever a que não se furtará
a Administração sob pena de descumprir princípios específicos da licitação, tal como o
da competitividade. Daí a redação trazida pela Lei n. 8.883/94 haver suprimido do texto
anterior a ressalva “a critério e por conveniência da Administração”, fortemente
indicando que não pode haver discrição (parcelar ou não) quando o interesse público
decorrer superiormente atendido do parcelamento. Este é de rigor, com evidente apoio
no princípio da legalidade.15 (g.n.)
Na mesma linha é o entendimento de Marçal Justen Filho, verbis:
O art. 23, § 1º, impõe o fracionamento como obrigatório. (...). O fracionamento conduz à
licitação e contratação de objetos de menor dimensão quantitativa, qualitativa e
econômica. Isso aumenta o número de pessoas em condições de disputar a contratação,
inclusive pela redução dos requisitos de habilitação (...). Trata-se não apenas de realizar
o princípio da isonomia, mas da própria eficiência. A competição produz redução de
preços e se supõe que a Administração desembolsará menos, em montantes globais,
através da realização de uma multiplicidade de contratos de valor inferior do que pela
pactuação de contratação única.16 (g.n.)
Esse entendimento está consubstanciado na Súmula n. 114 desta Corte de Contas, já citada
acima e, também, na Súmula n. 247 do TCU, com o seguinte teor:
É obrigatória a admissão da adjudicação por item e não por preço global, nos editais das
licitações para a contratação de obras, serviços, compras e alienações, cujo objeto seja
divisível, desde que não haja prejuízo para o conjunto ou complexo ou perda de economia
de escala, tendo em vista o objetivo de propiciar a ampla participação de licitantes que,
embora não dispondo de capacidade para a execução, fornecimento ou aquisição da
totalidade do objeto, possam fazê-lo com relação a itens ou unidades autônomas, devendo
as exigências de habilitação adequar-se a essa divisibilidade.
Do contrário, afastando-se a obrigação legal do parcelamento, resta obrigatória a motivação
relativa à inviabilidade técnica e econômica para a divisão do objeto em itens ou lotes, a ser
previamente elaborada e juntada aos autos do processo licitatório.
É nesse sentido os seguintes excertos de julgados do TCE/MT e do TCU:
Depara-se, portanto, que o edital abrange uma diversidade de objetos com características
técnicas distintas, sem interferências e, que diante de sua independência, deveriam ser
licitados de forma parcelada. (...) Assim, a intenção do legislador é que a licitação seja
sempre realizada de forma parcelada quando houver viabilidade técnica e econômica,
observada a modalidade pertinente para o valor total da contratação. Em outras palavras,
a lei estabelece que o administrador deve demonstrar a inviabilidade técnica e econômica da
divisibilidade, quando deixar de adotar o parcelamento . (TCE/MT - Processo n.
30503/2008). (g.n.)

15
PEREIRA JÚNIOR, Jessé Torres. Comentários à Lei das Licitações e contratações da Administração Pública. 6. ed.
Renovar, 2003, p. 250.
16
JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos. 8. ed. Dialética,
2000.

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O TCU determinou ao Ministério da Fazenda que, nas licitações cujo objeto fosse
divisível, previamente à definição da forma de adjudicação a ser adotada, realizasse
estudos que comprovassem as vantagens técnicas e econômicas da compra em lote único,
comparativamente à parcelada, a fim de atender ao disposto no art. 23, § 1º, da Lei n.
8.666/1993, e à Súmula/TCU n. 247 (item 9.2, TC-015.663/2006-9, Acórdão n.
3.140/2006-TCU-1ª Câmara) (g.n).
Nessa esteira, coaduno-me ao entendimento do Representante, pois, veja-se que, no mínimo,
seria possível a divisão do objeto em lotes relativos ao (i) software de gestão de documentos
eletrônicos; (ii) equipamentos de impressão, que não tem relação alguma com o anterior, e,
tampouco com (iii) digitalização com assinatura digital nas imagens e fé pública.
Corrobora nosso entendimento o depoimento prestado pela Pregoeira do município, à época
do certame, Sra. Josiane Braga Ribeiro Barbosa (fls. 1080/1081, volume 5), como bem
mencionou o Representante, nos autos do Inquérito Civil n. 0319.14.00005-4, que tramita na
2ª Promotoria de Justiça da Comarca de Itabirito, em que declarou que “somente foi
contratado o lote alusivo à locação de máquinas; Que serviços de digitalização e outros não
restaram contratados pelo Município; [...] Que a necessidade atual do Município concerne
apenas à locação de máquinas.”
Verifica-se que, empresas que atuam somente em um dos segmentos do objeto poderiam ter
participado do certame, ampliando a competitividade, ofertando preços que, em razão da
maior concorrência, de fato proporcionassem maior economia à Administração.
Diante da ausência de parcelamento do objeto licitado, em itens ou lotes, e falta de
comprovação pelos Representados por elementos técnicos pela eventual impossibilidade, e
julgamento da licitação pelo critério de menor preço global, item 8.1, do edital, concluo pela
irregularidade do apontamento, por violação ao § 1º do art. 23 da Lei n. 8.666/93 e à Súmula
n. 114 desta Corte.

III – CONCLUSÃO

Por todo o exposto, voto pela procedência parcial da presente Representação, em


decorrência de infringência à Lei n. 8.666/93, bem como aos princípios basilares da
Administração Pública, conforme apurado, e pela aplicação de multa pessoal ao Sr. Alexander
Silva Salvador de Oliveira, Prefeito Municipal, autoridade que homologou o certame (fl. 653-
v, volume 3), Sr. Valdir José de Morais, Secretário Municipal de Administração, subscritor do
edital (fl. 95, volume 1), signatário do contrato (fls. 662/671 e 680/689, volume 3) e
ordenador da despesa (fls. 693/694, volume 4), e Sra. Josiane Braga Ribeiro Barbosa,
Pregoeira (fl. 173, volume 1), nos termos do art. 85, II, do Regimento Interno, no valor total
de R$4.000,00 (quatro mil reais), para cada um, sendo R$1.000,00 (mil reais), por cada
irregularidade elencada, quais sejam:
a) exigência de vínculo entre a licitante e o responsável técnico, item 9.1.14.2 do edital, por
extrapolar os ditames do art. 30, § 1º, I, da Lei n. 8.666/93;
b) exigência das certificações exigidas no item 9.1.14, alíneas “a”, “b” e “c”, por extrapolar a
documentação de habilitação permitida nos arts. 27 a 31, da Lei n. 8.666/93;
c) exigência de prazo de experiência dos responsáveis técnicos prevista no item 9.1.14,
alíneas “d” e “e”, como qualificação técnica profissional, por extrapolar os ditames do inciso I
do § 1º do art. 30 da Lei n. 8.666/93;
d) ausência de parcelamento do objeto licitado, em itens ou lotes, e falta de comprovação de
elementos técnicos pela eventual impossibilidade, e critério de julgamento menor preço

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global, item 8.1, do edital, por violação ao § 1º do art. 23 da Lei n. 8.666/93 e Súmula n. 114
desta Corte.
Ressalto que o valor global da contratação somou R$6.203.730,00 (seis milhões, duzentos e
três mil, setecentos e trinta reais), conforme ata de registro de preços de fls. 644/648, volume
3, muito embora somente dois itens, totalizando R$497.608,00 (quatrocentos e noventa e sete
mil, seiscentos e oito reais), tenham sido efetivamente contratados (fls. 693/694, volume 4).
Recomendo, aos atuais gestores:
a) ampliar as formas de pesquisa de preços nos procedimentos licitatórios, não restringindo,
somente, à consulta aos fornecedores como forma de aferição das condições do mercado,
utilizando, também, outros meios (internet, preços praticados por outros órgãos públicos e
entidades, preços registrados em atas de registro de preços, bancos de preços, preços
contratados pelo próprio órgão promotor da licitação), buscando um quantitativo maior de
orçamentos. Assim, busca-se a real estimativa de preço de mercado, servindo como parâmetro
para que o gestor público realize uma contratação vantajosa;
b) juntar a documentação comprobatória da pesquisa de preços, obrigatoriamente, nos autos
dos processos licitatórios, permitindo a consulta pelos interessados, tornando eficiente e eficaz
o controle interno e externo, observando-se os princípios da transparência e da publicidade.
Deve-se considerar, ainda, que nas modalidades licitatórias da Lei n. 8.666/93 o orçamento
estimado em planilhas de quantitativos e preços unitários deve constituir anexo do edital, não
devendo, apenas, ser juntado aos autos, nos termos do inciso II, § 2º, do art. 40, do mesmo
diploma legal.
c) juntar a planilha de composição de custos unitários nos autos do processo licitatório na
modalidade Pregão, informando, no instrumento convocatório, impreterivelmente, o local de
acesso para conhecimento pelos interessados, irrestritamente divulgado e franqueado pela
Administração, em decorrência da aplicação do princípio da publicidade e da transparência,
efetivando-se a ampla competitividade e isonomia, permitindo a promoção do controle social
sobre os atos da administração pública. Destarte, não se está a contrariar a legislação do
Pregão a divulgação das planilhas de quantitativos e custos unitários como anexo do edital;
d) exigir, em relação à documentação de habilitação, somente documentos comprobatórios da
regularidade fiscal e à Justiça do Trabalho, o que permite a apresentação de certidões
negativas e positivas com efeito de negativas, nos termos do art. 29 da Lei n. 8.666/93.
e) atentar para as questões tratadas neste voto quanto à subcontratação e cessão do objeto
contratual, promovendo a alteração da redação dos seus editais de licitação, inserindo, quando
possível, os limites do objeto contratual que poderá ser subcontratado, e retirando a
possibilidade de cessão ou transferência, total ou parcial do contrato a outrem.
Intimem-se as partes e procuradores desta decisão nos termos do art. 166, §1º, inciso I, do
Regimento Interno desta Corte.
Ultimadas as providências, determino o arquivamento dos autos nos termos do art. 176, I, do
Regimento Interno.

CONSELHEIRO JOSÉ ALVES VIANA:


Voto de acordo com Vossa Excelência, Senhor Presidente.

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CONSELHEIRO GILBERTO DINIZ:


Relativamente à prova de vínculo profissional do responsável técnico com a licitante, item
II.7, o edital da Concorrência Pública n. 003/2013 prevê a possibilidade de o profissional ser
empregado, sócio ou até prestador vinculado por meio de contrato de prestação de serviços,
conforme se verifica no subitem 9.1.14.2:
9.1.14.2- A licitante deverá comprovar o vínculo societário, empregatício ou contratual dos
profissionais que fazem parte da equipe técnica mediante uma das seguintes formas:
a) Cópia da Carteira de Trabalho e Previdência Social – CTPS;
b) contrato de prestação de serviços do(s) profissional(ais) com a licitante, com prazo superior
ao período de experiência previsto na legislação trabalhista;
c) cópia do contrato social da empresa em que conste o profissional, se integrante da
sociedade.
Dessa forma, tendo sido admitidas três hipóteses para comprovação do vínculo do responsável
técnico com o licitante, quais sejam: trabalhista, contratual ou societário, não considero
irregular a exigência editalícia, porquanto tal previsão se encontra em conformidade com a
jurisprudência desta Corte no Processo n. 896377 e do TCU, conforme assentado nos
Acórdãos n. 1393/2010-Plenário, 361/2006-Plenário, 170/2007-Plenário, 892/2008-Plenário,
Acórdão 103/2009-Plenário, não sendo, portanto, caso de apenar os responsáveis nesse
particular.
Ademais, considerando as atribuições legalmente reservadas ao pregoeiro e que, in casu, esse
agente público não subscreveu o edital da licitação em exame, bem assim que as
irregularidades verificadas nos autos se referem a exigências consubstanciadas em cláusulas
editalícias, deixo de sancionar a Pregoeira, Sra. Josiane Braga Ribeiro Barbosa.
Assim, acompanho o Relator em parte, pois não considero irregular o apontamento relativo à
exigência de comprovação de vínculo entre o licitante e o responsável técnico, conforme
consta na alínea “a” da parte dispositiva de seu voto, e, consequentemente, não aplico multa
aos responsáveis pela condução do certame, nesse particular, bem como deixo de apenar a
Pregoeira, Sra. Josiane Braga Ribeiro Barbosa, pelas irregularidades verificadas nos autos,
pois entendo que agiu em conformidade com o princípio da vinculação ao instrumento
convocatório, ato que não foi subscrito por ela, repita-se.
É como voto.

CONSELHEIRO PRESIDENTE WANDERLEY ÁVILA:


APROVADO O VOTO DO RELATOR. VENCIDO, EM PARTE, O CONSELHEIRO
GILBERTO DINIZ.

(PRESENTE À SESSÃO O PROCURADOR DANIEL DE CARVALHO GUIMARÃES)

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ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, ACORDAM os Exmos. Srs. Conselheiros da
Segunda Câmara, por maioria de votos, na conformidade da Ata de Julgamento e das Notas
Taquigráficas, e diante das razões expendidas no voto do Relator, em: I) julgar parcialmente
procedente a Representação, em decorrência de infringência à Lei n. 8.666/93, bem como aos
princípios basilares da Administração Pública, conforme apurado; II) aplicar multa pessoal ao
Sr. Alexander Silva Salvador de Oliveira, Prefeito Municipal, autoridade que homologou o
certame (fl. 653-v, volume 3); ao Sr. Valdir José de Morais, Secretário Municipal de
Administração, subscritor do edital (fl. 95, volume 1), signatário do contrato (fls. 662/671 e
680/689, volume 3) e ordenador da despesa (fls. 693/694, volume 4); e à Sra. Josiane Braga
Ribeiro Barbosa, Pregoeira (fl. 173, volume 1), nos termos do art. 85, II, do Regimento
Interno, no valor total de R$4.000,00 (quatro mil reais), para cada um, sendo R$1.000,00 (mil
reais), por cada irregularidade elencada, quais sejam: a) exigência de vínculo entre a licitante
e o responsável técnico, item 9.1.14.2 do edital, por extrapolar os ditames do art. 30, § 1º, I,
da Lei n. 8.666/93; b) exigência das certificações exigidas no item 9.1.14, alíneas “a”, “b” e
“c”, por extrapolar a documentação de habilitação permitida nos arts. 27 a 31, da Lei n.
8.666/93; c) exigência de prazo de experiência dos responsáveis técnicos prevista no item
9.1.14, alíneas “d” e “e”, como qualificação técnica profissional, por extrapolar os ditames do
inciso I do § 1º do art. 30, da Lei n. 8.666/93; d) ausência de parcelamento do objeto licitado,
em itens ou lotes, e falta de comprovação de elementos técnicos pela eventual
impossibilidade, e critério de julgamento menor preço global, item 8.1, do edital, por violação
ao § 1º do art. 23 da Lei n. 8.666/93 e Súmula n. 114 desta Corte. Ressaltam que o valor
global da contratação somou R$6.203.730,00 (seis milhões, duzentos e três mil, setecentos e
trinta reais), conforme ata de registro de preços de fls. 644/648, volume 3, muito embora
somente dois itens, totalizando R$497.608,00 (quatrocentos e noventa e sete mil, seiscentos e
oito reais), tenham sido efetivamente contratados (fls. 693/694, volume 4); III) recomendar
aos atuais gestores: a) ampliar as formas de pesquisa de preços nos procedimentos licitatórios,
não restringindo, somente, à consulta aos fornecedores como forma de aferição das condições
do mercado, utilizando, também, outros meios (internet, preços praticados por outros órgãos
públicos e entidades, preços registrados em atas de registro de preços, bancos de preços,
preços contratados pelo próprio órgão promotor da licitação), buscando um quantitativo maior
de orçamentos. Assim, busca-se a real estimativa de preço de mercado, servindo como
parâmetro para que o gestor público realize uma contratação vantajosa; b) juntar a
documentação comprobatória da pesquisa de preços, obrigatoriamente, nos autos dos
processos licitatórios, permitindo a consulta pelos interessados, tornando eficiente e eficaz o
controle interno e externo, observando-se os princípios da transparência e da publicidade e
que nas modalidades licitatórias da Lei n. 8.666/93 o orçamento estimado em planilhas de
quantitativos e preços unitários deve constituir anexo do edital, não devendo, apenas, ser
juntado aos autos, nos termos do inciso II, § 2º, do art. 40, do mesmo diploma legal; c) juntar
a planilha de composição de custos unitários nos autos do processo licitatório na modalidade
Pregão, informando no instrumento convocatório, impreterivelmente, o local de acesso para
conhecimento pelos interessados, irrestritamente divulgado e franqueado pela Administração,
em decorrência da aplicação do princípio da publicidade e da transparência, efetivando-se a
ampla competitividade e isonomia, permitindo a promoção do controle social sobre os atos da
administração pública. Destarte, não se está a contrariar a legislação do Pregão a divulgação
das planilhas de quantitativos e custos unitários como anexo do edital; d) exigir, em relação à
documentação de habilitação, somente documentos comprobatórios da regularidade fiscal e à

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Justiça do Trabalho, o que permite a apresentação de certidões negativas e positivas com


efeito de negativas, nos termos do art. 29, da Lei n. 8.666/93; e) atentar para as questões
quanto à subcontratação e cessão do objeto contratual, promovendo a alteração da redação dos
seus editais de licitação, inserindo, quando possível, os limites do objeto contratual que
poderá ser subcontratado, e retirando a possibilidade de cessão ou transferência, total ou
parcial do contrato a outrem. Intimem-se as partes e procuradores desta decisão nos termos do
art. 166, §1º, inciso I, do Regimento Interno desta Corte. Ultimadas as providências,
determino o arquivamento dos autos nos termos do art. 176, I, do Regimento Interno.
Vencido, em parte, o Conselheiro Gilberto Diniz.

Plenário Governador Milton Campos, 7 de junho de 2018.

WANDERLEY ÁVILA
Presidente e Relator
(assinado eletronicamente)

SR/

CERTIDÃO
Certifico que a Súmula desse Acórdão
foi disponibilizada no Diário Oficial de
Contas de ___/___/______, para ciência
das partes.
Tribunal de Contas, ___/___/_____.
_________________________________
Coordenadoria de Sistematização de
Deliberações e Jurisprudência

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