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QUEIROZ DE MORAES
Os números do Digesto são superlativos: 2.000 livros empregados; 3
MANUAL DE
milhões de linhas de texto lidas; 3 anos de trabalho da comissão de 17
membros; 50 livros divididos em 432 títulos na versão final (um total de
150.000 linhas com 9.132 textos); 92 juristas com ideias referidas; 39 juristas
com obras diretamente empregadas; síntese de quase 1.300 anos de evolução
do direito romano; quase 1.500 de vigência.
Mas o Digesto não é só uma sequência de números. É um símbolo de
MORAES
INTRODUÇÃO AO DIGESTO
bbqm@usp.br
iusromanum@hotmail.com
ÍNDICE GERAL
I. INTRODUÇÃO _____________________________________________________ 12
II. CARACTERÍSTICAS GERAIS DO DIGESTO _____________________________ 15
1. NECESSIDADE DE ELABORAÇÃO __________________________________________________ 15
2. FORMA DE ELABORAÇÃO______________________________________________________ 19
2.1. Parâmetros de Justiniano – Const. “Deo auctore” ___________________________ 19
2.1.1. Constituição de uma comissão _____________________________________________ 19
2.1.2. Conteúdo da compilação _________________________________________________ 20
2.1.3. Distribuição da matéria e “valor” dos juristas __________________________________ 21
2.1.4. Interpolações __________________________________________________________ 22
2.1.5. Nome da compilação ____________________________________________________ 27
2.1.6. Abreviaturas e números __________________________________________________ 28
2.2. Método da comissão _________________________________________________ 29
2.3. Ordem seguida pelos compiladores ______________________________________ 36
2.3.1. Relação de obras que compuseram as massas __________________________________ 36
2.3.2. Massa sabiniana ________________________________________________________ 48
2.3.3. Massa edital ___________________________________________________________ 57
2.3.4. Massa papinianeia ______________________________________________________ 68
2.3.5. Apêndice _____________________________________________________________ 74
2.3.6. As massas nos títulos do Digesto ___________________________________________ 75
3. PROMULGAÇÃO – CONSTITUIÇÕES INTRODUTÓRIAS ____________________________________ 108
3.1. Const. “Omnem”___________________________________________________ 108
3.2. Const. “Tanta” e Const. “Δέδωκεν” ____________________________________ 109
3.2.1. Inserção no conjunto do “Corpus iuris civilis” ________________________________ 109
3.2.2. Comissão triboniana ___________________________________________________ 110
3.2.3. Versão grega __________________________________________________________ 112
3.2.4. Data de promulgação e vigência___________________________________________ 113
4. DIVISÕES INTERNAS ________________________________________________________ 114
4.1. Livros, títulos e fragmentos ___________________________________________ 114
4.2. As sete partes do Digesto _____________________________________________ 116
4.3. “Index titulorum”: títulos do Digesto traduzidos ___________________________ 118
5. IMPORTÂNCIA PRÁTICA ATUAL DO ESTUDO DA COMPILAÇÃO _______________________________ 139
5.1. Momento atual dos estudos romanísticos no Brasil _________________________ 139
5.2. Razões atuais para o estudo do direito romano _____________________________ 141
5.2.1. Conhecimento do passado para compreensão do presente _______________________ 144
5.2.2. Modelo de comparação para crítica do presente _______________________________ 146
5.2.3. Base para harmonização do direito _________________________________________ 149
5.2.4. A importância da compilação em si ________________________________________ 151
III. JURISTAS E SUAS OBRAS _________________________________________ 153
1. RELAÇÃO ALFABÉTICA DE JURISTAS CITADOS NO DIGESTO _________________________________ 155
1.1. Africano __________________________________________________________ 157
1.2. Alfeno ___________________________________________________________ 158
6 MORAES – Manual de Introdução ao Digesto
7. INGLÊS________________________________________________________________ 339
7.1. Monro – Buckland _________________________________________________ 339
7.2. Scott ____________________________________________________________ 340
7.3. Watson __________________________________________________________ 341
8. ITALIANO ______________________________________________________________ 342
8.1. Foramiti__________________________________________________________ 343
8.2. Vignali ___________________________________________________________ 344
8.3. Avvocati italiani ____________________________________________________ 345
8.4. Schipani – Lantella – Petrucci – Saccoccio ________________________________ 346
9. JAPONÊS ______________________________________________________________ 348
9.1. Haruki ___________________________________________________________ 348
9.2. Enami ___________________________________________________________ 349
10. MANDARIM ___________________________________________________________ 350
10.1. Schipani (seleção) _________________________________________________ 350
10.2. Schipani (integral) _________________________________________________ 351
11. POLONESA: PALMIRSKI _____________________________________________________ 352
12. RUSSO_______________________________________________________________ 353
12.1. Pereterskij _______________________________________________________ 354
12.2. Kofanov _________________________________________________________ 354
VI. FORMAS DE CITAÇÃO E TRANSCRIÇÃO _____________________________ 357
1. CITAÇÃO DOS FRAGMENTOS ___________________________________________________ 357
2. TRANSCRIÇÃO DOS FRAGMENTOS________________________________________________ 361
VII. ETAPAS DA EXEGESE ____________________________________________ 362
1. PESQUISA E SELEÇÃO DO FRAGMENTO – LEVANTAMENTO DA LITERATURA _______________________ 363
2. LEITURA DAS EDIÇÕES CRÍTICAS EM LATIM __________________________________________ 365
3. TRADUÇÃO “PRELIMINAR” DO TEXTO ______________________________________________ 365
4. ESTUDO DO JURISTA E DA SUA OBRA _____________________________________________ 369
5. PARÁFRASE E ANÁLISE PRELIMINAR NA “FATTISPECIE”____________________________________ 370
6. EXEGESE PROPRIAMENTE DITA __________________________________________________ 371
7. COMPARAÇÃO COM O DIREITO CONTEMPORÂNEO ______________________________________ 373
VIII. EXEMPLO DE EXEGESE D. 6, 1, 41 PR. ____________________________ 375
1. INTRODUÇÃO – “FATTISPECIE”__________________________________________________ 375
2. POSIÇÃO DO FRAGMENTO EM ULP. 17 “AD EDICTUM” __________________________________ 378
3. TESES MAIS RELEVANTES ACERCA DO FRAGMENTO______________________________________ 383
3.1. Tese de Longo _____________________________________________________ 386
3.2. Tese de Romano____________________________________________________ 389
3.3. Tese de Kniep _____________________________________________________ 392
10 MORAES – Manual de Introdução ao Digesto
I. INTRODUÇÃO
“Il dissidio fra la teoria e la pratica del diritto cesserebbe il giorno, in cui ogni pratico sapesse
leggere nel suo Corpus iuris. Così scriveva il professore Eisele e certamente con ragione. Il male
si è che da questo ideale siamo tuttora ben lontani e sono rari i pratici, almeno in Italia, i quali
posseggano un Corpus iuris”1. As palavras são do beato FERRINI. Foram ditas há mais de 120
anos. Conservam, não obstante, a sua atualidade.
Apesar de ser inquestionável a utilidade do direito romano no século XXI, assistimos,
ao longo de todo o século XX, a um inconveniente distanciamento entre o direito romano
e o direito civil: enquanto o primeiro se historicizou, o segundo foi-se tornando cada vez
mais abstrato.
Em países como o Brasil, a desvinculação entre a teoria e a prática do direito civil é
evidente. O aplicador do direito, ao se socorrer de obras de comentários ao Código Civil,
não raramente não encontra qualquer indicação de solução para problemas práticos. Houve
um excesso de abstração (uma crítica recorrente às codificações).
Tivesse sido mantido o conhecimento mínimo da riqueza das fontes romanas (em
especial do Digesto), poderiam muitas questões do dia-a-dia ser resolvidas com mais
facilidade. Imagine-se como deve ter sido interessante o momento imediatamente posterior
às primeiras codificações privadas (pense-se nas primeiras décadas após a entrada em vigor
do BGB, por exemplo): a compreensão que juristas (formados nas Universidades com base
no Corpus iuris civilis) tinham das genéricas previsões (em comparação com a compilação
justinianeia) dos Códigos Civis era sem dúvida muito diversa daqueles que sempre estudaram
a partir desses textos legais sem ampliar o estudo para outras fontes (como é feito hoje).
Esse era o problema retratado por Ferrini na Itália do final do século XIX (já poucas
décadas depois da promulgação do primeiro Código Civil italiano). E esse é o problema pelo
qual passa o direito brasileiro no início do século XXI.
A solução, que vem ganhando muito destaque nas últimas duas décadas, é a aproximação
entre o direito romano e o direito civil: uma volta ao estudo do Corpus iuris civilis (um
“retorno” a SAVIGNY) para melhor compreensão do direito privado que atualmente rege
a nossa sociedade (dentre outras vantagens desse estudo), inclusive em países de sistemas
jurídicos diversos do nosso, como o common law.
No Brasil, contudo, na “prática”, o que se observa é um raro conhecimento do direito
romano. Isso deriva de uma dificuldade de acesso às fontes e de sua compreensão; em parte
porque não havia, até recentemente, uma tradução integral para o português da principal
1
C. FERRINI, Il Digesto, Milano, Hoepli, 1893, p. v (grifos no original).
I. Introdução 13
um fácil aprofundamento de cada problema, como também para mais facilmente poder
confrontar (e, mesmo, criticar) as opiniões assumidas por este autor. Só assim tem a
romanística brasileira condições de progredir cada vez mais.
Sabe-se que não se agradará a todos, mas, se “no es posible dar gusto á todos”, “me daré
por satisfecho si agradase à los Facultativos instruídos, juiciosos y de recta intencion”4.
4
B. A. RODRIGUEZ DE FONSECA, Digesto teórico-práctico, ó recopilacion de los derechos comun, real y canónico, por
los libros y titulos del Digesto I (1-2), Madrid, Ibarra, 1775, p. xii.