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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 015.

380/2016-5

GRUPO I - CLASSE VI - 1ª Câmara


TC-015.380/2016-5
Natureza: Representação
Órgão/Entidade/Unidade: Município de Teixeira de Freitas/BA.
Representante: Secretaria de Controle Externo no Estado da Bahia (Secex/BA).
Responsáveis: João Bosco Bittencourt (189.746.196-87), Welington Rossini
Felix (961.041.475-34) e Carim Aramuni Gonçalves (044.688.406-50).
Representante Legal: Carlos Alberto Correa Siquara (OAB/BA 24.561) e
outros.

SUMÁRIO: REPRESENTAÇÃO. POSSÍVEIS IRREGULARIDADES NO


RDC 6/2015. NÃO ATENDIMENTO INTEGRAL AO PRINCÍPIO DA
PUBLICIDADE. CLÁUSULAS RESTRITIVAS À COMPETITIVIDADE.
AUSÊNCIA DE CRITÉRIOS OBJETIVOS PARA A GRADAÇÃO DAS
NOTAS DOS QUESTITOS DAS PROPOSTAS TÉCNICAS. LIMITAÇÃO
DA NOTA DE PREÇOS. ADOÇÃO DE MEDIDA CAUTELAR.
SUSPENSÃO DO ANDAMENTO DO CERTAME. OITIVA. AUDIÊNCIAS.
CONFIRMAÇÃO DAS IRREGULARIDADES. LICITAÇÃO
FRACASSADA. REVOGAÇÃO. PERDA DE OBJETO DA CAUTELAR.
PROCEDÊNCIA DA REPRESENTAÇÃO. REJEIÇÃO DAS RAZÕES DE
JUSTIFICATIVA. MULTA. CIÊNCIAS.

RELATÓRIO

Os autos tratam de representação oferecida pela Secex/BA, a partir de documentação


enviada pela Ouvidoria (peça 1), acerca da cobrança de valores supostamente desarrazoados para
retirada dos editais do Regime Diferenciado de Contratação - RDC 6/2015 e da Concorrência 8/2016,
ambos conduzidos pela Prefeitura Municipal de Teixeira de Freitas/BA.
2. Segundo a representação, o município somente disponibiliza cópia dos editais dos citados
procedimentos licitatórios mediante pagamento do valor unitário de R$ 200,00.
3. Em análise preliminar (peça 6), a Secex/BA considerou que não havia outra forma de
retirada dos instrumentos convocatórios, uma vez que, conforme documentação enviada pela
Ouvidoria, as solicitações de remessa de cópia dos editais dos certames formuladas ao município não
teriam sido atendidas. Além disso, os instrumentos convocatórios não estão publicados no sítio
eletrônico da prefeitura nem há a informação, nos avisos de licitação publicados no Diário Oficial do
município, de que os editais estariam disponíveis, sem ônus, na sede da prefeitura, bastando para tanto
que os licitantes comparecessem ao local de retirada dos instrumentos convocatórios munidos de
DVD, pen-drive, HD externo ou outro dispositivo apto à gravação. Naquela oportunidade, ainda, em
breve busca realizada na página da Imprensa Nacional, meu Gabinete teve dificuldade em localizar
todas as publicações no Diário Oficial da União.
4. Assim, acompanhando a proposta da unidade técnica, determinei a realização de diligência
para envio da íntegra dos processos licitatórios impugnados e, com fundamento no art. 276, § 2º, do
Regimento Interno do TCU, a oitiva prévia do município acerca das seguintes questões (peça 9):

“18.1.1. não publicação, em seu sítio oficial na rede mundial de computadores (Internet) dos
editais do RDC 6/2015 e da Concorrência 8/2016, conforme determina o art. 8º, inc. IV, e § 2º,
da Lei 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação);

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18.1.2. não publicação dos editais, e suas eventuais modificações, do RDC 6/2015 e da
Concorrência 8/2016, no Diário Oficial da União, conforme determina o art. 21, inciso I, da Lei
8.666/93 e o art. 15, § § 1º e 4º, da Lei 12.462/2011;
18.1.3. condicionar a obtenção dos editais do RDC 6/2015 e da Concorrência 8/2016 ao
pagamento de R$ 200,00 por documento, não sendo oferecida outra alternativa aos interessados,
como por exemplo a gravação dos arquivos da íntegra dos instrumentos convocatórios e anexos
em mídia digital (CD/DVD, pen-drive, HD externo) às expensas do licitante, envio por e-mail,
conforme recomendado por meio do Acórdão 2035/2016 - 1ª Câmara;”

5. O ente municipal logrou comprovar a publicação dos avisos contendo os resumos dos
editais no Diário Oficial da União (peças 22, p. 44, e 25, p. 23-24), nos termos exigidos na legislação.
6. A manifestação apresentada, contudo, não foi suficiente para afastar as demais ocorrências.
Além das falhas objeto da oitiva prévia, o exame dos instrumentos convocatórios revelou a existência
de outras irregularidades nos certames.
7. Diante disso, com vistas a facilitar e organizar a tramitação das questões relativas a cada
um dos dois procedimentos licitatórios contestados, determinei à unidade técnica a autuação de novo
processo para tratar da Concorrência 8/2016 (TC-018.953/2016-6), mediante a reprodução por cópia
das peças pertinentes, permanecendo estes autos apenas com a análise do RDC 6/2015.
8. O RDC 6/2015 visa a elaboração dos projetos executivos dos Sistemas de Macro e Micro
drenagem, Sistema de Esgotamento Sanitário, Pavimentação e do Parque do Penteado (saneamento
integrado nas Bacias do Rio Itanhém e do Rio Peruipe), com orçamento estimado em R$ 4.405.256,57.
9. Infere-se tratar de parte do objeto do Contrato de Repasse 0424442-02 (Siafi 681065),
firmado entre o Município de Teixeira de Freitas/BA e o Ministério das Cidades, com interveniência da
Caixa Econômica Federal, no valor de R$ 18.230.359,21, para execução de saneamento integrado na
Bacia do Rio Itanhém.
10. O edital do certame, conforme análise da unidade técnica, possui cláusulas com caráter
desnecessariamente restritivo: a) exigência de apresentação, pelos potenciais licitantes, de recibo de
retirada de edital; b) exigência de demonstração, por parte dos licitantes, de capital integralizado
mínimo, correspondente a 10% do valor estimado para a respectiva licitação, como condição para
participação do certame; c) obrigatoriedade de realização de visita técnica como condição de
habilitação na licitação. Observei, ainda, a ausência de justificativa técnica e econômica para o uso da
modalidade presencial de RDC, a indevida exigência de quitação da inscrição da pessoa jurídica no
Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia - Crea ou no Conselho de Arquitetura e
Urbanismo - CAU, bem como a alteração da ordem das fases de habilitação e julgamento, sem a
devida motivação.
11. Além dos pontos objetos da oitiva, bem como das cláusulas restritivas à competitividade,
constatou-se que os critérios para julgamento, do tipo técnica e preço, também estavam em
desconformidade com o princípio do julgamento objetivo e a jurisprudência deste Tribunal.
12. Assim, anui ao entendimento da Secex/BA, no sentido de que os elementos constantes dos
autos indicavam a necessidade de concessão de medida cautelar, nos termos do art. 276 do Regimento
Interno/TCU, por meio da imediata suspensão do andamento do RDC 6/2015, devendo o Município de
Teixeira de Freitas/BA abster-se, entre outras medidas, de homologar e adjudicar o certame e assinar o
respectivo contrato.
13. O fumus boni juris restou configurado. A ausência da publicação dos editais dos certames
no sítio oficial do município na rede mundial de computadores e as cláusulas editalícias comentadas
representavam potencial restrição à participação de licitantes, causando prejuízo ao caráter competitivo
da licitação e à busca da proposta mais vantajosa, além de fundado receio de lesão ao interesse
público, consubstanciado em potencial dano à economicidade e à licitude da contratação.
14. O periculum in mora, de igual modo, encontrava-se presente, tendo em vista que a abertura
das propostas estava prevista para 13/6/2016, estando, portanto, iminente a adjudicação do objeto do

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certame, a assinatura do contrato ou, ainda, o início da sua execução.


15. Dessa forma, determinei por despacho (peça 32):

“65.1. no que se refere ao RDC 6/2015:


65.1.1. ao Município de Teixeira de Freitas/BA, cautelarmente, que suspenda o
andamento do RDC 6/2015, com fulcro no art. 276 do Regimento Interno do TCU, abstendo-se
de dar continuidade ao certame ou ao contrato, caso já assinado, até o julgamento do mérito
desta representação por este Tribunal;
65.1.2. a oitiva do Município de Teixeira de Freitas/BA, com fulcro no § 3º do art. 276 do
Regimento Interno do TCU, para, no prazo de quinze dias, manifestar-se sobre os fatos
apontados na presente representação, especialmente quanto às seguintes questões:
a) não publicação em seu sítio oficial na rede mundial de computadores (Internet) do
edital, conforme determina o art. 8º, inc. IV, e § 2º, da Lei 12.527/2011 (Lei de Acesso à
Informação);
b) condicionar a obtenção do edital ao pagamento de R$ 200,00 por documento, deixando
de consignar, nos avisos da licitação publicados, a alternativa recomendada pelo TCU, por meio
do Acórdão 2.035/2016 - 1ª Câmara, de que cópias dos documentos em meio eletrônico
poderiam ser retirados na sede da prefeitura sem ônus para os licitantes, desde que compareçam
ao local de retirada munidos de DVD, pen-drive, HD externo ou outro dispositivo apto à
gravação dos documentos;
c) exigência de apresentação, pelos licitantes, de recibo de retirada de edital, com o
comprovante do respectivo pagamento, como documento de habilitação (subitem 1.1 do Título
IX), eis que não previsto nos arts. 27 a 31 da Lei 8.666/1993;
d) exigência de demonstração, como condição para participação do certame, de capital
integralizado mínimo, correspondente a 10% do valor orçado para os serviços licitados (item 2
do Título V), em dissonância com o disposto no art. 31, § § 2º e 3º, da Lei 8.666/93;
e) ausência de critérios para a gradação das notas dos quesitos das propostas técnicas,
considerando que não há definição do que se espera em cada um dos aspectos analisados,
conferindo elevada carga de subjetividade aos avaliadores e possibilitando eventual
direcionamento na contratação e a não seleção da proposta mais vantajosa, em afronta aos
princípios da isonomia, da impessoalidade, da eficiência e do julgamento objetivo, bem como à
jurisprudência do TCU, a exemplo dos Acórdãos 769/2013-TCU-Plenário e 332/2003-2ª
Câmara;
f) ausência de justificativa técnica e econômica para o uso da modalidade presencial de
RDC, em afronta ao art. 13 da Lei 12.462/2011;
g) limitação da nota de preços a 100 pontos, tendo como resultado prático a fixação de
preço mínimo, abaixo do qual a referida nota se torna constante, não beneficiando a licitante que
tenha cotado preço abaixo do preço médio apurado entre o orçamento da administração e a
média das propostas, em desacordo com o objetivo de selecionar a proposta mais vantajosa para
a administração pública e com o princípio da economicidade;
h) exigência, no subitem 1.5.1 do Título IX (peça 20, p. 40) de quitação da inscrição da
pessoa jurídica, e, no termo de referência (peça 20, p. 6) também dos responsáveis técnicos, no
Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia - Crea ou no Conselho de
Arquitetura e Urbanismo - CAU, uma vez que não há previsão legal, conforme entendimento
desta Corte nos Acórdãos 806/2016 e 890/2007, do Plenário;
i) alteração da ordem prevista no art. 12 da Lei 12.462/2011 para as fases de habilitação e
julgamento, sem a devida motivação;
65.1.3. a audiência dos responsáveis a seguir indicados, com fundamento no art. 250,
inciso IV, c/c o art. 237, parágrafo único, do RI/TCU, para que, no prazo de quinze dias,
apresentem razões de justificativa:

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a) Sr. João Bosco Bittencourt (CPF 189.746.196-87), Prefeito do Município de Teixeira de


Freitas/BA, por não ter disponibilizado no sítio eletrônico do município na Internet o edital do
RDC 6/2015, conforme estabelece o art. 8º, § 1º, inciso IV, e § § 2º e 4º, da Lei 12.527/2011;
bem como ter deixado de consignar, nos avisos das licitações publicados, a alternativa
recomendada pelo TCU, por meio do Acórdão 2.035/2016 - 1ª Câmara, de que cópias do
documento em meio eletrônico poderiam ser retiradas na sede da prefeitura sem ônus para os
licitantes, desde que compareçam ao local de retirada munidos de DVD, pen-drive, HD externo
ou outro dispositivo apto à gravação dos documentos;
b) Sr. Welington Rossini Felix (CPF 961.041.475-34), membro da Comissão Especial de
Licitação, que assinou o edital do RDC 6/2015 com as seguintes cláusulas restritivas ao caráter
competitivo da licitação, em afronta ao Acórdão 2.035/2016 - 1ª Câmara, que deu ciência ao
Município de Teixeira de Freitas de idênticas irregularidades:
b.1) exigência de apresentação, pelos licitantes, de recibo de retirada de edital, com o
comprovante do respectivo pagamento, como documento de habilitação (subitem 1.1 do Título
IX), eis que não previsto nos arts. 27 a 31 da Lei 8.666/1993;
b.2) exigência de demonstração, como condição para participação do certame, de capital
integralizado mínimo, correspondente a 10% do valor orçado para os serviços licitados (item 2
do Título V), em dissonância com o disposto no art. 31, § § 2º e 3º, da Lei 8.666/93;
c) Sr. Carim Aramuni Gonçalves (CPF 044.688.406-50), procurador adjunto do município,
por ter aprovado a minuta do edital do RDC 6/2015 contendo cláusulas restritivas ao caráter
competitivo da licitação, em afronta ao Acórdão 2.035/2016 - 1ª Câmara, que deu ciência ao
Município de Teixeira de Freitas de idênticas irregularidades:
c.1) exigência de apresentação, pelos licitantes, de recibo de retirada de edital, com o
comprovante do respectivo pagamento, como documento de habilitação (subitem 1.1 do Título
IX), eis que não previsto nos arts. 27 a 31 da Lei 8.666/1993;
c.2) exigência de demonstração, como condição para participação do certame, de capital
integralizado mínimo, correspondente a 10% do valor orçado para os serviços licitados (item 2
do Título V), em dissonância com o disposto no art. 31, § § 2º e 3º, da Lei 8.666/93;”

16. A adoção da medida cautelar foi comunicada ao Plenário do TCU em 29/6/2016 (peça 39).
17. Após as providências determinadas, a unidade técnica manifestou-se no seguinte sentido
(peça 56):

“20. Como consequência dos comandos que recebeu, a Secex - BA expediu as comunicações
processuais relacionadas abaixo:
Destinatário Ofício - natureza Ciência Resposta
Of. 1734/2016, de
Município de Teixeira de 6/7/2016 20/7/2016
29/6/2016 - oitiva e
Freitas - BA (peça 41) (peça 42)
diligência (peça 35)
Of. 1739/2016, de
Welington Rossini Felix 6/7/2016 20/7/2016
29/6/2016 - audiência
(CPF 961.041.475-34) (peça 36)
(peça 40) (peça 43)
Of. 1740/2016, de
Carim Aramuni Conçalves 20/7/2016
29/6/2016 - audiência
(CPF 044.688.406-50) - (peça 44)
(peça 37)
Of. 1738/2016, de
João Bosco Bittencourt 20/7/2016
29/6/2016 - audiência
(CPF 189.746.196-87) (peça 38)
- (peça 42)

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21. O Município de Teixeira de Freitas - BA, em resposta à oitiva promovida, afirma,


preliminarmente, que os avisos de licitação do RDC 6/2015 foram disponibilizados no Diário
Oficial da União e em jornal de grande circulação, não havendo, desse modo, prejuízo ao
princípio da publicidade.
22. Sustenta que a empresa representante não solicitou os editais dos certames, nem por e-mail
e nem pessoalmente, tentando, em verdade, induzir em erro o TCU.
23. Assevera, inclusive, que não há exigência legal de que seja fornecida cópia por meio
digital, bem como que o edital seja publicado no sítio eletrônico do município.
24. Aduz que o § 5º do art. 32 da Lei 8.666/1993 autoriza a cobrança de taxas como condição
de habilitação. Justifica os custos incorridos pelo volume e características dos documentos que
instruem o edital.
25. Ressalta que o edital do RDC 6/2015 estava disponível e forma gratuita, desde que o
requerente levasse a mídia digital, para que fosse gravada.
26. Defende a exigência de capital social integralizado, para fins de qualificação econômico-
financeira, como forma de a Administração certificar-se de que a licitante é portadora de
razoável idoneidade moral, sendo capaz de cumprir a obrigação assumida numa possível
contratação.
27. Argumenta que não há ilegalidade na exigência de cumulação de capital social
integralizado com garantia de proposta, bem como da apresentação dessa última em data anterior
ao momento de entrega dos documentos de habilitação.
28. Assinala que a exigência de realização obrigatória de visita prévia das condições do local
de execução do objeto é imprescindível para garantir os interesses da Administração, não tendo o
condão de afastar ou inibir a participação de empresas no processo.
29. Enfatiza que a necessidade da exigência de visita técnica é determinada pelo tipo de
objeto/encargo que será realizado pelo futuro contratado, bem como as condições que envolvem
o local onde ele será executado.
30. Destaca que essa avaliação deve ser feita pela Administração Pública na fase de
planejamento da licitação, ou seja, ela deve analisar se as condições do local são peculiares e
relevantes para a perfeita execução do contrato.
31. Alega, ainda, que a cautela pretendida pela Administração com a exigência é atestar que o
local estava em perfeitas condições para a execução do serviço a ser contratado, deixando ciente
a empresa da impossibilidade de alegar desconhecimento, caso haja qualquer ocorrência
posterior.
32. Informa que o RDC 6/2015 foi declarado fracassado, nos termos do parecer técnico do
setor de engenharia do município, inexistindo, portanto, vencedor ou contrato assinado.
33. Por fim, pugna pelo reconhecimento de perda de objeto do feito e seu posterior
arquivamento.
34. Primeiramente, cabe considerar a perda do objeto da cautelar, em face da publicação no
Diário Oficial do Município de 27/7/2016 (peça 55, p. 2) da revogação do RDC 6/2015 e,
consequentemente, de todos os atos dele advindos, para adequação dos termos do instrumento
convocatório, sem prejuízo de proposta de que a Secex - BA acompanhe a próxima licitação
lançada pelo Município de Teixeira de Freitas - BA com vistas à contratação do objeto em tela, a
fim de verificar se foram corrigidas as falhas apontadas nesse processo.
35. Embora tenha havido a revogação do certame, resta o exame das irregularidades detectadas
a fim de adotar os encaminhamentos cabíveis, seja a responsabilização dos agentes públicos, seja
a orientação da entidade para promover as medidas corretivas adequadas.
36. O Sr. João Bosco Bittencourt, prefeito do Município de Teixeira de Freitas - BA, foi
ouvido em audiência por não ter disponibilizado no sítio eletrônico do município na Internet o
edital do RDC 6/2015, conforme estabelece o art. 8º, § 1º, inciso IV, e § § 2º e 4º, da Lei
12.527/2011, bem como ter deixado de consignar, no aviso da licitação publicado, a alternativa

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recomendada pelo TCU, por meio do Acórdão 2.035/2016 - 1ª Câmara, de que cópias do
documento em meio eletrônico poderiam ser retiradas na sede da prefeitura sem ônus para os
licitantes, desde que compareçam ao local de retirada munidos de DVD, pen-drive, HD externo
ou outro dispositivo apto à gravação dos documentos.
37. Já o Sr. Welington Rossini Felix, membro da Comissão Especial de Licitação, responsável
pela confecção do edital do RDC 6/2015 com as seguintes cláusulas restritivas ao caráter
competitivo da licitação:
a) exigência de apresentação, pelos licitantes, de recibo de retirada de edital, com o
comprovante do respectivo pagamento, como documento de habilitação (subitem 1.1 do
Título IX), eis que não previsto nos arts. 27 a 31 da Lei 8.666/1993;
b) exigência de demonstração, como condição para participação do certame, de capital
integralizado mínimo, correspondente a 10% do valor orçado para os serviços licitados
(item 2 do Título V), em dissonância com o disposto no art. 31, § § 2º e 3º, da Lei
8.666/93;
38. Por fim, o Sr. Carim Aramuni Gonçalves, Procurador Adjunto do município, por ter
aprovado a minuta do edital do RDC 6/2015 contendo cláusulas restritivas ao caráter competitivo
da licitação acima descritas.
39. As razões de justificativa apresentadas pelo Sr. João Bosco Bittencourt são de idêntico teor
àquelas encaminhadas pelo Município de Teixeira de Freitas - BA em sede de oitiva.
40. Por sua vez, as respostas dos Srs. Welington Rossini Felix e Carim Aramuni Gonçalves
guardam absoluta identidade com as justificativas enviadas pelo Sr. João Bosco Bittencourt, à
exceção do item referente à exigência obrigatória de visita técnica para fins de habilitação, o qual
não foi objeto de audiência por parte deste Tribunal.
41. Dessa forma, a resposta do Município de Teixeira de Freitas - BA à oitiva promovida e as
justificativas apresentadas pelos Srs. João Bosco Bittencourt, Welington Rossini Felix e Carim
Aramuni Gonçalves serão analisadas conjuntamente.
42. Especificamente a respeito de exigência de prévio recolhimento de taxas ou
emolumentos para habilitação, o § 5º, do art. 32, da Lei 8.666/1993, dispõe:

Não se exigirá, para a habilitação de que trata este artigo, prévio recolhimento de taxas ou
emolumentos, salvo os referentes a fornecimento do edital, quando solicitado, com os seus
elementos constitutivos, limitado ao valor do custo efetivo de reprodução gráfica da documentação
fornecida.

43. Também a jurisprudência deste Tribunal é firme no sentido de considerar restritiva à


competição a cobrança por editais em valor superior ao da reprodução gráfica ou em meio
eletrônico, destacando-se que não é finalidade do procedimento licitatório gerar receita ao
contratante, mas, sim, selecionar a proposta mais vantajosa à administração pública, nos termos
do art. 3º da Lei 8.666/1993. Cita-se como exemplo os Acórdãos 2.147/2006, 354/2008 e
1.733/2010, todos do Plenário.
44. Sem querer adentrar no mérito se a importância cobrada pela cópia dos editais é exorbitante ou
acima do custo efetivo de reprodução gráfica, fato é que não houve forma alternativa de retirada dos
instrumentos convocatórios, a não ser com a aquisição dos editais pelos valores previamente
impostos pela Administração Municipal.
45. Com efeito, Com efeito, o subitem 1.1, do Título IX - Habilitação (peça 20, p. 39), da última
versão do instrumento convocatório, estabelece como documento de habilitação, verbis:

1.1. Documento H-1


1.1.1. Cópia do recibo de retirada do Edital de Licitação, com o comprovante do respectivo
pagamento. (grifos do original)

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46. O professor Marçal Justen Filho (in Comentários à Lei de Licitações e Contratos
Administrativos. 11ª ed. São Paulo: Dialética, 2005, p. 358) apresenta as seguintes considerações
sobre o tema, verbis:

Também foram proscritas taxas e outros emolumentos. Somente se admite a cobrança de taxa
remuneratória do custo de documentos fornecidos. Ainda assim, somente se e quando a aquisição
de tais documentos seja solicitada.
Também, é inválido tornar obrigatória a aquisição de pastas, cadernos etc. para participar na
licitação. Ou seja, a expressão ‘quando solicitado’ deve interpretar-se em favor do particular. É a
ele que cabe a faculdade de solicitar o fornecimento do edital. Não é possível que o próprio edital
imponha a compra do edital. Obviamente, se tal ocorresse, não haveria ‘solicitação’, mas uma
espécie de ‘pré-qualificação’ para participar da licitação. Isso ofenderia aos princípios
fundamentais regedores da licitação. (grifamos)
1. Na mesma linha, lição de Renato Geraldo Mendes:
2775 - Contratação pública - Licitação - Edital - Aquisição como condição de participação na
licitação - Ilegalidade - Renato Geraldo Mendes
A participação na licitação não está, absolutamente, condicionada à aquisição de cópia do edital. Se
o licitante considerar oportuna tal aquisição, poderá fazê-lo, devendo a Administração cobrar
somente o valor do custo da reprodução. Saliente-se que a cobrança de emolumentos não poderá
ultrapassar o custo da reprodução gráfica dos documentos, consoante determina o § 5º do art. 32 da
Lei 8.666/93. Todavia, o licitante poderá apenas ler o edital no próprio órgão licitante e participar
do certame. Enfim, poderá valer-se do meio que considerar mais ágil e econômico para adquiri-lo
ou tomar conhecimento dos seus termos, não podendo a Administração condicionar a participação
no certame à aquisição do edital. Eventual exigência deve ser considerada ilegal e restritiva,
podendo ensejar, inclusive, impugnação do edital. O fato de ter havido uma cobrança moderada do
valor do edital (restrita ao da reprodução gráfica, como quer a Lei), é ilegal condicionar a
participação à sua aquisição. Não há, na Lei 8.666/93, nem explícita, nem implicitamente, qualquer
previsão de que o interessado, pessoa física ou jurídica, esteja proibido de obter o edital por meio
de terceiros e, com base nele, participar da licitação, como não há nenhuma vedação legal que
impeça uma entidade de classe, por exemplo, a Associação Comercial do Paraná ou de Minas
Gerais, de adquirir um edital e reproduzi-lo com o intuito de distribuí-lo aos seus associados. Ao
contrário, o sistema da Lei 8.666/93, em vez de vedar a possibilidade, procura estimular que isso
ocorra em vários preceitos. É evidente que o lugar mais seguro para o interessado adquirir ou obter
o edital é na própria Administração que promove a licitação. Portanto, a compra do instrumento
convocatório não é um requisito necessário para a habilitação dos interessados em contratar com a
Administração, o que impede que licitantes que compareceram ao certame sejam dele afastados
pelo simples motivo de não terem adquirido tal documento. (MENDES, Renato Geraldo.
LeiAnotada.com. Lei 8.666/1993, nota ao art. 32º, § 5º, categoria Doutrina. Disponível em
<http://www.leianotada.com>. Acesso em 8 jan. 2015. grifamos)

47. Assim, só é cabível a cobrança de taxa pelo fornecimento do edital quando solicitado por
algum interessado. Entretanto, a exigência do comprovante de recolhimento dessa taxa foi
qualificada pelo edital, sem qualquer ressalva, como condição de habilitação, em inobservância,
portanto, ao referido dispositivo legal.
48. Atualmente, com a rede mundial de computadores e a difusão em massa dos sistemas de
arquivos digitais, não há razão para que os órgãos patrocinadores dos certames condicionem a
participação de um licitante à compra do edital. Disponibilizar os editais e projetos na Internet
não traz custos adicionais e possibilita que qualquer interessado tenha conhecimento da licitação
e seus detalhes. Fazer com que uma empresa tenha que deslocar um representante pessoalmente
ao município apenas para comprar um edital, só contribui para que haja menor concorrência nos
processos licitatórios.
49. Dessa forma, tem-se por ilegal como condição de habilitação, de apresentação, pelos
potenciais licitantes, de recibo de retirada de edital, uma vez que tal exigência não está prevista

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nos arts. 27 a 31 da Lei 8.666/1993, de forma que a aquisição em apreço constitui uma faculdade
e não um dever dos interessados, conforme jurisprudência dessa Corte de Contas, a exemplo do
Acórdão 6.613/2009 - 1ª Câmara, Rel. Min. Walton Alencar Rodrigues.
50. Também não assiste razão ao Município de Teixeira de Freitas - BA quando afirma que não
há exigência legal de que os editais de licitações sejam publicados no sítio eletrônico do ente
federado.
51. Isto porque a Lei 12.527/2011, mais conhecida como Lei de Acesso à Informação (LAI),
tornou obrigatória a divulgação em sítios oficiais da rede mundial de computadores dos editais
de licitações para os municípios com população acima de 10.000 habitantes, conforme art. 8º §
1º, inciso IV, e § § 2º e 4º, verbis:

art. 8º É dever dos órgãos e entidades públicas promover, independentemente de requerimentos, a


divulgação em local de fácil acesso, no âmbito de suas competências, de informações de interesse
coletivo ou geral por eles produzidas ou custodiadas.
§ 1º Na divulgação das informações a que se refere o caput, deverão constar, no mínimo:
(...)
IV - informações concernentes a procedimentos licitatórios, inclusive os respectivos editais e
resultados, bem como a todos os contratos celebrados;
(...)
§ 2º Para cumprimento do disposto no caput, os órgãos e entidades públicas deverão utilizar todos
os meios e instrumentos legítimos de que dispuserem, sendo obrigatória a divulgação em sítios
oficiais da rede mundial de computadores (internet).
(...)
§ 4º Os Municípios com população de até 10.000 (dez mil) habitantes ficam dispensados da
divulgação obrigatória na internet a que se refere o § 2º, mantida a obrigatoriedade de divulgação,
em tempo real, de informações relativas à execução orçamentária e financeira, nos critérios e
prazos previstos no art. 73-B da Lei Complementar no 101, de 4 de maio de 2000 (Lei de
Responsabilidade Fiscal). 

52. Conforme consignado na instrução precedente (peça 6), a população estimada de Teixeira
de Freitas para 2015 é de 157.804 habitantes (peça 5), o que posiciona o município na 10ª
colocação entre as cidades mais populosas do Estado da Bahia. Não obstante, figura no 96º lugar
no ranking da transparência do estado (peça 26, p. 8).
53. Quanto à relevância, verifica-se a importância do tema abordado, haja vista que a Lei de
Acesso à Informação representa um grande avanço para a administração pública, pois incrementa
o exercício da cidadania e do controle social sobre os serviços e gastos públicos.
54. Não sem razão, o Ministério Público Federal vem ajuizando ações civis públicas contra
municípios baianos para que regularizem a divulgação de informações em seus respectivos
portais da transparência, entre as quais a publicação da íntegra de editais de licitações e de
contratos (peça 27).
55. Como bem pontuou o Min. Relator em despacho de peça 32, em que pese o município
tenha afirmado que está trabalhando com afinco no sentido de dar cumprimento à Lei
12.527/2011, e que espera solucionar tal exigência até o final do primeiro semestre de 2016,
apenas a declaração da intenção de atender aos ditames normativos, passados mais de quatro
anos da entrada em vigor da Lei de Acesso à Informação, sem esclarecimento das eventuais
dificuldades enfrentadas e sem comprovação do alegado, não exime a responsabilidade do
prefeito pelo descumprimento da lei.
56. O fato ora analisado não é novo e já foi tratado por esta unidade instrutiva nos autos do
TC-001.544/2015-2. Naquela ocasião, restou comprovado que, além de cláusulas restritivas ao
caráter competitivo das licitações, o valor unitário cobrado pelo Município de Teixeira de Freitas
- BA para a retirada dos editais chegava a R$ 3.000,00. A ilegalidade se mostrou ainda mais
prejudicial na medida em que, semelhantemente ao que ocorreu no presente caso, a “cópia do
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 015.380/2016-5

recibo de retirada do Edital de Licitação” foi elencada como documento obrigatório para
habilitação dos licitantes, o que impediu que outras sociedades empresárias, ainda que tivessem
tido acesso ao instrumento convocatório por diferentes meios, participassem dos certames.
57. Mesmo tendo o processo acima referenciado sido considerado prejudicado, ante a perda se
seu objeto, em face da anulação pelo Município dos certames impugnados, esta Corte de Contas
não se furtou, por meio do Acórdão 2.035/2019 - 1ª Câmara, a cientificar o Município de
Teixeira de Freitas - BA das irregularidades identificadas, bem como recomendar ao ente
federado que:

c) (...) quando promover licitações custeadas com recursos federais, disponibilize em seu sítio
eletrônico os editais dos certames e seus anexos ou, caso não seja possível, deixe consignado nos
avisos de licitação publicados que cópias dos documentos em meio eletrônico poderão ser retirados
na sede da prefeitura sem ônus para os licitantes, desde que compareçam ao local de retirada
munidos de DVD, pen-drive, HD externo ou outro dispositivo apto à gravação dos documentos;

58. É de se ver, conforme cópias do aviso do RDC 6/2015 (peça 22, p. 44), que, o Município
de Teixeira de Freitas - BA não vem atendendo sequer a recomendação alternativa do TCU de
deixar consignado nos avisos dos certames que os instrumentos convocatórios podem ser
retirados em mídia digital junto à sede da prefeitura.
59. Sobre a natureza das recomendações, esta Corte de Contas já sedimentou o entendimento
que
29. (...) embora despidas de caráter cogente, têm como objetivo fomentar o aprimoramento da
gestão pública, em estrita consonância com a missão deste Tribunal. Nesse sentido, em que pese
tais deliberações não vincularem a ação do gestor, devem por ele ser implementadas, a menos que
por razões devidamente motivadas, com vistas ao aperfeiçoamento vislumbrado e a dar
cumprimento ao princípio da eficiência, insculpido no art. 37 da Constituição Federal. (Acórdão
3467/2014 - Plenário; Relator: Ministro Bruno Dantas)
60. No mesmo sentido, excerto do voto do Ministro Augusto Sherman Cavalcanti, condutor do
Acórdão 73/2014-TCU-Plenário:

15. Portanto, a recomendação emanada do Tribunal tem como objetivo buscar o aprimoramento da
gestão pública, sendo resultante de avaliação técnica fundada na perspectiva da missão
constitucional do controle externo atribuída a esta Corte de Contas. A meu ver, trata-se de comando
que vai ao encontro do princípio da eficiência, insculpido no art. 37 da Constituição Federal
vigente. Não representa, por conseguinte, mera sugestão, cuja implementação é deixada ao alvedrio
do gestor destinatário da medida. Se assim fosse, tornar-se-ia praticamente inócuo o monitoramento
previsto no regimento deste Tribunal.
16. Por certo, a recomendação não traz em si a natureza coercitiva da determinação, a qual, via de
regra, decorre da inobservância de normas ou princípios aplicáveis à Administração Pública. Ao
passo que do gestor não é esperado outro proceder que não o cumprimento da determinação, em
relação à recomendação já se admite uma certa flexibilidade na sua implementação. Assim, pode o
administrador público atendê-la por meios diferentes daqueles recomendados, desde que se
demonstre o atingimento dos mesmos objetivos, ou, até mesmo, deixar de cumpri-la em razão de
circunstâncias específicas devidamente motivadas. A regra, entretanto, é a implementação da
recomendação, razão por que deve ser monitorada.

61. O item 2 do Título V do edital RDC 6/2015 (peça 20, p. 34), por sua vez, estabelece como
condição para participação do certame que os licitantes comprovem possuir, por meio de
documento arquivado na Junta Comercial, capital integralizado mínimo, correspondente a 10%
do valor estimado para os serviços licitados.
62. A exigência de apresentação de capital mínimo integralizado extrapola os ditames da Lei
8.666/1993, que não exige sua integralização, conforme entendimento desta Corte de Contas
(Acórdãos 5.372/2012 - 2ª Câmara, 681/1998 - Plenário e 808/2003 - Plenário)
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 015.380/2016-5

63. Ademais, a própria lei, em seu art. 31, § 2º, dá alternativas à administração para que seja
comprovada a qualificação econômico-financeira dos licitantes, como a exigência de patrimônio
líquido mínimo ou de garantias, verbis:
art. 31. A documentação relativa à qualificação econômico-financeira limitar-se-á a:
(...)
§ 2o A Administração, nas compras para entrega futura e na execução de obras e serviços, poderá
estabelecer, no instrumento convocatório da licitação, a exigência de capital mínimo ou de
patrimônio líquido mínimo, ou ainda as garantias previstas no § 1 o do art. 56 desta Lei, como dado
objetivo de comprovação da qualificação econômico-financeira dos licitantes e para efeito de
garantia ao adimplemento do contrato a ser ulteriormente celebrado.
§ 3o O capital mínimo ou o valor do patrimônio líquido a que se refere o parágrafo anterior não
poderá exceder a 10% (dez por cento) do valor estimado da contratação, devendo a comprovação
ser feita relativamente à data da apresentação da proposta, na forma da lei, admitida a atualização
para esta data através de índices oficiais.
64. É dizer, o município poderia ter requerido que as licitantes comprovassem patrimônio
líquido mínimo, que representa o capital próprio da empresa, devidamente escoimado das contas
retificadoras, tais como aquela correspondente ao capital a integralizar, ou, ainda, a prestação das
garantias previstas no § 1º, do art. 56, da Lei 8.666/1993, mas, ao revés, optou por exigir
requisito de qualificação econômico-financeira não autorizado em lei.
65. Questão idêntica já foi tratada nos autos do TC-021.415/2006-6, no qual o Relator do feito,
Ministro Valmir Campelo, apresentou, no voto guia do Acórdão 170/2007 - Plenário, o seguinte
entendimento:
Cumpre, contudo, apontar outra falha do Edital não mencionada pela unidade técnica. Diz respeito
à exigência de comprovação de capital social devidamente integralizado, contida no item 7.3, ‘c’,
do instrumento convocatório, transcrito pela instrução da Secex/RJ. O Acórdão 1871/2005-
Plenário, ao analisar situação análoga, em que o órgão exigia comprovação de capital integralizado,
reafirmou a jurisprudência deste Tribunal, de que são indevidas exigências de habilitação que não
estejam expressamente previstas na Lei. Não se pode exigir comprovação de o capital estar
integralizado, uma vez que esta exigência não consta da Lei. Dessa forma, deve ser efetuada
determinação a respeito. (grifamos)

66. Assim, a jurisprudência do Tribunal é clara no sentido de não acatar a exigência de


comprovação de capital integralizado, uma vez que não há previsão nesse sentido no art. 31, § 2º,
da Lei 8.666/1993.
67. Necessário lembrar que, por meio do Acórdão 2.035/2016 - 1ª Câmara, esta Corte de
Contas já havia cientificado o município sobre as irregularidades acima reproduzidas, nos
seguintes termos:
b) dar ciência ao Município de Teixeira de Freitas/BA de que:
b.1) a exigência de apresentação, pelos potenciais licitantes, de recibo de retirada de edital,
como condição de habilitação, não tem previsão nos arts. 27 a 31 da Lei 8.666/1993,
conforme jurisprudência dessa Corte de Contas, a exemplo do Acórdão 6.613/2009 - 1ª
Câmara;
b.2) não encontra amparo na Lei 8.666/1993 a exigência de demonstração, por parte dos
licitantes, de capital integralizado mínimo como condição para participação de certame
licitatório;
(...)
68. Do mesmo modo, o subitem 1.9.1 (peça 20, p. 41) encerra cláusula restritiva à
competitividade da disputa, na medida que exige, também como documento de habilitação,
‘Declaração de Visita Técnica’, conforme Anexo IX (peça 21, p. 33), parte integrante do
instrumento convocatório.
69. A jurisprudência desta Corte de Contas é pacífica no sentido de considerar que a exigência
de visita técnica como requisito de habilitação, quando não justificada pelas peculiaridades do
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 015.380/2016-5

objeto, restringe indevidamente a competitividade, em afronta ao art. 3º, § 1º, da Lei 8.666/1993.
70. Assim, vistoria obrigatória seria elemento complementar e justificável somente quando, em
face à extensão e complexidade do objeto, for indispensável para perfeito conhecimento da obra
ou serviço (Acórdãos 983/2008, 2.395/2010 e 2.990/2010, todos do Plenário). Ou seja, o que
deve ser levado em consideração é o ônus imposto aos licitantes para o cumprimento desses
requisitos e sua razoabilidade e proporcionalidade em face da complexidade dos serviços a serem
executados.
71. A visita técnica, portanto, somente deve ser exigida nas hipóteses em que as condições
locais possuírem características que somente a descrição técnica no edital não se fizer
suficientemente clara para assegurar que o preço ofertado pela licitante reflita a realidade da
contratação, o que parece não ser o caso dos autos.
72. Mesmo nos casos em que a avaliação prévia do local de execução se configura
indispensável, ‘o edital de licitação deve prever a possibilidade de substituição da vistoria por
declaração formal assinada pelo responsável técnico acerca do conhecimento pleno das
condições e peculiaridades da obra’ (Acórdão 1.842/2013 - Plenário, Rel. Min. Ana Arraes). 
73. Veja-se, a respeito, ementa do Acórdão 372/2015 - Plenário, sessão de 4/3/2015, acerca da
matéria:
Representação. Licitação. A exigência de visita técnica obrigatória ao local das obras como
requisito de habilitação é considerada ilegal, sendo permitida apenas em casos expressamente
justificados. A declaração formal assinada pelo responsável técnico acerca do conhecimento pleno
das condições e peculiaridades da obra pode constituir alternativa à visita técnica, sendo avaliada
caso a caso pela administração e também previamente justificada. Ciência. Arquivamento.
74. Também no mesmo sentido, decisão do TCU, constante do Informativo de Licitações e
Contratos 230, sessões de 10 e 11 de fevereiro de 2015:
A vistoria ao local das obras somente deve ser exigida quando for imprescindível ao cumprimento
adequado das obrigações contratuais, o que deve ser justificado e demonstrado pela Administração
no processo de licitação, devendo o edital prever a possibilidade de substituição do atestado de
visita técnica por declaração do responsável técnico de que possui pleno conhecimento do objeto.
As visitas ao local de execução da obra devem ser prioritariamente compreendidas como um direito
subjetivo da empresa licitante, e não uma obrigação imposta pela Administração, motivo pelo qual
devem ser uma faculdade dada pela Administração aos participantes do certame. (Acórdão
234/2015-Plenário, TC-014.382/2011-3, relator Ministro Benjamin Zymler, 11.2.2015).
75. Diante dos fatos, a exigência de visita técnica como condição de habilitação carece de
fundamento legal, pois a Lei 8.666/1993, em seu art. 30, inciso III, dispõe que a documentação
relativa à qualificação técnica deve-se limitar à comprovação de que, quando exigido, o licitante
tomou conhecimento de todas as informações e das condições locais para o cumprimento das
obrigações objeto da licitação. Nesse particular, a lei deve ser interpretada restritivamente, vez
que enumera, de forma exaustiva, os documentos que poderão ser exigidos dos licitantes.
76. Por outro lado, o item 9 do mesmo Título IX prescreve que ‘a ausência de documento, a
apresentação de documentos rasurados ou ilegíveis, ou a apresentação dos documentos de
habilitação em desacordo com o previsto neste Titulo inabilitará a proponente’ (peça 20, p. 45).
77. Afora as questões acima analisadas, o município foi instado a se manifestar sobre outras
irregularidades verificadas no texto do edital do RDC 6/2015, a saber:
a) ausência de critérios para a gradação das notas dos quesitos das propostas técnicas, considerando
que não há definição do que se espera em cada um dos aspectos analisados, conferindo elevada
carga de subjetividade aos avaliadores e possibilitando eventual direcionamento na contratação e a
não seleção da proposta mais vantajosa, em afronta aos princípios da isonomia, da impessoalidade,
da eficiência e do julgamento objetivo, bem como à jurisprudência do TCU, a exemplo dos
Acórdãos 769/2013-TCU-Plenário e 332/2003-2ª Câmara;
b) ausência de justificativa técnica e econômica para o uso da modalidade presencial de RDC, em
afronta ao art. 13 da Lei 12.462/2011;

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 015.380/2016-5

c) limitação da nota de preços a 100 pontos, tendo como resultado prático a fixação de preço
mínimo, abaixo do qual a referida nota se torna constante, não beneficiando a licitante que tenha
cotado preço abaixo do preço médio apurado entre o orçamento da administração e a média das
propostas, em desacordo com o objetivo de selecionar a proposta mais vantajosa para a
administração pública e com o princípio da economicidade;
d) exigência, no subitem 1.5.1 do Título IX (peça 20, p. 40) de quitação da inscrição da pessoa
jurídica, e, no termo de referência (peça 20, p. 6) também dos responsáveis técnicos, no Conselho
Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia - Crea ou no Conselho de Arquitetura e
Urbanismo - CAU, uma vez que não há previsão legal, conforme entendimento desta Corte nos
Acórdãos 806/2016 e 890/2007, do Plenário;
e) alteração da ordem prevista no art. 12 da Lei 12.462/2011 para as fases de habilitação e
julgamento, sem a devida motivação;
78. Para tais indagações, o Município de Teixeira de Freitas - BA não apresentou
esclarecimentos.
79. Quanto às alíneas ‘a’ e ‘c’, repisa-se a análise efetuada em instrução precedente (peça 28),
a seguir descrita.
80. O primeiro ponto a ser tratado diz respeito à utilização de critérios subjetivos no
julgamento das propostas técnicas, relativos aos quesitos ‘Conhecimento do Problema’ e ‘Plano
de Trabalho’.
81. Para a proposta técnica, o edital estabeleceu quatro quesitos:
a) Experiência da Licitante (EL) - 20 (vinte) pontos
b) Conhecimento do Problema (CP) - 15 (quinze) pontos
c) Plano de Trabalho (PT) - 25 (vinte e cinco) pontos
d) Experiência da Equipe Técnica (ET) - 40 (quarenta) pontos
82. Apresenta-se, a seguir, os critérios estabelecidos e pontuação a ser atribuída às propostas
apresentadas pelas licitantes no edital, especificamente quanto aos quesitos ‘Conhecimento do
Problema’ e ‘Plano de Trabalho’ (peça 20, p. 48-49):
7.2. Conhecimento do problema (CP) - 15 (quinze) pontos
Pontuação
Elemento a ser avaliado
Máxima
Conhecimento da situação dos serviços de esgotamento sanitário, 5,00
macrodrenagem, microdrenagem e pavimentação na área do estudo.
Conhecimento de parâmetros adequados para avaliação de desempenho
do serviço de saneamento integrado, sob os pontos de vista 5,00
operacional, econômico-financeiro, ambiental e institucional.
Conhecimento sobre a inter-relação entre as áreas afetas ao saneamento
integrado, ou seja, abastecimento público de água, esgotamento 5,00
sanitário, drenagem urbana e resíduos sólidos e pavimentação.

7.3. Plano de Trabalho (PT) - 25 (vinte e cinco) pontos


Pontuação
Elemento a ser avaliado
Máxima
Cronograma físico e plano de trabalho, com descrição das atividades a 6,00
serem desenvolvidas

Precedência e fluxograma de concatenação das atividades 7,00

Metodologia de execução das atividades 7,00


Estrutura organizacional com alocação da equipe técnica às atividades
5,00
previstas

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 015.380/2016-5

83. Da pontuação a ser atribuída a cada quesito, verifica-se que dos 100 pontos totais, 40 estão
atrelados a dois quesitos cuja avaliação é inegavelmente subjetiva: conhecimento do problema e
plano de trabalho.
84. Verifica-se que não foram estabelecidos no instrumento convocatório e no termo de
referência a ele anexado os critérios para a gradação das notas dos quesitos das propostas
técnicas, considerando que não há definição do que se espera em cada um dos aspectos
analisados.
85. Tal omissão impede que as licitantes verifiquem a coerência do procedimento de
julgamento das propostas, haja vista que não têm conhecimento prévio das condições necessárias
para se alcançar uma determinada nota nesses dois quesitos da proposta técnica.
86. Ao que parece, a avalição de cada item envolve consideravelmente a opinião pessoal do
julgador, conferindo subjetividade à atribuição dos pontos, em afronta ao princípio do
julgamento objetivo, no qual o administrador deverá observar critérios objetivos, a serem
definidos no ato convocatório para o julgamento das propostas. O princípio do julgamento
objetivo afasta a possibilidade de o julgador utilizar-se de fatores subjetivos ou de critérios não
previstos no ato convocatório, mesmo que em benefício da própria Administração.
87. A fixação deficiente de regras no edital do certame ora analisado confere elevada carga de
subjetividade aos avaliadores, possibilita eventual direcionamento na contratação e a não seleção
da proposta mais vantajosa, materializada em desclassificações indevidas e atribuições de notas
sem fundamento, além de contrariar os princípios da isonomia, da igualdade e do julgamento
objetivo. A jurisprudência desta Corte é pacífica nesse sentido, a exemplo dos Acórdãos
769/2013 - Plenário e 332/2003 - 2ª Câmara.
88. Também se constatou impropriedade na definição do cálculo da nota da proposta de
preços. Conforme o instrumento convocatório, a pontuação a ser atribuída às propostas de preços
apresentadas pelas licitantes será calculada pela seguinte fórmula:
NP = 100 x P1/P2, onde:
NP = Nota da Proposta de Preço;
P1= (V° + M) /2, onde:
V° = R$ 4.405.256,57 (valor orçado pelo Município de Teixeira de Freitas - BA)
M = Média dos preços ofertados pelas licitantes
P2 = Preço proposto por cada licitante
89. Mais adiante, o edital estabelece que o cálculo da ‘Nota Final’ (NF) dos proponentes far-
se-á de acordo com a média ponderada dos valores atribuídos às notas das Propostas Técnicas
(NT) e das Propostas de Preços (NP), da seguinte forma:
NF = (0,70) x NT + (0,30) x NP, onde:
NF = Nota Final
NT = Nota da Proposta Técnica
NP = Nota da Proposta de Preços
90. No instrumento convocatório consta ainda a informação que a Nota de Preços (NP) é
limitada a 100 pontos.
91. Ou seja, se NP = 100 x P1/P2, tem-se que a relação P1/P2 será limitada ao valor máximo
de 1,00 (um inteiro). Em outras palavras, para fins de pontuação de preço, torna-se totalmente
irrelevante que a proposta de preço esteja abaixo da média das propostas das demais licitantes.
92. Conforme restou consignado no voto condutor do Acórdão 479/2015 - Plenário, ao se
analisar caso similar ao dos presentes autos:
31. (...) o uso de tal critério não beneficia a licitante que tenha cotado preço abaixo do preço médio
apurado entre o orçamento da administração e a média das propostas. Ou seja, para fins de
pontuação de preço, torna-se totalmente irrelevante que a proposta de preço esteja abaixo da média
das propostas das demais licitantes.
93. O Relator ainda lembrou que a matéria já havia sido tratada por esta Corte de Contas em
algumas ocasiões, como por exemplo, no Acórdão 1.891/2006 - Plenário, no qual o Tribunal
entendeu haver afronta ao art. 40, inciso X, da Lei 8.666/1993, determinando que a entidade
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fiscalizada se abstivesse de utilizar, para atribuição de nota de preço, qualquer critério que tenha
como resultado prático a fixação de preço mínimo.
94. Para melhor elucidação da irregularidade, considerando como valor orçado pelo Município
de Teixeira de Freitas - BA o montante de R$ 4.405.256,57, convém atentar às notas obtidas a
partir de seis hipotéticas propostas, as quais variam entre 75% e 100% do citado valor de
referência.
licitantes P2 (R$) P1/P2 NP sem o limitador de 1,0 NP com o limitador de 1,0
licitante 1 4.405.256,57 0,94 94 94
licitante 2 4.184.993,74 0,99 99 99
licitante 3 3.964.730,91 1,04 104 100
licitante 4 3.744.468,08 1,10 110 100
licitante 5 3.524.205,26 1,17 117 100
licitante 6 3.303.942,43 1,25 125 100
Soma 23.127.596,99
Média (M) 3.854.599,50
V° 4.405.256,57
P1 4.129.928,03
95. Nota-se que sem a limitação imposta ao quociente (P1/P2) a maior nota de preço seria de
125, ao passo que, valendo-se do coeficiente limitador, esse índice máximo seria reduzido para
100, tornando sem efeito a vantagem econômica inerente às propostas de menor preço.
96. É dizer, não existe estímulo ao oferecimento de propostas mais vantajosas
economicamente, visto que o critério adotado para o cálculo da nota referente ao preço cotado
pela licitante tem como resultado prático a fixação de preço mínimo, abaixo do qual a referida
nota se torna constante.
97. Nesse momento, importante ressaltar que a fórmula de cálculo para a proposta de preços
foi objeto de impugnação, ainda em sede administrativa, pela sociedade empresária FG
Consultoria Ltda. (peça 19, p. 1-3), a qual teve seu pedido indeferido pela Comissão Especial de
Licitação sem que houvesse sólida fundamentação para tanto (peça 19, p. 4-10).
98. É de se ver, então, que os responsáveis pelo certame, ainda no curso do procedimento
licitatório questionado, já tinham ciência da insatisfação de possíveis licitantes quanto à forma de
cálculo da nota da proposta de preços.
99. Observou o Ministro-Relator, ainda, que o item 1.5.1, do Título IX, do edital exige certidão
de registro e quitação da inscrição da pessoa jurídica (peça 20, p. 40), e o termo de referência
(peça 20, p. 6) acrescenta dos responsáveis técnicos, no Conselho Regional de Engenharia,
Arquitetura e Agronomia (Crea) ou no Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU).
100. Tal exigência é considerada, no entendimento desta Corte, restritiva à participação de
possíveis interessados, além de não estar prevista em lei, conforme Acórdãos 806/2016 e
890/2007, do Plenário.
101. A uma, pois não há previsão na Lei 8.666/1993 para tal imposição, mas tão somente para o
registro ou inscrição no conselho profissional. A duas, porque o objetivo da imposição legal é
garantir que se contrate somente empresas ou profissionais aptos a executar o objeto licitado, e o
pagamento das contribuições junto às entidades profissionais, neste caso específico, ao Crea, não
interfere na aptidão da futura contratada, sendo irrelevante para a Administração estar ou não a
sociedade empresária ou seus profissionais quites com o respectivo conselho de classe.
102. Nesse sentido, confira-se mais algumas deliberações desta Corte de Contas acerca da
matéria:
Decisão 1.025/2001 - Plenário:
determinar à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) que deixe de incluir, nos atos
convocatórios da licitação, cláusulas restritivas ao caráter competitivo dos certames, a exemplo da
exigência de quitação perante a entidade profissional competente, atendo-se apenas à
documentação indicada nos arts. 28, 29, 30 e 31 da Lei 8.666/93;

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 015.380/2016-5

Acórdão 1.708/2003 - Plenário:


determinar à Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) (...) suprimir a exigência de
cópia da quitação da última anuidade junto ao Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e
Agronomia (Crea), prevista no item 4.1.4, alínea ‘a’, do edital, a qual se encontra em desacordo
com o art. 30, inciso I, da Lei 8.666/93;
Acórdão 1.314/2005 - Plenário:
determinar à Superintendência Regional da Receita Federal - 7ª Região Fiscal que (...) deixe de
incluir, nos atos convocatórios de futuras licitações, cláusulas que exijam a comprovação de
quitação de anuidade junto ao Crea, ante o disposto no art. 30, I, da Lei 8.666/93.
103. Sua Excelência também apontou no despacho que determinou a suspensão cautelar da
licitação (peça 32) a ausência no edital do certame de justificativa técnica e econômica para o
uso da modalidade presencial de RDC, em afronta ao art. 13 da Lei 12.462/2011, assim como a
falta de motivação no instrumento convocatório para a alteração da ordem prevista no art. 12 da
Lei 12.462/2011 para as fases de habilitação e julgamento, verbis:
34. (...) Trata-se da ausência de justificativa técnica e econômica para o uso da modalidade
presencial de RDC, em afronta ao art. 13 da Lei 12.462/2011 (Regime Diferenciado de
Contratações Públicas - RDC), conforme trecho do voto do relator:
‘7. A Lei 12.462/2011 define que as licitações sob Regime Diferenciado de Contratações Públicas -
RDC serão realizadas pela forma eletrônica. Esta apresenta vantagens em relação ao presencial pela
participação de maior número de licitantes, por proporcionar maior disputa, transparência e
competitividade, apesar disso, a mencionada lei admite o RDC presencial e, em alguns casos, o uso
dessa forma pode ser a melhor escolha. Todavia, considerando a expressa preferência na norma
para a forma eletrônica, a escolha diversa deve ser motivada’ (Acórdão 2.438/2015 - Plenário).
40. No que se refere ao procedimento licitatório, a Lei 12.462/2011 prevê, no art. 12, as seguintes
fases, nesta ordem: I - preparatória; II - publicação do instrumento convocatório; III -
apresentação de propostas ou lances; IV - julgamento; V - habilitação; VI - recursal; e VII -
encerramento. De acordo com o parágrafo único, a fase de habilitação poderá, mediante ato
motivado, anteceder a apresentação de propostas e o julgamento, desde que expressamente previsto
no instrumento convocatório. O edital, no entanto, prevê a análise da documentação de habilitação
antes do julgamento das propostas técnica e de preço, sem qualquer motivação (grifos do original).
104. Por tudo exposto, considerando que os esclarecimentos apresentados pelos Srs. João
Bosco Bittencourt, Welington Rossini Felix e Carim Aramuni Gonçalves são insuficientes para
descaracterizar as irregularidades configuradas, nem é possível caracterizar-se boa-fé nessas
ocorrências, tendo em vista que já tinham sido objeto de ciência e recomendação por parte deste
Tribunal por meio do Acórdão 2.035/2016 - 1ª Câmara, propõe-se a rejeição das razões de
justificativa ofertadas, cabendo multas com fulcro na Lei 8.443/1992, art. 58, inc. II.
CONCLUSÃO
105. O documento constante da peça 1 deve ser conhecido como representação, por
preencher os requisitos previstos nos arts. 235 e 237, inciso VI, do Regimento Interno/TCU, c/c
o art. 113, § 1º, da Lei 8.666/1993, e no art. 103, § 1º, da Resolução - TCU 259/2014.
106. No que tange à medida cautelar vigente, entende-se que ela teve perda de objeto a partir da
revogação do certame representado (peça 55, p. 2). Desde então, não mais subsistem os
pressupostos descritos no art. 276 do RI/TCU para manutenção desta providência, cabendo
declarar a medida cautelar proferida pelo Ministro-Relator nos autos em 27/6/2016 insubsistente
desde 27/7/2016, data da publicação, no Diário Oficial do município, do aviso de revogação do
RDC 6/2015.
107. O exame técnico mostrou que, ante a insuficiência das respostas recebidas para
descaracterizar as ilicitudes que motivaram suas respectivas demandas por esse Tribunal, cabe
rejeitar as razões de justificativa apresentadas pelos Srs. João Bosco Bittencourt, Welington
Rossini Felix e Carim Aramuni Gonçalves, aplicando-se-lhes, individualmente, a multa prevista
no art. 58, inciso II, da Lei 8.443/1992, c/c o artigo 268, inciso II, do Regimento Interno.
108. Por fim, propõe-se dar ciência ao Município de Teixeira de Freitas - BA das irregularidades
verificadas, de modo a evitar a repetição em futuros certames patrocinados com recursos
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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 015.380/2016-5

federais.
PROPOSTA DE ENCAMINHAMENTO
109. Ante todo o exposto, submetem-se os autos à consideração superior, propondo:
a) conhecer da presente representação, satisfeitos os requisitos de admissibilidade previstos
nos arts. 235 e 237, inciso VI, do Regimento Interno deste Tribunal, e no art. 103, § 1º, da
Resolução - TCU 259/2014, para, no mérito, considerá-la procedente;
b) declarar a medida cautelar proferida pelo Ministro-Relator nos autos em 27/6/2016
insubsistente desde 27/7/2016, data da publicação no Diário Oficial do Município do aviso de
revogação do RDC 6/2015;
c) rejeitar as razões de justificativa apresentadas pelos Srs. João Bosco Bittencourt
(CPF 189.746.196-87), prefeito do Município de Teixeira de Freitas - BA, Welington Rossini
Felix (CPF 961.041.475-34), membro da Comissão Especial de Licitação, e Carim Aramuni
Gonçalves (CPF 044.688.406-50), procurador adjunto do município, aplicando-lhes,
individualmente, a multa prevista no art. 58, II, da Lei 8.443/1992, fixando-lhes o prazo de
quinze dias, a contar da notificações, para que comprovem, perante este Tribunal (art. 214, inciso
III, alínea ‘a’, do Regimento Interno/TCU), o recolhimento das dívidas ao Tesouro Nacional,
atualizadas monetariamente desde a data do Acórdão até a dos efetivos recolhimentos, se forem
pagas após o vencimento, na forma da legislação em vigor;
d) autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992, a cobrança
judicial das dívidas caso não atendidas as notificações;
e) dar ciência ao Município de Teixeira de Freitas - BA sobre as seguintes irregularidades,
de modo a evitar a repetição em futuros certames patrocinados com recursos federais:
e.1) ausência de publicação do edital do certame no sítio oficial do município na rede
mundial de computadores (Internet), conforme disposto no art. 8º, § 1º, inciso IV, e § § 2º e 4º,
da Lei 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação);
e.2) exigência de apresentação, pelos potenciais licitantes, de recibo de retirada de edital,
uma vez que tal exigência não está prevista nos arts. 27 a 31 da Lei 8.666/1993, de forma que a
aquisição em apreço constitui uma faculdade e não um dever dos interessados, conforme
jurisprudência dessa Corte de Contas, a exemplo do Acórdão 6.613/2009 - 1ª Câmara, Rel. Min.
Walton Alencar Rodrigues;
e.3) exigência de demonstração, como condição para participação do certame, de capital
integralizado mínimo, correspondente a 10% do valor orçado para os serviços licitados, em
dissonância com o disposto no art. 31, § § 2º e 3º, da Lei 8.666/93;
e.4) a vistoria ao local das obras somente deve ser exigida quando for imprescindível ao
cumprimento adequado das obrigações contratuais, o que deve ser justificado e demonstrado pela
Administração no processo de licitação, devendo o edital prever a possibilidade de substituição
do atestado de visita técnica por declaração do responsável técnico de que possui pleno
conhecimento do objeto, conforme Acórdãos 983/2008, 2.395/2010, 2.990/2010, 1.842/2013,
2.913/2014, 234/2015 e 372/2015, todos do Plenário do TCU;
e.5) ausência de critérios para a gradação das notas dos quesitos das propostas técnicas,
considerando que não há definição do que se espera em cada um dos aspectos analisados,
conferindo elevada carga de subjetividade aos avaliadores e possibilitando eventual
direcionamento na contratação e a não seleção da proposta mais vantajosa, em afronta aos
princípios da isonomia, da impessoalidade, da eficiência e do julgamento objetivo, bem como à
jurisprudência do TCU, a exemplo dos Acórdãos 769/2013-TCU-Plenário e 332/2003-2ª
Câmara;
e.6) ausência de justificativa técnica e econômica para o uso da modalidade presencial de
RDC, em afronta ao art. 13 da Lei 12.462/2011;
e.7) limitação da nota de preços a 100 pontos, tendo como resultado prático a fixação de
preço mínimo, abaixo do qual a referida nota se torna constante, não beneficiando a licitante que

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tenha cotado preço abaixo do preço médio apurado entre o orçamento da administração e a
média das propostas, em desacordo com o objetivo de selecionar a proposta mais vantajosa para
a administração pública e com o princípio da economicidade;
e.8) exigência de quitação da inscrição da pessoa jurídica e dos responsáveis técnicos, no
Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea) ou no Conselho de
Arquitetura e Urbanismo (CAU), uma vez que não há previsão legal, conforme entendimento
desta Corte nos Acórdãos 806/2016 e 890/2007, do Plenário;
e.9) alteração da ordem prevista no art. 12 da Lei 12.462/2011 para as fases de habilitação
e julgamento, sem a devida motivação;
f) determinar à Secex - BA que acompanhe a próxima licitação lançada pelo Município de
Teixeira de Freitas - BA com vistas à contratação do objeto em tela, a fim de verificar se foram
corrigidas as falhas apontadas neste processo;
g) dar ciência do acórdão que vier a ser proferido, assim como do relatório e da proposta de
deliberação que o fundamentarem, ao representante, ao Município de Teixeira de Freitas - BA e à
Procuradoria da República no Município de Teixeira de Freitas - BA, esta última em face do
reiterado descumprimento pelo Município de Teixeira de Freitas do art. 8º, § 1º, inciso IV, e § §
2º e 4º, da Lei 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação).”

É o relatório.

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PROPOSTA DE DELIBERAÇÃO

Em exame, representação oferecida pela Secex/BA, a partir de documentação enviada pela


Ouvidoria, acerca da cobrança de valores supostamente desarrazoados para retirada dos editais do
Regime Diferenciado de Contratação - RDC 6/2015 e da Concorrência 8/2016, ambos conduzidos pela
Prefeitura Municipal de Teixeira de Freitas/BA.
2. Preliminarmente, consigno que a representação preenche os requisitos de admissibilidade
previstos no Regimento Interno, razão pela qual pode ser conhecida por este Tribunal.
3. Segundo a representação, o município somente disponibiliza cópia dos editais dos citados
procedimentos licitatórios mediante pagamento do valor unitário de R$ 200,00.
4. Conforme exposto no relatório precedente, além das falhas objeto da oitiva prévia,
relativas à ausência de publicação dos editais no sítio oficial da prefeitura e à ausência de divulgação
da possibilidade de disponibilização dos editais, sem ônus, em meio eletrônico, o exame dos
instrumentos convocatórios revelou a existência de outras irregularidades nos certames. Diante disso,
com vistas a facilitar e organizar a tramitação das questões relativas a cada um dos dois procedimentos
licitatórios contestados, determinei à unidade técnica a autuação de novo processo para tratar da
Concorrência 8/2016 (TC 018.953/2016-6), mediante a reprodução por cópia das peças pertinentes,
permanecendo estes autos apenas com a análise do RDC 6/2015.
5. O RDC 6/2015 visa a elaboração dos projetos executivos dos Sistemas de Macro e Micro
drenagem, Sistema de Esgotamento Sanitário, Pavimentação e do Parque do Penteado (saneamento
integrado nas Bacias do Rio Itanhém e do Rio Peruipe), com orçamento estimado em R$ 4.405.256,57.
6. Infere-se tratar de parte do objeto do Contrato de Repasse 0424442-02 (Siafi 681065),
firmado entre o Município de Teixeira de Freitas/BA e o Ministério das Cidades, com interveniência da
Caixa Econômica Federal, no valor de R$ 18.230.359,21, para execução de saneamento integrado na
Bacia do Rio Itanhém.
7. Considerando os pontos objetos da oitiva, as cláusulas potencialmente restritivas à
competitividade e a constatação de falhas nos critérios para julgamento, do tipo técnica e preço, bem
como a realização da sessão de abertura das propostas, considerei presentes os requisitos para
concessão de medida cautelar. Assim, anuindo à proposta da Secex/BA, determinei ao Município de
Teixeira de Freitas/BA, cautelarmente, que suspendesse o andamento do RDC 6/2015, com fulcro no
art. 276 do Regimento Interno do TCU (decisão comunicada ao Plenário em 29/6/2016).
8. Além disso, realizou-se nova oitiva do ente municipal para manifestação quanto à:
a) não publicação em seu sítio oficial na rede mundial de computadores (Internet) do
edital, conforme determina o art. 8º, inc. IV, e §2º, da Lei 12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação);
b) condicionar a obtenção do edital ao pagamento de R$ 200,00 por documento, deixando
de consignar, nos avisos da licitação publicados, a alternativa recomendada pelo TCU, por meio do
Acórdão 2.035/2016 – 1ª Câmara, de que cópias dos documentos em meio eletrônico poderiam ser
retirados na sede da prefeitura sem ônus para os licitantes, desde que comparecessem ao local de
retirada munidos de DVD, pen-drive, HD externo ou outro dispositivo apto à gravação dos
documentos;
c) exigência de apresentação, pelos licitantes, de recibo de retirada de edital, com o
comprovante do respectivo pagamento, como documento de habilitação (subitem 1.1 do Título IX), eis
que não previsto nos arts. 27 a 31 da Lei 8.666/1993;
d) exigência de demonstração, como condição para participação do certame, de capital
integralizado mínimo, correspondente a 10% do valor orçado para os serviços licitados (item 2 do
Título V), em dissonância com o disposto no art. 31, §§ 2º e 3º, da Lei 8.666/93;
e) ausência de critérios para a gradação das notas dos quesitos das propostas técnicas,
considerando que não há definição do que se espera em cada um dos aspectos analisados, conferindo
elevada carga de subjetividade aos avaliadores e possibilitando eventual direcionamento na contratação

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e a não seleção da proposta mais vantajosa, em afronta aos princípios da isonomia, da impessoalidade,
da eficiência e do julgamento objetivo, bem como à jurisprudência do TCU, a exemplo dos Acórdãos
769/2013-TCU-Plenário e 332/2003-2ª Câmara;
f) ausência de justificativa técnica e econômica para o uso da modalidade presencial de
RDC, em afronta ao art. 13 da Lei 12.462/2011;
g) limitação da nota de preços a 100 pontos, tendo como resultado prático a fixação de
preço mínimo, abaixo do qual a referida nota se torna constante, não beneficiando a licitante que tenha
cotado preço abaixo do preço médio apurado entre o orçamento da administração e a média das
propostas, em desacordo com o objetivo de selecionar a proposta mais vantajosa para a administração
pública e com o princípio da economicidade;
h) exigência, no subitem 1.5.1 do Título IX (peça 20, p. 40), de quitação da inscrição da
pessoa jurídica, e, no termo de referência (peça 20, p. 6), também dos responsáveis técnicos, no
Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia - CREA ou no Conselho de Arquitetura e
Urbanismo – CAU, uma vez que não há previsão legal, conforme entendimento desta Corte nos
Acórdãos 806/2016 e 890/2007, do Plenário;
i) alteração da ordem prevista no art. 12 da Lei 12.462/2011 para as fases de habilitação e
julgamento, sem a devida motivação.
9. Foi, ainda, promovida a audiência dos responsáveis:
a) Sr. João Bosco Bittencourt, prefeito, por não ter disponibilizado no sítio eletrônico do
município na Internet o edital, bem como ter deixado de consignar, nos avisos das licitações
publicados, a alternativa recomendada pelo TCU, por meio do Acórdão 2.035/2016 – 1ª Câmara, de
que cópias do documento em meio eletrônico poderiam ser retiradas na sede da prefeitura sem ônus
para os licitantes;
b) Sr. Welington Rossini Felix, membro da Comissão Especial de Licitação que assinou o
edital, e Sr. Carim Aramuni Gonçalves, procurador adjunto do município que aprovou a minuta do
instrumento convocatório, com as seguintes cláusulas restritivas ao caráter competitivo da licitação,
em afronta ao Acórdão 2.035/2016 – 1ª Câmara, que deu ciência ao Município de Teixeira de Freitas
de idênticas irregularidades:
b.1) exigência de apresentação, pelos licitantes, de recibo de retirada de edital, com o
comprovante do respectivo pagamento, como documento de habilitação;
b.2) exigência de demonstração, como condição para participação do certame, de capital
integralizado mínimo, correspondente a 10% do valor orçado para os serviços licitados.
10. O município informou a revogação do certame, após ser declarado fracassado, uma vez
que as duas empresas participantes foram consideradas inabilitadas, nos termos do parecer técnico do
setor de engenharia. Nesse sentido, requer o arquivamento do processo por perda de objeto.
11. Para a Secex/BA, o exame técnico demonstrou que as razões de justificativa apresentadas
pelos responsáveis não foram suficientes para descaracterizar as ilicitudes, cabendo a aplicação da
multa prevista no art. 58, inciso II, da Lei 8.443/1992, bem como a expedição de ciência das
irregularidades ao município, de modo a evitar a repetição em futuros certames patrocinados com
recursos federais. No que tange à medida cautelar vigente, entendeu que ocorreu a perda de objeto a
partir da revogação do certame representado.
12. Aduzo, desde logo, que acompanho a análise empreendida pela Secex/BA, no que tange à
confirmação das irregularidades apontadas, de modo que adoto sua instrução como razões de decidir,
sem prejuízo das considerações adiante expostas.
13. Não resta dúvida de que a suspensão cautelar da licitação, outrora determinada por este
Relator e referendada pelo Plenário, resta prejudicada, tendo havido a perda de seu objeto com a
revogação do certame, eis que extirpado o risco de ineficácia de decisão de mérito, bem assim o perigo
relativo à contratação em procedimento eivado de vícios.
14. No que se refere ao mérito, contudo, a representação deve ser considerada procedente,
conforme proposto pela unidade técnica. A revogação não ocorreu por iniciativa da prefeitura visando

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 015.380/2016-5

à correção das falhas do edital, mas sim pelo fracasso do certame. Destarte, entendo que, neste caso, a
revogação da licitação conduz à perda de objeto da cautelar, mas não da representação em si, cujo
exame de mérito se faz necessário com vistas a orientar pedagogicamente o município de modo a
evitar a repetição das irregularidades examinadas, bem como a responsabilizar os envolvidos, uma vez
promovidas as audiências.
15. Como visto no relatório, tanto as razões de justificativa oferecidas pelos responsáveis,
quanto a manifestação apresentada pelo município possuem teor similar, não tendo a resposta à oitiva
sequer abordado todas as questões indicadas.
16. A divulgação do edital em sítio oficial da internet é exigência prevista na Lei
12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação), art. 8º, inc. IV, e §2º. Apesar da expressa menção ao
dispositivo na oitiva, o município e o prefeito alegam, sem qualquer fundamento, que não há
obrigatoriedade legal nesse sentido.
17. Referida lei apenas dispensa a divulgação obrigatória na internet para os municípios com
população de até dez mil habitantes, que não é o caso do Município de Teixeira de Freitas/BA, cuja
população estimada em 2015 era de 157.804 habitantes, conforme consignado nas instruções da
unidade técnica.
18. Argumentam, ainda, de forma genérica dificuldades enfrentadas por cidades do interior,
carentes de pessoal e servidores especializados, o que por vezes as impede de utilizar os meios de
tecnologia comuns aos grandes centros urbanos. Em resposta à oitiva prévia, o município afirmara que
está trabalhando com afinco no sentido de implementar a publicação, em seu sítio oficial, dos editais
de licitações patrocinadas com recursos federais, nos termos da Lei 12.527/2011, e que espera
solucionar tal exigência até o final do primeiro semestre de 2016. Naquela oportunidade, manifestei-
me acerca do tempo transcorrido desde a entrada em vigor da Lei de Acesso à Informação (quase cinco
anos) e, portanto, que a declaração da intenção de atender aos ditames normativos, sem evidenciação
das dificuldades e sem comprovação do alegado, não exime a responsabilidade do prefeito pelo
descumprimento da lei.
19. A propósito, eventuais obstáculos na implementação da exigência foram considerados por
esta Corte, ao recomendar diretamente ao Município de Teixeira de Freitas/BA que, caso não seja
possível disponibilizar em seu sítio eletrônico os editais dos certames, deixe consignado nos avisos de
licitação publicados que cópias dos documentos em meio eletrônico poderão ser retirados na sede da
prefeitura sem ônus para os licitantes, desde que compareçam ao local de retirada munidos de
dispositivo apto à gravação dos documentos, nos termos do Acórdão 2035/2016 – 1ª Câmara.
20. Tal alternativa, no entanto, também não foi adotada. Em decorrência disso, o ente foi
ouvido por condicionar a obtenção do edital ao pagamento de R$ 200,00, deixando de consignar,
nos avisos da licitação publicados, a recomendação expedida pelo TCU, por meio da referida
deliberação.
21. Aduz o município que, nos termos do §5º do art. 32 da Lei 8.666/1993, é lícito que a
Administração exija taxas ou emolumentos referentes ao custo efetivo da reprodução gráfica do edital
e elementos constitutivos; que o valor cobrado não se refere apenas à reprodução do edital em si, mas
também de seus anexos, compostos de documentos técnicos, planilhas e demais demonstrativos
necessários ao conhecimento da obra. Embora argumente que os custos se justificam pelo volume e
característica da documentação, não demonstrou que, de fato, o valor cobrado refere-se apenas ao
custo da reprodução gráfica.
22. As manifestações ressaltam, ainda, que o edital estava disponível de forma gratuita, desde
que o requerente levasse a mídia digital para que fosse gravada. Ocorre que essa possiblidade não foi
consignada nos avisos de licitação publicados, não atendendo ao princípio da publicidade e à
recomendação do TCU, uma vez que não foi divulgada adequadamente. Assim, a existência de recente
deliberação desta Corte expressamente dirigida ao Município de Teixeira de Freitas/BA agrava a
responsabilidade do prefeito. Destaco que, embora o edital tenha sido publicado, inicialmente, em
11/12/2015, houve nova publicação do instrumento convocatório após a recomendação emanada pelo

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TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO TC 015.380/2016-5

Acórdão 2035/2016 – 1ª Câmara, oportunidade em que poderiam ter sido corrigidas as falhas
apontadas.
23. No caso concreto, mesmo que disponibilizassem o instrumento convocatório em meio
eletrônico, em nada contribuiria para ampliar a participação de licitantes, uma vez que o subitem 1.1
do Título IX do edital exigia, como documento de habilitação, a apresentação de cópia do recibo
de retirada do edital de licitação, com o comprovante do respectivo pagamento.
24. Não prosperam os argumentos apresentados pelo município e pelos responsáveis ouvidos
em audiência de que a exigência trata-se de uma consequência lógica da previsão constante do §5º do
art. 32 da Lei 8.666/1993. Na realidade, o que tal dispositivo prevê é a possibilidade de se exigir,
excepcionalmente, valores referentes ao fornecimento do edital, quando solicitado, limitados ao custo
da reprodução gráfica da documentação. Por outro lado, os arts. 27 a 31 é que definem os documentos
a serem exigidos para habilitação. A lista é exaustiva e não contempla a comprovação de pagamento
pelo fornecimento do edital. A exigência é, portanto, ilegal e restringe a competitividade.
25. Quanto à exigência de demonstração de capital integralizado mínimo correspondente a
10% do valor orçado para os serviços licitados (item 2 do Título V), pretendem o município, o membro
da comissão e o procurador adjunto demonstrar que o edital pode exigir o capital integralizado. Não se
trata de interpretação meramente gramatical, como alegado, mas de não se permitir prever exigências
que extrapolem as condições impostas pela lei, a qual não exige sua integralização. A própria Lei
8.666/1993, no art. 31, §2º, oferece alternativas à administração para que seja comprovada a
qualificação econômico-financeira dos licitantes, como a exigência de patrimônio líquido mínimo ou
de garantias. O relatório que acompanhou o Acórdão 5372/2012 – 2ª Câmara, ao concluir que “a
inclusão dessa exigência exorbita do texto legal, não cabendo ao mero aplicador da lei demandar o que
o legislador não cuidou de fazê-lo”, esclarece a questão alegada pelos responsáveis:

“Não se pode olvidar em acréscimo que o temor quanto a não integralização do capital seria
afastado acaso o Município requeresse que a empresa apresentasse patrimônio líquido mínimo,
que representa o capital próprio da empresa, devidamente escoimado das contas retificadoras,
tais como aquela correspondente ao capital a integralizar, ou, ainda, a prestação das garantias
previstas no § 1º, do art. 56, da Lei nº 8.666/93”.

26. Por oportuno, importante ressaltar que o RDC possui normatização própria, a Lei
12.462/2011, a qual, contudo, prevê, em seu art. 14, a aplicação do disposto nos arts. 27 a 33 da Lei
8.666/93, na fase de habilitação das licitações realizadas por meio do RDC. Assim, nos casos
expressamente previstos na lei que instituiu o regime diferenciado de contratações públicas, a lei de
licitações será aplicada.
27. No que se refere às demais irregularidades constantes da oitiva, o município sequer tentou
afastá-las.
28. A Secex/BA, nos itens 80 a 98 reproduzidos no relatório, demonstra a ausência de
critérios para a gradação das notas dos quesitos das propostas técnicas, uma vez que não há
definição do que se espera em cada um dos aspectos analisados; bem como impropriedade na
definição do cálculo da nota da proposta de preços, tendo em vista a limitação da nota a 100 pontos,
o que resulta, na prática, na fixação de preço mínimo.
29. O Acórdão 2438/2015 – Plenário, ao analisar exatamente um edital de RDC, deixou
assente a preocupação com a restrição à competividade da licitação e ao risco de não se obter a
proposta mais vantajosa para a Administração Pública decorrente da utilização de critérios subjetivos
de julgamento de propostas, mormente quando, como no caso em questão, há predominância da nota
técnica:

“9.1.2. a utilização de critérios subjetivos de julgamento de propostas de técnica e preço


prejudica a competitividade de procedimento licitatório e está em desacordo com o art. 20 da Lei

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12.462/2011 (RDC), bem como ofende os princípios constitucionais da impessoalidade e da


eficiência (art. 37 da CF/88);”

30. Também a matéria relativa à nota da proposta de preço já foi tratada por esta Corte de
Contas, a exemplo do Acórdão 1.891/2006 - Plenário, no qual o Tribunal entendeu haver afronta ao art.
40, inciso X, da Lei 8.666/1993, determinando que a entidade fiscalizada se abstivesse de utilizar, para
atribuição de nota de preço, qualquer critério que tenha como resultado prático a fixação de preço
mínimo.
31. A ausência de justificativa técnica e econômica para o uso da modalidade presencial
de RDC, em afronta ao art. 13 da Lei 12.462/2011, foi abordada no já citado Acórdão 2438/2015 –
Plenário, conforme trecho do voto do relator:

“7. A Lei 12.462/2011 define que as licitações sob Regime Diferenciado de Contratações
Públicas – RDC serão realizadas pela forma eletrônica. Esta apresenta vantagens em relação ao
presencial pela participação de maior número de licitantes, por proporcionar maior disputa,
transparência e competitividade, apesar disso, a mencionada lei admite o RDC presencial e, em
alguns casos, o uso dessa forma pode ser a melhor escolha. Todavia, considerando a expressa
preferência na norma para a forma eletrônica, a escolha diversa deve ser motivada.”

32. Observei, ainda, que o item 1.5.1 do Título IX exige certidão de registro e quitação da
inscrição da pessoa jurídica (peça 20, p. 40), e o termo de referência (peça 20, p. 6) acrescenta dos
responsáveis técnicos, no Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia - CREA ou
no Conselho de Arquitetura e Urbanismo – CAU. Tal exigência é considerada, no entendimento
desta Corte, restritiva à participação de possíveis interessados, além de não estar prevista em lei,
conforme Acórdãos 806/2016 e 890/2007, do Plenário.
33. No que se refere ao procedimento licitatório, a Lei 12.462/2011 prevê, no art. 12, as
seguintes fases, nesta ordem: I – preparatória; II – publicação do instrumento convocatório; III –
apresentação de propostas ou lances; IV – julgamento; V – habilitação; VI – recursal; e VII –
encerramento. De acordo com o parágrafo único, a fase de habilitação poderá, mediante ato motivado,
anteceder a apresentação de propostas e o julgamento, desde que expressamente previsto no
instrumento convocatório. O edital, no entanto, prevê a análise da documentação de habilitação
antes do julgamento das propostas técnica e de preço, sem qualquer motivação.
34. A manifestação do município incluiu também argumentação relativa à exigência da
“Declaração de Visita”. Tal ocorrência, todavia, já havia sido por mim afastada, nos termos do
Despacho de peça 32:

“25. Por outro lado, divirjo em parte da análise da Secex/BA no que se refere à exigência da
‘Declaração de Visita’. A unidade técnica considerou que o subitem 1.9.1 (peça 20, p. 41) encerra
cláusula restritiva à competitividade da disputa, uma vez que exige, como documento de
habilitação, tal declaração.
26. Embora, realmente, a jurisprudência seja pacífica no sentido de considerar que a exigência
de visita técnica como requisito de habilitação, quando não justificada pelas peculiaridades do
objeto, restringe indevidamente a competitividade, as recentes deliberações desta Corte
mencionadas pela Secex/BA acenam para a possibilidade de substituição da exigência da visita
por declaração formal assinada pelo responsável técnico acerca do conhecimento pleno das
condições e peculiaridades da obra.
27. No caso concreto, apesar da ausência de justificativa no processo licitatório que demonstre
ser indispensável a vistoria, o edital não exigiu expressamente sua realização, com a fixação de
data e com acompanhamento por servidor da prefeitura, como frequentemente se verifica. Na
realidade, o instrumento convocatório possibilitou a realização da visita e apenas exigiu, como

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documento de habilitação, a declaração de visita técnica. Conforme anexo IX, que integra o
edital (peça 22, p. 33), a empresa declara que o responsável técnico visitou e/ou tomou
conhecimento das condições do local onde serão executadas as obras, exatamente como
orientado pelo TCU nos Acórdãos 372/2015, 234/2015 e 1.842/2013, todos do Plenário.
28. Dessa forma, pondero que a exigência da declaração, exceto pela ausência de justificativa,
atende ao disposto no art. 30, inciso III, da Lei 8.666/1993, no sentido de que a documentação
relativa à qualificação técnica deve-se limitar à comprovação, quando exigido, de que o licitante
tomou conhecimento de todas as informações e das condições locais para o cumprimento das
obrigações objeto da licitação.”

35. De todo modo, cabe acrescentar as seguintes considerações. O ente municipal defende a
realização da vistoria prévia, apenas alegando que a obra é extremamente complexa, sem justificar de
forma efetiva sua necessidade, e contesta o entendimento de limitar a exigência à apresentação de
declaração do licitante. Para o município, permitir a opção entre a realização de vistoria ou a
apresentação de declaração fere o princípio da isonomia, pois as empresas que exercerem o direito de
vistoria disporão de condições diversas e superiores para qualificação do valor do serviço, aumentando
a ocorrência de discrepâncias entre as propostas daqueles que realizaram a vistoria e daqueles que
somente apresentaram a declaração.
36. O fato é que a exigência da visita ao local da obra é admitida, mas apenas quando for
imprescindível e devidamente justificado pela administração, o que não restou demonstrado na
presente situação.
37. Ademais, não se pode olvidar que a legislação prevê, para auxiliar os licitantes na
formulação de suas propostas, a existência de projeto básico, que deve conter o conjunto de elementos
necessários e suficientes, com nível de precisão adequado, para caracterizar a obra ou serviço de
engenharia, bem como possibilitar a avaliação do custo e a definição dos métodos e do prazo de
execução. Assim, um projeto básico ou termo de referência bem elaborado fornecerá as informações
suficientes às empresas.
38. Em casos excepcionais, que devem ser justificados e demonstrados pela Administração no
processo licitatório, a obrigatoriedade da visita é reconhecida, sem a inclusão de restrições, a exemplo
do disposto no voto condutor do Acórdão 2826/2014 – Plenário:

“10. (...) Como assinalado pelo relator original, admite-se a exigência desde que atendidos três
requisitos: (i) demonstração da imprescindibilidade da visita, cuja falta de comprovação fere
outros valores legais que necessitam ser preservados, como a competitividade, a moralidade e a
isonomia; (ii) não imposição de que a visita seja realizada pelo engenheiro responsável pela obra,
por ser essa incompatível com a legislação, além de impor ônus desnecessário aos licitantes e
restrição injustificada à competitividade do certame (acórdãos 2.543/2011, 2.583/2010 e
1.264/2010, todos do Plenário); e (iii) não seja estabelecido prazo exíguo para os licitantes
vistoriarem os diversos locais onde os serviços serão executados, pois isso importa em restrição
ao caráter competitivo do certame (acórdão 890/2008-Plenário).”

39. Considerando o teor da argumentação, mantenho a ciência sugerida pela Secex/BA


referente à vistoria ao local da obra, com vistas a esclarecer ao ente municipal o entendimento
predominante nesta Corte.
40. Diante disso, entendo, tal qual a unidade técnica, que as razões de justificativa
apresentadas devem ser rejeitadas, uma vez que não lograram elidir as irregularidades e as
responsabilidades do prefeito, do membro da Comissão Especial de Licitação e do procurador adjunto
do município, nos termos das audiências promovidas. Restou evidenciada, no âmbito do Município de
Teixeira de Freitas/BA, a reiterada prática de atos contrários ao ordenamento jurídico e a indiferença
com que vêm tratando os apontamentos e recomendações expedidos pelo TCU.

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41. Apesar da alegação, em resposta à oitiva prévia, de que houve reunião específica da
Comissão Especial referente ao RDC 6/2015 para tratar dos assuntos pertinentes ao Acórdão
2.035/2016 – 1ª Câmara, não houve correção das falhas apontadas. Destarte, considerando que houve
nova publicação do edital posteriormente à ciência das ilegalidades, sem a regularização, adequada a
responsabilização dos envolvidos e a aplicação da multa prevista no art. 58, inciso II, da Lei
8.443/1992.

42. Observo que a demanda dirigida à Ouvidoria desta Corte, a qual originou a presente
representação, foi encaminhada por pessoa responsável por diversas representações e denúncias junto
ao TCU, seja diretamente ou como representante de algumas empresas. Assim, propugno por dar
ciência da presente deliberação à Procuradoria da República no Estado da Bahia, considerando a forma
de atuação de empresas representadas pelo mesmo individuo em licitações promovidas por vários
municípios do Estado da Bahia, a exemplo do noticiado nos Acórdãos do Plenário 1944/2015 e
1600/2016, bem como no voto do Acórdão 802/2016, a seguir reproduzido:

“37. Por fim, reproduzo trecho do voto por mim proferido no TC-005.997/2015-1 (Acórdão
1944/2015 – Plenário), tratando de eventual relação entre representantes e licitantes:

14. Destaco ainda o fato de não somente aqui, como também ao menos no âmbito do TC-
005.320/2015-1, a empresa CCX Construções e Produtos Cerâmicos Ltda. ingressar com
representação neste Tribunal visando, ao que tudo indica, resguardar direitos da empresa
Nunes Santos Construção Ltda. ME. Naqueles autos, tendo a empresa Nunes sido
posteriormente acolhida no certame, e declarada vencedora, a empresa CCX chegou a
requerer a desistência da representação, o que não foi aceito pelo Tribunal (Acórdão
1.446/2015 - Plenário).
15. Muito embora a representação seja um salutar meio de fiscalização da gestão dos
recursos públicos, deve haver cuidado para evitar e coibir distorções no uso desse instituto.
Situações da espécie requerem uma análise acurada, de forma a identificar eventuais casos
que necessitem de medidas corretivas pelo Tribunal.
16. Considerando os fatos acima, entendo que deva ser dada notícia ao Ministério Público
Federal sobre a ação das empresas CCX Construções e Produtos Cerâmicos Ltda. e Nunes
Santos Construção Ltda. ME nas licitações em questão, nas quais uma empresa representa
ao TCU e a outra participa da licitação e, como ocorreu ao menos em uma oportunidade,
solicita desistência da representação caso seja a vencedora do certame.
17. Importante noticiar ao MPF que foi autuada outra representação junto a esta Corte de
Contas (TC-017.753/2015-5), da empresa BTJ Construtora Ltda. ME (CNPJ/MF
42.059.220/0001-30), representada pelo mesmo Sr. Antônio Baracat Habib Neto, tratando
de procedimento licitatório no Município de Itacaré/BA. Ressalto que tanto a BTJ
Construtora Ltda. ME, como a empresa Nunes Santos Construção Ltda. ME, adquiriram o
edital ora em análise e solicitaram a marcação da visita técnica, muito embora, ambas
tenham participado da sessão pública da Tomada de Preços 002/2015 apenas como
ouvintes.

38. Além dos já citados processos, registro que foram autuadas, sob minha relatoria, ao menos
mais nove representações (TCs 010.090/2015-0, 011.152/2015-0, 011.155/2015-9,
013.375/2015-6, 013.376/2015-2, 017.722/2015-2, 019.685/2015-7, 028.817/2015-0,
034.486/2015-0), por iniciativa da ora representante, BTJ Construtora Ltda., acerca de possíveis
irregularidades em licitações promovidas por diversos municípios do Estado da Bahia. Diante da
forma de atuação da empresa, que por vezes sequer participa dos certames, e do exposto no voto

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condutor do Acórdão 1944/2015 – Plenário, entendo que também da presente deliberação deva
ser dada ciência ao Ministério Público Federal.”

43. Registro, para encerrar, que o município apresentou novo expediente (peça 59), quando o
processo estava em meu Gabinete pronto para ser incluído na pauta, por meio do qual informa que o
RDC 6/2016 foi anulado por determinação deste Tribunal e requer o arquivamento do feito, em razão
da perda de objeto. Entendo que não há fundamento para acolher tal solicitação, conforme já exposto
na presente proposta de deliberação. Como visto, a anulação do certame não ocorreu por iniciativa da
prefeitura visando à correção das falhas do edital, muito menos em cumprimento à suposta
determinação do TCU, eis que inexistente; mas sim pelo fracasso do certame.

Ante o exposto, acolhendo, em essência, o encaminhamento da unidade técnica, manifesto-


me por que o Tribunal aprove o acórdão que ora submeto à deliberação deste Colegiado.

TCU, Sala das Sessões Ministro Luciano Brandão Alves de Souza, em 30 de agosto de
2016.

AUGUSTO SHERMAN CAVALCANTI


Relator

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ACÓRDÃO Nº 5620/2016 – TCU – 1ª Câmara

1. Processo TC-015.380/2016-5.
2. Grupo I – Classe VI – Assunto: Representação.
3. Representante: Secretaria de Controle Externo no Estado da Bahia (Secex/BA).
4. Órgão/Entidade/Unidade: Município de Teixeira de Freitas/BA.
5. Relator: Ministro-Substituto Augusto Sherman Cavalcanti.
6. Representante do Ministério Público: não atuou.
7. Unidade técnica: Secretaria de Controle Externo no Estado da Bahia (Secex/BA).
8. Representante Legal: Carlos Alberto Correa Siquara (OAB/BA 24.561) e outros.

9. Acórdão:
VISTOS, relatados e discutidos estes autos de representação oferecida pela Secex/BA, a partir de
documentação enviada pela Ouvidoria, acerca da cobrança de valores supostamente desarrazoados
para retirada dos editais do Regime Diferenciado de Contratação - RDC 6/2015 e da Concorrência
8/2016, ambos conduzidos pela Prefeitura Municipal de Teixeira de Freitas/BA,
ACORDAM os Ministros do Tribunal de Contas da União, reunidos em sessão de 1ª Câmara,
ante as razões expostas pelo Relator, em:
9.1. conhecer da representação, satisfeitos os requisitos de admissibilidade previstos para a
espécie, com fundamento no art. 237, inciso VI, e parágrafo único, do Regimento Interno/TCU, para,
no mérito, considerá-la procedente;
9.2. considerar prejudicada a medida cautelar determinada nestes autos, ante a perda de seu
objeto, com a revogação da licitação pelo Município de Teixeira de Freitas/BA;
9.3. rejeitar as razões de justificativa apresentadas pelos Srs. João Bosco Bittencourt (CPF
189.746.196-87), prefeito do Município de Teixeira de Freitas/BA, Welington Rossini Felix (CPF
961.041.475-34), membro da Comissão Especial de Licitação, e Carim Aramuni Gonçalves (CPF
044.688.406-50), procurador adjunto do município;
9.4. aplicar aos Srs. João Bosco Bittencourt (CPF 189.746.196-87), Welington Rossini Felix
(CPF 961.041.475-34) e Carim Aramuni Gonçalves (CPF 044.688.406-50), individualmente, a multa
prevista no art. 58, II, da Lei 8.443/1992, no valor de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), fixando-lhes o
prazo de 15 (quinze) dias, a contar das notificações, para que comprovem, perante o Tribunal (art. 214,
inciso III, alínea “a”, do Regimento Interno/TCU), o recolhimento das dívidas ao Tesouro Nacional,
atualizadas monetariamente desde a data do Acórdão até a dos efetivos recolhimentos, se forem pagas
após o vencimento, na forma da legislação em vigor;
9.5. autorizar, desde logo, nos termos do art. 28, inciso II, da Lei 8.443/1992, a cobrança judicial
das dívidas caso não atendidas as notificações;
9.6. dar ciência ao Município de Teixeira de Freitas/BA sobre as seguintes irregularidades, de
modo a evitar a repetição em futuros certames patrocinados com recursos federais:
9.6.1. ausência de publicação do edital do certame no sítio oficial do município na rede mundial
de computadores (Internet), conforme disposto no art. 8º, §1º, inciso IV, e §§2º e 4º, da Lei
12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação);
9.6.2. exigência de apresentação, pelos licitantes, de recibo de retirada de edital, uma vez que tal
exigência não está prevista nos arts. 27 a 31 da Lei 8.666/1993, de forma que a aquisição em apreço
constitui uma faculdade e não um dever dos interessados, conforme jurisprudência dessa Corte de
Contas, a exemplo do Acórdão 6.613/2009 - 1ª Câmara;
9.6.3. exigência de demonstração, como condição para participação do certame, de capital
integralizado mínimo, correspondente a 10% do valor orçado para os serviços licitados, em
dissonância com o disposto no art. 31, §§ 2º e 3º, da Lei 8.666/93;

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9.6.4. exigência de vistoria ao local das obras sem a observância de que essa medida só é cabível
quando for imprescindível ao cumprimento adequado das obrigações contratuais, o que deve ser
justificado e demonstrado pela Administração no processo de licitação, devendo o edital prever a
possibilidade de substituição do atestado de visita técnica por declaração do responsável técnico de que
possui pleno conhecimento do objeto, conforme Acórdãos 983/2008, 2.395/2010, 2.990/2010,
1.842/2013, 2.913/2014, 234/2015 e 372/2015, todos do Plenário do TCU;
9.6.5. ausência de critérios para a gradação das notas dos quesitos das propostas técnicas,
considerando que não há definição do que se espera em cada um dos aspectos analisados, conferindo
elevada carga de subjetividade aos avaliadores e possibilitando eventual direcionamento na contratação
e a não seleção da proposta mais vantajosa, em afronta aos princípios da isonomia, da impessoalidade,
da eficiência e do julgamento objetivo, bem como à jurisprudência do TCU, a exemplo dos Acórdãos
769/2013-TCU-Plenário e 332/2003-2ª Câmara;
9.6.6. ausência de justificativa técnica e econômica para o uso da modalidade presencial de
RDC, em afronta ao art. 13 da Lei 12.462/2011;
9.6.7. limitação da nota de preços a 100 pontos, tendo como resultado prático a fixação de preço
mínimo, abaixo do qual a referida nota se torna constante, não beneficiando a licitante que tenha
cotado preço abaixo do preço médio apurado entre o orçamento da Administração e a média das
propostas, em desacordo com o objetivo de selecionar a proposta mais vantajosa para a Administração
Pública e com o princípio da economicidade;
9.6.8. exigência de quitação da inscrição da pessoa jurídica e dos responsáveis técnicos, no
Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea) ou no Conselho de Arquitetura e
Urbanismo (CAU), uma vez que não há previsão legal, conforme entendimento desta Corte nos
Acórdãos 806/2016 e 890/2007, do Plenário;
9.6.9. alteração da ordem prevista no art. 12 da Lei 12.462/2011 para as fases de habilitação e
julgamento, sem a devida motivação;
9.7. determinar à Secex/BA que acompanhe a próxima licitação lançada pelo Município de
Teixeira de Freitas/BA para contratação do objeto em tela, a fim de verificar se foram corrigidas as
falhas apontadas neste processo;
9.8. dar ciência da presente deliberação, acompanhada das peças que a fundamentam, ao
Município de Teixeira de Freitas/BA, bem como à Procuradoria da República no Estado da Bahia, em
face do reiterado descumprimento pelo município do art. 8º, §1º, inciso IV, e §§2º e 4º, da Lei
12.527/2011 (Lei de Acesso à Informação) e diante da forma de atuação de representantes exposta no
item 41 da proposta de deliberação que fundamenta o presente Acórdão.

10. Ata n° 31/2016 – 1ª Câmara.


11. Data da Sessão: 30/8/2016 – Ordinária.
12. Código eletrônico para localização na página do TCU na Internet: AC-5620-31/16-1.
13. Especificação do quorum:
13.1. Ministros presentes: Walton Alencar Rodrigues (Presidente), Benjamin Zymler e Bruno Dantas.
13.2. Ministro-Substituto convocado: Marcos Bemquerer Costa.
13.3. Ministros-Substitutos presentes: Augusto Sherman Cavalcanti (Relator) e Weder de Oliveira.

(Assinado Eletronicamente) (Assinado Eletronicamente)


WALTON ALENCAR RODRIGUES AUGUSTO SHERMAN CAVALCANTI
Presidente Relator
Fui presente:

(Assinado Eletronicamente)
LUCAS ROCHA FURTADO

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Subprocurador-Geral

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