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TCE-RJ

PROCESSO Nº 250.497-8/16
RUBRICA Fls.: 16

TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO


GABINETE DA CONSELHEIRA MARIANNA MONTEBELLO WILLEMAN

VOTO GC-7

PROCESSO: TCE-RJ Nº 250.497-8/16


ORIGEM: PREFEITURA MUNICIPAL DE RESENDE
ASSUNTO: CONSULTA

CONSULTA. NECESSIDADE DE PREVISÃO


ORÇAMENTÁRIA PARA EXECUÇÃO DE OBRAS E
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. EMPENHAMENTO DE
DESPESAS CONTRATUAIS. MODALIDADES DE
EMPENHO. CONTRATOS QUE ULTRAPASSAM O
EXERCÍCIO FINANCEIRO. INTERPRETAÇÃO DO
DISPOSTO NOS ARTIGOS 7º E 57 DA LEI FEDERAL DE
LICITAÇÕES E CONTRATOS ADMINISTRATIVOS.
NECESSIDADE DE PREVISÃO NO ORÇAMENTO ANUAL
E NO PLANO PLURIANUAL. CONTRATOS COM
PREVISÃO DE PAGAMENTOS PARCELADOS DEVEM
SER EMPENHADOS SOB AS MODALIDADES DE
EMPENHO GLOBAL OU POR ESTIMATIVA.
CONHECIMENTO DA CONSULTA. EXPEDIÇÃO DE
OFÍCIO AO CONSULENTE PARA CIÊNCIA DA RESPOSTA
DESTA CORTE. ARQUIVAMENTO DOS AUTOS.

Trata-se de consulta apresentada a esta Corte pelo Prefeito Municipal de Resende,


Sr. José Rechuan Junior. O consulente, por meio do ofício acostado às fls. 02, objetiva
esclarecer as seguintes dúvidas, relacionadas à aplicação de dispositivos da Lei Federal nº
8.666/93, in verbis:

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(...) a fim de se manter a legalidade durante toda a execução dos contratos


administrativos, indaga-se a essa egrégia Corte:

a) A previsão orçamentária deve ser para todo o contrato ou para o exercício


financeiro?
b) O prévio empenho pode ser realizado mês a mês em um contrato com vigência
de 12 (doze) meses?

A 1ª Coordenadoria de Controle Municipal – 1ª CCM, apreciando o processo quanto


aos pressupostos para sua admissibilidade, concluiu que a consulta pode ser conhecida,
tendo sido destacada a ausência de envio de parecer do órgão de assessoria jurídica
municipal, versando sobre as dúvidas suscitadas. Quanto ao mérito, a Coordenadoria assim
se manifestou:

a.1) A previsão orçamentária deve ser para todo contrato, no caso de este ser
regido pelo art. 57, caput, da Lei n.º 8.666/93, uma vez que a regra geral dispõe
que a duração dos contratos ficará adstrita à vigência dos respectivos créditos
orçamentários.

a.2) Quanto aos contratos celebrados na forma prevista nas exceções elencadas no
art. 57 (incisos I, II, IV e V da Lei n.º 8.666/93), é necessária a existência de dotação
orçamentária suficiente para o empenhamento da despesa a ser executada no
exercício financeiro de sua celebração, de acordo com o respectivo cronograma
físico-financeiro, em conformidade com o art. 7.º, § 2.º, incisos III e IV da referida
lei. Destarte, a despesa do contrato a ser executada no exercício seguinte será
empenhada em dotação própria – crédito pelo qual correrá a despesa – daquele
exercício.

a.3) Nas contratações enquadradas na situação prevista no art. 42 da Lei


Complementar n.º 101/2000 (Lei de Responsabilidade Fiscal) é necessária a
existência de disponibilidade de caixa para pagamento de todo o valor do contrato,
independentemente de parte da execução vir a ocorrer no exercício seguinte.

b.1) nos contratos elencados no art. 57, caput, da Lei n.º 8.666/93, deverá ser
emitido empenho do tipo global no exercício financeiro de sua celebração pelo
valor total da sua execução.

b.2) Nas exceções previstas – contratos dispostos nos incisos I, II, IV e V do art. 57,
da Lei n.º 8.666/93 – deverá ser emitido empenho na modalidade global pelo valor
total das parcelas que serão executadas no exercício financeiro da celebração. As
parcelas que serão executadas nos exercícios seguintes serão empenhadas, também
de forma global, em dotação desses respectivos orçamentos, de acordo com o
respectivo cronograma físico-financeiro.

b.3) Não cabe a emissão de empenho ordinário para cada parcela do contrato, mas
sim empenho do tipo global, nas condições dispostas nos itens b.1 e b.2.

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A instrução concluiu, pois, pelo conhecimento da consulta, pela expedição de ofício


ao consulente, cientificando-o do exposto e pelo posterior arquivamento do processo (fls. 7 e
7-verso). A Subsecretaria de Controle Municipal - SUM, à fl. 8, remeteu os autos à Secretaria
Geral de Controle Externo – SGE, que concordou com a Coordenadoria.

Sequencialmente, o administrativo foi encaminhado ao Gabinete da Presidência -


GAP (fls. 8), a fim de que, em atendimento ao disposto no artigo 3º da Deliberação TCE nº
216/2000, fosse ouvida a Procuradoria Geral deste Tribunal - PGT, antes da designação do
Conselheiro-Relator do processo.

O parecer elaborado pela Procuradoria apresentou a seguinte conclusão, convergente


com o posicionamento do corpo instrutivo:

(a) No caso dos contratos enquadrados no caput do art. 57 da Lei de Licitações, a


previsão orçamentária e o respectivo empenho devem ser feitos para a
integralidade do valor do contrato (não se admitindo o empenho mês a mês).
As despesas empenhadas que não puderem ser pagas no próprio exercício até
o dia 31 de dezembro, serão consideradas Restos a Pagar (art. 36, Lei nº
4.320/1964); e

(b) No caso dos contratos enquadrados nos incisos I a V do art. 57 da Lei de


Licitações, serão empenhadas em cada exercício financeiro as despesas
relativas às prestações que deverão ser nele executadas, de acordo com o
cronograma físico-financeiro e cada contrato. As despesas previstas para os
exercícios subsequentes serão empenhadas posteriormente.

Entretanto, divergiu da manifestação da instância instrutiva com relação à aplicação


dos mandamentos do artigo 42 da Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF (fls. 13), nos
seguintes termos:

No caso das despesas decorrentes de contratos previstos no plano plurianual, ou


dos contratos de serviços continuados, ou, ainda, demais hipóteses dos incisos do
art. 57 da Lei de Licitações, o art. 42 da LRF exige apenas que haja disponibilidade
de caixa para aquelas despesas compromissadas a pagar até o final do exercício, ou
seja, para a despesa que tenha que ser realizada até o final do exercício, ainda que
não seja empenhada ou liquidada.

Por sua vez, as despesas que, pelo cronograma físico-financeiro dos contratos,
efetivamente devam ser pagas nos exercícios seguintes, deverão ficar a cargo dos
orçamentos próprios, não sendo necessário que haja disponibilidade de caixa
suficiente também para elas. No caso de uma obra prevista no Plano Plurianual,
por exemplo, a disponibilidade de caixa deverá ser apenas para aquelas devidas

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até 31 de dezembro do ano do término do mandato; as etapas seguintes serão


custeadas com recursos dos orçamentos seguintes, nos quais serão empenhadas.

Desta forma, a PGT se posicionou parcialmente de acordo com o corpo instrutivo.

O Ministério Público junto a este Tribunal, representado pelo Procurador Horacio


Machado Medeiros (fls. 15), se manifestou conforme a PGT.

É O RELATÓRIO.

A análise da consulta veiculada por meio do Ofício nº 214/GP/2016 se insere nas


competências desta Corte de Contas, à luz do art. 3º, VII, da LC nº 63/90, que assim dispõe:
“compete, também, ao Tribunal de Contas: (...) VII – responder a consulta formulada pelos titulares
dos Poderes Legislativo, Executivo ou Judiciário”. Sua disciplina normativa encontra-se prevista
no art. 68 do Regimento Interno desta Corte de Contas1 e, de forma mais minudente, na
Deliberação nº 216/002.

Nessa linha, à luz do art. 68, § 2º, do Regimento Interno, revela-se inequívoca a
legitimidade do Prefeito de Resende para formulá-la.

Quanto ao objeto versado nos autos, verifico que a ausência de documentação


adicional, inclusive parecer de órgão de assistência técnica ou jurídica da autoridade
consulente, não impede a compreensão da consulta. Ademais, a dúvida suscitada não se
refere à solução de caso concreto, mas à aplicação de dispositivos legais e regulamentares.
Assim sendo, não há obstáculo à análise de seu conteúdo, o que passo a fazer em seguida.

De todo modo, parece-me necessário alertar à municipalidade de que, em


oportunidades futuras, a consulta deverá ser enviada a esta Corte de Contas devidamente

1 Regimento Interno TCE/RJ, art. 68: “As consultas formuladas ao Tribunal só poderão ser feitas a respeito de dúvida suscitada
na aplicação de dispositivos legais e regulamentares, concernentes a matéria de sua competência.
§ 1º - As consultas devem conter a indicação precisa do seu objeto e, sempre que possível, ser formuladas articuladamente e
instruídas com parecer do órgão de assistência técnica ou jurídica da autoridade consulente ou do órgão central ou setorial dos
Sistemas de Administração Financeira, de Contabilidade e de Auditoria.
§ 2º - São competentes para formular consultas os titulares dos Poderes do Estado e dos Municípios e de suas Administrações
Indiretas, incluídas as Fundações instituídas ou mantidas pelo Poder Público.
§ 3º - A resposta à consulta formulada tem caráter normativo e constitui prejulgamento da tese, mas não do fato ou caso
concreto”.
2 Estabelece normas sobre a formulação de consultas previstas na Lei Complementar nº 63, de 1º de agosto de 1990.

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acompanhada por parecer técnico e/ou jurídico do ente de origem, na forma dos arts. 61, §
1º, do Regimento Interno3, e 2º, da Deliberação nº 216/004, uma vez que a competência
atribuída a esta Corte de Contas para análise de consultas não substitui a atividade de
assessoria interna do órgão, que deve ser previamente utilizada. Ademais, o envio de prévio
parecer facilita a compreensão da dúvida formulada e melhor municia os órgãos técnicos
desta Corte com os elementos necessários à elucidação da consulta apresentada.

Feito esse registro, passo à análise das questões trazidas pelo jurisdicionado. Antes de
examinar, diretamente, as indagações apresentadas pelo consulente, apresento o arcabouço
legal aplicável:

Lei Federal nº 8.666/93

Art. 7º As licitações para a execução de obras e para a prestação de serviços


obedecerão ao disposto neste artigo e, em particular, à seguinte sequência:
(...)
§ 2º As obras e os serviços somente poderão ser licitados quando:
(...)
III - houver previsão de recursos orçamentários que assegurem o pagamento das
obrigações decorrentes de obras ou serviços a serem executadas no exercício
financeiro em curso, de acordo com o respectivo cronograma;
(...)

Art. 57. A duração dos contratos regidos por esta Lei ficará adstrita à vigência dos
respectivos créditos orçamentários, exceto quanto aos relativos:
I - aos projetos cujos produtos estejam contemplados nas metas estabelecidas no
Plano Plurianual, os quais poderão ser prorrogados se houver interesse da
Administração e desde que isso tenha sido previsto no ato convocatório;
II - à prestação de serviços a serem executados de forma contínua, que poderão ter
a sua duração prorrogada por iguais e sucessivos períodos com vistas à obtenção
de preços e condições mais vantajosas para a administração, limitada a sessenta
meses;
III - (VETADO)

3 Regimento Interno TCE/RJ, art. 68, § 1º: “As consultas devem conter a indicação precisa do seu objeto e, sempre que possível,
ser formuladas articuladamente e instruídas com parecer do órgão de assistência técnica ou jurídica da autoridade consulente
ou do órgão central ou setorial dos Sistemas de Administração Financeira, de Contabilidade e de Auditoria”.
4 Deliberação TCE/RJ nº 216/00, art. 2º: “As consultas devem conter a indicação precisa do seu objeto e, sempre que possível,

instruídas com parecer do órgão de assistência técnica ou jurídica da autoridade consulente ou do órgão central ou setorial
dos Sistemas de Administração Financeira, de Contabilidade e de Auditoria”.

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IV - ao aluguel de equipamentos e à utilização de programas de informática,


podendo a duração estender-se pelo prazo de até 48 (quarenta e oito) meses após o
início da vigência do contrato.
V - às hipóteses previstas nos incisos IX, XIX, XXVIII e XXXI do art. 24 5, cujos
contratos poderão ter vigência por até 120 (cento e vinte) meses, caso haja interesse
da administração.

A primeira questão se refere à previsão orçamentária para as despesas inerentes a um


contrato. Conforme disposto no citado inciso III do parágrafo 2º do artigo 7º da Lei Federal
nº 8.666/93, é condição, para a realização de procedimento licitatório, a previsão de
recursos orçamentários para fazerem face às despesas que a administração pretende
realizar. Tal exigência decorre de mandamento constitucional que veda o início de
programas ou projetos não incluídos na lei orçamentária e a realização de despesas ou a
assunção de obrigações diretas que excedam os créditos orçamentários ou adicionais
(incisos I e II do artigo 167).

A grande premissa que deve nortear a gestão pública é que o orçamento – concebido
com fundamento em critérios técnicos objetivos, calcado no princípio doutrinário do
equilíbrio (fixação de despesas no montante das receitas previstas) e cuja execução deve ser
acompanhada/retificada pela necessária divulgação das metas bimestrais de arrecadação e
do cronograma mensal de desembolso (artigos 13 e 8º da Lei Complementar nº 101/2000 –
Lei de Responsabilidade Fiscal - LRF) – encerra o ideal de planejamento governamental,
capaz de representar as linhas das políticas públicas traçadas pelos governantes, em
atendimento às demandas sociais, e o equilíbrio da gestão fiscal.

A previsão orçamentária de que trata a lei se refere ao fato de que, para ser realizada,
uma despesa pública precisa estar contemplada no orçamento anual – ou seja:
concomitantemente, o objeto do gasto e o valor a ser dispendido devem constar do

5 Art. 24. É dispensável a licitação:


(...)
IX - quando houver possibilidade de comprometimento da segurança nacional, nos casos estabelecidos em decreto do
Presidente da República, ouvido o Conselho de Defesa Nacional;
(...)
XIX - para as compras de material de uso pelas Forças Armadas, com exceção de materiais de uso pessoal e administrativo,
quando houver necessidade de manter a padronização requerida pela estrutura de apoio logístico dos meios navais, aéreos e
terrestres, mediante parecer de comissão instituída por decreto;
(...)
XXVIII – para o fornecimento de bens e serviços, produzidos ou prestados no País, que envolvam, cumulativamente, alta
complexidade tecnológica e defesa nacional, mediante parecer de comissão especialmente designada pela autoridade máxima
do órgão;
(...)
XXXI - nas contratações visando ao cumprimento do disposto nos arts. 3º, 4º, 5º e 20 da Lei no 10.973, de 2 de dezembro de 2004,
observados os princípios gerais de contratação dela constantes.

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planejamento anual do ente federativo (Lei Orçamentária Anual). Em relação a objetivos


governamentais que, para sua consecução, precisem ultrapassar um exercício financeiro, a
previsão deverá ser verificada junto ao planejamento estratégico de médio/longo prazo da
administração pública – ou seja, no Plano Plurianual (com o qual os orçamentos anuais
precisam estar compatibilizados).

De fato, para além de atender a disposições legais, a verificação da existência de


previsão orçamentária para execução de uma despesa pública visa à busca da conformidade
entre plano e execução, de modo a assegurar a implementação das políticas públicas
delineadas, sem deixar de assegurar o equilíbrio das contas governamentais, viabilizando
uma gestão fiscal responsável.

Feitas estas breves considerações sobre o processo de planejamento governamental,


retorno à primeira questão formulada pelo consulente:

a) A previsão orçamentária dever ser para todo o contrato ou para o exercício


financeiro?

Para aqueles contratos cuja duração ocorrer dentro de um exercício financeiro


(situação descrita no caput do artigo 57 da Lei Federal nº 8.666/93), o conceito de previsão
orçamentária coincide com o de fixação da despesa na lei orçamentária anual (reitero:
adequação do objeto da despesa e do valor orçado, quer a despesa conste originalmente na
lei, quer seja nela incluída por meio de retificação orçamentária procedida pela abertura de
crédito adicional). Neste caso, obras e serviços só poderão ser licitados se seus objetos e
valores totais constarem do orçamento anual (original ou retificado). Em outras palavras, a
previsão orçamentária deve ser para todo o contrato.

Para aqueles contratos cuja duração ultrapassar um exercício financeiro (situação


descrita nas hipóteses dos incisos do artigo 57 da Lei Federal nº 8.666/93), o conceito de
previsão orçamentária transcende o da fixação da despesa na lei orçamentária anual. Deve
ser observado também o disposto no inciso IV do § 2º do artigo 7º da referida lei:

§ 2º As obras e os serviços somente poderão ser licitados quando:


(...)

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IV - o produto dela esperado estiver contemplado nas metas estabelecidas no Plano


Plurianual de que trata o art. 165 da Constituição Federal, quando for o caso.

Neste caso – isto é: obras e serviços cuja duração ultrapassar a de um exercício


financeiro –, a respectiva licitação depende de seus objetos, na íntegra, constarem do plano
plurianual e seus objetivos parciais e valores a serem executados no exercício em curso
constarem do orçamento anual (original ou retificado). Assim, a previsão orçamentária,
entendida como o objeto e valor consignado no orçamento anual em vigor, deve ser relativa
às parcelas que serão executadas no exercício financeiro em curso.

A segunda questão formulada pelo jurisdicionado foi a seguinte:

b) O prévio empenho pode ser realizado de mês a mês em um contrato com vigência
de 12 meses?

Inicialmente, considero necessário tecer alguns comentários. O primeiro estágio da


despesa pública é seu empenhamento6. Ato complexo da administração, o empenho consiste,
de forma simplificada, na verificação da paridade entre objeto e valor de uma despesa que se
pretenda realizar com o planejamento inserto na lei orçamentária (dotações orçamentárias).
Após tal compatibilização, procede-se à reserva do crédito orçamentário consignado na lei,
de modo a que este se vincule ao objeto de gasto definido. Cria-se, assim, uma obrigação
estatal, a ser ratificada pela efetiva prestação do serviço ou entrega do bem adquirido. Assim
registra o texto legal:

Lei Federal nº 4.320/64

Art. 58. O empenho de despesa é o ato emanado de autoridade competente que


cria para o Estado obrigação de pagamento pendente ou não de implemento de
condição.

Há três tipos de empenhos: ordinário, por estimativa e global.

O empenho ordinário deve ser utilizado para aquelas despesas a serem honradas em
uma única parcela (valor indivisível). Valor e credor estão previamente definidos.

6 Lei Federal nº 4.320/64, art. 60. É vedada a realização de despesa sem prévio empenho.

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O empenho por estimativa ocorrerá para aquelas despesas cujo montante não possa
ser previamente determinado (§ 2º do artigo 60 da Lei Federal nº 4.320/64). A palavra
estimativa se refere apenas ao valor da despesa. Este é o caso, por exemplo, de gastos com
água, luz e telefone. Os credores são definidos, assim como o objeto da despesa, mas só o uso
mensal precisará os efetivos valores que os usuários irão dispender para honrar seus
compromissos.

O empenho global deve ser utilizado para despesas cujo valor também seja
previamente conhecido, mas cujos pagamentos devam ocorrer parceladamente7 no decorrer
da execução orçamentária (conforme recebimentos/medições), geralmente em cada mês,
durante a fluência do exercício ou até de mais de um exercício financeiro.

A definição do tipo de empenho relativo a despesas contratuais e quaisquer outras


deve, pois, observar as características de cada uma das modalidades descritas.

Como o consulente cita empenhos “mês a mês”, pode-se inferir que está se referindo
a um contrato com vigência de 12 meses, cujos pagamentos ocorrerão mensalmente. Neste
caso, sendo conhecido o valor total contratado, deverá valer-se do empenho global,
empenhando à conta das dotações orçamentárias do exercício em curso o montante da
competência daquele mesmo período (recebimentos de bens/medições). Correrão à conta
do orçamento subsequente (ou orçamentos), também por empenhos globais, as despesas
relativas às demais parcelas (empenhando a cada exercício os valores relativos ao mesmo).

Agora, caso não seja conhecido efetivamente o valor total contratado, a modalidade
correta de empenho a ser utilizada é o por estimativa. Novamente, à conta de cada
exercício deverão ser empenhadas as despesas pertinentes ao mesmo.

Para ambas as situações, não é cabível o empenho ordinário, uma vez não estarmos
tratando de despesas cujos valores devem ser honrados em uma única parcela (valor
indivisível).

Por derradeiro, registro que tanto o corpo instrutivo quanto a PGT fizeram menção a
outra vertente para a assunção de despesas – a financeira. Trouxeram à questão as

7Lei Federal nº 4.320/64


Art. 60. (...)
§ 3º É permitido o empenho global de despesas contratuais e outras, sujeitas a parcelamento.

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disposições do artigo 42 da LRF8. Segundo o citado dispositivo, somente podem ser


contraídas obrigações de despesas nos últimos dois quadrimestres de mandato dos chefes de
Poderes e órgãos dos entes federativos caso haja suficiente disponibilidade de caixa para
honrá-las.

Nesta situação (fim de mandato), a disponibilidade de caixa passa a ser outro


limitador prévio para o regular ordenamento das despesas. Contrair despesas nos dois
últimos quadrimestres pressupõe, no caso em tela, a verificação da real disponibilidade de
caixa (recursos financeiros) para quitá-las. Aqui tratamos de questão financeira também.

Como explicitado pela PGT, para aquelas despesas cuja execução ultrapasse o fim do
exercício financeiro, a disponibilidade de caixa a que se refere a lei é relativa às parcelas da
competência do ano que transcorre. Em outras palavras, deve o gestor verificar a existência
de recursos financeiros para quitar as parcelas devidas até o fim do ano em que finda seu
mandato. As demais parcelas, a serem executadas no próximo ou nos próximos exercícios,
serão custeadas pelo novo ou pelos novos orçamentos.

Trago aqui o posicionamento desta Corte, consubstanciado nas ementas aprovadas


em Sessão Administrativa Extraordinária do Conselho Superior de Administração, realizada
em 12/03/02 (Processo TCE nº 300.469-1/01):

7 – É permitido ao gestor, em final de mandato, contrair obrigação de despesa que


esteja prevista no plano plurianual, cuja duração se estenda além de um exercício,
pois as despesas previstas no Plano Plurianual são passíveis de execução,
independentemente da época (mesmo nos dois últimos quadrimestres de mandato
dos gestores públicos) ou de sua duração para integral cumprimento (término além
do exercício financeiro coincidente com o final de mandato do gestor). Porém, para
serem realizadas no referido período, necessitam ter a devida suficiência
orçamentária-financeira (para empenho no ano e possibilidade de pagamento
integral deste mesmo valor) no exercício financeiro respectivo, a fim de não se
impactar orçamentos e disponibilidades de outros exercícios. Desta forma, fica
atendida a essência preconizada no art. 42 da Lei, ou seja, o não endividamento e a
não geração de déficits financeiros. – CONSELHEIRO RELATOR SERGIO F.
QUINTELLA

8Art. 42. É vedado ao titular de Poder ou órgão referido no art. 20, nos últimos dois quadrimestres do seu mandato, contrair
obrigação de despesa que não possa ser cumprida integralmente dentro dele, ou que tenha parcelas a serem pagas no exercício
seguinte sem que haja suficiente disponibilidade de caixa para este efeito.
Parágrafo único. Na determinação da disponibilidade de caixa serão considerados os encargos e despesas compromissadas a
pagar até o final do exercício.

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8 – É permitido ao gestor, em final de mandato, contrair obrigação de despesa


relativa a serviço contínuo preexistente, que seja essencial à manutenção da
Administração, cuja duração se estenda além de um exercício, pois algumas dessas
despesas ocorrem em período coincidente com o fim de mandato de gestores
públicos, face, por exemplo, a término de contratos. Objetivando assim não
descontinuar as ações da máquina administrativa e até propiciar a esta meios de
obter melhores condições nos processos licitatórios, entendo que as despesas
relativas a serviços contínuos, desde que preexistentes e essenciais à manutenção
da Administração (e somente com a conjunção destas duas condições), não se
prendem integralmente ao art. 42 da Lei Complementar n.º 101/2000, no tocante a
sua assunção e duração.

Destaca-se que deverá haver sim, como para todas as outras espécies de despesas
realizadas nos dois últimos quadrimestres de mandato de um gestor e não
passíveis de serem cumpridas no respectivo exercício financeiro, a suficiente
disponibilidade financeira para pagamento das parcelas que restarem relativas ao
que foi empenhado no ano em questão. – CONSELHEIRO RELATOR SERGIO F.
QUINTELLA

9 – Não é permitido ao gestor, em final de mandato, contrair obrigação de despesa


relativa a serviço contínuo que não seja preexistente, mesmo que seja essencial à
manutenção da Administração, cuja duração se estenda além de um exercício, na
medida que neste caso, fica tipificado a constituição de uma nova dívida que irá
impactar os orçamentos e as disponibilidades de caixa futuros. – CONSELHEIRO
RELATOR SERGIO F. QUINTELLA

10 – É permitido ao gestor, em final de mandato, contrair obrigação de despesa


relativa a aluguel de equipamentos e a utilização de programas de informática
preexistentes, que seja essencial à manutenção da Administração, cuja duração se
estenda além de um exercício, uma vez que o aluguel de equipamentos e a
utilização de programas de informática, analogamente ao exposto no item 8, desde
que preexistentes e essenciais à manutenção da Administração (e somente com a
conjunção destas duas condições), não se prendem integralmente ao art. 42 da Lei
Complementar n.º 101/2000, no tocante a sua assunção e duração.

Reitera-se que deverá haver sim, como para todas as outras espécies de despesas
realizadas nos dois últimos quadrimestres de mandato de um gestor e não
passíveis de serem cumpridas no respectivo exercício financeiro, a suficiente
disponibilidade financeira para pagamento das parcelas que restarem relativas ao
que foi empenhado no ano em questão. – CONSELHEIRO RELATOR SERGIO F.
QUINTELLA

11 – Não é permitido ao gestor, em final de mandato, contrair obrigação de


despesa relativa a aluguel de equipamentos e a utilização de programas de
informática que não sejam preexistentes, mesmo que seja essencial à manutenção
da Administração, cuja duração se estenda além de um exercício, já que neste caso,
fica tipificado a constituição de uma nova dívida que irá impactar os orçamentos e
as disponibilidades de caixa futuros. – CONSELHEIRO RELATOR SERGIO F.
QUINTELLA

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Resumindo, neste ponto, portanto, acompanho a PGT – a disponibilidade de caixa


deve ser relativa às parcelas pertinentes ao exercício em transcurso e não, necessariamente,
relativa a todo o valor contratado.

Destarte, em face do exposto, posiciono-me PARCIALMENTE DE ACORDO com o


corpo instrutivo e DE ACORDO com as conclusões dos pareceres da Procuradoria-Geral
deste Tribunal e do Ministério Público Especial e

VOTO:

I – pelo CONHECIMENTO da presente consulta;

II - pela EXPEDIÇÃO DE OFÍCIO ao Prefeito Municipal de Resende, para que tome ciência
das respostas aos quesitos formulados, nos temos da fundamentação constante deste voto;

III – por DETERMINAÇÃO à Secretaria das Sessões para que, ao efetuar a expedição do
ofício, anexe cópia do inteiro teor deste voto.

IV – pelo posterior ARQUIVAMENTO do presente administrativo.

GC-7,

MARIANNA M. WILLEMAN
RELATORA

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