Você está na página 1de 18

EXCELENTÍSSIMO JUIZ...

(juízo que apreciou a demanda judicial em primeira


instancia)

Processo n.º....

APELANTE, já qualificado nos autos da presente AÇÃO JUDICAL PARA


CORREÇÃO DOS SALDOS DO FGTS ajuizada em face da CAIXA
ECONÔMICA FEDERAL, vem à presença de Vossa Excelência, por meio de seus
advogados, inconformado(a) com a r. sentença, interpor

RECURSO DE APELAÇÃO

com fulcro no art.1.009 e seguintes do Novo CPC e nas razões abaixo expostas,
para após requerer sejam recebidas nos seus efeitos legais e encaminhadas ao
Tribunal Regional Federal, com as devidas cautelas, destacando-se a tempestividade
do apelo e o correto preparo, conforme comprovante em anexo.

Nestes Termos,
Pede Deferimento.

Estado, ___ de __________ de 201_.

(Nome, assinatura e número da OAB do advogado)

(Tribunal Regional Federal competente para apreciar o recurso proposto)

1
EXCELENTÍSSIMOS JUÍZES (AS) DO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL

EXCELENTÍSSIMO JUÍZ (A) RELATOR (A)

RAZÕES DO RECURSO DE APELAÇÃO

Recorrente: ______________________________

Recorrida: Caixa Econômica Federal

Autos nº ______________________________

EMÉRITOS JULGADORES:

Em que pese o notável saber jurídico do juízo Monocrático, a


respeitável decisão vulnerada deve ser reformada.

1) DOS FATOS DA DECISÃO APELADA

O Apelante ingressou com a presente demanda com objetivo de


obter a correção monetária dos depósitos referentes as contas vinculadas do FGTS,
uma vez que o art. 2º da Lei nº 8.036/1990 estabelece que os saldos das contas
vinculadas do FGTS (com todos os recursos a ela vinculados), devem ser
atualizados mediante a aplicação de juros e correção monetária.

Destaca-se que a correção monetária dos saldos de FGTS é


calculada pela TR, porém esta taxa não acompanha as perdas oriundas da inflação.

Importante ressaltar que as mudanças na metodologia de cálculo da


TR (Taxa Referencial), afetaram o desenvolvimento regular da proteção patrimonial
que o trabalhador deve esperar, quando é obrigado, por lei, a ter um destaque do seu
patrimônio, para fins de sua própria proteção, como é o caso do FGTS.

2
Especificamente, a metodologia de cálculo da TR, há muito
estabelecida, deixou de encampar a correção monetária, desvinculando-se, por
vezes de forma acentuada, da recomposição que se espera dos índices de inflação
oficiais.

Inclusive, o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL no julgamento da


ADI de nº 44251, fixou entendimento sobre a impossibilidade jurídica de utilização
do índice de remuneração da caderneta de poupança como critério de correção
monetária, bem como, no julgamento da ADI 493-0/DF2 declarou a
inconstitucionalidade dos arts. 18, caput, §§ 1º e 4º; 20; 21 e § único; 23 e
parágrafos; e 24 e parágrafos, todos da Lei nº 8.177/91, lei essa que regulamenta a
TR.

Sendo assim, com a declaração de inconstitucionalidade da


utilização da TR como índice de correção monetária para os precatórios (ADI de nº
4425), acabou atingindo também outros casos em que a TR é utilizada para correção
de valores, tendo em vista que as decisões proferidas pelo STF são vinculantes, e,
por isso, devem se aplicar à todos os casos sobre o mesmo tema (art. 102, §2º da
CF/88).

Apesar disso, o D. Juiz a quo julgou improcedente a presente ação,


sob o fundamento de que deve ser aplicada a TR para correção monetária das contas
vinculadas de FGTS, conforme o previsto nas Leis de nº 8.036/90 e 8.177/91, não
cabendo o pleito de diferenças devidas no período reivindicado na inicial.

Como será demonstrado a seguir, o Apelante necessita submeter a


matéria à apresentação de V. Exa., como forma de reestabelecer o seu direito, em
razão dos fatos e fundamentos expostos, especificamente a lesão causada pela
diminuição de seu patrimônio.

Então, o entendimento do Magistrado de 1º grau não deve


prevalecer, motivo pelo qual, o ora Apelante interpõe o presente Recurso de
1
ADI 4425 / DF. Tribunal Pleno do STF. Relator Ministro AYRES BRITTO, Relator p/ acórdão Ministro
LUIZ FUX. DJE de 18/12/2013
2
ADI 493-0/DF. Tribunal Pleno do STF. Relator Ministro MOREIRA ALVES, DJE de 01/05/1992

3
Apelação, uma vez que a sentença viola diversos dispositivos legais, bem como
encontra-se em discordância da interpretação conferida pelo STF ao tema, devendo
ser reformada a sentença.

2) DA INCONSTITUCIONALIDADE DA TR COMO ÍNDICE DE


CORREÇÃO MONETÁRIA

A TR foi afastada como índice de correção monetária, pois a


metodologia de cálculo da TR, há muito estabelecida, deixou de encampar a
correção monetária, desvinculando-se da recomposição que se espera dos índices
oficiais.

Tanto é assim, que o STF dentro de sua competência constitucional


fixada no §2º do art. 102 da CF/88, proferiu decisão nos autos da ADI 493-0/DF,
com maioria de votos no sentido de declarar a inconstitucionalidade dos arts. 18
“caput”, §§ 1º e 4º; 20; 21 e § único; 23 e parágrafos; e 24 e parágrafos, todos da
Lei 8.177/91 (Lei da TR).

“Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal,


precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:
§ 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo
Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de
inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de
constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito
vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder
Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas
esferas federal, estadual e municipal.”

Com essa declaração de inconstitucionalidade, o STF tornou sem


efeito a Súmula 459 do STJ e outros dispositivos da lei sobre o mesmo tema,
prevalecendo o novo entendimento resultante do julgamento da ADI 493-0/DF.
Abaixo segue transcrição da ementa:

“EMENTA: Ação Direta de Inconstitucionalidade


-Se a lei alcançar os efeitos futuros de contratos celebrados
anteriormente a ele será essa lei retroativa (retroatividade

4
mínima) porque vai interferir na causa, que é um ato ou fato
ocorrido no passado.
- O disposto no art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal se
aplica a toda e qualquer lei infraconstitucional, sem qualquer
distinção entre lei de direito público e lei de direito privado,
ou entre lei de ordem pública e lei dispositiva. Precedente do
STF.
-Ocorrência, no caso, de violação de direito adquirido. A
Taxa Referencial (TR) não é índice de correção monetária,
pois, refletindo as variações do custo primário da captação
dos depósitos a prazo fixo, não constitui índice que reflita a
variação do poder aquisitivo da moeda. Por isso não há
necessidade de se examinar a questão de saber se as normas
que alteram índice de correção monetária se aplicam
imediatamente, alcançando, pois, as prestações futuras de
contratos celebrados no passado, sem violarem o disposto no
artigo 5º, XXXVI, da Carta Magna.
- também ofendem o ato jurídico perfeito os dispositivos
impugnados que alteram o critério de reajuste das prestações
nos contratos já celebrados pelo sistema do Plano
equivalência Salarial por Categoria Profissional (PES/CP)
Ação Direta de Inconstitucionalidade julgada procedente
para declarar a inconstitucionalidade dos artigos 18, “caput”
e parágrafos 1 e 4; 20; 21 e parágrafo único; 23 e
parágrafos; e 24 e parágrafos, todos da Lei n. 8.177, de 1 de
março de 1991.”

Da ementa acima, conclui-se que a TR não é índice de correção


monetária e sim de remuneração de capital, não servindo para recompor o poder
aquisitivo da moeda, diversamente do que se observa no INPC e no IPCA, ambos
índices de correção monetária.

Nesse sentido, são as decisões dos Tribunais:

“CIVIL. SISTEMA DE FINANCIAMENTO DA HABITAÇÃO.


SALDO DEVEDOR. ATUALIZAÇÃO. TR. ÍNDICE DE
REMUNERAÇÃO DE CAPITAL. INAPLICABILIDADE.
ADIN 493-0/DF. SUBSTITUIÇÃO PELO INPC. VARIAÇÃO
DO PODER AQUISITIVO DA MOEDA. COERÊNCIA COM
A SISTEMÁTICA DO SFH. LEI Nº 4.380/64. 1. A não
incidência da TR- e, por conseguinte, a necessidade de sua
substituição por outro percentual- destinado á correção do
saldo devedor do mútuo habitacional, se justifica diante da
natureza de que ela se reveste, feição que restou devidamente
delineada pelo Pretório Excelso, quando da apreciação da
5
ADIN nº 493-0/DF. (j.em 25.06.1992, publ. Em DJ de
04.09.1992, Rel. Min. Moreira Alves) 2. Cuida-se, a TR, de
índice de remuneração de capital e não de fator de correção
monetáia. O INPC, diversamente do que se verifica em
relação à TR, reflete a variação do poder aquisitivo da
moeda, de sorte que sua aplicação se impõem, no caso
concreto, com afastamento da Taxa referencial, inábil a
expressar essa realidade. Não se olvide, para tanto, que a TR
não se mostr compatível com a sistemática dos contratos de
mútuo habitacional inseridos no contexto do Sistema
Financeiro da Habitação, a teor da regra mater representada
pela Lei nº 4.380/64. 3. Pelo não provimento da apelação.”
(TRF-5- AC: 326198 SE 2001.85.00.005125-9, Relatos:
Desembargador Fedearl Edílson Nobre (Substituto), Data de
Julgamento: 19/04/2004, Segunda Turma, Data de
Publicação: Fonte: Diário da Justiça- Data: 09/06/2004-
Página: 646- nº 110- Ano: 2004)

Logo, a decisão do Juiz a quo no sentido de que a TR deve ser


aplicada para corrigir os saldos do FGTS, por estar em consonância com a Lei nº
8.177/1991 e a Súmula 459 do STJ não pode prevalecer, pois tem efeito vinculante
e superior a decisão do STF a respeito da inconstitucionalidade das leis subsidiárias.

Como a TR não pode ser aceita como índice de correção monetária


adequado, deve ser substituída por outro índice que reponha as perdas monetárias
dos saldos do FGTS.

O Juiz a quo baseou ainda sua sentença na alegação de ter o FGTS


natureza institucional e não contratual, e, por isso, não teria direito ao mesmo
tratamento das contas poupança.

Ocorre que, mesmo que seja aceita a natureza institucional, este


fato não impede o direito pleiteado pelo Apelante, inclusive, por este encontrar o
respaldo na Constituição Federal.

Abaixo colaciona-se julgado em processo similar:

“(...) Conforme se depreendo da leitura do artigo acima, ficou


determinado que aos saldos das contas do FGTS passaria a
ser aplicado a taxa aplicável aos depósitos de poupança, ou
seja, a TR, mantidas as taxas de juros previstas na legislação

6
própria do FGTS, qual seja, a taxa de 3% de juros anuais,
conforme já supra exposto.
Não se pode discutir, portanto, que é legal a aplicação da TR
como índice de correção dos saldos do FGTS. De fato, há lei
vigente que prevê tal aplicação. No entanto, há que se
analisar, de fato, se a legalidade é capaz de afastar o fato de
que o índice previsto na norma não é capaz de 'corrigir
monetariamente' o saldo dos depósitos de FGTS, como
expressamente previsto na Lei 8.036/90, nos seus artigos 2º e
13:
Art. 2º O FGTS é constituído pelos saldos das contas
vinculadas a que se refere esta lei e outros recursos a ele
incorporados, devendo ser aplicados com atualização
monetária e juros, de modo a assegurar a cobertura de suas
obrigações.
(...) omissis.
Art. 13. Os depósitos efetuados nas contas vinculadas serão
corrigidos monetariamente com base nos parâmetros fixados
para atualização dos saldos dos depósitos de poupança e
capitalização juros de (três) por cento ao ano. - grifou-se.
(...)
No entanto, foi com o julgamento das ADI 4425 e 4357, onde
o Supremo Tribunal Federal analisou a inconstitucionalidade
da Emenda Constitucional nº 62/2009, que ficou inconteste o
entendimento daquela Corte no sentido de que a TR não
pode ser utilizada como índice de atualização monetária, eis
que não é capaz de espelhar o processo inflacionário
brasileiro.
(...)
A razão disso é clara: a inflação é sempre constatada em
apuração ex post, de sorte que todo índice definido ex ante é
incapaz de refletir a efetiva variação de preços que
caracteriza a inflação. É o que ocorre na hipótese dos autos.
A prevalecer o critério adotado pela EC nº 62/09, os créditos
inscritos em precatórios seriam atualizados por índices pré-
fixados e independentes da real flutuação de preços apurada
no período de referência. Assim, o índice oficial de
remuneração da caderneta de poupança não é critério
adequado para refletir o fenômeno inflacionário.
Destaco que nesse juízo não levo em conta qualquer
consideração técnico-econômica que implique usurpação pelo
Supremo Tribunal Federal de competência própria de órgãos
especializados. Não se trata de definição judicial de índice de
7
correção. Essa circunstância, já rechaçada pela
jurisprudência da Casa, evidentemente transcenderia as
capacidades institucionais do Poder Judiciário. Não obstante,
a hipótese aqui é outra.
Diz respeito à idoneidade lógica do índice fixado pelo
constituinte reformador para capturar a inflação, e não do
valor específico que deve assumir o índice para determinado
período. Reitero: não se pode quantificar, em definitivo, um
fenômeno essencialmente empírico antes mesmo da sua
ocorrência. A inadequação do índice aqui é autoevidente.
(...)
Ou seja, no sistema atual o governo busca implementar
projetos subsidiados às custas da baixa remuneração e quase
nula atualização monetária dos saldos das contas do Fundo
de Garantia. Ou seja, inexiste, no sistema atual, qualquer
remuneração aos saldos das contas do FGTS. Pelo contrário,
pois os juros de 3% ao ano sequer são suficientes para repor
a desvalorização da moeda no período.
(...)
Vê-se, pois que, enquanto o INPC abrange as famílias com
rendimentos mensais entre 1 a 5 salários mínimos e é
calculado pelo IBGE com base em pesquisa de preços nas 11
regiões de maior produção econômica cruzada com a
Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) - encontro de 2
parâmetros, o IPCA-E, por sua vez, alcança o patamar
familiar de 1 a 40 salários mínimos é calculado também
IBGE de forma direta, abrangendo os seguintes setores:
alimentação e bebidas, habitação, artigos de residência,
vestuário, transportes, saúde e cuidados pessoais, despesas
pessoais, educação e comunicação, sendo este último (IPCA-
E) mais abrangente e refletindo a real inflação nos
principais setores econômicos que influenciam os gastos
familiares de forma real (sem interferência da POF a qual
pode ficar congelada por 5 anos, diversamente do que ocorre
na fórmula de cálculo do INPC que deve ser cruzada com
aquela pesquisa).
(...)
Corroborando, ainda, a eleição de tal índice, importa
consignar que em sessão ordinária do Conselho da Justiça
Federal - CNJ, ocorrida em 25/11/2011, foi aprovado o novo
'Manual de Cálculos da Justiça Federal' onde passa a incidir
o IPCA-e como indexador de Correção Monetária para as
sentenças condenatórias em geral, conforme se pode verificar
no sítio do cjf na internet (www.cjf.jus.br).
8
Assim sendo, entendo que deve ser aplicado, para fins de dar
cumprimento à atualização monetária dos saldos das contas
do FGTS prevista no art. 2º da Lei 8.036/90, o IPCA-E do
IBGE, em substituição à TR, desde janeiro do ano de 1999, a
partir de quando tal índice deixou de refletir a variação
inflacionária da moeda. Além disso, tais valores deverão ser
acrescidos de juros de mora de 1% a. M. (um por cento ao
mês), a contar da citação, até o efetivo pagamento.
Ante o exposto, JULGO PROCEDENTES os pedidos,
condenando a CEF a pagar à parte autora os valores
correspondentes à diferença de FGTS em razão da aplicação
da correção monetária pelo IPCA-E desde janeiro de 1999
em diante até seu efetivo saque, cujo valor deverá ser
apurado em sede de cumprimento de sentença. Caso não
tenha havido saque, tal diferença deverá ser depositada
diretamente na conta vinculada do autor.
Sem custas e honorários advocatícios (artigos 54 e 55 da Lei
nº 9.099/95 c/c artigo 1º da Lei 10.259/01).
Sentença publicada e registrada eletronicamente. Intimem-se.
Havendo recurso (s), intime (m)-se a (s) parte (s) contrária (s)
para apresentação de contrarrazões, no prazo de dez dias.
Recebo, desde já, eventual recurso no efeito devolutivo.
Juntados os eventuais recursos e as respectivas contrarrazões
apresentadas no prazo legal devem ser os autos remetidos à
Turma Recursal.”

Diante disso, deve ser reformada a sentença proferida, uma vez que
contraria a jurisprudência consolidada pelo STJ, devendo ser reconhecido o direito
às diferenças do período requerido, inclusive considerando que a prescrição é
trintenária.

3) PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA E EFEITO VINCULANTE

A sociedade faz a escolha de valores que devem ser positivados em


seu ordenamento jurídico e, com base nestes valores, é que surgem as regras
jurídicas. Pois bem, um dos valores escolhidos pela sociedade brasileira é a

9
proteção da coisa julgada, ideia que vem justificada, usualmente, pelo princípio da
segurança jurídica.

Prova desta afirmação, no âmbito constitucional, está atualmente


consignada no art. 5º, XXXVI da CF, cujo dispositivo categoricamente estabelece
que a Lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa
julgada.

Nesse sentido, a segurança jurídica é um princípio do estado de


direito primordial na sociedade moderna e se traduz em estabilidade da Constituição
Federal e dos atos que a executam, seja pela concretização ou pela perda de direitos.

Desse modo, o STF no julgamento da ADI 463-0/DF avaliou os


valores e a realidade social da TR sendo aplicada como índice de correção
monetária na atual economia brasileira para correção de precatórios e resolveu por
bem declarar a inconstitucionalidade da Lei da TR, fazendo cair por terra a Lei nº
8.036/90 e a Súmula nº 459 do STJ.

Sendo assim, a decisão do STF tem efeito vinculante e deve ser


aplicada para outros casos (em qualquer Tribunal), tais como a correção monetária
do FGTS, no qual há necessidade de recomposição do valor patrimonial dos saldos
de FGTS, assim como, no pagamento dos precatórios.

Ressalta-se que o FGTS se estabelece como uma poupança com


objetivo de manter a subsistência do trabalhador que ficar desempregado. Sendo
assim, os saldos de FGTS integram o patrimônio do trabalhador e comumente são
utilizados para gastos com alimentação, saúde e habitação.

Ou seja, o FGTS foi criado com as seguintes finalidades:

 trabalhador ter o direito de usar, fruir e dispor dos valores


depositados na conta vinculada caso fique desempregado,
aposentado ou ocorra seu falecimento, sendo o valor
repassado aos herdeiros que estejam habilitados perante à
Previdência Social;

10
 custeio de tratamento de saúde do trabalhador ou de seus
dependentes nos casos de neoplasia maligna, portador de
vírus HIV ou em estágio terminal de outra doença grave;

 em casos de calamidade pública, emergência ou


necessidades pessoais originadas de desastre natural,
contanto que haja reconhecimento pelo Poder Público de que
o trabalhador residia em áreas atingidas pelo desastre;

Diante da natureza jurídica do FGTS e da obrigatoriedade do


trabalhador contribuir mensalmente para o FGTS para ter acesso aos direitos
trabalhistas, a sua correção monetária deve obrigatoriamente acompanhar a inflação,
sob pena dos valores ficarem defasados no tempo.

Portanto, não se pode negar a inconstitucionalidade da TR, a qual,


se mantida como índice de correção monetária fará com que o dinheiro de
propriedade do trabalhador fique parado no tempo e consequentemente sem repor a
perda inflacionária, impedindo inclusive o trabalhador de adquirir sua casa própria.
O direito à correção monetária é um direito constitucional que não pode ser negado
ao trabalhador.

4) DAS DECISÕES PROCEDENTES NO MESMO CASO

É evidente o direito que o Apelante tem de ter os saldos das contas


vinculadas do FGTS corrigidos monetariamente.

Tanto é assim que Juízes de diversos Estados do Brasil proferiram


sentenças favoráveis aos trabalhadores, condenando à Caixa Econômica Federal ao
pagamento das diferenças devidas. Vejamos abaixo algumas decisões transcritas:

 Decisão da 2ª Vara Federal de Franca/SP:

0000898-31.2013.403.6113 - NANCY GHEDINI MACARINI


(SP307500A - FERNANDO DE PAULA FARIA) X CAIXA
ECONOMICA FEDERAL (SP239959 - TIAGO RODRIGUES

11
MORGADO) Ante o exposto, e o mais que dos autos consta.
JULGO PROCEDENTE o pedido, para o fim de condenar a
CAIXA ECONÔMICA FEDERAL no depósito na (s) conta (s)
do (s) autor (es), das diferenças entre o que lhe (s) foi
depositado em sua (s) conta (s) do FGTS e o montante
efetivamente devido a título de aplicação da taxa progressiva
de juros consoante tabela da Lei 5107/66.Declaro extinto o
processo de conhecimento com resolução do mérito, com
fundamento no artigo 269, inciso I, do Código de Processo
Civil. Determino que, uma vez incorporados tais valores, deve
sobre os mesmos também incidir correção monetária,
cumulativamente. Juros moratórios, a partir da citação,
equivalentes à taxa referencial do Sistema Especial de
Liquidação e de Custódia - SELIC (artigo 1º, Lei 4414/1964;
artigo, 406 do Código Civil e Leis 9250/1995 e 9430/1996).
Sem condenação em honorários advocatícios, considerando
que a presente demanda versa sobre Fundo de Garantia por
Tempo de Serviço, razão pela qual deve ser aplicado o
entendimento do artigo 29-C, da Lei 8.036/90, acrescentado
pela Medida Provisória 2.164-41/01. A Caixa Econômica
Federal está isenta do pagamento das custas processuais, nos
termos do artigo 3º, da MP nº 2.102-32/01, que alterou o
art. 24, parágrafo único, da Lei nº 9.028/95, com exceção do
necessário ressarcimento dos valores eventualmente
desembolsados pela parte autora. Na atualização, deverá ser
obedecido o Provimento 64/2005 da E. Corregedoria-Geral
da Justiça Federal da 3ª Região. E na concretização deste
comando, por ocasião da liquidação deverá ser observada
prescrição trintenária. P.R.I.

 Decisão do Juizado Especial Cível/PR (TRF 4ª Região):

5009533-35.2013.404.7002 - (...) Conforme se depreendo da


leitura do artigo acima, ficou determinado que aos saldos das
contas do FGTS passaria a ser aplicado a taxa aplicável aos
depósitos de poupança, ou seja, a TR, mantidas as taxas de
juros previstas na legislação própria do FGTS, qual seja, a
taxa de 3% de juros anuais, conforme já supra exposto.
Não se pode discutir, portanto, que é legal a aplicação da TR
como índice de correção dos saldos do FGTS. De fato, há lei
vigente que prevê tal aplicação. No entanto, há que se
analisar, de fato, se a legalidade é capaz de afastar o fato de
que o índice previsto na norma não é capaz de 'corrigir
monetariamente' o saldo dos depósitos de FGTS, como

12
expressamente previsto na Lei 8.036/90, nos seus artigos 2º e
13:
Art. 2º O FGTS é constituído pelos saldos das contas
vinculadas a que se refere esta lei e outros recursos a ele
incorporados, devendo ser aplicados com atualização
monetária e juros, de modo a assegurar a cobertura de suas
obrigações.
(...) omissis.
Art. 13. Os depósitos efetuados nas contas vinculadas serão
corrigidos monetariamente com base nos parâmetros fixados
para atualização dos saldos dos depósitos de poupança e
capitalização juros de (três) por cento ao ano. - grifou-se.
(...)
No entanto, foi com o julgamento das ADI 4425 e 4357, onde
o Supremo Tribunal Federal analisou a inconstitucionalidade
da Emenda Constitucional nº 62/2009, que ficou inconteste o
entendimento daquela Corte no sentido de que a TR não
pode ser utilizada como índice de atualização monetária, eis
que não é capaz de espelhar o processo inflacionário
brasileiro.
(...)
A razão disso é clara: a inflação é sempre constatada em
apuração ex post, de sorte que todo índice definido ex ante é
incapaz de refletir a efetiva variação de preços que
caracteriza a inflação. É o que ocorre na hipótese dos autos.
A prevalecer o critério adotado pela EC nº 62/09, os créditos
inscritos em precatórios seriam atualizados por índices pré-
fixados e independentes da real flutuação de preços apurada
no período de referência. Assim, o índice oficial de
remuneração da caderneta de poupança não é critério
adequado para refletir o fenômeno inflacionário.
Destaco que nesse juízo não levo em conta qualquer
consideração técnico-econômica que implique usurpação pelo
Supremo Tribunal Federal de competência própria de órgãos
especializados. Não se trata de definição judicial de índice de
correção. Essa circunstância, já rechaçada pela
jurisprudência da Casa, evidentemente transcenderia as
capacidades institucionais do Poder Judiciário. Não obstante,
a hipótese aqui é outra.
Diz respeito à idoneidade lógica do índice fixado pelo
constituinte reformador para capturar a inflação, e não do
valor específico que deve assumir o índice para determinado
período. Reitero: não se pode quantificar, em definitivo, um
13
fenômeno essencialmente empírico antes mesmo da sua
ocorrência. A inadequação do índice aqui é autoevidente.
(...)
Ou seja, no sistema atual o governo busca implementar
projetos subsidiados às custas da baixa remuneração e quase
nula atualização monetária dos saldos das contas do Fundo
de Garantia. Ou seja, inexiste, no sistema atual, qualquer
remuneração aos saldos das contas do FGTS. Pelo contrário,
pois os juros de 3% ao ano sequer são suficientes para repor
a desvalorização da moeda no período.
(...)
Vê-se, pois que, enquanto o INPC abrange as famílias com
rendimentos mensais entre 1 a 5 salários mínimos e é
calculado pelo IBGE com base em pesquisa de preços nas 11
regiões de maior produção econômica cruzada com a
Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) - encontro de 2
parâmetros, o IPCA-E, por sua vez, alcança o patamar
familiar de 1 a 40 salários mínimos é calculado também
IBGE de forma direta, abrangendo os seguintes setores:
alimentação e bebidas, habitação, artigos de residência,
vestuário, transportes, saúde e cuidados pessoais, despesas
pessoais, educação e comunicação, sendo este último (IPCA-
E) mais abrangente e refletindo a real inflação nos
principais setores econômicos que influenciam os gastos
familiares de forma real (sem interferência da POF a qual
pode ficar congelada por 5 anos, diversamente do que ocorre
na fórmula de cálculo do INPC que deve ser cruzada com
aquela pesquisa).
(...)
Corroborando, ainda, a eleição de tal índice, importa
consignar que em sessão ordinária do Conselho da Justiça
Federal - CNJ, ocorrida em 25/11/2011, foi aprovado o novo
'Manual de Cálculos da Justiça Federal' onde passa a incidir
o IPCA-e como indexador de Correção Monetária para as
sentenças condenatórias em geral, conforme se pode verificar
no sítio do cjf na internet (www.cjf.jus.br).
Assim sendo, entendo que deve ser aplicado, para fins de dar
cumprimento à atualização monetária dos saldos das contas
do FGTS prevista no art. 2º da Lei 8.036/90, o IPCA-E do
IBGE, em substituição à TR, desde janeiro do ano de 1999, a
partir de quando tal índice deixou de refletir a variação
inflacionária da moeda. Além disso, tais valores deverão ser
acrescidos de juros de mora de 1% a. M. (um por cento ao
mês), a contar da citação, até o efetivo pagamento.
14
Ante o exposto, JULGO PROCEDENTES os pedidos,
condenando a CEF a pagar à parte autora os valores
correspondentes à diferença de FGTS em razão da aplicação
da correção monetária pelo IPCA-E desde janeiro de 1999
em diante até seu efetivo saque, cujo valor deverá ser
apurado em sede de cumprimento de sentença. Caso não
tenha havido saque, tal diferença deverá ser depositada
diretamente na conta vinculada do autor.
Sem custas e honorários advocatícios (artigos 54 e 55 da Lei
nº 9.099/95 c/c artigo 1º da Lei 10.259/01).
Sentença publicada e registrada eletronicamente. Intimem-se.
Havendo recurso (s), intime (m)-se a (s) parte (s) contrária (s)
para apresentação de contrarrazões, no prazo de dez dias.
Recebo, desde já, eventual recurso no efeito devolutivo.
Juntados os eventuais recursos e as respectivas contrarrazões
apresentadas no prazo legal devem ser os autos remetidos à
Turma Recursal.

 Decisão da Justiça Federal/MG (Pouso Alegre):

(...) Diante do exposto, tendo em vista o que já decidido pelo


E. STF no caso da lei 11.960/09 e o fato de o FGTS ser um
pecúlio constitucional obrigatório, não portável e de longo
prazo, cuja garantia de recomposição das perdas
inflacionárias está implícita na disposição do art. 7º, III, da
CR/88, que assegura esse direito trabalhista fundamental a
todos os trabalhadores, é de se declarar inconstitucional, pelo
menos desde a superveniência dos efeitos da Resolução CMN
2.604, de 23/04/1999, a vinculação da correção monetária do
FGTS à TR, conforme art. 13 da lei 8.036/90 c/c arts. 1º e 17
da lei 8.177/91.Tendo havido pedido expresso para utilização
do INPC e sendo esse índice utilizado nos benefícios
previdenciários e, neste Juízo, para correção monetária das
dívidas judiciais, entendo razoável e mais consentâneo com as
finalidades do FGTS que seja esse o índice de correção
monetária dos saldos do FGTS.
(...)
Nessas razões, julgo parcialmente procedentes os pedidos
para declarar a inconstitucionalidade parcial superveniente
do art. 13 da lei 8.036/90 c/c arts. 1º e 17 da lei 8.177/91,
desde 01/06/1999, pela não vinculação da correção
monetária do FGTS a índice que venha recompor a perda de
poder aquisitivo da moeda, e condenar a CEF a:

15
1) no caso dos depósitos do FGTS não levantados até a data
da recomposição:
a) recalcular a correção do FGTS desde 01/06/1999,
substituindo a atualização da TR pelo INPC, mesmo nos
meses em que a TR for superior ao INPC ou que o INPC for
negativo, mantendo-se os juros remuneratórios de 3% ao ano
previstos no art. 13 da lei 8.036/90, depositando as diferenças
corrigidas na(s) conta(s) vinculada(s) respectiva(s);
b) pagar juros moratórios de 1% ao mês sobre as diferenças
corrigidas apuradas no item “a”, desde a citação até a data
da recomposição da(s) conta(s) vinculada(s), depositando os
juros na(s) conta(s) vinculada(s) respectiva(s);
2) no caso dos depósitos do FGTS levantados entre
01/06/1999 até a data da recomposição:
a) recalcular a correção do FGTS desde 01/06/1999,
substituindo a atualização da TR pelo INPC, mesmo nos
meses em que a TR for superior ao INPC ou que o INPC for
negativo, mantendo-se os juros remuneratórios de 3% ao ano
previstos no art. 13 da lei 8.036/90, até a data do
levantamento a partir da qual a diferença deverá ser
corrigida unicamente pelo INPC até o depósito em juízo nos
termos do art. 475-J do CPC;
b) pagar juros moratórios de 1% ao mês sobre as diferenças
corrigidas do item “a “desde a citação até a data do depósito
em juízo nos termos do art. 475-J do CPC.
Indefiro a antecipação da tutela, haja vista a possibilidade de
irreversibilidade do provimento, nos termos do art. 273, §2º,
do CPC, ausente também o periculum in mora, uma vez que
não existe demonstração de interesse ou necessidade urgente
de utilização dos recursos adicionais.
Deferida a justiça gratuita, ante a existência dos pressupostos
da lei 1.060/50.
Sem custas, em vista da gratuidade judiciária. Em se tratando
de causa do JEF, sem condenação em honorários; em se
tratando de causa do procedimento ordinário, fixo honorários
em trezentos reais, a serem pagos pela CEF, conforme art.
20, §4º, do CPC, por se tratar de causa sem instrução
probatória e com fundamentos padronizados, considerando a
inconstitucionalidade do art. 29-C da lei 8.036/90.

Como se observa, o direito de correção monetária do saldo do


FGTS dos trabalhadores vem sendo reconhecido pela Justiça Brasileira e, por isso, o

16
Apelante requer que a presente Apelação seja aceita e consequentemente seja
reformada a decisão.

5) DO PREQUESTIONAMENTO

Observa-se do presente recurso que foram ventiladas diversas


matérias quanto à negativa de vigência e contrariedade da Lei Federal, divergência
de interpretação e ofensa à CF/88 e contrariedade com a jurisprudência pátria, razão
pela qual requer-se a este Egrégio Tribunal que se posicione acerca de todas, sem
exceção, a fim de prequestionar as matérias, em uma eventual necessidade de
interpor Recurso Especial e Extraordinário, conforme determinação das Súmulas nº
282 e 356 do STF.

6) DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer seja dado provimento à presente


Apelação, para reformar a sentença que julgou parcial procedente/improcedente os
pedidos do Apelante, nos termos da exordial, especialmente para condenar a CEF
(Caixa Econômica Federal) a:

A.1) pagar à parte autora o valor correspondente às diferenças de


FGTS em decorrência da aplicação do índice de correção monetária
pelo INPC nos meses em que a TR foi zero, nas parcelas vencidas e
vincendas; e

A.2) pagar o valor correspondente às diferenças de FGTS em


decorrência da aplicação do índice de correção monetária pelo
INPC, desde janeiro de 1999, nos meses em que a TR não foi zero,
mas foi menor que a inflação do período; ou

17
A.3) subsidiariamente pagar o valor correspondente às diferenças
de FGTS em decorrência da aplicação do índice de correção
monetária pelo IPCA nos meses em que a TR foi zero; e

A.4) subsidiariamente pagar o valor correspondente às diferenças


de FGTS em razão da aplicação da correção monetária pelo IPCA,
desde janeiro de 1999, nos meses em que a TR não foi zero, mas foi
menor que a inflação do período; ou

A.5) subsidiariamente pagar o valor correspondente às diferenças


de FGTS em razão da aplicação da correção monetária por qualquer
outro índice que reponha as perdas inflacionárias do trabalhador nas
contas do FGTS, no entender deste Juízo, desde janeiro de 1999,
inclusive nos meses em que a TR foi zero;

B) Subsidiariamente, a declaração de qual índice deve ser


considerado para correção monetária das contas do FGTS, se o
IPCA ou INPC, para fins de dar cumprimento à atualização
monetária dos saldos das contas do FGTS prevista no art. 2º da Lei
nº 8.036/90, em substituição à TR, desde janeiro do ano de 1999, a
partir de quando tal índice deixou de refletir a variação inflacionária
da moeda.

Nestes Termos,
Pede Deferimento.

Estado, ___ de __________ de 201_.

(Nome, assinatura e número da OAB do advogado)

18

Você também pode gostar