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SISTEMA FINANCEIRO DA HABITAÇÃO - CORREÇÃO MONETARIA

- LEI NOVA·

I - 1. Dá ensejo' (l interpretação de lei, em tese, pelo Supre-


i

mo Tribunal Federal, em processo de representação, o couflito


interpretativ~ instaurado em grande número de demandas judiciais
em curso, congestionando a Justiça e causando perplexidade aos
litigantes, ao propósito do critério legal vigente sobre o reajuste das
prestações da casa própria financiada pelo SFH. 2. A interpretação
de normas jurídicas pelos órgãos do. Poder Judiciário não constitui
óbice à interpretação em tese pelo STF, salvo quando este já se haja
manifestado a respeito em feitos de sua jurisdição.
II - 1. O sentido dos parágrafos do art. 5.° da Lei n.O
4.380/64 não é o de estabelecer o salário mínimo como critério de
reajustamento das prestações da casa própria, mas, de um lado, o
de estabelecer, em cláusula contratual, uma proporcionalidade entre
a prestação e o salário mínimo a ser observada, como referência-
limite, nos reajustes subseqüentes; e, de outro, fazer de sua decre-
tação um marco temporal para a data do reajustamento da presta-
ção. 2. O Decreto-Iei n.O 19/66 instituiu novo e completo sistema
de reajustamento das prestações: a) tornando-a obrigatória e me-
diante o índice de correção com base na variação das obrigações
reaiustáveis do Tesouro; b) atribuindo competência ao BNH para
baixar instruções sobre a apliéação· dos· índices referidos. 3. Não
mais prevalecem, a partir do Decreto-Iei n.O 19/66, e com relação
ao SFH, as normas dos §§ do art. 5." da Lei n.O 4.380/64, com ele
incompatíveis, mesmo porque o decreto-lei, editado com base no
Ato Institucional n." 2/65, tem efeito de lei, inclusive revogando
anteriores normas antag6nicas, mesmo que tenham o caráter de lei
normal.
III - Descabe apreciar, no procedimento de interpretaçiio da
lei em tese, os problemas de direito internacional envolventes quer
da apreciação de cláusulas contratuais quer de interpretação de
normas de sobre direito (art. 153, § 3.° da CF; art. 6.° e §§ da
LICC), não proposta na representação, nem aconselhável.
- Representação conhecida em parte, para declaração de in-
terpretação das normas legais, em referência.

• Ver, sobre a matéria, parecer publicado neste volume. p. 345.

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SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
Representação n9 1.288
Representante: Procurador-Geral da República
Representados: Presidente da República e Congresso Nacional
Relator: Sr. Ministro RAFAEL MAYEll

ACÓRDÃO nal da Habitação, via encerrar, com a


brevidade necessária, controvérsia cujo pro-
Vistos, relatados e discutidos estes autos, longamento ameaça comprometer a viabi-
acordam os ministros do Supremo Tribu- lidade do Sistema Nacional da Habitação,
nal Federal, em sessão plenária, na con- com funestas repercussões sócio-econômicas.
formidade da ata de julgamentos e notas De outro lado, o seu pronto julgamento
taquigráficas, por maioria de votos, conhe- contribuirá decisivamente para minimizar o
cer, em parte, da representação, declaran- congestionamento dos órgãos da Justiça Fe-
do-se a interpretação, em tese, do art. 59 deral, hoje às voltas com uma série cres-
e §§ da Lei n9 4.380/64, do art. 30 da cente de milhares de demandas substan-
Lei nQ 4.864/65, com a redação dada pela cialmente idênticas.
Lei nQ 5.049/66, e do art. lQ do Decreto-Iei Trata-se de determinar, com a autoridade
n Q 19/66. definitiva do Supremo Tribunal Federal,
Brasília, 1 de outubro de 1986. - Mo- qual o critério legal vigente para o relljuste
reira Alves, Presidente. Rafael Mayer, Re- das prestações mensais dos contratos de fi-
lator. nanciamento para a aquisição de iméveis
residenciais, do Sistema Financeiro dI! Ha-
RELATÓRIO
bitação.
A matéria, como é notório, se transfor-
o Sr. Ministro Rafael Mayer: Assim se mou em objeto de polêmica nacional, a
expressa, no seu inteiro teor, a rep1"esen-
partir de 1983.
tação do Exmo. Sr. Procurador-Geral da
República, tendo por objeto a prévia inter- Desde então, estima o BNH (doc. 1,
pretação, em tese, de vários dispositivos le- § 2Q), a questão deu causa a mais de 12.000
gais a que se reporta, in verbis: processos em curso, que envolvem, em de-
"O Procurador-Geral da República, com mandas de vários tipos contra aquela au-
base no art. 119, I, 1, da Constituição Fe- tarquia e os agentes financeiros do Sistema.
deral, oferece a presente representação pa- cerca de 100.000 mutuários.
ra interpretação de lei, visando obter des- S6 esses números, que tendem a crescer,
se egrégio Tribunal a necessária fixaçãc do justificariam a presente representação, da·
correto entendimento das seguintes normas da a sobrecarga que acarretam aos juízes
federais e de suas recíprocas implicações: federais de todo o país, que vêm diver·
a) art. 5 e §§, Lei nQ 4.380/64; gindo entre si na interpretação de sucessão
b) art. 30, Lei n9 4.864/65 (com a reda- de leis envolvidas no problema.
ção alterada pela Lei nQ 5.049/66); De resto, a continujdade da incerteza en·
c) Decreto-lei n9 19/66); tre os mutuários - gerando falsas expec-
d) Art. 13, Lei nQ 5.107/66; tativas de uma solução que, se prevaleces·
e) Lei nQ 6.025/75; se, levaria o BNH à garra - compromete
f) Lei nQ 6.423/77. a implementação da política habitacional
do novo Governo, que constitui o cami-
nho possível para atender, a um s6 tem·
po, aos justos reclamos dos financiados e
A presente representação, formulada a à necessidade de vencer a crise abissal em
pedido do Sr. Presidente do Banco Nacio- que encontrou o Sistema.
Expôs, a propósito, o BNH (doc. 1, tos legais que regem a matéria e que são
§§ 3ss): objeto de decisões diferentes em diversos
3. O Governo federal, atento aos aspec- julgados proferidos nas demandas indica-
tos sociais do problema e reconhecendo das ( ... )'
que, por força da política de compressão ~ verdade que as questões versadas na
salarial adotada a partir de 1982 e até o presente representação coincidem substan-
1Q semestre de 1984, um expressivo nú- cialmente com as dos recursos extraordiná-
mero de mutuários do SFH teve aumen- rios, já interpostos e admitidos (doc. 06),
tado o nível de comprometimento de sua da União, do BNH e do agente financeiro
renda com o pagamento da prestação da interessado contra o acórdão do coI. Tri-
casa própria, determinou que os reajustes bunal Federal de Recursos na AMS n9
do ano de 1985 fossem fixados em 112% 104.763.
sobre as prestações de 1984, o que equi- O fato não compromete o cabimento
vale a menos da metade da variação do nem a conveniência da interpretação em
salário mínimo (242%) e da correção mo- tese que ora se postula.
netária (246%) e à metade da variação do Considere-se, de um lado, que a eficá-
INPC no período de 12 meses ijulho 84- cia da decisão do RE cinge-se às partes,
julho 85). Esta medida significou um ex- ao passo que a interpretação assentada na
pressivo subsídio para todos os mutuários representação 'terá força vinculante para
do SFH, a ser coberto com contribuições todos os efeitos', levando à uniformização
dos agentes financeiros do BNH, da União e à segurança das decisões dos milhares
Federal e dos incorporadores de imóveis. de processos em cutIO.
Além do sub-reajuste referido no item Acentue-se, de outro lado, que podem
anterior, o Governo adotou o Plano de haver questões relevantea, I cuja lIOluçio,
Equivalência Salarial por categoria profis- ainda quando suscitadas também no RE,
sional, que garante a todos os mutuários não se mostre necessária à decisão in con-
que optarem pelos mesmos reajustes das creto da causa particular.
prestações habitacionais límitados aos au-
mentos salariais e aplicáveis apenas dois 11
meses após a vigência do aumento de salá-
rios de cada categoria. Atende-se, assim, O centro da controvérsia está na tese,
ao justo reclamo dos mutuários no sentido sustentada com vigor pelas 'associações de
de que lhes seja assegurado que os futuros mutuários', da sobrevivência do critério de
aumentos da prestação jamais poderão su- reajuste das prestações à base da variação
perar seus. aumentos salariais. do salário mínimo, não só em relação aos
A decisão do Governo oferece também contratos celebrados na curta vigência do
aos mutuários com prestações atrasadas - art. 5Q e §§, Lei n9 4.380/64 - que, de
inclusive àqueles que ingressarem na Jus- fato o consagrava - mas também nos
tiça - a oportunidade de regularizarem firmados após a série de leis enumeradas,
sua situação perante os agentes financeiros, que, data venia, o revogaram e substituí-
incorporando as prestações vencidas ao sal- ram pelo sistema de correção monetária,
do devedor do contrato, com ou sem pror- pelos índices da Obrigação Reajustável do
rogação do prazo deste. Tesouro Nacional.
Todas estas medidas, entretanto, para se- A postulação dos mutuários - cuja jus-
rem concretizadas, dependem de opção ex- tiça, in abstracto, não se discute, mas que
pressa de cada mutuário pelo novo Piano é economicamente inviável, pelo desequilí-
de Equivalência Salarial por categoria pro- brio fatal que geraria, em face do impera-
fissional. O exercício desta opção, contu- tivo de correção plena das contas de pou-
do, pode ser dificultado pela permanência pança e do FGTS - vem de receber um
de dúvidas quanto 1 interpretação dos tex- novo· e, data venia, perturbador alento,

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com os termos de algumas decisões da cal. vida toda vez que o salário mínimo legal
Quinta Turma do Tribunal Federal de Re- for alterado.
cursos. § 19 O reajustamento será baseado em
De fato. Indo além do alvo visad0 pe- índice geral de preços mensalmente npu-
los próprios autores, essas decisões (todas rado ou adotado pelo Congresso Nacional
elas da lavra do em. Pedro Accioly, e com de Economia, que reflita adequadamente
fundamentação substancialmente idêntica à as variações no poder aquisitivo da m0e-
da AMS n9 104.763 - doc. 07), não só da nacional.
aceitaram a vigência atual do art. 59 e §§, § 29 O reajustamento contratual será
Lei n9 4.380, mas data venia, os interpre- efetuado ( ... ) (vetado) ( ... ) na mesma
taram de modo equivocado, fazendo cor- proporção da variação do índice referido
responder o reajuste das prestações não no parágrafo anterior:
ao índice do aumento global do salário a) desde o mês da data do contrato até
mínimo, mas apenas à parcela dele reser- o mês da entrada em vigor do novo nível
vada ao custeio da habitação. de salário mínimo, no primeiro reajusta-
Contra a tese básica da suposta vigên- mento após a data do contrato.
cia de normas indiscutivelmente revoga- b) entre os meses de duas alterações su-
das e a sua inesperada interpretação, sur- cessivas do nível de salário mínimo nos
gida no Tribunal Federal de Recursos, o reajustamentos subseqüentes ao primeiro.
representante pede vênia para trazer à § 39 Cada reajustamento entrará erro vi-
consideração do Tribunal, como parte in- gor após 60 dias da data de vigência da
tegrante desta, além da mencionada peti- alteração do salário mínimo que o auto-
ção do BNH (doc. 01), três pareceres de rizar e a prestação mensal reajustada vi-
juristas da maior autoridade: o em. Minis- gorará até novo reajustamento.
tro Carlos Fulgêncio da Cunha Peixoto
§ 49 Do contrato constará, obrigatoria-
(doc. 03), e os ilustres professores Caio
mente, na hipótese de adotada a cláusula
Tácito (doc. 02) e Orlando Gomes (doc.
de reajustamento, a relação original entre
04), além do acórdão TFR/AC n9 56.179,
a prestação mensal de amortização e juros
relator o em. Ministro Carlos Madeira
e o salário mínimo em vigor da data do
(doc. 05) e do despacho, também de sua
contrato.
lavra, que admitiu o já aludido recurso
extraordinário (doc. 06). § 59 Durante a vigência do contrato.
a prestação mensal reajustada não poderá
exceder, em relação ao salário mínimo em
III
vigor, a percentagem nele estabelecida.
§ 69 Para o efeito de determinar a data
A inequívoca revogação do art. 59 e
do reajustamento e a percentagem referi-
seus parágrafos da Lei nQ 4.380/64, resul-
da no parágrafo anterior, tomar-se-á por
ta da simples enumeração dos vários tex-
base o salário mínimo da região onde se-
tos legais que sucessivamente disciplina-
acha situado o im6vel.
ram, de modo diverso, a mesma matéria.
Prescrevia a Lei n9 4.380, de 21 de agos- § 79 (vetado)_
to de 1964: § 89 (vetado).
'Art. 59 Observado o disposto na pre- § 99 O disposto neste artigo, quando o
sente lei, os contratos de vendas ou cons- adquirente for servidor público ou autár-
truções de habitações para pagamento a quico, poderá ser aplicado tomando como
prazo ou de empréstimos para aquisição base a vigência da lei que lhes altere os
ou construção de habitações poderão pre- vencimentos."
ver o reajustamento das prestações men- Mas, afora a redação original do art. 30.
sais de amortização a juros, com a conse- Lei n9 4.864/65 (logo alterada pela Lei
qüente correção do valor monetário dadí- n9 5.049/66), esses dispositivos da- lei nQ-

irt
4.380/64 foram os ÚIÚCOS, na série de leis . As .Jefeti~. de,,~es do 'l'ribunal. Fe-
sobre o Sistema Financeiro da Habitação, dlll"al 4eRecl11'sos, aliás: não contestam I!
que vinculavam a prestação mensal. dos incompatibilidade do sistema original de
financiamentos habitacionais ao salário mí- reajuste, do art. 59 e §§ da Lei n9 4.380/64,
nimo. com o Decreto-lei n9 19/66. Recusam,
Todas as demais, posteriores, ou adota- porém, a conseqüente revogação dos pri-
ram critério inteiramente diverso ou ex- meiros, sob o argumento, resumido na
plicitamente vedaram a utilização do salá- ementa (doc. 06), de que 'decreto-lei ( ... ),
rio mínimo como padrão de correção mo- bem assim o decreto ( ... ), não podem
netária. alterar regra jurídica constante de lei for-
Pretende a petição do BNH que a pri- mal, os quais não têm eficácia ante a su-
meira delas teria sido a Lei n9 5.049, de premacia desta'.
20 de junho de 1966, ao dar nova reda- Essa surpreendente negação de idêntica
ção ao art. 30, Lei n9 4.864, de 29 de no- gradação hierárquica entre a lei formal e
vembro de 1965 (doc. 01, §§ 99 e 10). Su- o decreto-lei - diariamente desmentida nos
cede que se trata de norma de abrangên- pretórios - foi objeto de longa refutação
cia limitada às operações de financiamen- nos pareceres anexos.
to de construção ou aquisição de unidade Acentuou, por exemplo, o Prof. Caio Tá-
habitacional 'a serem realizadas por enti- cito (doc. 02, p. 2 e 7):
dades estatais, paraestatais e sociedades de 'O decreto·lei, tal como admitido em
economia mista ( ... ), mesmo quando não nosso sistema constitucional, é manifesta-
integrante do Sistema Financeiro da Ha- ção própria do processo legislativo, tendo
bitação'. Só quanto a elas, por conseguinte, a natureza específica de lei material, es-
é que se derrogou a disciplina de reajuste pécie do ordenamento, em nível de equiva-
vinculado ao salário mínimo (art. 59 e lência com o ato originário do Congresso,
§§, Lei n9 4.380/64), que lhes fora esten- que a um tempo é lei material e formal.
dida pela redação original do dispositivo
. Não há entre uma e outra dessas fontes
(art. 30, Lei n9 4.864/65).
de direito positivo graduações de hierarquia
Onde, ao contrário, a revogação do art. ou de supremacia.
59 e §§ da Lei n9 4.380/64 se fez, total
( ... )
e inequivocamente, foi no Decreto-lei n9
19, de 30 de agosto de 1966: Quer, portanto, no plano comparativo,
"Art. 19 Em todas as operações do Sis- como na doutrina constitucional brasileira,
tema Financeiro da Habitação deverá ser o decreto-lei, suprido o requisito formal de
adotada cláusula de correção monetária, aprovação, coloca-se em paralelo à le; or-
de acordo com os índices de correção mo- dinária, a ela se nivelando em hierarquia e
netária fixados pelo Conselho Nacional de eficácia.
Economia, para correção do valor das obri- ( ... )
gações reajustáveis do Tesouro, e cuja apli- Quando o decreto-iei venha a regulamen-
cação obedecerá a instruções do Banco Na- tar, completamente ou em parte, matéria
cional da Habitação.' prevista em lei anterior, a norma nova
O § 19 eliminaria toda a dúvida possÍ- substitui a antiga, na medida em que fo-
vel: nele se restringiu a possibilidade de rem incompatíveis.'
fazer-se o reajustamento 'com base ne sa- Seria ocioso acrescentar uma palavra que
lário mínimo' àquelas 'operações que te- fosse. De notar, apenas, que, no caso, o
nham por objeto im6veis residenciais de Decreto-lei nQ 19 é de 30 de agosto de
valor unitário inferior a 75 salários míni- 1966, baixado em conseqüência, com fun-
mos e se destinarem a atender As necessi- damento na regra excepcional do art. 30
dades habitacionais de famíUas de baixa do AI-2/65, o que lhe dispensava a aprova-
renda'. ção legislativa ulterior. De resto, porque
se trata de ato legislativo fundado em ato IV
institucional, aprovou-o e o fez indene ao
controle jurisdicional o art. 173, III, da Apesar de revogados, como visto, a par-
Constituição de 1967. tir do Decreto-Iei n9 19/66, convém fixar
Tem-se, pois, que, desde o Decreto-Iei a correta interpretação dos questionados
n9 19/66 - e ressalvada a única hipótese parágrafos do art. 59 da Lei n9 4.380/64,
dos pequenos imóveis de pequeno valor, com vista à eventual decisão de problemas
objeto do § 19 do seu art. 19, em todas intertemporais gerados pela sucessão de
as operações do Sistema Financeiro da Ha- normas legais, objeto da representação.
bitação, não apenas se tomou obrigatória Revejam-se os §§ 19, 49 e 59 do referido
a estipulação da correção monetária, mas art. 59:
também a obediência, no seu cálculo, aos Art. 59 ( ... )
índices oficiais das Obrigações Reajustá- § 19 O reajustamento será baseado em
veis do Tesouro Nacional (ORTNs). índice geral de preços mensalmente apu-
De resto, anos depois, a Lei n9 6.205, rado ou adotado pelo Conselho Nacional
de 29 de abril de 1975, estatuiu: de Economia que reflita adequadamente as
variações no poder aquisitivo da moeda.
'Art. 19 Os valores monetários fixados
( ... )
com base no salário mínimo não serão con-
§ 49 Do contrato constará, obrigatoria-
siderados para quaisquer fins de direito.
mente, na hipótese de adotada a cláusula
Certo, o mesmo diploma explicitou:
de reajustamento, a relação original entre
Art. 19 ( ... )
a prestação mensal de amortização a juros
§ 49 Aos contratos com prazo determi- e o salário mínimo em vigor na data do
nado, vigentes na data da publicação des- contrato.
ta lei, inclusive os de locação, não se apli- § 59 Durante a vigência do contrato, a
carão, até o respectivo término, as disposi- prestação mensal reajustada não poderá ex-
ções deste artigo. ceder, em relação ao salário mínimo em
De notar ainda a Lei n9 6.423, de 17 de vigor, a percentagem nele estabelecida.
junho de 1977: Ocorre que, nas decisões mencionadas
Art. 19 A correção, em virtude de dis- do Tribunal Federal de Recursos, tomou-
posição legal ou estipulação de negócio se isoladamente o § 59, supra. A conse-
jurídico da expressão monetária de obri- qüência foi a trouvaille, jamais cogitada
gação pecuniária somente poderá ter por pelas próprias partes, de que o limite do
base a variação nominal da Obrigação Rea- reajustamento das prestações ali estabele-
justável do Tesouro Nacional (ORTN)." cido seria, 'em relação ao salário mínimo
No que toca especificamente aos finan- em vigor, a percentagem nele estabelecida
ciamentos do SFH, desse modo, a disci- (. .. ), cuja tabela por região se acha ane-
plina da correção monetária em vigor des- xada ao ato próprio que lIXa o salário mí-
de o Decreto-Iei n9 19/66 só viria a ser nimo e estabelece a percentagem destina-
alterada, 'o que ainda mais comprova a da ao custeio de habitação' (doc. 06, emen-
extinção do figurino anterior' - como no- ta).
ta o Prof. Caio Tácito (doc. 02, p. 10) A interpretação, data venia, é insusten-
- 'no Decreto-Iei n9 2.045, de 13 de ju- tável. Basta que os três parágrafos trans-
lho de 1983 que, em seu art. 39, estabele- critos sejam analisados em conjunto, como
ceu o percentual máximo de reajustamen- se impõe, dado que tem por objeto comum
to não excedente a 80% da variação no- a disciplina do reajuste das prestações men-
minal do lndice Nacional de Preços ao sais.
Consumidor, a ser aplicado a requerimento Ver-se-á, então, que, a teor do § 19 ,
do mutuário, em contrapartida ~ adoção a .córreção teria por base o índice geral
da semestralidade' de preços do Conselho Nacional de Eco-
nomia (antecessor do· índice das ORTNs). gencla da alteração do salário núDimo
Mas o reajuste concreto das prestações te- ( ... )' ].
ria um limite. Quanto à evidência de cogitar-se de nor-
Para demarcá-lo, previu-se, no § 49, que ma em relação à vigência do reajustamen-
constaria do contrato 'a relação original to (i. e., infcio da exigibilidade da presta-
entre a prestação mensal (. .. ) e o salá- ção reajustada) e não de fixação de índice-
rio mínimo em vigor na data do contrato'. limite da correção das prestações, somam-
l! que, leia-se então corretamente o § 59, se, de um lado, a letra inequfvoca do dis-
a prestação reajustada não poderia exce- positivo ['( ... ) tomando-se como base
der a percentagem - 'relação original en- a vigência da lei (. .. )'] e, de outro, a cir-
tre a prestação mensal e o salário mínimo' cunstância de que o limite do percentual
- nele isto é, no contrato, estabelecida. do reajuste, objeto dos §§ 49 e 59, não
Basta ver, como contraprova do enten- tinha por parâmetro a renda mensal de ca-
dimento conjunto agora sustentado, que a da mutuário, mas apenas a variação do
interpretação diferente antes referida, por- salário mínimo, não importando fosse ela
que fundada na leitura solitária do § 59, maior ou menor do efetivo aumento da re-
tomaria absolutamente inútil o § 49, pois muneração do contratante individualmente
nenhuma função exerceria, no cálculo dos considerado.
reajustes, a relação percentual que nele se
prescreveu devesse constar obrigatoria- VI
mente do contrato.
Parece inquestionável, de sua vez, que
v todas as leis interpretadas constituem nor-
mas de ordem pública, enquanto instru-
Ainda em relação às disposições derro- mentos de declarada intervenção legisla-
gadas da Lei n9 4.380/64, no tema desta tiva do Estado na economia dos contratos.
representação, merece uma referência o limitando a autonomia da vontade dos con-
§ 99 do art. 59: traentes: via de conseqüência, incidem so-
'Art. 59 (. .. ) bre a relação obrigacional, independente
§ 99 O disposto neste artigo, quando o da estipulação das partes ou mesmo con-
adquirente for servidor público ou autár- tra ela.
quico, poderá ser aplicado tomando como Independentemente de considerar-se, no
base a vigência da lei que lhes altere o caso, os financiamentos em causa como
vencimento.' contratos administrativos (como entende,
Parece claro, data venia, que não se V.g., o Prof. Caio Tácito - doc. 02), o que
tratou aqui de fixar, como limite de cor- é indiscutível é que neles a imposição da
reção das prestações dos mutuários servi- correção monetária, como acentua o d. Mi-
dores públicos, o percentual da lei que lhes nistro Cunha Peixoto (doc. 03), 'é fator
altere os vencimentos (doc. 06, ementa), de equilíbrio do Sistema Financeiro da Ha-
mas sim de prever a possibilidade de es- bitação, já que os mesmos índices utiliza-
tipular-se, no contrato, a coincidência en- dos nas operações ativas (empréstimos e
tre a data do reajustamento e a do· infcio financiamentos) são aplicados nas opera-
de vigência da lei. ções passivas (FGTS e Caderneta de Pou-
Quanto a cuidar-se de regra condiciona- pança), sustentáculos dos sistemas'.
da à anuência das partes, basta cotejar- No que toca às cadernetas de poupança,
lhe e o teor literal r(. .. ) poderá ser apli- a correção monetária plena é notoriamente
cado tomando como base de vigência a o estímulo-motor de sua captação.
lei ( ... )'] com o tom imperativo do § 39 Em relação ao Fundo de Garantia do
do mesmo artigo ['Cada reajustamento en- Tempo de Serviço, a Lei n9 5.107/66, que
trará em vigor após 60 dias da data da vi- o criou, foi taxativa:

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'Art. 13. As aplicações do Fundo serão do SFH pode suscitar, finalmente, proble-
feitas diretamente pelo BNH ou pelos de- mas de direito intertemporal.
mais órgãos integrantes do Sistema Finan- Sustentam enfaticamente os ilustres Caio
ceiro da Habitação, ou ainda pelos estabe- Tácito (doc. 02) e Orlando Gomes (doc. 04)
lecimentos bancários para esse fim creden- que, derivando o seu conteúdo de normas
ciados como seus agentes financeiros, se- legais imperativas, independentemente da
gundo normas fixadas pelo BNH e apro- vontade das partes, as cláusulas relativas
vadas pelo Conselho Monetário Nacional, à correção monetária das prestações são
em operações que preencham os seguintes substituídas, no curso da execução do con-
requisitos: trato, pelas leis que alterem a disciplina
( ... ) vigente ao tempo da sua celebração.
11. correção monetária igual à das con- Funda-se o primeiro, ao cabo de erudita
tas vinculadas mencionadas no art. 29 exposição da doutrina européia, no princí-
desta lei ( ... ).' pio - que reputa 'implícito na legislação
Com admirável precisão, observa, assim, dos países que adotam a política de inter-
o Prof. Caio Tácito (doc. 02, p. 8): venção do Estado na economia' - segundo
o qual 'as leis de ordem pública econômica
'( ... ) os contratos imobiliários são, no
e as leis imperativas são de aplicação ime-
caso, parte integrante de um todo interli-
diata' e, por isso, 'determinam a modifica-
gado, de um sistema global de financiamen-
ção dos contratos em cujo conteúdo se
to que tem como outra face a manutenção
inserem'.
da estabilidade de suas fontes de alimen-
tação financeira, consubstanciados nos sub- Já o Prof. Caio Tácito alicerça o seu
raciocínio no princípio da mutabilidade dos
sistemas da poupança e do Fundo da Ga-
contratos administrativos, sobre os quais
rantia do Tempo de Serviço.
incidem 'tanto o poder modificador da ad-
A noção do equiHbrio financeiro não
ministração contratante como o poder nor-
opera somente nas relações entre mutuários
mativo do Estado legislador, quando a
e mutuantes, mas, igualmente, na recicla-
força cogente do ato pode alterar a relação
gem dos recursos financeiros que, em um
jurídica administrativa'.
mecanismo de vasos comunicantes, reali-
Sustenta, por isso, que 'não há, no plano
mentam, no retorno do capital investido, a
constitucional, direito adquirido a determi-
dinâmica de novos investimentos.
nada lei, e as obrigações que, por sua natu-
A criação do legislador optou, na Lei reza, se caracterizam pela adesão a um de-
nQ 4.380, de 1964, por um critério econô- terminado sistema, acompanham a dinâmica
mico-financeiro que, dominante na época, das mutações da ordem jurídica, que são o
adotou o salário mínimo como termo refe- lastro do neg6cio jurídico'.
rencial das obrigações, como se fosse, em Daí concluir, no caso específico:
suma, a moeda substitutiva do contrato, na 'A substituição legal de um critério de
manutenção do valor intrínseco da dívida correção monetária por outro, com a par-
hipotecária. ticularidade da interdição do parâmetro
Normas legais sucessivas abalaram, po- antes adotado (base no salário mínimo) não
rém, tal alicerce do sistema financeiro da pode deixar de se aplicar aos contratos pen-
habitação, institucionalizando novos tipos dentes pela impossibilidade da sobrevivên-
compulsórios.' cia de uma ordem legal extinta por motivo
de relevante interesse público.'
VII A tese não se choca com a circunstância
ponderável de que, entre n6s, a proteção
A sucessão de normas a respeito do do ato jurídico perfeito contra a lei nova
mesmo estatuto legal do reajuste das pres- não é mera construção doutrinária, como
tações mensais dos contratos imobiliários na generalidade dos ordenamentos europeus,

116
mas, ao contrário, tem força e hierarquia Decreto-Iei n9 19/66, revogação esta que,
de garantia constitucional. de qualquer sorte, adviria da Lei n 9
Disso deriva, a nosso ver, que à sobrevi- 6.025/75 e da Lei n9 6.423/11-
vência da eficácia das cláusulas livremente 11. As sucessivas normas legais enuncia-
pactuadas de um contrato, em. matéria que, das incidem imediatamente sobre os con-
à época da sua celebração, era confiada a tratos imobiliários em curso e por ela
autônoma estipulação das partes, não pode abrangidos, ainda que celebrados anterior-
opor-se a lei superveniente, ainda que de mente à sua vigência, de tal modo que os
ordem pública. novos critérios de reajuste das prestações
De fato, reduzir às normas supletivas mensais a eles se aplicam, seja qual for a
posteriores ao negócio jurídico o alcance sua data e. independentemente de eventuais
da regra constitucional de irretroatividade estipulações em contrário.
seria esvaziar inteiramente o seu conteúdo, lU. Quanto assim não fosse, os critérios
pois normas legais que não sejam de ordem do art. 59 e parágrafos da Lei n9 4.380/64
pública, por definição, s6 incidem à falta só se aplicariam aos contratos aperíeiçoa·
de estipulação em contrário. dos na vigência deles.
A situação é diferente, no entanto, quan- IV. Na hipótese do n9 lU, supra, o
do, desde a celebração do contrato, o pon- limite de reajustamento das prestações
to - como, v.g., o critério da correção mensais dos contratos que continuassem
monetária - já fosse objeto de regra im- submetidos àquelas regras da Lei n 9
perativa, componente da ordem pública 4.380/64 será fixado de modo a que se
econômica, que, por isso, incidisse com- mantenha inalterada a percentagem neles
pulsoriamente na relação obrigacional ge- prevista, ou seja, a correspondente à 'rela-
rada pelo negócio jurídico, independente- ção original entre a prestação men&al de
mente ou mesmo contra o que pactuassem amortização e juros e o salário minimo em
os contraentes. Neste caso, sim, não exis- vigor na data do contrato'.
tindo, como acentua Caio Tácito, direito V. Ainda na hipótese do n9 111, supra,
adquirido à permanência de uma lei deter- quando prevista no contrato a aplicação do
minada, a alteração dela incide imediata- § 99 do mesmo art. 59, da Lei nQ 4.380/64.
mente sobre a relação em curso e passa a a vigência da lei de aumento de vencimento
reger-lhe os efeitos permanentes. dos servidores públicos determinará apenas
o inicio da exigibilidade das prestações
IX reajustadas segundo a mencionada relação
original com o salário mínimo" (fls. 2-20).
Nesses termos, espera o representante Em suas informações o Congresso Nacio-
que, conhecendo da representação, venha nal discorre sobre a tramitação legislativa
a Alta Corte a assentar o seguinte entendi- dos projetos de lei em controvérsia, juntan-
mento para os dispositivos legais focaliza- do documentos (fls. t 12-281).
dos: As informações prestadas pelo Exmo. Sr.
I. O art. 59 e parágrafos da Lei nQ Presidente da República esclarecem:
4.380/64 estão revogados, "No que conceme aos atos emanados do
a) em relação às operações de financia- Congresso Nacional e que mereceram a
mento de entidades paraestatais, empresas sanção do Excelentíssimo Sr. Presidente da
públicas e sociedades de economia mista, República, temos que as Leis nos 4.380/64,
mesmo as não integrantes do Sistema Fi- 4.864/65, 5.049/66, 5.107/66, 6.205/75 e
nanceiro da Habitação, desde a Lei n9 6.423/77 foram regularmente submetidas ao
5.049/66 na parte em que deu nova redação Poder Executivo, sancionadas no prazo
ao art. 30 da Lei nQ 4.864/65; constitucional e publicadas na forma da lei,
b) e, quanto a todas as operações do sendo certo não se ter vislumbrado incons-
Sistema Financeiro da Habitação, pelo titucionalidade ou injuridicidade em seus

117
dispositivos, procedendo-se, entretanto, por 181, lU da vigente Carta com a Emenda
critério de conveniência, aos vetos que, Constitucional nQ 1 de 1969" (fls. 380-1).
quando pertinentes às disposições sob inter- Dei vista ao Exmo. Sr. Procurador-Geral
pretação, encontram-se apontados na repre- para ciência da juntada do memorial, por
sentação em tela. linha, a seu pedido, e de um outro a mim
Relativamente ao Decreto-lei nQ 19/66, dirigido; bem assim das informações pres-
conforme bem refletido em seu consideran- tadas pelo Sr. Presidente da República e
do, foi o mesmo editado em face da neces- pelo Congresso Nacional; e para falar, que-
sidade de clareza e uniformidade nos índi- rendo, se considerar oportuno, conforme
ces adotados para a correção monetária dos anunciado em sua petição no segundo
contratos firmados no âmbito do Sistema apenso (fls. 384):
Assim se pronunciou:
Financeiro da Habitação, posto que even-
"O Procurador-Geral da República, com
tuais diversidades dos índices e critérios
vista dos autos para falar sobre as infor-
afetariam o equilíbrio que deve existir en-
mações prestadas e o memorial dos inte-
tre as operações ativas e passivas daquele
ressados, pede vênia para aduzir, por ora,
Sistema. Estabeleceu-se nesse ato que o
apenas o seguinte.
fator reajustante teria sempre por base a
Nenhum comentário sobre as informa-
variação do valor das Obrigações Reajustá-
ções.
veis do Tesouro Nacional - fator também
adotado para as operações passivas, tais O memorial - a cujos autores não se
como a captação de poupança, admitindo- pode negar a extrema inteligência com que
se como única exceção não-suscetível de desenvolveram suas teses - desdobra-se em
dois planos.
romper o mencionado equilíbrio a adoção
da variação do salário mínimo como fator No plano da interpretação da sucessão
reajustante das prestações vinculadas a con- de leis envolvidas, não tem a Procuradoria-
tratos que tivessem como objeto imóveis Geral, data venia, por que alterar a inter-
residenciais de valor inferior a 75 salários pretação proposta.
mínimos. Visou o ato em tela, com vista No plano das resoluções do BNH, vez
àquela uniformização, a estabelecer que, por outra referidas nos contratos-tipo, a
ressalvada a indicada exceção facultada, o interpretação inicialmente proposta anteci-
pava a sua ineficácia - fls. 19 (§ 57, 11),
saldo devedor e as prestações de todos os
verbis:
contratos fossem corrigidos com base na
,As sucessivas normas legais enunciadas
variação da ORTN.
incidem imediatamente sobre os contratos
Deve-se ressaltar que a diversidade de imobiliários em curso e por ela abrangidos,
critérios anterior à edição do decreto-lei ainda que celebrados anteriormente à sua
em pauta gerava crescente in tranqüilidade vigência, de tal modo que os novos crité-
social, considerando-se que a problemática rios de reajuste das prestações mensais a
habitacional, direta ou indiretamente, afe- ela se aplicam, seja qual for a sua data e
tava parcela cada vez maior da população independentemente de eventuais estipula-
nacional. Em face das circunstâncias, veio ções em contrário.'
o Decreto-lei nQ 19/66 a ser editado com Trata-se de corolário inafastável do ca-
base no art. 30 do Ato Institucional nQ 2, ráter de normas imperativas da ordem pú-
de 27 de outubro de 1965, imprimindo no- blica econômica de que se revestem, desde
vo e tranqüilo rumo ao Plano Nacional da o início do Sistema Financeiro da Habita-
Habitação. Ressalte-se também, que o De- ção, as regras legais atinentes ao critério
creto-lei nQ 19/66 veio a ser ratificado pelo de reajuste das prestações.
Congresso Nacional, em conformidade com De qualquer sorte, vale insistir, o inte-
o disposto no art. 173, UI, da Constituição resse governamental a que atendeu a repre-
Federal de 1967 e que corresponde ao art. sentação é o de que se faça cessar, com a
palavrâ definitiva da' Alta Corte, a g€inera- do seu valor médio far-ae.á multiplicando-
lizada incerteza reinante a propósito do se seus valores em cruzeiros, considerados
tema questionado, cuja permanência vem os seis meses anteriores a março de 1986
imobillzandoo mercado com danosas reper- pelos correspondentes fatores de atualização
cussões sociais e econômicas, ao mesmo constantes do Anexo III. Os valores resul·
tempo em que impossibilita a conclusão tantes desse cálculo serão somados, divi-
dos estudos para retomar o caminho de dindo-se o total por seis. O valor dessa
viabilidade do Sistema" (fls. 387-8). média aritmética converter-se-á em cruza-
e o relatório a ser distribuído aos emi- dos, observada a regra de conversão fixada
nentes Srs. Ministros. no § 19 do art. 19.'
5. O Plano de Estabilização Econômica
JU!LATÓllIO OOMPLEMENTAll ou Plano Cruzado, objeto dos decretos-leis,
atendeu, assim, à pretensão fundamental
o Sr. Ministro Rafael Mayer: Já distri- dos 'mutuários do BNH', qual seja, a de
buído o relatório aos Srs. Ministros, o emi- tomar-se por parâmetro máximo, no cálculo
nente Procurador-Geral da República soli- das prestações, o critério da equivalência
citou vista dos autos para exame (fls. 413) salarial relativo à categoria profissional do
fazendo-o retomar com a manifestação se- devedor.
guinte (fls. 415-7): 6. Daí uma primeira impressão de estar
"O Procurador-Geral da República pede prejudicada a representação, na medida em
vênia para aduzir o seguinte: que se parta da premissa de que esta há
2. O signatário pediu vista dos autos, de ter por objeto a fixação do sentido das
à vista do advento do Decreto-lei n9 2.283, normas vigentes, e não a solução de ques-
de 27 de fevereiro de 1986, que dispusera tões residuais submetidas à legislação re-
explicitamente sobre o cálculo das presta- vogada: donde, o pedido de vista.
ções do Sistema Financeiro da Habitação, 7. Ainda nessa hipótese, porém, melhor
na sua conversão para o novo padrão mo- reflexão convence, data venia, de que a re-
netário, o cruzado (art. 11 e parágrafo presentação não perdeu o seu objeto.
único). 8. De fato. O critério da equivalência
3. Na data da concessão de vista, editou- salarial, de que trata o § 19 do art. 10,
se o Decreto-lei n 9 2.284, de 10 de março Decreto-Iei n 9 2.284/86, rege a determina-
de 1986, que, modificando o anterior, dis- ção das prestações em cruzados. Mas a
pôs a respeito do tema: conversão ao novo padrão monetário faro
'Art. 10. As obrigações constituídas por se·á a partir da média aritmética' das pres-
aluguéis residenciais, prestações do Sistema tações devidas, em cruzeiros, nos últimos
Financeiro da Habitação e mensalidades es- seis meses, E o valor destas, em relação
colares, convertem-se em cruzados em 19 aos mutuários que não hajam exercido a
de março de 1986, observando-se seus res- opção facultada pela RC 46/85, do BNH
pectivos valores reais médios na forma dis- (cf. apensos I e 11), pende de solução da
posta no Anexo I. controvérsia objeto da representação.
§ 19 Em nenhuma hipótese a prestação 9. Em outros termos, ao casO, em vir·
do Sistema Financeiro da Habitação será tude da base de conversão adotada no
superior à equivàlência salarial da catego- Anexo I do Decreto-lei n9 2.284/86, o cor-
ria profissional do mutuário. reto entendimento dó direito novo é função
§ 2Q (omissis) , da interpretação do direito antigo, a qual
§ 39 (omissis).' fi representação visa obter.
4. Na conformidade do nQ 2' do referido 10. À viSta dessas considerações, pede
Anexo I, o' signatário' qUe o' feito sejà levado a jul-
'Em relação às prestações do Sistema gamento."
Finanõeiro cfa lIabiteção, a détermiriaÇlo . E <> que cumpre 'aduzir ao relatório.
ANTECIPAÇÃO AO VOTO SOBRE produzido efeitos residuais que justifiquem
PRELlMINAll o interesse da declaração.
l! certo que não há identidade de situa-
o Sr. Ministro Rafael Mayer (Relator): ções quando uma coisa é a revogação da
Sr. Presidente, devo colocar, desde logo, a lei, a perda de sua eficácia depois de ter
própria questão preliminar que é sugerida existido validamente; outra coisa é a sua
pela manifestação última do eminente Pro- inexistência jurídica decorrente de sua in-
curador-Geral, sobre estar ou não prejudi- validade por inconstitucional.
cada a representação. Mas a diferença de enfoques não afasta
E digo, nesse meu voto preliminar: a eqüidade das soluções.
Como se vê da manifestação última do Entendo que a solução deve ser dada à
procurador-Geral da República, transcrita luz da persistência do interesse em obter
no relatório complementar, S. Ex.' consi- a prévia interpretação dos textos legais, em
dera superada a aparência de que estaria causa manifestada e justificada pelo emi-
prejudicada a representação, que não há de nente titular da ação.
ter por objeto senão "a fixação do sentido Está bem assistida a demonstração da
de normas vigentes, e não a solução de ilustrada Procuradoria-Geral da República
questões residuais submetidas à legislação no sentido de que a nova legislação, no to-
revogada", para ter como correto que a cante às prestações do SFH, converte va-
representação não perdeu o seu objeto, pois lores estimados segundo critérios da legis-
os critérios da conversão ao novo padrão lação anterior, o estabelecimento de cujos
monetário supõem uma exata estimativa módulos depende de sua interpretação em
das prestações devidas em cruzeiros, no sede definitiva.
período precedente, o que pende da solu- Ademais, os inúmeros casos judiciais
ção da controvérsia presente. ainda pendentes de decisão final, e no in-
Sem dúvida, as normas editadas pelos De- dissimulável aguardo da orientação do Su-
cretos-leis n.OS 2.283 e 2.284/86, importando premo Tribunal Federal, não refugam, an-
em extinção da correção monetária à base tes justificam, a antecipada e vinculante
da variação das Obrigações Reajustáveis do interpretação, em tese, ainda prestante, se
Tesouro, revogaram as normas que a pre- preenchidos os pressupostos da ação, não
sente representação pretende sejam inter- tendo sido outro o interesse em sua propo-
pretadas, em tese. situra.
Há razão, portanto, em indagar se há Tenho, portanto, por não prejudicada a
interesse legítimo e cabimento em interpre- representação, mas submeto a questão, por
tar em tese lei já revogada, quer dizer, lei sua relevância, à sabedoria da Corte.
não mais em vigor, portanto, sem atuali-
dade e eficácia genéricas. VOTO (PRELlMINAll)
Em princípio, uma lei revogada, como
lei que deixou de existir, não pode ser ob- o Sr. Ministro Rafael Mayer (Relator):
jeto de representação para a sua interpre- Como se vê da manifestação última do
tação em tese, pois se estaria a conferir-lhe eminente Procurador-Geral da República,
feição de método e tratamento histórico. transcrita no relatório complementar,
Entretanto, não se pode deixar de fazer S. Ex.' considera superada a aparência de
a aproximação da hipótese, como tem sido que estaria prejudicada . a representação,
Feita sob outros aspectos, com a represen- que não há de ter por objeto' senão "a fi-
tação de inconstitucionalidade. Nesta tem xação do sentido de normas vigentes, e não
prevalecido O entendimento de que a re- a'solução' de questões residuais submetidas
vogação da 'lei inquinada de inconstitucio- à legislação revogada", para ter como cor-
nal, operada após o aíuizamento da ação. reto que a representação não perdeu o seu
não prejudica o seu' objeto, caso tenha ela objeto, pois' os critérios da conversão ao

-120
novo padrão monetário supõem uma exata lação anterior, o estabelecimento de cujos
estimativa das prestações devidas em cru- módulos depende de sua interpretação, em
zeiros, no periodo precedente, o que pende sede definitiva.
da solução da controvérsia presente. Ademais, os inúmeros casos judiciais,
Sem dúvida, as normas editadas pelos ainda pendentes de decisão final, e no in·
Decretos-leis n.08 2.283 e 2.284/86, impor- dissimulável aguardo da orientação do Suo
tando em extinção da correçio monetária premo Tribunal Federal, não refugam,· antes
à base da variação das Obrigações Reajustá- justificam a antecipada e vinculante inter-
veis do Tesouro, revogaram as normas que pretação, em tese, ainda prestante, se pre-
a presente representação pretende sejam enchidos os pressupostos da ação, nio
interpretadas, em tese. tendo sido outro o interesse em sua pro-
Há razão, portanto, em indagar se há positura.
interesse legítimo e cabimento em interpre- Tenho, portanto, por não prejudicada a
tar em tese lei já revogada, quer dizer, lei representaçlo, mas submeto a questio, por
não mais em vigor, portanto sem atualida- sua relevância, à sabedoria da Corte.
de e eficácia genéricas.
Em princípio, uma lei revogada, como VOTO SOBRE PRELIMINAR
lei que deixou de existir, não pode ser
objeto de representação para a sua inter- o Sr. Ministro Moreira Alves (Presiden-
pretação em tese, pois se estaria a ccnfe- te): Não entro na apreciação do problema
rir-lhe feição de método e tratamento his- da revogação, porque mesmo em matéria
tórico. de representação de inconstitucionalidade
Entretanto, não se pode deixar de fazer sempre sustentei - e continuo a sustentar
a aproximação da hipótese, como tem sido - que ela perde seu objeto quando a lei
feita sob outros aspectos, com a represen- está revogada.
tação de inconstitucionalidade. Nesta tem No caso, porém, há uma peculiaridade:
prevalecido o entendimento de que a revo- a lei nova parte do pressuposto de que,
gação da lei inquinada de inconstitucional, para a fixação da base de cálculo neces-
operada após o ajuizamento da ação, não sária à sua aplicação, há a necessidade de
prejudica o seu objeto, caso tenha ela pro- se levar em consideração média que só
duzido efeitos residuais que justifiquem o pode ser calculada com base na legislação
interesse da declaração. anterior.
t certo que não há identidade de situa- Isto faz com que persista, de certa for-
ções quando uma coisa é a revogação da ma, a eficácia da lei anterior ainda após a
lei, a perda de sua eficácia depois de ter vigência do decreto-Iei que a .revogou para
existido validamente; outra coisa é a sua outros efeitos.
inexistência jurídica decorrente de sua in- Acompanho, pois, o eminente relator,
validade por inconstitucional. rejeitando a preliminar.
Mas a diferença de enfoques não afasta
a eqüidade das soluções. VOTO
Entendo que a solução deve ser dada à
luz da persistência do interesse em obter a o Sr. Ministro Rafael Mayer (Relator):
prévia interpretação dos textos legais, em Intenta o eminente Procurador-Geral da
causa manifestada e justificada pelo emi- República a presente representação em
nente titular da ação. busca de interpretação, em tese, com base
Está bem assistida a demonstração da no art. it9, I, I, da Constituição, dos se-
ilustrada Procuradoria-Geral da República guintes dispositivos da lei federal: a) art.
no sentido de que a nova legislação, no 59 e parágrafos da Lei n9 4.380/64; b) art.
tocante às prestações do SFH, converte va- 30 da Lei n94.864/65 (com a redação dada
lores estimados segundo critérios da legis- pela Lei n9 5.049/66); c) Decreto-Iei n9

·121
19/66; d) art. 13 da Lei n Q 5.107/66; e) Lei V. Ainda na hipótese do n Q lU, supra,
nQ 6.205/75; f) Lei n Q 6.423/77. quando prevista no contrato a aplicação
O pedido vem explicitado, ao final da do § 99 . do mesmo art. 59, da Lei n Q
petição, com a proposta de entendimento 4.380/64, a vigência da lei de aumento dos
preconizado pelo' douto -Procurador-Geral, servidores públicos determinará apenas o
delimitando o objeto da' representação, in início da exigibilidade das prestações rea-
verbis: justadas segundo a mencionada relação
"Nesses termos, espera: o representante original com' o salário mínimo."
que, conhecendo da . representação, venha a 2. 1 Cabe considerar, primeiramente, da
Alta Cort.e a. 'assentar o seguinte entendi- ocorrência dos pressupostos e de motivos
mento para os dispositivos legais focali- que confiram viabilidade ao pedido de in-
zados: terpretação de lei em tese.
I .' O art. 59 e parágrafos .<l>ILei n9 Razão que se aponta, na inicial, a jus-
4.380/61 estão revogados, tificar o pronunciamento desta Corte, está
a) em relação às operações de financia- na contraposição de interpretações, que por
mento de entidades paraestatais, empresas esta via poderia ser dirimida, a respeito
públicas e sociedades de economia mista, de dispositivos legais pertinentes ao crité-
mesmo as não integrantes do Sistema Fi- rio de reajustamento das amortizações de
nanceiro da Habitação, desde a: Lei n9 imóveis financiados, notadamente os que
5.049/66, na parte em que deu nova reda- vêm consubstanciados na Lei n9 4.380/64
ção ao art. 30 da Lei n9 4.864/65; e no Decreto-lei n. Q 19/66, conflito inter-
b) e, quanto a todas as operações do pretativo que ocorre amplamente no pri-
Sistema Financeiro da Habitação, pelo De- meiro grau de jurisdição, e de maneira
creto-Iei n9 19/66, revogação esta que, de insigne, no próprio âmbito do egrégio Tri-
qualquer sorte, adviria da Lei n9 6.205/75 bunal Federal de Recursos.
e da Lei n9 6.423/77. Ademais, a controvérsia tem propiciado
H. As sucessivas normas legais enun- a instauração de grande número de de-
ciadas incidem imediatamente sobre os con- mandas, na casa de dezena de milhar, ~nvol­
tratos imobiliários em curso e por elas vendo mais de 100 mil mutuários do SFH,
abrangidos. ainda que celebrados anterior- e congestionando a Justiça; invoca-se, em
mente à sua vigência, de tal modo que os conseqüência, o reflexo negativo ou des-
novos critérios de reajuste das prestações concertante que tal situação produz na
mensais a eles se aplicam, seja qual for a orientação e dinâmica do Sistema Finan-
sua data e independentemente de eventuais ceiro da Habitação.
estipulações em contrário. Propiciar o evitamento desse tipo de
IH. Quando assim não fosse,. os critérios congestionamento, quando decorrente de in-
do art. 59 e parágrafos da Lei n9 4.380/64 terpretação que. se pode antecipar, em tese,
só se aplicariam aos contratos aperfeiçoa- é o. que. teve em. mira o dispositivo cons-
dos na vigência deles. titucional, como se vê da exposição de
IV. Na hipótese do n9 IH supra, o limi- motivos que encaminhou ao Congresso a
te do. reajustamento das prestações mensais emenda constitucional que veio a ser edita-
dos contratos; que continuassem submetidos da com o número 7.
àquelas regras da Lei n Q 4.380/64 será fixa- ~ certo que, como informa a douta re-
da de modo a que se mantenha inalterável presentação, no pertinente aos julgamentos
a percentagem neles prevista, ou seja, a referidos do egrégio Tribunal Federal de
correspondente à 'relação original entre a Recursos, foram interpostos e admitidos
prestação. mensal de .amortização e juros.e recursos extraordinários,. com. matéria jurí-
o salário mínimo em vigor na data do con.- dica que envolve as questões presente'llen-
trato' .. te propostas.
-. •A . circunstância tem a ver com o dizer julgados do e~gio Tribunal' Feder;d" ~e
do Regimento Interno que qualifica a in- Recursos e que não alcançara~' únif~rmi­
terpretação da lei, veiculada pela repre- zação naquela instância; tendo por ()bjeto
sentação do Procurador-Geral como inter- o reajuste' das pre.stações mensais. doscon-
pretação prévia (arts. 180 e 182). tratos de financiamento para a aquisição de
Ora, essa condição temporal, esse requi- imóveis residenciais, do Sistema. Fin~nceito
sito de anterioridade ou antecipação não da Habitação.
deve ter relação senão com a instância do Fere-se o referido dissídio na aplicab:li-
Supremo Tribunal, não elidida a oportuni- dade das normas do art. 59 e parágrafos
dade da interpretação em tese de lei que da Lei n9 4.380/64 e do Decreto-Lei n9
as instâncias inferiores tenham aplicado. 19/66, que são, fundamentalmente, as leis
pois, ao contrário, não é a controvérsia que se pretendem previamente interpre-
judicante que será óbice à sua interpreta- tadas.
ção, se recente é a oportunidade de sua No julgamento da AMS n 9 104.763, a
aplicação judicial, com o séquito de dubie- egrégia Quinta Turma do Tribunal Federal
dade que objetivamente acarretou. de Recursos adotou entendimento. cujos
Se bem que a declaração interpretativa tópicos essenciais podem ser tirados de sua
da lei, em tese, jamais venha a ser um extensa e esclarecedora ementa, a saber:
sucedâneo do recurso extraordinário, ainda a) decreto-lei, que só pode ser editado em
quando questionem os mesmos preceitos condições especiais e para as matérias pre-
normativos, as referidas interposições re- vistas no art. 55 da Constituição, não pode
cursais não devem servir de embargo à alterar regra jurídica constante de lei for-
interpretação prévia. mal, pois não tem eficácia diante da suprl'l-
Somente quando ocorra julgamento do macia desta, sc;ndQ infundada a alegação de
Supremo Tribunal, em recurso extraordiná- estarem revogados os §§ 59, 69 e 99 do
rio ou outro procedimento próprio à sua art. 59 da Lei n9 4.380/64; b) a lei que
jurisdição, em que se tenha definido o sen- instituiu o Plano Nacional de Habitação
tido da lei questionada, é que não mais se (art. 59, §§ 59, 69 e 99) previu para todos
aconselhará a declaratória interpretativa. os mutuários, sem distinção, a observância
Antes disso, ela não perde a "utilidade do princípio da equivalência salarial,que
como meio de prevenção de dissídios juris- é único, com duas formas de reajuste: I)
prudenciais", assinalada por Barbosa Mo- das prestações mensais dos mutuários, que
reira (Comentários, 5. ed., v. 8-9), estando não podem exceder, em relação ao salário
as circunstâncias miudamente expostas na mínimo em vigor, a. percentagem nele esta-
douta representação, a viabilizá-Ia como belecida destinada ao custeio de habitação.
"medida a ser adotada apenas em situa- sendo que o reajustamento dos que tenham
ções especiais, em que o interesse público parâmetros diferentes do salário mínimo
superior esteja a justificar, desde logo, o está limitado ao percentual de reajuste de
pronunciamento do Alto Tribunal do país", seus salários (art. 59, §§ 59 e 69); 11) quan-
na conceituação do eminente Ministro Néri do se tratar de servidor público, o reajuste
da Silveira em notável estudo (O STF e a não pode exceder o percentual estabelecido
interpretação jurídica com eficácia norma- na lei que lhes altere os vencimentos (art.
tiva. Revista tÜl OAB, DF, n9 lO, p. 25-6). 59, § 99).
Entendo, portanto, que pode ser aberta Em contraposição, a egrégia Quarta Tur-
a histância da interpretação para o exame ma adotou entendimento, no julgament() da
dos temas propostos na douta representa- Apelação Cível n9 56. 179, que está fiel-
ção. menté resumido. em sua em~mta,in v~bis:
2.2 .feitas essas co~siderações, cabe o "FinancÚlme11to de casa prQpria.Apli,ça-
registro de ter sido de~'lOnstrado qa repr,e- ção da correção monetária. Lei n9 4.3Bq!64
sentação o dissídio interpretativo entre e Decreto-lei n9 19/66.
No financiamento de casa própria pelo § 29 O reajustamento contratual será efe-
Sistema Financeiro da Habitação, a aplica- tuado na mesma proporção da variação do
ção da correção monetária obedece às ins- índice referido no parágrafo anterior:
truções emanadas pelo Banco Nacional da a) desde o mês da data do contrato até
Habitação. As disposições dos parágrafos o mês da entrada em vigor do novo nível
29, 49, 59 e 69 do art. 59 da Lei nO de salário mínimo, no primeiro reajusta-
4.380/64 foram derrogadas pelo disposto no mento após a data do contrato;
art. 19 do Decreto-Iei n9 19/66, que deu b) entre os meses de duas alterações su-
àquele Banco competência para editar ins- cessivas do nível de salário mínimo nos
truções sobre a aplicação da correção mo- reajustamentos subseqüentes ao primeiro.
netária. Não podem prevalecer cálculos fei- § 39 Cada reajustamento entrará em vi-
tos com base naqueles dispositivos derro- gor após 60 dias da data da vigência de
gados." alteração do salário mínimo que o autori-
2.3 Há, portanto, um conflito interpre- zar e a prestação mensal reajustada vigo-
tativo bem circunscrito, a tnerecer solução, rará até novo reajustamento.
nesse aspecto e nesse limite, pelo aclara- § 49 Do contrato constará, obrigatoria-
mento, em tese, dos dispositivos legais mente, na hipótese de adotada a cláusula
mencionados. de reajustamento, a relação original entre
A apreensão do pensamento neles obje- a prestacão mensal de amortização e juros
tivado, quanto ao seu sentido e alcance, e e o salário mínimo em vigor na data do
ao resultado ou escopo pretendidos, recla- contrato.
ma sejam submetidos a uma interpretação § 59 Durante a vigência do contrato, a
sistemática, pois são partes de um sistema, prestação mensal reajustada não poderá
aliás assim conceituado. exceder, em relação ao salário mínimo em
A Lei n9 4.380, de 1964, intitula como vigor, a percentagem nele estabelecida.
matéria o instituir a correção monetária § 69 Para o efeito de determinar a data
nos contratos imobiliários, o sistema fman- do reajustamento e a percentagem referida
ceiro para a aquisição de casa própria, no parágrafo anterior, tomar-se-á por base
criando o Banco Nacional da Habitação e o salário mínimo da região onde se acha
outras entidades correlatas. situado o imóvel.
No capítulo 11 dessa lei, a respeito da §§ 79 e 89 (vetados).
co"eção monetária dos contratos imobiliá- § 99 O disposto neste artigo, quando o
rios, vêm inseridos o art. 59 e parágrafos, adquirente for servidor público ou autár-
dos quais se pede interpretação. quico, poderá ser aplicado tomando como
Assim estão formulados: base a vigência da lei que lhes altere os
"Art. 59 Observado o disposto na pre- vencimentos."
sente lei, os contratos de venda ou cons- O que se depreende desses dispositivos
trução de habitação para pagamento a pra- da lei que institui· a correção monetária
zo ou de empréstimos para construção ou nos contratos imobiliários é o seu teor de
aquisição de habitações poderão prever o intervencionismo no domínio da vontade
reajustamento das prestações mensais de contratual, tendo como destinatários quem
amortização e juros, com a conseqüente quer que venha a contratar venda ou cons-
correção do valor monetário da dívida toda trução de habitação para pagamento a pra-
vez que o salário mínimo legal for alterado. zo, ou empréstimo para aquisição.
§ 19 O reajustamento será baseado em De acordo com esses dispositivos, facul-
índice geral de preços mensalmente apurado tativa é aos contratantes de tais avenças
ou adotado pelo Conselho Nacional de Eco- imobiliárias a previsão do reajustamento
nomia que reflita adequadamente as varia- das prestações mensais, salvo quando se
ções no poder aquisitivo da moeda nacio- tratar de aplicações do Sistema Financeiro
nal. da Habitação e de financiamentos advin-

124
dos de autarquias e entidades paraestatais, mensal e o salário mínimo, a ser fixado obri-
em que a previsão do reajuste se toma co- gatoriamente em cláusula, e de observância
gente, nos termos do art. 10 da lei em c0- em todos os reajustes subseqüentes, na vi-
mento. gência do contrato.
Previsto no contrato, optativa ou impo- Cabe entender-se, ademais, que os §§ 49
sitivamente, o reajustamento das prestações e 59 do art. 59 da Lei n9 4.380/64 não te-
mensais de amortização e a conseqüente nham perdido eficácia por causa do art. 30
correção do valor monetário da dívida, o da Lei n9 4.864/65, na redação que lhe deu
modelo corretivo é dado pela lei de modo a Lei n9 5.049/66, cuja interpretação tam-
completo e sistemático. bém é solicitada. Tanto na redação primi-
Como se vê do § 19, o parâmetro do tiva (Lei n 9 4.864) se faz remissão à obser-
reajustamento é o índice geral de preços vância do art. 59 da Lei n9 4.380, sem
apurado pelo Conselho Nacional de Eco- excluir qualquer dos seus parágrafos, quan-
nomia, padrão evidentemente inconfundível to na redação nova (Lei n9 5.049) o crité-
com outros padrões de reajuste de presença rio não se exclui. Reportando-se apenas a
freqüente em leis e regulamentos. um setor de operações imobiliárias, o do
Diverso dele, manifestamente, é o do âmbito das entidades estatais e paraestatais,
salário mínimo, que é invocado nessa Lei, integrantes ou não do Sistema Financeiro
mas com um claro sentido para a função da Habitação, o art. 30, em nova redação,
que lhe é reservada. Primeiramente ele é tão-somente manda observar os reajustes
invocado como marco temporal para a data fixados na conformidade da Lei n9 4..864,
do reajustamento da prestação, de modo onde são revogados os critérios fundamen-
que a decretação de um novo salário míni- tais da Lei n9 4.380, apesar de haver nela
mo seja pressuposto para a seqüência do introduzido várias alterações, tanto que
reajuste contratual (§ 59). revoga expressamente as alíneas do art. 69
Pela mesma razão e com o mesmo cri- da Lei n9 4.380, sem que se refira ao pre-
tério é que o § 99 tem a significação de cedente art. 59, pelo que é válido o dito
facultar, como marco temporal e condição inclusio unius fit exclusio alterius.
análoga para autorizar o reajuste, o advento
A novidade do dispositivo em questão
de lei que altere os vencimentos do servi-
está simplesmente na tÔnica da obrigatorie-
dor público, no suposto de que o adqui-
dade do reajustamento na forma então vi-
rente tenha essa qualidade.
gente, e no campo de abrangência dos seus
Atente-se a que, sob esse enfoque, nem
destinatários, conforme referido.
o salário nem os vencimentos são padrões
2.4 O exame do Decreto-Iei n9 19/66
ou índices de reajustamentos, mas condi-
não deixa dúvida quanto ao pensamento
ções temporais para a efetivação dele, cemo
deflui, sem dubiedade, das expressões dos nele objetivado, sem razão maior para que
§§ 29, 39 e 69. haja controvérsia quanto ao seu sentido
normativo.
Bem diverso é o sentido que se infere
do exame dos §§ 49 e 59, do art. 59, em Diz o referido diploma· legal, no perti-
outra direção do comando legal. Claramen- nente à matéria questionada:
te, aí não vem disposto que o salário mí- "Art. 1Q Em todas as operações do Sis-
nimo seja critério de reajustamento, pois tema Financeiro da Habitação deverá ser
que o é o índice geral de preços, mas sim adotada cláusula de correção monetária, de
que ele seja uma referência delimitadora, acordo com os índices de correção monetá-
uma razão de proporcionalidade, obviamen- ria fixados pelo COnselho Nacional de Ec0-
te para os casos em que o reajuste, segun- nomia, para correção do valor das Obriga-
do a indexação dos preços, seja excedente ções Reajustáveis do Tesouro Nacional, e
da proporção estipulada, ou seja, da per- cuja aplicação obedecerá a instruções do
centagem que se acha entre a prestação Banco Nacional da Habitação.

125
§ 1Q O reajustamento das prestações p0- metros de correção. Não há razão de pre-
derá ser feito com base no salário mínimo, tender-se que a ampla competência norma-
no .caso de operações que tenham por obje- tiva atribuída ao BNH para ditar normas
to imóveis residenciais de valor unitário sobre a aplicação dos índices sofra limi-
inferior a 75 salários mínimos e se destina- tações do que se disse na lei anterior, com
re~ a -atender às necessidades habitacionais referência ao fator salarial na proporciona-
de famílias de baixa renda." ·lidade dos reajustes.
.O dispositivo em foco, no caput, contém Esse critério interpretativo resulta, aliás,
uma proposição principal e duas comple- dos próprios considerandos do Decreto-lei
mentares, que se conjugam no todo norma- n9 19, onde se invoca a "necessidade de
tivo, desdobrado nas seguintes preceituações serem uniformizados os índices de depre-
conexas: a) em toda operação do Sistema ciação monetária"; "a urgência de promul-
Financeiro da Habitação, incluídos portan- ,gação de norma legal que ponha fim ao
to os contratos imobiliários, será obrigató- estado de incerteza"; a conveniência de cri-
ria, de modo geral, a inserção de cláusula térios e condições da correção com maior
de correção monetária; b) a correção mone- flexibilidade; e a concessão ao BNH de
tária, a ser necessariamente clausulada, se "maior autonomia para regulamentar os di-
regerá pelos índices fixados pelo Conselho versos critérios a serem adotados na apli-
Nacional de Economia, para correção do cação da correção monetária nas operações
valor das Obrigações Reajustáveis do Tesou- habitacionais" .
ro; c) a aplicação de tais índices de corre- 2. 5 Interessando ao próprio confronto
ção monetária nas operações do Sistema com as leis precedentes, uma das incerte-
obedecerá a instruções do Banco Nacional zas emergentes das interpretações confli-
da Habitação. tantes sobre o Decreto-Iei nQ 19/66 diz res·
A exceção formulada no § 19 do artigo, peito ao nível hierárquico que o decreto-
sobre hipótese de reajustamento com base lei assume no universo das normas jurídi-
no salário mínimo, tem por conseqüência cas e, especificamente, o decreto-Iei ema-
reafirmar, fora do campo excepcionado, a nado pelo poder revolucionário, como é o
imperatividade do princípio expresso no cliso do diploma legal em foco.
caput. Este Tribunal tem como um dos supor-
Sem dúvida, o Decreto-lei n9 19 se apre- tes de sua interpretação da copiosa legis-
$enta como inovação em face da lei primor- lação brasileira, onde se intercalam nume-
dial antes examinada, nos pontos essen- rosíssimos decretos-leis, o de que o decreto-
ciais já enfocados, e especificamente com lei é uma forma de produção ou fonte de
relação ao Sistema Financeiro da Habitação, direito que detém a mesma categoria hie-
.a' saber: a) da relativa facultatividade do rárquica da lei emanada do Poder Legis-
reajustamento da prestação, em preceitos lativo, desta se diferenciando apenas quan-
anteriores, à obrigatoriedade dele, mediante to ao aspecto formal, jamais quanto à va-
correção monetária, no preceito sob exa- I!dade e eficácia da norma jurídica por ele
ine; b) substituição do índice geral de pre- veiculada, como lei material do mesmo ní-
ços com fator de atualização, na lei ante- vel da lei formal.
rior, pelo índice de correção com base na Processo legislativo enumerado na Cons-
variação das Obrigações Reajustáveis do Te- titQição (art. 46), desde que observe os cri-
souro; c) atribuição de competência ao térios e a matéria deferidos ao seu campo
BNH para baixar· instruções sobre a apli· de 'validade, n'em há duvidar de que está
caÇão - dos índices referidos. no mesmo plano da lei ordinária, poden-
Tráta-se, portanto, de um novo e com- do operar a sua revogação, desde que com-
pleto sistema, sem dar margem' para que preendida rio seu. âmbito' constituCional.
.nele se remtroduzam as normas anterio- pe' proÇesso mais ·autônomo e sumário,
res que dispunham sobre índices e pari- entretanto, do que' os decretos-leis edita-
dos; segund,? as normas dos arts. 46 e55 lidade aptos a revogar precedentes leis for-
da Constituição, cuja definitividade depen- mais, se incompatíveis, conduz a resultados
de da aprovação do ,Congresso Nacional, absurdos.
são os, déCret~leis emanados do exercício Considerar de outro modo, sem que haja
do poder revolucionário, 'com base nos atos a edição de novas disciplinas legais das'
institucionais, e que são de duas ordens. matérias por eles reguladas, conduziria ao
O último e mais duradouro período se caos no ordenamento jurídico. Basta lem-
estende desde a edição do Ato Institucio- brar que importantíssimos textos desse teor,
nal n9 5, de 13 de dezembro de 1968, até foram editados, ou instituindo ou revogan-,.
a Emenda Constitucional nQ 11, de 13 de do códigos, ou dispondo sobre matériaS
outubro de 1978, que o revogou e aos sub- constitucionalmeJ;lte reservadas à lei ccmple-'
seqüentes atos revolucionários, com ,a res- mentar, ou revogando, de modo geral, leis
salva dos efeitos dos atos praticados com formais, e têm obtido inquestionada e pací-
base neles, resguardadas de apreciação judi- fica aplicação pelo Supremo Tribunal, sen-
cial. Com base no art. 2Q, § 1Q, desse ato do até dispensável referl-Ias.
institucional competia ao Poder Executivo, Não há dúvida, portanto, de que ó De--
uma vez decretado o recesso parlamentar, creto-Iei n9 19/66 há de ser interpretado
legislar sobre todas as matérias pre\'istas corno norma da mesma categoria das leis
na Constituição, obviamente sob a forma formais, apto para dispor sobre as matérias,
predominante de decretos-Ieis, corno efeti- que por estas tenham sido dispostas anterior-
vamente se fez. mente, revogando-se' se com elas incompatí-
Em um período anterior, a expedição de veis, nos exatos termos do art. 29, § 29,
decretos-Ieis se fez com base no art. 30 do da LICC.
Ato Institucional nQ 2, de 27 de outubrc de Demonstrado corno está que as normas' do
1965, com vigência prefixada até 15 de mar- art. 59 da Lei n9 4.380, tais corno referidos
ço de 1967, e que conferia ao presidente na representação, não se compadecem com
da República o poder de baixá-los sobre o conjunto normativo editado pelo Decreto-
matéria de segurança nacional, o que veio lei n9 19, cabe interpretar-se o último na in-
a ser reiterado pelo art. 9Q do Ato Insti- tegridade de sua preceituação como norma
tucional nQ 4, de 7 de dezembro de 1966, aplicável à correção monetária nas opera-
com ampliação à matéria financeira. Tais ções do Sistema Financeiro da Habitação,
decretos-leis podiam ser e foram baixados seu objetivo precípuo.
durante o funcionamento do Congres'lQ Na- 3. 1 Aí, na moldura desses preceitos e
cional; no exercício de urna função legisla- na apreensão dos conceitos que se tiram
tiva paralela. Ora, a esse poder revolucio- das expressões legais, como aqui se inten-
nário é que se filia o 'questionado Decreto- ta, se exaure o objeto da interpretação em
lei n Q 19/66, que o invoca expressamente, tese.
a igual de cerca de 300 'outtos decretos-leis Há de ter-se em vista que o âmbito desse
então baixados. processo interpretativo se restringe à nor-'
Ocorre que a Constituição promulgada se- ma, considerada em si mesma, portanto, em
guidamente, em 24 de janeiro de 1967, com tese, abstraídas as circunstâncias ou os fa-
vigência a partir de IS de março, di&pôs, tos sobre os quais deva incidir. No dizer
em seu art. 173, 11; corno aprovados e ex- de Ferreira Filho essa interpretação "em
cluídos de apreciação judicial, dentre ou- tese" está "necessariamente' desligada dos
tros, os atos de natureza legislativa expedi- càsos concretos" (Comentários, '3." ed., p.
dos com base nos refendos' atOs institucio- 476). '
nais. Se se considerar, como é usual, a' figura
Com essa convalidação, negar' que' tais do silogismo como a fomià da operação
atos legislativos revistam o caráter de leis intelectual ínsita na sentença judicial, ter-
máteriais; com atr~JÍtos de eficácia e va- sC-á que' a mtefp(etaçlio em: tese '6 a: que,
tem por objeto a proposição da premissa ção, sendo certo na freqüente jurisprudên-
maior, a lei, sem que se imiscua, no en- cia desta Corte que não é atributo das leis
tanto, na premissa menor onde se dá a de ordem pública ou estatutária o eximir-
subsunção dos fatos para ir ao conseqüente se necessariamente da incidência da garan-
da decisão conclusiva, própria de uma lide tia constitucional do direito adquirido.
a solucionar conflitos de interesses. Ora, o trato de tal matéria, neste qua-
Não se trata, com efeito, na representa- dro processual, exigiria, quando menos, a
ção em causa, de responder a uma consulta interpretação mesma de tais normas regen-
sobre a solução cabível em uma controvér- tes da espécie, sobre a incidência e inter-
sia, pois o Supremo Tribunal não consul- temporalidade das leis, diante do direito ad-
ta sobre um caso ou uma multidão de ca- quirido e do ato jurídi.::o perfeito.
sos, mas somente interpreta, em tese, nor- Tal proposta interpretativa, no entanto,
ma que é, por natureza, abstrata e geral, não foi equacionada no pedido sob exame.
e sendo interpretação em tese, "com força Que o fosse, todavia, ainda assim não
vinculante para todos os efeitos" (art. 187 lograria viabilidade, pois entende o Supre-
do RI), partilha, analogicamente, daquela mo Tribunal incabível a interpretação em
abstração e generalidade. tese de norma constitucional, como se vê
Ora, a indagação proposta na douta re- do douto voto do eminente Ministro Oscar
presentação sobre os efeitos da incidência Corrêa, com razões de desaconselhamento
das leis sucessivas sobre os contratos em perfeitamente extensíveis à preceituação cor-
curso, ou seja, in verbis se os novos cri- respondente da Lei de Introdução do C6-
térios de reajuste das prestações mensais digo Civil (Representação nl? 1.283).
a eles (contratos em curso) se aplicam, seja Os temas que se colocam sob tais pris-
qual for a sua data e independente das mas, pertinentes ao direito intertemporal
eventuais estipulações em contrário, envol- ou à validade das cláusulas contratuais em
ve aspectos desmesurados com a natureza lÍace de lei estatutária, imperativa, ou de
e o objeto do presente feito, inclusive su- ordem pública, não se compadecem com o
pondo normas de sobredireito que não fo- procedimento.
ram postas em causa. Cabe enfrentá-los somente no julgamen-
Primeiro, a resposta pediria o próprio to da lide, mas aqui não se trata de uma
exame das cláusulas contratuais, o que não avocação de causa, nem nela se pode con-
faz objeto da lei mas do plano factual, verter o pedido.
sendo um impossível jurídico nesta instân- Tais propostas, pertinentes aos contra-
cia, o que nem mesmo se propõe direta- tos e a preceitos jurídicos que não foram
mente. submetidos à interpretação, inclusive nor-
Decerto, o problema de direito temporal mas editadas pelo BNH, não encontram
que se quer resolvido implica não somen- acolhida e desenlace, pois são questões
te a análise de situações jurídicas, de or- excedentes do âmbito da matéria interpre-
dem subjetiva, pertinentes ao patrimônio tanda.
jurídico dos indivíduos, como também da De outro lado, as normas do art. 13 da
eficácia dos preceitos em causa, tidos co- Lei nl? 5107/66 e das Leis n.08 6.205/75 e
mo estatutários ou de ordem pública, so- 6.423/77, não estão sujeitas a qualquer dis-
bre os contratos em curso de execução. sídio interpretativo, e são na verdade tra-
Abstração feita do aspecto de fato ou zidas a debate como subsídio à interpreta-
contratual aí envolvido, a questão de di- ção preconizada pelo ilustre representante,
reito intertemporal chama para solvê-Ia ou- no sentido da incidência da correção mo-
tra ordem preceptiva, normas de sobredi- netária pela ORTN, nos negócios imoNliá-
reito e que residem, topicamente, no art. 69 rios do SFH.
e parágrafos da Lei de Introdução ao C6- De qualquer modo, a Lei nl? 6.205 nio
digo Civil e no art. 153, § 39 da Constitui- permite, desde a sua vigência, a adoçãc de

f28
critérios de reajustamento com base no sa- mais que ficou explicitado ao longo do
lário mínimo, enquanto a Lei n9 6.423/77 voto.
restringe ao padrão da ORTN a estipulação
sobre correção monetária em quaisquer ne- VOTO SOBRE INTERPRETAÇÃO PRÉVIA
gócios jurídicos. (arts. 180 e 182, RI)
Pelo exposto, conheço em parte da re-
presentação para declarar a interpretação, o Sr. Ministro Moreira Alves (Presiden-
em tese, do art. 59 e parágrafos da Lei te): Dou interpretação mais ampla a essa
n9 4.380/64, do art. 30 da Lei n'? 4.864/65, expressa prévia. A Constituição não prevê
com a redação dada pela Lei n'? 5.049/66, esse requisito temporal. .
e do art. 19 do Decreto-Iei n9 19/66, no O Regimento, quando usou a palavra
sentido de que: a) o art. 59 da Lei n'? prévia, quis dar a entender que essa repre-
4.380/64 facultou o reajustamento das pres- sentação deveria ser utilizada para preve-
tações nos contratos de aquisição de habi- nir que prosseguisse a divergência de inter-
tações para pagamento a prazo, devendo o pretação de uma lei nos diversos Tribunais,
reajustamento ser baseado no índice geral dando margem a uma pletora de recursos
de preços (art. 59, § 19); b) cada reajusta- extraordinários. Para isso é que foi criada
mento somente é autorizado a partir da edi- tal representação, e essa finalidade persiste
ção de novo salário mínimo e 60 dias após ainda quando, eventualmente, a Corte já
a sua vigência ou de decretação de novos haja apreciado a questão em um ou em
vencimentos, quando se trate de servidor alguns poucos recursos extraordinários.
público (§§ 29, 39 e 99); c) adotada a A interpretação de V. Ex." é demasiado
cláusula de reajustamento assim prevista, restritiva e, a meu ver, se contrapõe à fi-
pela mesma lei constará obrigatoriamente nalidade da representação de interpretação.
do contrato a proporcionalidade entre o
valor da prestação mensal e o salário míni- o Sr. Ministro Rafael Mayer (Relator):
mo em vigor na data do contrato, não po- Sr. Presidente, estou apreciando o caso e
dendo a prestação mensal subseqüentemen- examinando o cabimento, diante da circuns-
tância concreta e da norma regimental. Isso
te reajustada exceder aquela relação per-
não me ocorreu e s6 ocorrerá quando hou-
centual tendo em vista o salário mínimo
ver uma hip6tese. Estou verificando os
então em vigor (§§ 49 e 59); d) o Decre-
pressupostos da interpretação prévia e di-
to-Iei n'? 19/66 institui novo e completo cri-
zendo que já existe recurso extraordinário
tério de reajustamento das prestações da
que não foi julgado e, portanto, isso não
casa própria, tornando-se obrigatório en~ to-
fere a norma do Regimento, que fala em
das operações do SFH; sujeitando-o à c0r-
interpretação prlvia.
reção exclusiva pelo índice de variação das
obrigações reajustáveis do Tesouro, salvo o Sr. Ministro Moreira Alves (Presiden-
no tocante às operações com imóveis de va- te): Então, V. Ex." poderia dizer, para não
lor inferior a 75 salários mínimos, em pro- se entrar nessa questão, que não há qual-
gramas sociais, nos quais o reajustamento quer problema com a expressão prévia.
se fará com base no salário mínimo; e) porque, no caso, não existe nenhum pro-
a aplicação da correção monetária com base cesso já julgado. Desde o momento, porém
no valor das obrigações reajustáveis obede- em que V. Ex." declara que entende' que
cerá a instrução do Banco Nacional da Ha- conhece da representação porque a expres-
bitação, não estando sujeita A observân- são prévia significa que é preciso que li
cia dos parâmetros dos §§ 49 e 59 do art. Corte não haja julgado qualquer recurso
59 da Lei n9 4.380/64, obviamente supera- extraordinário em que se tenbám interpre-
dos pela nova sistemática do Decreto-Iei n9 tado os' dispositivos em quest§o, e, na eS-
19/66, no âmbito de sua incidência; e o pécie, isso ocorreu, impõe-se; a meu ver,
que o Tribunal - para orientação futura - O Sr. Ministro Rafael Mayer (Relator):
se manifeste sobre o alcance da norma do Sim. Não está havendo, aqui, então não
Regimento. estou nem obrigado a essa interpretação,
porque não estou interpretando em tese o
o Sr. Ministro Rafael Mayer (Relator): Regimento.
No caso, a minha preocupação foi inter-
pretar o que diz o Regimento. O Sr. Ministro Moreira Alves (Presiden-
te): Faço esta observação, porque é sem-
o Sr. Ministro Moreira Alves (Presiden- pre conveniente ressalvar-se; depois, quan-
te): ~ por isso que me parece necessário do a composição do Tribunal se modificar,
colher o entendimento do Tribunal sobre o ou a memória humana falhar, se poderá pre-
sentido dessa norma regimental.
tender que a Corte tenha fixado o entendi-
O Sr. Ministro Rafael Mayer (Relator): mento de que só cabe representação de in·
Mas é justamente o que estou dizendo, que terpretação, quando ela jamais tiver julga-
está sendo respeitada a norma regimental do algum caso relativo à interpretação da
porque o recurso extraordinário ... lei em causa.
Adiantando meu voto, entendo que o ad-
o Sr. Ministro Moreira Alves (Presi- jetivo prévia, usado pelo Regimento, não
dente): V. Ex.' declarou que prévio sig- implica qualquer limitação ao texto cons-
nifica que não haja nenhum recurso julga- titucional, podendo a Corte conhecer de re-
do pelo Supremo Tribunal.
presentação de interpretação de lei em te-
, O Sr. Ministro Rafael Mayer (Relator): se ainda quando. eventualmente, a tenha
Não falei em termos absolutos, nessa ge- examinado em recurso.
neralidade, no sujeito universal. Disse que,
no caso, existia recurso extraordinário, e VOTO SOBRE INTEllPREUÇÃo PRÉVIA
que, portanto, não estaria em causa anor- (Arts. ISO e 182, RI)
ma regimental.
O Sr. Ministro Célio Borja: Sr. Presi-
O Sr. Ministro Moreira Alves (Presi-
dente, fico com o texto da Constituição,
dente): V. Ex." começou dizendo isso, mas
que não estabelece limitação da palavra
continuou interpretando restritivamente. Não
fui eu que dei essa interpretação restritiva,
prévia.
até porque ela jamais me ocorreu. ..Entendo, como V. Ex.", que não há limi-
tação alguma ao poder do Supremo Tri-
O Sr. Ministro Rafael Mayer (Relator): bunal de interpretar, mediante representa-
Falei ém prévia para afastar as interpreta- ção do' Procurador-Geral da República, lei
ções havidas na instâncià ·ordinária. . em tese.
(Lê o voto. fls. 3):
VOTO
"Ora, essa condição temporal, esse re-
quisito de anterioridade ou antecipação não
(Interpretação Prévia dos arts. ISO e
deve ter relação senão com a instância do
182, RI)
Supremo Tribunal, não elidida a oportu-
nidade da interpretação em tese de lei, que
O Sr. Ministro Carlos Madeira: Creio
as instâncias inferiores tenham aplicado,
pois, ao contrário, não é a controvérsia ju- que a interpretação da lei, em tese, tal co-
dicante que será 6bice à sua interpretação." mo disciplinada no nosso Regimento, não
está Vinculada a qualquer pronunciamento
O Sr. Ministro Moreira Alves (Presi- prévio, em caso conéreto, em que tenha
dente): V. Ex." diz que não será óbice se- haVIdo interpretação da mesma lei. Sem
não havido lá. E, a meu ver, nem·aqui.' desmerecer à cautela do ministro relator,

130
creio· que nenhum óbiCe é criado à inter- é que justamente poderá ser a justificação ~
pretação da lei ora em exame, por deci- para que se faça dita interpretação. "
sões anteriores'. sobre a mesma matéria.
VOTO SOBRE INTERPRETAÇÃO PRÉVIA

VOTO SOBRE INTERPRETAÇÃO PRÉVIA


(arts. 180 e 182, RI)
(Arts. 180 e 182; RI) o Sr. Ministro Oscar CO"êa: Sr. Presi-
dente, em representação anterior, para in-
o Sr. Ministro Octavio Gallotti: Sr. Pre- terpretação de lei, já expendi o meu pensa-
sidente, estou de acordo com a conclusão mento e nada tenho que alterar.
do eminente Ministro Rafael Mayer, aco- A mim me parece que não há nenhum
lhendo igualmente os esclarecimentos adu- conflito entre a norma do texto constitn-
zidos por V. Ex.·. cional e a do texto do Regimento Interno,
em seu sentido amplo.
~ o meu voto.
VOTO SOBRE INTERPRETAÇÃO PRÉVIA

(arts. 180 e 182, RI) VOTO SOBRE INTERPRETAÇÃO PRÉVIA


(arts. 180 e 182, RI)
o Sr. Ministro Sydney Sanches: Sr. Pre-
sidente. Concordo com a ressalva de V. O Sr. Ministro Néri da Silveira: Sr. Pre-
Ex.', pois evita dúvidas sobre o cabimen- sidente. Também conheço da representa-
to da representação para interpretação de ção. Entendo que os pressupostos presen-
lei, mesmo que o Supremo Tribunal Fede- tes neste caso retratam hipótese exata da
ral já tenha julgado antes algum recurso motivação, que inspirou a Emenda nQ 7;
sobre o tema. de 1977, a conferir ao Supremo Tribunal
Federal a competência originária p8l1l fixar
interpretação da lei em tese, por repi~en­
tação .do Procurador-Geral da República;
SOBRE INTERPRETAÇÃO PRÉVIA
De fato, para, desde logo, o Supremo ·Tri·,
bunal Federal, em face de matéria de alta
(arts. 180 e 182, RI) relevânCia deeonente da aplicâçio:de' deter-
minada e controvertida legislação, preve-'
o Sr. Ministro AldÚ' p(l3sarinho~ Sr. Pre- nir a ocottência' de .grande volume de d~ -
sidente; entendo que, me~mo havendo re- mandas nas diverSas instAncias do Poder
cursos extraordinários já interpostos sobre Judiciário, é que cabe o uso' da represent&-
o mesmo tema, a mesma controvérsia jurí. ção em foco. Este é um casotipico, se
dica, deve julgar-se a representação. considerarmos que, realmente, há aç6es s0-
Os objetivos de poder ser feita a inter- bre .8 matéria, em primeira lnstAncia e no
pretlição da lei em tese certamente incluem Tribunal Federal de Recursos, pendentes
a hip6tese de se apresentarem muitos casos de julgamento, cuidando-se de questão da
iguais, possibilitando-se desafogar-se o Ju- maior importAncia. AcircunatAncia de dois
diciário. Tal objetivo. por ce110, terá sido recursos extraordinários~ já haverem chega-
pelo m~rÍos úm dos que determinaram a do ao Supremo Tribunal Federal não po-
competência do Supremo Tribunal Federal, . . de afastar' que o Trlbúnal' exercite-éssa com-
prevista na letra I do inciso I, do art. 119 petência da maior relevAncia.
da Cànstituição. O dispositivo do nosso Ré-
giinento qúe tràta do' assunto'; parece-me,"' VOTO SOBRE "INTERPRETAÇÃO PRÉvIA
nãO exéIui . li poss'ibitidade 'de fazer-se tal' (arts. 180 e t~2! RI)
interpretaçâo, apênas' por já' encontrarem-
se em -êurs"ó' proéessoS sobre a màtéria. n O $r. Ministro Djàci Falcão:· Sr. Presi.~
elevado número de processos, ao contrArio, ' dente; lambém acompànho" o· eminente .fe-" "
lator, à vista de que estão presentes os Minha indagação é exatamente esta: se
pressupostos expressos na Constituição e em o eminente relator efetivamente entende in-
nosso Regimento, o qual interpreto na li- suscetível de adiantar-se um juízo de revo-
nha do pensamento especificado por S. gação. No momento em que se conhece da
Ex.". representação, penso que está em exame
todo o complexo de normas pertinentes do
EXPLICAÇÃO sistema, cumprindo, então, interpretar con-
jugadamente as regras que compõem esse
o Sr. Ministro Néri da Silveira: Sr. P~
sistema.
sidente, pel!! ordem.

o Sr. Ministro Rafael Mayer, na exegese O Sr. Ministro Rafael Mayer (Relator):
que V. Ex." presta aos dispositivos que Disse, desde o começo, que estava fazendo
acaba de referir, V. Ex." não chega a as- uma interpretação sistemática. Na conclu-
sentar pronunciamento sobre o tema con- são, digo assim:
cernente à revogação, pelo Decreto-lei n9 "A aplicação da correção monetária com
19/1966, do sistema da Lei n9 4.380, art. base no valor das Obrigações Reajustáveis
59. Essa é a primeira dúvida, porque, pela obedecerá a instruções do Banco Nacional
conclusão, V. Ex." fez a interpretação de da Habitação, não estando sujeita à obser-
cada um desses diplomas separadamente. vância dos parâmetros dos §§ 49 e 59 do
Invocou o direito intertemporal para afas- art. 59 da Lei n9 4.380/64, obviamente
tar a sua aplicação, na espécie, com o que superados pela nova sistemática do Decre-
V. Ex." não deixaria um pronunciamento to-lei n9 1.966, no âmbito de sua incidên-
conclusivo a respeito da sucessão dos re- cia."
gimes, de tal sorte que se pudesse dizer:
os contratos celebrados sob a vigência do
O Sr. Ministro Néri da Silveira: Vejo,
art. 15 e parágrafos da Lei n9 4.380 deve-
assim, que V. Ex." não adianta juízo sobre
riam se submeter ao sistema do Decreto-Iei
os fatos que se passaram no regime da lei
n9 19.
anterior.
o Sr. Ministro Ralael Mayer (Relator):
Afastei justamente por duas razões: primei- O Sr. Ministro Rafael Mayer (Relator):
ro, nesse plano dos contratos, seria muito Aí, não temos como entrar em considera-
forte pretender interpretá-los; segundo, p~ ções. Talvez até envolvesse norma pr6pria
cisaria trazer as normas que dizem com o do BNH nessa competência, dele, de baixar
problema do direito intertemporal. Por is- normas que teriam de ser analisadas tam-
so não entrei nesse aspecto do contrato que bém.
foi concluído sob tal ou qual regime legal.
Mas, aqui, digo perfeitamente que o Decre- O Sr. Ministro Néri da Silveira: Os gran-
to-lei n9 19 supera a norma da lei anterior; des problemas, acerca da matéria, que es-
dispõe de maneira completa e excludente tão postos na Justiça Federal, nas duas ins-
da legislação anterior. tâncias, são exatamente os derivados da
compreensão do § 49 do art. 59, da Lei n9
o Sr. Ministro Néri da Silveira: Houve 4.380:
uma sucessão de regimes. O regime do De-
creto-Iei n9 19 substituiu o regime anterior. 'Do contrato constará, obrigatoriamente,
O entendimento de V. Ex..", entretanto, não na hipótese de adotada a cláusula de rea-
chega a adiantar conclusão sobre os con- justamento, a relação original entre a pres-
tratos que se celebraram no regime ante- tação mensal de amortização e juros e o
rior, em ordem a considerar-se se essa pres- salário mínimo em vigor à data do con-
tação· ficaria de acordo com o art. 59. trato."

152·
o Sr. Ministro Rafael Mayer (Relator): quirido, o problema dos contratos, das li-
Interpretei essa norma. des.

oSr. Ministro Néri da Silveira: V. Ex." o Sr. Ministro Néri da Silveira: No ins-
afirma que não subsiste mais essa relação? tante em que se conhece da representação,
para interpretar o complexo de normas de-
o Sr. Ministro Rafael Mayer (Relator): la objeto, está a Corte autorizada a defi-
Digo que o Decreto-lei nQ 19 nada mais tem nir qual o regime jurídico que decorre des-
sobre isso a obrigatoriedade dessa cláusula. se complexo de normas em seu encadea-
Agora, no que tange ao referido dispositivo mento temporal. A interpretação adotada
da Lei n9 4.380, o sentido que lhe empres- há de ter um sentido prático, com vistas
to é aquele que não foi adotado pelo emi- a viabilizar, precisamente, sua aplicação.
nente Ministro Pedro Acioli, que o inter-
pretou de modo, a meu ver, inaceitável. o Sr. Ministro Rafael Mayer (Relator):
Seria aplicação. A aplicação pertence ao
Admito que até pudesse ser colocada a
juiz.
questão, na medida do possível, mas aí não
estaria interpretando as leis referidas; es-
taria, sim, verificando a sobrevivência do
o Sr. Ministro Néri da Süveira: O que
se fixa é uma interpretação de caráter nor-
contrato, a incidência da lei, se o direito
mativo. Mas aí há necessidade de não se
adquirido existe e se a norma supervenien-
desvincularem da norma, à evidencia, os
te deve ou não respeitar o direito adquiri-
componentes de seu suporte fático.
do. Isso não está nessas leis, está decerto
no ordenamento jurídico, não nessas leis Pois bem, o § 49 do referido artigo esta-
que foram submetidas a interpretação. belece, verbis:
"§ 49 Do contrato constará, obrigatoria-
o Sr. Ministro Néri da Süveira: Penso mente, n!l hipótese de adotada a cláusula
que caberia afirmar, em tese, se as instru- de reajustamento, a relação original entre
ções do BNH vão incidir, ou não, relativa- a prestação mensal de amortização e juros
mente a contratos celebrados no regime an- e o salário mínimo em vigor da data do
terior. contrato."
Vem depois o Decreto-lei n9 19 e esta-
o Sr. Ministro Moreira Alves (Presiden- belece um outro regime. Então, pergunto:
te): Aí não é retroagir ou não; é problema chamado o Supremo Tribunal Federal a in-
de saber se pode, ou não, retroagir. terpretar o Decreto-lei n9 19, não fica, no
âmbito do juízo da interpretação, na repre-
o Sr. Ministro Rafael Mayer (Relator): sentação, responder quanto à sobrevivên-
~ julgar ultra petita. cia da relação prevista no indicado § 49?

o Sr. Ministro Néri da Silveira: O obje- o Sr. Ministro Rafael Mayer (Relator):
to da decisão judicial, na representação de Mas isto não está posto. Porque se o De-
interpretação, é o complexo das normas em creto-lei nQ 19, que fui chamado a inter-
exame. Em tomo desse complexo de nor- pretar, dissesse aos contratos que foram fir-
mas, dá-se a operação exegética, para defi- mados continuarão regidos ( ... )", af eu in-
nir o exato conteúdo e alcance do sistema terpretaria. Mas V. Ex." está sugerindo que
em referência. eu interprete uma norma. Que norma? O
art. 153, § 39 da Constituição? O art. 69 da
o Sr. Ministro Rafael Mayer (Relator): Lei de Introdução ao Código Civil. Mas não
Mas interpretei o complexo de normas. V. posso interpretar sem isso, porque precisa-
Ex." quer trazer o problema do direito ad- ríamos entrar em várias considerações: la-

133
ber se é, direito adquirido,s~ é ato ,jurí- Acioli concedeu a segurança, disse que ha-
dico perfeito. V. Ex." veja onde seríamos via direito adquirido; um dos contratos fa-
levados. lamos julgar uma lide. zia referência a essa proporção, o outro não
fazia referência, ou fazia referência ao Pla-
o Sr. Ministro Néri da Silveira: Penso no de Equivalência Salarial. E, só pode es-
que isso levaria ao não-conhecimento da tar na lide, porque são aspectos do con-
representação; num juízo de interpretação, trato. Por isso, considero que essa inter-
dá-se interpretação normativa_ pretação que está sendo dada é prestante
Pergunto a V. Ex.": quando afirmamos para os objetivos do procurador-geral. Não
que o regime do Decret~lei nQ 19 sucedeu é tanto como S. Ex: pretendeu - do meu
o regime da Lei nQ 4 380, afirmamos que ponto de vista, pretendeu demais - mas
todos os fatos que se passaram no regime acho que é prestante para a judicatura de
dessa lei estão sob a disciplina do Decret~ primeiro grau e suplementares.
lei nQ 19/1966?
O eminente relator propôs o conheci- o Sr. Ministro Moreira Alves (Presiden-
mento da representação, citando exatamen- te): Em face do pronunciamento do emi-
te duas interpretações divergentes no Tri- nente Ministro Néri da Silveira, vou colo-
bunal Federal de Recursos e as causas que car em' julgamento preIiminar a questão de
estão na Justiça Federal e chegando no Tri- se saber se ~e conhece da representação,
bunal Federal de Recursos. Estão postas na extensão parcial seguida pelo eminente
em razão das duas interpretações_ E quais relator, ou se se admite o conhecimento
os núcleos dessas interpretações? O ilus- mais extensamente, como sustenta o ilustre
tre Ministro Acioli definiu a liobrevida da Ministro Néri da Silveira.
relação anterior.
VOTO SOBRE EXTENSÃO DO JULGAMENTO
o Sr., Ministro Rafael Mayer (Relator):
Em primeiro lugar, temos 'que considerar o Sr. Ministro Aldir Passarinho: Sr. Pre-
dois aspectos que foram colocados nesse sidente, seria realmente de grande utilidade
caso julgado pelo Ministro Acioli e, que es- que se aclarassem os efeitos da interpreta-
tão resolvidos na interpretação, porque o ção sobre os contratos realizados face às
Ministro Acioli diz que o decret~lei não diversas leis e aos decretos-leis existentes,
tinha aptidão jurídica para revogar as nor- e que disciplinam a aquisição de imóveis
mas anteriores. Pelo que vemos aqui, c~ pelo Sistema Financeiro da Habitação. Não
locamos o Decreto-lei n Q 19 no seu posto_ é possível, entretanto, assim fazer-se, por-
-Em segundo lugar, disse o ministro, com que estamos interpretando a lei em tese.
relação à Lei nQ 4.380, que o percentual Acho possível que se diga dos efeitos des-
previsto era de um quantum do próprio sa- sa interpretação no tocante à revogação das
lário mínimo, previsto na Consolidação das leis ante aqueles sancionados posteriormen-
Leis do Trabalho como percentual de habi- te, Mas, decidir quanto aos efeitos das leis
tação. E aqui, na, inJerpretação, restabelece sobre os diferentes contratos realizados é
outro problema, O ideal seria que se in-
o verdadeiro sentido da lei, que é uma pr~
terpretasse a subsistência das normas con-
porção clausulada em cada contrato entre
tratuais frente àS leis, a partir da Lei nQ
a prestação e o salário mínimo existente na
4,380/64, do Decrét~lei 'n9 19, até as últi-
época. Agora, veja V. Ex.", sou relator do
mas leis sobre as matérias. Não cónsidero
recurso extraordinário, nesse caso..a que nos
isso, porém, praticável, pois então trans-
reportamos. bordaríàIriósdas "lifnifações cónslltuciónais
Há um aspecto que não pode estar' aqui, traçàdas na letra 1, do inciso I, 'do art.. 119 '
só, pode- estat' na lidê, 'porque o Ministro da ConstitUiçãb Fedetal. ' ,.
voro SOBRE EXTENSÃo DO JULGAMENTO siderar a aplicação imediata do Decreto-
lei n9 19/1966.
o Sr. Ministro Djaci Falcão: Sr. Presi- O eminente ministro relator, é certo, dei-
dente, também estou de acordo com o emi- xou claro, em princípio, que a circunstân-
nente relator. Acho que, nessa espécie de cia de se tratar de normas de ordem pú-
representação, se interpreta a lei in abstrato. blica, por si só, não significa que não sub-
sistam os efeitos e, também, as conseqüên-
VOTO SOBRE EXTENSÃO DO JULGAMENTO cias jurídicas estabelecidas no regime da lei
revogada.
o Sr. Ministro Moreira Alves (Presiden· De qualquer maneira, o Tribunal não se
te): Com a devida vênia do eminente Mi- pronuncia, em definitivo, sobre dito tema.
nistro Néri da Silveira, também estou de Com essa explicitação, penso que o exa-
acordo com o eminente relator, porque en- me feito pelo eminente ministro rell!tor,
tendo que a nossa competência está adstri- quanto aos dois sistemas, isoladamente, leva
ta, pelos termos da Constituição, apenas à interpretação que, realmente, se coaduna
à interpretação das leis ou atos normativos com aS dispoSições postas nesses dois pIa-
em tese; não podemos ir além, estabelecen- nos normativos. No particular, acompanho,
do normas sobre a aplicação das leis inter- assim, o voto do ilustre Sr. Ministro Re-
pretadas. A aplicação da lei é um posterius 'lator ..
em face do prius, que é a sua interpretação. EXTllATO DA ATA

VOTO SOBRE INTERPRETAÇÃO DAS LEIS Rp n9 1.288-3-DF - ReI.: Ministro Ra-


fael Mayer. Repte.: Procurador-Geral da
o Sr. Ministro Néri da Silveira: Sr. Pre- República. Repdos.: Presidente da Repúbli-
sidente, coerente com meu voto anterior ca e Congresso Nacional. '
vencido, explicito agora meu pronuncia- Decisão: a pedido do Procurador-Geral
mento de adesão ao eminente ministro re- da República, o ministro relator indicou
lator. adiamento da Representação n9 1.288-3-DF.
Compreendo, como S. Exa" que o sistema Plenário, 19.2.86.
do Decreto-lei n9 19 sucedeu o da Lei n9 'Decisão: conheceu-se, em parte, da re-
4.380/1964. Depois do Decreto-lei n 9 19/66, presentação, vencido o Ministro Néri da
há de ter-se por revogada a Lei n9 4.380, Silveira que a conhecia em maior exten-
na parte em que o Decreto-lei n9 19 disci- são, e declarou-se a interpretação, em tese,
plinou a espécie_ do art. 59 e parágrafos da Lei n9 "4.380/64,
Fiquei vencido, na extensão do conheci- do art. 30 da Lei n9 4.864/65, com a re-
mento da representação, quanto a definir- dação dada pela Lei n9 5.049/66, e do art.
se, desde logo, se os efeitos do regime no- 19 do Decreto-lei n9 19/66. Votou o Pre-
vo (Decreto-lei n9 19/1966) incidiriam re- sidente. Pela União Federal usou da pala-
lativamente aos contratos celebrados no re- vra o Dr. José Paulo Sepúlveda Pertence.
gime da Lei n 9 4.380, porque isso tenho Plenário, 1.10.86.
como ponto relevante e melindroso, neste Presidência do Sr. Ministro Moreira Al-
plano de aplicação do Decreto-Iei n9 19. ves . Presentes à sessão os Srs. Ministros
Sobre tal matéria, entretanto, não me pos- Djaci Falcão, Rafael Mayer, Néri da SDvei-
so pronunciar, porque a Corte entendeu de ra, Oscar Corrêa, Aldir Passarinho, Sydney
não tomar conhecimento dessa quaestio ;u- Sanches, Octávio Gallotti, Carlos Madeira
ris. Restaria, efetivamente, afirmar, em tese, e Célio Borja.
se as normas do sistema do Decreto-lei n 9 Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro
19 vão incidir, inteiramente, sobre os fa- Francisco Rezek.
tos que ocorreram no regime da legislação Procurador-Geral dà República, Dr. José
anterior e em que extensão se poderia con- Paulo Sepúlveda Pertence.

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